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Maria da Penha - Defensoria - Audiência de Custódia

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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito do 3º Juizado Especializado no Combate a Violência Doméstica Contra a Mulher da Comarca de Boa Vista/RR:
Autos nr.XXXXXXXXXXXXXX
ROGERIO NERES, xxxxxx, brasileiro, solteirol, autônomo, inscrito no CPF sob o Nr . 006.xxxxx e RG xxxxxxx/RR, SSP/RR, residente e domiciliado na rua 1º de setembro, 100, bairro Pintolândia, Cidade de Boa Vista no estado de Roraima - CEP: 693-12000. (indiciado/preso), assistido juridicamente por seu procurador infra-assinado, devidamente constituído “in fine”, vem, no quinquídio legal, perante Vossa Excelência com o devido acato e respeito de estilo, requerer
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com fulcro no artigo 316 do CPP, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I.- DOS FATOS
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
O Requerente foi preso preventivamente pela prática de crime de feminicídio, fundamentando-se a respeitável decisão judicial no fato de que o crime supostamente praticado pelo Requerente ser grave. Ocorre que a prisão só foi efetuada porque o requerente, que se encontrava próximo a residência do casal onde o crime ocorreu, estando ele autuado em flagrante por feminicidio, suspeito de matar a companheira, Lucidalva Maria Barbosa, 42 anos. No APF, diz que ele usou uma faca para golpeá-la no peito e foi preso momentos depois do crime, no exato momento em de posse da faca, supostamente utilizada no crime. Em sede da delegacia, valeu-se, ao longo de todo o interrogatório, de seu direito ao silêncio, não tendo respondido a nenhum dos questionamentos formulados pela autoridade, no qual, nada afirmou.
II.- DO DIREITO
DA NÃO POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DO FLAGRANTE EM PRISÃO PREVENTIVA
Pela regra do art. 310 do Código de Processo Penal, ao receber o flagrante feito pela autoridade policial, o Juiz fica restrito aos seguintes caminhos legais:
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
A hipótese trazida no inciso I trata-se de prisão ilegal, sendo que não é do caso em análise. Já o inciso II traz a possibilidade que o magistrado tem de converter a prisão em flagrante para uma prisão preventiva ou processual, desde que presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal, vejamos quais são os requisitos:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Como é sabido, o preenchimento de qualquer dos requisitos elencados, concede a Vossa Excelência o poder de determinar de forma legal a prisão preventiva, contudo, no presente caso não temos o preenchimento de nenhum dos requisitos exigidos pela lei, conforme será explanado a seguir.
A primeira hipótese é para se garantir a ordem pública ou econômica, que nada mais é do que garantir que o acusado, com a sua liberdade em mãos, não venha a praticar novos delitos. Desde já, é necessário dizer que esse requisito não se encontra preenchido, pois o acusado é pessoa de boa índole, não possuindo qualquer tipo de antecedentes criminais, ademais, é pessoa trabalhadora que apenas estava no local errado para sua infelicidade e que sua inocência será devidamente comprovada na instrução processual.
A segunda hipótese é por conveniência da instrução criminal, isto é, tal requisito tem por finalidade evitar que o acusado atrapalhe de alguma forma o andamento processual, seja alterando cena de crime, destruindo provas ou outros exemplos afins. Excelência, tal requisito também não se encontra preenchido, já que não existe nenhum fato que indique a possibilidade de isso vir a ocorrer, ademais, o preenchimento desse requisito não deve ser por mera presunção, mas sim dados concretos e fundamentados, e fato é, que na prática não existem tais motivos.
Como terceira situação temos a prisão preventiva como forma de garantir a efetiva aplicação da lei penal. Trata-se de situação, em que a situação fática evidencie uma evidente possibilidade de fuga por parte do acusado, para se esquivar da aplicação da lei penal em seu desfavor. O presente caso anda longe de cumprir esse requisito, já que o acusado reside nesta Comarca, tendo domicilio e trabalho fixo.
Uma vez preenchidos os requisitos acima elencados, que não é o nosso caso, é necessário ainda que exista prova da existência do crime (materialidade), e indícios suficientes que indiquem que o acusado fora de fato o autor do delito (autoria).
Que o fato criminoso aconteceu isso não é discutível, contudo, não existe qualquer indicio que o acusado tenha praticado o crime, conforme dito na situação fática, o que aconteceu foi na verdade um equívoco por parte dos policiais, pois o acusado não praticou feminicídio e sofre uma injustiça sem tamanho. O único mal cometido pelo acusado, foi está no lugar errado e na hora errada, nada mais que isso.
Pelo exposto, resta devidamente comprovado o não preenchimento de NENHUM dos requisitos necessários para a conversão da prisão em flagrante para preventiva, ademais, além da inexistência dos requisitos, ainda falta ao caso os fundados indícios de autoria.
Tendo isso por base, não resta a Vossa Excelência, data vênia, outra alternativa senão seguir o inciso III do art. 310 do CPP, isto é, conceder a liberdade provisória ao acusado.
DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA CONSTITUCIONAL
Em regra, o início do cumprimento de pena pressupõe a existência de uma sentença penal condenatória transitada em julgado, em que o acusado não tenha mais possibilidade de provar sua inocência. Somente sendo admitido em caso contrário, quando se trate de preenchimentos de requisitos legais, conforme já explanado.
Fato é que muitas vezes a prisão preventiva serve como uma antecipação de um cumprimento de pena em um processo que não foi iniciado sequer a instrução processual, além de ser um prejuízo irreparável para o acusado, só contribui para a superlotação do sistema prisional.
A própria Constituição Federal assegura a presunção de inocência até a pertinente sentença condenatória com o trânsito em julgado, para além de todos efeitos, garantir que o acusado não venha a sofrer uma sanção por antecipação e contida de incertezas jurídicas, vejamos:
Art. 5º, LXVI da CF/88 - “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a Liberdade Provisória, com ou sem fiança”.
Art. 5º, LVII da CF/88 – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença condenatória”;
Tais dispositivos constitucionais garantem ao acusado o direito de aguardar em liberdade o transcorrer do processo até o trânsito em julgado, vinculado ou não a certas obrigações que podem ser revogada a qualquer tempo diante do descumprimento das condições impostas.
Encontram-se ainda, ausentes os requisitos necessários à manutenção da prisão preventiva, previstos no art. 312 do CPP, pois, tendo sido demonstrado que as circunstâncias não acenavam a continuidade na prisão do acusado, tornou-se imperiosa sua revogação, vez que, nada há nos autos que possa indicar que o mesmo, em liberdade, irá colocar em risco a ordem pública ou economia processual, nem prejudicar a instrução criminal, muito menos se furtar à aplicação da Lei Penal.
Pelo exposto, o mandamento constitucional garante ao acusado a presunção de inocência, bem como, a não necessidade de ser cessado a restrição de sua liberdade antes da efetiva pena em definitivo.
Data Máxima Vênia Excelência, flagrante escancarada literal é a arbitrariedade policial, os crimes continuados perpetrados contra as pessoas inocentes. A serviço de interesse pessoais do grupo, em ofensa ao disposto legal. art. 5.º Nr 2, do Pacto de São José da Costa Rica, Dec. no 40, de 15-2-1991 (Convençãocontra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou, Degradantes). No ordenamento jurídico brasileiro, não há previsão legal no sentido de: “ Para apurar um crime, deve o (s) agente (s) cometer (em) vários crimes”, no caso em tela se amolda perfeitamente, conforme depoimento pessoal do requerente frente ao magistrado, MPF e defensor cujo depoimento colhido, extai torturas de toda ordem, e sem advogado.
DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO
O entendimento moderno e acertado, é que o acusado não precisa ter sua liberdade privada pelo simples fato ter um processo criminal em seu desfavor, ou ainda, pelo fato ter sido preso em flagrante.
Com base nisso, o art. 319 do CPP traz situações em que o Juiz pode decretar algumas medidas alternativas, como forma de evitar que o acusado venha a permanecer preso, vejamos:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
Portanto, a prisão não deve ser medida principal a ser aplicada, além de que não cumpre os requisitos legais necessários. Por isso, pugna a Vossa Excelência pelo deferimento do presente pedido, ou se entender como necessário, o deferimento da liberdade com a cumulação de medidas alternativas a prisão.
3) DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer a Vossa Excelência o seguinte:
O recebimento do presente pedido;
A intimação do Representante do Ministério Público, para que opine, dentro do prazo legal, acerca do presente pedido de liberdade provisória;
O deferimento da liberdade provisória sem fiança; Ou, se assim entender Vossa Excelência, com a fixação cumulativa de medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP;
Após o deferimento, a expedição do competente Alvará de Soltura a ser cumprida com a celeridade necessária.
Nesses termos,
Pede deferimento.
BOA VISTA - RR, DATA.
__________________________
Defensor Público

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