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Anna Victória T17 – Gastroenterologia 1 Hemorragia digestiva • Causa frequente de hospitalização (a alta principalmente) • 75% tem origem em trato digestório alto • Emergência → mortalidade de 15 a 20% (mortalidade mais alta em pacientes com hemorragia digestiva alta) • Divisões ➢ Localização ➢ Origem localizada: ➢ Hemorragia digestiva alta (HDA): Esôfago até ângulo de Treitz em duodeno ➢ Hemorragia digestiva baixa (HDB): Ângulo de Treitz até o ânus. ➢ Literaturas mais recentes falam que o novo ponto anatômico é a papila duodenal, que é até onde a endoscopia digestiva alta chega. HDA pode ser considerada do esôfago, estomago, até a papila duodenal. Da papila duodenal até a válvula ileocecal é a hemorragia digestiva média. Da válvula ileocecal até o ânus é a HDB. Causas da HDA Divisão do HDA A divisão ocorre, pois, a conduta muda • Não varicosa • Varicosa Hemorragia Digestiva Alta Não Varicosa (HDANV) • Incidência ➢ Predominante aos idosos (a principal causa de hemorragia digestiva alta não varicosa é a úlcera péptica, seja gástrica ou duodenal, e é muito comum em idosos, pois os idosos fazem o uso de muitas medicações (anticoagulantes, antiplaquetários, AINES), isso pode evoluir para úlcera. Geralmente são pacientes com muitas comorbidades, pacientes infartados, pacientes que já tiveram AVC, ou seja, a vascularização é mais reduzida no estômago. Então, apresentam um risco maior de evoluírem para úlcera) ➢ 68% dos pacientes > 60 anos ➢ 27% > 80 anos ➢ 70-80% dos casos cessa espontaneamente (principalmente no caso das úlceras pépticas. As hemorragias não varicosas tendem a cessar espontaneamente. Paciente Anna Victória T17 – Gastroenterologia 2 chega com uma história de sangramento (para você avaliar, investigar), mas a maioria cessa sem a necessidade de conduta). • Sem conduta endoscópica ou cirúrgica ➢ Inovações terapêuticas: sem redução da mortalidade nos últimos 30 anos. Diagnóstico Clínico • Anamnese (tentar colher do paciente uma história que tente orientar qual a causa para a etiologia daquele sangramento e o tipo de sangramento vai fazer diferença, vai dar uma ideia de onde pode ser a origem) ➢ Presença de HDA • Hematêmese: ➢ “vômitos com sangue vermelho” (vomito com sangue vivo é muito típico daquele pct com hemorragia digestiva varicosa ou cirrótica) ➢ Borra de café (geralmente em úlceras o pct refere vômitos em borra de café) ➢ Por isso é importante perguntar para o pct como foi o vômito, se foi sangue vermelho vivo, em jato, em borra de café... • Melena ➢ Fezes enegrecidas e com odor fétido de degradação do sangue • Enterorragia ➢ Evacuação de sangue rutilante que não foi digerido (evacuação de sangue vermelho vivo) • Hematoquezia ➢ Fezes misturadas com sangue. Informações adicionais • Número de episódios de sangramento • Uso de medicações • Doença hepática de base • Presença de epigastralgia, pirose • Tumores abdominais Avaliar risco de complicações e óbito Há uma escala que é realizada na admissão do paciente (escore de Glasgow-Blatchford) • Escore de Glasgow-Blatchford (escala própria para hemorragia digestiva alta, apresenta escores. Essa escala utiliza apenas critérios clínicos e laboratoriais. Prediz se há necessidade de intervenção, seja endoscópica, cirúrgica e até mesmo procedimentos como hemotransfusão) • Evitar abordagem agressiva → endoscópicas / cirúrgicas Escore de Glasgow-Blatchford • Realizada na admissão do paciente • Prediz risco de óbito e necessidade de intervenção • Usa parâmetros clínicos e laboratoriais • Mais utilizado Anna Victória T17 – Gastroenterologia 3 Valor • Menor do que 2 → EDA ambulatorial (mandar o pct para casa e fazer endoscopia eletiva) • >= 10 → Intervenção (transfusão, EDA) Etiologia da hemorragia digestiva alta Doença Ulcerosa Péptica (40-50%) • Fatores de risco: Infecção por H. Pylori AINES, antiplaquetários, anticoagulantes Acidez péptica (hiperacidez gástrica, como no gastrinoma que ocorre aumento da acidez do estômago) • AINES → inibem prostaglandinas (as prostaglandinas produzem o muco e o bicarbonato) → reduz produção de muco e bicarbonato, reduz fluxo sanguíneo • Uso de AINES: mais prevalente em úlceras gástricas H. Pilory: úlcera duodenal → 70-90% Sempre investigar H. pylori, história de uso de medicamentos (em idosos principalmente) ... Pct que teve história de hemorragia é importante lembrar do uso de medicações • Complicações: sangramento, perfuração, obstrução • Úlcera gástrica: Bx mandatória (a biopsia é obrigatória, pois a úlcera péptica (causada pelo excesso de ácido) faz diagnóstico diferencial com câncer gástrico. A neoplasia gástrica Anna Victória T17 – Gastroenterologia 4 pode se manifestar através de uma úlcera, portanto, toda úlcera gástrica deve ser biopsiada para excluir a possibilidade de câncer gástrico!!) • Tratamento: IBP por 6-8 semanas (para inibir a acidez gástrica e a úlcera cicatrizar) • Se a causa for por H. pylori, fazer o tratamento para H. pylori. Patogenia da úlcera Devido a uma acidez importante do estômago, começam a erodir várias camadas da mucosa gástrica até chegar na camada serosa (que é onde tem os vasos sanguíneos). Quando chega na serosa pode sangrar ou perfurar. O processo se dá praticamente pela presença do excesso de ácido no estômago • Úlceras sangram do vaso em sua base • Erodida por processo ácido • Quanto maior a artéria → maior o sangramento → maior necessidade de tratamento cirúrgico As principais causas de úlceras pépticas são: • Infecciosa – Helicobacter pylori • Medicamentosa – AINES • Malignas – Neoplasia gástrica, duodenal, linfoma • Estados hipersecretores – Síndrome de Zollinger-Ellisson (Gastrinoma) – aumento da produção de ácido no estômago • Idiopáticas – Úlceras de estresse (pacientes hospitalizados de longa data em UTI tendem a desenvolver esse tipo de úlcera, geralmente por baixa perfusão tecidual (baixa perfusão no estômago), essa baixa perfusão no estômago pode erodir e formar as úlceras. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 5 Síndrome de Mallory-Weiss Não é tão comum • Laceração da mucosa na junção esofagogástrica (justamente na junção do estômago com o esôfago) • Essa laceração decorre do aumento da pressão intra-esofágica. Geralmente, esses pacientes apresentam essa laceração pós-vômito de repetição • Alcoolistas e gestantes. • Cessa espontaneamente (90%) • Cuidado: síndrome de boerhaave (ruptura espontânea do esôfago) • O tratamento imediatamente é endoscópico, o paciente pode evoluir para um quadro de instabilidade hemodinâmica. Caso ele já apresente instabilidade é necessário estabilizar e depois se faz a endoscopia. Na laceração é colocado um clipe, pode ser colocado adrenalina para fazer uma vasoconstrição dos vasos. Tratamento com IBP por uns 2 meses até cicatrizar. Angiodisplasia • Mal formação dos vasos sanguíneos (é como se fossem (só parecem!!) telangiectasias na mucosa do estômago) • Pacientes portadores de patologias crônicas ➢ Hepatopatas (pacientes cirróticos tendem a formar esses vasos na superfície da mucosa gástrica, qualquer coisinha pode fazer sangrar) ➢ Renais crônicos ➢ Doenças hematológicas • Mais comum no cólon • O tratamento é com plasma de argônio (gás) • Causa rara de HD aguda • Sangramento discreto. Neoplasia Maligna Paciente com história de perda de peso importante, adinamia, dor abdominal, pode desenvolver um quadro de ascite, anemia crônica, melena, pode ter hematêmese... • Representam <3% • Sangramento grave • Clínica: síndrome consumptiva • Alta morbi-mortalidade • Poucas opções de terapia endoscópica • Indicação cirúrgica?? • O que se costuma fazer são injeções de adrenalina para vasoconstrição e redução do sangramento Anna Victória T17 – Gastroenterologia 6 Lesãode Dieulafoy À medida que as artérias vão chegando na mucosa do estomago elas tendem a ficar mais fininhas. No caso da lesão de Dieulafoy essa artéria chega na mucosa gástrica um pouco calibrosa, aí lesa essa artéria aberrante e quando lesa o paciente tem um quadro de sangramento, geralmente sangramentos recorrentes (volta, para). • Artéria berrante que penetra a parede gástrica • Não associado a úlcera • Sangramentos recorrentes • Fraqueza tontura, síncope • Causa rara. • Diagnóstico difícil Esofagite erosiva • 6,3 – 15% dos episódios de HDA • 2ª maior causa de HDA • Clínica: pirose, regurgitação, disfagia • Tratamento: IBP Diagnóstico • Endoscopia digestiva alta (padrão ouro) • Acurácia – 94% • Tempo: 12-24hs após evento (preferencialmente) ➢ Nos casos mais graves, como hemorragia varicosa, preferencialmente nas primeiras 12hs • Promove: diagnóstico e tratamento • Classificação de Forrest ➢ Empregada na úlcera péptica hemorrágica. (estratifica os pacientes em e alto risco para recidiva de sangramento) ➢ Marcador de recidiva de sangramento na úlcera Anna Victória T17 – Gastroenterologia 7 Tratamento • Monitorização (PA, FC, saturação) • Oxigenioterapia • Dieta zero (paciente precisa ir para a endoscopia) • Estabilidade hemodinâmica ➢ Pedir dois acessos calibrosos periféricos ➢ Reposição volêmica com cristaloides (SL ou RL) ➢ Maior hipotensão → pior prognóstico • Transfusão de sangue ➢ Ver tipagem sanguínea, Hb ideal entre 7 e 8 (pacientes jovens), pacientes com comorbidades/idosos Hb igual ou maior a 9 ➢ Se contagem < 50,000 com sangramento ativo • Lavado com SNG ➢ Mais uma opção de avaliação do sangramento ➢ Facilita o exame endoscópico Suspender anticoagulantes e antiagregantes plaquetários Com o paciente estabilizado → encaminhar para endoscopia Tratamento – úlcera • Inibidores de bomba de prótons (IBP): • Melhora cicatrização → diminui a taxa de ressangramento → diminui transfusão de sangue • IBP ➢ 80 mg em bolus EV ➢ 8mg/h por 72h em BIC • Helicobacter pylori: ➢ Erradicação → reduz ressangramento Terapia Endoscópica • Reduz sangramento, cirurgia e mortalidade • Deve ser realizada nas primeiras 12-24h • Terapia química, mecânica ou térmica ➢ Escleroterapia (adrenalina, ethamolin, álcool absoluto...) ➢ No caso da hemorragia digestiva alta não varicosa a Escleroterapia é feita com adrenalina!! ➢ Clip metálico, ligadura elástica ➢ Eletrocoagulação Tratamento cirúrgico ou Angiografia com embolização • Indicação ➢ Tratamento endoscópico ineficaz ➢ Pacientes com necessidade de transfusão >6U concentrado de hemácias Anna Victória T17 – Gastroenterologia 8 Hemorragia Digestiva Alta Varicosa (HDAV) • Incidência ➢ 50-90% dos casos de sangramento • Risco de ressangramento → 48-72 horas ➢ 70% dos casos nas primeiras 6 semanas • Fatores de risco para ressangramento ➢ Maiores de 60 anos ➢ Varizes de grosso calibre ➢ Sangramento inicial grave ➢ Insuficiência renal Patogenia • Paciente cirrótico tem o fígado endurecido, ou seja, quando o sangue chega pela veia porta vai encontrar uma resistência muito grande passar no fígado e ir para a circulação sistêmica. Quando o sangue chega no fígado que está muito resistente, esse sangue precisa procurar outra passagem para ir para a circulação sistêmica (veia cava), então começa a formar colaterais, seja do esôfago para estomago, reto... Com a evolução da doença aumenta o fluxo sanguíneo para essas varizes (as varizes ocorrem em pacientes descompensados) • Pressão elevada!!! • Aumento da resistência intra-hepática • Fluxo sanguíneo portal (hipertensão portal) Etiologia • Varizes esofagogástricas ➢ Esquistossomose hepatoesplênica • Doença crônica parenquimatosa do fígado ➢ Hepatites virais ➢ Álcool ➢ NASH... • Outros (trombose, alteração de via biliar...) Tudo isso são causas de hipertensão portal. Anna Victória T17 – Gastroenterologia 9 Classificação das varizes esofagogástricas • Variz de pequeno calibre (até 3mm) • Variz de médio calibre (3 a 5mm) • Variz de grosso calibre (> 5mm) As varizes vem de baixo para cima... Diagnóstico • Quadro mais relevante ➢ Instabilidade hemodinâmica ➢ Morbimortalidade ➢ Quantificar a perda sanguínea Paciente cirrótico tem sangramento vivo intenso • Avaliar presença ou não de doença hepática parenquimatosa ou Síndrome de hipertensão portal – terapêutica diferencial Avaliar critérios de alto risco • Idade > 60 anos • Choque • Comorbidades • Uso de AINES/anticoagulantes • Melena Persistente • Hemorragia em pacientes internados • Ressangramento em pacientes já tratados • Necessidade de transfusões sanguíneas (várias) Tratamento • Proteção das vias aéreas (também serve para a não varicosa) ➢ Intubação orotraqueal • Indicações ➢ Sangramento maciço ➢ Rebaixamento do nível de consciência • Monitorização (PA, FC, saturação) ➢ Tentar manter o paciente com pressão sistólica 90-100, FC abaixo de 100 • Oxigenoterapia • Dieta zero • Exames laboratoriais (hemograma, eletrólitos, tipagem sanguínea, função renal...) • Estabilização hemodinâmica Anna Victória T17 – Gastroenterologia 10 ➢ Acesso calibroso ➢ Transfusão sanguínea ➢ Hb 7-8 mg/DI ➢ Coronariopata: 10mg/Dl ➢ Reposição volêmica com cristaloides ➢ Transfusão de plaquetas se <50,000/mm3 com sangramento ativo Tratamentos – Fármacos • Diminuem fluxo sanguíneo portal • Reduzem mortalidade e necessidade de hemotransfusão • Manter por 3 a 5 dias • Somatostatina: vasoconstrição esplâncnica e reduz fluxo portal • Octreotide: análogo de longa duração da somatostatina • Terlipressina:(MAIS UTILIZADO, reduz+ mortalidade): análogo da vasopressina (vasoconstritor) Estabilizou e agora??? • é cirrótico?? ➢ Antibioticoprofilaxia (independente de ascite) ➢ Reduz mortalidade e risco de ressangramento ➢ Por até 7 dias ➢ 1) Ceftriaxona 1g EV 12/12h ➢ 2) Ciprofloxacino 500mg VO de 12/12h ➢ 3) Norfloxacino 400mg VO 12/12 Alto risco de infecção: encefalopatia/ bilirrubina >3,0g/dL/desnutrição/ascite. Profilaxia de Encefalopatia Hepática ➢ Lactulona • 25 ml de 12 em 12h • 2-3 evacuações pastosas Terapia Endoscópica • Realizar em até 12h (pacientes +instáveis) • Hemostasia inicial/reduz taxa de ressangramento Tratamento para varizes esofágicas → Ligadura elástica e Escleroterapia com ETHAMOLIN!!! • Ligadura elástica (PRIMEIRA escolha) ➢ Colocação de banda elástica na variz esofágica ➢ Técnica segura e simples ➢ Complicações: úlcera esofágica, piora da gastropatia hipertensiva e variz gástrica • Escleroterapia ➢ Induz trombose dos vasos (Ethamolin). NÃO USA ADRENALINA EM VARIZES ESOFÁGICAS!!! ➢ Indicações: sangramento ativo em jato, ligadura tecnicamente difícil, estenose de esôfago, não resposta à ligadura Anna Victória T17 – Gastroenterologia 11 Tratamento para varizes gástricas • Adesivo tecidual ➢ Obliteração permanente dos vasos ➢ Uso apenas em variz gástrica ➢ Cianocrilato “Terapia de salvação” Balão de SengsTaken-Blakemore • Hematêmese volumosa. • Eficiente em 80% • Tempo de uso 12-24h • Risco: ruptura esofágica Falha do Tratamento Quando o paciente ressangra pela terceira vez: pensar em outra conduta! • TIPS (transjugular intrahepatic portosystemic shunt) ➢ HDAV não controlada ➢ Alta taxa de sucesso ➢ Complicação: encefalopatia/abscesso hepático/estenose do TIPS. • Cirurgia ➢ Anastomose porto-cava (não seletiva) ➢ Descompressão portal seletiva ➢ Mortalidade de até 50% ➢ Função hepática preservada Prevenção de Ressangramento Varicoso Profilaxia secundária - Terapia de primeira linha: • Betabloqueador (propranolol) + ligadura elástica. TIPS na falha da primeira linha de tratamento.
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