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CENTRO UNIVERSITÁRIO - UNIFG MEDICINA CAMILA DOURADO PRADO CARLOS GUSTAVO GUIMARÃES LUIZ EDUARDO LIMA FERNANDES LAURENA SHIRLEI FRAGA DOS REIS ACESSO À COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA POR MULHERES ENCARCERADAS, DE BAIXA E MÉDIA RENDA GUANAMBI 2020 CAMILA DOURADO PRADO CARLOS GUSTAVO GUIMARÃES LUIZ EDUARDO LIMA FERNANDES LAURENA SHIRLEI FRAGA DOS REIS ACESSO À COLPOCITOLOGIA ONCÓTICA POR MULHERES ENCARCERADAS, DE BAIXA E MÉDIA RENDA. Artigo científico apresentado ao curso de Medicina do Centro Universitário FG- UNIFG, como um dos pré requisitos para a avaliação da disciplina de Ética e Cidadania Professor: Joscimar Silva GUANAMBI 2020 2 SUMÁRIO Introdução e resumo----------------------------------------------------------------------------- 3 Referencial teórico-------------------------------------------------------------------------------- 3 Análise do acesso à saúde -------------------------------------------------------------------- 5 Considerações finais ---------------------------------------------------------------------------- 9 Referências------------------------------------------------------------------------------------------10 3 Introdução e resumo: O acesso à saúde está incluso no rol dos direitos fundamentais previsto na Constituição Federal de 1988 no artigo 196 “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” A Organização Mundial de Saúde corrobora a importância desse bem, referindo-se à saúde como “ um estado de completo bem estar físico, mental e social”, não sendo apenas a ausência de doença ou enfermidade. Seguindo esta ideia, o desenvolvimento de exames preventivos ocupam uma posição de grande relevância para o público feminino. O papanicolau, também chamado de colpocitologia oncológica, é um exame que consiste no esfregaço de células oriundas da ectocérvice e da endocérvice, que são extraídas por raspagem do colo do útero, e representa o instrumento mais adequado, prático e de baixo custo para o rastreamento do câncer de colo de útero, infecções vaginais e doenças sexualmente transmissíveis (AGUILAR;SOARES, 2010). Nesse contexto, grande parte das mulheres encarceradas, de baixa e média renda, não possuem acesso ou desconhecem a importância da Colpocitologia Oncológica. No Brasil, segundo estimativas nacionais, cerca de seis milhões de mulheres entre 35 e 49 anos nunca realizaram o exame papanicolau (BRASIL, 2002), constituindo um grande problema social. Nesse contexto, o artigo foi feito com intuito de expor as principais causas de resistência da população feminina em aderir o exame do papanicolau, utilizando como base dados estatísticos extraídos de estados brasileiros juntamente com o uso de obras teóricas que se aplicam ao meio social. Ao longo da literatura, fica evidente a importância desse exame no combate ao câncer de colo de útero, o que demonstra a necessidade de trabalhar o tema em sociedade para que haja um maior conhecimento e posterior adesão por parte das mulheres que passarão a entender a seriedade da realização periódica da colpocitologia oncótica. Referencial Teórico: A cultura se baseia no estilo de vida comum de uma determinada população, tendo relação direta na saúde dos indivíduos. Desse modo, entende-se que a cultura tem 4 impacto direto na adesão ou não de ideias coexistentes na sociedade, como no caso da colpocitologia oncológica, que muitas mulheres não realizam por inúmeros motivos: Dentre as razões para a não realização desse exame no país, destacam-se: a representação e o conhecimento acerca da doença, presença de pudores, tabus, medo, a dificuldade no acesso aos serviços de saúde e a qualidade dos mesmos, além de condições socioeconômicas e culturais (FERNANDES et al., 2009; RICO; IRIART, 2013; SOUSA et al., 2008). Sendo assim, o papanicolau constitui-se como importante e desconhecido exame pela maioria da população de baixa e média renda, como demonstrado nos dados obtidos através de pesquisas realizadas nos estados da Paraíba e da Bahia. Na Bahia a adesão do papanicolau é de 29%, enquanto na Paraíba chega a cerca de 75% de regularidade (BARONI, 2018, SP). Tratando disso, as obras ‘’Cultura um Conceito Antropológico’’ de Roque de Barros Laraia e “ Relativizando: uma introdução à antropologia social” de Roberto DaMatta, reforçam a diversidade cultural na adesão ou não de preceitos presentes na sociedade: “Mesmo quando entre dois inventores simultâneos existe a separação da diversidade cultural, a explicação é muito simples para alguns tipos de problemas existem determinadas limitações de alternativas que possibilitam que invenções iguais ocorram em culturas diferentes’’(LARAIRA, 2001 p.25-26). Nesta perspectiva, procuro mostrar como o uso das teorias deve ser realizado quando ele serve como um instrumento para desvendar o mundo, no caso, o mundo social.(DAMATTA, 1981 p.4). A não realização do preventivo por cerca de 52% das mulheres no Brasil pode ser explicado pela Alegoria da Caverna de Platão no trecho ‘’seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com 5 a escuridão ‘’ (MARCONDES,D. A República) visto que o acesso gratuito e integral à saúde em um contexto histórico foi adquirido em um tempo muito recente e como tratado na citação, os olhos dos que saíram da caverna ainda não se recompuseram do sol, ou seja, nem toda a sociedade entende e faz uso do serviço de saúde ofertado gratuitamente pelo SUS. É sabido que a religião influencia no modo com o que a pessoa cuida de sua própria saúde, como afirma Aristóteles em “ Ética a Nicômaco” : “ação e toda escolha, têm em mira um bem qualquer.” Sendo assim, pesquisas apontam que a maioria dos pacientes coloca a religião a frente da orientação médica, dificultando ou impedindo a realização de procedimentos diagnósticos, como mamografia, papanicolau, transfusão sanguínea ou mesmo o simples corte de cabelo no combate a piolhos, o que impacta de forma negativa nas práticas do cuidado. Nesse contexto, em “Ética de Princípios”, Rubem Alves reflete: “A ética contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou o mal que uma ação irá criar”. É importante ressaltar que o exame preventivo, deve ser oferecido a todas as mulheres, incluindo presidiárias, direito resguardado pela Lei 913/19, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) no dia 17/10/2019, pela deputada Alana Passos do PSL (PASSOS, 2019, RJ). A Lei também garante realização de outros exames ginecológicos às detentas, e essa promoção de direitos condiz com o senso de Aristóteles, que acreditava que a justiça e vida boa devem estar ligadas (SANDEL, 2015 p.183);. Além disso, o direito à saúde é garantidona Constituição Federal de 1988 e pelo simples exercício da cidadania, quando se fala sobre direitos sociais, civis e políticos. Os direitos sociais garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. (CARVALHO, 2002 p. 8). Análise do acesso à saúde: Câncer de colo do útero é um tumor que se desenvolve a partir de alterações celulares nesta região, constituindo causa de morte evitável quando diagnosticado precocemente. Acomete mulheres na faixa etária reprodutiva, concentrando-se naquelas com idade acima de 35 anos, com pico máximo de incidência entre 45 e 49 anos, no entanto, tem sido observado um aumento da ocorrência em mulheres mais 6 jovens. A detecção precoce do câncer de colo de útero por meio da realização efetiva do papanicolau produz um impacto significativo na redução das taxas de morbimortalidade em cerca de 90%. Nesse contexto, a não realização da Colpocitologia Oncológica é uma barreira em si tratando de ações para a promoção e a prevenção da saúde feminina. Sendo assim, a enfermidade passa a ser diagnosticada em estágios avançados quando alguns sintomas como dor e corrimento sanguinolento passam a ser frequentes, realidade majoritária em países subdesenvolvidos e em mulheres encarceradas. Figura 1:Série histórica das taxas de incidência de câncer de colo do útero porção não especificada (C55) em capitais selecionadas – Brasil, 1990–2004 (AYRES; SILVA; GUIMARÃES 2013, p. 4). O gráfico acima evidencia a incidência do câncer de colo de útero com o passar dos anos em Fortaleza, Recife, Porto Alegre e São Paulo. Seguindo o contexto da última citada, é possível perceber os picos da enfermidade nos anos de 2001 e 2002 e sua posterior redução com um seguinte aumento dos números no ano de 2004, principalmente entre mulheres com idade aproximada de 35 a 49 anos e também entre mulheres de 50 a 59 anos. Paralelamente ao pico apresentado na cidade de São Paulo, as cidades de Recife e Porto Alegre reduziram a incidência significativamente. 7 Figura 2: Série histórica das taxas de incidência de câncer de colo de útero invasor (C53) em capitais selecionadas – Brasil, 1990–2004 (AYRES; SILVA; GUIMARÃES 2013, p. 4). 8 Figura 3: Série histórica das taxas de incidência de câncer do colo do útero in situ (D06) em capitais selecionadas – Brasil, 1990–2004– Brasil, 1990–2004 (AYRES; SILVA; GUIMARÃES 2013, p. 4). O gráfico da figura 2 apresenta a redução da incidência do câncer de colo de útero invasor,enquanto o gráfico da figura 3 apresenta o aumento da incidência do câncer do colo do útero in situ, ou seja, em seu estágio inicial. É possível perceber que o aumento e a diminuição da incidência em ambos os gráficos acontece em todas as cidades: Porto Alegre, Recife, São Paulo e Fortaleza e tal resultado pode ser relacionado com a teoria de Laraia, uma vez que em frente a determinado impasse é possível existir ações semelhantes em culturas distintas, como no caso das medidas adotadas para a prevenção do câncer de colo. Como já explicitado anteriormente, a colpocitologia oncológica não é realizada por motivos que vão desde a dificuldade de acesso ao sistema de saúde à insegurança, o medo, a vergonha e a falta de tempo da paciente, como é explicitado na figura 4. Figura 4. Motivos relacionados à não realização do Papanicolaou (AZEVEDO; et al, p. 2) Como observado, a vergonha é o maior dificultador para a realização do papanicolau, ganhando da falta de empenho avaliada em uma porcentagem de 40% e o medo que consta apenas em uma porcentagem de 12%. Vale ressaltar que a dificuldade acesso, nesta pesquisa, não constou como um dos motivos para a não realização do exame preventivo. 9 Outro aspecto importante é a negligência quanto a realização do Papanicolau, explicado pelo fato de as mulheres, mesmo conhecendo a importância do exame, não aderem a prática regularmente. Segundo a pesquisa, 45% das mulheres realizam o exame em um intervalo de mais de 3 anos, enquanto apenas 16% das mulheres, seguem a recomendação da OMS de realização anual do exame, conforme a figura abaixo aponta. Figura 5. Intervalo de tempo decorrido do último citológico (AZEVEDO; et al, p. 3) Sendo assim, fica evidente a pouca visibilidade da população feminina encarcerada e de baixa renda quando o assunto é saúde, deixando intrínseco o pouco interesse das organizações responsáveis em incluir essa parcela da população nos cuidados com a saúde, contrariando as afirmações presentes na constituição e o senso de Aristóteles apresentados na obra de Sandel ‘’Justiça o que é fazer a coisa certa’’. Considerações Finais Ao longo da leitura, fica evidente a importância da Colpocitologia Oncológica no rastreamento precoce do câncer de colo de útero nos mais diversos níveis de atenção, demonstrando a necessidade de investimento para a adesão deste exame na população feminina, uma vez que a doença diagnosticada precocemente pode ser tratada mais facilmente, enquanto nos estágios avançados acaba causando complicações mais severas na vida da mulher. O preventivo deve ser disponibilizado e oferecido a todas mulheres, sendo necessário a divulgação da importância do exame e estratégias para fazer as mulheres aderirem a esse tratamento, uma vez que, o maior dificultador da realização do exame em nível nacional, é a não adesão e a não realização do exame pelas próprias mulheres, que não possuem o devido 10 conhecimento sobre o procedimento, importância clínica, e impacto do diagnóstico precoce. Além dos pontos referidos, é válido destacar que a questão do preventivo é caracterizado como um ponto tanto do campo da saúde quanto um fator sociocultural, uma vez descrito e relacionado nas obras de Laraia e Roberto DaMatta e na pesquisa de Baroni. A junção entre esses conceitos traz a tona uma visão holística acerca do procedimento e da saúde da mulher no geral. Referências: AYRES, SILVA, GUIMARÃES, Tendência da incidência de câncer do colo do útero invasor em quatro capitais brasileira: dados dos registros de câncer de base populacional, Cadernos Saúde Coletiva, Rio de Janeiro 2013. RICO, IRIART, Tem mulher, tem preventivo: “sentidos da práticas preventivas do câncer do colo do útero entre mulheres de Salvador, Bahia, Brasil, Instituto de Saúde coletiva, Universidade Federal da Bahia, Salvador , 2013. ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco; Poética/ Aristóteles; seleção de textos de José Américo Motta Pessanha ---4 ed--- São Paulo: Nova Cultural,1991. AGUILAR, SOARES, Barreiras à realização do exame Papanicolau: perspectivas de usuárias e profissionais da Estratégia de Saúde da Família da cidade de Vitória da Conquista-BA, Revista da Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2015. BARONI, Pesquisa diz que 52% das mulheres não fazem exame ginecológico preventivo,Disponível:https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/201 8/01/11/52-das-brasileiras-nao-realizam-exame-ginecologico-preventivo.htm. Acesso: em 19/11/2020. AZEVEDO, CAVALCANTE, CAVALCANTE, ROLIM, Fatoresque influenciam a não realização do exame de Papanicolau e o impacto de ações educativas. Faculdades Integradas de Patos, Belo Horizonte, 2016. https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2018/01/11/52-das-brasileiras-nao-realizam-exame-ginecologico-preventivo.htm https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2018/01/11/52-das-brasileiras-nao-realizam-exame-ginecologico-preventivo.htm 11 A Alegoria da caverna: A Republica, 514a-517c In: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos Présocráticos a Wittgenstein. 2a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
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