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FARMACOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C SÍNTESE DE HORMÔNIOS ESTERÓIDES O CICLO MENSTRUAL VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C CLASSES FARMACOLÓGICAS 1) HORMÔNIOS E ANÁLOGOS HORMONAIS (ESTROGÊNIOS, PROGESTÁGENOS E ANDRÓGENOS) Estrogênios: Estradiol ou 17β-estradiol (principal e mais potente) Estrona (circulante após menopausa) Estriol (menos potente; produzido pela placenta na gestação). Hormônios no plasma se ligam a proteínas como Globulina de ligação dos hormônios sexuais (SHBG) e Albumina. A fração livre se difunde pela célula e liga a receptores intracelulares. Receptores nucleares de estrógeno ERα e ERβ HE + proteínas receptoras nucleares específicas; síntese de RNA hormônio específico. - ERα: útero, glândula mamária, hipotálamo, ossos, vasos. - ERβ: próstata, célula granulosa, intestino, pulmão, leucócitos. Receptores de membrana acoplados à proteína G Células endoteliais e hipotalâmicas. Nas endoteliais aumenta NO e PGI (dilatação de artérias coronarianas). Circulação entero-hepática: metabólitos ativos (bactérias da microbiota). Obs: os antibióticos diminuem microbiota, o que reduz eficácia dos anticoncepcionais! VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Eliminados na urina. Efeitos genitais Desenvolvimento da puberdade, das mamas; Útero - proliferação celular e vascularização no endométrio. Efeitos extra-genitais Fechamento das epífises de crescimento; Ajudam a manter massa óssea; Efeito inotrópico positivo; Aumentam HDL e reduzem LDL e colesterol total (que pode contribuir para o risco relativamente baixo de doenças ateromatosas em mulheres em pré-menopausa). - Entretanto, os estrógenos também aumentam a coagulação sanguínea e o risco de tromboembolia. Os efeitos adversos dos estrógenos variam desde os comuns e triviais até os fatais, mas raros: sensibilidade da mama, náuseas, vômito, anorexia, retenção de sal e água resultando em edema, e risco aumentado de tromboembolia. Estrogênios Exógenos: Estrogênios naturais exógenos (sulfato de estrona, equilina, cipionato ou enantato de estradiol). - Usados na reposição hormonal. - Absorvidos pelo TGI, pele e mucosas. - Biotransformados e parcialmente inativado pelas CYPs (transdérmico, intravaginal ou injetável reduz metabolismo de primeira passagem). Estrogênios sintéticos (Etinilestradiol – o mais usado - e Valerato de estradiol - menos efeitos colaterais). - Ação prolongada e maior potência usados na contracepção com progestinas! - Sozinhos não têm efeito contraceptivo! - Sofrem menos metabolismo de primeira passagem. Progestinas: O hormônio progestacional natural (progestógeno) é a progesterona, que é secretada pelo corpo lúteo na segunda parte do ciclo menstrual e pela placenta durante a gravidez. Quantidades pequenas também são secretadas pelos testículos e pelo córtex da suprarrenal. Efeitos no metabolismo de carboidratos, aumenta a quantidade de insulina e favorece deposição de gordura. Progesterona e seus derivados: Hidroxiprogesterona e Medroxiprogesterona = i.m., s.c., via vaginal ou retal, v.o. (intenso metabolismo de primeira passagem). Derivados da testosterona: VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 2) CONTRACEPÇÃO HORMONAL Contraceptivos Combinados: Etinilestradiol; Valerato de estradiol (estrogênios sintéticos) + Noretisterona; Norgestrel; Drospirenona; Levonorgestrel; Gestodeno; Desogestrel (progestinas). Impedem a ovulação. Alteram o endométrio de forma a desencorajar a implantação. Alteram o muco (viscoso) e impede a penetrabilidade e motilidade dos espermatozóides. Aumentam contratilidade uterina e a motilidade e secreção das tubas uterinas. Monofásicos: concentração constante de progestina. Bifásicos: duas concentrações diferentes de progestina. Trifásicos: três concentrações diferentes de progestina. VANTAGENS DESVANTAGENS Reduz a incidência de amenorréia, ciclos irregulares e sangramento intermenstrual; Reduz a incidência de anemia ferropriva e TPM; Reduz a incidência de doenças benignas da mama, fibrose uterina e cistos funcionais ovarianos; Menor risco de doenças da tireoide, câncer de ovário e endometrial; Melhora da acne; Menor taxa de falha em mulheres sexualmente ativas. Ganho de peso; Alterações cutâneas como acne e/ou aumento de pigmentação são ocasionalmente relatados; Náusea, cefaléia, retenção de líquido, rubor, vertigem, depressão ou irritabilidade; Amenorréia e infertilidade temporária; Hiperplasia endocervical e candidíase vaginal; Tromboembolismo, tromboflebite, AVE e IAM. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C O modo de ação ocorre da seguinte maneira: - O estrógeno inibe a secreção de FSH, via retroalimentação negativa na adeno-hipófise, e, assim, suprime o desenvolvimento do ciclo ovariano. - A progesterona inibe a secreção de LH e, assim, previne a ovulação; ela também estimula a produção de muco cervical menos suscetível à passagem do esperma. - Estrógeno e progesterona agem combinadamente para alterar o endométrio, de tal modo que evite a implantação. Adesivos Transdérmicos Etinilestradiol + Norelgestromina; um adesivo por semana/3 semanas. Pode ser aplicado no abdome, dorso superior ou nádegas. Anéis Vaginais Etinilestradiol + Etonogestrel; permanece na vagina por 3 semanas, com 1 semana de pausa. Injetáveis Enantato de estradiol; Cipionato de estradiol; Valerato de estradiol; Enantato de Noretisterona; Algestona acetofenida; Acetato de Medroxiprogesterona. - Aplicar (i.m.) 1 ampola entre o 7º e 10º dia após o início da menstruação. O mecanismo de ação dos contraceptivos hormonais combinados (CHCs) ocorre pela inibição da ovulação. Vamos relembrar, no ciclo menstrual o hormônio folículo estimulante (FSH) é responsável pelo recrutamento e desenvolvimento folicular. Já o hormônio luteinizante (LH) é o responsável pela ovulação. O componente de estrogênio dos CHCs inibe o FSH, enquanto que o progestogênio age inibindo o LH. Ora, se esses dois hormônios (FSH e LH) estão bloqueados, não pode ocorrer recrutamento folicular, amadurecimento do folículo dominante e nem ovulação. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Contraceptivos de Progestinas: O mecanismo de ação ocorre primariamente sobre o muco cervical, que se torna inviável para o esperma. A progesterona, provavelmente, também impede a implantação por meio de seu efeito sobre o endométrio e sobre a motilidade e as secreções das tubas uterinas. Os contraceptivos só com progesterona oferecem alternativa viável para a pílula combinada em algumas mulheres nas quais o estrógeno é contraindicado e são viáveis para aquelas cuja pressão sanguínea aumente de maneira exagerada durante o tratamento com estrógeno. Entretanto, seus efeitos contraceptivos são menos confiáveis que aqueles da pílula combinada, e, perdendo-se uma dose, pode ocorrer a concepção. Orais “Minipílulas” com Noretisterona, Norgestrel, Desogestrel. - Usadas por mulheres na amamentação, intolerantes ao estrogênio e fumantes. Injetáveis Medroxiprogesterona i.m. ou s.c. a cada 3 meses. - Pode causar aumento da massa corporal, amenorréia, perda óssea e demora no retorno da fertilidade. Implantes Etonogestrel subcutâneo por 3 anos. - Pode causar menstruação irregular e cefaléia. Intra-uterino (DIU) Levonorgestrel por 3 a 5 anos. - Para efeito prolongado ou quando estrogênios são contra-indicados. - Evitado em casos prévios de gravidez ectópica. 3) CONTRACEPÇÃO PÓS-COITAL Levonorgestrel Deve ser usada logo que possível, preferencialmente antes de 72 h. Ulipristal (antiprogestina) Alternativa dentro de 5 dias após o coito. 4) REPOSIÇÃO HORMONAL Menopausa: Sintomas relacionados principalmentecom redução de estrógeno – 12 meses em amenorréia. Controle de sintomas vasomotores (fogachos), atrofia genital, osteoporose, prevenção de infartos e AVE (produção de NO e PGI2). A reposição com estrógeno não reduz o risco de doença cardíaca coronariana, apesar dos indícios iniciais; tampouco há evidências de que diminua o declínio relacionado com a idade na função cognitiva. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C O tratamento ideal da paciente na pós-menopausa exige uma cuidadosa avaliação dos sintomas, além de considerar a sua idade e a presença (ou riscos) de doença cardiovascular, osteoporose, câncer de mama e câncer endometrial. Tendo em vista os efeitos dos hormônios gonadais sobre cada um desses distúrbios, as metas da terapia são então definidas, e os riscos do tratamento são avaliados e discutidos com a paciente”. Tratamento só com estrogênios: - Mulheres histerectomizadas. - Cuidado com o câncer endometrial e de mama (uma vez que o estrogênio é um hormônio que estimula proliferação celular) Risco aumentado de câncer endometrial, se o estrógeno for administrado sem oposição da progesterona e risco aumentado de câncer de mama. - Cipionato ou enantato de estradiol, sulfato de estrona, equilina, estrógeno equino ou estrogênios associados. Tratamento combinado: - Mulheres com útero preservado. - Estrógeno e Progestágeno. - Efeitos adversos de estrógenos e progestinas mastalgia, náuseas, hipertensão, tromboembolismo, edema periférico e IAM. Interações Medicamentosas com Estrogênios e Progestinas: - Antibióticos, anticonvulsivantes, analgésicos, tranquilizantes - indutores enzimáticos podem diminuir a eficácia dos anticoncepcionais orais bem como aumentar a incidência de sangramento. - Medicamentos hepatotóxicos podem aumentar o risco de hepatotoxicidade dos estrogênios. - O hábito de fumar aumenta o risco de graves efeitos adversos cardiovasculares e trombóticos. - Diminuem as concentrações de ácido fólico e ácido ascórbico. Andrógenos: Na puberdade: maturação dos órgãos reprodutores; desenvolvimento dos caracteres sexuais; aumento da força muscular, ganho de altura. No adulto: efeitos anabólicos – retenção de água e íons; pele espessa e escura, glândulas sebáceas mais ativas (acne); aumento de peso e massa muscular; bem estar, vigor físico; aumento da libido e comportamento agressivo. Aplicações Terapêuticas: - Hipogonadismo devido a doenças hipofisárias ou testiculares. - Masculinização de indivíduos trans. - Osteoporose. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - Perda muscular. - Andropausa. - Impotência. - Hipossexualidade em mulheres seguida de ovariectomia. Esteróides Anabólicos: - Andrógenos modificados quimicamente para privilegiar efeito anabolizante. - Aumentam a síntese protéica e o desenvolvimento muscular. - Uso clínico não recomendado, usado em abuso por atletas! - Efeitos adversos icterícia colestática, tumores hepáticos e renais, risco aumentado de doença coronariana, acne, depressão e agressividade. - Homens ginecomastia, inibição da espermatogênese, redução da fertilidade, atrofia testicular, alteração da libido e câncer de próstata. - Mulheres calvície, hirsutismo, voz grossa, diminuição do seio e aumento do clitóris. Testosterona: Cipionato e Decanoato de testosterona. Rapidamente metabolizados pelo fígado por v.o. Usada geralmente injetada (IM), adesivos transdérmicos, pellets subcutâneos (nádegas), géis tópicos, spray nasal. Metabólitos são mais lentamente metabolizados e alguns excretados inalterados na urina. 5) INIBIDORES DA SÍNTESE DE HORMÔNIOS Crescimento inapropriado em tecidos dependentes de hormônios: - Câncer de mama Crescimento mamário depende de estrógeno, progesterona, andrógenos, prolactina, fatores de crescimento. Muitos cânceres expressam ER e tem crescimento estimulado por estrógeno. - Hiperplasia prostática benigna e câncer de próstata crescimento da próstata; conversão de testosterona em diidrotestosterona pela 5 α-redutase; antiandrógenos. - Endometriose pílulas, agonistas e antagonistas de GnRH. - SOP pílulas combinadas, antagonistas andrógenos e antagonistas de GnRH. Agonistas do GnRH: Administração contínua de agonistas dessensibiliza os receptores. CONTÍNUO: Leuprorrelina e Gosserrelina - IM ou SC. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C - Uso: câncer de próstata e de mama, endometriose, SOP, fibrose uterina avançada. - Administração 1x/mês. - Efeito adverso: inibe espermatogênese e ovulação. EM PULSO: Nafarrelina. - Intranasal. - Uso: reprodução assistida, mioma uterino, endometriose. Antagonistas do GnRH: Cetrorrelix e Ganirrelix. Usos: Endometriose, câncer de próstata (estrogênio dependente); Infertilidade: suprimem o pico prematuro do LH prevenindo a ovulação prematura em protocolos de ovulação assistida. Subcutâneo. Os análogos de GnRH são administrados desse modo para causar supressão gonadal em várias condições dependentes de hormônio sexual, incluindo cânceres de próstata e de mama, endometriose (tecido endometrial fora da cavidade uterina) e fibrose uterina avançada. A administração contínua e não pulsátil inibe a espermatogênese e a ovulação. Os agonistas de GnRH são usados por especialistas no tratamento da infertilidade, não para estimular a ovulação (que é alcançada usando-se as preparações de gonadotrofinas), mas para suprimir a hipófise antes da administração de FSH e hCG. Inibidores da aromatase: Anastrozol letrozol, Exemestano, Formestano. Inibem a formação de estradiol e estrona cuidado com osteoporose. Usado para tratar câncer de mama. Inibidor seletivo da 5 α-redutase: Finasterida, Dutasterida. Usado no tratamento da hiperplasia prostática benigna. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 6) MODULADORES E ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES Moduladores Seletivos dos Receptores de Estrógeno: Agonistas parciais ou antagonistas seletivos dependendo do tipo de tecido. Tamoxifeno (v.o.) antagonista mamário; agonista nos ossos, metabolismo lipídico e endométrio (pré-disposição ao câncer endometrial). - Uso: câncer de mama ou adjuvante após mastectomia ou radiação. - Suprarregula TGF-β que retarda malignidade (uso não deve ultrapassar 5 anos). Raloxifeno (v.o.) antagonista mamário e endométrio; agonista nos ossos, metabolismo lipídico e coagulação. - Não causa pré-disposição ao câncer de mama ou de endométrio. - Usado na osteoporose pós-menopausa por diminuir reabsorção óssea. Toremifeno (v.o.) antagonista mamário. - Usado no câncer de mama. Fulvestranto (i.m.) supressão dos receptores alfa de estrogênio. - Usado no câncer de mama. Clomifeno (v.o.) antagonista do feedback negativo na adeno-hipófise – ↑ GnRH - ↑ estrógeno - induz ovulação. - Infertilidade associada a ciclos anovulatórios, ovulação para congelamento de óvulos. EFEITOS ADVERSOS: Náuseas; Fogachos; Cãibras; Hiperplasia e malignidades no endométrio (Tamoxifeno); Trombose venosa (Raloxifeno); Embolia pulmonar; Gravidez de múltiplos (Clomifeno). Moduladores Seletivos de Receptores de Progesterona: Mifepristona - Antagonista da progesterona com atividade agonista parcial. - Interferência nos níveis de progesterona no inicio da gravidez resulta em aborto. - Combinada com Misoprostol para induzir contrações uterinas. Ulipristal - Agonista/antagonista da progesterona. - Inibe crescimento de tecido endometrial e do miométrio. - Uso: mioma e contracepção pós-coital. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Antagonistas Andrógenos: Flutamida, Bicalutamida, Enzalutamida, Nilutamida. - Usado com GnRH no tratamento de câncer de próstata. - Tratamento da hiperplasia prostática benigna e hipersexualidade. Ciproterona - Derivado de progesterona, agonista parcial de receptoresandrógenos. - Usado com GnRH no tratamento de câncer de próstata. - Contracepção feminina, acne, hirsutismo (SOP), puberdade precoce, alopécia e tratamento da hipersexualidade. Espironolactona. - Antagonista de receptor de aldosterona com atividade em receptor de andrógenos. - Calvície, acne, hirsutismo, SOP. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C