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SUMÁRIO 1. Introdução e Definição ............................................. 3 2. Epidemiologia .............................................................. 3 3. Etiologia ........................................................................ 3 4. Fisiopatologia .............................................................. 5 5. Quadro Clínico ............................................................. 7 5. Diagnóstico ................................................................12 6. Tratamento .................................................................17 Referências bibliográficas: ........................................21 3ARTRITE REUMATOIDE 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO CONCEITO! A artrite reumatoide (AR) é uma doença crônica sistêmica, de etio- logia desconhecida, caráter autoimune e cujo alvo primário são as articulações, cujo padrão de acometimento é simétri- co, aditivo e periférico. Apesar do forte acometimento articu- lar, a doença é de caráter sistêmico, podendo acometer pulmões, pleura, coração, vasos sanguíneos e outros órgãos do corpo. Além disso, sua epi- demiologia com maior prevalência em adultos de 30 a 50 anos acarreta um forte impacto econômico, uma vez que atinge indivíduos em idade pro- dutiva. Também existe o agravante de que, devido a seu caráter autoimune, é muito frequente que portadores de- senvolvam também outras doenças autoimunes – como lúpus eritemato- so sistêmico, tireoidite de Hashimoto, esclerose sistêmica, etc – o que afeta significantemente a qualidade de vida e intensifica o impacto econômico. 2. EPIDEMIOLOGIA A artrite reumatoide é a mais comum das artropatias inflamatórias crôni- cas: afeta cerca de 1% da população mundial, sendo mais predominante em mulheres e na faixa etária dos 30 aos 50 anos. Sua incidência aumenta até a quinta década de vida, a partir da qual se estabiliza. Alguns grupos étnicos e geográfi- cos podem ser mais ou menos afe- tados pela AR. Foi identificado em estudos de coorte que algumas popu- lações rurais da Nigéria não possuem nenhum caso identificado de AR, en- quanto a prevalência em certas tribos norte-americadas chegaram a 5%. O fator hormonal tem sido também associado ao desenvolvimento de AR. Como já mencionamos, a pre- valência entre mulheres é de duas a três vezes maior do que em homens. Alguns estudos realizados na Améri- ca Latina chegaram a identificar uma razão entre a prevalência em mulhe- res e em homens de 5:1 a 6:1. Além disso, o uso de anticoncepcional pa- rece conferir um fator protetor contra a doença. [inserir imagem slide 9] 3. ETIOLOGIA A AR é caracterizada como uma res- posta imune sistêmica contra antíge- nos ainda não elucidados. Apresenta etiologia multifatorial: a predisposição genética é importante e pode repre- sentar 60% do risco de desenvolver a doença, mas o caráter ambiental também possui um papel impor- tante. A associação de certos alelos HLA, em especial o HLA-DR4, com maior 4ARTRITE REUMATOIDE risco de AR e de doença mais grave já foi identificada, sendo explicada por uma sequência de aminoácidos em uma região hipervariável da ca- deia DRB1. A cadeia HLA-DR fica na superfície das células apresentadoras de antígeno e permitem aos linfócitos T reconhecerem o antígeno apresen- tado no DR. A sequência de amino- ácidos associada à AR se denomina epítopo compartilhado ou alelo de risco. Indivíduos com duas cópias do epítopo compartilhado apresentam doença mais grave e com mais mani- festações extra-articulares, especial- mente aqueles com HLA-DR4. O epí- topo compartilhado se liga de forma mais intensa às proteínas nas quais a arginina foi convertida em citrulina. Outra possível explicação para a as- sociação entre o epítopo compartilha- do e a AR é o mimetismo molecular entre o epítopo compartilhado e pro- teínas microbianas, o aumento do en- velhecimento de linfócitos T induzido por moléculas de HLs contendo epí- topo compartilhado e uma potencial sinalização pró-inflamatória. Existe ainda o componente hormo- nal, que confere um risco maior de desenvolvimento da AR em mulhe- res, tendo associação com as pílulas anticoncepcionais. Dentre outros fa- tores ambientais, temos o tabagismo e substâncias irritativas para o tecido pulmonar – resultando na alteração da citrulinação de proteínas da muco- sa, a exposição a alguns vírus e pató- genos: Epstein-barr, parvovírus B-19, M. tuberculosis, E. coli e P. mirabilis. O contato com esses patógenos pode induzir a formação de complexos imunes, que desencadeiam a produ- ção do fator reumatoide – um anticor- po de alta afinidade com a porção Fc da imunoglobulina. Além disso, hoje reconhece-se o pa- pel da microbiota intestinal em induzir auto-imunidade, bem como o papel de eventos estressantes no desen- volvimento da doença: o eixo hipo- tálamo-hipófise-adrenal possui asso- ciação com a produção de citocinas, interferindo diretamente na resposta imune. O SNC parece estar direta- mente envolvido na regulação imu- nológica e na homeostase. 5ARTRITE REUMATOIDE 4. FISIOPATOLOGIA O desequilíbrio entre as citocinas pró- -inflamatórias e as anti-inflamatórias desempenham um papel importante na doença: interleucinas e fatores de crescimento promovem a diferencia- ção de células Th17, suprimindo a di- ferenciação de células T reguladoras. Isso promove um status pró-inflamató- rio que contribui para a manutenção da autoimunidade e destruição articular. O alvo-primário da doença é a mem- brana sinovial, formada por tecido conjuntivo frouxo e camadas de cé- lulas internas. Esse ataque às células sinoviais as torna mais espessas por proliferação celular de sinoviócitos e pela invasão de células do sistema linfo-hematopoiético. Há ainda hiper- plasia e proliferação vascular, neo- angiogênese e infiltrado inflamatório intenso. MAPA MENTAL ETIOLOGIA Etiologia HLA-DR4 Genética Resposta imune sistêmica Eventos estressantes Microbiota intestinal Infecções Epítopo compartilhado (“shared epitope”) Formação de complexos imunes Se liga mais intensamente às proteínas Mimetismo molecular com proteínas microbianas Envelhecimento precoce de células T 6ARTRITE REUMATOIDE Ainda na região da membrana sino- vial, forma-se um tecido granulomato- so com células gigantes, fibroblastos e macrófagos denominado pannus. Esse tecido pode invadir e induzir de- gradação do tecido conjuntivo, perda de condrócitos e erosões ósseas, por meio da estimualação da sobrevida de osteoclastos sobre a matriz óssea. Há abundância de células TCD4+ nos folículos linfoides sinoviais, enquando TCD8+ são mais numerosos nos neo- vasos. Há ainda menos células B nas camadas sinoviais profundas. Essas células, em sua maioria, estão ativa- das expressando o MHC II e recepto- res de TNF-alfa, bem como secretan- do citocinas pró-inflamatórias. Estas, especialmente o TNF-alfa (que, aliás, inibe as células T regulatórias) e as IL- -1-beta e IL-6, são as principais res- ponsáveis pela inflamação crônica. O líquido sinovial tem aumento de vo- lume e celularidade, com abundância de polimorfonucleares – raramente encontradas no tecido sinovial nor- mal, bem como células T, macrófagos, células dendríticas e células B. Células do sistema imune inato tam- bém exercem papel na inflamação. Macrófagos, mastócitos e células NK são encontradas na membrana si- novial; enquanto neutrófilos são en- contrados principalmente no fluido sinovial. Macrófagos são os efetores principais da sinovite. Eles liberam citocinas, in- termediários reativos de oxigênio e nitrogênio, produzem enzimas que degradam a matriz celular, além de fazerem fagocitose e apresentação de antígenos. São ativados por re- ceptores toll-like e citocinas. Já os neutrófilos contribuem para a sinovite por meio da síntese de pros- taglandinas, proteases, e reativos in- termediários de oxigênio. Mastócitos – ativados pelos receptores de toll- -like – que produzem altos níveis de aminas vasoativas, citocinas, quimio-cinas e proteases também exercem papel. 7ARTRITE REUMATOIDE 5. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico da artrite reumató- ide é clássico e caracterizado princi- palmente por artrite simétrica e adi- tiva das articulações periféricas. Com frequência há sinais flogísticos nas articulações – dor, edema, rubor e al- teração da temperatura. Os sintomas são mais intensos pela manhã logo ao acordar e após longos períodos de inatividade. Esses sintomas persistem por mais de uma hora (rigidez matinal prolongada), sendo que a duração está positivamente associada com o grau de inflamação articular. É importante MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA Fisiopatologia Resposta Th17 Alvo primário = membrana sinovial Supressão de T-reg Status pró- inflamatório Pannus Neoangiogênese Infiltrado inflamatório Proliferação de sinoviócitos Invasão de células do sistema imune/ hematopoiético Hiperplasia e proliferação vascular Erosões ósseas Perda de condrócitos Líquido sinovial Aumento de volume e celularidade 8ARTRITE REUMATOIDE saber essas características pois um dos diagnósticos diferenciais de AR é a osteoartrite, sendo que esta não cur- sa com rigidez matinal prolongada. Figura 1. Principais articulações acometidas pela AR. Fonte: Medicina Interna – Cecil, 25ed. As mãos são envolvidas na grande maioria dos casos, afetando particu- larmente os punhos, metacarpofa- langeanas (MCF) e interfalangeanas proximais (IFP). Convém pontuar que muito raramente a AR envolve as interfalangeanas distais (IFD) e seu acometimento deve levantar suspei- ta de diagnósticos diferenciais, como a artrite psoríaca. Outra articulação muito frequentemente acometida é a metatarsofalangeana (MTF). No en- tanto, qualquer articulação sinovial (diartrodial) pode ser afetada. Essas articulações citadas são então suce- didas do acometimento dos joelhos, cotovelos, tornozelos, quadris e om- bros, aproximadamente nessa ordem. Menos frequente e mais tardiamen- te no curso da doença, pode haver acometimento das articulações tem- poromandibulares, cricoaritenoides e esternoclaviculares. Além disso, ape- sar de a AR quase sempre poupar a coluna axial, podem ser afetadas as articulações C1-C2 – enquanto o res- to da coluna é preservado. Manifestações articulares As mãos são a principal área de aco- metimento. Classicamente, inicia-se com edema das MCF’s e IFP’s. Na do- ença mais avançada, desenvolvem-se deformidades nessa região: desvio ul- nar, dedos em pescoço de cisne (hi- perextensão das IFP’s) e em bouton- nière (hiperextensão das IFP’s) podem se deselvolver secundários a inflama- ção articular de longo prazo. Ruptura de tendão pode acontecer e gerar sin- tomas abruptos de perda de função, requerendo abordagem cirúrgica. Nos pés, as articulações MTFs são particularmente acometidas no cur- so inicial da doença, com erosões ra- diográficas surgindo antes ou junta- mente às das mãos. Subluzação dos 9ARTRITE REUMATOIDE artelhos pode ocorrer, com posterior ruptura e ulceração cutânea. A loco- moção pode tornar-se dolorosa uma vez que é perdido o coxim gorduroso que protege as articulações MTFs. Em relação aos punhos, há compro- metimento na maioria dos pacientes com AR e o desvio radial é frequente. Além disso, pode haver síndrome do túnel do carpo secundária à compres- são do nervo mediano devido ao ede- ma articular. Já o envolvimento das grandes arti- culações, como joelhos, tornozelos, quadris e ombros é comum. A super- fície articular é totalmente afetada si- metricamente. Ou seja, tanto o aco- metimento da articulação é simétrico como também a superfície articular é acometida simetricamente. Isso é uma pista para a diferenciação entre AR e osteoartrite: nesta, apenas um dos lados da articulação está afetado, ao passo que o acometimento na AR é bilateral. Figura 2. Radiografia dos joelhos na artrite reumatoide (à esquerda) e na osteoartrite (à direita). Fonte: Medici- na Interna – Cecil, 25ed. Cistos sinoviais podem ocorrer em qualquer articulação e resultam do acúmulo de líquido sinovial. Quando localizado no joelho, chama-se tam- bém Cisto de Baker e sua ruptura pode imitar um quadro de trombofle- bite, sendo por isso também chama- do de pseudotromboflebite. Uma das articulações cuja afecção pela AR merece cuidado são as cer- vicais. Embora o esqueleto axial seja geralmente poupado, pode haver acometimento das articulações C1- C2. A subluxação pode ocorrer e cos- tuma ser assintomática, contudo, em casos de comprometimento da colu- na cervical, pode levar a óbito. As articulações cricoaritenoides, quando atingidas, podem causar sen- sação de plenitude, volume na gar- gante, rouquidão e, em casos graves, obstrução respiratória aguda alta. Manifestações extra-articulares Dentre as manifestações extra-arti- culares, temos alguns sintomas ines- pecíficos, como fadiga, perda ponde- ral e febre baixa, que respondem ao tratamento da doença. Em órgãos específicos, há manifestações carac- terísticas, como adiante: Pele: nódulos subcutâneos (20% dos pacientes), quase exclusivamente na- queles com FR positivo. Apresentam consistência firme à palpação e são geralmente indolores. Acredita-se 10ARTRITE REUMATOIDE que se devam a vasculite de peque- nos vasos. A vasculite de pequenos vasos pode ocorrer como infartos digitais ou vas- culite leucocitoclástica, requerendo tratamento mais agressivo. Por fim, o pioderma gangrenoso atinge com frequência portadores de AR. Figura 3. Nódulos Reumatoides. Fonte: Medicina Inter- na – Cecil, 25ed. Coração: apesar do envolvimento cardíaco ser pouco comum, pacientes com AR possuem risco cardiovascu- lar aumentado – o que se acredita ser devido a inflamação crônica. No mais, derrames pericárdicos são comuns, mas costumam ser assintomáticos. Pode ainda ocorrer pericardite, doen- ça valvar e nódulos nos anéis valvares. Pulmão: derrames pleurais, nódulos reumatoides e doença parenquimato- sa pulmonar. O líquido pleural na AR é caracterizado por baixos níveis de glicose e de pH. Os nódulos em geral são sólidos mas podem se calcificar, gerando infecções ou cavitações. Fi- brose intesticial difusa acontece na AR e, raramente, bronquiolite oblite- rante. SAIBA MAIS! A Síndrome de Caplan (ou pneumoconiose reumatoide) é uma condição rara que pode ser diagnosticada entre trablhadores expostos à silica. A definição classica da doença é a pre- sença de nódulos reumatoides nos pulmoes, inependente de outros achados pulmonares e a presença ou não de um quadro de artrite reumatoide em atividade. Para saber mais, o Jor- nal Brasileiro de Pneumologia tem um ótimo material: Capitani EMD, Schweller M, Silva CM, Metze K, Cerqueira MFP, Bértol MB. Pneumoconiose reumatoide (síndrome de Caplan) com apresentação clássica. J Bras Pneumol. 2009;35(9):942-946 Olhos: a manifestação mais comum é a ceratoconjutivite seca (olho seco), devido a síndrome de Sjögren se- cundária. Esclerite pode ocorrer e ser dolorosa. Episclerite, escleromalacia perforans e ceratopatia ulcerativa periférica são outras manifestações oftalmológicas da AR. 11ARTRITE REUMATOIDE Figura 4. Escleromalacia perforan. https://eyerounds. org/atlas/pages/Scleromalacia-perforans/index.htm Neurológico: as síndromes compres- sivas dos nervos periféricos, como a síndrome do túnel do carpo ou do tarso são comuns. Vasculites podem causar neuropatia em bota ou em luva, ou mononeurite lúpica. Subluxação de C1-C2 pode causar mielopatia. SAIBA MAIS! A Síndrome de Felty é formada pela tríade de AR, esplenomegalia e neutropenia. Acontece em pacientes com AR grave e FR/ACPA positivo, podendo ocorrer juntamente com hepato- megalia, trombocitopenia, linfadenopatia, etc. Em geral, não requer um tratamento especial além do tratamento da AR grave. A esplenecto- mia pode ser indicada em casos selecionados de infecções recorrentes devidas a neutropenia grave. MAPA MENTAL QUADRO CLÍNICO Manifestações articularesSimétrica Manifestaações extra-articularesC1-C2 Aditiva Majoritariamente periférica Poliartrite Neurológico: síndrome compressiva (do túnel do carpo/do tarso), neuropatia, mononeurite lúpica, mielopatia. Olhos: ceratoconjutivite seca, episclerite, escleromalacia perforans, ceratopatia ulcerativa periférica. Pulmonar: nódulos, vasculite, doença intersticial, doença parenquimatosa pulmonar, derrame pleural. Cardiovascular: aterosclerosse, pericardite, doença valvar, nódulos no anel valvar, maior risco cardiovascular Pele: nódulos reumatoides, infartos digitais, vasculite leucocitoclástica, pioderma gangrenoso. 12ARTRITE REUMATOIDE 5. DIAGNÓSTICO Cada vez mais preconiza-se o diag- nóstico precoce da artrite reumatoi- de, uma vez que o tratamento pre- coce com as drogas modificadoras da doença (MARMDs) conferem me- nores chances de progressão clínica e radiológica. A artrite reumatoide é suspeitada a partir de um quadro clí- nico muito característico aliado a um exame físico minucioso, com exames laboratoriais sendo utilizados para fe- char o diagnóstico e prever prognós- tico. Existem atualmente dois sistemas de classificação da AR. Na primeira, os cinco primeiros critérios são clínicos, sendo os dois últimos laboratoriais ou radiológicos, e os quatro primeiros critérios precisam estar presentes por pelo menos 6 semanas para que seja diagnosticada a AR – já que várias síndromes virais podem cursar com poliartrite. • Rigidez matinal prolongada (>1h); • Edema de 3 ou mais articula- ções; • Edema das articulações das mãos (MCFs, IFPs ou punho); • Edema simétrico; • Nódulos subcutâneos; • Fator reumatoide positivo; • Erosões e/ou osteopenia periar- ticular em articulações da mão ou punho na radiografia. Em 2010, o American College of Rheumatology (ACR) e a European League Against Rheumatism (EU- LAR) lançaram em conjunto uma série de critérios utilizados para o diagnós- tico da AR. Esse critério não requer 6 semanas de duração e dão grande ênfase à presença de anticorpos FR ou ACPA. A presença de ACPA, mes- mo que nas primeiras semanas, é al- tamente sugestiva de AR em curso. Envolvimento Articular 1 articulação grande 0 2-10 articulações médias-grandes 1 1-3 articulações pequenas 2 4-10 articulações pequenas 3 >10 articulações 5 Sorologia (0-3) Negativo para FR e ACPA 0 Pelo menos 1 teste positivo em baixos títulos 2 Pelo menos 1 teste positivo em altos títulos 3 Duração da sinovite (0-1) <6 semanas 0 >6 semanas 1 Reagentes de fase aguda PCR e VHS normais 0 PCR ou VHS anormais 1 Dentre os achados laboratoriais, a anormalidade mais característica é o fator reumatoide (FR) positivo, que possui elevada sensibilidade na AR uma vez que está presente em 13ARTRITE REUMATOIDE 80% dos acometidos. No entanto, o FR é pouco específico, estando pre- sente em outras patologias. Nesse contexto, o anticorpo antipeptídeo citrulinado (ACPA) é de grande va- lor, já que apesar de ter sensibilida- de menor (75%), possui elevada es- pecificidade para artrite reumatoide (93% a 98%). Além do valor diag- nóstico, esses anticorpos têm valo- res prognósticos: sua presença está associada a doença mais grave, particularmente o ACPA, que indica doença erosiva grave. Cera de 15% dos pacientes com AR, no entanto, possuem FR e ACPA negativos (so- ronegativos). Existem outros anticorpos associados com AR, como o anticorpo antinucle- ar (30% dos pacientes) e o anticorpo anticitoplasma de neutrófilos do tipo perinuclear (30%). Ainda, a maioria dos pacientes têm anemia de doença crônica, cujo grau é proporcional à atividade da doen- ça. Reagentes de fase aguda (PCR e VHS) acompanham a atividade da doença, e sua elevação persistente indica pior prognóstico – em dano ar- ticular e em mortalidade. Se o pacien- te tiver síndrome de Felty, a contagem de leucócitos estará dimunuída. O líquido sinovial, quando analisado, apresenta contagem de leucócitos entre 5.000 a 100.000/mm³, predo- minando os polimorfonucleares. Em relação aos exames de imagem, a radiologia é o principal exame uti- lizado no contexto do diagnóstico e acompanhamento da AR. As princi- pais alterações são aumento das par- tes moles periarticulares, osteopenia periarticular, redução dos espaços ar- ticulares, erosões marginais, subluxa- ção e anquilose óssea. Inicialmente, faz a radiografia inicial e repete-se 6 meses depois, para ava- liar evolução e possível necessidade de tratamento mais grave. A partir daí, recomendam-se exames anuais. A coluna cervical deve ser avaliada periodicamente – em perfil neutro, flexão e extensão máximas – para descartar subluxações. Figura 5. Alterações radiográficas na AR. Fonte: Manu- al de Clínica Médica – USP. Vol. 5. 2ª ed. A USG e RNM identificam precoce- mente erosões e sinovites. A RNM tem alta sensibilidade e boa capaci- dade de analisar valor prognóstico das lesões (edema ósseo prediz evo- lução para erosão), enquanto a USG se destaca pelo valor e praticidade. 14ARTRITE REUMATOIDE Diagnóstico diferencial A poliartrite é um sintoma inespecí- fico que pode acompanhar diversas patologias. Por isso, a exploração do sintoma e uma boa história são de grande importância para o diagnós- tico diferencial e o raciocínio clínico. Muitas doenças podem mimetizar a AR, como síndromes virais autolimi- tadas em fase inicial: hepatites B e C, parvovírus, rubéola e EBV. Em relação a doenças não-infecciosas, temos o LER, artrite psoríaca, artrite reativa e hipotireoidismo. Nesse contexto, convém perguntar sobre erupções eritematosas, úlceras orais, alteração das unhas, dactilites, uretrite e problemas renais, pulmona- res, gastrintestinais ou oftalmológi- cos. Diversas outras doenças e condições podem confundir durante o diagnós- tico de artrite reumatoide, principal- mente aquelas que apresentam al- gum tipo de deformidade articular. Abaixo traremos alguns exemplos e suas diferenças para a artritre reuma- toide. OOsstteeooaarrttrriittee CCllíínniiccaa • Rigidez matinal fugaz • Interfalangeanas distais • Não acomete metacarpofalangeanas RRaaddiiooggrraaffiiaa • Osteófitos • Esclerose subcondral • Diminuição assimétrica espaço articular AArrttrriittee ppssoorriiáássiiccaa AArrttrrooppaattiiaa ddee JJaaccccoouudd CCllíínniiccaa • Interfalangeanas distais • Alteração ungueal • Lesões cutâneas • História familiar CCllíínniiccaa • Comum no LES • Disfunção ligamentar • Dedo em martelo • Dedo em botoeira • Reversíveis (redutível ao exame) • Não é erosiva Figura 6. Nódulos de Heberden e Bouchard, típicos da osteoartrite. http://www.reumart.com.br/osteoartrose-osteoartrite.html Mãos e radiografia de um paciente com artroparia de Jaccoud. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi- d=S0482-50042006000400005 15ARTRITE REUMATOIDE DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DA ARTRITE REUMATOIDE Comuns Incomuns Raras Espondiloartropatia soronegativa, espondilite anquilosante e artrite reativa Artrite associada a contraceptivos orais Sinovite soronegatica simétrica recorrente aguda e edema periféri- co (RS3PE) Doença de deposição do pirofosfa- to de cálcio Febre familiar do Mediterrâneo Linfadenopatia angioimunoblástica Doenças difusas do tec. conectivo Endocardite bacteriana Camptodactilia vilonodular pig- mentada Síndrome da retirada do corticoide Osteoartropatia hipertrófica Síndrome da hipereosinofilia com artrite Polimialgia reumática e artrite de células gigantes Artrite da doença tireóidea Reticulohistiocitose multicêntrica Doença de Lyme (reg. Endêmicas) Hemocromatose Amiloidose HIV Hemoglobinopatias Malignidade Síndrome da fadiga crônica Artropatia hemofílica Síndrome de Sweet Fibromialgia Hiperlipoproteinemia Doença de Thiemann Gota Periartrite calcificada Artrite infecciosa Policondrite Hidrartrose intermitente Febre reumática Osteoartrose Sarcoidose Doença de Parkinson 16ARTRITE REUMATOIDE MAPA MENTAL DIAGNÓSTICO Diagnóstico Novos critérios: ACR/EULAR Critérios antigos Duração Envolvimentoarticular Sorologia: FR e ACPA Reagentes de fase aguda Nódulos subcutâneos Rigidez matinal prolongada Duração >6 semanas Fator reumatoide positivo Erosões/osteopenia Edema 17ARTRITE REUMATOIDE 6. TRATAMENTO O tratamento da doença consiste em, inicialmente, orientar a mudança de hábitos de vida: cessar tabagis- mo, inventivar exercício físico, reduzir uso de alcóol e reduzir o peso, além de monitorar e tratar comorbidades (HAS, DM, dislipidemia e osteoporo- se). Orientar atualização da vacinação e contracepção em mulheres candi- datas ao uso de MARMDs. O objetivo do tratamento é alcançar remissão da doença, sendo esta me- dida por índices como ICAD e HAQ. O tratamento de primeira linha inclui o uso de MMCD. O metotrexato (MTX) é a primeira escolha por via oral. Se houver intolerância, dividir a adminis- tração por via oral ou empregar meto- trezato injetável. Caso não seja possível o uso de MTX ou caso não haja melhora, usar pre- ferencialmente leflunomida (LEF), sulfassalazina (SSZ) ou Hidroxicloro- quina (HCQ), sendo que a HCQ não é recomendada em monoterapia, a não ser para aqueles casos extremamen- te leves com fatores negativos e sem fator de pior prognóstico. O MTX está associado a hepatoto- xicidade e efeitos gastrointestinais, sendo recomendado o uso de ácido fólico durante o tratamento (5mg, 1x por semana em 24-36h após a toma- da do MTX). No entanto, em 30% dos casos, será necessária sua desconti- nuação. A dose do metotrexato va- ria entre 7,5 a 25mg por semana Após 3 meses, caso haja falha em atingir as metas, recomenda-se te- rapia dupla ou tripla de MMCDs. As mais recomendadas são MTX ou LEF com HCQ e/ou sulfassalazina. A segunda linha de tratamento é constituída pelos MMCDbio e é utili- zada após falha de pelo menos dois esquemas terapêuticos da primeira linha, com duração de 3 meses cada um. Se a atividade da doença persis- tir segundo o ICAD, recomenda-se o uso de MMCDbio (abatacepte, ada- limumabe, certolizumabe pegol, eta- nercepte, golimumabe, infliximabe, ri- tuximabe, tocilizumabe e tofacitinibe). Este deve ser usado em associação com o MTX, exceto se contra-indica- do. Nestes casos, pode ser associado com outro MMCD da primeira linha. As doses variam de acordo com o me- dicamento, sendo a Leflunomida de 20mg/dia; Sulfassalazina entre 2 e 3g/ dia e a Hidroxicloroquina 400mg/dia. As terapias biológicas incluem os an- ti-TNF (certolizumabe pegol, goli- mumabe, infliximabe, etanercepte e adalimumabe) e os não anti-TNF (abatacepte e tocilizumabe). Não há diferença significativa em per- fil de segurança e de eficácia entre os MMCD biológicos, não havendo, por- tanto, uma preferência. No entanto, o rituximabe só é indicado caso os an- ti-TNF e os não anti-TNF supracita- 18ARTRITE REUMATOIDE dos estejam contra-indicados. Além disso, o tofacitinibe tem menor expe- riência de uso e o perfil de segurança a longo prazo não é muito bem esta- belecido, portanto outras terapias são preferenciais. Já a terceira linha é usada em falha terapêutica ou toxicidade da segun- da linha. Após 3 meses de MMCDbio (em monoterapia ou combinada com MMCD), havendo persistência da ati- vidade da doença, deve-se usar outro esquema de MMCDbio (anti-TNF ou não anti-TNF) ou Tofacitinibe. Se pos- sível, associar a um MMCD sintético (preferencialmente MTX). O uso de imunossupressores, como azatioprina e ciclofosfamida, embo- ra possam ser utilizados para tratar a AR, possuem mais efeitos adversos, Com o advento dos medicamentos biológicos, esses imunossupressores estão caindo em desuso para essa patologia. Contudo, continuam dispo- níveis pelo SUS. Em relação ao tratamento sintomá- tico, pode-se lançar mão dos glico- corticoides ou dos AINEs, pelo menor tempo disponível. O uso prolongado dessas drogas indicam falha terapêu- tica dos MMCD, sendo um sinal de necessidade de rever o esquema. Em relação aos corticoides, tanto a prednisona como prednisolona estão disponíveis no SUS. O uso do pred- nisona é mais conveniente pela sua apresentação em comprimidos. No entanto, a prednisolona está disponí- vel em solução oral e é preferível em casos de disfunção hepática. Doses altas de glicocorticoides só são reco- mendadas para o tratamento de ma- nifestações extra-articulares amea- çadoras (como vasculite e neurite). 19ARTRITE REUMATOIDE MAPA MENTAL TRATAMENTO MTX em monoterapia Atividade leve Falha terapêutica Atividade moderada a alta Outro MMCDsc ou combinação de MMCDsc Manter e reavaliar periodicamente Falha terapêutica Anti-TNF com ou sem MTX ou; Não anti-TNF com ou sem MTX Manter e reavaliar periodicamente Falha terapêutica Outro anti-TNF com ou sem MTX ou; Outro não anti-TNF com ou sem MTX ou; Tofacitinibe 20ARTRITE REUMATOIDE MAPA MENTAL RESUMO Artrite reumatoide Etiologia ACR/EULAR Tratamento Diagnóstico Duração da sinovite Sorologias: FR e ACPA Envolvimento articular Reagentes de fase aguda • < 6 semanas (0) • > 6 semanas (1) • Negativo ambos (0) • ≥ 1 teste positivo com baixos títulos (2) • ≥ 1 teste positivos com altos títulos(3) • 1 articulação grande (0) • 2-10 articulações médias- grandes (1) • 1-3 articulações pequenas (2) • 4-10 articulações pequenas (3) • > 10 articulações (5) • PCR e VHS normais (0) • PCR ou VHS anormais (1) Genética Resposta imune sistêmica InfecçõesEpítopo compartilhado (“shared epitope”) HLA-DR4 Formação de complexos imunes Mimetismo molecular com proteínas microbianas Mudança hábitos de vida Metotrexato Outros MMCD; Anti-TNF Tabagismo, reduzir peso Repor ácido fólico 21ARTRITE REUMATOIDE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Consenso da Sociedade Brasileira de Reumatologia 2011 para o diagnóstico e avaliação inicial da artrite reumatoide. Sociedade Brasileira de Reumatologia; 2011. Manual de Clínica Médica – USP. Volume 5: doenças endócrinas e matabólicas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. 2. Ed. Barueri, SP. Manole: 2016. GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina Interna. 25. ed. SaundersElsevier, 2018. Iain B. McInnes, F.R.C.P., Ph.D., and Georg Schett, M.D. The pathogenesis of Rheumatoid Arthitis. Mecanisms of Disease. N Eng J Med. 2011. Diretrizes para o tratamento da artrite reumatoide. REV BRAS REUMATOL. 2013; 53(2) :158–183 Singh JA, Saag KG, Bridges SL, Jr., et al. 2015 American College of Rheumatology Guideline for the Treatment of Rheumatoid Arthritis. Arthritis care & research. Jan 2016;68(1):1-25. Kay J, Upchurch KS. ACR/EULAR 2010 rheumatoid arthritis classification criteria. Rheuma- tology. Dec 2012;51 Suppl 6:vi5-9. 22ARTRITE REUMATOIDE
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