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CICLO SONO-VIGÍLIA O ciclo vigília-sono é um dos ritmos circadianos, chamado assim pois se repete a cada dia, pelo menos uma vez. Ele é basicamente uma oscilação no nível de atividade do sistema nervoso, tendo uma maior atividade na vigília e menor no sono. Ao adormecemos, os músculos repousam e as funções orgânicas ficam mais lentas e pausadas, sendo que somos destinados a passar 1/3 das nossas vidas dormindo. Esse ciclo é controlado por basicamente 3 estruturas: 1. Formação reticular 2. Núcleo supraquiasmático do hipotálamo 3. Glândula pineal do epitálamo Formação reticular Faz parte dos chamados sistemas moduladores difusos, os quais controlam o nível de consciência e o comportamento do indivíduo, oscilando a cada 24 horas, o que forma o ciclo sono-vigília. É um agregado de neurônios separados por uma rede de fibras nervosas, localizados tronco encefálico, preenchendo o espaço que não é preenchido por tratos, fascículos e núcleos. Os corpos celulares dos neurônios são pequenos, porém os axônios são muito ramificados, apresentando 2 tipos de ramos: 1. Ascendentes: atuam no diencéfalo e telencéfalo 2. Descendentes: chegam até a medula Outra característica que confirma que são neurônios moduladores é o fato dos axônios serem finos, causando uma baixa velocidade de condução (1 m/s), com potenciais de ação disparados em frequências bastante regulares. Apresenta pequenos agrupamentos de neurônios com diferentes tipos de neurotransmissores: A. Núcleos da rafe: conjunto de 9 núcleos, sendo o núcleo magno da rafe o principal. Possuem neurônios ricos em serotonina. B. Locus ceruleus: possui neurônios ricos em noradrenalina. C. Área tegmentar ventral: está no tegmento do mesencéfalo e possui neurônios ricos em dopamina. Atividade elétrica cerebral Uma das principais funções da formação reticular é o controle da atividade elétrica cortical, o que atua no ciclo sono-vigília. Essa atividade elétrica determina os vários níveis de consciência, podendo ser detectada pelo eletroencefalograma (EEG), que mostra traçados diferentes: Traçado de vigília: é dessincronizado, com baixa amplitude e alta frequência Traçado de sono: é sincronizado, com ondas lentas e de grande amplitude. Sistema Ativador Reticular Ascendente O SARA é um sistema de fibras ascendentes presentes na formação reticular, as quais ativam o córtex cerebral, sendo constituídos por: 1. Fibras noradrenérgicas do locus ceruleus 2. Fibras serotoninérgicas dos núcleos do rafe 3. Fibras colinérgicas da formação reticular da ponte >> núcleo pendúculo-pontino Na transição entre mesencéfalo e diencéfalo, ele se divide em 2 ramos: a) Ramo dorsal: termina no tálamo b) Ramo ventral: se dirige ao hipotálamo lateral e recebe fibras histaminérgicas do hipotálamo posterior. Durante o dia, a taxa de disparos de potenciais de ação (PA) pelos neurônios do SARA é muito alta, constituindo o estado de vigília, com ativação do córtex cerebral. Antes do sono, neurônios que compõem o núcleo pré-óptico ventrolateral do hipotálamo anterior inibe a atividade dos neurônios monoaminérgicos, desativando o córtex >> estado de sono de ondas lentas. Dessa forma, existem 2 tipos de sono: 1. Sono paradoxal ou REM: fase do sono na qual os olhos se movem rapidamente; ocorre consumo de oxigênio pelo cérebro igual ao da vigília, o que significa atividade cortical. Ocupa 20 a 25% dos tempo total de sono no adulto jovem, sendo gerado pelos neurônios colinérgicos do núcleo pedúnculo-pontino. Possui papel no processo de consolidação de memórias. O conteúdo dos sonhos que ocorrem durante o sono REM provém da ativação aleatória de áreas do córtex. É encerrado pelos neurônios do locus ceruleus, que aumentam a transição entre sono paradoxal e vigília, ocorrendo o despertar. 2. Sono de ondas lentas ou não REM: é dividido em fases 1 a 4 nas quais o cérebro repousa, com taxa de consumo de O2 reduzida e predominando o tônus parassimpático, além da redução da FC e FR. Núcleo supraquiasmático Funciona como um marca-passo para gerar o ciclo sono-vigília, pois ele recebe informações sobre a luminosidade do ambiente por meio do trato retino-hipotálamo, sincronizando com o ritmo natural de dia e noite. Situa-se no hipotálamo, logo acima do quiasma óptico, sendo um par de núcleos pequenos que recebem os axônios provenientes de ambas as retinas. Esses axônios saem dos fotorreceptores das células ganglionares da renita, as quais detectam mudanças de luminosidade por meio da melanopsina, um pigmento fotossensível. A luz é absorvida pela melanopsina e os axônios das células ganglionares ativam os neurônios do supraquiasmático. A informação chega ao núcleo supraquiasmático e é repassado ao núcleo pré- optico ventrolateral e ao grupos de neurônios do hipotálamo lateral, que tem a orexina como neurotransmissor. Os neurônios orexinérgicos inibem os neurônios colinérgicos responsáveis pelo sono REM. Eles também excitam do SARA, iniciando a vigília. Glândula pineal É uma glândula endócrina presente no epitálamo, a qual possui neuroglia e células secretoras chamadas pinealócitos, que são ricas em serotonina. A serotonina é utilizada para a síntese de melatonina, o hormônio pineal que atua nos ritmos circadianos, sendo que o processo de síntese é ativado por noradrenalina liberada por fibras simpáticas. Durante o dia, as fibras tem pouca atividade e os níveis de melatonina são baixos, porém durante a noite, a inervação simpática pineal é ativada. A melatonina age diretamente nos neurônios do núcleo supraquiasmático, os quais possuem receptores para esse hormônio, sendo eles o MT1 e MT2. Existem fibras que se projetam da retina diretamente para o núcleo pré-optico ventrolateral, bloqueando o efeito inibidor desses neurônios no SARA, o que explica por que a luz dificulta o adormecer. Características e funções do sono Ao adormecer, em menos de 1 hora o sono passará pelos estágios 1 e 4 do sono de ondas lentas. Em seguida, ele alterna entre os estágios 3 e 4 durante cerca de meia hora. Depois, a pessoa passa por 20 a 30 minutos de sono paradoxal, e repetirá tudo outras vezes. De 90 em 90 minutos ocorre alternância entre o sono de ondas lentas e o paradoxal, sendo que é provável acordar de forma espontânea durante o paradoxal, relatando algum sonho. Os sonhos do sono paradoxal são estranhos, surrealistas, ilógicos e emocionais, sendo os mais frequentes. Podem ocorrer também durante o sono de ondas lentas, sendo sonhos curtos, menos vívidos, menos emocionais e mais lógicos. Quantos às funções, existem diversas teorias que abordam, como: A. Restaurar as energias gastas durante a vigília, isso porque durante o sono nossa atividade motora é baixa, assim como fluxo sanguíneo, respiração, temperatura corporal e taxa metabólica global. B. Durante o sono secretamos mais somatotrofina, o que influencia na síntese de proteínas das células em geral. C. Serve para restaurar o sistema imunitário D. Restaura nossas capacidades mentais E. Importante para a consolidação da memória e fixação da aprendizagem: os dois estados do sono atuam na propagação de memórias, desde seu ponto de entrada no hipocampo até o córtex cerebral. Sono de ondas lentas amplifica mudanças sinápticas recentemente adquiridas. Sono paradoxal dispara a expressão de genes no córtex relacionados com a estabilização e propagação da memória.
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