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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CLEANE NASCIMENTO SILVA ROCHA O DOSVOX NO PROCESSO EDUCACIONAL COM DEFICIENTES VISUAIS E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS EM ITINGA DO MARANHÃO DOM ELISEU 2021 CLEANE NASCIMENTO SILVA ROCHA O DOSVOX NO PROCESSO EDUCACIONAL COM DEFICIENTES VISUAIS E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS EM ITINGA DO MARANHÃO Monografia apresentada à Universidade Federal Rural da Amazônia, como parte das exigências do Curso de Licenciatura em Computação para obtenção do título de Licenciado (a). Orientador: Profº. D. Sc. Emerson Cordeiro Morais Coorientador: Profº. Me. Fábio Correia de Rezende DOM ELISEU 2021 CLEANE NASCIMENTO SILVA ROCHA O DOSVOX NO PROCESSO EDUCACIONAL COM DEFICIENTES VISUAIS E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS EM ITINGA DO MARANHÃO Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Computação pela Universidade Rural da Amazônia no PARFOR. 29/04/2021. Data da Aprovação: BANCA EXAMINADORA _________________ __________________ Prof. Emerson Cordeiro Morais PARFOR / Universidade Federal Rural da Amazônia __________________ ___________________ Prof. Alex de Jesus Zissou PARFOR / Universidade Federal Rural da Amazônia _________ _________ Profa. Rosanny do Perpétuo Socorro de Souza Lima PARFOR / Universidade Federal Rural da Amazônia ____________ _____________ Prof. Fábio Correia de Rezende PARFOR / Universidade Federal Rural da Amazônia Dedicado a, El Elion, força suprema e fonte de toda inspiração. Dona Maria da Graças, pela mulher forte, batalhadora e vencedora que és. Meu porto seguro e grande exemplo de vida e superação. AGRADECIMENTOS A Yahweh-Jireh, por todos os benefícios concedidos, pela capacidade e determinação na busca e conquista dos meus sonhos, bem como o amor e zelo liberados sobre minha vida em todo o tempo. Aos meus pais, Raimundo Nonato e Maria das Graças, pois sempre me incentivaram a prosseguir com os estudos, me fizeram acreditar que através da educação os meus projetos serão concretizados. À minha preciosa filha, Maria Clara, pois é a minha principal motivação na busca por dias melhores, por suportar minha ausência, ajudar nos afazeres cotidianos. Tudo é por ela e sempre para ela. À minha filha do coração, Ingrid Mirelle, meu girassol amarelo, sua presença trouxe um novo sentido para nossa família. Ao companheiro e amigo, Leandro Costa, pois se crermos, os ideais se concretizarão. Aos meus professores, Emerson Cordeiro e Fábio Rezende, pela paciência que tiveram comigo durante a orientação, os ensinamentos de vocês foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. À coordenadora local, professora Luzimar, sempre incentivando, nunca mediu esforços para ajudar. Ela venceu as dificuldades junto com a turma e se tornou uma peça importante para a formação de todos. À Reitoria da UFRA, aos coordenadores Edvar e Jorge, aos professores que passaram pela turma e todos os colaboradores do PARFOR. Todos contribuíram de forma muito positiva na trajetória do curso de Licenciatura em Computação. Mas, como está escrito: As coisas que os olhos não viram, e os ouvidos não ouviram, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. 1 Coríntios 2:9 RESUMO Ao pensarmos a educação como área de estudo, podemos entendê-la e considerá-la em constante transformação no tocante ao processo de ensino e aprendizagem. Tais transformações ocorrem devido às inovações tecnológicas nos últimos anos, por exemplo, na Computação em Educação e Informática na Educação, que por meio de softwares e hardwares contribuem nas mudanças em diversos segmentos escolares e aplicações prático-pedagógicas. Estas contribuições variam desde jogos educativos a softwares educacionais para computadores. No contexto de Tecnologia Assistiva (TA), destaca-se o software Dosvox, usado nos âmbitos profissional e acadêmico por pessoas com deficiência visual no Brasil e no mundo. No entanto, em muitos dos casos, professores e alunos não conhecem ou nunca utilizaram esse software nas práticas pedagógicas. Neste estudo, elaboramos e executamos uma proposta de formação continuada para os professores atuantes nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para deficientes visuais. A proposta foi desenvolvida em três oficinas pedagógicas, cujos conteúdos permeavam a parte teórica e prática sobre o Dosvox, com a participação de duas professoras e uma coordenadora. Assim, a pesquisa de natureza qualitativa, exploratória e estudo de caso, teve o objetivo geral de contribuir no processo educacional de alunos com deficiência visual mediante a oferta de formação continuada para professores do Atendimento Educacional Especializado com o uso do sistema Dosvox na cidade de Itinga do Maranhão. Coletamos dados através de questionários com perguntas abertas e fechadas, enviados aos respondentes por e-mail e WhatsApp. O diário de bordo também foi utilizado como técnica de coleta de dados. Por meio dos resultados, percebemos que o processo de ensino e aprendizagem mediado por TA, dependem da apropriação de conhecimentos mínimos vinculados à teoria e prática para manuseio dos recursos tecnológicos, por exemplo: o software Dosvox. Assim, o processo para desenvolvimento do conhecimento pode ocorrer por meio da formação continuada para professores das SRM de modo que possam utilizar os recursos de TA no contexto das pessoas com deficiência, especificamente alunos com deficiência visual. Palavras-chave: Dosvox. Educação Especial e Inclusiva. Formação Continuada de Professores. Tecnologia assistiva. ABSTRACT When we think in education as knowledge area, we can understand it and consider it as constant transformation, regarding the teaching and learning process. Such transformations are due to technological innovations in last years, for example, Computing in Education and Informatics in Education, through software and hardware, contribute to changes in several school segments and pedagogical practices. The contributions range from educational games to educational softwares. In the Assistive Technology (AT) context, the software Dosvox, used in the professional and academic spheres by blind people in Brazil and in the world. However, in many cases, teachers and students do not know or have never used this software in their pedagogical practices. In this study were developed and executed a continuing education proposal for teachers working in Multifunctional Resource Rooms (SRM) in Specialized Educational Assistance (SEA) for the blind people. The training proposal was developed through three pedagogical workshops, whose contents were part theoretical and practical about Dosvox. The proposal was developed in three pedagogical workshops, whose contents permeated the theoretical and practical part about Dosvox, with the participation of two teachers and one coordinator. Thus, the research proposal of qualitative nature, exploratory and case study, had the general purpose analyzing the educational development process of blind students through the use of the assistive technology resource Dosvox, in a public school in Itinga from Maranhão. We collected data through questionnaires with open and closed questions, sent to the respondents by e-mail and Whatsapp. The academicresearch logbook was used as a data collection technique. Through the results, we noticed that the teaching and learning process mediated by AT depends on the process of minimum knowledge, linked to theory and practice, to use the technological resources, for example, the software Dosvox. Thus, the process for developing knowledge can occur through continuing education for SRM teachers so that they can use the technological resources of AT in the context of students with disabilities, specifically blind students. Keywords: Dosvox. Special and Inclusive Education. Continuing Teacher Training. Assistive Technology. LISTA DE SIGLAS AEE - Atendimento Educacional Especializado BDTD - Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAT - Comitê de Ajudas Técnicas CEB - Câmara de Educação Básica CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CIET ENPED – Congresso Internacional de Educação e Tecnologias e Encontro de Pesquisadores da Educação a Distância CNE - Conselho Nacional de Educação CNS – Conselho Nacional de Saúde DV - Deficiência Visual e/ou Deficiente Visual G.A. - Google Acadêmico IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LDBN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC - Ministério da Educação e Cultura MS – Ministério da Saúde NCE - Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ PPCAPES - Portal de Periódicos da CAPES RIETP - Revista de Informática na Educação: Teoria e Prática RSL - Revisão Sistemática de Literatura SRM - Sala de Recurso Multifuncional TA - Tecnologia Assistiva TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TDIC - Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação TEA – Transtorno do Espectro Autista TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos WCBIE - Workshop do Congresso Brasileiro de Informática na Educação WIE - Workshop de Informática na Educação LISTA DE TABELAS Tabela 1: Critérios de Inclusão ................................................................................................ 30 Tabela 2: Critérios de Exclusão ............................................................................................... 30 Tabela 3: Resultados da Busca ................................................................................................ 30 Tabela 4: Trabalhos incluídos .................................................................................................. 31 Tabela 5: Visão geral das oficinas pedagógicas ...................................................................... 33 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 18 2.1 Marcos Normativos da Educação Especial e Inclusiva no Brasil ............................. 18 2.2 Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) ................................................................. 19 2.3 Atendimento Educacional Especializado (AEE) ........................................................ 20 2.4 Tecnologia Assistiva (TA) ............................................................................................. 21 2.5 Dosvox ............................................................................................................................ 22 2.6 Deficiência Visual .......................................................................................................... 23 2.7 Inclusão e Letramento Digital ...................................................................................... 25 2.8 Formação Continuada de Professores do AEE .......................................................... 26 3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 28 3.1 Caracterização da pesquisa .......................................................................................... 28 3.2 Revisão Sistemática de Literatura ............................................................................... 29 3.3 Oficinas Pedagógicas de Formação Continuada ........................................................ 32 3.4 Aspectos Éticos da Pesquisa ......................................................................................... 34 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 35 4.1 Resultados da primeira oficina pedagógica ................................................................ 35 4.2 Resultados da segunda oficina pedagógica ................................................................. 37 4.3 Resultados da terceira oficina pedagógica .................................................................. 40 4.4 Relato da entrevista com a professora da SRM pós-oficinas .................................... 44 4.5 Percepções sobre o plano de aula elaborado pela professora da SRM .................... 47 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 49 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 51 APÊNDICE A: PLANO DE APLICAÇÃO - 1ª OFICINA PEDAGÓGICA DOSVOX .. 55 APÊNDICE B: PLANO DE APLICAÇÃO - 2ª OFICINA PEDAGÓGICA DOSVOX .. 57 APÊNDICE C: PLANO DE APLICAÇÃO - 3ª OFICINA PEDAGÓGICA DOSVOX .. 59 APÊNDICE D: PLANO GERAL DAS OFICINAS PEDAGÓGICAS .............................. 61 APÊNDICE E: QUESTIONÁRIO APLICADO NA PRIMEIRA OFICINA SOBRE DOSVOX ................................................................................................................................. 63 APÊNDICE F: QUESTIONÁRIO APLICADO NA SEGUNDA OFICINA SOBRE DOSVOX ................................................................................................................................. 65 APÊNDICE G: QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PÓS-REALIZAÇÃO DAS OFICINAS ............................................................................................................................... 66 APÊNDICE H: ROTEIRO PARA A ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM A PROFESSORA ....................................................................................................................... 67 APÊNDICE I: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – PROFESSOR (A) .................................................................................................................... 68 APÊNDICE J: RESUMO EXPANDIDO PUBLICADO NO CIET ENPED 2020 ........... 69 ANEXO A: OFICIO Nº 002/2021 – CARTA DE ENCAMINHAMENTO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA DE CAMPO ..................................................................... 75 ANEXO B – PLANO DE AULA ........................................................................................... 76 15 1 INTRODUÇÃO No campo educacional, a área da Computação proporciona ferramentas para a inovação e desenvolvimento das práticas pedagógicas a partir do uso de recursos tecnológicos desenvolvidos constantemente, porém, esse desenvolvimento, em muitos contextos, não se aplica exclusivamente para a educação. Dessa forma, recursos tecnológicos são testados, adaptados e utilizados para fins pedagógicos, pois a educação “usufrui dos benefícios proporcionados pelas tecnologias computacionais, ampliando a experiência e o conhecimento humano, como também a promoção de novas formas de interação em face dos avanços tecnológicos” (MATOS, 2013, p. 191).Neste ínterim, a inserção do computador na educação requer “quatro componentes importantes: o computador, o software educativo, o professor capacitado e o aluno, enfatizando a importância do software educacional, na ausência do computador, se torna inútil para uso educativo” (VALENTE, 1993, p. 03). Nesta perspectiva, dos quatro componentes, torna-se relevante compreender como estes se fazem presentes na Educação Especial e Inclusiva. Para Damasceno e Galvão Filho (2002), na esfera da Educação Especial e Inclusiva a aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como recursos de Tecnologia Assistiva (TA), tem por finalidade a eliminação de barreiras na comunicação e garantia de acessibilidade, independência e qualidade de vida para pessoas com deficiência. Desta forma, torna-se importante os quatros componentes citados por Valente (1993), bem como a análise do cenário da Educação Especial e Inclusiva frente à legislação brasileira. Sobre isso, o Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei nº 13.146/2015 “assegura e promove em condições de igualdade, o exercício do direito e das liberdades fundamentais por pessoas com deficiência visando à inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015). Enquanto que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN nº 9.394/1996, no Art. 58, justifica a Educação Especial como modalidade do ensino regular para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, assegurando o ensino mediante a implantação das Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) para ofertar Atendimento Educacional Especializado (AEE) conforme orientações da Política Nacional de Educação Especial para Deficientes regulamentada pela Portaria Normativa nº 13/2007. Importa ressaltar, que as SRM são espaços organizados com equipamentos de informática, ajudas técnicas, materiais pedagógicos e mobiliários para atendimento das 16 necessidades educacionais especiais dos alunos que recebem o AEE, cuja função é complementar ou suplementar a formação dos alunos público alvo da Educação Especial. Para tanto, a Educação Especial exige formação de recursos humanos qualificados para atuação no AEE a fim de orientarem adequadamente o aluno no processo de aprendizagem. Assim, “tecnologia e conhecimentos se integram para produzir novos conhecimentos que permitam compreender as problemáticas atuais e desenvolver projetos, em busca de alternativas para a transformação do cotidiano e a construção da cidadania” (ALMEIDA, 2005, p. 40). Frente a esse cenário, uma temática amplamente discutida se refere à inclusão das TIC no âmbito das escolas públicas, como a instalação de laboratórios de informática e a disponibilização de recursos pedagógicos, articulados ao uso dos computadores para potencialização das aprendizagens. Essa implantação requer metodologias adequadas para uso dos recursos tecnológicos, porém, há uma problemática recorrente nessa realidade, que é ausência de formação continuada de professores para se trabalhar com recursos tecnológicos, inviabilizando assim, o planejamento de práticas pedagógicas adequadas na sala de aula regular e na SRM. Mediante observações empíricas, realizadas em uma escola da rede pública de ensino do município de Itinga do Maranhão/MA, foram identificadas matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais ocasionadas por deficiências congênitas ou adquiridas, como: paralisia cerebral, deficiência intelectual, visual ou auditiva, síndrome de Down, autismo, dentre outras deficiências. E, estes alunos são matriculados no ensino regular e recebem atendimento na SRM no contra turno, duas vezes por semana. Para o atendimento dos alunos com deficiência visual são adotados apenas recursos simples de TA como: lupas manuais e eletrônicas, reglete com punção, máquinas braille e equipamentos de informática. Expostos os pontos que contemplam a aplicabilidade de recursos de TA na educação, relacionando-a com AEE em SRM, importa agora, apresentar, que o discurso desta pesquisa se concentra em responder a questão norteadora: O uso do software Dosvox pode contribuir no desenvolvimento escolar de alunos com deficiência visual na cidade de Itinga Maranhão? Assim, após o desenvolvimento das etapas de pesquisa tenta-se validar a seguinte hipótese: O uso do software Dosvox contribui no desenvolvimento escolar de alunos com deficiência visual, para atingir o objetivo geral que é: Contribuir no processo educacional de alunos com deficiência visual mediante a oferta de formação continuada para professores do Atendimento Educacional Especializado com o uso do sistema Dosvox na cidade de Itinga do Maranhão. 17 Propôs-se com isso, compreender como ocorre a formação de professores para atuar no AEE com deficientes visuais utilizando o sistema Dosvox, através de oficinas pedagógicas de formação continuada, visando colaborar com o aperfeiçoamento das práticas pedagógicas dos professores que atuam na SRM em função do desenvolvimento de competências e habilidades na utilização de recursos tecnológicos e softwares. Além disso, vislumbra-se a qualidade de vida, inclusão social e tecnológica dos alunos com deficiência visual. Em relação à organização deste estudo, convém salientar: o primeiro capítulo trata da Introdução, o segundo concentra-se no embasamento teórico em autores clássicos da área de conhecimento como: Borges (1998), Bersch e Tonolli (2006), Bersch (2009), Galvão Filho (2009), Manzini (2012), como também literaturas atuais, publicadas entre 2014 e 2020. No terceiro capítulo, apresenta-se a descrição pormenorizada do percurso metodológico e dos instrumentos adotados para coleta dos dados, enquanto que o quarto capítulo, refere-se aos resultados obtidos na formação continuada dos professores do AEE realizada no formato de oficinas pedagógicas sobre o Dosvox. Por fim, as considerações finais apresentam a conclusão dos resultados onde se verifica a validação da hipótese levantada e a contemplação do objetivo geral da presente pesquisa. A título de informação, em agosto de 2020 foi publicado um resumo expandido referente a esta pesquisa, aprovado e apresentado no Congresso Internacional de Educação e Tecnologias e Encontro de Pesquisadores da Educação a Distância – CIET ENPED 2020, promovido pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Uma cópia desta publicação encontra-se nos apêndices desta monografia (ver Apêndice J). 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO Neste capítulo discorre-se sobre os conceitos e definições relacionados ao tema desta monografia: Marcos Normativos da Educação Especial e Inclusiva no Brasil, Sala de Recursos Multifuncionais (SRM), Atendimento Educacional Especializado (AEE), Tecnologia Assistiva (TA), Dosvox, Deficiência Visual (DV), Inclusão e Letramento Digital e Formação Continuada de Professores do AEE. 2.1 Marcos Normativos da Educação Especial e Inclusiva no Brasil A demanda de alunos com necessidades educativas especiais que ingressam no ensino público brasileiro tem crescido nas últimas décadas, esse crescimento propiciou a regulamentação das políticas educacionais voltadas para a inclusão social desses alunos. No Brasil, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica foram instituídas através da Resolução CNE/CEB nº 02/2001, que concebe no Art. 3º a Educação Especial como: [...] um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica(BRASIL, 2001, p. 1). Porém, sobre a modalidade de ensino para alunos com necessidades especiais de aprendizagem, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva mostra que “a partir do processo de democratização da educação se evidencia o paradoxo inclusão/exclusão, quando os sistemas de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluindo indivíduos e grupos considerados fora dos padrões homogeneizadores da escola” (BRASIL, 2008, p. 6). Em contrapartida ao paradoxo inclusão/exclusão, a Constituição Federal de 1988, no Art. 3º, inciso IV objetiva “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988). Corroborando o pressuposto constitucional mencionado, a Lei nº 9.394/1996 LDBN, no Capítulo V, Art. 58 vem reforçar a Educação Especial como “a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos 19 globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação” (BRASIL, 2017, p. 39). No contexto da Educação Especial, Brasil (2010) reafirma essa premissa ao declarar que: A universalização do atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, na faixa etária de quatro a dezessete anos, na rede regular de ensino, atende ao compromisso assumido pelo Brasil [...] que assegura um sistema educacional inclusivo em todos os níveis [...] como direito inalienável das pessoas com deficiência (BRASIL, 2010, p. 23). Essa democratização do ensino na modalidade especial visa necessariamente à inclusão dos alunos com deficiência no ensino regular, levando em consideração suas especificidades para romper com o paradigma da segregação/exclusão. A normatização das políticas educacionais com vistas ao ensino inclusivo garante o acesso, a permanência e a continuidade dos estudos às pessoas com necessidades educativas especiais de forma isonômica em todos os níveis de escolarização. Assim, a Resolução CNE/CEB nº 02/2001, prevê no Art. 7º que “o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica” (BRASIL, 2001, p. 2). Relacionado ao atendimento desses alunos através da Portaria Normativa nº 13/2007 foram implantadas Salas de Recursos Multifuncionais nas escolas públicas. 2.2 Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) A implantação das Salas de Recursos Multifuncionais pelo Ministério da Educação (MEC) preocupa-se em oferecer atendimento especializado para pessoas com deficiência, Transtorno do Espectro Autista (TEA), altas habilidades/superdotação, que estejam matriculadas nas salas comuns do ensino regular. De acordo com Brasil (2020), entende-se que a Sala de Recurso Multifuncional é um: Espaço localizado nas escolas de educação básica em que se realiza o atendimento educacional especializado (AEE). É constituída por equipamentos, mobiliários, recurso de acessibilidade e materiais didático-pedagógicos para atender as escolas com alunos da educação especial. As salas de recursos multifuncionais podem ser implementadas por meio de programa federal ou por recursos próprios dos sistemas de ensino. Além disso, o AEE deve ser realizado por professor com formação em educação especial. (BRASIL, 2020, p. 18). Nesse espaço o atendimento deve ser realizado por um professor com conhecimento adequado por meio de recursos pedagógicos e equipamentos tecnológicos e/ou adaptados, 20 específicos para cada deficiência e/ou necessidade educativa especial, ocorrendo no contra turno ao ensino regular, em dias e horários distintos, de forma individualizada ou em grupos com pequenos números de alunos conforme a necessidade de cada um. Assim, torna-se essencial a articulação das atividades pedagógicas oferecidas pelo professor da SRM com as atividades ofertadas nas salas regulares. Essa articulação deve potencializar o desenvolvimento das aprendizagens dos alunos complementando ou suplementando o currículo no ambiente da SRM. Para que a articulação aconteça, as SRM são classificadas em tipos I e II. As salas do tipo I são equipadas com recursos didáticos pedagógicos, mobiliários e equipamentos de informática, além desses recursos, as salas do tipo II são contempladas com recursos de tecnologia assistiva para alunos com deficiência visual, permitindo a oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE). 2.3 Atendimento Educacional Especializado (AEE) O Atendimento Educacional Especializado (AEE) tem a função de “identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos” (BRASIL, 2020, p. 12), considerando necessidades educacionais específicas. Nessa perspectiva, o AEE: É a mediação pedagógica que visa possibilitar o acesso ao currículo pelo atendimento às necessidades educacionais específicas dos alunos com deficiência, transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades/superdotação, público da Educação Especial, devendo a sua oferta constar no projeto pedagógico da escola, em todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2020, p. 12). O AEE não substitui o ensino regular, no entanto, viabiliza a complementação ou suplementação ao ensino ofertado nas salas regulares, propiciando condições potencializadoras da aprendizagem. Para o público alvo o AEE é ofertado prioritariamente na SRM própria da escola, podendo também ocorrer no “Centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios” como previsto no Art. 5º da Resolução nº 04/2009 em concomitância com o Art. 6º, ao determinar que “em casos de Atendimento Educacional Especializado em 21 ambiente hospitalar ou domiciliar, será ofertada aos alunos, pelo respectivo sistema de ensino, a Educação Especial de forma complementar ou suplementar (BRASIL, 2009, p. 2)”. Sobre isso, o atendimento especializado ocorre no contra turno ao ensino regular, recebendo matrículas da própria ou de outras escolas na qual o plano de ensino é voltado para identificar as necessidades educacionais específicas dos alunos e definir os recursos necessários às atividades que serão desenvolvidas (BRASIL, 2009). No mesmo sentido, Mendonça (2019, p. 31) reforça que “dentre as atividades de atendimento educacional especializado são disponibilizados programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva”. Nesse contexto de ensino a proposta pedagógica deve ser articulada ao ensino comum, devendo o processo de aprendizagem acontecer com uso dos recursos pedagógicos específicos e de tecnologia assistiva adequada às necessidades educativas dos alunos público alvo do AEE. 2.4 Tecnologia Assistiva (TA) Bersch e Tonolli (2006) afirmam que a Tecnologia Assistiva consiste em oferecer recursos e serviços que possam proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiências, oferecendo-lhes qualidade de vida, independência e inclusão social. Para Bersch (2017), o conceito de TA pode ser entendido: [...] como um auxílio que promoverá a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da função desejada e que se encontra impedida por circunstâncias de deficiência ou envelhecimento. [...] através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle do seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e trabalho (BERSCH, 2017, p.2). No Brasil, outra definição para TA foi elaborada pelo Comitê de AjudasTécnicas (CAT) que se embasou nos estudos realizados a partir de documentos legais publicados nos Estados Unidos e países europeus, conceituando-a como: [...] área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, 2007, p. 3). Sendo assim, a TA “oportuniza ao aluno com deficiência condições de construir o seu próprio aprendizado por meio de recursos diversificados que variam desde mobiliários a 22 softwares educacionais, tornando possível o desenvolvimento motor e cognitivo” (GALVÃO FILHO, 2009). Nesse sentido, o professor do AEE no ambiente da SRM, pode oferecer ao aluno com deficiência, múltiplas oportunidades para desenvolver seu aprendizado fazendo uso de recursos pedagógicos mediados por TA, pois conforme Bersch (2009): [...] a intervenção em Tecnologia Assistiva se faz pela prática do atendimento educacional especializado, não restringindo aos recursos tecnológicos em si, mas implicando uma ação educacional que promova a autonomia, a independência, no exercício de atividades e a inclusão dos alunos com deficiência (BERSCH, 2009, p. 50). Ainda sobre TA, Bersch (2017, p. 2) segue afirmando que “num sentido amplo percebemos que a evolução tecnológica caminha na direção de tornar a vida mais fácil”. Assim, compreende-se que no contexto educacional a inclusão social e digital permitida pela TA se constitui como indispensável para a vida cotidiana de todo cidadão. Pois, os recursos tecnológicos, softwares educacionais como o sistema Dosvox, se constituem importantes ferramentas no processo ensino-aprendizagem. 2.5 Dosvox Dosvox é um software utilizado por pessoas com deficiência visual que se comunica com o usuário, por voz em português, com possibilidades de configuração para outros idiomas. O sistema apresenta comunicação simples na interação homem-máquina, estabelecendo um diálogo amigável por meio de programas específicos e interfaces adaptativas. O sistema Dosvox foi desenvolvido no antigo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE/UFRJ), atual Instituto Tércio Pacitti, com finalidades exclusivas para atender as necessidades educacionais de deficientes visuais. Segundo Borges (1998, p. 1), este “é um sistema operacional que permite que pessoas com deficiência visual utilizem um microcomputador comum obtendo alto desempenho na realização de atividades escolares e profissionais”. Parafraseando Fonseca (2012), o software permite o rompimento das barreiras de comunicação na relação professor-aluno, proporcionando às pessoas com deficiência visual independência no ambiente escolar e na vida cotidiana mediante o uso da tecnologia. Deste modo, o Dosvox traz benefícios aos professores do AEE quanto às práticas pedagógicas, 23 oferecendo aos alunos possibilidades de aprendizagem e ampliação da comunicação, através do recurso de tecnologia assistiva. Por essa razão, o sistema Dosvox pode eliminar as barreiras comunicacionais, especialmente, em relação às atividades de leitura e escrita, viabilizadas principalmente pelo sistema Braille. Visto que, o software educacional permite comunicação interativa entre o usuário e o computador equipado com leitor de tela e síntese de voz, como consequência se obtém maior autonomia e independência na aprendizagem por parte do aluno. A esse respeito, Borges (1998), reforça que: O sistema operacional Dosvox permite que pessoas com deficiência visual utilizem um microcomputador comum (PC) para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim um nível alto de independência no estudo e no trabalho. O Dosvox se comunica com o usuário através do uso de sintetizador de voz. O sistema conversa com o deficiente visual em Português [...] como um sistema de gerência de arquivos adequado ao uso por deficientes visuais, editor e leitor de textos, impressor a tinta e em Braille, ampliador de telas para visão subnormal, diversos jogos, além de programas para acesso a Internet. (BORGES, 1998, p. 1). Nesse cenário, verifica-se que o Dosvox se constitui como importante ferramenta para atividades de leitura e escrita, além das opções de jogos educativos e acesso a internet. Por essa razão, no contexto da Educação Especial, os professores, não só podem fazer uso dos recursos já disponíveis no sistema Dosvox, como também podem construir múltiplas atividades lúdicas, uma facilidade oferecida pelo sistema. Além disso, ainda permite maior ganho na aprendizagem porque os alunos com deficiência visual são preparados para superar as próximas etapas dos estudos. 2.6 Deficiência Visual A Lei de Bases e Diretrizes da Educação Nacional (LDBN nº 9.394/96) assegura no Art. 5º que “o acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão [...] e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo” (BRASIL, 2017, p. 10). Nos termos da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência - Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) propõe-se no Art. 27 que: A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem (BRASIL, 2016, p. 55). 24 Complementando, o Parágrafo Único afirma que “é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação” (BRASIL, 2016, p. 56). Dados estatísticos apresentados pelo Ministério da Educação - MEC (2018), coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no censo demográfico de 2010, apontam que 18,6% da população brasileira, desse total, 6,5 milhões de pessoas apresentam deficiência visual severa, 506 mil têm perda total da visão (0,3% da população) e 6 milhões, grande dificuldade para enxergar (3,2%). A partir desses dados, entende-se que a deficiência visual se dá pela perda total ou parcial da visão, por fatores internos ou externos (congênita ou adquirida) com níveis variáveis. Para Brasil (2020), a deficiência visual pode ser classificada em: Cegueira: Perda total da função visual ou pouquíssima capacidade de enxergar. Baixa visão: Perda parcial da função visual. Nesse caso, o aluno possui resíduo visual, e seu potencial de utilização da visão para atividades escolares e de locomoção é prejudicado, mesmo após o melhor tratamento ou a máxima correção óptica específica. Desse modo, o aluno necessita de recursos e materiais didáticos acessíveis, como, por exemplo, material em letra ampliada, dentre outros (BRASIL, 2020, p. 9). Nessa perspectiva, os conceitos de cegueira e baixa visão foram expostos com intuito de contextualizar a deficiência visual no âmbito da Educação Especial, a partir do uso de recursos de tecnologia assistiva para as práticas pedagógicas de leitura e escrita. Verifica-se nas palavras de Giroto, Poker, Omote (2012) que: O uso de recursos de tecnologia assistiva promove a melhora da visão residual de pessoas com baixa visão com a utilização de recursos específicos nas atividades cotidianas, de leitura e de escrita e referem-se a produtos, instrumentos, equipamentos adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa com deficiência ou com a mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida (GIROTO; POKER;OMOTE, 2012, p. 163). Em suma, geralmente, as pessoas com deficiência visual habituam-se às dificuldades que lhes são impostas no cotidiano. As iniciativas propostas pela política de acessibilidade visam, por exemplo, eliminar as barreiras na comunicação, de modo a garantir dignidade e igualdade dos direitos assegurados em lei. Dessa forma, as atividades educativas mediadas por recursos tecnológicos visam mais do que o rompimento das barreiras, intentam inclusão digital e social das pessoas com deficiência. 25 2.7 Inclusão e Letramento Digital Em vista dos avanços tecnológicos experimentados nas últimas décadas, é pertinente afirmar que um número significativo de pesquisas voltadas para ascensão tecnológica vem sendo realizadas em diversas áreas do conhecimento, como por exemplo, a educação. Pois, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), fator de impulsão desses avanços, permeiam todas as classes sociais, requerendo o desenvolvimento das competências e habilidades inerentes às mudanças proporcionadas pelas TDIC. Ao se pontuar a questão dos avanços tecnológicos, disseminados principalmente pelo uso do computador, deve-se também considerar a inclusão social e digital para pessoas com deficiência como prevê a legislação. As reformulações recentes ocorridas no cenário educacional brasileiro almejam a inserção das tecnologias digitais em sala de aula. A esse respeito Morcelli e Seabra (2014) defendem que: Ao se falar em inclusão social e digital, as pessoas que possuem qualquer tipo de deficiência não podem e não devem ser excluídas do progresso tecnológico e, para tanto, faz-se necessário criar condições para que elas possam usufruir da tecnologia. O acesso à informação contribui para a inserção de indivíduos excluídos pela sociedade [...]. Na prática, a inclusão social representa o acolhimento e a inclusão de pessoas com transtornos e/ou deficiências, sejam eles quais forem (MORCELLI E SEABRA, 2014, p. 2). Neste sentido, a inclusão digital objetiva romper as barreiras comunicacionais para pessoas com deficiência quanto ao acesso às possibilidades tecnológicas. Principalmente, porque “a informática instiga o aprimoramento cognitivo, o desenvolvimento de conhecimentos e de habilidades, além de ser importante recurso na equidade de oportunidades e inclusão social” (DA SILVA ROCHA, 2015, p. 4). Importa enfatizar, que tão importante quanto à inclusão digital das pessoas com deficiência visual, também é necessário promover o letramento digital no contexto da Educação Especial e Inclusiva, para que como docentes: Repensemos a organização educacional diante das novas demandas da sociedade, buscando propostas alternativas para o ensino, visando desenvolver novas competências e habilidades para que estes sujeitos sejam inseridos e interajam de forma crítica no contexto social atual (ANDRADE, 2020, p. 2). Ainda sobre o letramento digital, Andrade (2020, p. 4), afirma que essa abordagem “não diz respeito apenas ao acesso à tecnologia ou ao uso da leitura e da escrita realizadas no computador, vai muito além, diz respeito à utilização funcional da mesma, ao exercício efetivo das práticas do meio digital”. Assim, a inclusão e letramento digital abrem caminhos 26 para a oferta de formação continuada para os professores do AEE, de modo a desenvolverem as competências exigidas pelo ensino mediado por TDIC, viabilizando novas perspectivas para os alunos. 2.8 Formação Continuada de Professores do AEE Em estudo realizado por Manzini (2012), acerca da formação de professores para o uso de TA, o autor analisou a classificação de recursos e equipamentos que exigem saber acadêmico específico para atuação no atendimento de pessoas com deficiência, percebendo que: [...] a atualização profissional em novas tecnologias, ou especificamente em Tecnologia Assistiva, é algo que pode vir a auxiliar a inclusão de alunos com deficiência. Porém, sem os alicerces básicos dos processos de ensinar e aprender, de nada adianta a nova tecnologia, pelo contrário, ela pode vir a ser um impedimento (MANZINI, 2012, p. 10). Na percepção de Manzini (2012), a presença dos recursos de TA não farão efeito nenhum na vida escolar dos alunos se os professores não tiverem uma formação continuada adequada para manusear os equipamentos de forma técnica e pedagógica. Sendo que os atos legais já mencionados vislumbram a importância de “se pensar a formação do professor, sobretudo sua formação continuada, objetivando criar possibilidades para que o aluno no serviço do AEE tenha suas necessidades educacionais consideradas e acesso a uma educação de qualidade” (PASIAN; MENDES; CIA, 2017, p. 4), inclusive, as autoras apontam que: Os estudos voltados para a formação continuada de professores da Educação Especial, trabalhando em SRM são essenciais para se verificar o que está sendo viabilizado e as dificuldades encontradas, obter conhecimento sobre a nova realidade proposta na educação brasileira para os alunos, o que precisa ser melhorado e o que requer mais investimento (PASIAN; MENDES; CIA, 2017, p. 4). A formação dos professores do AEE para o trabalho com recursos de TA na SRM é fundamental e urgente, considerando que: A natureza e a complexidade do campo educacional, cremos que antes de pretender ofertar serviços que visam incluir discentes para usufruto de bens sociais e culturais, como a educação, é necessário antes incluir o docente, profissionaliza-lo para que possa proporcionar e mediar aprendizagem discente, porque o docente é o tomador de decisão para materialização ou não dos objetivos nacionais da educação, e, para fazer com que a aprendizagem ocorra de forma integral e efetiva, na inter-relação pedagógica com os discentes e a comunidade (KAPITANGO-A-SAMBA, 2014, p. 65 e 66). 27 Para tanto, não se pode considerar apenas a inclusão dos alunos no mundo tecnológico, o professor é indispensável no processo e na tomada de decisões, bem como o aperfeiçoamento profissional contínuo da prática pedagógica, visto que, dele depende a efetividade da aprendizagem e a formação de cidadãos autônomos e conscientes do papel que devem exercer na comunidade em que se inserem. Para Santos (2017, p. 22), “além de possuir uma formação satisfatória para compreender e atender as necessidades dos alunos que frequentam as salas de recursos é necessário que o professor compreenda suas atribuições durante o AEE”, buscando aperfeiçoar-se constantemente no campo de atuação. 28 3 METODOLOGIA Neste capítulo relata-se o percurso metodológico da pesquisa, instrumentos utilizados para a coleta e análise dos dados, campo de observação e os sujeitos participantes da investigação, técnica de Revisão Sistemática de Literatura utilizada para o levantamento bibliográfico, a descrição das Oficinas Pedagógicas de Formação Continuada de Professores do AEE, bem como os Aspectos Éticos da Pesquisa. 3.1 Caracterização da pesquisa A orientação metodológica para fins de investigação concentrou-se na abordagem qualitativa com pesquisa exploratória desenvolvida por meio de estudo de caso. Para melhor compreensão dos processos consultou-se a Severino (2017, p. 91) que define a pesquisa exploratória como o “levantamento de informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”. Para o campo de trabalho, foi selecionada a Sala de Recursos Multifuncionais da Escola Municipal Professor José Cesário da Silva pela oferta de atendimento especializado aos alunos com deficiência visual na rede municipal de ensino no município de Itinga do Maranhão. Desta forma, retorna-se a Severino (2017, p. 88) para se compreender que o estudo de caso “concentra-se no estudo de um caso particular, consideradorepresentativo de um conjunto de casos análogos, por ele significativamente representativo”. Os sujeitos participantes que compuseram o escopo da pesquisa foram duas professoras, uma trabalha na SRM tipo I1 e a outra na SRM tipo II2. Contou-se também com a participação da Coordenadora Pedagógica. Entre as professoras participantes, a que trabalha na SRM tipo I, manifestou interesse em participar da pesquisa, pois ela pretende futuramente fazer parte da SRM tipo II. No projeto de pesquisa deste TCC, cogitava-se envolver dois alunos com deficiência visual, porém, não foi possível contar com a presença desses, em virtude da deficiência propriamente dita, e também, por questões inerentes à autorização das famílias, quando não concordaram com a participação dos alunos na pesquisa, em vista deste momento tão delicado da pandemia por COVID-19. 1 SRM tipo I atende alunos com Deficiência Auditiva, Transtornos Globais da Aprendizagem, Transtorno do Espectro Autista, exceto Deficiência Visual. 2 SRM tipo II atende alunos com Deficiência Auditiva, Transtornos Globais da Aprendizagem, Transtorno do Espectro Autista, inclusive Deficiência Visual. 29 A coleta dos dados ocorreu por meio de questionários. Como explica Vieira (2009, p. 30), o questionário “é um instrumento de pesquisa constituído por uma série de questões sobre determinado tema”. As questões foram elaboradas conforme as escalas de Likert3 e Bogardus4, por se constituírem instrumentos de medição validados mediante regras previamente estabelecidas, construídos no Google Forms e aplicados aos participantes por meio eletrônico com envio do link por e-mail e Whatsapp. Também, se fez uso da técnica de observação direta e indireta no local da pesquisa e entrevista semiestruturada com a professora atuante no atendimento dos deficientes visuais. A tabulação dos dados coletados ocorreu por intermédio das planilhas do MS Excel, posteriormente realizou-se a análise de conteúdo, “uma metodologia de tratamento e análise de informações constantes de um documento sob a forma de discursos pronunciados em diferentes linguagens: escritos, orais, imagens, gestos. Um conjunto de técnicas de análise das comunicações. [...].” (SEVERINO, 2017, p. 89). 3.2 Revisão Sistemática de Literatura A Revisão Sistemática da Literatura (RSL) é “um método sistemático, explícito, (abrangente), e reprodutível para identificar, avaliar e sintetizar o corpo existente de trabalhos completos e registrados por pesquisadores, estudiosos e profissionais” (FINK, 2005, p. 3, apud OKOLI, 2019, p. 4). Pode-se dizer que é o caminho pelo qual se tomou conhecimento da quantidade de estudos publicados acerca de determinado tema, delimitado por um espaço de tempo, na última década ou últimos cinco anos, seguindo uma metodologia criteriosa, clara e passível de reprodução; ou seja, “um meio de identificar, avaliar e interpretar todas as pesquisas disponíveis, relevantes para uma determinada questão de pesquisa ou área de interesse” (KEELE et al., 2007, p. 11). Considera-se a RSL como fundamental para a resolução da questão norteadora desta pesquisa. Pois, ao se realizar o estado da arte, verificou-se a quantidade de estudos publicados 3 A escala de Likert é uma série de itens de Likert, todos com o mesmo número de alternativas, organizada para medir um conceito, isto é, a escala de Likert é o somatório dos escores conferidos aos vários itens de Likert que formam um conceito (VIEIRA, 2009). 4 A escala de Bogardus ou escala da distância social foi criada para medir empiricamente a vontade das pessoas de participar de contatos sociais com membros de diferentes grupos sociais, notadamente de outra nacionalidade ou de outro grupo étnico (VIEIRA, 2009). 30 que apresentavam conteúdos relacionados ao tema pesquisado. Logo após, se fez a seleção dos trabalhos que compuseram uma parte do referencial teórico. Para a obtenção das publicações, estabeleceu-se o período de buscas entre os anos 2014 a 2019 nas bases de dados que apresentavam indexação de periódicos com conteúdos relevantes da área da Computação e Informática na Educação: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD); Portal de Periódicos da CAPES (PPCAPES); Workshop do Congresso Brasileiro de Informática na Educação (WCBIE); Google Acadêmico (G.A.); Revista de Informática na Educação: Teoria e Prática (RIETP) e Workshop de Informática na Educação (WIE). Ressalta-se, que pela necessidade, trabalhos acadêmicos publicados antes e depois do período estipulado para buscas foram agregados ao referencial teórico. Após a escolha das bases de dados, foram definidos os termos da busca: Atendimento Educacional Especializado; Dosvox; Deficientes Visuais; Formação de Professores; Sala de Recursos Multifuncional; Software Educacional; Tecnologia Assistiva. Depois, foram definidos os critérios de inclusão e exclusão, como mostram as Tabelas 1 e 2, cujo objetivo foi concentrado em garantir precisão na seleção dos estudos. Tabela 1. Critérios de Inclusão CÓDIGO CRITÉRIOS CI01 Trabalhos publicados entre 2014 e 2019. CI02 Estudos escritos em português e de natureza qualitativa. CI03 Trabalhos que apresentem termos como: Atendimento Educacional Especializado, Dosvox, Formação de Professores, Recurso de Tecnologia Assistiva, Sala de Recurso Multifuncional no título e palavras-chave. Tabela 2. Critérios de Exclusão CÓDIGO CRITÉRIOS CE01 Trabalhos aplicados em outras áreas (fora da educação). CE02 Trabalhos repetidos. CE03 Trabalhos secundários. Todos os estudos retornados na busca e que atendiam a pelo menos um dos critérios de seleção foram incluídos ou excluídos, mediante os termos previamente definidos. Na Tabela 3 mostram-se os resultados das buscas, como também, as quantidades de trabalhos retornados em cada base de dados. Tabela 3. Resultados da Busca BASE DE DADOS TRABALHOS RETORNADOS EXCLUÍDOS INCLUÍDOS WCBIE 76 75 1 BDTD 3 0 3 PPCAPES 2 0 2 GA 53 32 21 31 RIETP 61 59 2 WIE 9 8 1 TOTAL DE ARTIGOS 204 174 30 Concluída a separação das publicações, em conformidade com o protocolo adotado, procedeu-se com as leituras dos títulos, resumos e palavras-chave. Ordenaram-se os estudos classificados na Tabela 4, apresentando o código de inclusão, título e ano de publicação. Tabela 4. Trabalhos incluídos Nº CÓD. BASE TÍTULO ANO 1 CI01 WCBIE Avaliação da Inclusão Digital de Deficientes Visuais por meio do Dosvox. 2016 2 CI03 BDTD O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação aplicadas como recurso de Tecnologia Assistiva na construção do conhecimento dos alunos com Deficiência Visual que frequentam as Salas de Recursos Multifuncionais. 2015 3 CI03 BDTD O impacto dos recursos de Tecnologia Assistiva na educação e inclusão da pessoa com deficiência visual. 2015 4 CI03 BDTD Formação Continuada de professores: Tecnologia Assistiva para a escola inclusiva de alunos com deficiência visual. 2019 5 CI03 PPCAPES Tecnologia Assistiva: concepções de professores e as problematizações geradas pela imprecisão conceitual. 2017 6 CI03 PPCAPES Atendimento Educacional Especializado: aspectos da formação do professor. 2017 7 CI02 RIETP Jogo digital na inclusão de alunos com deficiência visual. 2019 8 CI03 RIETP Saberes docentes para uso de Tecnologia Assistiva no Atendimento Educacional Especializado. 2015 9 CI03 WIE Formação de Professores na perspectiva da inclusão de alunos com deficiência visual: um relato de experiência com elementos de gamificação. 2019 10 CI03 G. A. Formação de Professores em Tecnologia Assistiva para Atendimento Educacional Especializado em Salas de Recursos Multifuncionais: inclusão e exclusão. 2014 11 CI03 G. A. O Atendimento Educacional Especializado e o uso das tecnologias nas Salas de Recursos Multifuncionais no Ensino Médio Público do Distrito Federal. 2015 12 CI03 G. A. Análise sobre ausabilidade do Dosvox 2015 13 CI03 G. A. Considerações acerca da Tecnologia Assistiva no cenário educacional brasileiro. 2018 14 CI03 G. A. Formação de Professores em Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva: a deficiência visual no cerne da questão. 2018 15 CI03 G. A. Uso da Tecnologia Assistiva para inclusão do aluno com deficiência visual: um estudo de caso no município de Queimados-RJ. 2015 16 CI03 G. A. Formação de Professores atuantes em Salas de Recursos: identificação e uso da Tecnologia Assistiva. 2017 17 CI03 G. A. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) em Sala de Recursos Multifuncionais: a visão do professor de sala de aula comum/professor do AEE. 2019 32 18 CI01 G. A. Inclusão digital de alunos com deficiência. 2015 19 CI03 G. A. TICs na ETI: deficiência visual e percepção dos professores. 2017 20 CI03 G. A. Tecnologias que podem contribuir para superar desafios no processo de ensino aprendizagem de crianças com necessidades especiais na cidade de Cajazeiras-PB. 2016 21 CI03 G. A. Formação de professores e saberes docentes: limites e possibilidades do Atendimento Educacional Especializado no Centro de Referência de Educação de Jovens e Adultos Professor Severino Uchoa (2014) 2015 22 CI03 G. A. Recurso de Tecnologia Assistiva Digital para pessoas com deficiência sensorial: uma análise na perspectiva educacional. 2016 23 CI03 G. A. As Tecnologias de Informação e Comunicação no apoio a alunos com Necessidades Educacionais Especiais: fatores condicionantes do seu uso por parte dos professores do Ensino Fundamental de Manaus. 2016. 24 CI03 G. A. Jogos digitais na atuação do professor do Atendimento Educacional Especializado. 2019 25 CI03 G. A. Autoavaliação de ferramentas digitais para a Educação Especial por licenciados. 2016 26 CI03 G. A. Sala de Recursos Multifuncionais, Tecnologia Assistiva e Deficiência Intelectual: elementos para um novo fazer pedagógico. 2019 27 CI03 G. A. Atendimento Educacional Especializado – AEE e as Tecnologias Assistivas. 2019 28 CI03 G. A. O uso do software educacional Dosvox como mediador instrumental na aprendizagem de alunos com deficiência visual e cegueira. 2015 29 CI03 G. A. Tecnologia Assistiva e Computacional: contribuições para o Atendimento Educacional Especializado e desafios na formação de professores. 2015 30 CI03 G. A. Uso de Tecnologia Assistiva para implementação de um jogo educacional para deficientes visuais utilizando a plataforma Dosvox/Jogavox. 2014 O protocolo apresentado tentou verificar quantidades significativas das publicações com conteúdo da área da Computação e Informática na Educação para embasamento teórico, prioritariamente, aqueles que respondem à questão da pesquisa. 3.3 Oficinas Pedagógicas de Formação Continuada Nesta etapa da metodologia, abordam-se quesitos importantes, inerentes à formação continuada de professores da Educação Básica mediante ao planejamento e execução de oficinas pedagógicas. Para tanto, recorreu-se a Paviani e Fontana (2009) a fim de elucidar o termo oficina no contexto pedagógico, onde as autoras afirmam que: Uma oficina é, pois, uma oportunidade de vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetivos pedagógicos. 33 Nesse sentido, a metodologia da oficina muda o foco tradicional da aprendizagem (cognição), passando a incorporar a ação e a reflexão. Em outras palavras, numa oficina ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva (PAVIANI E FONTANA, 2009, p. 2). Uma oficina dá ao participante a oportunidade de cultivar uma experiência de novos e profundos aprendizados, ao permitir-se sair da teoria e vivenciar a prática de forma que este consiga sentir, refletir e agir sobre suas próprias limitações em vista do conhecimento proposto. A reflexão ativa, envolta em questões nunca antes consideradas, configura novas formas de aprender, ou seja, novas rotas para que o participante desenvolva a aprendizagem cognitiva. Conforme Junior e Oliveira (2015, p. 2), “as oficinas são também um espaço-tempo complexo, cujos participantes são atores e sujeitos, produzindo modos de interação capazes de superar a aplicação acrítica de teorias ou a prática pela prática, destituída de fundamentos teóricos”. Na concepção dos autores, os envolvidos em uma oficina tornam-se capazes de construir o próprio conhecimento através de experiências significativas sem ao menos possuir embasamento teórico-prático-metodológico. Para Paviani e Fontana (2009): A oficina, como qualquer ação pedagógica, pressupõe planejamento, mas é na execução que ela assume características diferenciadas das abordagens centradas no professor e no conhecimento racional apenas. O planejamento prévio caracteriza-se por ser flexível, ajustando-se às situações-problema apresentadas pelos participantes, a partir de seus contextos reais de trabalho (PAVIANI E FONTANA, 2009, p. 3). O planejamento das oficinas pedagógicas seguiu o mesmo formato, com duração de 8 horas, e o conteúdo dividido em módulos (ver Apêndices A, B e C). O local da aplicação foi na SRM da Escola Municipal Professor José Cesário da Silva. O roteiro das oficinas seguiu o modelo proposto por Almeida, Sabino e Lobato (2016), consistindo na visão geral das oficinas pedagógicas sobre o sistema Dosvox conforme a padronização apresentada na Tabela 5: Tabela 5: Visão geral das oficinas pedagógicas Item Descrição Apresentação: Breve apresentação do conteúdo, abordando a descrição teórica e técnica. Objetivos: Objetivo geral e os específicos nos planos individuais, e o objetivo geral no plano geral das oficinas. Carga horária: Cada oficina terá duração entre 2h30min e 3 h, totalizando 8 h. Recursos: Os recursos humanos, materiais e tecnológicos necessários à execução de cada oficina. Metodologia: Descrição processual das oficinas. Avaliação: Resultados esperados da atuação do professor quanto à aplicabilidade do sistema Dosvox com os DV. 34 Os planos individuais resultaram da divisão dos conteúdos em módulos a partir do planejamento geral das oficinas (ver Apêndice D). Nos planos individuais descreveu-se o passo a passo adotado para se responder a questão norteadora bem como alcançar o objetivo geral da pesquisa. A coleta dos dados ocorreu através do registro dos acontecimentos no diário de bordo, gravação de vídeos e áudios pelo celular, e realização de testes às cegas. Ao final de cada oficina pedagógica foram aplicados questionários enviados por e-mail e Whatsapp (ver Apêndices E, F e G). Também foi elaborado um plano de aula pela professora da SRM do tipo II, que posteriormente, deve ser aplicado no AEE para atestar a efetividade da versão 5.1a do sistema Dosvox no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência visual (ver Anexo B). 3.4 Aspectos Éticos da Pesquisa O Ministério da Saúde através do Conselho Nacional de Saúde publicou a Resolução nº 196/1996, orientando no inciso III, que os aspectos éticos da pesquisa com seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas fundamentais, destacando que a eticidade da pesquisa implica em: a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade (MS-CNS, 1996). Para tanto, os Comitês de Ética na Pesquisa (CEP) “surgem com a tarefa de considerar as condições de incertezas no desenvolvimento das pesquisas e ponderar os conflitos de maneira imparcial, sem deixar de proteger a parte mais frágil, que é quase sempre, o sujeito ou a população investigada, mas pode ser, também, o próprio pesquisador” (SCHRAMM, KOTTOW,2000 apud ARAÚJO, 2003, p. 4). Para realização desta pesquisa, inicialmente, apresentou-se o Ofício nº 002/2021 - Carta de encaminhamento para realização de pesquisa de campo, protocolado na Coordenação de Educação Especial e Inclusiva da Secretaria Municipal de Educação de Itinga do Maranhão (ver Anexo A). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi elaborado e assinado em duas vias de igual teor com “o propósito de informar aos participantes os objetivos, benefícios, riscos, entre outros, inerentes à participação nesta pesquisa” (TURCI, 2019, p. 46) (ver Apêndice I). 35 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos por meio dos questionários aplicados com as professoras da SRM, observação direta e indireta, entrevista semiestruturada e o plano de aula. Os resultados tinham por propósito contemplar o objetivo geral da pesquisa “Contribuir no processo educacional de alunos com deficiência visual mediante a oferta de formação continuada para professores do Atendimento Educacional Especializado com o uso do sistema Dosvox na cidade de Itinga do Maranhão”. Os sujeitos participantes da pesquisa foram duas professoras e uma coordenadora identificadas pelos códigos: AEE#01P (professora da SRM Tipo I que não atende alunos com deficiência visual), AEE#02P (professora da SRM Tipo II que atende aos deficientes visuais) e AEE#01C (coordenadora). Os dados coletados foram tabulados, analisados e discutidos neste capítulo. 4.1 Resultados da primeira oficina pedagógica A primeira oficina pedagógica ocorreu no dia 10 de março de 2021, com duração de 2h30min na Sala de Recursos Multifuncionais da Escola Municipal Professora José Cesário da Silva em Itinga do Maranhão. A participação das professoras ocorreu de forma presencial, porém, em meio à pandemia por COVID-19, seguimos os protocolos de segurança (máscaras, álcool em gel, a distância de 1,5 metros, ambiente arejado). Começamos a oficina com as boas-vindas e apresentação pessoal. Ressaltamos a importância e os objetivos do projeto de pesquisa e das oficinas realizadas. Após esse primeiro momento, seguindo o planejamento, realizamos um brainstorming cuja questão central era sobre a inserção da tecnologia no ensino inclusivo. A partir do questionamento, levantamos informações sobre os conhecimentos e as opiniões das participantes quanto ao uso de tecnologias em contexto educacional na SRM e a importância dessas para a educação dos deficientes visuais. Além disso, as participantes relataram, durante o brainstorming, exemplos sobre usos de tecnologias na SRM na prática pedagógica de ambas. Após as falas, ressaltamos informações iniciais sobre o Dosvox como possibilidade para o uso no processo ensino e aprendizagem dos alunos com deficiência visual, favorecendo a inclusão digital. Após a fase inicial da oficina, explicamos sobre os conteúdos planejados: Introdução ao Dosvox; Histórico; Instalação; Entrando no ambiente Dosvox; Testando as funções do 36 Dosvox. Durante a explicação e discussão dos conteúdos, as professoras estavam eufóricas, empolgadas com os novos conhecimentos. Finalizado a discussão e explanação sobre os conteúdos, a proposta era a realização do teste às cegas. Esse teste é realizado com os olhos vendados de modo que o professor se perceba como a pessoa com deficiência visual. Durante esse teste, as participantes demonstraram ansiedade, percebida pelas expressões faciais e tonalidade de voz. No final da oficina, houve a aplicação do questionário com perguntas abertas e fechadas. De acordo com as respostas do questionário, a primeira pergunta versava sobre os tipos de equipamentos que existem na SRM. Assim, obtivemos os seguintes dados: reglete com punção, notebook, prancha de comunicação alternativa, teclado com colmeia, computador com acesso a internet, máquina braille, impressora braille e lupa eletrônica. A segunda pergunta tinha o objetivo de saber sobre os equipamentos existentes na SRM, se as professoras os usam ou usaram alguma vez durante as aulas com os DV. Assim, a AEE#01P respondeu que nunca utilizou nenhum dos equipamentos, pois a mesma nunca atendeu aos alunos com a deficiência. A AEE#01C respondeu que usou a reglete com punção quando ela ministrava aula na SRM. A AEE#02P informou que usou a máquina braille, lupa eletrônica e reglete com punção. Na terceira pergunta o objetivo foi saber o grau de satisfação quanto ao uso desses equipamentos, assim todas responderam que é pouco satisfatório. Isso pode ocorrer devido ao grau de dificuldades que os alunos possuem e a ausência de formação adequada para o uso dos equipamentos da SRM com deficientes visuais. Seguindo as perguntas dos questionários, investigamos se as participantes usam ou usaram os softwares (aplicativo/programa): Virtual Vision, NVDA, Dosvox, Orca, JAWS, para ensinar os deficientes visuais, no entanto, nenhuma delas faz uso desses softwares e não tiveram oportunidade de participar de cursos ou formação continuada para aprender a manuseá-los. Em relação à questão avaliativa, sobre a primeira oficina, ambas as participantes responderam que gostaram, manifestando grau de satisfação pela metodologia da oficina e pelos conteúdos ministrados, especialmente pelo teste às cegas. Durante o teste às cegas, as participantes exploraram as principais funcionalidades do Dosvox, iniciando pelo teste do teclado para posicionamento correto das mãos e localização das setas de direção para acesso às opções do Dosvox e atalhos indicados pela letra inicial de cada programa: E - Edivox, L - Levox, V - VoxTube, M - Multimídia, etc. 37 Ao realizarem o teste às cegas, as professoras e a coordenadora puderam refletir sobre condições e dificuldades que os alunos possuem no cotidiano escolar. Perceberam a necessidade de promover a inclusão digital dos DV. Na avaliação sobre o teste às cegas, em resposta no questionário, responderam que esse teste é importante. Na avaliação do desempenho das professoras, a AEE#01P e AEE#01C responderam que foi muito ruim realizar o teste e a AEE#02P informou que foi bom. Ressalta-se que as respostas foram motivadas pelas dificuldades encontradas para manusearem o teclado. O teste às cegas proporcionou reflexões acerca do trabalho pedagógico dos participantes da pesquisa. Tais reflexões envolveram as opiniões sobre o uso do Dosvox com os DV no processo de ensino e aprendizagem. Vejamos as falas das professoras: AEE#01P: Vai ser uma novidade, porém ao iniciar, apresentarão dificuldades, sendo normal por ser algo novo, mas com persistência e prática conseguirão alcançar seus objetivos. AEE#02P: Com dificuldades, mas bem curiosos pra aprender a utilização desse programa. AEE#01C: Com bastante dificuldade entendendo que eles ainda não o conhecem e que não conhecem o teclado no que se refere à posição das letras e que não temos teclado em braille. As professoras concordaram que será uma novidade para os alunos, haverá dificuldades no início, porém com uso frequente do sistema Dosvox, os alunos conseguirão utilizá-lo e aprenderão a posicionar as mãos no teclado comum, pois a SRM não possui teclado em braille. Com os resultados da primeira oficina, podemos perceber que o ensino de pessoas com deficiência visual mediado pela TA Dosvox, requer apropriação de conhecimentos específicos. Apesar das dificuldades apresentadas, as professoras mostraram interesse pleno em aprender e usar recursos tecnológicos para aperfeiçoar suas práticas pedagógicas. Transpondo, assim, barreiras no contexto educacional em que se inserem no tocante a necessidade de formação continuada de professores em tecnologias educacionais. 4.2 Resultados da segunda oficina pedagógica A segunda oficina pedagógica foi realizada no dia 11 de março de 2021, no mesmo local de realização da primeira, mesma duraçãoe adoção dos protocolos de segurança já mencionados. 38 Nesta oficina, fizemos as saudações iniciais, falamos sobre os objetivos da pesquisa. Em seguida, abordamos os seguintes conteúdos: Edição e leitura de textos; Entrando no Edivox; Editando linha; Caminhando dentro do texto; Lendo texto no Edivox; Verificador ortográfico; Salvando textos e saindo do Edivox; Buscando textos; Funções de impressão. A partir da explicação do conteúdo, as participantes fizeram a edição de um texto de cinco linhas, salvaram, fizeram a leitura e a impressão na tela do computador em formato PDF. Durante o processo de manuseio do programa, descobriu-se uma falha no funcionamento das teclas F1 e F9, que dão acesso ao menu de opções, sendo acessado pelas setas de direção, a partir da interface do Dosvox. A tecla F11 dá acesso ao verificador ortográfico do Edivox, também não funcionou. Finalizada a abordagem dos conteúdos, foi proposta a realização do segundo teste às cegas considerando as dificuldades de aprendizagem durante a prática de sala de aula. No teste, as participantes fizeram a busca e a leitura do texto com o Edivox. Por meio da observação direta, percebemos que o teste causou euforia nas professoras, as expressões faciais e tonalidade de voz demonstravam ansiedade, motivada pelo grau de dificuldade em função do manuseio do teclado. No final da oficina, aplicamos o questionário sobre a auto avaliação da realização do teste às cegas. Vejamos as respostas: AEE#01P: Meu desempenho foi o pior dos piores, pois estava mais difícil. Foi assim uma coisa quase impossível de se fazer. AEE#02P: Estava mais difícil que o anterior. Falta prática, e tenho que praticar bastante, estudar o manual constantemente. AEE#01C: Achei meu desempenho péssimo. A percepção com o Edivox foi mais difícil considerando que é um estágio, e eu também não tenho tanta habilidade com a tecnologia da informação. Pelas dificuldades relatadas, as professoras destacam a falta de prática, o que gerou desempenhos insatisfatórios. O teste às cegas possibilitou reflexões sobre o ato de planejar, ou seja, as professoras relataram o desejo de elaborar planos de aula adequados para desenvolvê- los com alunos. Na realização da oficina, as professoras relataram que nunca fizeram uso do Edivox em sala de aula com os alunos com deficiência visual. Os motivos estão relacionados à falta de informações e formação continuada sobre os recursos tecnológicos disponíveis. Contudo, percebemos evidências das participantes sobre a necessidade de utilizar o Edivox, conforme respostas ao questionário: AEE#01P e AEE#02P concordaram que o Edivox é útil. No entanto, a resposta da AEE#01C, segundo ela, as dificuldades durante o 39 teste às cegas, deixou-a duvidosa sobre o uso do Edivox com os deficientes visuais, pois não se sentiu segura em relação ao manuseio da tecnologia. Diante disso, percebeu-se que a necessidade de formação continuada, mais estudos e mais práticas no uso da ferramenta, podem futuramente favorecer a segurança para a coordenadora. Sabendo que a formação continuada pode contribuir para melhorias da prática pedagógica no processo ensino e aprendizagem. Sobre o Edivox, perguntamos às professoras participantes como elas conseguem visualizar os alunos com DV utilizando a ferramenta em sala de aula: AEE#01P: De forma positiva visando assim melhorar o aprendizado. AEE#02P: Acredito que eles a princípio encontrarão dificuldade. AEE#01C: Para comunicar-se por meio da leitura e escrita e assim ter mais autonomia. Sobre o uso do Edivox pelos alunos com DV, as participantes da oficina esperam que eles vejam a ferramenta de forma positiva para o desenvolvimento da aprendizagem dos conteúdos curriculares, especialmente a leitura e compreensão textual, pois é uma ferramenta útil para lerem textos e construir produções textuais. Sendo que, poderá contribuir na autonomia e no desenvolvimento intelectual dos alunos. Porém, a princípio, na utilização do Edivox, os alunos poderão ter dificuldades porque eles nunca o utilizaram, contudo, por meio de práticas diárias, futuramente, espera-se que os alunos façam uso da ferramenta de modo prático durante as aulas ministradas. Pensando na perspectiva futura, as professoras hipotetizaram as contribuições do uso do Edivox nas aulas que irão realizar, acerca de quais possíveis contribuições, além das citadas, os alunos com DV poderão se beneficiar: AEE#01P: Contribuirá trazendo ao aluno maior intimidade com o computador tornando ele escritor onde todos poderão ler suas produções. AEE#02P: Ajudará o aluno com DV a se comunicar com as demais pessoas. AEE#01C: Nas propostas de leitura e de escrita principalmente na participação mais ativa na sala de aula. Apesar das dificuldades apresentadas pelas professoras durante a realização do teste às cegas, elas consideraram o Edivox um facilitador da comunicação escrita e da leitura para os alunos com DV, assim, quanto mais desenvolverem a aprendizagem, mais autônomos se tornarão. Nessa perspectiva, a construção e desenvolvimento da autonomia desses alunos é um ponto importante para o trabalho pedagógico das professoras. 40 Na concepção das professoras, o Edivox viabiliza melhorias nas atividades de leitura e escrita, comunicação entre deficientes visuais e videntes, promove a acessibilidade comunicacional mediante o uso do computador. Além disso, torna o aluno com DV ativo e participativo nas atividades de sala. Seguindo com o questionário, na perspectiva da comunicação escrita e leitura, as professoras foram questionadas acerca da utilidade da função de impressão do Dosvox, para tanto, as participantes AEE#01P e AEE#02P concordaram que a função será útil, porém a AEE#01C respondeu que não seria tão útil para os alunos com a deficiência visual, mas facilitará a comunicação escrita. A função de impressão de texto formatado e salvo no computador no formato PDF tem a possibilidade de romper com a barreira comunicacional ao permitir que o deficiente visual comunique a escrita para leitores videntes, independentemente de usar uma máquina braille, recurso usado na SRM para escrita, cuja leitura das produções é feita somente por outro deficiente visual ou professor com conhecimento do braille. Com os resultados da segunda oficina, percebemos que o Edivox é uma ferramenta alternativa ao ensino do braille. Exige conhecimentos e habilidades específicas para o ensino e aprendizagem dos alunos. Tais conhecimentos, teóricos e práticos, podem ser obtidos mediante a oferta de formação continuada para as professoras do AEE. Assim, poderão estimular o aluno a aprender com o Edivox e superar as dificuldades no tocante ao uso do computador. 4.3 Resultados da terceira oficina pedagógica A terceira oficina ocorreu no dia 12 de março de 2021, com duração de 3 h, no mesmo local da primeira e da segunda oficina, sempre seguindo os protocolos de segurança a fim evitarmos contaminação pela COVID-19. Iniciamos a oficina pedagógica com as saudações, pontuamos os objetivos da pesquisa e continuamos com a explicação sobre a técnica Philips 665. Em seis minutos as participantes discutiram entre si, em seguida apresentaram conclusões relacionadas aos tópicos estudados nas oficinas anteriores. O ponto interessante da discussão foi sobre a importância da participação de cursos em formação continuada para a aprendizagem do uso de tecnologia 5A dinâmica de grupo foi criada por J. D. Philips, consiste na divisão de grupos com até seis participantes, podendo variar, conforme a necessidade. Em seis minutos os participantes discutem determinado assunto ou problema para apresentar uma conclusão do assunto ou a solução do problema (Disponível em: https://urless.in/GZNCl). 41 assistiva na SRM. Além dessa discussão, as professoras participantes destacaram a importância de participar
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