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HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA – HDA Rayane Aguiar – P8 Definição HDA não varicosa: é todo sangramento que ocorre no trato digestivo acima do ângulo de Treitz (transição duodeno jejunal). Epidemiologia - Ocorre 3x mais que a HDA - 50% dos casos ocorrem em pacientes > 60 anos - Mortalidade associada a comorbidades (cardiopatas, hipertensão portal, cirrose, distúrbios de coagulação) - Mortalidade em até 10% Causas - Úlcera péptica (mais frequente) - Gastrite erosiva; duodenite; esofagite; neoplasias; Síndrome de Mallory Weiss; causas idiopáticas; situações relacionadas a hipertensão portal Quadro clínico - Hematêmese (vomitar sangue) - Hemoptise - Melena (sangue digerido no TGI e evacuado nas fezes. Possui odor fétido e aspecto de borra de café); -Enterorragia. - Pode referir epigastralgia, sintomas de hipotensão, anemia. Obs: nem todo sangramento e suas características podem indicar o local exato da hemorragia. A melena pode manifestar-se com perda sanguínea de 50 a 100 mL. A enterorragia significa sangramento digestivo alto > 1.000 mL de sangue, o que acontece em até 10% dos casos. Após um episódio de HDA, a melena pode persistir por até 5 dias, sem significar novo sangramento. Antecedentes importantes - Doença péptica: dispepsia, sangramentos anteriores, úlceras; - Medicamentos: uso de AINES e anticoagulantes; - Consumo de álcool; - Comorbidades: doença cardiovascular, pulmonar, doenças hepáticas ou hipertensão portal. - Doença consumptiva (emagrecimento importante) – neoplasia - Cirurgias prévias Exame físico - Avaliação hemodinâmica Pulsos e extremidades (pulso se apresenta fino) Hipotensão e taquicardia - Avaliação geral - Anemia - Exteriorização do sangramento(vômitos) - Sinais clínicos de insuficiência hepática (ascite, fígado contraído e endurecido, encefalopatia, icterícia, hipertensão portal). - Exame abdominal Dor epigástrica, tumor palpável, presença de ascite. - Toque retal Presença de melena ou sangue (a ausência desses sinais não exclui a HDA e nem todo quadro apresenta somente como melena se o sangramento for maciço). - Sinais de hipovolemia: Estimativa do sangramento -Sangramento leve (<15%): taquicardia no repouso -Sangramento moderado (>15%): Hipotensão ortostática, aumento da FC ao sair do decúbito. -Sangramento grave (> 30 a 40%): hipotensão mesmo em posição supina; Fatores de risco Instabilidade hemodinâmica - PAS < 100mmHg; FC> 100 -Hemoglobina baixa <10g/l -Sangramento ativo na EDA -Úlcera grande (1 a 3 cm) Localização da úlcera - parede posterior duodenal - pequena curvatura proximal Elevação da ureia em 24 horas Estratificação de risco Recomendável em todos os pacientes em baixo ou alto risco para complicações - ressangramento - mortalidade - tempo de internação Escore de Glasgow Blatchford, escore de Rockall e Escala de Forrest A estratificação do risco do paciente determina as condutas, como tempo de monitorização em terapia intensiva, momento de realimentação e de alta hospitalar. Conduta Tratamento inicial A conduta inicial da HDA independe da causa do sangramento e visa à monitorização e à estabilização respiratória e hemodinâmica, à correção das coagulopatias e ao retorno do equilíbrio homeostático. Todos os pacientes devem ter acesso venoso para reposição volêmica, 2 acessos periféricos de grosso calibre, e coleta de exames de sangue. HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA – HDA Rayane Aguiar – P8 - Abordagem na sala de emergência - Estratificação de risco - Preparar paciente para endoscopia Uso de procinéticos para a endoscopia: eritromicina IV 3mg/kg em bolus ou Metoclopramida. Melhora as condições para fazer a endoscopia e reduz a chance de repetir a endoscopia - indicar jejum - Inibidor de bomba de prótons Dose inicial: 80mg em bolus – omeprazol ou pantoprazol. Repetir a cada 12 horas 40 a 80mg do IBP. - Transfusão de hemoderivados (não esperar Hb para transfundir para paciente que precisa, porém não precisa dar para todo mundo) – transfundir em pacientes que apresentam: Concentrado de hemácias - Geral: concentrado de hemoglobina < 7mg/dL -Comorbidades: concentrado de hemoglobina <8mg/dL Alvo terapêutico entre 8 e 10 mg/dL Plasma fresco e plaquetas: se houver distúrbio de coagulação Reposição sanguínea: Pode-se utilizar a mesma tabela de choque hipovolêmico usada no trauma para balizar a reposição volêmica na sala de emergência, mesmo antes dos exames laboratoriais. Deve-se manter o hematócrito entre 25 e 30%. Na ausência de sangramento ativo, o hematócrito aumenta 3%, e a hemoglobina, 1 g/dL para cada unidade de concentrado de hemácias transfundida. Crianças com menos de 15 kg devem receber 10 mL/kg de peso desse concentrado. Nos sangramentos ativos, a transfusão de plaquetas deve ser empregada se os valores forem menores do que 50.000/mL, ou quando houver suspeita de disfunção plaquetária pelo uso de AAS (apesar dos valores normais na contagem das plaquetas), utilizando-se 1 unidade para cada 10 kg de peso ou 1 aférese de plaquetas (7 unidades). A transfusão de plasma fresco congelado a pacientes com coagulopatias é capaz de trazer os valores de Razão Normatizada Internacional (RNI) para, aproximadamente, 1,5, portanto, níveis menores que esse não se beneficiam do plasma; quando necessário, utilizam-se 10 a 20 mL/kg de peso. Nas hemorragias maciças, devem-se administrar 5 bolsas de plasma fresco para cada unidade de concentrado de hemácias transfundidas. A reposição de cálcio é feita seguindo os resultados dos exames. Tratamento hemostático e diagnóstico definitivo - Endoscopia digestiva alta e UTI Obs: não há evidências de prognóstico, visualização endoscópica, controle de sangramento, risco de aspiração e desconforto para o paciente ao se fazer lavagem e passagem de sonda nasogástrica. Obs 2: não há indicação de fazer drogas vasoativas como a terlipressina, somatostatina e octreotide. Não é recomendada em sangramento não varicoso. Também não há evidência de administrar ácido tranexâmico. Exames complementares -Hemograma -Hematócrito (não é um bom parâmetro inicial pois pode demorar para cair) -Glicemia - Uréia e creatinina -Coagulograma (atenção para pctes que usam anticoagulantes) - exames pré transfusionais – tipagem sanguínea - exames para avaliar doenças hepáticas: AST, ALT, gama GT, FA, BTF e albumina. Obs: nível do hematócrito não é um bom indicador da severidade do sangramento, pois leva de 24 a 72 horas para ocorrer o equilíbrio com o fluido extravascular. Preparo de concentrados de hemácias e plasma devem ser realizados em todos os casos. Tratamento - Endoscopia digestiva alta Realizada precocemente < 24hrs. A EDA tem papel diagnóstico e terapêutico. É possível categorizar as úlceras pelo aspecto endoscópico, segundo a classificação de Forrest, que tem importância por estar relacionada ao risco de ressangramento. Riscos possíveis: - aspiração - perfuração - instabilidade na sedação O ideal é esperar o esvaziamento gástrico e usar procinéticos. O tratamento endoscópico reduz o ressangramento, a necessidade de cirurgia e a mortalidade. Os métodos endoscópicos de hemostasia são: HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA – HDA Rayane Aguiar – P8 1. Químico: adrenalina, álcool, etanolamina, polidocanol, trombina, cola de fibrina, cianoacrilato e glicose a 50%; 2. Térmico: eletrocoagulação monopolar, bipolar ou multipolar (BICAP), heater probe, plasma de argônio, laser; 3. Mecânico: hemoclipe, ligadura elástica. Alguns fatores estão relacionados à falha do tratamento endoscópico. Úlceras profundas, com mais de 2 cm de diâmetro, podem voltar a sangrar. A localização é outro fator importante, sendo as da parede posteroinferior (artéria gastroduodenal) e da pequena curvatura (artéria gástrica esquerda) as mais propensas à falha das medidas hemostáticas.- Angioembolização Feita em paciente que não tem resposta ao tratamento clínico + endoscopia (5 a 10% dos casos) É um tratamento de segunda opção antes da cirurgia Não tem papel preventivo em úlceras grandes. - Cirurgia Feita nos pacientes que não melhoraram com endoscopia e angioembolização. Fatores: Choque refratário – paciente que recebeu muito sangue – falha endoscópica – tipo sanguíneo raro Causas de sangramento Úlcera péptica Epidemiologia - causa mais comum da HDA - é a causa de 50 a 70% das hemorragias não varicosas - 20% dos pacientes desenvolvem sangramento pelo menos 1X na vida Classificação de Forrest Causas: - uso de AINES; H.pylori Tratamento - Controle endoscópico do sangramento (pode colocar clips) - uso de IBPS, sucralfato, inibidores dos receptores de H2. - Tratamento para H. pylori - Sutura da úlcera - Gastrectomia Neoplasias Cerca de 1% das hemorragias digestivas Sangramento é o primeiro sintoma da neoplasia Deve fazer biopsia e estadiamento Tratamento: cirúrgico (gastrectomia). Lesão aguda de mucosa Sangramento mais lento Provocado pelo uso de AINES e álcool. Tratamento: uso de IBP Angiodisplasia Pode acometer qualquer região do TGI Sangramento lento e pequeno tipo em babação São isoladas e mais comuns em renais crônicos. Laceração de Mallory Weiss São úlceras longitudinais que ocorrem na transição esofagogástrico por vômitos incoercíveis. Causas: pancreatites, intoxicação exógena, quimioterapia, gestação. Tratamento: tratar a causa do vômito e administrar IPB. Lesão de dieulafoy Vaso anômalo dilatado na região da submucosa Etiologia desconhecida Mais frequente na região proximal – fundo gástrico pequena curvatura. Úlceras de Cameron Lesões erosivas longitudinais no estômago herniado Pode ser causa de anemia crônica Causas esofágicas Esofagite; Refluxo gastroesofágico crônico Fístula aortoentérica Quadro grave, porém, raro. Aneurisma aórtico, após reparo de aneurisma abdominal. Hemobilia Sangramento das vias biliares Causas: trauma hepático, manipulação do fígado, neoplasia hepática, pâncreas e vias biliares, manipulação endoscópica. Tratamento: arteriografia + embolização Tríade clássica: icterícia + hemorragia digestiva + dor em abdome superior Referências: Medcel 2021 (aula = apostila).
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