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Fundamentos históricos teóricos e metodológicos do serviço social 5º Aula Primeiras escolas de serviço social Daremos continuidade em nossos estudos verificando nesta aula o surgimento das primeiras Escolas de Serviço Social, tanto na Europa como na América Latina, até agora aprendemos o desenvolver da profissão, porém mesmo com a existência de profissionais não havia escolas voltadas a sua formação. Os acontecimentos na Europa e nos Estados Unidos são forte influenciadores para o modelo implantado em nosso país, porém veremos no decorrer desta aula que a primeira escola de Serviço Social na América do Sul não foi implantada no Brasil. Sobre esse assunto discutiremos com mais detalhes no decorrer desta aula, vamos aos estudos! Boa aula! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula vocês serão capazes de: • compreender onde surgiu a primeira escola de Serviço Social; • identificar quais eram os trabalhos executados nas primeiras escolas de Serviço Social; • descrever como se deu o surgimento do Serviço Social na América Latina. Fonte: http://www.dhnet.org.br/potiguariana/igreja/escola_servico_ social.htm 27 1- Escolas de Serviço Social 2- Serviço Social no Chile Seções de estudo 1- Escolas de Serviço Social Verificamos na aula anterior que surgiu a necessidade de qualificar os agentes que desenvolviam as atividades sociais, logo, surgiu a primeira escola de Serviço Social no Mundo. Martinelli (201, p.106) nos informa que: Partilhando plenamente da tese que postulava a criação de escolas de Serviço Social como forma de qualifi car os agentes para o exercício profi ssional, Mary Richmond, da Sociedade de Organização da Caridade de Baltimore, exerceu importante papel no sentido de torna- la realidade. Além de difundi-la, durante a realização da Conferência Nacional de Caridade e Correção, em 1897, em Toronto, propôs que se criasse uma escola para o ensino de Filantropia Aplicada. Visualizando o inquérito como um instrumento de fundamental importância para a realização do diagnostico social e, posteriormente, do tratamento, acreditava Richmond que só através do ensino especializado poder-se-ia obter a necessária qualifi cação para realiza-lo (MARTINELLI 2001, p.106). Mas quem foi Mary Richmond? “O trabalho social que defendendo não é apenas um processo educativo para a adaptação das pessoas na sociedade em que vivem, mas também, e simultaneamente, um processo de investigação em curso para alcançar o progresso e reformas sociais para o progresso da sociedade”. Fonte: http://sonrisalviento.blogspot.com.br/2012/01/quien-fue-mary-richmond- y-que-hizo.html Nascida em 1861 na cidade de Belleville, perdeu os pais ainda muito cedo, passando a viver com sua avó e tias, aos 16 anos mudou para Nova York retornando a cidade de origem dois anos depois, passando a trabalhar como tesoureira assistente com a Charity Organization Society (COS), daí em diante inicia-se o processo de aproximação às classes subalternas e o interesse em prestar atendimento de qualidade às famílias pobres, fazia parte da Sociedade de Organização de Caridade. Mediante os estudos Richmond propôs a criação do curso “aprendizagem da aplicação cientifica da filantropia” que fora aceito, sendo este ofertado em Nova York no ano de 1898, este estudo impulsionou sua profissionalização e a institucionalização. Martinelli (2001, p.107) diz que: A tese de Richmond, mais reacionária, sensibilizava muito a burguesia, que entendia que aquele tipo de prática respondia a função econômica da assistência, de modo indireto, uma vez que a ação social individual, seja “reformando o caráter”, seja promovendo a melhoria das condições de saúde, contribuía para a recolocação do trabalhador no mercado de trabalho (MARTINELLI 2001, p.107). Podemos concluir que a profissionalização do Serviço Social se deu devido às teses de Richmond que fez com que as ações sociais filantrópicas perdessem seu caráter meramente religiosas e assistencialistas, não que tenham se desvinculados desse modelo, mas agora inicia-se um novo processo. E quanto ao surgimento da primeira escola de Serviço Social, onde ocorreu? Em Amsterdã na Holanda no ano de 1899, eis que surge a primeira escola de Serviço Social europeia, mas com qual finalidade fora criada? Como vimos anteriormente o sistema capitalista acarretou uma série de alterações nos cenários econômicos, políticos e sociais, logo o surgimento da profissão resulta dessas demandas, o intuito era amenizar ou até mesmo conter os mecanismos de opressão utilizados pelo estado. Logo no mesmo ano em Berlim iniciaram-se cursos para agentes sociais, dando origem a primeira escola alemã em 1908. Segundo Martinelli (2001, p.107) “os cursos destinados à formação de agentes sociais multiplicaram-se pela Europa e pelos Estados Unidos. Em 1908, fundou-se na Inglaterra a primeira escola de Serviço Social (...) logo em seguida em Paris em 1911”. Percebemos que nesse momento da história os cursos já estavam se disseminando por toda a Europa, voltado à qualificação das ações e preparo técnico-cientifico. Já na América Latina apenas em 1925 iniciou-se a implantação dos cursos. Mesmo após ter influenciado na criação das escolas Mary não parou por ai, termos antes utilizados para caracterizar a prática fora utilizado por ela como “trabalho social”, além disso, esta destacava a prática individual a ser realizada na residência do atendido, deste modo, ficando conhecido como “visitadoras sociais domiciliares”. Porém foi nos Estados Unidos que Martinelli (2001, p. 109-110) nos informa que com a profissionalização do Serviço Social e um estudo técnico eis que os serviços destes profissionais passam a ser requisitados “Boston, Massachusetts e Chicago foram as primeiras cidades a instituir a presença do assistente social nos tribunais de justiça para atuar nos casos que houvesse crianças (...) em 1905 criou-se o primeiro Serviço Social Médico”. Neste momento já não se requeria apenas o Serviço Social no campo médico e jurídico como vimos anteriormente, mas na educação, saúde, higiene e educação. Importante destacarmos que o termo “assistente social” anteriormente não era usado, as profissionais eram conhecidas como “agentes sociais” e os instrumentos mais utilizados eram as abordagens individuais onde se realizava a entrevista e a visita domiciliar. Fund. históricos teóricos e met. do serviço social 28 Neste momento, ainda prevalecia os interesses burgueses, buscava-se manter a hegemonia através da garantia da reprodução das relações sociais de produção capitalista, desta forma ter os profissionais ao seu lado auxiliava no combate aos problemas sociais, demonstrando um falso interesse as classes vulnerabilizadas e contendo o desenvolvimento de consciência de classe. Importante destacarmos conforme nos apresenta Martinelli (2001, p.119) que “já a partir de 1920, ganhava força a Associação Nacional de Trabalhadores Sociais”. Martinelli (2001, p.118-119) nos diz que: Aos assistentes sociais, como responsáveis pela operacionalização desses serviços, era delegado um papel de fundamental importância, uma vez que acabavam por representar o próprio Estado diante da população. Sua prática era uma expressão do poder hegemônico da classe dominante, sua identidade era aquela atribuída pela sociedade burguesa constituída: uma estratégia de controle social e de difusão do modo capitalismo de pensar (...) a ação social se tornava cada vez com mais clareza uma ação política de contenção e repressão dos trabalhadores, vistos pela burguesia como um “perigo social iminente”. Aos assistentes sociais cabia a tarefa de afastar esse “perigo”, esvaziando o conteúdo político de suas reinvindicações coletivas, exercendo um vigilante controle sobre as manifestações do proletariado. Por outro lado, era também de sua responsabilidade manter oculta da sociedade a face negra da miséria, atendendo aos pobres, aos dentes, os indigentes,enfi m a todos aqueles que o capitalismo se encarregava de expulsar para o território de não-cidadania (MARTINELLI 2001, p.118-119). A autora complementa dizendo que antes da II Guerra Mundial este profissional já se fazia presente em quase toda américa e Europa e a profissionalização havia avançado, a influência da igreja já perdia força e o Estado se fortalecia. Vieira (1980, p. 69) nos informa que o que caracterizava o Serviço Social até a Segunda Guerra Mundial era: 1) abordagem individual, em relação aos problemas dos clientes; 2) abordagem comunitária ou de ação social, em relação às disfunções da sociedade e 3) o emprego de pessoal remunerado de preferência a voluntários; 4) completa disponibilidade dos assistentes sociais; Serviço Social constituía uma vocação, um ministério e 5) atividade imediata, é verdade, mas objetiva, o que importa é resolver o problema, o resto é secundário. Devemos destacar a importância da Conferência Nacional de Serviço Social, realizada em Atlantic City, que após seus trabalhos fora possível apresentar importantes técnicas para o serviço social, sendo serviço social de casos, grupos e comunidade, veremos cada um deles. O Serviço Social de Caso tinha influência da sociologia e depois da psicologia, havia preocupação com o indivíduo, suas emoções e sua personalidade. Algumas escolas rejeitaram esse método alegando que o Serviço Social de Casos reduziria a pessoa à “coisa”. Outras escolas reconheceram que o Serviço Social de Casos, dentro de uma concepção cristã. Tinha por princípio o respeito à personalidade do agente, posto que este é uma pessoa dotada de inteligência e liberdade. Além desse princípio, havia o embasamento em outros princípios como: autodeterminação, individualização, não julgamento, relacionamento e aceitação. O Serviço Social de Grupo método que ajuda as pessoas por meio de experiências de grupo a aumentarem o seu funcionamento social, e a enfrentarem os seus problemas pessoais de grupo e de comunidade. O Serviço Social de Comunidade consiste na obtenção de melhores condições de vida a comunidade por meio da intervenção do agente técnico, mediante o trabalho cooperativo de seus membros. Visa a conscientizar, a politizar e a capacitar uma comunidade para o seu desenvolvimento econômico, social, cultural, psicológico e sua ação cooperativa. 2 – Serviço Social no Chile Nesta seção estudaremos sobre o surgimento do Serviço Social na América Latina, mas será que houve intervenção da Igreja Católica? Estado? Em que país surgiu a primeira Escola? Bom, todas essas respostas vamos conhecer no decorrer da aula, vamos aos estudos. Segundo Castro (2000, p. 68) O movimento operário, que já se manifestara fi rmemente desde fi nais do século passado, conquistou um espaço proeminente na sociedade chilena. E sob o estímulo dos movimentos operários e populares, notavelmente infl uenciados pelas ideias socialistas e anarco-sindicalistas, tem lugar uma mudança no sistema político, orientada à democratização do país e à elevação das condições de vida dos setores que lutam por um campo de ação para o seu desenvolvimento autônomo e pela institucionalização das suas demandas (CASTRO 2000, p. 68). Mas qual relação do Chile com a primeira Escola de Serviço Social? Importante que saibamos que a classe operária tem papel importante na profissionalização do Serviço Social, com isto as classes dominantes perdem parte do seu caráter dominante e passam a ser pioneiras ao institucionalizar as reinvindicações, tendo de responder aos problemas sociais. Nesse sentido foi fundada em 1925 a primeira escola de Serviço Social no Chile e posteriormente sobre a escola Elvira Matte de Cruchaga, veremos com mais detalhes cada uma dessas escolas no decorrer de nossa aula. Costa (2000, p. 71) nos informa que: A escola fundada por Alejandro Del Río tem uma origem mais ligada à ação do Estado. Como se sabe, a Junta Central de Benefi cência de Santiago enviou Del Río à Bélgica, para conhecer os centros de formação acadêmica daquele país. O resultado desta viagem foi uma série de contatos em virtude dos quais René Sand visitou o Chile e teve decisiva infl uência na materialização das inquietudes do médico chileno (COSTA 2000, P. 71). 29 Não podemos pensar que no surgimento desta escola a Igreja não teve participação, pelo contrário ela esteve presente em seu processo constitutivo, assim como nos demais países conforme estudamos anteriormente. Mas quem foi Alejandro Del Rio? Fonte: http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0034-98872010000700019&script=sci_ arttext Médico criou a escola pensando na maior rentabilidade que seu trabalho teria com o apoio dos novos profi ssionais. Cumpria ao Assistente Social recepcionar os clientes, visitar, dar noções de higiene, controlar o tratamento, etc. Era, portanto, um Serviço Social para médico voltado a propriedade privada. Vieira (1980, p.176) complementa as informações acima ao dizer que “nos primeiros anos de introdução do Serviço Social nos países latino-americanos houve, como já dissemos, grande influência europeia, que se traduzia pela importância dada as atividades do Serviço Social junto à assistência médica”. A primeira escola católica chilena Elvira Matte de Cruchaga, em 1929 segundo Castro (2000, p.72) “obedeceu ao interesse da Igreja em criar um centro católico ortodoxo para a formação de agentes sociais adequados às mudanças sofridas pela sociedade chilena”. O estudo desta escola se torna importante para se identificar sua influência sobre a profissão já que até este momento a atenção era voltada a escola de Del Rio, além disso, destacar a participação desta escola na profissionalização do Serviço Social em ouros países. E por quem foi fundada está escola? Castro (2000, p.73) nos demonstra que “foi fundada por Miguel Cruchaga Tocornal, homem público que exerceu, entre outros cargos, o de Ministro de Relações Exteriores e o de Presidente do Senado”, mas quem cuidava da organização desta escola? Ainda segundo o mesmo autor “esteve entregue às senhoritas Rebeca e Adriana Izquierdo, que contavam com o apoio da senhora Louise Joerissen, que, anos depois, teria singular influencia na formação da escola similar peruana”. Esta não se limitava a apenas um espaço ocupacional como a escola de Del Rio, mas sim atuava frente às questões sociais. Segundo livro Escola de Serviço Social Elvira Matte de Cruchaga (1930 p.7-8) A formação de visitadoras sociais católicas, que desenvolvam as suas atividades à base de uma verdadeira caridade cristã; visitadoras que não só cuidem do aspecto material dos seus assistidos, mas que se dediquem com amor a tratar também das suas almas (...). Baseando-se nestes princípios, a Escola concebe o Serviço Social mais que como uma simples profi ssão – concebe-o como vocação, para a qual são tão necessários os conhecimentos técnicos como o amor. Portanto, o fi m colimado pela Escola é conseguir formar visitadoras que, onde forem, levem a paz, transmitam alegria, ofereçam segurança e confi ança, abrindo o seu coração a todos os que necessitam de ajuda e de orientação. Tais visitadoras hão de ser as mais alegres, tolerantes e compreensivas, as mais inteligentes e as mais amáveis de todas as mulheres que se entreguem a este trabalho. Hão de ser sadias de alma e corpo, já que deverão comunicar esta saúde e esta força aos que nunca as tiveram ou aos que delas se veem privados pelas vicissitudes da vida (CRUCHAGA, 1930 p.7-8). Percebemos que não bastava querer ser um visitadora social, era preciso ter vocação, a prática da caridade é substituída pela aproximação da técnica e ciência, porém os princípios cristãos e a influência burguesa não desaparecem neste momento, mas devem combinar-se para que o resultado da ação seja satisfatório. Castro (2000, p.76) complementa dizendo que “a escola de Elvira representou não só uma possibilidade diversificada de ação profissional, mastambém um centro de educação especializado que definiu a sua fisionomia a partir do Serviço Social católico”. Retomando a aula Chegamos, assim, ao fi nal da quinta aula. Espera-se que agora tenha fi cado mais claro o entendimento de vocês sobre o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social. Vamos, então, recordar: 1 - Escolas de Serviço Social Nesta seção verificamos onde surgiu à primeira Escola de Serviço Social, bem como a influência de Mary Richmond na construção da metodologia desta profissão, vimos que devido à necessidade de se combater as expressões da questão social eis que surge a necessidade de uma profissionalização desses agentes. 2 - Serviço Social no Chile Verificamos que o Serviço Social na América do Sul teve seu surgimento do Chile e estava ligado ao atendimento médico, posteriormente se espalhou pelos demais países da América do Sul, sendo que a influência católica esteve sempre presente, dando espaço apenas ao estado quando este passa a elaborar políticas públicas voltadas aos cidadãos. Diagnóstico Social – Autora: Mary Richmond <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ serial&pid=0101-6628&lng=en&nrm=iso > <http://periodicos.franca.unesp.br/index.php/SSR > Vale a pena Vale a pena ler Vale a pena acessar
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