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Página 1 ANESTÉSICOS LOCAIS CAMILA MARTINS ANESTÉSICOS LOCAIS ANATOMIA & FISIOLOGIA Apesar de serem drogas seguras, a intoxicação devido a elas não é tão rara assim. Nervo periférico: epineuro, perineuro e endoneuro -> para o anestésico local chegar, ele tem que atravessar essas 3 membranas por difusão passiva. O que determina a velocidade de entrada é a sua concentração. Os nervos mielinizados têm a condução saltatória, com velocidade de transmissão muito maior. Na classificação a seguir, a espessura e a velocidade vão diminuindo na ordem. A alpha: velocidade de transmissão altíssima, é a parte motora do arcorreflexo. São fibras muito grossas. A beta: também são grossas e participam do arcorreflexo mas fazem parte da aferência para pele e articulações. A gama: espessura e velocidade menores. São responsáveis pelo tônus muscular, não precisam de uma velocidade muito grande. A delta: (d=dor) – condução do estímulo doloroso. Dor somática, específica e bem localizada. B: simpática pré ganglionar, faz parte do sistema nervoso autonômico. Cs: simpática pós-ganglionar. Cd: nervos sensoriais aferentes (iguais a A delta) – mas é responsável pela dor visceral, mal localizada. (as não-mielinizadas são sempre classe C) ELETROFISIOLOGIA: o meio extracelular é mais positivo. Geralmente a diferença é de -90mV, baseada no meio intracelular. Despolarização da célula = influxo de sódio e efluxo de potássio. Depois ocorre o contrário na polarização pela bomba de sódio e potássio. Por isso alguns anestésicos locais que bloqueiam os canais de sódio também são usados como anti-arrítmicos. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO Definição: bloquear a geração e a propagação de impulsos elétricos de maneira reversível e localizada. O primeiro a ser descoberto foi a cocaína, vendida como um drops para dor de dente. Estrutura química: anel benzênico + cadeia intermediária + amina. O anel benzênico é lipossolúvel e a amina é hidrossolúvel. A cadeia intermediária pode ser ligação éster ou amida, sendo assim classificados os anestésicos locais. AMINOAMIDA: LIDOCAÍNA, BUPIVACAÍNA, ROPIVACAÍNA (TODOS QUE TEM DOIS “I”. AMINOÉSTER: COCAÍNA, PROCAÍNA, TETRACAÍNA. MECANISMO DE AÇÃO Tem 5 teorias que explicam, mas a mais lógica é a teoria da modulação de receptores. O anestésico local é uma associação dinâmica entre a fração ionizada e a não ionizada (reação bi-direcional, é um equilíbrio dinâmico). A Página 2 ANESTÉSICOS LOCAIS CAMILA MARTINS membrana lipídica é apolar, então só a fração não-ionizada (o B, uma base fraca) consegue entrar na célula. Quando ela entra na célula, ela encontra os H+ alí presentes e restaura seu equilíbrio BH+. É essa fração ionizada que consegue atingir a face interna do canal de sódio, fazendo o bloqueio desse canal. (a fração ionizada não entra, ela é formada lá dentro) Os canais de sódio são divididos em alfa e beta, o receptor para o anestésico local fica na parte interna da subunidade alfa. BLOQUEIO FÁSICO: o canal de sódio pode estar aberto, fechado ou inativo. O anestésico local age tanto no aberto quanto no inativo (elas expõem mais o receptor, tem mais afinidade). Eles vão mudando de conformação, fibras que mudam mais fácil de conformação são mais facilmente bloqueáveis -> a fibra fechada passa mais rápido para a conformação aberta ou inativa. Portanto, os anestésicos locais são frequência-dependentes. FENÔMENO DE CONDUÇÃO DECRESCENTE: o bloqueio é quando há a redução na condutância do nervo superior a 84%. Microscopicamente, dizemos que é quando á o bloqueio de 3 nodos sucessivos. CONCENTRAÇÃO EFETIVA MÍNIMA: qual é a concentração mínima que devemos usar daquele anestésico para fazer determinado bloqueio? Devemos usar o mínimo efetivo para nos afastar da dose tóxica. Depende da: ESPESSURA DA FIBRA (quanto mais grossa, mais difícil para fazer a difusão) da CONCENTRAÇÃO DE CÁLCIO (a entrada é por difusão passiva), AUMENTO DA FREQUÊNCIA DE ESTIMULAÇÃO (princípio do bloqueio fásico), DO PH, DA TEMPERATURA E DA CONCENTRAÇÃO DE K. PH: o anestésico local é uma base fraca, com ph entre 7 e 8. Pka: constante de dissociação da droga. (o professor falou que já perdeu concurso por conta dessa equação abaixo é bom saber o que é diretamente e o que é inversamente proporcional) POTÊNCIA 1- LIPOSSOLUBILIDADE: a capacidade que ele tem de entrar dentro da célula (capacidade, e não velocidade) -> QUANTO MAIS LIPOSSOLÚVEL O ANESTÉSICO, MAIS POTENTE ELE É. LATÊNCIA Página 3 ANESTÉSICOS LOCAIS CAMILA MARTINS O tempo que o anestésico leva para penetrar na célula, chegar ao receptor e ligar-se a ele. (latência alta = tempo elevado = velocidade baixa) A LATÊNCIA DEPENDE DA CONCENTRAÇÃO EXTRACELULAR (TODA VEZ QUE EU DIMINUO A CONCENTRAÇÃO PELA METADE, EU DIMINUO A VELOCIDADE DE ENTRADA PELA METADE), DA DOSE E DA LIPOSSOLUBILIDADE. (a lipossolubilidade depende da concentração da fração não-ionizada) A LATÊNCIA É DIRETAMENTE PROPORCIONAL AO PKA E À FRAÇÃO IONIZADA. OU SEJA, QUANTO MAIOR O PKA, MAIS FRAÇÃO IONIZADA, MAIOR E LATÊNCIA E MENOR E VELOCIDADE. DURAÇÃO DE AÇÃO A CARACTERÍSTICA DA DURAÇÃO É A FORÇA DA LIGAÇÃO PROTEICA , que é o que mantém agindo no local e impede uma absorção sistêmica. Se o local tem uma alta perfusão, ele vai ser mais absorvido sistemicamente. Por exemplo, uma anestesia local na ponta do dedo vai durar muito mais do que a mesma anestesia em um nervo intercostal. Para o anestésico ser absorvido, ele deve entrar dentro do vaso. Se a ligação proteica dele é muito forte – geralmente se liga à albumina - ele vira uma macromolécula e não consegue ser absorvido pelo vaso. Então, temos duas variáveis: uma do local (perfusão tecidual) e uma da molécula (capacidade de ligação proteica). ABSORÇÃO DEPENDE DA VASCULARIZAÇÃO LOCAL, DA DOSE, DO USO DE VASOCONSTRICTORES (DIMINUO A VASCULARIZAÇÃO LOCAL POSSO USAR ADRENALINA PARA DIMINUIR A TAXA DE ABSORÇÃO SISTÊMICA) E DAS PROPRIEDADES DO AL. Não usamos vasoconstrictores em regiões terminais para evitar isquemias (regiões irrigadas por apenas uma artéria) METABOLIZAÇÃO A cadeia intermediária (aminoéster ou aminoamida) é onde a cadeia é quebrada e metabolizada. AMINOÉSTERES sofrem hidrólise pela pseudocolinesterase plasmática e se transformam em PABA (que tem grande potencial alergênico – por isso são menos usados do que os aminoamidas). Pacientes gestantes, com doenças hepáticas uremia ou que passaram por QT tem uma Página 4 ANESTÉSICOS LOCAIS CAMILA MARTINS diminuição na metabolização aumentando a chance de uma intoxicação. AMINOAMIDAS sofrem hidroxilação + desalquinalação no fígado. Não possuem potencial alergênico e sua metabolização não é interferida pelas condições acima. A única contraindicação é o paciente com doença hepática. TOXICIDADE Incidência rara (1:1000), mas pode ocorrer. Susceptibilidade: SNC >>>>> SCV (o sistema nervoso central tem muito mais canais de sódio, é formado apenas por neurônios – é 5x mais susceptível à toxicidade) Então, a toxicidade sempre se inicia com sintomas neurológicos, e não cardiovasculares. A toxicidade que se instala de forma rápida ocorre por injeção intravenosa ou intra-arterial (cervical) enquanto a que se instala de forma lenta é devida à absorção sistêmica. ADRENALINA: DIMINUI A ABSORÇÃO SISTÊMICA, AUMENTA A DURAÇÃO E PROTEGE CONTA A TOXICIDADE. TOXICIDADE AO SNC: (na ordem em que aparece) tontura, vertigem, zumbido, desorientação, sonolência, tremores, espasmos, convulsão – vão dos mais simples aos mais graves. A depressão cardiovascular ocorre quando a concentração plasmática de lidocaína está muito alta (>25mcg/ml) -> os sintomas do SNCtambém estarão presentes. As acidoses respiratória e metabólica pioram a toxicidade. Ambas diminuem a ligação proteica e aumentam a absorção do anestésico. A ACIDOSE RESPIRATÓRIA aumenta o pCO2, que leva a um aumento do fluxo sanguíneo cerebral e a absorção. A ACIDOSE METABÓLICA reduz o PH intracelular – pela lei de Le Chatelier, aumenta a fração de BH+ e leva a um aprisionamento dentro das células. Sendo assim, O PRIMEIRO PASSO DIANTE DE UM QUADRO DE ACIDOSE É EVITAR QUE O PACIENTE ENTRE EM ACIDOSE. Para evitar a respiratória devemos manter uma ventilação adequada e para evitar a metabólica devemos manter o débito cardíaco e a pressão arterial adequada. TOXICIDADE AO SCV: cronotropismo negativo (automatismo), batimotropismo negativo (excitabilidade), dromotropismo negativo (condutibilidade) e inotropismo negativo (contratilidade). Ou seja, tem um efeito depressor geral. Como ação indireta, ele bloqueia a atividade eferente autonômica. A ATIVIDADE DEPRESSORA ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA À POTÊNCIA. Por isso, a mais utilizada nos postos de saúde é a lidocaína, é mais segura do que as mais potentes. TRATAMENTO DA TOXICIDADE: prevenção vigilância, suporte ventilatório (com FIO2 de 100% para evitar acidose), anticonvulsivantes benzodiazepínicos (a atividade convulsiva é uma condutibilidade intensa e desordenada no SNC, então os anticonvulsivantes diminuem a frequência de convulsão), vasopressores (para evitar a hipoperfusão e a acidose metabólica), emulsão lipídica 20% (via endovenosa – os anestésicos locais vão ficar ligados a essa emulsão lipídica, diminuindo as moléculas livres) Página 5 ANESTÉSICOS LOCAIS CAMILA MARTINS e Circulação extra-corpórea (tratar a toxicidade para depois retornar com a circulação normal). ADJUVANTES O BICARBONATO, pelo princípio de Le Chatelier, aumenta a fração não-ionizada, então aumenta o B e acelera o início de ação (diminui a latência). Diminui também a concentração efetiva mínima. OS OPIOIDES são adjuvantes que possuem ação espinhal e supraespinhal (analgesia aditiva), e causam um prolongamento do bloqueio. OS ALFA2 AGONISTAS também possuem ação espinhal (sinérgica) e supraespinhal (aditiva) e também causam aumento do bloqueio. OS ESTERÓIDES pela sua atividade glicocorticoide, principalmente a dexametasona, causam um prolongamento de 50% do bloqueio. O bloqueio de nervo periférico não é mais feito sem sua associação com esteróides – gera um controle de dor muito mais eficiente. FUTURO DOS AL Não estão sendo buscadas novas moléculas, e sim novas formas de administração, como sua administração em bolsas lipossomais, o que os protege para absorção sistêmica e intoxicações. Outra nova tecnologia são os lipossomas com características eletromagnéticas – eu gero um campo eletromagnético na pele e desestabilizo a membrana lipossomal no local a ser anestesiado (eu administro por via sistêmica).
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