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Anna lillian canuto bittencourt Introdução • As hemorragias uterinas anormais (HUA) são uma das queixas mais frequentes que motivam a consulta a clínicos gerais e ginecologistas; - Sendo responsável por cerca de 1/3 de todas as consultas. • O termo HUA refere-se a todas as situações de hemorragia genital com origem intra-uterina que diferem em regularidade, quantidade, frequência, duração e volume do padrão habitual de cada mulher; * Metrorragia é qualquer sangramento uterino fora do período menstrual. • O sangramento uterino anormal (SUA) afeta 10-30% das mulheres em idade reprodutiva e até 50% das mulheres na perimenopausa; • As principais causas do sangramento uterino anormal são disfunções ovulatórias, gravidez, anormalidades estruturais, distúrbios de coagulação e causas iatrogênicas; • Um sangramento anterior à menarca deve ser pesquisado como anormal; • CUIDADO!!!! SUA é um sintoma e não um diagnóstico. Etiologias • A etiologia do SUA pode ser dividida em duas grandes categorias: - Orgânicas: inclui gravidez e situações correlatas, doenças sistêmicas, doenças pélvicas, traumas e uso de medicamentos; - Disfuncional: por definição, é o sangramento de origem uterina, na ausência de gravidez, doença pélvica ou sistêmica, atribuída às alterações nos mecanismos endocrinológicos que controlam a menstruação. O SUD é um diagnóstico de exclusão. Dessa forma, esse diagnóstico só pode ser atribuído quando todas as causas orgânicas forem afastadas. Sangramento uterino anormal Anna lillian canuto bittencourt • Na infância, a vagina, mais do que o útero, é a fonte de sangramento mais comum; - Vulvovaginite é a fonte de sangramento mais frequente; - Condições dermatológicas, crescimento neoplásico ou trauma por acidente, abuso sexual ou corpo estranho também podem ser as razões. • Na adolescência, o sangramento uterino anormal resulta de anovulação e defeitos na coagulação com as mulheres adultas em idade reprodutiva; - Sempre considerar gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e abuso sexual nessa faixa etária. • Quando passa a adolescência, o eixo hipotálamo-hipófise-ovário amadurece e o sangramento uterino anovulatório torna-se menos frequente; - Com o aumento da atividade sexual, aumenta as taxas de sangramento por gravidez e DSTs; - A incidência de leiomiomas e de pólipos endometriais também aumentam com a idade, por isso, são mais comuns em mulheres na fase reprodutiva. • O SUA é responsável por 70% de todas as consultas ginecológicas realizadas na peri e pós-menopausa; - O sangramento uterino anovulatório, como na fase perimenarca, causado por disfunção do eixo hipotálamo-hipófise- ovário, torna-se um achado mais comum nesse grupo; - A incidência de sangramento por gravidez ou DSTs diminui nesse grupo; - Com o avanço da idade, aumentam os riscos de crescimento neoplásico benigno e maligno; - Na fase pós-menopausa, o sangramento é causado caracteristicamente por doenças benignas; >> Atrofia do endométrio e da vagina. • A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia apresentou o novo sistema de classificação das causas orgânicas de sangramento uterino anormal: Anna lillian canuto bittencourt * PALM – causas estruturais (que podem ser identificadas por métodos de imagem e/ou por estudo histopatológico; * COEIN – causas não estruturais; * Iatrogênica se refere ao uso de anticoagulantes, contraceptivos hormonais e DIU; * Não classificado se refere a doenças benignas do colo uterino, endometrites, malformações arteriovenoas, defeitos na cicatriz da cesariana, entre outras. GRAVIDEZ: • Sangramento anormal no início da gravidez é encontrado em 15-20% das gestações; • O sangramento pode indicar abortamento em fase inicial, gravidez ectópica, infecção do colo uterino, mola hidatiforme, eversão do colo uterino ou pólipo. ETIOLOGIAS ESTRUTURAIS: 01. Patologias associadas ao aumento do útero: • Os leiomiomas são as causas mais comuns dos SUA por causas estruturais; - É uma neoplasia benigna do músculo liso que dificilmente se torna maligno. • Outras causas menos frequentes são: - Adenomiose: ocorre um espessamento dentro das paredes do próprio útero provocando sintomas como dor, sangramento ou cólicas fortes, especialmente durante a menstruação. - Hematometra; - Hipertrofia do miométrio. 02. Pólipos endometriais: • São tumores intrauterinos de consistência mole e carnuda, formados por glândulas endometriais e estroma fibrótico cobertos por epitélio superficial; • Nas pacientes com sangramento anormal, a prevalência de pólipos endometriais varia entre 10-30%; • O estrogênio e o progestogênios estão relacionados com o seu crescimento; - Esses hormônios alongam a glângula, estroma e artérias espiraladas endometriais, levando à formação do aspecto poliploide característico. Anna lillian canuto bittencourt • Fatores de risco: idade avançada, obesidade e uso de tamoxifeno; • O uso de contraceptivos orais parece ter efeito protetor; • Acredita-se que a congestão estromal dentro do pólipo leve à estase venosa com necrose apical e sangramento; • As principais ferramentas diagnósticas para investigação de pólipos endometriais são UTV, ultrassonografia com infusão salina e histeroscopia; - A biópsia endometrial pode identificar pólipos, porém sua sensibilidade para detectar lesões focais é menor em comparação com os outros exames complementares; - A vantagem da histeroscopia é sua capacidade de identificar e, com frequência, remover concomitantemente o pólipo. • Em sua maioria, os pólipos são benignos e ocorre transformação pré- maligna ou maligna em apenas 4-5% dos casos; • Recomenda-se polipectomia histeroscópica para as mulheres sintomáticas ou para aquelas com fatores de risco para transformação maligna; - Fatores de risco para transformação maligna: pós-menopausa, idade > 60 anos, pólipo com mais de 1,5cm e uso de tamoxifeno. 03. Pólipos endocervicais: • Essas lesões representam crescimento aumentado de estroma endocervical benigno coberto por epitélio; • Costumam aparecer como massa única, vermelha, alongada, de consistência mole, estendendo-se a partir do canal endocervical; • Encontrados com maior frequência em multíparas e raramente em pré-púberes; • São geralmente benignos e ocorre transformação pré-maligna ou maligna em menos de 1% dos casos; - Precisa ter cuidado porque o câncer de colo uterino pode se apresentar na forma de massas polipoides que talvez sejam confundidas com essas lesões benignas. • É recomendado a retirada e avaliação histológica de todos os pólipos endocervicais. ETIOLOGIAS NÃO ESTRUTURAIS: 01. DIU de cobre: • Existem várias explicações para os sangramentos causados por DIU: - Nível celular: proporções desequilibradas de prostaglandinas e tromboxano foram propostas como possível causa da menorragia induzida por DIU; Anna lillian canuto bittencourt >> Há melhora do sangramento com o uso de inibidores da prostaglandina, como AINEs. - Nível tecidual: há aumento de vascularização endometrial, congestão e degeneração nas usuárias de DIU; - Nível do órgão: a rotação, a fixação ou a perfuração do DIU podem causar sangramento excessivo. • Após a exclusão de gravidez, infecção ou doença estrutural evidente, as pacientes com sangramento relacionado ao DIU podem ser tratadas inicial ou empiricamente com AINEs; - Sangramento persistente ou refratário talvez reflita outra patologia ginecológica. 02. DIU hormonal (Mirena): • Algumas possíveis causas:- Down-regulation do estrogênio e dos receptores de progesterona; - Aumento da população local de leucócitos; - Alterações na morfologia vascular endometrial, na hemóstase e no reparo endometrial. • Progestogênios em doses baixas aumentam a fragilidade vascular endometrial; • O mirena está associado ao desenvolvimento de vasos superficiais com paredes finas e diâmetros aumentados; • Essas duas últimas condições associadas podem causar sangramento de escape frequentemente observado. 03. Contracepção hormonal combinada: • O sangramento associado a contraceptivos orais combinados é comum; • 30-50% das mulheres experimento SUA no primeiro mês de uso; • É causada pela atrofia endometrial, induzida pelo progestogênio presente nos COCs; • Durante os primeiros meses de uso de COC, orientações e tranquilização são necessárias. Se o sangramento persistir, talvez haja necessidade de escolher outra formulação de COC. Se o sangramento persistir apesar da troca de pílula, deve- se considerar a possibilidade de outra patologia. 04. Infecção: • Além da cervicite, o SUA também pode ser causado por endometrite crônica; - O diagnóstico é confirmado pelo achado de plasmócitos em amostra de biópsia de endométrio; - Possui evolução insidiosa; Anna lillian canuto bittencourt - Embora o sangramento seja uma queixa frequente em mulheres com endometrite, também é possível que haja leucorreia vaginal e dor em abdome inferior; - Está associada a doenças infecciosas causadas por Neisseria gonorrhoeae e Clamydia trachomatis; - Tratamento empírico: doxiciclina, 100mg VO, 2x/dia por 10 dias. • É interessante solicitar cultura para esses dois patógenos em pacientes sexualmente ativas com SUA; • A endometrite crônica também pode estar associada a lesões estruturais, como pólipos endometriais ou leiomiomas submucosos, ou pode se seguir a episódios como abortamento ou gravidez. 05. Doença renal: • A disfunção renal grave frequentemente é acompanhada de distúrbios endócrinos que, muitas vezes, resultam em hipoestrogenismo, amenorreia e infertilidade; • O sangramento pode agravar a anemia crônica associada à insuficiência renal; • Os AINEs são contraindicados, uma vez que causam vasoconstrição da artéria renal, com efeitos adversos sobre a função glomerular; • A maioria das mulheres com insuficiência renal respondem bem a COCs em dose baixa; • Mulheres com HAS ou LES associada a insuficiência renal, não pode utilizar os COCs, então deve fazer o uso do DIU hormonal. 06. Coagulopatia: • Muitos defeitos da coagulação que causam menorragia podem ser classificados genericamente em: - Disfunção da aderência das plaquetas; - Defeitos na estabilização da agregação plaquetária. 1°: Durante as fases iniciais da hemostasia, as plaquetas aderem a falhas na parede do vaso por meio da ligação dos seus receptores ao colágeno exposto; 2°: A ligação depende do fator de von Willebrand (vWF), uma proteína plasmática; 3°: Uma vez ligadas, as plaquetas são ativadas e liberam um agonista potente para sua agregação, o tromboxano; 4°: A cascata da coagulação leva à formação de fibrina que estabiliza as plaquetas agregadas. • Assim, a redução no número de plaquetas ou inibidores do tromboxano pode levar à insuficiência na aderência das plaquetas e menorragia; Anna lillian canuto bittencourt • Falhas nos fatores de coagulação que formam essa cascata da fibrina também predispõem a sangramento anormal; •A história pessoal de hematomas fáceis, complicações hemorrágicas com cirurgia ou parto obstétrico, cistos hemorrágicos recorrentes, pistache e sangramento gastrintestinal ou antecedentes de familiares de distúrbios hemorrágicos devem levantar suspeita de coagulopatia; • O rastreamento laboratorial para coagulopatias inclui: - Hemograma completo com contagem de plaquetas; - Tempo de protrombina; - Tempo de tromboplastina parcial. • As coagulopatias mais comuns são: doença de von Willebrand, trombocitopenia e distúrbios da função plaquetária. Quadro clínico • Na anamnese, deve ser elucidado: - Idade da menarca; - Data da última menstruação; - Método usado para controle de natalidade; - Histórico completo dos ciclos menstruais; - Período de sangramento, volume e sintomas associados. • É natural que dores em cólica acompanhem o sangramento anormal. Diagnóstico • O objetivo diagnóstico em casos de SUA é excluir as possibilidades de gravidez ou de câncer e identificar a doença subjacente para permitir o tratamento ideal; 01. Exame físico: • Inicialmente, deve confirmar a localização do sangramento (trato reprodutivo inferior, sistema gastrintestinal ou trato urinário); • Caso não haja sangramento ativo, a localização será dificultada e, nesses casos, deve ser pedido exame de urina qualitativo e pesquisa de sangue oculto nas fezes. 02. Avaliação laboratorial: • A dosagem de gonadotrofina coriônica humana Beta (B-hCG), no sangue ou na urina, descartam rapidamente gravidez; • O hemograma completo deve ser solicitado, já que em mulheres com SUA é identificável anemia; - Em perdas crônicas, há uma anemia microcítica-hipocrômica. Anna lillian canuto bittencourt • Pacientes com SUA sem outra causa aparente, deve-se considerar distúrbios da coagulação, especialmente nas adolescentes com menorragia; - HC com contagem de plaquetas, tempo de tromboplastina parcial e tempo de protrombina, além de poder incluir teste para doença de von Willebrand. 03. Exame citológico: • Os cânceres do colo uterino e de endométrio podem causar sangramento anormal, sendo que eles podem ser observados no exame preventivo Papa Nicolau; • Os resultados citológicos anormais mais frequentes associados a SUA envolvem alterações de células escamosas e podem indicar cervicite, neoplasia intraepitelial ou câncer. 04. Biópsia de endométrio: • O SUA ocorre em 80-90% das mulheres com câncer de endométrio; - A incidência e o risco de câncer aumentam com a idade; - 75% das mulheres portadoras estão na pós menopausa. • Pacientes pós-menopausa possuem maior necessidade de excluir a possibilidade de câncer, então a biópsia endometrial pode ser o exame de escolha; • Indicações de acordo com o Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras: - Qualquer mulher com mais de 35 anos de idade com SUA; - Mulheres com menos de 35 anos com suspeita de SUA anovulatório refratário a tratamento clínico. 05. Ultrassonografia: A) Ultrassonografia transvaginal (UTV): - É o exame de escolha para a investigação de sangramento anormal; - Como vantagem, permite a avaliação de miométrio e endométrio; >> Se a origem do SUA for uma patologia miometrial por exemplo, como o leiomioma, a USG proporciona informações anatômicas que não são obtidas por histeroscopia ou por biópsia endometrial. - Oferece maior conforto para a paciente e uma detecção adequada de hiperplasia endometrial e câncer; - Orienta a realização de outros exames complementares de diagnóstico, como a realização de biópsia do endométrio. 06. Histeroscopia: • Esse procedimento requer a inserção de endoscópio óptico na cavidade endometrial; Anna lillian canuto bittencourt • A cavidade uterina é distendia com um meio salino para visualização; • Além da inspeção, é possível proceder à biópsia do endométrio, que permite o diagnóstico histológico da área anormal visível; • A principal vantagem da histereoscopia é detectar lesões intracavitárias, como leiomiomas e pólipos, que podem passar despercebidos na UTV ou na biópsia de endométrio; • Etapas do diagnóstico:1°: UTV – é bem tolerada, custo-efetiva e requer relativamente pouca habilidade técnica, além de determinar, de forma confiável, se a lesão é difusa ou focal e se está localizada em endométrio ou miométrio; 2°: Se houver suspeita de hiperplasia ou de câncer endometrial, a biópsia endometrial é melhor; 3°: Se possuir lesões focais, a histeroscopia ou ultrassonografia com infusão salina são melhores. Anna lillian canuto bittencourt Anna lillian canuto bittencourt Anna lillian canuto bittencourt Tratamento Referências HOFFMAN, Barbara L. et al. Ginecologia de Williams. Artmed Editora, 2014. MEDCURSO. Ginecologia vol.2 – Sangramento uterino anormal, Endometriose, Miomatose, Adenomiose, Pólipos, Infertilidade. 2019. PASSOS, Eduardo Pandolfi et al. Rotinas em ginecologia. Artmed Editora, 2017.
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