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Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 DEFINIÇÃO Climatério segundo a OMS: período de transição da fase reprodutiva (menacme) para a não reprodutiva (senectude) que inicia com a queda da capacidade reprodutiva, geralmente após os 40 anos de idade. Menopausa: data da última menstruação. Para que se considere que a paciente está na menopausa, é preciso que ela esteja há, pelo menos, 12 meses em amenorréia. Precoce: antes dos 40 anos – falência ovariana prematura Tardia: após 52 ou 55 anos FISIOPATOLOGIA Ocorre a perda da função dos folículos que passam a responder de maneira inadequada ao estímulo hormonal hipofisário e a produzir menor quantidade de inibina em razão do menor número e pior qualidade dos folículos recrutados. Inicia-se com a atresia folicular que chega ao seu estágio final com a menopausa. Gonadotrofinas: os níveis de FSH e LH aumentam significativamente. Inexistência de feedback negativo dos esteróides ovarianos e da inibina para a liberação de gonadotropinas. Como consequência: - Aumento da produção de FSH pela hipófise - O pico de LH não ocorre, pois apesar do aumento do FSH, o organismo não consegue provocar um aumento de estrogênio – pico do estradiol – ocorrendo ciclos anovulatórios. - Irregularidades menstruais Para que a paciente menstrue regularmente é preciso que se tenha uma primeira fase de estimulação estrogênica -> pico de estradiol para que ocorra o pico de LH e ovulação -> produção de progesterona, mas se a mulher não engravidar, o nível de progesterona e estrogênio caem e recomeça um novo ciclo. Mas se não temos mais o pico do estradiol, apesar do aumento do aumento do FSH, pois os ovários não estão mais responsivos, não teremos pico de LH e não teremos ovulação, causando ciclos irregulares. Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 Estrogênios: - Redução na produção do estrogênio endógeno: essa redução é gradativa e quando a mulher entra na menopausa os níveis já estão bem baixinhos. - Redução mais significativa ocorre com o estradiol, que é o hormônio ativo. - Redução mínima de estrona circulante, como ela é produzida pela aromatização periférica de androstenediona, e a androstenediona é produzida pela suprarrenal, os níveis de estrona são pouco alterados. Mas esse hormônio na mulher não é o mais ativo. Na pré-menopausa os estrogênios começam a reduzir à medida que os ovários começam a ter folículos que não conseguem responder ao estímulo do FSH, a ovulação se torna cada vez mais irregular, sem ovulação não temos produção de progesterona, a espessura do endométrio varia e descama de forma desordenado pela falta da amiga progesterona. É por isso que nessa fase é comum os sangramentos uterinos irregulares, é o principal sintoma na fase climatérica. É um sintoma que ocorre nos extremos da vida da mulher, pois na puberdade também acontece, mas por mecanismo diferente. Nesse caso, ocorre devido a uma imaturidade do eixo hipotálamo hipófise ovariano, já no climatério se deve a anovulação por conta da alteração na responsividade dos ovários às gonadotrofinas. Na pós-menopausa os níveis de estrogênio já são muito baixos, então não teremos estimulação do endométrio e naturalmente não teremos ovulação, os ovários se tornam cada vez menos responsivos, e o FSH cada vez mais alto. -> Não é necessário ficar dosando FSH e LH nas pacientes que estejam na faixa etária de início da pré-menopausa, pois essa fase não é uma doença que se deve diagnosticar precocemente, e sim uma fase fisiológica e que faz parte da vida da mulher. -> A terapia hormonal é indicada apenas para as pacientes que precisam dessa reposição, e o que sinaliza a necessidade dessa terapia são os sintomas que a paciente apresenta. Se chega ao consultório uma paciente que, pela idade, está na fase do climatério e com sintomas que interferem na qualidade de vida não é necessário dosar FSH para tratar, pode iniciar o tratamento. Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 Quando é importante dosar FSH? Quando se suspeita de menopausa precoce (especialmente se a paciente quer engravidar), quando existe suspeita de falência ovariana prematura, pois esses não são eventos fisiológicos. Imagem: Diferença do ovário de uma mulher jovem e de uma mulher na menopausa. Fazendo um corte do ovário da mulher jovem, teremos folículos em diversos estágios, mas no ovário da mulher na pós-menopausa, teremos um ovário mais compacto e sem estruturas foliculares, ele não responde mais as gonadotrofinas. Androgênios - Durante a vida reprodutiva, o androgênio ovariano principal é a androstenediona, importante nos folículos em desenvolvimento. - Na pós-menopausa, ocorre redução da androstenediona ovariana. - Nas mulheres mais idosas, as glândulas supra-renais secretam androstenediona, mantendo seus níveis estáveis. - Na pós menopausa ocorre redução de testosterona. Isso determina, em boa parte dos casos, uma disfunção sexual caracterizada pela redução da libido, ressecamento, dispareunia. Progesterona: - Na pós-menopausa os níveis de progesterona são de apenas 30% da concentração encontrada em mulheres jovens na fase folicular. - A origem das quantidades pequenas de progesterona em mulheres idosas parecer ser secretado pela supra-renal. Observando o eixo X do gráfico, é possível perceber que ele está dividido em menopausa, 10 anos antes da menopausa e 10 anos depois da menopausa. - 10 anos antes o FSH ainda está em um nível aceitável, mas ele vai aumentando e enquanto isso o estradiol permanece mais ou menos constante. É por isso que sintomas de hipoestrogenismo (ondas de calor, ressecamento vaginal) aparecerão mais próximo da menopausa e não no início do climatério. Pouco antes da menopausa teremos o início do declínio do estradiol e o aparecimento dos sintomas, e ele continuará declinando até estabilizar em níveis baixos, como no gráfico. Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 Antes da menopausa teremos ovários cada vez menos funcionantes, a hipófise liberando cada vez mais FSH para estimular esses ovários que não respondem mais. O FSH aumenta gradativamente até que ele estabiliza na pós-menopausa, pois o organismo entendeu não adianta mais estimular aquele ovário pois o teimoso não vai responder. O LH também tem seus níveis aumentados até que em certo momento ele estabiliza. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Redução dos estrogênios endógenos: Com essa redução teremos no trato reprodutivo: - Alteração da função menstrual -> sangramento disfuncional (devido aos ciclos anovulatórios), redução gradativa do volume e duração do fluxo menstrual e cessação da menstruação. - Ondas de calor: ocorrem em aproximadamente em 75% das mulheres menopausadas ou ooforectomizadas bilateralmente. Sintomas associados: cefaléia, palpitações, sensação de calor ou ardência na face, pescoço e peito, com transpiração. Duração: de segundos a 10 minutos, em média 4 minutos. Frequência: 1 ou 2 episódios por hora ou até 1 a 2 vezes por semana. O mecanismo responsável ainda não foi esclarecido. Paciente com esses sintomas normalmente referem despertares noturnos com transpiração intensa, sendo necessário banho e troca de vestimentas, então é uma candidata a reposição hormonal para melhoria da qualidade de vida. - Alterações nos órgãos: O estrogênio é importante para o trofismo epitelial. Vagina: atrofia da mucosa e redução do pregueamento vaginal. (pode causar dispareunia o fato da vagina ter adquirido um aspecto mais liso, menos pregueado). Bexiga e uretra: atrofia do epitélio e perda do tônus uretral. É comum incontinência urinária na pós menopausa. Glândulas mamárias: regressãodo tamanho das mamas durante e após a menopausa. Osteoporose: é um evento mais tardio, é um distúrbio ósseo caracterizado por perda da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido e susceptibilidade ao risco de fratura, principalmente de vertebras, rádio, úmero e fêmur. - Sistema Cardiovascular: existe um efeito favorável do perfil lipídico da Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 mulher que ainda não está na menopausa. Mas quando entra nesse estágio, o perfil começa a se tornar desfavorável, com o aumento do LDL e redução do HDL, predispondo a placas ateroscleróticas. O estrogênio tem efeito protetor para doenças cardiovasculares e quando a mulher cursa com hipoestrogenismo ela passa a estar em uma situação mais pró-inflamatória e pró-trombótica. Então com o hipoestrogenismo teremos o aumento do LDL, aumento de triglicérides e redução do HDL, ocorre uma maior tendência a uma resistência insulínica reduzindo a tolerância a glicose, incremento da pressão arterial tornando mais comum HAS na menopausa e maior tendência à obesidade. - Pele e cabelos: perda de cabelos pelos púbicos e axilares, aumento do crescimento dos pelos terminais grossos, possível calvície ou bigode. - Alterações psicológicas: irritabilidade, nervosismo, depressão, disforia, queixas afetivas e função sexual. As causas são multifatoriais: biológica primária + fatores sociológicos. Questão surpresa: Os sintomas ligados ao climatério/menopausa são constantes e iniciam aos 40 anos, verdadeiro ou falso? Falso, os sintomas surgem devido aos ciclos anovulatórios e ao hipoestrogenismo e iniciam próximo a menopausa. O primeiro sintoma é a irregularidade menstrual e só quando se aproxima da menopausa, surgem os sinais de hipoestrogenismo. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA - Anamnese e Exame Físico - Citologia do esfregaço vaginal: deve ser feito mesmo em mulheres na menopausa. - Mamografia: no Brasil é preconizado acima dos 40 anos e não se deve iniciar terapia hormonal sem antes realizar uma mamografia. - USG transvaginal: verificar o endométrio que nessa fase deve ser fino, caso esteja espesso e com queixas de sangramentos é preciso investigação para câncer de endométrio. - Exames hematoquímicos: hemograma, glicemia, função hepática e renal, perfil lipídico e de hormônio pedimos apenas os da tireoide. NÃO VAI DOSAR FSH EM MULHER NA MENOPAUSA, SE CAIR NA PROVA E VOCÊ MARCAR VOCÊ VAI SE ARROMBAR, NÃO SE PASSA DOSAGEM DE HORMÔNIOS QUE NÃO SEJAM OS DA TIREOIDE!!! Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 ULTRASSONOGRAFIA Tem o objetivo de avaliar a pelve após a menopausa para investigar massas pélvicas, além de estudar o endométrio para determinar se a paciente tem hiperplasia ou câncer de endométrio. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL TRATAMENTO Nem toda paciente precisa de terapia hormonal. O tratamento visa a redução da sintomatologia associada, quando existe sintomatologia. A hormonioterapia é a escolha mais eficaz para o tratamento das manifestações clínicas. Deve estar associado à orientação dietética e apoio psicológico. Pacientes que não são candidatas a terapia estrogênica: histórico de trombose, HAS descompensada, alguma condição na mama ou endométrio não esclarecido. O tratamento deve ser individualizado de acordo com a faixa etária e as queixas da paciente. Exemplo: Chegando ao consultório uma paciente de 40 anos com queixa de irregularidade menstrual, devemos lembrar que nessa faixa etária é comum a irregularidade devido aos ciclos anovulatórios que são fisiológicos nessa etapa. Nesse caso, o ideal seria melhorar a ciclicidade da menstruação com progesterona por 10 dias na segunda fase do ciclo, quando a progesterona for suspensa após os 10 dias, a paciente menstrua regularmente, resolvendo a queixa. Verificar se não há preocupação sobre gravidez antes de orientar progesterona. Se existir chances da paciente engravidar, tiver vida sexual ativa, pode ser prescrito uma pílula ou mirena ao invés da progesterona. Importante lembrar: O estrogênio faz o endométrio proliferar, quando não tem progesterona, esse endométrio continua a espessar e descama de modo desordenado. Uma paciente na menopausa, com sintomas, não deve ser feita uma terapia estrogênica sem progesterona pois pode provocar uma hiperplasia de endométrio e predispor ao câncer de endométrio. Portanto, a paciente que ainda tem útero e que vai ser submetida a terapia estrogênica, é obrigatório associar a progresterona. Nathália Machado – Tut 01 MEDFTC 21.1 Mas pacientes que não possuem útero podem fazer terapia apenas estrogênica. Terapia de reposição estrogênica: Serve para combater sintomas vasomotores, o ressecamento vaginal (que causa a dispareunia) e da pele, preservar massa óssea, melhorar o sono, impedir a deterioração da função cognitiva e estimular a libido. Complicações: - Câncer de endométrio - Câncer de mama - Hipertensão - Doença tromboembólica Essas complicações não são causadas pela reposição, e sim por uma má administração devido a uma falta de atenção às predisposições da paciente. Por exemplo, se a paciente tem lesões pré-cancerígenas, o estrogênio pode proliferar esse tecido e acelerar o desenvolvimento do câncer. Terapia de reposição com estrogênio – progesterona: A progesterona contrabalança a ação do estrogênio no endométrio, reduz o número de receptores estrogênicos das células glandulares e estromáticas do endométrio. Vias de administração: Será avaliado individualmente qual a melhor via para cada paciente. - Oral - Transdérmica - Vaginal Paciente com disfunção hepática, por exemplo, devemos evitar a via oral e, consequentemente, a primeira metabolização hepática do medicamento, optando por via transdérmica. Quando o único sintoma é o ressecamento vaginal, podemos tentar administração via vaginal, pois a reposição local pode ser mais eficiente para esse caso. Alternativas ao tratamento com estrogênio: - Androgênios (pode melhorar a parte sexual) - Fitoterapia - Homeopatia Fitoterapia e homeopatia dificilmente conseguem o mesmo efeito que o estrogênio e sanar totalmente as queixas, mas é uma opção para mulheres que tem contraindicação para esse hormônio.
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