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DIVERTÍCULOS São herniações de toda a parede intestinal congênitas ou herniações da mucosa e da submucosa através da parede muscular em pontos de menor resistência (como entrada das artérias colônicas) pela pressão intraluminal. Geralmente desenvolvido em pessoas com baixa ingestão de fibras. Anatomicamente, temos a constituição da parede do cólon por músculos longitudinais, as tênias, que percorrem apenas o intestino grosso, além de músculos circulares. A região epiploica é a porção gordurosa, geralmente em número de três, que ocorre a penetração dos ramos arteriais do mesocólon, com isso são possíveis a perfuração muscular e a irrigação da submucosa. O divertículo possui sua porção sacular, em que estão o óstio e o corpo, sendo revestidos pelas camadas mucosa, submucosa, muscular da mucosa e pode apresentar a serosa. O desenvolvimento de divertículos no sigmoide apresenta camadas musculares espessas e encurtadas, além do encurtamento das tênias, deixando as haustrações mais firmes. DIVERTICULOSE A diverticulose, ou doença diverticular, é uma alteração do intestino caracterizada pela formação de divertículos, que são pequenas bolsas, na mucosa do intestino grosso. A presença dos divertículos pode permanecer sem complicações ou pode manifestação processo inflamatório. Cerca de 70% dos pacientes são assintomáticos. As manifestações clínicas e meios diagnósticos são iguais aos da diverticulite, mas em intensidade e complexidade menores. 1. Classificação • Doença diverticular hipotônica Mais frequente em pacientes com mais de 60 anos, em que os divertículos possuem óstio largo e corpo curto, podendo estar localizados em quaisquer porções colônicas. As paredes do cólon mantêm a estrutura anatômica com tendência à hipotonicidade e ao afrouxamento da musculatura lisa do intestino. • Doença diverticular hipertônica Acomete principalmente os indivíduos com idade entre 40 e 60 anos, em que a localização dos divertículos predomina no sigmoide. Eles apresentam formato fusiforme, são pequenos, de colo longo e estreito. A parede do sigmoide apresenta hipertrofia muscular acentuada, com crescente hipertonicidade intraluminal e aspecto sanfonado radiologicamente, devido à maior evidencia de haustrações. Dor em quadrante inferior esquerdo do abdome. • Doença diverticular mista Divertículos presentes em todo o cólon que, ao chegar ao sigmoide, apresentam características de hipertonicidade, sendo mais frequente em pacientes com idade superior aos 60 anos. DIVERTICULUTE 1. Conceito Macro ou microperfuração de um divertículo, que pode apresentar repercussões clínicas limitadas, quanto sistêmicas, levando à formação de abscessos, obstrução, formação de fístulas e peritonite. 2. Fisiopatologia A causa mais provável é inflamação diverticular de forma mecânica, em que restos de conteúdo luminal se alojam em seu inteiro e endurecem, formado fecálitos que comprometem o suprimento sanguíneo da parede diverticular, resultando em hiperproliferação bacteriana local e erosão mucosa. Apesar do curso normalmente benigno, a infecção e o processo inflamatório podem promover: • Extensão local do processo infeccioso e formação de abscessos mesentéricos e pericólicos • Adesão aos órgãos adjacentes, promovendo formação de fístulas • Macro-perfuração livre para a cavidade peritoneal, gerando peritonite generalizada • Inflamação repetida promove espessamento da parede intestinal, gerando obstrução progressiva Doença diverticular dos cólons Clínica Integrada de Gastroenterologia – aula 22 Nicole Sarmento Queiroga Figura 1. Formação de divertículos. Figura 2. Alterações promovidas pelos divertículos. 3. Epidemiologia Processo normal do envelhecimento, consequente do distúrbio da musculatura colônica. Mais frequente em países ocidentais pela alimentação mais industrializada. Incidência da doença aumenta conforme a idade, sendo a maioria diagnosticado por achados radiológicos ou endoscópicos, não apresentando sintomatologia. A proporção de acometimento entre os sexos feminino e masculino é de 3:2. xs 4. Manifestações clínicas • Febre • Leucocitose neutrofílica e aumento de marcadores de fase aguda (PCR) • Dor abdominal baixa em cólica (sigmoide), com piora com a defecação – quadrante inferior esquerdo, podendo possuir massa palpável • Alteração de trânsito intestinal • Sinais de irritação peritoneal • Defesa e dor à descompressão • Distensão abdominal – sugere obstrução intestinal • Micção e pneumatúria – sugere fístula vesical 5. Diagnóstico Dor e hipersensibilidade em baixo ventre associada a distúrbios da função intestinal levam a três possibilidades diagnósticas: carcinoma de cólon, doença intestinal inflamatória ou diverticulite. Em exame físico apresenta dor à palpação, distensão abdominal e timpanismo à percussão. Logo, é essencial a realização de endoscopia baixa para investigação e exclusão dos diagnósticos diferenciais. • Hemograma, PCR e velocidade de hemossedimentação • Exame proctológico – avaliação da qualidade fecal • Tomografia computadorizada É o exame ideal para identificar o espessamento das paredes do sigmoide, presença de abscessos periventriculares, fístulas e coleções líquidas intra-abdominais. • Clister opaco e colonoscopia (endoscopia baixa) Aumentam as chances de perfuração do abscesso peridiverticular, por isso devem ser evitados em suspeita principal de diverticulite. Porém, após 4 a 6 semanas de resolução do processo inflamatório, devem ser realizados, a fim de excluir os outros diagnósticos diferenciais. • Ultrassonografia Eficácia reduzida pela presença de distensão de alças intestinais do delgado e pequeno volume de abscessos. • Raio-X de tórax e abdome Solicitado para identificar a presença de pneumoperitônio que, se presente, indica diverticulite ou aumento de pressão na existência de inflamação, liberando ar na cavidade. Presença de ar entre diafragma e fígado. Deve ser realizada em pé para que haja subida de ar. Sinal de Jobert positivo (desaparecimento da macicez hepática) que indica perfuração de víscera oca em peritônio. • Urografia excretora Em suspeita de fístula vesical. • Enema opaco Pode ser substituído pela colonoscopia, servindo principalmente para o estudo morfológico. • Ressonância magnética Em suspeita de fístula retovesical, não evidente em TC. • Extração cirúrgica Impossibilidade de diferenciação entre câncer e diverticulite devido ao alto grau de inflamação. 6. Conduta • Doença diverticular não complicada O tratamento vai ser determinado pelo grau do processo inflamatório. ✓ Pacientes com sintomas mínimos e poucos sinais de inflamação O tratamento pode ser feito ambulatorialmente, em que o paciente deve receber um esquema de antibioticoterapia oral, com espectro para bastonetes gram-negativos e anaeróbios, por 7 a 10 dias, além de uma dieta líquida sem resíduos (impedir a formação de mais bolo fecal e aumento da obstrução do divertículo). Podem ser usados Amoxicilina + Clavulonato, Ciprofloxacino + Metronidazol, entre outros. ✓ Sinais de inflamação exuberante com sinais e sintomas de atenção Os sintomas associados podem ser febre, leucocitose com desvio, descompressão dolorosa em flanco e fossa ilíaca esquerda e região suprapúbica. Esses pacientes devem ser internados. O tratamento baseia-se na dieta zero com repouso intestinal, hidratação venosa e a antibioticoterapia parenteral. Pode ser empregada a meperidina para analgesia do quadro, sendo contraindicado o uso da morfina – aumenta a pressão intracolônica. Em pacientes que não manifestam complicações, a melhora é apresentada em 48 a 72 horas após início da terapia, de modo que os pacientes internados podem completar o tratamento em domicílio.Após 4 a 6 semanas do término do tratamento, é essencial realizar a avaliação do intestino grosso, cujo objetivo é excluir casos de neoplasia. Após o primeiro episódio que não houve necessidade de tratamento cirúrgico, os pacientes devem ser acompanhados clinicamente porque apresentam chances de recidiva, sendo elas ainda maiores após o segundo episódio de inflamação diverticular. Logo, a partir do segundo caso, o tratamento cirúrgico é eletivo e, após o terceiro episódio não complicado, é indicada a ressecção eletiva do segmento mais acometido, após 4 a 6 semanas de resolução do quadro inflamatório. • Doença diverticular complicada Figura 3. Diverticulite. A doença complicada consiste no alto nível de inflamação, de forma que também implica a presença de complicação como abscessos, formação de fístulas, obstrução e perfuração livre com peritonite generalizada. Todos esses casos devem ser tratados com abordagem cirúrgica, independente de configurarem ou não o primeiro episódio da doença. ✓ Abscessos pericólicos e intramesentéricos Acompanhados de sinais de irritação peritoneal restrita, com taquicardia e leucocitose, apresentando-se de acordo com o grau de inflamação. A detecção de coleção purulenta é feita pela TC ou por USG, assim como serve de guia para drenagem percutânea associada à antibioticoterapia e ao suporte nutricional parenteral. O que possibilita a não realização de cirurgia de emergência, mas semieletiva. Abscessos pequenos, ou seja, menores que 2 cm, respondem a antibioticoterapia sem a necessidade de drenagem. Após 4 a 6 semanas, o procedimento cirúrgico definitivo é realizado. Escala de Hinchey Estágio I Abscesso pericólico ou mesentérico Estágio II Abscesso a distância – pelve ou retroperitônio Estágio III Peritonite purulenta generalizada Estágio IV Peritonite fecal generalizada Escala de Hinchey modificada 0 Diverticulite sintomática leve Ia Confinada a inflamação pericólica tipo flegmão Ib Confinada a abscesso pericólico II Abscesso pélvico, intra-abdominal ou retrocólico III Peritonite purulenta IV Peritonite fecal Fístula colovesical/vaginal/entérica/cutânea Obstrução intestinal – delgado/grosso ✓ Macro-perfuração livre, com peritonite A peritonite pode ser purulenta (rompimento de abscesso pericólico) ou fecal, sendo a complicação mais grave. É necessária a realização de ressuscitação volêmica, antibioticoterapia e laparotomia de urgência – ressecção do segmento e lavagem da cavidade com solução salina aquecida. ✓ Fístulas colovesicais Manifestam-se com infecção urinária associada a pneumatúria. O achado de espessamento do cólon + divertículo + ar na bexiga à TC corroboram o diagnóstico. É uma intervenção cirúrgica a conduta, mas não de caráter emergencial. Inicialmente deve ser controlado o quadro infeccioso. ✓ Obstrução Acomete principalmente o intestino delgado, por aderências ao abscesso e, quando ocorre, a melhor abordagem é a drenagem nasogástrica descompressiva + antibioticoterapia. A indicação cirúrgica está reservada aos casos de obstrução total refratária. ✓ Medicações utilizadas → Analgésicos: dipirona, paracetamol – pode ser associado ao antiespasmódico → Anti-inflamatórios → Antieméticos: plasil → Antifisético: simeticona (luftal) → Antibióticos: Ciprofloxacino 500mg VO 2x/dia por 7 dias, Metronidazol 500mg VO 3x/dia por 7 dias, Mesalazina 800mg VO 3x/dia por 10 dias e repetir a cada 30 dias por, no mínimo 10 meses. ✓ Tipos de procedimento cirúrgico → Rafia de fístula com drenagem → Retossigmoidectomia → Colectomia direita → Colectomia esquerda → Colectomia total Indicações para o tratamento cirúrgico de urgência 1. Peritonite generalizada por ruptura de divertículo ou abscesso: e 2. Obstrução intestinal total refratária Indicações para o tratamento cirúrgico eletivo 1. Após 3º episódio não complicado 2. Falha terapêutica na diverticulite não complicada 3. Após primeiro episódio complicado com abscesso 4. Doença diverticular complicada com fístula colovesical 5. Após primeiro episódio em pacientes com menos de 40 anos 6. Doença diverticular complicada com obstrução parcial persistente 7. Impossibilidade excluir carcinoma de cólon 8. Após primeiro episódio em imunodeprimidos Figura 4. Antibioticoterapia para diverticulite.
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