Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A�trit� Reumatoid� Definição A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune que ataca principalmente as articulações, produzindo uma sinovite proliferativa não supurativa e inflamatória. Epidemiologia - A AR afeta cerca de 0,5 a 1% da população mundial de adultos. - Como muitas outras doenças autoimunes, a AR ocorre mais comumente em mulheres do que em homens, em uma proporção de 3:1 - Pode afetar indivíduos de todas as idades, sendo o final dos anos reprodutivos a faixa etária típica de início da doença das mulheres (30 a 50 anos de idade); nos homens, a AR começa mais comumente entre a sexta e a oitava décadas de vida. - Tabagismo é o principal fator de risco modificável. Etiopatogênese A artrite reumatóide é caracterizada pela perda da autotolerância, decorrente tanto de variações genéticas como de fatores ambientais. O resultado dessa perda da autotolerância é a ativação aberrante de respostas imunes inata e adaptativa, o que resulta em hiperplasia sinovial e destruição óssea. Entre as variações genéticas destacam-se as variantes alélicas no gene codificador da cadeia beta do HLA-DR (HLA-DRB1), as quais codificam uma sequência de aminoácidos, conhecida como epítopo compartilhado (EC). A presença do EC nas células apresentadoras de antígeno se relaciona à seleção de linfócitos T autorreativos, à apresentação antigênica, à alteração da afinidade peptídica, à mímica molecular com antígenos microbianos e à aceleração da apoptose linfocitária. Entre os fatores ambientais destacam-se o tabagismo, as infecções, a periodontite e as alterações do microbioma intestinal, capazes de induzir a produção de enzimas como a peptidil arginina deiminase tipo IV (PAD4), responsáveis por alterar peptídeos próprios ao transformar resíduos de arginina em citrulina, o que resulta no aparecimento de neoepítopos, não encontrados pelo timo durante o desenvolvimento inicial e, A�trit� Reumatoid� consequentemente, o aparecimento de anticorpos anti-CCP (anti-peptídeo citrulinado cíclico). Quadro clínico - Rigidez matinal nas articulações que dura mais de 1 hora e melhora com a atividade física. - Artrite crônica (pelo menos 6 semanas de duração). - Poliartrite (na maioria das vezes). - Geralmente de caráter simétrico. - Frequentemente afeta as mãos (punho, metacarpofalângicas e interfalângicas proximais). - Outras articulações também são acometidas (pés, joelhos, ombros, tornozelos). - É muito incomum afetar as interfalângicas distais. - Pode ocorrer fadiga, anorexia, perda de peso e mialgia. - Em pacientes com doença mais avançada e fator reumatóide positivo, encontram-se nódulos reumatóides subcutâneos em superfície extensora de cotovelos e dedos das mãos. - Dedo em pescoço de cisne e em botoeira, desvio ulnar do carpo e atrofia de interósseos são sequelas da doença sem controle. As manifestações extra-articulares geralmente estão associadas à positividade do fator reumatoide e anti-CCP e incluem: - Ceratoconjuntivite seca (parte da síndrome de Sjögren, muito associada à AR). - Pioderma gangrenoso. - Episclerite. - Esclerite. - Escleromalácia. - Mononeurite múltipla. - Síndrome do túnel do carpo. - Subluxação C1-C2 levando a mielopatia. - Síndrome de Felty (esplenomegalia, neutropenia e artrite reumatoide). - Cisto de Baker. - Derrame pleural. - Nódulos pulmonares, geralmente subpleurais. - Doença intersticial. - Pericardite. - Amiloidose renal. - Vasculite reumatoide. Diagnóstico A suspeita inicia a partir da constatação de envolvimento poliarticular simétrico e acompanhado de rigidez matinal prolongada (> 1 hora). Outros indicativos da doença são: artrite de três ou mais regiões (principalmente mãos/punhos e pés) por mais de seis semanas, presença de marcadores inflamatórios (VHS e/ou PCR) e imunológicos (FR e/ou ACPA) alterados, além de exames de imagem (US/RM), confirmando a presença do processo inflamatório subjacente. Deve-se lembrar que os critérios classificatórios de AR, propostos pelo A�trit� Reumatoid� ACR-EULAR em 2010, embora úteis na avaliação de um paciente, não devem ser empregados com fins de diagnóstico. Tratamento ⇒ Anti-inflamatórios não Esteroides - Alívio dos sintomas. - Não provocam alterações no processo patológico básico. ⇒ Glicocorticoides - Potente ação anti-inflamatória. - Ideais para ajudar no controle da inflamação da AR, enquanto a maioria dos MARMDs, de ação muito mais lenta, está começando a funcionar. - Sempre que possível, e de maneira lenta, a dose do esteroide deve ser reduzida e suspensa, embora alguns pacientes necessitem de uma dose pequena de manutenção por período prolongado e variável. - Doses maiores de glicocorticoides podem ser necessárias para manifestações extra-articulares,especialmente para vasculite e esclerite. - Em todos os pacientes em uso de glicocorticoides, a prevenção da osteoporose é fortemente recomendada. - As infiltrações com glicocorticoides estão indicadas para os casos de mono ou oligoartrites persistentes. ⇒ DMARD (disease-modifying antirheumatic drug) ou MARMDs (Medicamentos Antirreumáticos Modificadores da Doença) - São um grupo de fármacos que têm a capacidade de parar o processo da doença na sinóvia e modificar ou alterar o potencial de deformidade da AR. ● Metotrexato (MTX) - Por meio da inibição das enzimas folato-dependentes, principalmente da AICAR T’ase, reduz o acúmulo de leucócitos nos sítios inflamatórios e interfere na síntese das interleucinas, principalmente IL-1 e IL-6, e do TNF-alfa. ● Antimaláricos - Apresentam efeitos anti-inflamatórios com a inibição da síntese de IL-1, a proliferação de linfócitos e a apresentação e o processamento de antígenos. - Os antimaláricos inibiriam a ação de determinadas enzimas proteolíticas pela alteração do pH do interior de organelas lisossomais. - Exemplos: difosfato de cloroquina e hidroxicloroquina. ● Sulfassalazina - Tem importantes efeitos anti-inflamatórios e imunomoduladores, inibindo a síntese de IL-1-alfa e IL-1-beta e TNF-alfa, a proliferação de A�trit� Reumatoid� células B e a migração de leucócitos. ● Leflunomida - É um inibidor de síntese de pirimidina que reduz a proliferação de células T por meio do seu metabólito ativo, a teriflunomida. ⇒ Agentes biológicos - Bloqueadores de TNF: adalimumabe, etanercepte, infliximabe, certolizumabe e golimumabe - Depletor de linfócito B: rituximabe - Bloqueador da coestimulação do linfócito T: abatacepte - Bloqueador do receptor de IL-6: tocilizumabe. Referências PINTO, Maria Raquel da Costa et al. Artrite Reumatoide. In: CARVALHO, Marco Antonio P. et al. Reumatologia: diagnóstico e tratamento. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. Cap. 21. p. 327-352. MOTA, Licia Maria Henrique da et al. Artrite reumatoide. In: SHINJO, Samuel Katsuyuki; MOREIRA, Caio (ed.). Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2021. Cap. 21. p. 138-156.
Compartilhar