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Sérgio Caetano Moliterno Sé rg io C ae ta no M ol ite rn o P si co lo gi a So ci al n as O rg an iz aç õe s Psicologia Social nas Organizações Sérgio Caetano Moliterno 1ª Edição | Fevereiro |2014 Impressão em São Paulo / SP Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 1ª Edição: Fevereiro de 2014 Impressão em São Paulo/SP Coordenação Geral Coordenação De Projetos Professora Responsável Revisão Ortográfica Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Nelson Boni Leandro Lousada Sérgio Caetano Moliterno Vanessa Almeida Erick Genaro Psicologia Social nas Organizações M725p Moliterno, Sérgio Caetano. Psicologia social nas organizações. / Sérgio Caetano Moliterno. – São Paulo : Know How, 2014. 176 p. : 21 cm. Inclui bibliografia ISBN: 978-85-8065-227-7 1. Psicologia social. 2. Cultura organizacional. 3. Mudanças organizacionais. 4. Competência organizacional. 5. Gestão de pessoas. I. Título. CDD – 302.35 Introdução Unidade 1 Psicologia Social nas Organizações 1.1. Imagens e Resistências das Pessoas nas Organizações 1.2. Cultura Organizacional X Colaborador 1.2.1. O Colaborador Nas Organizações 7 15 24 35 46 SUMÁRIO Unidade 2 Psicologia, Globalização e as Mudanças Organizacionais Unidade 3 Gestão Estratégica de Pessoas 3.1. A Gestão por Competências 3.1.1. O Surgimento das Competências na Gestão de Pessoas 3.1.2. Gestão por Competências e a Gestão de Pessoas Unidade 4 - Competências Organizacionais 4.1. Competências Individuais 55 75 81 83 92 107 113 Considerações Finais Gabarito Referências Bibliográficas 147 151 155 9 O presente trabalho tem como objetivo principal o entendimento da Psicologia Social nas Organizações, procurando compreender como mui- tas das ideias convencionais sobre organizações e administração foram construídas sobre um pequeno número de imagens tidas como corretas. Analisaremos como esse conjunto alternati- vo de imagens pode criar novas maneiras de pensar sobre a organização. Estudaremos se existe um mé- todo para análise das imagens criadas pelas organi- zações e se servem como um instrumento prático de diagnóstico dos problemas organizacionais, bem como de administração e planejamento das empre- sas de maneira mais ampla. Nos últimos anos e governos, vimos o quan- to a economia do Brasil tem crescido e se elevado nas estatísticas, em comparação com demais países. Com isso, cresce também a criação de novas vagas de emprego, dando a oportunidade de trabalho para muitos brasileiros. Segundo pesquisas do Instituto Introdução 10 Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no pe- ríodo de Junho/2011 no mesmo mês de 2012, só no setor de serviços atingiu-se o crescimento da taxa de emprego em 6,4%, e a indústria 0,8% em relação a maio do ano anterior, o que é equivalente a 512 mil novos postos de trabalho. Podemos afirmar que administrar uma empre- sa não é uma tarefa tão difícil, mas administrar pessoas torna-se cada dia mais complicado. As pessoas têm emo- ções, ideais, valores éticos e morais que podem influen- ciar o ambiente de trabalho. Aplicar os conhecimentos da psicologia organizacional é vital para o seu desenvol- vimento e, consequentemente, da organização. No ato de uma contratação, as empresas con- tam com a capacidade do profissional de Recursos Humanos, sendo este um psicólogo ou selecionador, onde o mesmo deverá estar apto para prosseguir com as etapas de um processo seletivo, realizando testes de personalidade, qualificações e desempenho. Há ne- cessidade que o psicólogo esteja preparado para tal tarefa, pois não poderá cometer erros. O conhecimento é extremamente importan- te na maior parte das tarefas a serem desenvolvidas e, de forma específica, nas prestações de serviços. Nessa direção, as prestações de serviços podem ser consideradas geradoras de emprego por excelência, já que suas atividades são intensivas em trabalho para efetivar suas tarefas. 11 Não podemos passar batido. A tecnologia faz parte de nossas vidas. A forte expansão dessa in- dústria “digital” de serviços tem criado milhares de postos de trabalho, principalmente para jovens que procuram seu primeiro emprego, ocupando, atual- mente, milhões de pessoas no Brasil. Contudo, não foi possível deixar de notar que as especificidades das empresas prestadoras de serviços lembram bastante as estruturas fabris, com rotinas muito padronizadas e controladas, sobretudo do trabalho no processo de produção dos serviços. No mundo digital, o colaborador, muitas vezes, faz sua rotina. Estabelece prazos e tarefas a serem desenvolvidas e entregues. Diante do cenário tecnológico, Schein (1982) comenta que a Psicologia Organizacional pode ser reconhecida como um campo de atuação interdis- ciplinar, que procura compreender os fenômenos organizacionais que se desenvolvem em torno de um conjunto de questões referentes ao bem-estar do indivíduo, já que, segundo o autor, as organizações são sistemas sociais complexos. Para que haja atuação interdisciplinar, o psi- cólogo organizacional, enquanto profissional de re- lação entre a empresa e o colaborador, move-se e atua num universo intersubjetivo e complexo, que exige que se conheça a si próprio, aos outros e a re- alidade que os envolve, e que seja capaz de nego- ciar, influenciar, pensar, construir consensos, decidir 12 e assumir responsabilidades. Esta exigência legitima uma preocupação com a formação da pessoa. Segundo Skinner (1992, p. 50): “o compor- tamento humano é, talvez, o objeto mais difícil den- tre os que já foram alvo dos métodos da ciência”. Para conduzir pessoas, os líderes precisam de uma boa capacidade de diagnóstico, além de se- rem capazes de fazer uma análise das exigências do ambiente, e ter a capacidade de adaptar seu estilo de liderança, para atuar neste meio. Para Blanchard & Hersey (1982, p. 12): “um gerente capaz de entender, rever, dirigir, modificar e controlar comportamentos é na realidade um cien- tista de ciências comportamentais”. Davidoff (2001, p.105) comenta que: “...as pessoas não precisam ter experiên- cias assustadoras com estímulos neutros, para passar a ter medo delas. Como somos seres do- tados de cognição, frequentemente nos assusta- mos com aquilo que vemos e imaginamos.” Os interesses e objetivos variam de pessoa para pessoa. Conviver com tanta diversidade dentro de uma organização, necessita de um profissional, no caso o psicólogo preparado e atento às novas so- licitações do mercado. 13 Analisa Davidoff (2001, p. 14) que: “[...] para obter conhecimento válido so- bre qualquer qualidade ou experiência humana, é preciso focalizá-las tendo como base diferentes quadros de referência, da forma que os diversos indivíduos a experiencia. Em outras palavras, a interpretação subjetiva é central a toda atividade humana e não pode ser ignorada.” Portanto, o equilíbrio emocional dentro de organização é chave essencial para o trabalho em equipe. O grupo é um conjunto de duas ou mais pes- soas que se interagem entre si, de tal forma que cada uma influencia e é influenciada pela outra. Numa equipe de trabalho, cada membro tem suas aptidões e opiniões próprias, e, quando coloca- das junto à equipe, tende a uma somatória nos valo- res do conhecimento, fazendo com que o trabalho final tenha uma excelente qualidade. Diante de um mundo estressado do traba- lho, perceber-se que em todos os setores de uma organização, existe a necessidade do auxílio psicoló- gico para o perfeito funcionamento. Uma organização só existe, porque é forma- da por profissionais que exercem suas funções em grupos ou separadamente. Cada indivíduo partici- 14 pante da organização é dotado de um potencial que deve serutilizado para que haja um desenvolvimento. Na década de 90, Goulart e Sampaio (1998, p. 13) definem a Psicologia Organizacional como: “campo de aplicação dos conhecimentos oriundos da ciência psicológica às questões relacionadas ao trabalho humano, com vistas a promover a saúde do trabalhador e sua satisfação em relação ao trabalho”. A Psicologia Social das Organizações apoia-se nas técnicas e conceitos, tentando criar um ambiente e um clima organizacional equili- brado, favorável e estável para enfrentar os desa- fios do ambiente externo. O presente estudo é uma revisão de lite- ratura. Nesta pesquisa bibliográfica foram con- sultadas várias literaturas relativas ao assunto em estudo, dissertações, teses, artigos publicados na internet, possibilitando que este trabalho tomas- se forma para ser fundamentado. Segundo Marconi e Lakatos (1992), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. A sua finalidade é fazer com que o pesquisador entre em contato direto com todo o material es- crito sobre um determinado assunto, auxiliando o cientista na análise de suas pesquisas, ou na manipulação de suas informações. 15 Para Zanelli (1994, p. 9), o objetivo do psi- cólogo na organização é: «identificar e analisar as ne- cessidades derivadas, das atividades de trabalho, suas condições e implicações». O objetivo da Psicologia na Organização é dar suporte aos colaboradores no aspecto de traba- lho em grupo, ajudando a ter flexibilidade, participar efetivamente na busca de resultados, agir criativa- mente e inovar processos e métodos organizacionais, proporcionando um melhor ambiente de trabalho. O papel do psicólogo dentro das organiza- ções é atuar como facilitador e conscientizador do papel dos vários grupos que compõem a instituição, considerando a saúde e a subjetividade dos indivídu- os, a dinâmica da empresa e a sua inserção no con- texto mais amplo da organização. Conclui Orlandini (2008) que as ativida- des exercidas dentro desse papel, que são funda- mentadas em técnicas e instrumentos da Psico- logia e relacionadas à díade homem & trabalho, podem trazer desenvolvimento para a empresa, o trabalhador e a sociedade. 17 Para entender o presente, torna-se necessá- rio relembrar o passado e prever o futuro. Para tal, começaremos com o conceito Psicologia. Psicologia é uma ciência que busca compreender o comporta- mento humano e isso inclui entender nossos senti- mentos, emoções, pensamentos e ações. A Psicologia é a ciência que estuda os pro- cessos mentais. A palavra vem do grego: psyché (alma ou atividade mental) e logos (estudo de). A Psicologia é a ciência que estuda os processos men- tais (sentimentos, pensamentos, razão) e o compor- tamento humano. Comenta Dantas (2009) que a Psicologia não é hoje apenas a ciência da alma, mas também do comportamento e da experiência, pois o corpo e a mente não são separados e um exerce influência sobre o outro. As questões estudadas pela Psicologia estão relacionadas à personalidade, aprendizagem, mo- tivação, memória, inteligência, funcionamento do UNIDADE 1 Psicologia Social nas Organizações 18 sistema nervoso, comunicação interpessoal, desen- volvimento, comportamento sexual, agressividade e comportamento em grupo. Segundo Martins (2007), a Psicologia é ciên- cia humana, social e da vida psíquica, porque insistir em descrevê-la ou categorizá-la somente como ciên- cia da saúde? Será que essa insistência contribuiria para nos dar uma identidade distinta e mais abran- gente do que as múltiplas identidades que tradicio- nalmente estão na raiz da construção da nossa ciên- cia? Esse é o principal motivo pelo qual a Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Traba- lho resiste em restringir a Psicologia à área de saúde. A Psicologia Social é uma correlação entre a Psicologia e a Sociologia. O seu objeto de estudo é o comportamento dos indivíduos quando estão em interação. Durkheim (1982), fundador da Escola Francesa de Sociologia, defendia a desvinculação da Sociologia de todas as correntes filosóficas, psico- lógicas, ideológicas e do senso comum. No estudo da vida social, uma das preocupações do autor re- sidia na tentativa de aplicar um método dotado de cientificidade, que colocaria, assim, a Sociologia no campo das ciências empíricas e objetivas, distinta de qualquer outra já existente. Para QUINTANEIRO, (2003, p.77), Durkheim descreveu duas consciências: 19 “Uma é comum com todo o nosso grupo e, por conseguinte, não representa a nós mes- mos, mas a sociedade agindo e vivendo em nós. A outra, ao contrário, só nos representa no que temos de pessoal e distinto, nisso é que faz de nós um indivíduo.” Em outras palavras, existem em nós dois seres: um individual, “constituído de todos os estados mentais que não se relacionam senão conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vida pessoal”, e outro que revela em nós a mais alta realidade, “um sistema de ideias, sen- timentos e de hábitos que exprimem em nós (...), “o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte; tais são as crenças religiosas, as opiniões coletivas de toda espécie. Seu conjunto forma o ser social.” Rodrigues (2000) comenta que pensar a Psi- cologia Social contemporânea implica pensar a di- versidade de correntes, sua perspectiva histórica, os desafios da dissociabilidade teórica e metodológica. A Psicologia Social contemporânea impli- ca também enveredar pelas especificidades de suas categorias de análise, seus pressupostos, bem como suas modalidades de intervenção. Acredita-se ser este um dos desafios postos 20 às investigações e intervenções psicossociais, co- menta Rodrigues (2000). Afinal, a que se destina o trabalho do Pesquisador Social? Não seria pesqui- sar/intervir nas relações e interações homem-socie- dade? É desta interação que emerge as preocupações com a construção da identidade humana. Segundo Rodrigues (2000), a Psicologia So- cial é o estudo das “manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação”. Comenta ainda Rodrigues (2000, p. 11) que a Psicologia Social pode ser definida como o: “...estudo científico da Psicologia dos seres humanos nas suas relações com outros indivídu- os, quer sejam influenciados, quer ajam sobre eles; pensamos e sentimos de determinada maneira por- que somos seres sociais; o mundo em que vivemos é, em parte, produto da maneira como pensamos”. O homem como ser social, como um ser de relações sociais, está em permanente movimento. Es- tamos sempre nos transformando, apesar de aparen- temente nos mantermos iguais. Isso porque nosso mundo interno alimenta-se dos conteúdos que vêm do mundo externo e, como nossa relação com esse mundo externo não cessa, estamos sempre como que fazendo 21 a “digestão” desses alimentos e, portanto, sempre em movimento, em processo de transformação. Analisa Markus, Allison & Eylon (2004), que os psicólogos sociais consideram que a lideran- ça é um caso especial de influência social recíproca e cooperativa, que envolve uma interação complexa entre o líder, os seguidores e o grupo a que eles per- tencem. Desse modo, líderes e seguidores influen- ciam-se, mutuamente, e trocam recursos a fim de alcançar as metas coletivas e as pessoais. Para Kelley (2004) mais do que valorizar essa relação, a importância dos seguidores é destacada no termo followership (Followership não possui uma tradução para o português. Follower corresponde ao seguidor, ou seja, trata-se do papel complementar ao do líder. Followership, portanto, corresponde ao processo em que um seguidor assume seu papel no processo de liderança. Com esse sentido, o termo seguidor e liderado são utilizados neste estudo indis- criminadamente. O que corresponde ao engajamen- to ativo dos seguidores para ajudar uma organização ou uma causa a ser bem-sucedida.Questiona-se, assim, o estereótipo dos seguidores como perdedores e o pressuposto de que o líder é o vencedor. Do contrário, esse en- foque entende que a atuação dos seguidores con- tribui mais para o sucesso de uma organização que a atuação dos líderes. 22 Corroborando com esse conceito, Welter (2007) diz que cada vez mais as empresas estão bus- cando meios eficientes para avaliar o potencial de seus colaboradores e selecionar candidatos para ocu- par posições estratégicas dentro delas. Com o aumento da competitividade, as em- presas viram-se obrigadas a reduzir o quadro de funcionários, diminuindo os níveis hierárquicos e atribuindo maior responsabilidade e autonomia aos colaboradores remanescentes. Ao mesmo tempo, o aumento da competitividade e do nível de exigência em relação ao desempenho profissional provoca ins- tabilidade nas relações de trabalho e incertezas quan- to ao cenário futuro. Diante do aumento da competitividade no mercado de trabalho, o psicólogo organiza- cional torna-se um profissional necessário para trabalhar com as mudanças e os impactos provo- cados nos funcionários. O psicólogo organizacional poderá tra- balhar com o relacionamento interpessoal, bus- cando mediar os conflitos e levar as pessoas a perceberem que podem encontrar soluções con- densadas de ganha-ganha. Do desenvolvimento pessoal e profissional, identificando, estimulan- do, direcionando, criando possibilidades para que as pessoas percebam em que aspectos podem melhorar suas ações e a participação nos grupos. 23 Para Martins (2007), na psicologia orga- nizacional e do trabalho, os estudiosos que se de- dicam ao bem-estar, à psicodinâmica, ao estresse, ao burnout, à qualidade de vida no trabalho e à ergonomia, poderiam ter mais facilidade em se perceber próximos da área de saúde. Mas, mes- mo para eles, a sua inclusão no grupo das ciên- cias da saúde geraria um desconforto, pois, ainda que lhes interesse a interface trabalho e saúde, há conhecimento e aplicações distantes desta, sobre processos de trabalho, estruturas sociais e orga- nizacionais e outros fenômenos socioculturais, que são também considerados fundamentais na gênese dos fenômenos psíquicos. Não restam dúvidas, todavia, que essa iden- tidade com a área de saúde seria bem mais difícil de ter adesão para aqueles que se dedicam ao treina- mento e desenvolvimento de pessoas, à aprendiza- gem e qualificação no trabalho, à empregabilidade e carreira, às relações de poder, ao desempenho de equipes de trabalho, à motivação e ao significado do trabalho e ao comportamento do consumidor. Certamente, esses estudiosos e profissionais sentir-se-iam excluídos da sua condição de integran- tes do campo da Psicologia, se esta fosse categoriza- da ou definida como área de saúde. Afirma, ainda, Martins (2007, p. 7): 24 Provavelmente, nenhum psicólogo colo- caria em dúvida que suas ações têm como ob- jetivo final a promoção do bem-estar da pessoa. Mas, tal reconhecimento não é suficiente para definir sua identidade como profissional de saú- de. Se assim o fosse, até um engenheiro civil po- deria ser classificado como um profissional da área de saúde, ao ter de elaborar projetos pen- sando no ser humano que irá habitar e trabalhar ou circular nos espaços que projeta. Por isso, insistimos que ser profissional de saúde é ape- nas uma de nossas identidades. Admitir sermos apenas profissionais da área de saúde significa seguir em uma direção contrária ao respeito à diversidade, hoje um valor reconhecido entre o conjunto de valores de quem defende uma so- ciedade democrática. O problema persistiria se também o rótulo fosse o de ciência da educação. No entanto, isto seguiria rigorosamente a mes- ma lógica de defender que Psicologia pertence à área da saúde. Muitas das nossas práticas são efetivamente práticas educativas, mesmo quan- do estamos inseridos no campo da saúde, nas ações de prevenção e atenção por exemplo. Ou seja, quaisquer rótulos restritivos nos trariam problemas internos. 25 A humanidade passa por um período marca- do por incertezas e norteado pela complexidade das relações humanas. Os profissionais têm que enfren- tar a necessidade de definir os próprios objetivos, atuar autonomamente e em sintonia com as metas e objetivos da empresa ou do próprio negócio. O importante é fazer algo que equilibre a própria necessidade com a satisfação ou felicidade desejada. A remuneração deixou de ser a medida de satisfação no trabalho, por mais que polpudos salá- rios, bônus e benefícios amenizem ou causem mo- mentaneamente sensação de alívio. Para Cardozo (2004): “a realização de uma atividade profissional em sintonia com o perfil motivacional favorece a re- alização e a satisfação pessoal.” O psicólogo organizacional poderá ainda contribuir para a satisfação pessoal, procurando atra- vés de pesquisas de clima e intervenções compatíveis, contribuir para que a organização seja um ambiente propício à satisfação das necessidades individuais, procurando colocar as pessoas em atividades que cor- respondam ao seu perfil e às suas expectativas. Zanelli e Bastos (2004) indicam que, nos dias atuais, a atenção à saúde (mental) do trabalhador cresce como subcampo e faz com que o psicólogo ultrapasse os limites convencionais da área, lidando com categorias ocupacionais diversas, como aqueles que vivem em situação de desemprego/subempre- 26 go, de aposentadoria, invalidez, e também os que se inserem em novos arranjos produtivos, como as co- operativas e trabalho voluntário. 1.1. Imagens e resistências das pes- soas nas organizações As mudanças sempre começam com uma quebra de “paradigmas”. PARADIGMA: (do gre- go Parádeigma, significa literalmente “modelo”) é a representação de um padrão a ser seguido. Uma referência inicial, como base de modelo para estudos e pesquisas. Usualmente, a palavra “paradigma” tem sido usada para designar um pensamento “fechado”, inflexível. Assim, quando queremos dizer que esta pessoa ou aquele grupo têm dificuldades em “MU- DAR”, normalmente dizemos que “existe dificulda- de em rever os paradigmas”. Segundo Morgan (1996), as organizações são propostas como um fim em si mesmo. São ins- trumentos criados para se atingirem outros fins. Isso é refletido pelas origens da palavra organização que deriva do grego orgamon, que significa uma ferra- menta ou instrumento. Organização, segundo o Dicionário do Hou- aiss (2006), é uma “entidade que serve à realização de ações de interesse social, político, administrativo, 27 etc.; - instituição, órgão, organismo, sociedade; - gru- po de pessoas que se unem para um objetivo, inte- resse ou trabalho comum”. A tendência natural das pessoas é reagir ao novo, ou a expectativa do que venha a acontecer nas suas vidas, como consequência às mudanças que possam ocorrer. Segundo Guerra (2010), a mudança é o ato de variar ou de alterar modos convencionais de pen- samento ou comportamento. Nas organizações, é um movimento repentino importante e, ao mesmo tem- po, um produto elementar dos esforços de desenvol- vimento organizacional, reformulando os modos pe- los quais as pessoas e grupos trabalham juntos. É fundamental a prática dos psicólogos nas organizações e a aplicação da Psicologia para um reconhecimento estrutural e um diagnóstico de possíveis problemas, obtendo assim dados estratégicos e procedimentos de mudanças no ambiente empresarial. O processo de mudança vem acompanhado de resistências pessoais. Comenta Guerra (2010): Sempre que os gestores tentam propor al- guma mudança, logo se espera resistência como resposta, porque pessoas tendem a resistir àquilo que percebem como ameaça à maneira estabe- lecida de fazer as coisas. Quanto mais intensa a mudança, mais intensa tende a ser a resistência. 28 As condutas de resistência à mudança fi- xam-se com a inexistência de fatores emocionais ou motivacionais, para que possam modificar a situação atual, também pela falta de segurança psicológica parareconhecerem os problemas reais, ou até mes- mo nas vantagens de situações alternativas. As mudanças podem provocar stress em seus colaboradores. O stress é provocado por um desajustamento entre nós e o trabalho, por proble- mas de relacionamento, pela presença de violência psicológica ou física no local de trabalho, ou ainda pela existência de conflitos entre o nosso papel no trabalho e fora dele. Cada indivíduo reage de forma diferente às mesmas circunstâncias. Umas pessoas reagem me- lhor do que outras à pressão de muitas solicitações. O que conta é a avaliação subjetiva que cada indiví- duo faz da sua situação, não sendo possível determi- nar com base, exclusivamente, na situação o stress que esta pode provocar. Na visão de Bleger (1984), não interessa apenas a ausência de doenças, mas o desenvolvimen- to integral das pessoas e da comunidade. A ênfase, então, na saúde mental, desloca-se da doença à saúde e à observação de como os seres humanos vivem em seu cotidiano. Para Dejours (1994), a Psicopatologia tradi- cional está alicerçada no modelo clássico da fisiopa- 29 tologia das doenças que afetam o corpo. Dedica-se, exclusivamente, ao diagnóstico das doenças mentais, dos transtornos mentais orgânicos, da esquizofrenia, dos transtornos do humor e dos inúmeros transtor- nos de personalidade. O psicólogo deve estar envolvido em um processo de desenvolvimento contínuo, em projetos que envolvam início, meio e fim, onde seja possível uma mensuração de resultados, além de um acom- panhamento da gestão de conhecimento baseada em Conhecimento (Saber), Habilidade (Saber Fazer) e Atitude (Querer Fazer). Atualmente, a sociedade está em profundas transformações, na qual os sujeitos estão reformu- lados variados conceitos construídos durante a mo- dernidade. Entende se como modernidade o período de compreende o final do século XVII até meados do século XIX, marcados inicialmente pela ideia do Iluminismo e pela filosofia cartesiana. O propósito de contextualizar um pouco mais esse tempo histórico deve salientar, também, a Revolução Industrial, sua relevância para a sociedade vigente e suas transformações que provocaram nas relações sociais. O trabalho em equipe é considerado um tra- ço distinto das organizações de sucesso, apenas re- centemente passou a ser associado a uma estratégia ou a uma estrutura de negócios. 30 Atualmente, é possível dizer que as equipes de trabalho estão presentes em fábricas, empresas que lidam com produtos ou serviços e na administra- ção pública, comentam Sanborn & Huszczo (2006). Para McNutt & Graham (2004), uma equipe é um grupo, mas um grupo não é necessariamente uma equipe. As equipes caracterizam-se por um propósito comum e por objetivos compartilhados pelos seus com- ponentes, que interagem e se influenciam mutuamente. Nos grupos, as pessoas possuem responsa- bilidade individual por tarefas, e o líder é designado. Nas equipes, todos também compartilham a respon- sabilidade pelos resultados, e a liderança pode ser as- sumida por um ou outro, dependendo da tarefa ou da área de especialidade. Enquanto no grupo, cada um possui uma visão pessoal, a equipe caracteriza-se por um senso de missão a ser alcançada por todos. Se a empresa muda a sua forma de traba- lhar, por meio das estruturas organizacionais dife- rentes, para acompanhar a evolução do mercado ou para atender a necessidade da clientela, ou a política governamental do momento, os funcionários como integrantes do sistema, reagirão de alguma forma, positivamente, negativamente ou neutros. A gestão de pessoas sofreu mudanças signi- ficativas nos últimos anos. Dos modelos fordistas e taylorista, baseado no controle surgiu à necessidade do desenvolvimento mútuo. 31 A ideia é que a empresa ao se desenvolver, desenvolve as pessoas, e vice-versa. Segundo Dutra (2001, p.23), nessa nova visão, o próprio indivíduo administra sua relação com a empresa, assim como é responsável por seu desenvolvimento profissional. Dessa forma, segundo o autor, o comprometimento integral do indivíduo contribuiria para o sucesso do negócio e Revista Eletrônica Gestão e Negócios – Volume 3 – n.º 1 – 20125. Geraria vantagens competitivas se ele usasse todo o seu “potencial criador, sua intuição, sua capaci- dade de interpretar o contexto e de agir sobre ele”. O perfil desejado, até então caracterizado pela obediência e disciplina, nesta nova perspectiva, passa a demandar valores como autonomia e empreendedorismo. Mas, os novos modelos não foram acompa- nhados pela gestão de pessoas e a maioria das em- presas sabota os sistemas de gestão formal para se adaptarem à realidade. Dutra (2001, p.24) afirma que por essa razão aparece “um descontentamento gene- ralizado com a maneira de administrar indivíduos”. Na lição de CHIAVENATO (1999, p. 321/322), o conceito de resistências às mudanças, pelas pessoas: O processo de mudança ocorre dentro de um campo de forças que atuam dinamicamente em vários sentidos. De um lado, existem forças 32 positivas de apoio e suporte à mudança e, de ou- tro lado, forças negativas de oposição e resistên- cia à mudança. Em toda organização existe uma balança dinâmica de forças positivas que apoiam e impulsionam a mudança e de forças negativas que restringem e impedem a mudança. O sistema funciona dentro de um estado de relativo equilíbrio – o conceito de equilíbrio quase estacionário de Lewin – que é rompida toda vez que se introduz alguma tentativa de mudança. A mudança passa a sofrer pressões positi- vas (de apoio e de impulso) e pressões negativas (de oposição e resistência), criando um campo de forças. Quando as forças positivas são maio- res do que as forças negativas, a tentativa de mu- dança é bem-sucedida e a mudança ocorre efeti- vamente. Porém, quando as forças negativas são maiores do que as forças positivas, a tentativa de mudança é malsucedida e a mudança não ocorre, prevalecendo a velha situação. No início do século XXI, surge a necessida- de crescente das pessoas gerenciarem a si mesmas, como condição de sobrevivência em um período turbulento e com mudanças rápidas. É fundamental diante das mudanças o co- nhecimento das próprias forças, concentrando os 33 esforços nas áreas de alta competência e aptidão, pois no início do século XXI surge a necessidade crescente das pessoas gerenciarem a si mesmas, como condição de sobrevivência em um período turbulento e com mudanças rápidas. Drucker, (1999, pp. 131-156) comenta que: “as forças de uma pessoa, a maneira como ela se desempenha é individual, é a sua persona- lidade” (p. 131). (...) “Carreiras de sucesso pertencem a pes- soas que estão preparadas para a oportunidade, porque conhecem suas forças, a maneira pela qual trabalham e seus valores. Saber a que lugar se pertence transforma pessoas comuns em pes- soas com desempenho notável” (p. 156). A Psicologia, de um modo geral, está volta- da ao bem-estar das pessoas, a diferença simples en- tre os outros ramos dessa ciência está nas atividades desempenhadas no dia a dia. Pensa, também, a psicologia organizacional que para o grupo de trabalho e de pessoas, a produ- tividade, e o desempenho no trabalho, por que se as pessoas não estão bem, seja com algum problema em casa, stress de trabalho, ou algo do gênero, não 34 será produtivo pra empresa, pois a pessoa vai pro- duzir menos, e o bem-estar do funcionário é o prin- cipal ponto onde o psicólogo deve trabalhar, para que o colaborador esteja bem sempre no ambiente de trabalho. O psicólogo organizacional deve trabalhar com as mudanças e os impactos que elas causam nas pessoas. A opinião de DAN JUNIOR, MATEUS e SOUTO (2008) sobre resistência à mudança, é que: “a resistência à mudança pelo fator huma- no nas empresas é o ponto crucial para a garantia de sucesso dos resultados no processo de mu- dança organizacional. E, a efetividade desta mu- dança organizacional somente será conseguida através do comprometimento dos profissionais,de todos os níveis hierárquicos, sem distinção”. [...] “Considerando que o ser humano é natu- ralmente resistente às mudanças, sendo imperati- vo o seu lado emocional, insistindo em situações dadas como confortáveis, sendo a mudança enca- rada como uma situação de conflito que irá tirá- -los do seu estado de equilíbrio profissional ou pessoal e levá-lo a decadência, muitas vezes por uma simples insegurança em relação ao novo”. 35 Os pensadores COSTA HERNANDEZ e P. CALDAS (2001, p. 3), após reverem e examinarem mo- delos e teorias sobre resistência às mudanças organiza- cionais, sugeridas no final da década de 40, concluem: Esses pressupostos, cada vez mais contes- tados nos dias de hoje, tanto por teóricos quanto por praticantes, retratam a resistência como a) um fato natural e inevitável; b) algo nocivo às organiza- ções e às iniciativas de mudança; c) algo que ocorre apenas entre empregados e d) um fenômeno mas- sificando (isto é, organizações são retratadas como corpos indistintos inclinados a resistir à mudança). Para PINHO REBOUÇAS DE OLIVEI- RA (2006, p. 258, grifo nosso), o que as mudanças podem ocasionar: As mudanças organizacionais podem provocar uma série de efeitos sobre as pessoas e, com base nessa situação, pode-se ter o início de um processo de resistência a essas mudanças. Muitas mudanças não chegam a provocar o real efeito sobre as pessoas, conforme é es- perado, mas a simples expectativa desse efeito pode ocasionar resistência. Alguns desses efeitos são: 36 - econômicos, tais como mudanças nos salários ou nos benefícios; - organizacionais, tais como mudanças no poder, no status, na autonomia ou na carga de trabalho; e - sociais, tais como mudanças no relacio- namento com o chefe, com os subordinados, com os pares ou com fatores do ambiente empresarial. Entretanto, esses efeitos pessoas sofrem influência de duas variáveis: - características pessoais; e - grau de poder do indivíduo. Com base nessa situação, o indivíduo pode enquadrar-se em uma das três situações perante as mudanças na empresa: - situação de aceitação; - situação de alienação (ignorar ou aco- modar-se); ou - situação de resistência. Diante da opinião dos estudiosos (CHIAVE- NATO, 1999), (DAN JUNIOR, MATEUS e SOU- TO, 2008), (COSTA HERNANDEZ e P. CALDAS, 2001) e (PINHO REBOUÇAS DE OLIVEIRA, 2006) que trataram do assunto, a resistência das pes- soas é natural e inevitável, diante das mudanças or- ganizacionais, mas prejudicial à otimização, ou até a 37 não realização das mudanças. Alguns dos motivos da resistência das pessoas podem ser de ordem econô- mica, organizacional e social. Além da resistência das pessoas às mudan- ças organizacionais, pode haver comportamentos de alienação e aceitação. Fazendo minhas as palavras de CHIAVE- NATO, 1999, as forças positivas impulsionadas fun- cionam como apoio e suporte à mudança. O âmbito da psicologia organizacional e do trabalho se ampliou consideravelmente nas últimas décadas, no que concerne às possibilidades de atu- ação competente e de influência na transformação das organizações. Assim, será melhor para a organização se con- seguir o comprometimento de todos os profissionais da organização, pois o sucesso da mudança organi- zacional depende da intensidade das forças positivas. 1.2. Cultura Organizacional x Colaborador Diante da existência das mudanças organi- zacionais e das reações de resistências dos funcioná- rios, faremos primeiramente a conceituação do que é cultura organizacional. No dicionário Aurélio (1975, p. 409), temos: 38 Cultura: o Complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e materiais transmi- tidos coletivamente e característicos de uma so- ciedade; civilização. O desenvolvimento de um grupo social, uma nação etc., que é fruto do es- forço coletivo pelo aprimoramento desses valo- res; civilização, progresso. Atividade e desenvol- vimento intelectuais; saber, ilustração, instrução. A cultura organizacional é construída ao longo do tempo, influencia o funcionário na pon- tualidade, na produtividade e na preocupação com qualidade e serviço ao cliente, ela é aprendida, trans- mitida e partilhada entre os membros da organiza- ção. Representa as normas informais, orientando o comportamento dos membros de uma organização. CHIAVENATO (1999, p. 138/139), nos diz o seguinte sobre cultura organizacional: A cultura organizacional ou cultura cor- porativa é o conjunto de hábitos e crenças esta- belecidas através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os mem- bros da organização. [...] Constitui o modo institucionalizado de 39 pensar e agir que existe em uma organização. A essência da cultura de uma empresa é expressa pela maneira como ela faz seus negócios, a ma- neira como ela trata seus clientes e funcionários, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou escritórios e o grau de lealda- de expresso por seus funcionários com relação à empresa. A cultura organizacional representa as percepções dos dirigentes e funcionários da or- ganização e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona a administração das pessoas. A cultura organizacional pode ser classifica- da em forte ou fraca. É forte quando seus valores são compartilhados intensamente pela maioria dos funcionários e influencia comportamentos e expec- tativas. Empresas como IBM, 3M, Merck, Hewlett- -Packard, Sony, Honda e Toyota estão entre aquelas que ostentam culturas fortes. O neocapitalismo instaura na contemporanei- dade a desumanidade das relações humanas, que se des- qualificam quase totalmente, surpreendendo com a for- ma e a fôrma, na qual o homem atual vai colocando-se. Então, surge um novo questionamento: como encontrar um modelo ideal entre colaborador e organização? Primeiramente, o bom relacionamen- 40 to entre gestores e colaboradores é primordial para o bom desenvolvimento das organizações. As práticas atuais de gestão têm afastado a figura do chefe auto- ritário e paternalista, dando espaço para os modelos horizontais de organização das empresas. Para ser considerado um bom profissional depende muito da cultura da empresa e do conceito de sucesso de cada área. Mas, de maneira geral, o funcionário ideal é aquele determinado a progredir, que trabalha em equipe, disposto a encarar desafios, aberto ao diálogo, batalhador, confiante no futuro da empresa, e preocupado com as causas sociais e com o papel da empresa, comenta Lauer (2012). Dutra (2001) sugere uma análise das com- petências organizacionais e individuais e a relação entre elas. Segundo Dutra (2001, p.25) as compe- tências da organização originam-se do seu “pro- cesso de desenvolvimento e são concretizadas no seu patrimônio de conhecimento”, enquanto que “as competências das pessoas podem ou não estar sendo aproveitadas pela empresa”. Entender esta relação pode responder a questão inicial, ou seja, o equilíbrio está em encon- trar um modelo que seja adequado à realidade da empresa e que os indivíduos que a compõem consi- gam assimilar o seu papel para contribuir com o de- senvolvimento da empresa e ao mesmo tempo com o seu próprio desenvolvimento. 41 Para Lauer (2013), o “bom profissional é aquele que consegue encontrar motivação mesmo que a situação na empresa não ajude. A motivação é, antes de tudo, algo que pertence ao indivíduo, embora o ambiente e a empresa possam cultivá-la e potencializá-la”. São nos momentos difíceis que esta característica é mais valorizada. As pessoas devem considerar a profissão não somente sob o aspecto das exigências do empregador, mas a partir de múl- tiplos níveis de compromisso que ela estabelece na execução das atividades seja com clientes, fornece- dores, pares, equipe ou comunidade. Deve haver um processo contínuo de troca de competência. Nessa troca, segundo Dutra (2001, p.25), os valores que integram o patrimônio da em- presasão transferidos às pessoas “enriquecendo-as e preparando-as para enfrentar novas situações profis- sionais e pessoais”. Enquanto que as pessoas “ao desenvolve- rem suas capacidades individuais, transferem para a organização seu aprendizado”. Logo que pensamos na palavra cultura, vem à mente a cultura de uma época ou de um povo, como religião, crença e costu- mes. Lembramos a cultura adquirida pelos estudos, conhecimentos, artes, música, comunicação e sensi- bilidade das pessoas. Para HELOANI & CAPITÃO (2003), se o homem passa a maior parte de seu tempo trabalhan- 42 do, suas relações pessoais fora de casa deveriam ter um valor afetivo de extrema importância. No entan- to, as relações de companheirismo e de amizade no trabalho não se concretizam, pois elas são passagei- ras, imediatas, competitivas e as ligações afetivas, os vínculos não podem estabelecer-se, já que com cada alteração rompem-se os laços, perdem-se as pessoas e daí, além do castigo do desemprego, há a solidão, a perda irreparável. Durante muito tempo, o papel da psicologia organizacional, que recebeu inicialmente a nomen- clatura de “gestão de pessoal”, esteve associado à forma coerciva como a organização tratava os seus “trabalhadores”. Comenta Kühne (2010) que: Quando passou a preocupar-se verdadei- ramente com os colaboradores (“trabalhado- res”), a dar importância e reconhecer o mérito do talento humano, ocupando-se em desenvol- ver estratégias e programas para aquisição, de- senvolvimento, melhor uso e retenção dos recursos humanos, tendo por objetivo básico alinhar as políticas de RH com a estratégia dos negócios da organização, teve seu nome mudado para “gestão de recursos humanos”, tornando- -se mais popular e melhor aceita. 43 Corroborando com a importância da psicolo- gia organizacional, Fiorelli (2004, p.140), comenta que: ”...a pessoa traz à organização sua “baga- gem psicológica”, conhecimentos, características, preconceitos, experiências anteriores. A visão do mundo que desenvolveu acompanha-a no teatro organizacional, onde representará seus papéis.” Analisa Aubé & Rousseau (2005), que o com- prometimento da equipe com os objetivos é consi- derado central para o seu desempenho, a qualidade da experiência e a sua viabilidade. A esse respeito, o líder assume um papel fundamental, pois é responsá- vel por atribuir esses objetivos, favorecer o compro- metimento da equipe com eles e avaliar os resultados alcançados. A cultura organizacional da empresa vai estabelecer claramente quais são seus objetivos. Cattell (1975) considera que, ao se obter in- formações mais exatas a respeito das próprias capaci- dades e limitações, é possível dispor de uma base real para o próprio desenvolvimento e de uma verdadeira coordenação dos próprios recursos. Lamenta o fato de que muito “pouco se faz, mesmo por psicólogos, para ajudar a pessoa normalmente saudável a com- preender quais sejam suas capacidades e limitações, e seu potencial não utilizado, nos principais fatores 44 da personalidade e de habilidade” (p.348). GIL (2009, p. 42/43), conceitua cultura organizacional: Todas as organizações apresentam uma cultura organizacional que se caracteriza pelos valores que esposam, pela regularidade do com- portamento de seus membros, pela filosofia que guia suas políticas e pelo clima expresso tanto por seu layout físico quanto pela interação de seus membros entre si e com o público exter- no. Enquanto há empresas que valorizam, por exemplo, o uso do uniforme e enfatizam a con- formidade às normas, há outras que se caracte- rizam pelo estímulo à individualidade, pela au- tonomia de seus membros e pelo baixo nível de dependência em relação aos superiores. Abordar temas relacionados à cultura organizacional constitui um dos mais delicados empreendimentos no campo da administração, já que envolvem aspectos que as empresas mais valorizam, e que, muitas vezes, constituem a própria razão de sua existência. Cabe considerar, no entanto, que as empresas que promovem seu ajustamento cultural em relação às mudanças ambientais apresentam melhores condições para desenvolverem-se quando comparadas às mais rígidas em relação aos estímulos externos. 45 Corroborando com esses conceitos BANOV (2013, p. 25/26) diz que a cultura organizacional: Compõe-se de um conjunto de normas, regras, crença e valores que determinam como uma empresa é e como funciona, mostra como cada integrante da organização deve se compor- tar, apontando uma maneira de ser e de se fazer dentro da organização; define o envolvimento dos seus membros e cria um sistema de intera- ções. As pessoas adaptam-se a essa maneira de se comportar e ao modo de se fazer na organização e mudá-los significa mudar ou trocar as pessoas. [...] A cultura organizacional se forma a par- tir dos seus líderes fundadores e posteriormente dos administradores que a assumirão, daquilo que eles pensam, acreditam e valorizam. Seu de- senvolvimento ocorre ao longo do tempo. A cultura organizacional é considerada como um dos pontos fundamentais a ser tratado na mudança organizacional, podendo ser transmitida por meio de: - histórias: fatos acontecidos, que valorizam a organização e conhecidos por todos os colabora- dores e que são contados boca a boca; 46 - rituais: ações repetitivas que reforçam a cultura da organização; - heróis: funcionários padrões, que se desta- caram por algum motivo especial, modelos para os demais colaboradores da organização; - símbolos: podem ajudar na assimilação de novos valores da empresa ou órgão público; - linguagem: a formalidade ou a informali- dade no uso das palavras, as siglas e os jargões, que podem ser utilizados para a identificação dos mem- bros de uma cultura organizacional (BANOV, 2013, p. 27, 32/33). Segundo FREITAS, (1991, p. 75) a cultura organizacional é considerada uma linguagem funcio- nalizada, restando à aceitação dos funcionários da or- ganização, do que é oferecida e de como é oferecido. Geralmente, a mensagem conveniente para a organização transmitida, é objeto de aplauso, de adesão e de transmissão aos demais funcionários com naturalidade. Na maioria das vezes são trabalhados: os valores, as crenças e pressupostos; ritos; rituais e ce- rimônias; estórias e mitos; tabus; heróis; normas e processos de comunicação. Uma das conclusões de FREITAS (1991, p. 82) sobre cultura organizacional: O desenvolvimento e a sedimentação 47 de uma cultura organizacional “forte e coe- sa” busca restaurar perdas psicológicas nos indivíduos que nela trabalham, repondo um quadro de valores, crenças e pressupostos, orientador de um comportamento coletivo conveniente aos seus objetivos. De um modo geral, todas as conceituações de cultura organizacional são semelhantes, pois de- finem que todas as organizações possuem a própria, conforme a personalidade que foi sendo criada ao longo do tempo, a partir dos fundadores e dos fun- cionários, podendo ser fraca ou forte, partilhada e transmitida por meio de história. Para Hofstede (2001, p. 9) definiu cultu- ra como uma “programação coletiva da mente que distingue os membros de um grupo ou categoria de pessoas de outro”. Dentre as dimensões culturais propostas por esse autor, destacam-se o individualismo-coletivis- mo e a distância do poder por terem maior influên- cia sobre os comportamentos de membros de uma cultura (Torres, 1999). No coletivismo, as ideias centrais numa de- terminada cultura tendem a enfatizar a importância dos pontos de vista, necessidades ou objetivos do grupo de que se faz parte em detrimento dos indivi- 48 duais, bem como a prontidão para cooperar com os membros do grupo. No individualismo ocorre o oposto, pois os in- divíduos priorizam a sua realização pessoal, além de cul- tivar seu próprio julgamento (Miller & Schaberg, 2003). A distância do poder, por sua vez, diz res- peito a como as pessoas veem outras que têm mais poder e pode ser definida como a diferença entre o grauem que um chefe pode determinar o compor- tamento de um subordinado e a extensão, em que o subordinado pode determinar o comportamento do chefe (Smith, Bond & Kagitçibasi, 2006). Resumidamente, FREITAS, (1991) define cultura organizacional como comportamento coletivo dos funcionários e conveniente aos objetivos da orga- nização, para (BANOV, 2013) cultura organizacional é muito importante para a mudança organizacional e nas palavras de (CHIAVENATO, 1999), cultura orga- nizacional define a missão e estabelece os objetivos da organização e precisa estar alinhada ao planejamento, a organização, a direção e ao controle. 1.2.1. O Colaborador nas Organizações Vários são os estudos voltados ao ganho da organização, ao desenvolvimento das competências organizacionais. Ou seja, o foco principal são os re- 49 sultados da empresa, que são atingidos por meio do desenvolvimento das competências individuais de seus empregados. Nota-se, através dos estudos realizados, que muitos não dão a atenção necessária àquele que através de seus conhecimentos, habilidades e atitudes, faz com que a organização alcance seus objetivos, os colaboradores. Taylor (apud Heloani, 1994) formulou uma forma de organização do trabalho caracterizada pelo amplo funcionamento das tarefas e concomitante o monitoramento dos movimentos dos trabalhadores. Tal forma rígida de controle objetivava a eficiência como meta e princípio. O modelo de Taylor, por seu lado, foi aperfeiçoado por Henry Ford, que desen- volveu a concepção de linha de montagem. O trabalho configura-se como o represen- tante da força dos impulsos que o homem empre- ga para executá-lo, para poder ou não consumir o que foi por ele produzido, abrindo possibilidades de constituição de subjetividades, correspondentes a cada época histórica, que tem, por domínio, uma forma de produção. O conceito de competência trazido por Fleury e Fleury (2001), onde diz que esse modelo de gestão deve agregar valor econômico à organização e valor social ao colaborador, foi o ponto de partida para esse estudo, pois foi a partir daí que surge o 50 questionamento: será que, realmente, a Gestão por Competências agrega valor ao indivíduo? Para Adorno e Horkheimer (apud Rouanet, 1983:147): “a atrofia da imaginação e da espontanei- dade do consumidor cultural moderno não precisa ser reconduzida a mecanismos psicológicos”. Com o novo cenário empresarial, em busca de maior competitividade, lucratividade e qualidade, os profissionais devem ir além dos li- mites exigidos pelo seu cargo. E todo esse esfor- ço deve ser (re) compensado. Dejours (1992) afirma que executar uma tarefa sem envolvimento material ou afetivo exige esforço de vontade que em outras circunstâncias é suportado pelo jogo da motivação e do desejo. A vivência depressiva em relação ao trabalho e a si mesmo alimenta-se da sensação de adormecimento intelectual, de esclerose mental, de paralisia da fan- tasia e da imaginação; na verdade, marca de alguma forma o triunfo do condicionamento em relação ao comportamento produtivo e criativo. Comenta, ainda, Dejours (1992) no que diz respeito à relação do homem com o conteúdo signi- ficativo do trabalho, é possível considerar, esquema- ticamente, dois componentes: o conteúdo significa- tivo em relação ao sujeito, e o conteúdo significativo pode-se assim dizer, em relação ao objeto. Quando o progresso e o avanço dessa relação são bloqueados 51 por algum motivo ou circunstância, observa-se a in- cidência do sofrimento. A Gestão por Competências surge nesse ce- nário de grandes transformações, como uma subs- tituição para os modelos tradicionais de gestão de pessoas, tentando atender às necessidades das orga- nizações e dos colaboradores. Vivemos num mundo de rápidas transfor- mações. O colaborador deve reciclar todo momen- to. Para a implantação de um projeto é de extrema importância que as pessoas envolvidas na empresa estejam na mesma visão de comprometimento e ca- pacitação. Por esse motivo, a formação de pessoal é um dos requisitos de sucesso para qualquer projeto de inovação. Trata-se de uma preparação/ investi- mento para garantir o sucesso do programa. A principal preocupação, nesse momento, de mudanças deve ser com a valorização dos funcio- nários, levando em conta sua capacidade profissional e seu engajamento nas metas da empresa, pois, são eles quem coloca em prática e atingem os resultados esperados. É necessário que haja a valorização das pessoas e não os cargos que elas ocupam. Uma solu- ção para isso é identificar os funcionários com perfil empreendedor, com capacidade técnica e determi- nação e dar a eles oportunidades de capacitação e crescimento dentro da empresa. 53 Questões 1. Qual é o objetivo principal da Psicologia nas Organizações? 2. Qual é o apoio da Psicologia Organizacional? 54 3. Qual é o papel atual do psicólogo nas Organizações? 4. O que entendemos por Psicologia? 5. O que entendemos por Organizações? 55 6. Coloque (F) para as questões falsas e (V) para as verdadeiras nas questões a seguir: a. ( ) Se o homem passa a maior parte de seu tempo trabalhando, suas relações pessoais fora de casa deveriam ter um valor afetivo de extrema importância. No entanto, as relações de compa- nheirismo e de amizade no trabalho não se con- cretizam, pois elas são passageiras, imediatas, competitivas e as ligações afetivas, os vínculos não podem estabelecer-se, já que com cada alte- ração rompem-se os laços, perdem-se as pessoas e daí, além do castigo do desemprego, há a soli- dão, a perda irreparável. b. ( ) A cultura organizacional ou cultura cor- porativa é o conjunto de hábitos e crenças esta- belecidas através de normas, valores, atitudes e expectativas compartilhadas por todos os mem- bros da organização. c. ( ) Durante muito tempo o papel da psi- cologia organizacional, que recebeu inicialmente a nomenclatura de “gestão de pessoal”, esteve associado à forma coerciva como a organização tratava os seus “trabalhadores”. 56 d. ( ) No coletivismo, as ideias centrais numa determinada cultura não tendem a enfatizar a im- portância dos pontos de vista, necessidades ou objetivos do grupo de que se faz parte em de- trimento dos individuais, bem como a prontidão para cooperar com os membros do grupo. e. ( ) O trabalho não se configura como o re- presentante da força dos impulsos que o homem emprega para executá-lo, para poder ou não consumir o que foi por ele produzido, abrindo possibilidades de constituição de subjetividades, correspondentes a cada época histórica, que tem, por domínio, uma forma de produção.
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