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PCC Educação Especial [Rafael Lincoln]

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
RAFAEL LINCOLN SOUZA DA SILVA
PRÁTICA COMO COMPONENTE CURRICULAR EDUCAÇÃO ESPECIAL CEL0249
Dialogando, pesquisando e construindo conhecimento
Itatiaia, RJ
2021
O objetivo desta prática é entrevistar um(a) professor(a) com especialização em
Educação Especial, para refletir sobre o seu trabalho com alunos com deficiências. Para
isso, eu entrevistei Rita de Cássia Luz.
Rita é mulher, mãe de Gabriela, Mariana e Carolina, e avó de cinco netos. Dos
seus 55 anos de vida, 21 são “dedicados ao magistério”. Rita é professora no município
de Barra Mansa, no interior do Rio de Janeiro, e atua no CEMAE, um centro municipal de
atendimento às pessoas com deficiências. Possui Licenciatura em Pedagogia,
Licenciatura Plena em Matemática, Pós-Graduação em Psicopedagogia Escolar e Clínica,
Pós-Graduação em Educação Especial, com ênfase em retardo mental, especialização
em Atendimento Educacional Especializado – AEE e extensão em Tecnologia Assistiva –
TA. Também é bacharel em Economia. Rita é uma referência como profissional de sua
aérea no município.
Apresentou-me o caso de um aluno incluído em turma regular, com características
de pessoa autista. Segundo ela, trata-se de um aluno que necessita de adaptação
curricular de grande porte e o apoio de materiais adequados, como PECS (Sistema de
Comunicação por Troca de Imagens) e quadro diário de rotina, com uso de imagens. O
aluno também é acompanhado por um agente de apoio, durante o tempo que se encontra
na escola.
À respeito das adaptações realizadas no planejamento das aulas, Rita me explicou
que devido a seu grau de comprometimento, o currículo do aluno é funcional. Por meio
dele, são trabalhados questões básicas de higiene, como escovar os dentes com
autonomia, conhecimento do corpo, cuidados com a alimentação, convivência com seus
pares e adaptação ao espaço escolar. O planejamento também inclui discriminar cores e
atividades lógico-matemáticas, musicais e corporais.
Segundo ela, ocorrem parcerias entre toda equipe pedagógica do CEMAE e da
escola e família. Para incluí-lo em turma regular, foi feito um plano de estudo chamado
pelo CEMAE de PAD, uma abreviatura para Plano de Aprendizagem Diferenciado. Dentro
do possível esse plano é produzido considerando o currículo da turma, porém com
adaptações necessárias ao seu aprendizado do aluno. Os PADs são construídos a partir
do currículo enviado às escolas pela Secretaria Municipal de Educação. Visando a
inclusão de alunos com deficiência em turmas regulares, a equipe multidisciplinar do
CEMAE faz as flexibilizações e adequações necessárias no Currículo, numa construção
coletiva com reúne a equipe escolar em que o aluno se encontra matriculado, incluindo
o(a) professor(a) da turma regular onde o aluno se encontra matriculado, orientador
pedagógico da unidade escolar e professor(es) de AEE. Os pais e/ou responsável
assinam os PADS em concordância com o planejamento proposto para o aluno e
participam com sugestões a respeito das alterações na rotina a serem realizadas. Caso a
família, por exemplo, verifique que determinada atividade não é adequada para o aluno,
ela é convidada a participar dando sugestões à equipe do CEMAE. 
Rita conta que este aluno, em especial, recebe atendimento fonoaudiológico
enquanto a mãe participa de um grupo de apoio formado por pais. Avaliações de
desempenho é feita ao longo de todo o processo de ensino-aprendizagem para verificar
se os objetivos propostos estão sendo alcançados pelo aluno ou se são necessárias
novas adaptações. O tempo para avaliação é mais longo porque este aluno precisa de
mais tempo para assimilar conhecimentos práticos, diz a professora. 
Todo material pedagógico é apoiado em imagens. A criança é incluída em sala
regular junto com alunos ditos neuro-típicos. As interações com seus pares ocorrem
durante o tempo de permanência na escola. Porém, sua permanência no espaço escolar
e a realização de atividade é bem reduzidas. Por esse motivo, o aluno possui carga
horária reduzida. O aluno é incluído nas atividades de seu interesse. Rita acrescenta que
muitas vezes, observa que o barulho comum ao espaço escolar causa estresse no aluno.
“Muitas vezes se faz necessário retirá-lo do espaço escolar para que se acalme.” O aluno
se interessa por música e vídeos. 
Questionada sobre os desafios enfrentados por ela na construção de uma proposta
inclusiva de educação, Rita relata que o maior desafio ainda é lidar com profissionais com
ideologias contrárias à inclusão. Ela relata ainda encontrar muita resistência entre os
profissionais das escolas, onde os alunos com deficiência se encontram matriculados.
Segundo ela, existe um grande número de professores e orientadores educacionais e
pedagógicos que questionam o fato desses alunos não estarem matriculados numa
“escola para alunos especiais”. Ao seu ver, a inclusão ainda “caminha a passos lentos”.
Grande parte do material pedagógico utilizado como apoio pedagógico é confeccionado
por ela, como professora. “A escola cobra do professor, a Secretaria de Educação cobra
do professor, porém se o professor não colocar a mão no bolso, o material adaptado não
sai. Falta estrutura física da escola, falta preparação da equipe diretiva, e falta tempo do
professor para preparar aulas com mais qualidade para o aluno com inclusão e recursos
financeiros para equipar a escola e investir em jogos e materiais pedagógicos para o
aluno de inclusão e os demais alunos. Faltam mais capacitações”, relata com pesar.
Segundo a professora, os demais alunos costumam ser solidários e
compreensivos, recebendo bem o aluno incluído e mostrando-se dispostos à ajudá-lo em
suas necessidades.
Rita continua: “Hoje em dia, estamos vendo um retrocesso no trabalho de inclusão.
Tem sido crescente a disseminação de ideias de que seria melhor para os alunos
deficientes, principalmente os alunos autistas e com deficiências múltiplas, estudarem em
escolas especiais. O próprio governo tem trabalhado neste sentido. Entendo que a
inclusão é a melhor maneira da criança com deficiência conviver com outras crianças,
criar laços afetivos e crescer na aprendizagem com o outro. É uma troca de
aprendizagem, de derrubar preconceitos. Escola é um lugar para todos e precisa
caminhar neste sentido, derrubando todas as barreiras que impedem a inclusão de fato,
até às de cunho político.”

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