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Copyright 2004 by Verlag C. H. ollG, München Titulo do Original: Geschichte der Architekturtheorie Titulo: História da Teoria da Arquitetura Autor: Hanno-Walter Kruft Tradutor: Oliver Tolle Revisão de Tradução: Ivete Fantucci ce Marco Aurélio Werle Produção: Marilena Vizentin Capa, Projeto Gráfico e Editoraçio Eletrónica: Gustavo Piqueira | Casa Rex Revisão de Texto: Antonio de Pádua Danesi, Marina Nakai Witt e Marilena Vizentin Divulgação: Regina Brandão e Bruno Tenan Formato: 19,5 x 25 cm Tipografia: Familia Mercury, Knockoute Sentinel Papel: Certificado FSC Couché Fosco 150 g/n (capa), Certificado FSC* Offset Extra Alvura 180 g/m* (guardas) e Certificado FSC" Pólen Soft 80 g/m' (miolo) Número de Páginas: 1 000 Tiragem: 1500 CTP, Impressão e Acabamento: Intergraf Indústria Gráfica Eireli Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento Técnico do istema Integrado de Bibliotecas da USP Adaptada conforme as normas da Edusp. Kruft, Hanno-Walter. História da Teoria da Arquitetura/Hanno-Walter Kruft; tradução de Oliver Tolle. - São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2016. 1000 p, it, 25 cm. Inclui bibliografia e índice onomástico. Tradução de: Geschichte der Architekturtheorie: Von der Antike bis zur Gegenwart, c. 1985 ISBN 978-85-314-1550-0 1. História da arquitetura. 2. Teoria da arquitetura. I. Tolle, Oliver. II. Título CDD 720.1 Direitos em lingua portuguesa reservados á Edusp- Editora da Universidade de São Paulo Rua da Praça do Relógio, 109-A, Cidade Universitária 05508-050 São Paulo SP Brasil FSC www.sc.org Divisão Comercial: Tel. (11) 3091-4008 /3091-4150 www.edusp.com.br email: edusp@usp.br MISTO Papel produzido fontes responsáveis Printed in Brazil 2016 FSC C011188 Foi feito o depósito legal A.radiçio de Vitrúvio e a Teoria da Arquitetura na +iade Médis A influência de Vitrúvio na Antiguidade foi muito limitada. Sua pre- CE. Herbert Koch, Vom Nachleben des Vitruv, p. 9. tensão de estabelecer normas para a arquitetura e seu julgamento não Cf. idem, pp. 11 e ss. se cumpriram na época para a qual ele escreveu. Isso se deve em par- te ao fato de que seu tratado não abordou, ou só abordou periferica- mente, problemas atuais como o emprego de tijolos, a construção de abóbadas e de edifícios com múltiplos andares!. Vitrúvio não exerceu influência alguma sobre as construções e o pensamento da época dos césares; apenas Plínio, o Velho, faz uma referência a Vitrúvio, nos li- vros xXxV e xxxvi de seu Naturalis Historia; isso ocorre, todavia, em associação com suas exposições sobre a pinturae as espécies de pe- dras. Do periodo posterior dos césares há o Kompendium de Faventino e seu emprego por Paládio, bem como menções em Sidônio Apoliná- rio (c. 430-486) e Cassiodoro Senator (c. 490-583) ; essas referências, ATratição de Vitrivio ea' Teoria ta.Avqitetnra: na tlade Média 37 Sobre a recepção de Vitrúvio, além do contudo, permanccem no canmpo da retórica. Nada sabemos sobre a Francesco Pelati, "Vitruvio nel Medioevo divulgaçao do texto vitruviano na Antiguidade. e nel Rinascimevnto". pp. 111-132; Félix Peeters, "Le Codex Bruxellensis' 5253 (b) de Vitrure et la tradition manuscrite du De Architectura", Pn. 119-143; lucia Capponi, "1 De Architectura' di Vituvio alcança um grau de popularidade' com que Vitrúvio jamais poderia 1nel Primo Umanesimo (dal ms. Rodl. Auct. Cscrito de Koch (nota 1), cl. sobretudo: Um interesse palpável por Vitrúvio só se mostra a partir do pe- riodo carolingio, eresce na Alta Idade Média e, durante o Renascimento, sonhar. O destino particular do tratado de Vitrúvio sobre a arquitetu- F 5.7)", pp 59.00; Karl-August Wirth, "Bemerkungen zum Nachleben Vitruvs im 9. und 10. Jalrhundert und zu dem ra foi, com razão, caracterizado da seguinte maneira: "Praticamente Schlettstäidter Vitruv-Codex". p. 281-291; não há na história da arte outro exemplo de um manual sistemático Carol Herselle Krinsky, "Seventy-Eight Vitruvius Mar:aseripts", Journal of the Warburg and Courtauld mstitutes xXx, pp. 36-70, 1967; Carol Heitz, "Vitruve et l'architecture du haut moyen âge"; concebido para sua é�poca que era sua finalidade propriamente dita e que, todavia, séculos depois de seu aparecimento, tenha conhecido um sucesso tão imponente" Afirmou-se reiteradas vezes' que se fez uso de Vitrúvio na mais Giangacomo Marties, "Hygno Gromatico: Fonti leonografiche Antiche per la Ricostruzione Rinascimentale della Città Vituviana", Manfredo Tafuri, Scritti importante das enciclopédias da primeira Idade Média, a Etymologiae Rinascimentali di Architetura. Milão, 1978, de Isidoro de Sevilha (c. 560-636). Isidoro se refere, contudo, apenas as Pp. 389 e ss. enciclopédias romanas de Marco Terêncio Varrão já usadas por Vitrúvio (sobretudo o Antiquitates), que só foram conservadas parcialmente. Se Koch, op. cit., p. 10. Por exemplo. Pellati, op. cit. (1932), Pp. 111 lermos as principais passagens de Isidoro sobre a arquitetura no livro XIx da Etymologiae, fica claro que Varrão dificilmente se teria apoiado em Vitrúvio. Ele introduz três categorias para a arquitetura: Aedificiorum es. W. M. Lindsay (org), Isidori Hispalensis Episcopi Etymologiarum sive Originum Libri xx, Oxford, 1911 (diversas rempressões), XIX,9. partes sunt tres: dispositio, constructio, venustas. Para caracterizar a distância em relação a Vitrúvio são suficien- tes aqui as definições de Isidoro de dispositio e venustas: "Dispositio est areae vel solii et fundamentorum descriptio'" (Etymologiae, xIx, 9). "Venustas est quidquid illud ornamenti et decoris causa aedificiis addi- tur ." (Etymologiae, xIx, 1). Os conceitos que surgiram com Vitrúvio e empregados por Isido- ro não correspondem, em seu teor, às definições fornecidas por Vitrúvio. Olivro xv da Etymologiae, que trata da arquitetura e da medição de terrenos, não permite igualmente reconhecer o emprego de conceitos vitruvianos. Existem inúmeras referências incompreendidas, em geral de conteúdo, feitas sobre a arquitetura antiga. Nesse contexto, é interes- sante notar que Isidoro parece conhecer cinco ordens arquitetônicas. A passagem sobre as colunas é um exemplo típico disso: Columnae pro longitudine et rotunditudine vocatae, in quibus totius fabricae pondus eregitur. Antiqua ratio erat columnarum altidudinis tertia pars latitudinum. Genera rotundarum quattuor: Doricae, Ionicae, Tusscanicae, Corinthiae, mensura crassitudinis et altitudinis inter se distantes. Quintum genus est earum quae vocantur Atticae, quaternis angulis aut amplius, paribus laterum intervallis (Etymologiae, xv, 8, 14) Quando se recorre a Hrabanus Maurus (780-856) como um testemunho medieval da recepção de Vitrúvio, citando-se de sua obra De Universo Libri xxiu a seguinte sentença: "Aedificiorum partes História da Tooria da Arquitetura sunt tres: dispositio, constructio, venustas" (XXI, 2), isso indica, ao Cf. Carol Herselle Krinsky, op. cit., p. 36, nota 4. contrário, uma dependência direta em relação a Isidoro de Sevilha. 0 aproveitamento de Vitrúvio no período carolingio foi pro- vavelmente menos extenso do que se supôs. A menção a Vitrúvio em uma carta de Einhart a seu discipulo Vussin" indica um interesse Cf. Julius von Schlosser, Schriftquellen zur Geschichte der karolingischen Kunst, Viena, 1892, Pp. 6 e s., n. 16. Cf. Wirth, op. cit., pp. 282es. Cf. Heitz, op. cit. (1974), pp. 747 e s. puramente filológico; Einhart teve dificuldades com os verba et no- mina obscura de Vitrúvio e recomendou a Vussin consultar Virgilio Carol Herselle Krinsky, op. cit, pp. 36 e ss. O manuscrito mais inportante éo de Vitrúvio do Museu Británico, Harley 2767 (cf. Carol Herselle Krinsky, p. 51). sobre o significado do termo scenographia. Não se deduza daí que se deu atenção à doutrina arquitetônica de Vitrúvio'. Um possível aproveitamento de Vitrúvio na construçãodas basílicas de Einhart em Steinbach e Seligenstadt" continua sendo mera especulação. Cf sobretudo Wirth, op. cit, pp. 283 e Ss. (figuras 1-4); as ilustrações do códice de Schlettstädter foram publicadas pela primeira vez por V. Mortet, "La mesure et les proportions des colonnes antiques", pranchas I e lI. Cf. também Carol Herselle Krinsky, op. cit., pp. 4l e s, 47. Como ilustração dos manuscritos de Vitrúvio aparece diversas vezes o diagrama de Wind; cf. Carol Herselle Krinsky, op. cit., p. 41. O número de manuscritos vitruvianos do período carolingio que se conservaram é extremamente pequeno"; os comentários sobre Vi- trúvio nesse período não foram comprovados. Em contrapartida, é notável que um manuscrito vitruviano dos séculos Ix ex contenha Wirth, op. cit, p. 289. ilustrações que permitem reconhecer uma discussão com as indica- Idenm, p. 286 (figura 3). "Koch, op. cit, pp. 15 e s. (nota 22). ções práticas de Vitrúvio para a arquitetura (códice vitruviano em Séléstat, Bibl. Munic., ms. 1153 bis); essas ilustrações, porém, não Cf. Gustina Scaglia, "A Translation of Vitruvius and Copies of Late Antique Drawings in Buonaccorso Ghiberti's Zibaldone", pp. 11 e ss. A autora situa a data dos desenhos em 750-800. A releção com se referem às passagens selecionadas por Vitrúvio especificamente para as ilustrações - suas ilustrações se perderam, mas as passa- Aachen se torna crivel graças as copias realizadas por Buonacecorso Gl1iberti baseadas em ilustrações de Vitrúvio muito gens que tratam das ordenações de colunas; os textos explicativos são transcrições simplificadoras, segundo Vitrúvio" (FiGURA 1). Contudo, as ilustrações não refletem nem o conhecimento da ar- semelhantes. Idem, ,p. 13. quitetura antiga nem o da contemporänea e pertencem à "terra do nunca entre a tradição literária e monumental da Antiguidade"i O fato de a passagem de Vitrúvio sobre as proporções do corpo hu- Hartwig Beseler e Hans Roggenkanp, Die Michaeliskirche in Hildesheim, Berlim, 1954, pp. 112 e ss., p. 121, pp. 147 e s.; Heitz, op. cit. (1974), Pp. 749 e s. mano (Vitrúvio, 11, 1, 2) ter sido copiada merece atenção"; além dis- so, ainda não se chega à exposição da "figura vitruviana". Pedro, o Diácono (% 1107), estabeleceu em Montecassino uma passagem do tratado de Vitrúvio e fez um excerto sobre as proporções do corpo humano análogo ao do códice de Schlettstädter. Recentemente, passou-se a acreditar que o arquétipo dessas ilustrações surgiu no palácio de Carlos Magno em Aachen, na Alemanha, e as ilustrações do códice de Schlettstädter foram atribuídas a Einhart". Ao mesmo tempo, ressaltou-se a semelhança entre a ilustração do capitel jónico com os capitéis de pilastras do pórtico de Lorsch". A importância de Vitrúvio para a arquitetura otomana tor- nou-se uma possibilidade a partir do exemplo da catedral de São Mi- guel em Hildesheim, na Alemanha". O manuserito vitruviano mais antigo que se conservou (Londres, Museu Britânico, Harley 2767) provém dos bens do prepósito Goderammus da igreja de São Panta- lão em Colônia, a quem o bispo Bernward de Hildesheim se refere em 996 como o primeiro abade de São Miguel. Se Bernward (t 1022) de fato teve.uma contribuição decisiva no projeto e, com sua postura A Tradição de Vitrúvio ea Tevriada Arquitetura na Idade MHédia .. , ww 'Ämrtnmw.WN AVA NNMw A'"ipdivsvww wwww finm4 rons fima ofoooo0O fronf Cmatit 00000 Bcrracul LUL CimATiu Zoforu . fronf KAKAKAKK Cimatu CorfA Cimattu Corfa RNKAKAK 1o1Cy * Aik, DaR LCA cientilica, apoiou-se no manuserito Liber Mathematicalis de Boécio, Cf. sobretudo Rognlamp, ep. cit. pp. 147 e ss; cf. tanbém Konrad Algermissen (org), Berward und Godehari von liildesheinm. constante de sua própria coleção (Hildesheim, tesouro do domo) e no thr Lcton und ihr Wrkern, 1 ildesheim 1060, Vitrúvio de Goderammus (início da construção em 1001), então esse prineipamente ppr. 112es. foi um caso único para uma compreensão aprofundada de Vitrúvio e de sua aplicação na arquitetura real". Seria necessário pressupor Sobre a classificação de São Miguel 11 arquitetura otomana, ct. Juntzcn. Otonische Kunst (197!). Hambung 1959, pp. 15 e s. Uma adaptação direta de modclos antigos na arte plästica e uma explicação de Vitrúvio que permitisse separar um pensamento nos sistemas de proporção da linguagem formal da arquitetura an- tiga e adaptá-la completamente às necessidades e possibilidades de expressão da arquitetura otomana*" observada na coluna de Bernward em Hildesheim; ef. Rudolf Wesenberg, Bernwardinische Plastik, Berlim. 1955, pp. 125 e s., pranchas 256 e ss. No que respeita às descriçòes arquitetónicas na literatura antiga, cf. Paul Friedländei, cniiics Von Gaza, Paulus Silentiarius. Ktunstbescihreibungen justinianischer Zeit. pp. 41 e s. No que respeita às descrições arquitetónicasda Idade Mlédia, cí. o texto de Gerhard Antes de entrar na literatura ocidental da Alta Idade Média sobre a arquitetura, é importante mencionar brevemente uma forma literária da descrição arquitetônica que foi talvez obtida em fontes he- lenisticas e romanas (Flávio Josefo, Estácio, Plínio, o Moço, Luciano)" e teve sua época de florescimento como ekphrasis" com Justiniano. Do rico material da ekphraseis bizantina ressaltaram-se, Reallexikon für Antike und Christentum iv, com razão, as famosas apreciações do edifício de Justiniano de Goebel, Poeta Faber, pp. 23 e ss., ea bibliografia por ele citada. 2 Glanville Downey, "Ekphrasis", 1959. pp. 921-944. Santa Sofia de Constantinopla. Nos anos 532-537 a construção dos séculos Ive v, destruida pela insurreição de Nika (532), foi substituí- da por Justiniano pelo novo edifício de Antêmio de Trales e Isidoro ASpincipais coietáncas de fontes sobre a história da arte bizantina são: Friedrich 1Vilhelm Unger, Quellen zur byzantinischen Kunstgeschichte, Jean Paul Richter, Quellen der byzantinischen Kunstgeschichte, Cyril Mango, The Art of the Byzantine Enpire 312-1453. As coletáneas de textos de Unger (1878) e Richter (1897) são consagradas de Mileto", Em 558, um terremoto ocorrido em dezembro de 557 provocou a queda da cúpula, que foi refeita com uma cúpula de ma- deira mais ingreme nos anos seguintes, de modo que ne dia 24 de ercusivaniente à arquitetura e sc limitam a Constantinopla; o voltume de Unger trata dezembro de 562 pöde ocorrer a nova consagração. Tanto a cons- trução como sua renovação parcial ocorreram durante o governo de Justiniano (527-565) e foram objeto da écfrase, que é muito elu- cidativa não só para a história da construção mas também para a apenas da arqutetura profana. Cf. particularmente a excelente apreciação critica feita por Richard Krautheimer, Early Christian and Byzantine Architecture (The Pelican History of Art), Harmondsworth, 1965, pp. 153 e ss.; um estudo panorámico acompanhado de uma bibliografia abrangente cncontra-se em Wolfgang Müller-Wiener, Bildlexikon zur Topographic Istanbils, Tübingen, 1977. pp. estética arquitetônica do período. 0 jurista e historiador Procópio (século vI), oriundo de Cesareia e contemporâneo de Justiniano, concluiu, no final desse governo (em torno de 560), um texto completo sobre a ampla ati- vidade arquitetônica do imperador sob o título Construções (Ilequ 84 e ss. 25 J. Haury (org.), Procopii Caesaricnsis Opera 1, 2, Leipzig, 1913, Procopius, The Loeb Classical Library, vol. vil, ed. greco-inglesa de H. B. Dewing e Glanville Downey, Londres/Cambridge, MA 1940; ed. greco-alem� de Otto Veh: Procopio, Bauten, Munique,1977. KTOLATOV)35, O escrito tem um caráter de adulação em relação a Justiniano, semelhante ao tratado de Vitrúvio em relação a Augusto. 0 sentido explícito do texto é garantir a Justiniano a fama de gran- de construtor2, Com Constantinopla começando, Procópio apresen- tatodos os empreendimentos imobiliários de Justiniano durante seu Procopiu, op. cit, pp. 2 e ss. (1977), Pp.16 e ss. Idem, pp. 2 e s., pp. 10-32; há uma trad. inglesa em Mango, op. cit. (Procopius, op. cit. (1972), pp. 72-78; trad. alemã em Veh, op. cit. (1977), Pp. 20-33; inglesa em Mango, op. cit. (Procopius, op. cit. império. A primeira construção apresentada é a Santa Sofia*". O pa- pel ativo do imperador se mostra, segundo Procópio, principalmente na nomeação de dois engenheiros (unyavomoLo), Antêmio de Trales e Isidoro de Mileto, dos quais destaca a importância pessoal para o (1972), pp. 72-78; trad. alem em Veh, op. cit. (1977). pp. 20-33. projeto e a execução da obra. Antêmio aparece como 0 arquiteto que realiza o projeto. Apesar de toda a retórica, a écfrase de Procópio con- tém um conceito claro, no qual a descrição da obra e o efeito estético se unem na apresentação. Suas observações são muito profundas, como, 2 História da Teoria da Arquitetura por exemplo, quando ele explica o contexto urbano de Santa Sofia da Citudo segundo Procópio, Veh, 0p. cit. (1977), p. 23. seguinte maneira: Idenm, pp. 22 e ss. (ouvia toû jëTQ0u, oUTE TL ÚU:oryavovr: TL ÉVOLíG ÜZova). 0 dem, p. 27 A igreja fornecia uma das visões mais divinas [...]; a casa de Deus se eleva Friedländer, op, cit. (1912), com cd. critica do texto grego; trecho em trad. inglesa em Mango, op. cit. (1972), pp. 80-91; texto greco-alemnão: Procópio, op. cit. pp. 306 e ss. quase até o céu e, enquanto se desgarra das demais construções, saúda do alto a cidade restante. A basílica de Sophia é o adorno da cidade, já que per tence a ela, também é embelezada por ela, porque, como parte da cidade e do seu orgulhoso ponto culminante, ela se eleva tão alto que dela se pode olhar como que de uma sentinela". Isso ultrapassa em grande medida a experiência das fun- ções litúrgicas. Procópio cita expressamente as proporções bem calculadas se- gundo a planta e o volume da construção (úguovía tok jHÉTQOV), nos quais nada há de excessivo e às quais nada falta, uma formulação que antecipa Alberti". Mais do que a mera grandiosidade, o que constituia elegância do edificio é a proporção. A impressão de que a cúpula central está suspensa e a introdução consciente da iluminação são descritas por Procópio com precisão em seu efeito estético. O comportamento do espectador, que é capturado igualmente pelo conjunto e pelos pormenores da construção, é analisado do seguinte modo: Todas as partes da construç�o, que - quase não se pode acreditar - se mantem pairando no alto entrelaçadas umas nas outras e se apoiam apenas no que as circunda, conferem àobra uma harmonia única, su- mamente primorosa, não deixando que o olho do espectador permaneça muito sobre um determinado lugar, mas cada parte desvia o olhar para atraí-lo o mais rápido sobre si. O olho oscila veloz de um lado para o ou- tro,já que o espectador se sente em condição de escolheraquilo que deve admirar mais do queo restante, Procópio descreve de modo semelhante a decoração e as funções litúrgicas, de modo que surge diante do leitor uma imagem complexa. A conclusão da descrição é formada por anedotas sobre as intervençes do imperador guiadas por Deus em pontos críticos da história da construção. Um poema de Paulo Silenciário sobre Santa Sofia foi apresen- tado poucos dias após a consagração, no começo de janeiro de 563 (Expoaons tov vaov tns Ayus Eoduas)"'. Mais ainda do que Pro- cópio, Paulo Silenciário ilustra os encantos visuais da construção e de sua decoração. São enumerados os tipos afins de mármore e seus locais de origem e é fornecida uma descrição pormenorizada dos dis- positivos de iluminação depois do irromper da noite. Como poeta, ele é arrebatado pelo prazer em suas descrições; contudo, o leitor 13 Tndigio de Vitiria e aTeoria da Arguitecuna na ldade iidi de hoje ganha uma representação precisa da cadeia de associaçoes que se colocavam para um observador contemporâneo de Santa Sofia Ct. a passagem tradu7ula para o ngles em Mango, or. cu. (1972), pp. 9n-102. Hans Sedmayr, "Das erste mittelalterliche Architektursysten", Kunstwissen schatliche Forschunger i1, 1933, pp. 25-62: reimpresso em Sedayr, Epochen und 1Worke, , Wien/Minchen 1950,m s0-19; S. Sophia, do século vuu ou Ix - sempre atribuem å construção o cará- Krautheimer, op. cit. (1965). p. 19 e ss. instruido e sensivel. Descrições posteriores por exemplo, a anönima Narratio de ter do legendário. O projeto é revelado ao imperador por um "anjo do Ct, a Csse respeito, Georg Scheja, "Hagia Sophia und Templum Salomonis" Istanbuler Mitteilngen 12, 1962, pp. 44-58, especiamente pp. 47 cs. Senhor". Ao lado de uma descrição algo transcendente da construção se encontram, todavia, dados técnicos precisos sobre o uso de grampos ldem, pp. 53 e ss. de ferro e o desmonte do andaime. Cf. Richard Nrautheinme, "Introduetion to A écfrase bizantina do periodo de Justiniano deixa reconhecer an 'Iconography ot Medieval Architeture", Uul 1at OI tIe varturg ourtauld Institutes 5, 1942. uma referêicia aos antigos apenas na forma da descrição literária, mas não mais numa percepção arquitetônica. Isso não se dá por acaso, já Pp. 1e s. Sobre o teplo de Jerusalém, cf. Ginter Bandmann, Lexikon der que a arquitetura bizantina começou sob o império de Justiniano ou, em outras palavras, sob ele foi instituído o "primeiro sistema arquite tônico da Idade Média'" Em relação às descrições de Santa Sofia, deve-se mencionar ou- christlichen Ikonograplhie, vol. 4, pp. 255 e ss. As nmais importantes coletâneas sistemåticas de fontes para o século x são: Otto Lehmann-Brockhaus, Die Kunst des. Jahrhunderts inn Lichte der Schriftquellen; para a França (séculos X1-X1): Victor Mortet, Recueil de textes relatifs à l'architecture et à le condition des architectes en France au moyen tra referência arquitetônica, que aqui é apreendida pela primeira vez e deverá ter uma importància extraordinária para a concepção arqui- tetônica da Idade Média, para a Contrarreformae para o barroco, sem age, para a Alemanhaea Itália: Otto Lehmann-Brockhaus, Schriftquellen zur Kunstgesciichte des il. und 12. Jahriunderts jür Deutschland, Lotfirmgen und Italie1, 2 vols., Berliim, 1938 (pp. 1-535, fontes sebre a aryuitetura): para a Inglaterra: Otto Lehmann-Brockhaus, Lazeinische Schriftgueilen zur Kunst în Englani, 1fales nd Schottitnd vo7m Jahre 901 bis zuni Jahre 1307, 5 vols., Munique, que seja possível abarcar completamente sua extensão: a referência a Templo de Salomão de Jerusalém, tal como ele se tornou conhecido a partir das descrições do Antigo Testamento (Reis I 5 e 6; Ezequiel 40-42). Por ocasiäo da inauguração de Santa Sofia em 537, Justiniano teria pronunciado a seguinte frase: "Salomão, eu te superei", a qual não é fornecida pela écfrase, mas por outra fonte". Comprovou-se recente- 1955-1960. "Chronica Monasterii Casinensis" mente que a construçao justiniana, com sua primeira cúpula, coincide (MGH. SS, vol. vi, 551-844; nova edicão de Hartmut Hoffmann em MGH, Scriptores, vol. 34, Hannover, 1980); excertos em Julius von Schlosser, Quellenbuch zur Kunstgeschichte des abendländischen Mittelalters, Viena, 1896, pp. 192-217; Lehmann-Brockahaus, op. cit. (1938), pp. 476 e ss., 681 e s.; cf. também a trad. inglesa de Elizabeth Gilmore Holt, A Documentary History nas medidas da base e da altura com as proporções indicadas para o Templo de Salomão, onde a altura, a largura e a altura estão na propor ção de 3:1:1,5 Que a imagem externa da Santa Sofia é completamente diversa do Templo de Salomão não surpreende ante o entendimen to abstrato de cópias a Idade Média". Os esforços para reconstruir o Templo de Salomão com consequências concretas na arquitetura real of Art i, Garden City, N.Y., 1957, pp. 8-17. só terão início na Contrarreforma. Mais adiantevoltaremos a isso. Uma série de escritos ocidentais da Alta Idade Média que tra- taram direta ou indiretamente da arquitetura refere-se principalmen- te a obras isoladas". Mas, como elas podem conter informações sobre a compreensão da arquitetura para além do interesse monográfico sobre a construção, mencionaremos algumas das mais importantes. Na história do mosteiro beneditino de Montecassino, iniciado por Leo de Óstia (c. 1046-1115)3", no livro IIl a atividade construtora é atribuida expressamente ao abade Desidério. A reconstruçäo e a de- coração da igreja permitem reconhecer um conceito politico de arte bastante amplo. Por ocasião da compra do mármore, o abade viajou pessoalmente para Roma. Com a construção iniciou-se (1066) conductis Iistória da 7ria taArqnitetura protinus peritissimis artificibus"; ainda durante a construção o aba- Schlosser, op. cit. (1896), p. 203, Sobre Suger ef. principalmente Erwin Panofsky, A bbot Stuger. On the Abbey and Church of St.-Denis and Its Art Treasures, (com reproduçãoe trad. inglesa das partes mais importantes dos escritos de Suger). Cf. também Paul Frankl, The Gothic, Literary Sources and Interpretations through Eight Centuries, Pp. 3-24. 0s cscritos de Suger sãoas "Ordinationes" (de 1140/41), do Libbellus de recrutou mosaicistas em Constantinopla para a decoração, com o fito de fazè-los novamente prosperar no Ocidente depois de cinco séculos de abandono da arte; fez com que alguns de seus monges recebessem formação téenica etc. O cronista introduz uma descri- ção precisa da construção e das medidas. A totalidade da concepção sobre arquitetura e decoração indicada pelo contratante é bastante clara, conquanto tenha sido realizada por artistas de origens comple- Alter de Consecretione Ecclesiae Sancti Dionysii (de 1144-46/47) e do Liber de Rebus in Administratione Sua Gestis tamente distintas. de 144-49). Um dos testemunhos mais surpreendentes das explicações medievais para a arquitetura são os escritos do abade Suger de Saint- Denis (1081-1151). que não podemos reduzir a pressupostos de teoria Suger (Libellus Alter de Consecratione), org. Panofsky, p. 90. Uma descrição feita em 799 da basílica carolingea de Saint-Denis, com uma precisão surpreendente na informação das medidas, foi publicada pelo bispo Bernhard (Eine Beschreiburg der Basilika von Saint-Denis aus dem Jahre da arquitetura ou mesmo a Vitrúvio. O fato histórico quase singular de um mestre de obras relatar sua construção pode ser explicado a partir de considerações apoiogéticas (contra o puritanismo cisterciense) e da 799, Kunstchronik 34, pp. 97-103, 1981). vaidade pessoal do autor"". A reconstrução parcial da abadia de Saint- -Denis (1140-1144) é justificada por Suger pela necessidade de espa- Cf. sobretudo Richard Krautheimer, "Introduction to an Iconography of Medieval Architecture". Journal of the Warburg and Courtauld Institutes 5, 1942, Pp. 10 e s. ço para os dias festivos de Raumnot; a conservação da nave carolingia mais longa da igreja eainclusão de um novo coro e átrio como anexo colocaram Suger diante de um problema estético, que ele reconheceu Suger (Liber de Rebus in Administratione), Panofsky, org. PP. 62 e ss. Cf. a introdução de Julius von Schlosser para Quellenbuches zur Kunstgeschichte des abendländischen Mittelalters, Viena. claramente quando se caracterizou como de convenientia et cohaeren- tia untiqui et novi operis sollicitus .Questões formais referentes ao pla- nejamento não são abordadas por Suger; por isso não aparece nenhum 1896, p. xvu. william Stubbs, The Historical Works of üervase oef Canterbury, 2 vols., Londres. 1879-80 (reprodução do texto no vol. T1, Pp. 325-414); Schlcsser, Quellenbuch (1896), pp. 252-265; Frankl, The Gothic (1960), pp. 24-35; Teresa G. Frisch, Gothic Art 1140-c. 1450, Englewood Cliffs, N.Y, 1971, pp. 14-23 (trad. inglesa). nome de um mestre. Suger menciona apenas, com certa naturalidade, que as doze colunas do coro aludem aos doze apóstolos, o que cor- respondia a uma concepção iconológica anplamente difundida2. Nas passagens sobre material e pessoas durante a construção, Suger men- ciona repetidamente a intervenção divina, o que confere ao processo da construção e a ele mesmo uma aura mágica. O interesse particular de Suger resulta na decoração preciosa de sua igreja com aparatos li- Carl Schnaase, Geschichte der bildenden Künste im Mittelalter, vol. I1, p. 242. túrgicos, e ele não esconde niss0 um pensamento de concorrência com a decoração da Santa Sofia de Constantinopla. A censura implícita de que o material precioso é um fim em si mesmo ele faz acompanhar com uma sentença tirada de Ovídio: "materiam superabat opus", e com astúcia teológica argumenta que pedras e gemas preciosas trazem "anagogico more para a meditação*, E possivel que os escritos de Suger tenham sido sugeridos pela écfrase bizantina, mas foram atribuídos com convicção ao tipo dos me- moriais a que pertence tambémo tratado do monge Gervásio sobre a reconstrução da catedral de Canterbury. Esse tratado, cujo título é Gervasü Cantuariensis Tractatus de Combustione et Reparatione Cantuariensis Ecclesiae", foi caracterizado na metade do século xix como "o documento escrito mais importante da história medieval da arquitetura"", Pouco se sabe sobre o editor, o 45 A Tradicão de Vitrúvio en Teoria da Argtuieinra na idate Média monge Gervásio (c. 1141-1210) da abadia de Canterbury. Se comparar- mos seu tratado com os escritos de Suger, então são sobretudo o em- Sobre a construção do coro da catedral de Canterbury, ef. Geoffrey Webb, Architecture in Britain. The Midule Ages (Pelican History of Art), Harmondsworth, 1956, pp. 72 ess; Peter Draper, "William of the Choir Termination of Canterbury prego preciso da terminologia da história da arquietura e o enfoque em categorias estéticas para o julgamento da arquitetura que tornam Cathedral 1175-1179", JournaB of Socicty of Architectural Historiarns NLI, 1983, seu texto extraordinariamente "moderno" no sentido da história da Pp 238-248. arquitetura atual. Após o incêndio da catedral de Canterbury no ano de 1174, consultaram-se arquitetos franceses e ingleses (artifices Franci et Angl) sobre uma eventual reconstrução ou nova construção, e final- mente o artifex subtilissimus Wilhelm de Sens foi incumbido de super- visionar a obra". Gervásio, que conhecia bem a construçgão originária, Citado segundo Schlosser, op. cit., (1896), p. 264 1Trad. segundo Frankl, op. cit., (1960), pp. 30 e s. Esse pensamento se encontra em Schnaase, op. cit, (1856), p. 245. fornece em primeiro lugar uma descrição completa da antiga igreja, antes de começar o relato da nova construção (1174-1185). A conmpara- ção de ambas as obras apoia-se em formas singulares de construção e, apesar de toda discrição, percebe-se claramente que as simpatias es- téticas do autor são pela nova construção. Citanmos algumas sentenças dessa comparação: Nuncautem quae sit operis utriusque differentiadicendumest. Pilariorum igitur tam veterum quam novorum una forma est, una et grossitudo, sed longitudo dissimilis. Elongati sunt enim pilarii novi longitudine pedum fere duodecium. In capitellis veteribus opus erat planum, in novis sculptura subtilis [.] Ibi murus super pilarios directus cruces a choro sequestrabat, hic vero nullo intersticio cruces a choro divisae in unam clavem quase in medio fornicis magnae consistit, quae quatuor pilariis principalibus innititur, convenire videntur |..43 Mas agora é preciso declarar em que consiste a diferença das duas obras. A forma das antigas e das novas colunas é a mesma, e também sua espessura no comprimento, cerca de quatro metros. Nos capitéis antigos a obra era pla- na; nos novos, a obra do cinzel é sutil [.J. Aqui, uma parede, construda sobre as colunas, separava os braços do transepto docoro, mas lá, não separados do cruzamento, elas parecem encontrar-se na chave de abóbada no meio da grande abóbada, que descansa sobre as quatro colunas principais [.] * Enquanto nos relatos de Suger não é possível traçar uma li- nha nítida entre o contratante e o planejador, em Gervásio aparece, poucos séculos depois, uma consciência clara quanto à qualificação profissional e estética do artifex, de cujo destino o autor participa pessoalmente. Nas comparações entre as obras se refletem provavel- mente os diálogos que Gervásio manteve com Guillaume de Sens e seu sucessor, o inglês Williams0 O texto de Gervásio é a prova escrita mais imediata de que há informações sobre o modo de pensar dos primeiros arquitetos góticos. 46 Históriada Teoria da Arquitet:ra Um conhecimento de Vitrúvio - que é principalmente indireto é indicado na descrição do corpo humano contida no Liber Divinorum As obras Hildegard von Bingen foram integral Patrologiae Cursus Completus, (iber Divinorum Operuni, col. 739 e ss.); Idefons Herwegen ("Ein mittelalterlicher Kanon des menschlichen Körpers", em Repertoriunm fir Kunstwisenschaft xxX, 1909, pp. 445 e s.) loi o prineiro a chamar a atenção para a teoria da proporção, sem contulo scr possível estabelecer relação com teorins da proporção anteriores. nte conservadas: J.-P. Migne, Operum Simplicis Honinis da mística Hildegard von Bingen (1098- 179) Demonstra-se claramente a ciência da "figura vitruviana" quan- do se diz: "Nam longitudo staturae hominis latitudoque ipsius, brachiis et manibus aequaliter a pectore extensis, aequales sunt |J". Logo a seguir se alude à figura humana como espelho do cos- mos, quando Hildegard afirma: "quemadmodum etiam firmamentum aequalem longitudinem et latitudinem habet [..]"s Da mesma forma, a tripartição do rosto indica igualmente o Liber Divinorum Operum, col. 814. 3 Idenm, ibidenm. " Iden, col. 815. Cf. Herbert von Einem, "Der Mainzer Kopf mit der Binde" (em Arbeitsgemein-schaft für Forschung des Landes Nordrhein-Westfalen, Geisteswiss., Caderno 37), Colónia/Opladen, conhecimento de Vitrúvio. As representações do homem (microcosmo) e do macrocosmo 1955, pp. 25e s., liguras 26 e 21. em um manuscrito da primeira metade do século xin do Liber Dininorunm Operum de Hildegard (Lucca, Bibl. Governativa, códice 1942, folhas 9r e 27v) são claras analogias com a figura vitruviana (FIGURA 2). Von Einem, op. cit., p. 26, Figura 28. Liber Divinorum Operum, col. 845f.: Sed et in spatio quod est inter finem gutturis et umbilicum aer designatur, qui de nubibus usque ad terram descenda . Isso vale ainda mais para a representação do Aer num manuscrito do Liber Pontificalis do fim do século xu (FiGURA 3) (Reims, Bibl. Municipale, Ms. 672, folha 1)s", que talvez se possa associar a uma Ama enim ab altitudine coeli ad terrene descendens, hominem quem vivificat, sed a Deo creatum esse intellegere facit, ipsaque aeri, qui inter coelum et terram medius vidctur, assimilatur L.J passagem do texto de Hildegard von Bingen. Essa sobreposição de significados desempenhou um papel importante no pensamento medieval, inclusive nas representações da escultura de grande por- te, como se demonstrou com ajuda do fragmento da cabeça da gale- Von Einem, op. cit, e Günter Bandmann, "Zur Deutung des Mainzer Kopfes mit der Binde", Zeitschrift für Kwstwissenschaft x. 1956, pp. 153-174 Kenneth J. Conant, "The After-life of Vitruvius in the Middle Ages", Heitz, op. cit. (1974), p. 751. ria ocidental do domo de Mains" Uma aplicação da tradição vitruviana foi feita provavelmente para a planta da igreja de Cluny il". Permanece em aberto a questão "Sicardi Cremonensis Episcopi Mitrale, sive De Officiis Ecclesiasticis Sunmma" (J.-P. de saber se se trata aqui de uma exceção ou de um procedimento comunm (pelo menos entre os cluniacenses). Migne, Patrologiae Cursus Conpletus, sér. lat., vol. 213), 1855; cf. sobretudo o Livro I, "De Ecclesiae Aedificatione, Ornam et Utensilibus", col. 13 e ss.; sobre Sicardo, cf. Paul Gerhard Ficker, Der Mitralis des Na obra de Sicardo, bispo de Cremona (t 1215), sobre a cons- Sicardus nach seiner Bedeutung fir die Tkonographie des Mittelalters; ILeipzig, 1889. trução de igrejas e suas funções litúrgicas ("Mitrale", sive De Officiis Ecclesiasticis Mumma)", o autor fornece, a respeito do edifício da Destacam-se na literatura abrangente: Josef Sauer, Symbolik des Kirchengebäudes und seiner Ausstattung in der Auffassung des Mittelalters; Günter Bandmann, Mitelalterliche 1greja e suas partes, uma interpretação que é tipica para a interpre- tação teológica da arquitetura, mas não permite deduzir uma con- cepção estética e teórica sobre a arquitetura. O edifício da igreja remonta ao tabernáculo de Moisés e ao Tempo de Salomão como Architektur als Bedeutungstrager Sobre o problema da iconologia arquitetönica, ct. sobretudo Günter Bandmann, "Ikonologie der Architektur" Jahrbuch für Ästhetik und allgemeine Kunstwissenschaft, 1951, pp: 67-109 (reimp. no formato de livro: Darmstadt, 1969), 1951. imagem da Ecclesia militans e da Ecclesia triumphans. O principal fundamento é Cristo, nele se encontra o fundamento dos apóstolos e dos profetas. Cada elemento arquitetônico isolado do portal até o teto é interpretado como uma parte da Ecclesia universalis. O edificio da igreja torna-se um espelho lógico-funcional dos membros vivos da Igreja. Essas explicações iconológicas da arquitetura sâo muito co- muns na literatura medieval e encerram um significado central°, mas o problema do simbolismo da arquitetura ultrapassa em larga medida as categorias da teoria da arquitetura e da estética, raz�o pela qual não será tratado aqui A Tradição de Vitrivio ea Teoria da Arquitetura na Idade Média AVIL0 P Mal SEPhIR w. AVSTE Para a compreensão científica e teológica da arquitetura du- o Erwin Panofsky, Gothic Architecture and Scholasticism (1951), Cleveland/Nova York, 1963 (6. ed.); Otto von Simson, The Gothic Cathedral. Origins of Gothic Architecture and the Medieval Concept of Order, Nova York, 1956; ed. alem�: Die gotische Kathedrale. Beitrage zu ihrer Entstehng und Bedcuung, Daiusiadt, 1968; cf. sobretudo pp. 36 e ss. rante o século xilI, chamou-se a atenção, com particular insistëncia, para a filosofia escolástica e seus pressupostos", Trata-se, aqui, do papel da geometria e da aritmética na interpretação do cosmos. A importän- cia do número como principio constituinte de ordem foi formulado na Antiguidade nas filosofias pitagórica, platônica e neoplatônica. A partir dessa tradição, Agostinho criou seu tratado De Musica, no qual demonstra a regularidade matemática das "modulações" musicais. Na concepção de Agostinho, a músicaea arquitetura são irm�s: ambas se baseiam no número, que constitui a fonte de toda perfeição estética Em seu escrito De Libero Arbitrio, Agostinho caracteriza a forma como resultado do número: formas habent, quia numeros habent". Por meio de Agostinho e Boécio, que desenvolveu ainda mais essa doutrina, uma estética fundada nas relações numéricas ganhou obri- gatoriedade na Idade Média. Desde a segunda metade do século xi, na escola da catedral de Chartres, a matemática e a geometria se tor- Cf. von Simnson, op. cit. (1968), p. 38. ( Aurélio Agostinho, "De Libero Arbitrio", em J-P. Migne, Patrologiae Cursus Completvs, sér. lat, vol. 32, (o volume contém ainda os escritos de Agostinho, importantes para a estética, De Musica e De Ordine). o0 Von Simson, op. cit. (1968). p. 44. 6/ Cf. von Simson, op. cit. (1968), pp. 45 e ss. (1968), p. 44. o "Alanus ab Insulis, Liber de Planctu Naturae", em J-P. Migne, Patrologiae Cursus Con1pletus, sér. lat., vol. 210, 1855, col. 453. A importância da matemática e da geometria para a arquitetura cisterciense toi demonstrada na arquitetura do covento de Eberbacl1 (c.1145-1186) por Hanno Hahn (Diefrühe Kirchenbaukunst der Zisterzienser, Berlim, 1957, pp. 66 e ss., naram um princípio para a interpretação teológica. Thierry de Chartres explica o mistério da trindade com a demonstração geométrica do tri- ângulo equilátero; a relação entre o Deus Pai e o Filho foi interpretada por meio do quadrado". Para os teólogos de Chartres, o cosmos se 73 e ss.) 6 Cf. von Simson, op. cit. (1968), p. 56; Joachim Gaus, "Weltbaumeister und Architekt", em Günther Binding (org), Beitrage iüber Baufühurung und Baufinanzicrung im Mittelalter, Colónia. 1974, pp. 39-67. tornou uma obra de arquitetura e Deus foi seu arquiteto. Os números proporcionais matemáticos do cosmos, da músicae da arquitetura são os mesmos". O filósofo poeta cisterciense Alano de Insulis (c. 1120- 1202), cujas ideias se aproximavam da escola de Chartres, descreveu Deus como mundi elegans architectus, como universalis artifex, que Idem, ibidem A articulação do Specuhun Majus foi tirada em sua sistemática do livro fundador de Emile Male sobre a arte do século xiin para a disposição do conteúdo: Emile Male, LArt religieux du xim siècle en France. (6. ed) (trad. inglesa utilizada: The Gothic Image. Religious Art in France of Assim, a catedral gótica pode ser interpretada como "modelo do uni- the Thirteenth Century, Nova York, 1958). erige o palatium mundiale®", A concepção de Deus como arquiteto do mundo tornou-se usual também nas representações imagéticas" verso medieval"70 Cf. sobretudo Achille Pellizzari, I Trattati attorno le Arti Figurative, vol. 1.p. 371e ss. Na página 435 encontra-se o indice do livro xi do Speculum1 Doctrinale com reprodução de algumas passagens do original que remontam a Vitrúvio. Os pressupostos teológico-filosóficos são a base intelectual da geometria da construção de oficinas na Idade Média. O alcance e a forma dessas oficinas ainda não foram esclarecidos, apesar da vasta literatura a esse respeito. 1n Tomás de Aquino, por exemplo, parece ter tido apenas um conhecimento indireto de Vitrúvio; em seu texto De Regimine Principum ele cita equivocadamente o nome de Veg�cio; ci. W. A. Eden, "St. Antes de passarmos a esse problema, é necessário fazer umna referência à classificação que a arquitetura recebe nas enciclopédias da Alta Idade Média, no Speculum Majus de Vicente de Beauvais Thomas Aquinas and Mediaeval and Renaissance Studies S, em (c. 1190-1264)". Os comentários sobre a arquitetura encontram-se no livro XI do Speculum Doctrinale, dedicado aos artibus mechanicis. (Warburg I»stitute), 11, 1950, pp. 183-185. As passagens sobre arquitetura consistem em compilações, que em parte constituem transcrições literais de Vitrúvio e da enciclopédia antiga de Isidoro de Sevilla". Se aqui reencontramos as categorias vitruvianas da arquitetura, isso comprova mais o conhecimento do texto de Vitrúvio do que a relação de sua teoria da arquitetura con o século xiu7 A importância de Vitrúvio para o apogeu do gótico 50 História da Teoria da Arquitetura foi superestimada", E questionável que o único livro medieval sobre construção de oficinas que chegou até nós pressuponha efetivamente "Porticularinente em Paul Frankl, op. cit. (1960), p. 103, onde se lë: "Sc indagnrnios, então, respeito do livro sobre a estética da irquitetura 1Nos tenipos góticos, a resposta paradoxal deverá ser: Vitrúvio". um conhecimento direto de Vitrúvio. O livro sobre construção de oficinas de Villard de Honnecourt ativo entre c. 1225 e 1250) é, a rigor, o único manuscrito da Alta Idade Média que trata exclusivamente da arquitetura e tem propósitos didá- ticos. Apresenta-se inicialmente como um livro de ilustrações reunidas pelo viajadissimo arquiteto Villard de Honnecourt, mas dois continua- dores da obra reformularam-no posteriormente em um tratado sobre construção de oficinas", o qual, em virtude da história de seu surgimen- to, não está constituido metodicamente e chegou incompleto até nós. Na página 2, illard se dirige diretamente ao leitor do manus- A cd. mais importante é, hoje como a1ntes, Hans R. Hal1nloser, Villard de Honnecount. Kritische Giesamtausgabe des Bauhiüttenbuches ns. fr. 19093 der Pariser Nationalbibliothek, Wien, 1935 (2. ed. ampliada, Graz, 1972); J. B.A. Lassus, Album de Villard de Honnecourt, Theodore Bowie, The Sketchbook of Villard de lomecourt, Nova York, 1959, 1962 (com a trad. inglesa dos textos). Mencionamos da literatura abrangente sobre Villard: Frankl, op. cit. (1960), pp. 35-54; R. W. Scheller, A Survey of Medicval Model Books, pp. 88-94; François Bucher, Architector. The Lodge Books and Sketchbooks of Medieval Architects, 1, Nova York, 1979, pp. 15 e ss. (o volume contém uma tentativa de biogratia e uma bibliografia, bem como uma publicação coletiva de desenhos com interpretações de folhas isoladas); Cord Meckseper, "Uber die Fünfeckkonstruction bei crito e define seus propósitos: Villard von Honnecourt saúda-vos e roga a quantos fizerem uso das re- comendações que se eneontram no presente livro que orem pela alma de seu autor e se lembrem dele. Pois nesse livro se podem encontrar bons Villard de Honnecourt und im sp�ten Mittelalter", Architectura 13, 1983, conselhos sobre a grande arte da arquitetura (maconerie) e as constru- Pp.31-40. çöes (engiens) do carpinteiro (carpenterie); e nele encontrareis também Hahnloser, op. cit. (1935), p. 239. a arte do desenlho (portraiture), os elementos que exigem e ensinam a Trad. segundo Hahnloser, op. cit. (1935), p. 1. disciplina da geometria (iometrie)". Hahnloser, op. cit. (1935), p. 241. Como Frankl, op. cit. (1960), p. 37 A exigência de formação do arquiteto (sem que se empregue esse conceito ou outro análogo) tem uma abrangência semelhante à de Vitrúvio. 0 próprio Villard deve ter estudado o triviume o quatri Hahnloser .op. cit. (1935), p. 251; Carl Lachmann, Gromatici Veteres, Berlim, 1848: para a tradição medieval, cf, da Gromatici Veteres, a recente ed. de Giangiacomo Martines, "Gromatici Veteres' tra Antichità Medioevo", em Ricereche di Storia dell'Arte 3, pp. 3-23, 1976. vium. Além disso, é equivocada a caracterização de Villard como um "Vitrúvio gótico" Convém ressaltar que não houve um conceito literário que for- necesse o estimulo para o surgimento do livro sobre a construção de ofi- cinas, mas em sua origem encontra-se um caderno de anotações repleto de esboços. Apenas a passagem sobre a geometria da construção de ofi cinas (FIGURA 6) (Hahnloser, pranchas 39-41) demonstra certa unidade formal entre ilustração e texto, que proVavelmente remonta à tradicão -1 romana, tal como a representam os chamados Gromatici veteres0 Em sua edição critica do livro, Hans R. Hahnloser organizou os desenhos e os textos em sete temas: 1. desenhos das construções 2. arquitetura aplicada; 3. maçonaria e geometria; 4. carpintaria e maquinaria; 5. forma humana; 6. representações de animais; 7. arte do desenho. A Tradição de VitrúvioeaTeoria da Arquiteturana ldade Média 51 Trad. segundo Hahnloser, op. cit. Q935), ) Em seus desenhos arquitetónicos, Villard fornece uma siste 01. mática abrangente da planta e do alçado até o cume das torres; os Ci. Erwin P'anofsky, "Die Entwieklung der Proportionstehre als Abbild der Stilentwicklung", em Monatshefire fiür KtnstwisseHsChaft Nv; rempresso em l'anofsky. A:fsätze zu Grunilragen pormenores dos desenhos recobrem todos os elementos da constru- ção de igrejas - faltam tão somente, como meios representativos, a 1Sometria e os cortes transversais. er Astwissenschafi. Berim. 1904, Cspecalmente pp. 183 e s. Sobre a questao da proporçio cm Villard, cf. tambemn Nikolaus Speich, Die Proportionslehre des menschlichen Körpers, diss., Ziürich. 1957, pp. 121ess. A passagem sobre portraiture � a mais importante de todo o livro. Na Prancha 36, Villard explica esseconceito (FIGURA 4): "Aqui começa a arte dos elementos básicos do desenho (portraiture), assim como a disciplina da geometria, que ensina a trabalhar com facilidade" ". Se, aqui, um sistema geométrico é posto em relação com a ti- Panofsky, op. cit. (1964), p. 184, Figuas 48 c 49121 e ss gura humana e animal, convém observar que, em comparação com as figuras de proporção da Antiguidade, as figuras já n�o são obtidas a partir da nmedição da forma orgânica, mas são projetadas como formas geométricas autônomas (quadrado, círculo, triângulo e pentágono). A interpretação de corpos como triângulos indica contornos e veto- res, mas ignora a substância corporal e a relação entre os membrosS", Um reflexo da tradição antiga - herança provável de Bizâncio - se Trad. segundo Hahnloser. op. cit. (1935), . 03. Sem duvida, Waller Ueberwasser ("Nach rechtem Maß". pp. 259 e s.) ropoe que as series de quadrados desempenhan un papel na concepção da plnta, demonstrando-0 a parti1r do desenho da planta de Villard para a torre da catedral de Laoin mostra ainda na divisão de rostos segundo o comprimento do nariz, mas a forma geométrica é autônoma em relação à forma da cabeça. Como demonstrou Erwin Panofsky, esses retículos geométricos, so- brepostos às figuras, foram efetivamente utilizados, pois um vitral da catedral de Reims da mesma época coincide exatamente com a re- presentação de uma cabeça de Villard feita no reticulo geométrico Surpreendentemente, a utilização desse esquema geométrico na ar- quitetura se encontra apenas na cobertura de um pórtico e na planta de uma igreja cisterciense (FIGURA 5), em cuja inscrição se lé: "Aqui se encontra a planta de uma igreja angular, prevista para uma construção da ordem de Cister". A planta foi elaborada a partir do módulo da estacada de uma nave lateral. As demais plantas e alçados comprovam apenas parcialmente a tese segundo a qual as construções medievais foram erigidas, segundo a planta ou o alçado, respeitando muito pouco as fórmulas geométricas elementaress A problemática - em torno da construção de oficinas medie- vais, das ordens de artesãos e de seus chamados segredos não cor- responde inteiramente ao contexto de nossa apresentação. O exame dessa questão, e de outras semelhantes, deve passar necessariamen- te pelas interpretações históricas que foram projetadas sobre a Ida- de Média pela maçonaria e pelo romantismo, para então encontrar a confirmação de algumas ideias peculiares a um passado adequadamente interpretado. Não se pode tomar como definitivas as interpretações "em camadas" que acreditavam poder fundamentar a partir do gótico tanto um funcionalismo construtivista e estruturas "orgânicas" (Viollet-le- Duc) quanto uma utopia social voltadas para o passado (Ruskin) e os segredos de todas as normas geométricas da arquitetura. 32 listória da l'eoria cda rq"itetura EiGRRA ar chu au or orn uetrret N oh couom on can ne oipnbe gue on ne ree or 1ut e cie archu &eus pírt aun point soto mackon oe be S lons neiesoa pe r u parnon aHu oo C sobretudo Carl 1leideloff A oficia gótica" e seu "segredo" perderam muito de seu as- Die Bautlhiitten des Mittelalters pecto esotérico; o segredo das oficinas provavelmente não era senão in Deutsehland; Ferdinand Janer, Die Bauhitten des deutschen Mittelalters; a representação geométrica de unna relação numérica irracional". 'ierre du Colombier, Les Chantiers des cathédrales, Paris, 1953 (1973); Frankl, op. cit. (1960), pY). 110 e ss. Opapel"da medida e do número" mostrou-se, em um exame critico das fontes, como a aplicação de uma determinada etapa de conlhecinmentos Ci. sobretudo Paul Frankl, "The Seeret of lediaeval Masons", The Art Bulletin 27, 1945. pp. a6 e ss.; Frankl, op. cu. (1960), pp. sobre matemática e geometria ao processo prático de construção". A aplicação de métodos de projeção ad quadratum e ad triangulum só foi identificada a partir do final do século xiv". Uma série de livros ASe S No que respeita à discussão critica desse problea, tratado de maneira sobre cantaria, em parte manuscritos, em parte impressos, de fins do muuto emoconal na literatura antiga, verilicar sobretudo Walter Ueberwasser, século xv e começo do xVI cont�m regras práticas de construção e não "Nach rechtem Alak. Aussagen über den deve ser tomada como manifestaçâão teórica sobre a arquicetura. Como neles se manifesta claramente uma tradiç�o de oficinas góticas só tar- NIL-XVI. JahrhundertIs", idem. "Beiträge zur 1Wiedererkemtnis gotiscer Bau-Gesetzinäßigkeiten" Zeitschriji fiür Kurstguscuchte 8, 1939, Pp. 303-309; particularmente inlluentes são as discussões realizadas a respeito do templo priunitivo milanés no artigo diamente transmitida, faremos uma breve menção apenas aos mais im- portantes desses escritos". O primeiro desses livros de esboços parece ser um livro não publicado de exemplos de arquitetura de meados do século xv, que de James S. Ackerman "Ars sine Scientia Nihil Est'. Gothic Theory of Architecture the Catlhed:al of Milan", uni trabalho abrangente é fornecido por Kourad Hecht, "Maf und Zahl in der se encontra atualmente na Biblioteca Nacional de Viena; ao lado de regras para oficinas, ele contém um tratado técnico de arquitetura no gotischen Baukunst". CI. sobretudo Ueberwasser, op. cit. (1935); qual se abordam diversos aspectos da construção, abrangendo tanmbém Ackerman, op. cit. (19.49); Hecht, op. ciu. (1970), pp. 137 c ss construçöes úteis, como as pontes e as represas Umpequeno escrito de Hans Hösch, de Gmünd , de fins do sé- Compilações sobre esses manuais de cantaria em Paul Booz, Der Baumeister der Gotik, Franlkl, op. cit. (1960), p. 144 e ss.: Elke Weber, "Steinmetzbüicher Architekturmusterbiicher", Anncliese culo xv, intitulado Geometria Deutsch e concebido para uso de artistas, apresenta em nove pontos indicações geométricas para a construção. Em 1486 apareceu o primeiro livro impresso sobre cantaria; é de autoria do mestre de obras do domo de Regensburg Matthäus Rori- Seelinger- Zeiss, "Studien zum Steinmetzbuch des Lorenz lechler von 1516", Architectura 12, 1982. pp. 125-150. czer e tem como titulo Biüchlein von der Fialen Gerechtigkeit (Livrinho Chama a atenção o estudo panorámico de Kurt Rathe, "Ein Architektur Musterbuch der Spätygostik mit Sraphischen Einklebungen'; cf. sobretudo do, a partir dos fundamentos da geonnetria, o projeto geométrico para Frankl, op. cit. (1960), pp. 145 e sS.; cl. uma datação posterior ("não antes do final a construçao de fialas goticas com base em um sistema de quadratura do século xv") em Elke Weber, op. cit. (1978), p. 25. sobre as Regras de Construção das Fialas)". No opúseulo é demonstra- cada vez mais diferenciado. Um ou dois anos depois, Roriczer publicou Publicado por Heidelofl, op. cit. (1844), pp. 0 escrito Geometria Deutsch°", em que se fornecem indicações de for- 95-092, cf Frankl, op. cit. (1960), Pp. 197 es mas geométricas para construções de maneira semelhante à de Hösch. Matthäus Roriczer, Das Biichlein von der Pela mesma época da publicação do Livriho sobre as Regras de Fialen Gerechtigkeit und Dic Geometria Deatsch; cf. também uma ud comentndo. Construção de Fialas (1486) imprimiu-se o Fialenbüchlein (Liv1rinho sobre com trad. para o ingles de Lon R. Shelby, Gothie Design Techniques. The Fifteenth- Century Desining Booklets of Mathes Roriczer and Hanns Sch1nattermayer, (cf. a esse respeito a resenha de Warner Müller em Architectura 8, 1978, Fialas) de Hans Schmuttermayer", de Nuremberg, que desenvolve prin- cipios geométricos análogos para o mesmo tipo de tareta arquitetônica. Um livro sobre cantaria publicado em 1516, mas conhecido apenas a partir de duas cópias do final do século xvi, é da autoria de Lorenz Lacher (Lechler) e foi redigido para seu filho Moritz a titulo de "instrução". O livro de Lacher éessencialmentemais abrangen- te do que os de Roriczere Schmuttermayer e trata da totalidade dos elementos arquitetônicos de uma igreja, começando pelo projeto de um coro. Como seus predecessores, Lacher utiliza um sistema de quadratura para o corpo do edificio como um todo; exige, como Pp. 190-193). Fac-simile na ed.de Geldner (1965); ed. coinentada com trad. inglesa em Shelby (1977). Ed. comentada com trad. inglesa em Sheloy (1977). Publicado por August Reichensperger, Vermischte Scriften tibr christliche Kunst; cf. 1.ou R. Shelhy e Robert Mark, Late Gothic Strucural Design in the História ta a Autte Instructions' of Lorenz Lechler"; Anncliese Seeliger-Zeiss, "Studien zum Steiinetzbuch des Lorenz Lechler von pressuposto para oprojeto, uma observação rigorosa das medidas do começo ao fin 1516", Architectura 12, 1982, pp. 125-150. Sobre a obra arquitetðnica de Lechlers, ef. Anneliese Seeliger-Zeiss, Loren12 Lachler von Heidelberg und sein Urnkreis, Heidelberg, 1967. Ao lado desses livros de cantaria relativos a empreendimentos arquitetonicos monumentais, imprimiram-se também mostruários espe- cificos de ornamentos, como consta no mostruário de Hans Boeblinger, o Velho (c. 1412-1482), publicado em 1435 e hoje no Museu Nacional de Munique. Chama a atenção o fato de todos esses mostruários dos sé- Citado segundo Reiclicnsperger, op. cit. (1856), p 133. François Bucher, Architector. The Lodge Books and Sketclhbooks off Medicval Architects, pp. 375 e ss. culos xve xVI serem do sul da Alemanha. E necessário verificar se es- ses livros sobre cantaria gótica" possuem um valor documental para o modo de pensar e os métodos de fazer projetos do século xiur. Walter Ci. Lambém o tratado de cantaria recentemente publicado do mestre WG do Instituto de Arte de Städel em Ueberwasser tentou superar a lacuna de dois séculos que medeiam en- tre eles e Villard de Honnecourt". Em todo caso, esses livros sobre Frankurt, que não tem nenhun texto e consiste apenas em gravuras e desenhos. A maioria dos 222 esboços se retere a abóbadas do final do período gótico. cantaria são os representantes de uma tradição mais antiga e também, provavelnmente, modos de pensar condicionados geograficamente e Claramente, empregaram-se modelos do final do século xv. Ci. Elke Weber, op. cit. (1978). pp. 26 e ss.; Elke Pauken (-weber), Das Steinmetzbuch wG 1572 tm Städelschen Kunstinstitut zu Frankfurt que permaneceram intocados pelas inovações arquitetônicas e teóricas que se processaram na Itália. ani Main (15. Veröftentlichung der Abt. Architektur des Kunsthistorischen Antes de nos voltar à teoria da arquitetura do começo do Re- nascimento, precisamos retonmar mais uma vez a questão da tradição vitruviana. Na Itália, a ocupação com Vitrúvio na Alta Idade Média de- Instituts der Universität Köln); François Bucher, Architector. The Lodge Books and Sketchbooks of Medieval Architects, pp. 195 e ss. e 375 e ss. Ueberwasser, op. cit. (1935). sempenhou um papel claramente marginal. Só com os primeiros huma- Oxford. Hodleian Libery, Auctar. E S. 5.7; ct. Lucia A. Capponi, "Il De Architectura di Vitruvio nel Primo Umanesimo (dal ms. nistas, Petrarca e Boccaccio, voltou-se a dirigir o olhar para seu tratado. Uma cópia escrita de Vitrúvio do século xiv em Oxford traz notas marginais de Petrarca, e conjeturou-se que foi por intermédio deste que se consultou Vitrúvio para as reformas do palácio papal de Avignon" Bodl. Auct. ES. 5.7)", IiaBia Medioevale e Umanistica 11, 1960, pp. 73 e ss.; Carol Herselle Krinsky, op. cit. (1960), pp. 83 e s.; Carol Herselle Krinsky, op. cit. (1967), Pp. 52 e s Boccaccio também possuía uma cópia manuscrita de Vitrúvio, que ele cita pormenorizadamente em seu De Genealogia Deorum"2, Enquan- to não fica claro se Cennino Cennini se apoia diretamente em Vitrú- CE. Ciapponi, op. cit. (1960). pp. 83 e ss. Cf. Cennino Cennini, Il Libro de!!'Arte, pp vio em seu tratado sobre a pintura (fins do século xIv)" em questões referentes à proporção humana, uma década depois Filippo Villani compara o pintor Taddeo Gaddi a Vitrúvio por causa de sua pintura 81 e s.; Nikolaus Speich, Die Proportionen des mensehlichen Körpers, pp. 130 e ss., aponta para Cennini na~radição medieval no sentido de Villard de Honnecourt. Filippo Villani, De Origine Civitatia Florentiae; sobre o conhecimento de Vitrúvio que Villani possui, ef. a posição crítica de Carl Frey, in Codice Magliabechiano cl. xvIu, 17, Berlim, 1892, arquitetónica"". Vitrúvio era relativamente bem conhecido no come- ço do humanismo, a partir de meados do século xiv, de modo que a lenda de uma "descoberta", em 1414, de um manuscrito de Vitrúvio p. XXXIIIe s. pelo humanista Poggio Bracciolini perde importância, porquanto já se comprovou que Bracciolini esteve em Constança em 1414 e pro- vavelmente foi sóem 1416 que ele "encontrou" o Codex Harleianus Cf.o catálogo de manuscritos em Carol conservado em St. Gallen. A tradição vitruviana se dá, para a Idade Hebert Koch, Von Nachleben Vitruvs, Baden-Baden, 1951, p. 15, nota 18; Ciapponi, op. cit. (1960), p. 98. Herselle Krinsky, op. cit. (1967); ci. também Manfredo Tafuri em Scritti Rinascimentali di Architectura, Média, de maneira continua. Milão, 1978, p. 393. O conhecimento de Vitrúvio teve uma expansão considerável no século xv, como demonstram os inúmeros manuscritos desse perío- do. Sabemos agora, com base em diversas fontes, que Vitrúvio não foi lido apenas por motivos literários ou antiquários: foi consultado em virtude de certos projetos. Antonio Beccadelli relata, em sua biogra- fia de Afonso de Aragão, que ele "teve diante de si o livro de Vitrúvio Cf.Hannn-Walter Kruft e Magne Malmanger, "Der Tumphboge Afonsos in Neapel. IDas Monunent und seine politische Bedeutung", em.Acta d Archaeoloyiam et Artum Hstoriam pertnerntia Vi, 1075, 1. 262. sobre arquitetura" quando começou a reconstrução do Castelnuovo em Nápolis", Em seus Commentarii, o papa Pio ii (Enea Silvio Pic- colomini) cita Vitrúvio no contexto da ampliação de Pienza (1459- 1464). Não apenas entre arquitetos mas também entre artistas plás- P'io n Enea Silvio Pieelomini. ticos, era comum a leitura de Vitrúvio na primeira metade do século Comentari, trad. italiana de Giuseppe Benetti, vol. 111 (1 Classici Cristiani, n. 222), Siena, 1973, p. 227. XV, como demonstram os Commentarii de Lorenzo Ghiberti"". Ghiber- ti possuía provavelmente uma cópia manuscrita medieval de Vitrúvio, Cf. Lorenco Ghiber ti's Dernkwürigkeiten, ed. de Julus von Schlasse 2 vols. Porlim. que ele traduziu parcialmente, talvez em virtude do projeto de um tra- 1912: Richard e Trude Krautheimer, Lorenzo Ghiberti (1956), Princeton. 1970, tado de arquitetura que ele não chegou a executar". Aparentemente, sohretudo P7. 305 e ss. sua tradução de Vitrúvio constituiu a base de uma tradução ulterior concluída por Buonaccorso Ghiberti (1451-1516), para cuja ilustração utilizou modelos que encontrou na cópia manuscrita latina de Vitrúvio da biblioteca de Lorenzo Ghiberti, a qual, por sua vez, parece remon No final do senindo livro de seus Coninientari. Lorenzo Ghiberti escreve: Faremos tum trat.do de architetura e trataremos dessa matéria'". Cf. o catilogo Lorenzo Ghiberti. Materid e Ragionamenti, Firenze, 1978, pp. 452 e ss. Cf. Gustina Scaglia, "A Translation of Vitrurius and Copies of Late Antique tar a um tipo originário carolingio - semelhante ao Códice de Schlet- tstädter Essa tradução jamais foi publicada". Mas demonstrou-se Drawings in Buonaccorso Ghiberti's Zibaldone", Transactions of the American Phulosophical Society. vol. 69, Parte 1, 1979, recentemente, para o Stephanus (1427/1428) de Lorenzo Ghiberti, o emprego de proporções vitruvianas Essa trad. é uma parte do Buonaccorso Ghiberti's Zibaldone (Florença, BibliotecaNacional, Codex Banco Rari 228). O texto foi publicado por Scaglia, op. cit. (1979), O interesse por Vitruvio no começo do Renascimento partiu dos humanistas, mas logo atingiu arquitetos, artistas plásticos e con- P19-30. tratantes, ligados por um interesse novo e comum pela arquitetura an- Cí Piero Morselli, "The 1'roportions of Ghiberti's Saint Stephen: Vitruviu:s De tiga, da qual Vitrúvio era a única fonte literária. Por mais diversificados que sejanm os textos medievais sobre os årchitectura a:ad alberti's De Statud", The Art Bulletiti LX. 1978, pp. 235-241. problemas da arquitetura, pode-se estabelecer que apenas em casos A respeito das apresentações da raros tratava-se de mestres de obra atuantes, por cujas observações devemos agradecer. O predomínio de aspectos filosóficos, teológicos arquitetura como ars niectiauca (por exeniplo. a catedral de Laon), ct. Joche Kronjäger, "Berühmte Griechen und Romer als Begleiter der Musen und der Artes Liberales in Bildzyklen des 2. bis 14. Jahrhunderts", Marburg, 1973, ou matemático-geométricos mostra claramente que o interesse pela arquitetura foi alimentado por fontes heterogêneas. A Idade Média não produziu uma teoria da arquitetura própria e não pode produzi pp. 27 e ss e 35 e ss. -la, uma vez que a arquitetura como ars mechanica estava numa etapa inferior na hierarquia das ciências. O nome Vitrúvio atravessa a li teratura como um fio condutor, mas não se conclui daí que o sistema teórico de Vitrúvio permaneceu válido durante a Idade Média. Sóo primeiro humanismo estava em condições de reconhecer o signifi cado sistemático de Vitrúvio. Desses esforços surgiram os primeiros sistemas teórico-arquitetônicos posteriores å Antiguidade, que certa- mente não invalidavam Vitrúvio, mas em parte o superavam em im- portância intelectual. lisiri tda leorin daArquiletur
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