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Introdução à Semântica e Pragmática

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Universidade Regional do Cariri
Disciplina de Semântica e Pragmática 
Professora Cláudia Rejane
 Joicy Gonçalves Silva, 4° Semestre de Letras, Matutino.
CANÇADO, MÁRCIA. Manual de Semântica: Noções Básicas e Exercícios. 2° ed. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
PARTE I: O QUE É SEMÂNTICA
Capítulo I: A investigação do significado
1. A investigação Linguística
‘‘Semântica é o estudo do significado das línguas’’ (p.12)
‘‘Ao conhecimento da língua chamaremos de gramática, entendendo-se por gramática o sistema de regras e/ou princípios que governam o uso dos signos da língua. A linguística assume que o falante de qualquer língua possui diferentes tipos de conhecimento em sua gramatica” (p.15)
‘‘A descrição linguística tem diferentes níveis de análise: o léxico, (...) a fonologia, (...) a morfologia, (...) a sintaxe, (...) e a semântica, (...).” (p.15)
‘‘A área da linguística que descreve a linguagem denomina-se pragmática. A pragmática estuda a maneira pela qual a gramática, como um todo, pode ser usada em situações comunicativas concretas” (p.15)
2. A Semântica e a Pragmática
“A semântica, repetindo, é o ramo da linguística voltado para a investigação do significado das sentenças” (p.16)
‘‘(...) O semanticista busca descrever o conhecimento semântico que o falante tem de sua língua.” (p.16)
 “Portanto, fica claro que nem sempre o sistema semântico o único responsável pelo significado... em varias situações o sistema semântico tem o seu significado alterado por outros sistemas cognitivos para uma compreensão final do significado”. (p.17)
“A semântica pode ser pensada como a explicação de aspectos de interpretação que dependem exclusivamente do sistema da língua em não, de como as pessoas a colocam em uso” (p.14)
“Podemos dizer que a semântica lida com a interpretação das expressões linguísticas, com o que permanece constate quando uma certa expressão é proferida” (p.14).
“A pragmática estuda os usos situados da língua e lida com certos tipos de efeitos intencionais” (p.17).
 2.1 O uso, a menção, a língua objeto e a metalinguagem.
“A semântica preocupa-se com o significado de sentenças e das palavras como objetos isolados” (p.18)
“Fica claro, pois, que o objeto de estudo da semântica é a menção das sentenças e das palavras isoladas de seu contexto; e o objeto de estudo da pragmática é o uso das palavras e das sentenças inseridas em determinado contexto” (p.16)
“O objeto de estudo do linguista é a menção da língua e a metalinguagem usada é o uso da língua” (p.16)
“A adoção de uma metalinguagem diferente da própria língua elimina prováveis distúrbios na análise linguística.” (p.16)
 3. O objeto de Estudo da Semântica 
“A semântica não pode ser estudada somente como a interpretação de um sistema abstrato, mas também tem que ser estudada como um sistema que interage com outros sistemas, no processo da comunicação e expressão dos pensamentos humanos.” (p.19).
 3.1 A composicionalidade e a expressividade linguísticas 
“Todas as línguas dependem de palavras e de sentenças dotadas de significado: cada palavra e cada sentença estão convencionalmente associadas a pelo menos um significado.” (p.19)
“Uma teoria semântica deve, em relação a qualquer língua, ser capaz de atribuir a cada palavra e a cada sentença o significado (ou significados) que lhe(s) é (são) associado (s) nessa língua.” (p.19)
“Uma teoria semântica deve não só apreender a natureza exata da relação entre o significado de palavras e o significado de sentenças, mas deve ser capaz de enunciar de que modo essa relação depende da ordem das palavras ou de outros aspectos da estrutura gramatical da sentença.” (p.19)
“Parte da tarefa de uma teoria semântica deve ser falar alguma coisa sobre o significado das palavras e falar alguma coisa sobre os algoritmos que combinam esses significados para se chegar a um significado da sentença. ”(p.20)
 3.2 As propriedades semânticas 
“Os falantes nativos de uma língua têm algumas intuições sobre as propriedades de sentenças e de palavras e a maneira como essas sentenças e palavras se relacionam. Por exemplo, se um falante sabe o significado de uma determinada sentença, intuitivamente sabe deduzir varias outras sentenças verdadeiras a partir da primeira. Essas intuições parecem refletir o conhecimento semântico que o falante tem.” (p.20).
“O falante de uma língua, mesmo sem ter consciência, tem um conhecimento sistemático da língua que lhe permite fazer operações da natureza bastante complexa” (p.20).
“Uma outra tarefa da semântica deve ser caracterizar e explicar essas relações sistemáticas entre palavras e entre sentenças de uma língua que o falante é capaz de fazer.’’ (p.20)
 ‘’Não é só o léxico e/ou a sintaxe geram as ambiguidades das línguas, mas também é comum observar questões de escopo, de papéis temáticos, de dêixis, de anáfora, de vagueza dos termos, entre outras questões, como geradoras desse fenômeno. ’’ (p.22) 
‘’Os protótipos e as metáforas
A noção de protótipos surge com Rosch (1973,1975), que assume a incapacidade de conceituarmos os objetos do mundo (mesmo abstratos) de uma maneira discreta, isto é, que casa objeto pertença a uma única categoria específica. ’’ (p.22)
‘’A proposta da teoria dos protótipos é conceber os conceitos como estruturados de forma gradual, existindo um membro típico ou central e outros menos típicos ou mais periféricos. ’’ (p.22)
‘’As metáforas são entendidas, geralmente, como uma comparação que envolve identificação de semelhanças e transferência dessas semelhanças de um conceito para o outro’’ (p.22)
‘’A metáfora tem sido vista, tradicionalmente, como a forma mais importante de linguagem figurativa e atinge o seu maior uso na linguagem literária e poética. ‘’ (p.22)
“Essas relações similares que se estabelecem entre os itens lexicais, mais geralmente entre os verbos e os substantivos das línguas, são conhecidas como papéis temáticos.’’ (p.23)
‘’Os atos de fala
Apesar de o papel central do uso da língua ser a descrição de estados de fatos, sabemos, também, que a linguagem tem outras funções, como ordenar, perguntar, sugeris, o que vai além de uma simples descrição; na realidade, a linguagem é a própria ação em situações como essas.’’ (p.23)
 3.3 Referência e representação 
‘’Para alguns linguistas, o significado é associado a uma noção de referência, ou seja, da ligação entre as expressões linguísticas e o mundo; para outros, o significado está associado a uma representação mental. ’’ (P.23)
‘’As teorias que tratam do significado sob o ponto de vista da referência são chamadas de semântica formal, ou semântica lógica, ou semântica referencial, ou ainda semântica de valor de verdade’’ (p.23)
‘’Referência não é uma relação como implicação ou contradição, que se dá entre expressões linguísticas. Ao contrario, é uma relação entre expressões e objetos extralinguísticos. ’’ (p.24)
‘’As teorias que tratam do significado do ponto de vista representacional, ou seja, o significado como uma questão de representação mental, que não tem relação com a referência no mundo, são conhecidas como teorias mentalistas, ou representacionais, ou ainda cognitivas. ’’ (p.24)
‘’O estudo da representação envolve a ligação entre linguagem e construtos mentais que, de alguma maneira, representam ou codificam o conhecimento semântico do falante. A ideia geral é que temos maneiras de representar mentalmente o que é significado por nós e pelos outros, quando falamos’’ (p.24).
‘’O sucesso da comunicação depende apenas em partilhar representações e não, fazer a mesma ligação entre as situações do mundo e as expressões linguísticas. ’’ (p.24)
COMENTÁRIO: A autora, ao iniciar o primeiro tópico do capítulo, já manifesta as definições dos principais temas que serão abordados: a semântica e a pragmática. A semântica seria o estudo dos significados das línguas, e a pragmática estuda como a gramática será usada em determinadas situações. Além disso, comenta ligeiramente sobre a gramática e a sua atuação na linguística. Com isso, mais adiante através de exemplos, Márcia mostra como o falantese comporta em situações de contexto semântico, demonstrando que a semântica também lida com as interpretações de expressões linguísticas. E, ainda com a apresentação dos exemplos, ela compara a pragmática no mesmo cenário, estabelecendo suas funções. Inclusive, afirma que a semântica pode ser estudada em relação com outros sistemas e não apenas em meios abstratos. Ainda, é importante ressaltar, como a autora está sempre reafirmando as definições dos termos discutidos. Comenta-se ainda sobre a metalinguagem, onde o linguista brasileiro usa a própria língua para descrever os fenômenos linguísticos. Nesse meio, a menção da língua será o que o linguista vai estudar e a metalinguagem é o uso dessa língua. Acrescentando ainda as propriedades semânticas: de implicação, de paráfrase, de contradição, de anomalia, de ambiguidade e as metáforas. Essas propriedades refletem bastantes no conhecimento linguístico do falante, pois elas são bastante complexas. São incluídas outras teorias semânticas que tratam sobre o significado, as teorias de semântica formal, lógica ou referencial que o tratam do ponto de vista de referência, e as teorias mentalistas, representacionais ou cognitivas, que estão relacionadas ao ponto de vista representacional. 
PARTE 2: ALGUNS FENÔMENOS SEMÂNTICOS SOB A ÓTICA DE UMA ABORDAGEM REFERENCIAL
Capítulo 2: Implicações
1. Implicações ou Inferências 
‘’A palavra implicação, na linguagem cotidiana, remete a várias noções, tais como inferências, deduções, acarretamentos, pressuposições, implicaturas, etc., sem que haja uma distinção entre elas’’ (p.25)
‘’O acarretamento é uma noção estritamente semântica, que se relaciona somente com o que está contido na sentença independentemente do uso da mesma’’ (P.25)
‘’A noção de pressuposição relaciona-se com o sentido de expressões lexicais contidas na sentença, mas também se refere a um conhecimento prévio, extralinguístico, que o falante e o ouvinte têm em comum; pode-se dizer que a pressuposição é uma noção semântico-pragmática’’ (p.25)
‘’ A implicatura, conhecida como implicatura conversacional, é uma noção estritamente pragmática, que depende exclusivamente do conhecimento extralinguístico que o falante e o ouvinte têm sobre um determinado contexto’’ (p.26).
2. Hiponímia e Acarretamento
‘’ A hiponímia pode ser definida como uma relação estabelecida entre palavras, quando o sentido de uma está incluído no sentido de outra:
a. Pastor alemão – cachorro – animal ’’ (p.26).
‘’A hiponímia é uma relação linguística que estrutura o léxico das línguas em classes, ou seja, pastor alemão pertence à classe dos cachorros, que, por sua vez, pertencem à classe dos animais’’ (p.26).
‘’O item lexical mais especifico, que contém todas as outras propriedades da cadeia, é chamado de hipônimo, o item lexical que está contido nos outros itens lexicais, mas não contém nenhuma das outras propriedades da cadeia, o termo mais geral, é chamado de hiperônimo’’ (p.26).
‘’A relação de hiponímia é assimétrica, ou seja, o hipônimo contém o seu hiperônimo, mas o hiperônimo não contém o seu hipônimo: todo cachorro é um animal, mas nem todo animal é um cachorro. ’’ (p.26)
‘’A noção de acarretamento pode ser entendida como a relação existente entre sentenças, quando o sentido de uma sentença está incluído no sentido de outra’’ (p.27).
‘’ Esse conhecimento é parte do conhecimento sobre o que essas sentenças significam: não precisamos saber nada sobre o objeto mostrado, a não ser o fato de que é o mesmo objeto nas duas afirmações. ’’ (p.27)
‘’Assim como a hiponímia, o acarretamento também é uma relação assimétrica, ou seja, uma sentença contém outra, mas não necessariamente essa segunda contém a primeira’’ (p.28).
‘’O que fazemos ao estabelecer os acarretamentos de uma sentença é tirar-lhe todas as informações que acrescentamos, a partir das nossas experiências, do nosso conhecimento de mundo, e deixar somente o que está explicito nas relações expressas pelos itens lexicais dessa sentença, ou seja, o sentido exclusivamente literal’’ (p.28).
‘’Ao estabelecer os acarretamentos de uma sentença, estamos fazendo uma espécie de triagem do que está além daquele objeto, para poder analisar somente o próprio objeto’’ (p.28).
3. Pressuposição
‘’Seguirei a linha mais tradicional da abordagem referencial, focalizando a atenção somente nas chamadas pressuposições lógicas ou semânticas. Entretanto, proponho que as pressuposições também tenham algumas características pragmáticas e, por isso, vou assumi-las como sendo uma noção semântico-pragmática’’ (p.32).
‘’Se pensarmos em um contínuo para as implicações, a pressuposição estará localizada no meio, como uma relação semântico-pragmática, diferentemente dos acarretamentos, em que são inferidas expressões baseando-se exclusivamente no sentido literal de outras, ou seja, uma relação estritamente semântica, diferentemente das implicaturas conversacionais, que são noções estritamente pragmáticas. ’’ (p.32)
“Outro traço distintivo entre a pressuposição e o acarretamento é que, apesar de as duas noções serem implicações, a primeira envolve não somente uma implicação, mas uma família de implicações” (p.33)
“Portanto, se existir a relação de acarretamento não é uma condição necessária para que exista a pressuposição. Contudo, pode acontecer que o acarretamento esteja presente na mesma sentença em que ocorra uma pressuposição, o que às vezes gera a errônea posição de se associar as duas noções. ’’ (p.35)
“A pressuposição lida não comente com as questões sobre sentenças individuais e seu valor de verdade (como os acarretamentos), mas também com os usos das sentenças em conexão com o discurso” (p.36).
“Existem, também, alguns tipos de orações subordinadas, como as temporais e as comparativas’’ (p.37)”.
“Outros tipos de desencadeadores de pressuposição são os lexicais. Por exemplo, os verbos chamados factivos (saber, esquecer, adivinhar, etc.) são desencadeadores de pressuposições, porque eles pressupõem a verdade do seu complemento sentencial’’ (p.37).
‘’Outro exemplo de desencadeadores lexicais de pressuposição são expressões que denotam mudança de estado, como parar de, começar a, iniciar em, etc. Essas expressões pressupõem o estado anterior à mudança ocorrida. ’’ (p.38).
COMENTÁRIO: Cançado, neste capítulo, aborda algumas propriedades no campo referencial: o acarretamento e a pressuposição, ambas consideradas implicações. No acarretamento, ela faz a comparação com a hiponímia, onde essa última acontece em relação com as palavras de uma língua, em oposição, o acarretamento abrange as sentenças. Essas sentenças, para que ocorra o acarretamento, será necessário que uma se estabeleça com a outra, onde uma contém a outra. Esse tipo de propriedade ajuda o falante a entender as mensagens extralinguísticas que estão associadas nos contextos. Na pressuposição, discutem-se apenas as pressuposições lógicas ou semânticas, e ainda, a autora coloca essa propriedade como sendo semântico-pragmática. Nessa propriedade, envolve-se também a relação entre sentenças, porém exigindo um conhecimento pragmático, pois ao declarar uma sentença, outras sentenças podem ser desencadeadas, sejam elas negativas, interrogativas, subjetivas, etc., todas elas ligadas a primeira sentença que desencadeou as outras. 
Capitulo 3: Outras relações
1. Sinonímia e Paráfrase:
“A sinonímia lexical ocorre entre pares de palavras e expressões, entretanto, definir exatamente essa relação é uma questão complexa, que vem perseguindo estudiosos da linguagem há séculos, Uma primeira definição poderia ser: sinonímia é identidade de significados. ’’ (p.41)
“Assume-se que saber o sentido de uma sentença é ser capaz, em determinadas circunstâncias, de dizer se ela é verdadeira ou falsa.” (p.42)
“Duas sentenças que têm o mesmo sentido, quando se referem ao mesmo conjunto de fatos no mundo, têm de serem ambas verdadeiras, ou ambas falsas.” (p.42)
‘’ a. Todo careca sonha descer uma ladeira de bicicleta com os cabelos soltos ao vento.
 b. Todo calvo sonha descer uma ladeira de bicicleta com oscabelos soltos ao vento.
Podemos dizer tanto (a), quanto (b), que não alteramos a verdade ou a falsidade das sentenças acima. Isso é resultado de que as palavras careca e calvo têm o mesmo sentido e referência nas sentenças. ’’ (p.42)
“Segundo Cruse (1986), é impossível se falar em sinônimos perfeitos; só faz sentido se falar em sinonímia gradual, ou seja, as palavras, mesmo consideradas sinônimas, sempre sofrem um tipo de especialização de sentido ou de uso.” (p.42)
“Uma sinonímia de conteúdo requer somente que as sentenças (a) e (b) sejam verdadeiras, exatamente nas mesmas circunstâncias.” (p.43)
“Imaginemos agora que o colega tenha escolhido a sentença (4c), para se referir às mulheres da mesa do canto; por acaso, uma delas escuta e não gosta do emprego da palavra damas. Ela faz uma reclamação ao gerente e o garçom pode se encontrar em apuros. Nesse caso, vemos que as sentenças em (4) não são totalmente sinônimas e as palavras damas tem uma conotação diferente para a cliente.” (p.43)
“Portanto, novamente chegamos à conclusão de que, mesmo entre sentenças, a sinonímia perfeita não existe. Isso se procurarmos duas sentenças idênticas em termos de estrutura sintática, de entonação, de sugestões, de possibilidades metafóricas e até mesmo de estruturas fonéticas e fonológicas.” (p.44)
“Evidentemente, mesmo para traduções ou paráfrases de textos, algo mais é necessário do que somente a sinonímia de conteúdo; mas, garantir o acarretamento mútuo entre as sentenças dessas operações linguísticas é, sem dúvida, o ponto de partida.” (p.44)
2. Antonímia e Contradição:
“Geralmente, define-se antonímia como sendo uma oposição de sentidos entre as palavras. Entretanto, apenas essa definição não é suficiente, visto que os sentidos das palavras podem se opor de várias formas, ou mesmo, que existem palavras que nem têm um oposto verdadeiro.” (p.45)
“Antônimos binários são pares de palavras que, quando uma é aplicada, a outra necessariamente não pode ser também aplicada.” (p.46)
“Quando dizemos que alguém está morto. Necessariamente este alguém não está vivo; e vice-versa.” (p.46)
“Quando uma palavra descreve a relação entre duas coisas ou pessoas e uma outra palavra descreve essa mesma relação, mas em uma ordem inversa, tem-se, então, o antônimo inverso.” (p.46)
“Duas palavras são antônimas gradativas, quando estas estão nos terminais de uma escala contínua de valores; a negação de um termo não implica a afirmação do outro.” (p.46)
“Estendendo a ideia mais geral de antonímia, ou seja, a oposição de sentido para as sentenças, temos o que se chama de contradição. Entretanto, a contradição não se comporta exatamente como a antonímia, no que diz respeito à sua classificação.” (p.47)
 “Muitas vezes, é a presença de palavras antônimas, existentes nas sentenças, que desencadeia as ideias contraditórias.” (p.47)
“Quando se tem o antônimo gradativo, ou seja, palavras que estão em terminais opostos de uma escala em uma mesma sentença, também podemos ter uma relação de contradição.” (p.48)
“Uma outra maneira de expressar a contradição, sem usar antonímias, é negar uma das propriedades semânticas contidas em um item lexical.” (p.48)
“Vale realçar que a contradição, apesar de exprimir situações impossíveis de ocorrer simultaneamente no mundo, é muito utilizada na linguagem como um instrumento do discurso.” (p.49)
3. Anomalia:
“Sentenças boas sintaticamente, mas claramente incoerentes ou totalmente sem sentido, que não geram nenhum tipo de acarretamento, são chamadas, pelos linguistas, de anomalias.” (p.51)
“As noções de contradição e de anomalia, às vezes se confundem. Porém, a estranheza ou incoerência de uma frase contraditória, como João é careca e cabeludo, é que duas situações possíveis e não problemáticas, isoladamente, foram colocadas juntas.” (p.51)
“ (31) O campo bebeu toda a água da chuva.
A essa altura, fica fácil perceber que também as anomalias são graduais, ou seja, há sentenças com um grau menor de anomalia, como (31), facilmente transformáveis em sentenças aceitas semanticamente e interpretáveis de uma única maneira.” (p.52)
“Em outras sentenças, altamente anômalas, por mais que alteremos os traços selecionais, não conseguiremos chegar a uma interpretação única, ou mesmo coerente.” (p.52)
4.Dêixis e Anáfora: 
“Os elementos dêiticos permitem identificar pessoas, coisas, momentos e lugares a partir da situação da fala, ou seja, a partir do contexto.” (p.53)
“Podemos associar os elementos dêiticos, de uma maneira mais geral, aos pronomes demonstrativos, aos pronomes pessoais, aos tempos de verbos e aos advérbios de lugar e de tempo.”
“São elementos cujas interpretações dependem de informações contextuais, embora não possamos classifica-los como elementos pragmáticos. Isso se deve ao fato de existir um caráter sistemático para a interpretação desses elementos.” (p.53)
“Se eu digo: “este gato é muito bonito”, o sentido dessa sentença será: existe um determinado animal, mamífero, felino, que tem como qualidade ser bonito, em qualquer contexto. O que vai variar é o referente do gato no mundo.” (p.54)
“Seguindo IIlari & Geraldi (1987), podemos entender que o sentido dos dêiticos é um certo “roteiro para encontrar referente.”.” (p.54)
“Concluindo, vale realçar que o fenômeno da dêixis é um dos traços que distinguem a linguagem humana das linguagens artificiais, tornando-a ágil e apropriada para o uso em situações correntes.”
“A anáfora também consiste em identificar objetos, pessoas, momentos, lugares e ações, entretanto, isso se dá por uma referência a outros objetos, pessoas, etc., anteriormente mencionados no discurso ou na sentença.” (p.54)
“Expressões como toda mulher, nenhum homem não se referem, no sentido intuitivo, a uma determinada pessoa no mundo. Mesmo assim, dizemos que a relação dessas expressões com a anáfora é uma relação de correferência.” (p.55)
COMENTÁRIO: Nesse capítulo, Cançado vai abordar as propriedades semânticas de sinonímia e paráfrase. Uma sinonímia ocorre entre palavras e expressões que sejam sinônimas, que tenham a mesma referência, mas também o mesmo sentido. Para isso, as sentenças também têm que ter o mesmo sentido podendo ser verdadeiras ou falsas. Por outro lado, a autora explica que a paráfrase é um termo que tem a mesma função da sinonímia, todavia acontece entre sentenças. A antonímia seria a oposição dos sentidos que ocorrem entre palavras que se opõem de várias formas. A antonímia pode se binária ou complementar. Em oposição a isso, a contradição, em relação a sua classificação, está ligada ao acarretamento. A contradição é muito utilizada no discurso e a antonímia também pode ser desencadear uma contradição nas sentenças. Ademais, tratando das anomalias, são sentenças sem sentido, incoerentes e não tem acarretamento. Por fim, Cançado explica à dêixis e a anáfora. Os elementos dêiticos podem identificar pessoas, momentos, coisas e etc., a partir do contexto da fala, esses elementos são os pronomes demonstrativos, os pessoais, os tempos verbais e os advérbios de tempo e lugar. Nesse sentido, a anáfora também tem como objetivo identificar esses elementos, porém se referindo a outros objetos, momentos, pessoas, etc., que já foram colocados anteriormente no discurso ou na sentença.
Capítulo 4: Ambiguidade e Vagueza
1. Os vários significados das Palavras:
“Às vezes, pensamos que sabemos o significado de determinada palavra, mas, quando tentamos estabelece-lo exatamente, ele nos foge. Isso se deve ao fato de o significado, na maioria das vezes, estabelecer-se a partir de um determinado contexto.” (p.57)
1.1 Ambiguidade x vagueza:
“A ideia geral é que, em exemplos de vagueza, o contexto pode acrescentar informações que não estão especificadas no sentido; e, em exemplos de ambiguidade, o contexto especificará qual o sentido a ser selecionado.”
“Um primeiro teste, proposto por Kempson (1977), consiste no uso da palavra também, como uma forma reduzida de sentença, sendo uma maneira de se evitar a repetição da sentença anterior.” (p.58)
“O teste de ambiguidade de Kempson vale-se dessaidentidade: se a sentença antecedente tiver mais de uma interpretação, então a segunda também terá as mesmas interpretações da sua antecedente.” (p.59)
“Um outro teste para se distinguir ambiguidade é que, a cada uma das possíveis interpretações de uma ambiguidade, estará associada uma rede de sentidos específica. Essa relação semântica específica não pode ser transferida de um sentido para o outro.” (p.59)
“Existem várias outras propostas para testes de ambiguidade, entretanto, o que se pode observar é que muitos deles são difíceis de aplicar, devido à dificuldade de se criar contextos adequados, e poucos são aqueles em que não existe algum tipo de controvérsia em relação à sua aplicação.” (p.60)
“Retomando a noção de vagueza, torno a realçar que esse fenômeno semântico está associado a expressões que fazem referências apenas de uma maneira aproximada, devido o contexto acrescentar as informações não especificadas nas expressões vagas.” (p.60)
“Além disso, podemos acrescentar que a vagueza é um fenômeno gradual, pois é fácil perceber que algumas expressões são bem mais vagas (grande) do que outras (verde).” (p.60)
“Em termos de processo de comunicação, a vagueza é uma propriedade da língua muito útil. Trata-se de uma maneira econômica e, contraditoriamente, exata de nos expressarmos, sem que sejamos obrigados a determinadas escolhas, às vezes, muito complicadas no uso da língua.” (p.60)
“Podemos resumir, então, que a ambiguidade e a vagueza são fenômenos semânticos que só podem ser resolvidos no contexto.” (p.61)
“A diferença entre as duas é que, para a ambiguidade, o contexto tem a função de selecionar qual dos possíveis sentidos será utilizado; para a vagueza, o contexto pode apenas acrescentar alguma especificidade que não está contida na própria expressão.” (p.61)
2. Tipos de ambiguidade:
“Temos, então, que a ambiguidade é um fenômeno semântico que aparece quando uma simples palavra ou grupo de palavras é associado a mais de um significado.”
“A ambiguidade pode ser gerada por vários fenômenos da língua, ou até mesmo de seu uso.”
2.1 Ambiguidade lexical.
“ (13) Eu estou indo para o banco.
Em (13), temos um exemplo de ambiguidade lexical, ou seja, a dupla interpretação incide somente sobre o item lexical.” (p.63)
“Entretanto, a ambiguidade lexical pode ser gerada por dois tipos de fenômenos distintos: a homonímia e a polissemia.” (p.63)
2.1.1 Homonímia 
“A homonímia ocorre quando os sentidos da palavra ambígua não são relacionados.” (p.63)
“Existem as palavras homógrafas, com sentidos totalmente diferentes para a mesma grafia e o mesmo som; e as homófonas, com sentidos totalmente diferentes para o mesmo som de grafias diferentes.” (p.63)
2.1.2 Polissemia
“Existem uma diferença entre homonímia e polissemia tradicionalmente assumida pela literatura semântica, mais especificamente pela lexicologia. Todos os dois fenômenos lidam com os vários sentidos para uma mesma palavras fonológica, entretanto, polissemia ocorre quando os possíveis sentidos da palavra ambígua têm alguma relação entre si.” (p.63)
“Palavras polissêmicas serão listadas como tendo uma mesma entrada lexical, com algumas características diferentes; as palavras homônimas terão duas (ou mais) entradas lexicais.” (p.64)
2.1.3 Ambiguidade ou vagueza com preposições?
“Preposições são itens lexicais “leves”, ou seja, podem ter vários sentidos, que só serão estabelecidos a partir da composição com seu complemento e, às vezes, até mesmo em composição com o verbo.” (p.64)
2.1.4 Outro caso: ambiguidade universal ou vagueza?
“(40) Todo numero é par ou impar.
(41) Você quer café ou leite?
Para Kempson (1977:128), o exemplo acima se trata de uma vagueza, não de ambiguidade. A autora argumenta que “casos em que o significado de um item envolve a disjunção de diferentes interpretações, é um caso de vagueza”.” (p.65)
“Parece-me, antes, que existem duas interpretações distintas, e que uma delas será escolhida, dependendo da entonação dada à sentença. Portanto, eu considero essa ocorrência como ambiguidade lexical.” (p.65)
2.2 Ambiguidade sintática: 
“...Mas se atribui a ambiguidade às distintas estruturas sintáticas que originam as distintas interpretações: uma sequência de palavras pode ser analisada (subdividida) em um grupo de palavras (chamado de sintagma) de vários modos.” (p.68)
“Toda vez que se tratar de uma ambiguidade sintática, conseguimos mostrar as possibilidades de interpretação da sentença, apenas alternando a posição das expressões na ambiguidade; o que não acontece com outros tipos de ambiguidade. (p.69)
2.3 Ambiguidade de escopo:
“A ambiguidade de escopo sempre envolve a ideia de distribuição coletiva ou individual.” (p.69)
“Quando há a ambiguidade de escopo, não se têm duas formas lineares de organizar a sentença, mas se têm duas estruturas subjacentes (ou formas lógicas) distintas, uma com uma ideia de distribuição coletiva e outra, de distribuição individual.” (p.70)
2.4 Ambiguidade semântica: 
“A ambiguidade semântica, segundo Chierchia (2003), é um tipo de ambiguidade sistemática que não tem sua origem nem nos itens lexicais, nem na estrutura sintática e nem no escopo da sentença.” (p.70)
“A ambiguidade é gerada pelo fato de os pronomes poderem ter diversos antecedentes. Por isso é chamada de ambiguidade semântica, pois é uma questão relacionada à correferencialidade.” (p.70)
2.5 Atribuição de papéis temáticos:
“Assume-se geralmente que, a partir da relação de sentido que o verbo estabelece com seu sujeito e com seu complemento, seus argumentos, ele atribui uma função semântica, um papel dentro da sentença, a esses argumentos. A essa propriedade semântica dá-se o nome de papel temático.” (p.70)
2.6 Construções com gerúndios:
“(72) Estando atrasado aquele dia, João não entrou na sala.
 (73) Prevendo uma resposta indelicada, não o interroguei.
Segundo alguns, sentenças contendo gerúndios, como as acima, podem gerar uma dupla interpretação: existe uma leitura temporal ou uma leitura causativa possíveis.” (p.71)
2.7 Considerações finais:
“Ainda podemos notar que as sentenças nem sempre apresentam ambiguidades de um único tipo. Os vários tipos explicitados anteriormente podem aparecer, concomitantemente, em uma mesma sentença. Às vezes, se interpretarmos um item lexical de uma determinada maneira, teremos uma determinada estrutura sintática: se interpretamos esse mesmo item de outra maneira, teremos uma outra estrutura sintática.” (p.72)
COMENTÁRIO: O quarto capítulo do livro explana a ambiguidade e a vagueza. Nessa perspectiva, segundo a autora, na vagueza o contexto acrescenta informações que não são especificadas no sentido, e na ambiguidade, o contexto afirmará o sentido que vai ser selecionado. A vagueza, portanto está relacionada às expressões onde deixam o contexto acrescentar outras informações. Cançado ainda acrescenta que o fenômeno da indicialidade pode ser confundida com a vagueza, mas ela apenas se associa as palavras dêiticas. Falando sobre a ambiguidade, a autora explica que ela vai aparecer quando palavras são associadas a mais de um significado. Há, então, a ambiguidade lexical, que é quando acontece mais de uma interpretação sobre um item lexical, que pode ser gerada dos fenômenos de homonímia e de polissemia, No ponto de vista da autora, quando sentenças têm proposições, elas também podem ser ambíguas se tiverem mais de uma interpretação e nesse caso, o contesto específica o sentido correto. A ambiguidade universal ocorre com duas ou mais palavras que são diferentes para objetos. A ambiguidade sintática, que acontece nas estruturas sintáticas das sentenças e não só em uma palavra. A ambiguidade de escopo vai envolver a ideia de distribuição coletiva ou individual. A ambiguidade semântica, que segundo Chierchia, acontece quando os pronomes nas sentenças têm antecedentes. Acrescenta-se ainda que os papéis temáticos também possam gerar ambiguidades e ainda a questão de que a ambiguidade pode acontecer a partir do gerúndio das que há nas sentenças.
Capítulo 5: Referência e sentido
1. A Referência:
“Como explicitadona apresentação deste livro, em termos gerais, podemos dizer que existem três grandes abordagens em semântica: a referencial, a mentalista e a pragmática." (p.75)
“A relação de referencia é a relação estabelecida entre uma expressão linguística e um objeto (no sentido amplo do termo) no mundo.” (p.75)
“Existe uma longa tradição na literatura que tende a identificar o problema do significado com o problema da referência. De acordo com essa concepção, o significado de uma palavra pode ser explicado em termos da relação entre a palavra e o(s) objeto(s) a que esta se refere.” (p.75)
“Quando você diz nesta página, a expressão, por um lado, é a parte da língua portuguesa, mas, por outro, quando usada em determinado contexto, identifica um pedaço de papel em particular, alguma coisa que você pode segurar estre os dedos, um pequeno pedaço do mundo.” (p.75)
“Portanto, têm-se duas coisas: a expressão linguística nesta página (parte da língua) e o objeto que você pode segurar entre os dedos (parte do mundo).” (p.76)
“A referência é exatamente o objeto alcançado no mundo, quando você usa a expressão da língua para se referir a esse objeto específico.” (p.76)
“Uma primeira observação a respeito da relação de referência é que uma mesma expressão pode ser usada para se referir a vários objetos, dependendo das circunstâncias em que esta é utilizada.” (p.76)
“As expressões referenciais podem ser sintagmas nominais (SNs), que são capazes de se referir a indivíduos ou a objetos no mundo.” (p.76)
“Podem ser também sintagmas verbais (SVs), que são capazes de se referir à classe de indivíduos no mundo.” (p.76)
“Ainda podem ser sentenças (Ss), ² que têm a capacidade de se referir à sua verdade ou à sua verdade ou à sua falsidade no mundo, ou seja, a referência de sentenças é o seu valor de verdade.” (p.76)
“Em relação às referências estabelecidas pelos sintagmas nominais, vale realçar que não é uma relação única. Temos vários tipos de referências estabelecidas a partir dos sintagmas nominais.” (p.77)
1.1 Sintagmas nominais e tipos de referência:
“Segundo Lyons (1977), podemos observar os seguintes tipos de referência para os sintagmas nominais:
1. Sintagmas nominais definidos: pode-se identificar um referente, não só o nomeando, mas também fornecendo ao interlocutor uma descrição detalhada, no contexto da enunciação particular, que permita distingui-lo de todos os outros indivíduos do universo do discurso.” (p.77) 
“Nomes próprios: os nomes próprios são considerados as expressões referenciais por excelência, pois, geralmente, a cada nome buscamos uma referência única no mundo.” (p.77).
“Pronome pessoal: Os pronomes pessoais são os pronomes dêiticos que apontam para um objeto (individuo) no mundo.” (p.77).
“Um sintagma nominal definido pode ocorrer como complemento do verbo ser, podendo, então, ter uma função predicativa e não, uma função de sintagma nominal referenciado.” (p.78).
1.2 Problemas para uma teoria de referência:
“De acordo com Kempson (1977), entre outros, há várias razoes para se acreditar que uma teoria do significado que tente explicar todos os aspectos do significado de palavras em termos de referência está equivocada.” (p.79).
“Uma primeira observação é que existam várias palavras que parecem não ter referentes no mundo, como, por exemplo, os nomes abstratos.” (p.79).
“Um segundo problema aparece entre expressões referenciais e objetos inexistentes: a referência pode ser a mesma. Será difícil, para uma teoria que explique o significado exclusivamente em termos de referência, evitar prever a sinonímia entre as seguintes expressões: pterodátilo, unicórnio, primeira mulher a pisar na lua.” (p.79).
“Outro problema que podemos detectar para a relação e significado e referência diz respeito à analise de substantivos comuns, que se referem a um conjunto de objetos.” (p.79).
“Um ultimo problema apontado por Kempson (1977) é em relação ao caso paradigmático da referência, os nomes próprios. Existe uma diferença importante entre eles e qualquer outra categoria sintática, no que se diz respeito à noção de referência. Enquanto há, para os nomes próprios, uma correspondência um-a-um entre palavra e objeto, não fica evidente que os nomes próprios tenham algum sentido.” (p.80).
“Portanto, o que concluímos é que uma explicação do significado em termos exclusivos de referência deixa vários problemas sem solução.” (p.80).
2. O Sentido:
“A referência é a identidade apontada por uma expressão linguística, em determinado contexto de uso.” (p.81)
“O sentido é o modo no qual a referência é apresentada, ou seja, o modo como uma expressão linguística nos apresenta a entidade que ela nomeia.” (p.81).
“Assumindo-se, pois, que o sentido tem relação direta com o conceito que temos sobre as expressões linguísticas, podemos acrescentar, ainda, que o sentido refere-se ao sistema de relações linguísticas que um item lexical contrai com outros itens lexicais, ou que o sentido de uma expressão é o lugar dessa expressão em um sistema de relações semânticas com outras expressões da língua.” (p.81)
“Só poderemos chegar ao conceito de uma expressão linguística, se conhecermos o sistema lexical da língua em questão e como esses itens relacionam-se.” (p.81)
“Quando alguém entende completamente o que outro diz, é perfeitamente razoável admitir que essa pessoa captou o sentido da expressão que ela ouviu.” (p.82)
“Frege (1978, apud Pires de Oliveira, 2001:106) argumenta que “a referência de um nome é o próprio objeto que por seu intermédio designamos; a representação que dele temos é inteiramente subjetiva; entre uma e outra está o sentido que, na verdade, não é tão subjetivo quanto a representação, mas que também não é o próprio objeto”.” (p.82)
“Mais especificamente Frege propõe que a referencia de uma expressão depende do seu sentido e das circunstancias.” (p.82).
2.1 Argumentos de Frege favoráveis à utilização do sentido no significado:
“Uma teoria exclusivamente da referência não é adequada para se explicar o significado das expressões.” (p.87).
“Uma teoria semântica que lide com a noção de referência deve incluir, necessariamente, o conceito de sentido ao tentar explicar o significado das expressões de uma língua.” (p.87).
COMENTÁRIO: Neste capítulo, fala-se sobre a referência e o sentido, que são noções básicas da abordagem referencial. A referência se estabelece em relação a um objeto no mundo, nessa concepção, a significação de uma palavra tem relação entre a palavra e aos objetos a qual se refere. A autora apresenta um quadro com as relações de referência que foi adaptado por Chierchia & McConnell-Ginet , onde explica como a referência pode ser estabelecida, seja por sintagmas nominais ou verbais. Cançado também vai pontuar os tipos de referência para os sintagmas nominais: a Referência Singular Definida, os nomes próprios, o pronome pessoal, os sintagmas nominais definidos não-referenciados, a referência geral distributiva e coletiva, a referência indefinida específica e não específica e a referência genética. Ademais, problemas diante da teoria da referência são apresentados: o primeiro é de que há palavras que não têm referentes, como as abstratas. A segunda, é de que entre as expressões referenciais e os objetos inexistentes, a referência pode ser a mesma. Um terceiro problemas são com os substantivos comuns que se referem a um conjunto de objetos. O último problema é com os nomes próprios e sal noção de referência. Em relação ao sentido, para a autora, ele é o modo de como a referência é apresentada, onde tem relação com o conceito sobre as expressões linguísticas. Cançado traz outro quadro para explicar a Classificação de Frege para o Sentido e a Referência. Para Frege, deve-se utilizar o sentido para diferenciar sentenças, nesse caso a autora traz exemplos para explicar isso. E conclui-se que o sentido é importante para explicar o significado. 
PARTE 3: ALGUNS FENÔMENOS SEMÂNTICOS SOB A ÓTICA DE UMA ABORDAGEM MENTALISTA
Capítulo 6: Protótipos e Metáforas
1. Protótipos
1.1 Representações mentais
“Para se explicar a teoria dasimagens, estabeleceu-se que o significado de algumas palavras não é visual, mas sim, um elemento mais abstrato, um conceito.” (p.92).
“Esse procedimento tem a vantagem de nos fazer aceitar que um conceito é capaz de conter traços não visuais que faz um cachorro ser um cachorro, uma democracia ser uma democracia.” (p.92).
1.2 Conceitos
“Parece que a razão para que alguns conceitos não sejam lexicalizados é a própria utilização; se o conceito é pouco usado pela comunidade em questão, provavelmente esse conceito nunca será lexicalizado.” (p.92).
“Se nos referirmos frequentemente a algum elemento, antes de este ser associado a um único item lexical, provavelmente, com o passar do tempo, esse conceito será lexicalizado.” (p.92).
1.3 Condições necessárias e suficientes 
“Uma abordagem tradicional para se descrever conceitos é de defini-los usando um grupo de condições necessárias e suficientes. Se tivermos, por exemplo, o conceito de MENINA, este deverá conter as informações necessárias e suficientes para se decidir quando alguma coisa no mundo é uma menina ou não.” (p.93).
“O maior problema para uma abordagem desse tipo é que temos que assumir que, se os falantes têm os mesmos conceitos, necessariamente eles têm que concordar sobre quais são as condições necessárias e suficientes para definir esses conceitos.” (p.93).
“Um outro argumento contra utilizar a ideia de condições necessárias e suficientes, como a base para os conceitos linguísticos, diz respeito à ignorância do falante, Putnam (1975) observa que os falantes frequentemente usam palavras sem saber muita coisa ou quase nada sobre suas propriedades conceituais.” (p+94).
1.4 Protótipos 
“Esse modelo concebe os conceitos como estruturados de forma gradual, havendo um membro típico ou central das categorias e outros menos típicos ou mais periféricos.” (p.94).
“Os falantes tendem a aceitar mais facilmente os elementos típicos, como pertencentes a determinada categoria, do que elementos mais periféricos.” (p.94).
“Ainda na linda de protótipos, Labov (1973) mostra que os limites entre as categorias é algo muito mais incerto, ou fuzzy (termo usado na literatura linguística), do que como algo definido e claro.” (p.95).
“Alguns pesquisadores assumem que o elemento central de uma categoria, p protótipo dessa categoria, é uma abstração.” (p.95).
“Já outros pesquisadores assumem a teoria de que organizamos nossas categorias por exemplares de elementos típicos do mundo e que, depois, classificamos outros elementos a partir da comparação com aqueles exemplares já fixados na nossa memória.” (p.95).
2. Metáforas
“Os relevantes trabalhos cognitivistas apresentados em Lakoff & Johnson (1980), Lakoff (1987) e Johnson (1987) assumem que a metáfora é um elemento essencial para a nossa categorização do mundo e para nossos processos mentais.” (p+97).
“A metáfora tem sido vista, tradicionalmente, como a forma mais importante de linguagem figurativa e atinge o seu maior uso na linguagem literária e poética.” (p.97).
“Existem muitas explicações de como as metáforas funcionam, mas a ideia mais comum é que a metáfora é uma comparação, na qual há uma identificação de semelhanças e transferência dessas semelhanças de um conceito para o outro. ’’ (p.97).
“O ponto de chegada ou o conceito descrito é conhecido, geralmente, como o domínio do alvo. Enquanto o conceito comparado, ou a analogia é conhecida como o domínio da fonte.” (p.97).
“O processamento de uma metáfora requer do ouvinte uma forma especial de interpretação: a metáfora tem, como ponto de partida, a linguagem literal, que é detectada pelo ouvinte como sendo anômala.” (p.98).
“Uma segunda posição, contrária à clássica, é a abordagem chamada romântica, porque é datada dos séculos 18 e 19, época do romantismo.” (p.98).
“A semântica cognitiva é vista como uma extensão da visão romântica sobre a metáfora.” (p.98).
“A metáfora é vista como sendo uma maneira relevante de se pensar e falar sobre o mundo, porém, também se aceita a existência dos conceitos não-metafóricos.” (p.98).
2.1 Características das metáforas
“Os cognitivistas afirmas que as metáforas têm características e propriedades sistemáticas, longe de serem anomalias idiossincráticas.” (p.99).
“Podemos dividir essas características em convencionalidade, sistematicidade, assimetria e abstração.” (p.99).
“A primeira característica, a convencionalidade, está associada à questão do grau de novidade da metáfora.” (p.99).
“Uma segunda característica, a sistematicidade, refere-se à maneira que a metáfora estabelece um campo de comparações, e não somente um único ponto de comparação, ou seja, estabelece-se uma associação não somente entre um conceito e outro, mas entre vários dos conceitos participantes do mesmo campo semântico do alvo e da fonte.” (p.100).
“A terceira característica é a assimetria, que se refere à natureza direcional de uma metáfora.” (p.101).
“A última característica é a abstração, que se relaciona com à assimetria. Há uma tendência na língua de uma metáfora típica usar uma fonte mais concreta para descrever um alvo mais abstrato.” (p.101).
2.2 A influência da metáfora
“A argumentação central de Seweetser (1990), então, é que as mudanças semânticas históricas não são ao acaso, mas influenciadas por metáforas tais como as do tipo mente/corpo.” (p.101).
2.3 O esquema de imagens
“O esquema de imagens é a forma central da estrutura conceitual dentro da concepção da semântica cognitiva.” (p.101).
“A ideia básica é que, devido à nossa experiência física de ser e de agir no mundo, formamos estruturas conceituais mais abstratos.” (p.101).
2.3.1 O esquema do recipiente
“Johson (1987) apresenta o esquema do recipiente que tem origem na nossa experiência de o próprio corpo humano estar inserido em recipientes, ou seja, de nós mesmos estarmos fisicamente localizados dentro de lugares limitados, como casas, quartos, e ainda da nossa experiência de colocamos objetos dentro de recipientes.” (p.103).
2.3.2 O esquema da trajetória 
“O esquema da trajetória, segundo Johnson (1987), reflete a nossa experiência cotidiana de nos movermos no mundo e de vermos os movimentos de outros corpos.” (p.104).
3. Polissemia
“A polissemia ocorre quando os possíveis sentidos de uma palavra ambígua têm alguma relação entre si.” (p.105).
3.1 Preposições 
“O esquema do recipiente tem sido usado para investigar a semântica das preposições espaciais em um grande número de línguas.” (p.105).
“Esses estudos usam os esquemas para explorar a típica polissemia das preposições: o fato, por exemplo, de se poder usar a preposição in (em) de várias maneiras distintas.” (p.105).
“Fauconnier (1985, 1994) propõe uma estrutura conceitual concebida por espaços mentais. O autor descreve, em sua proposta, como os falantes atribuem e manipulam a noção de referência, incluindo o uso de nomes, descrições definidas e pronomes.” (p.107).
COMENTÁRIO: O sexto capítulo traz as propostas dos protótipos e das metáforas. No primeiro tópico, falando das representações mentias, onde o significado, pela teoria das imagens, algumas palavras não são visuais, mas são um conceito. Ademais, ela vai trazer a definição de conceitos, onde uma das abordagens tradicionais para descrevê-los é usar condições necessárias e suficientes, além disso, há também propriedades que podem ser entendidas como condições que não chamadas de condições necessárias. A seguir, tratando dos protótipos, ideia que se opõe as primeiras teorias conceituais e que foi proposta por Rosch, os conceitos são estruturados gradualmente, onde há membros típicos e outros periféricos. Para exemplificar, Cançado traz um exemplo com baleia, que é um animal mamífero, porém com características de peixe, e por causa disso pode causar uma incerteza. Por outro lado, abordando agora as metáforas, trazendo várias definições, na concepção de alguns autores, ademais também explicando que ela é uma figura de linguagem muito importante e bastante aplicada na linguagem literária e poética. Sobre as características das metáforas, na visão dos cognitivistas, elas têm propriedadessistemáticas, que podem ser divididas em: convencionalidade, sistemacidade, assimetria e abstração. Igualmente, para Johnson (1987), os indivíduos estão limitados dentro de um espaço, como casas, quartos e etc., esse seria o Esquema do Recipiente, esse esquema pode ser levado para um processo metafórico para os domínios abstratos. Fala-se ainda cobre outro esquema, o da trajetória, que segundo o mesmo autor reflete nos movimentos que os indivíduos fazem no mundo e em outros corpos. A autora também relembra a definição da polissemia, onde os sentidos de palavras ambíguas têm relações entre si. Por fim, ela aponta que o esquema do recipiente também é usado para estudar a semântica das preposições na língua.
Capítulo 7 – Os papéis temáticos
1. O que são os papéis temáticos? 
“Os papéis temáticos, quando vistos sob uma ótica semântica, também são assumidos como representações mentais: são noções que dizem respeito à ligação entre conceito mental e sentido.” (p.109).
“A noção de papéis temáticos foi, primeiramente, introduzida por Gruber (1965), Fillmore (1968) e Jackendoff (1972), sob a alegação de que as funções gramaticais de sujeito, objeto e outras são insuficientes para traduzir certas relações existentes entre algumas construções.” (p.109).
2. Tipo de Papéis Temáticos
“Agente: o desencadeador de alguma ação, capaz de agir com controle.” (p.111).
“Causa: o desencadeador de alguma ação, sem controle” (p.111).
“Instrumento: o meio pelo qual a ação é desencadeada.” (p.111).
“Paciente: a entidade que sofre o efeito de alguma ação, havendo mudança de estado.” (p.111).
“Tema: a entidade deslocada por uma ação.’’ (p.111).
“Experienciador: ser animado que mudou ou está em determinado estado mental, perceptual ou psicológico.” (p.112).
“Beneficiário: a entidade que é beneficiada pela ação descrita.” (p.112).
“Objetivo: a entidade à qual se faz referência, sem que esta desencadeie algo, ou seja afetada por algo.’’ (p.112).
“Locativo: o lugar em que algo está situado ou acontece.” (p.112).
“Alvo: a entidade para onde algo se move, tanto no sentido literal, como no sentido metafórico.” (p.112).
“Fonte: a entidade de onde algo se move, tanto no sentido literal, como no sentido metafórico.” (p.112).
3. Problemas com as definições de papéis temáticos
“Há uma grande divergência entre as definições propostas na literatura para os vários tipos de papel temático.” (p.113).
“Para Fillmore (1968), é a função desempenhada por um ente animado que é responsável, voluntária ou involuntariamente, pela ação ou pelo desencadeamento dos processos.” (p.113).
“Para Halliday (1967), é o elemento controlador da ação.” (p.113).
“Para Chafe (1970), é algo que realiza a ação, incluindo aí animados, forças naturais e inanimadas.” (p.113).
3.1 A identificação dos papéis temáticos
“Jackendoff (1972) propõe um teste para se identificar um agente: sentenças que têm um agente aceitam as expressões deliberadamente, com a intenção de, etc. Isso reflete o fato de que um agente está caracteristicamente associado à vontade e à animacidade.” (p.114).
4. Papéis Temáticos e Posições Sintáticas
“Para o português, assim como para outra línguas próximas, podemos estabelecer que os papéis temáticos podem ser associados por dois pontos: primeiro, por algum tipo de correspondência sistemática entre os papéis e as posições sintáticas; segundo, pela escolha do verbo.” (p.116).
“Do ponto de vista da escolha do verbo, podemos reconhecer a influência da escolha e o efeito que essa escolha produz em relação aos papéis temáticos, se tentarmos descrever a mesma situação sem explicitar o agente e o instrumento.” (p.116).
“Existe uma tendência do português (e de outras línguas) em associar o papel temático de agente à posição sintática de sujeito, o de tema à posição sintática de objeto e o de instrumento de adjunto.” (p.117).
“Uma outra possibilidade é quando um desses papéis é omitido e existe uma reorganização da estrutura sintática.” (p.117).
5. A grade temática dos verbos
“A cada tipo de verbo são associados diferentes papéis temáticos: matar, por exemplo, é associado a agente e a paciente, enquanto morrer é associado somente a paciente.” Essas informações a respeito dos papéis temáticos dos verbos fazem parte do conhecimento semântico da língua que o falante adquire. Portanto, espera-se que essas informações, de alguma maneira, estejam estocadas no léxico.” (p.119).
“Devemos ter informações não somente a respeito do número e do tipo sintático dos complementos que um verbo pede, ou seja, a sua transitividade, mas também devemos saber que tipo de conteúdo semântico esse complemento tem, ou seja, se é um agente, um paciente, etc. São essas informações que orientam a formação das sentenças na sintaxe.” (p.119).
6. Motivação Empírica para o Estudo dos Papéis Temáticos.
“Os indícios de que certos aspectos semânticos são relevantes para a sintaxe das expressões corroboram a tentativa de se tratar os papéis temáticos de uma maneira mais rigorosa, tendo um estatuto teórico em uma teoria gramatical.” (p.122).
“Além das evidências empíricas da língua de que existe uma relação de hierarquia entre as posições sintáticas e os papéis temáticos, existem ainda algumas outras propriedades sintáticas que parecem ter restrições de ordem semântica para ocorrer; por exemplo, as propriedades de ergativização e de passivização.” (p.122). 
“A ergativização é uma propriedade sintática, assim como a passivização, em que o sujeito, ou o argumento externo da frase é omitido, deixando vaga a primeira posição argumental e alçando, para essa posição, o objeto, ou o argumento interno; note que, para haver esse processo, é necessário que o evento descrito permaneça o mesmo, ainda que seja omitido o agente desse evento.” (p.122).
“Cançado (1995, 2000) lança a hipótese de que toda sentença, cujo argumento externo tenha como acarretamento a propriedade semântica do controle ou do desencadeamento direto, aceita a propriedade sintática da passivização.” (p.122).
“Cançado segue, em parte, a proposta de Dowty (1989,1991), em que oe papéis temáticos são um grupo de propriedades acarretadas pelo verbo a um argumento determinado. Portanto, a hipótese restringe a passivização à ocorrência dos tipos semânticos de papéis temáticos.” (p.122).
COMENTÁRIO: No sétimo capítulo, inicia-se abordando os papéis temáticos que é incluído em uma perspectiva mentalista, onde está ligada ao conceito mental e ao sentido. Nesse sentido, apontam-se os tipos existentes de papéis que são os agentes, a causa, o instrumento, o paciente, o tema, o experienciador, o beneficiário, o objetivo, o locativo, o alvo e a fonte. A autora traz problemas nas definições dos papéis temáticos na visão de vários autores como Fillmore, Halliday e Chafe. Ela ainda pontua a perspectiva de Jackndoff para identificar um agente: “sentenças que tem um agente aceitam as expressões: deliberamente, com a intenção de, etc.”. Para a autora, os papéis temáticos podem ser associados por algum tipo de correspondência sistemática entre os papéis e as posições sintáticas e ainda pela escolha do verbo. Sobre a temática dos verbos, cada um pode ter uma função de paciente ou de agente, isso ajuda na formação das sentenças na sintaxe. Por fim, aborda-se a ergativizaçao que é uma propriedade sintática, onde o sujeito ou o argumento externo da sentença fica escondido, deixando a vaga para um objeto interno. E ainda a passivização, onde o argumento externo tenha o acarretamento da semântica ou do desencadeamento direto nas frases, usa a propriedade da passivização. 
PARTE 4: ALGUNS FENÔMENOS SEMÂNTICOS SOB A ÓTICA DE UMA ABORDAGEM PRAGMÁTICA
Capítulo 8: Atos de fala e implicaturas conversacionais
1. Teoria dos Atos de Fala
“As ideias que apresentarei a seguir são perfeitamente compatíveis com as teorias que tratam do significado literal, ou seja, as teorias de abordagem referencial.” (p.125).
“Relembrando, a competência é um determinado sistema de conhecimentos que nos permite reconhecer, produzir, interpretar sequências bem formadas na nossa línguanativa e, segundo Chomsky, é uma capacidade inata.” (p.125).
“O desempenho é o uso desse conhecimento em situações comunicativas concretas e está situado no âmbito da pragmática.” (p.126).
1.1 Sentenças não-declarativas
“Podemos observar que as noções estudadas de acarretamento, de sinonímia, de contradição e de outras que se valem do valor de verdade sempre têm como objeto de estudo sentenças declarativas simples.” (p.126).
“As condições de verdade podem ser aplicadas na caracterização do conteúdo da sentença.” (p.126).
1.2 Os atos de fala
“O ato locutivo resume-se no ato de proferir uma sentença com um certo significado e um conteúdo informacional, ou seja, o sentido restrito da sentença, a descrição dos estados de coisas.” (p.127).
“O ato ilocutivo é a intenção do proferimento do falante, ou seja, as ações que realizamos quando falamos: ordenamos, perguntamos, avisamos etc.” (p.127).
“O ato perlocutivo são os efeitos obtidos pelo ato ilocutivo, ou seja, o resultado que conseguimos com nosso ato de fala: assustamos, convencemos, desagradamos etc.” (p.127).
1.3 Condições de felicidade
“Embora os proferimentos performativos não possam ser avaliados pelo seu valor de verdade, ou seja, se são verdadeiros ou falsos, eles podem ser avaliados pela sua adequação ou contexto.” (p.128).
“As condições de felicidade de um proferimento performativo são as condições que o contexto deve satisfazer para que o uso de uma determinada expressão possa ser feliz, ou seja, possa ser adequado.” (p.128).
2. Implicaturas Conversacionais 
2.1 Inferências
“As inferências conversacionais são feitas a partir do contexto.” (p.130).
“O ouvinte participa ativamente na construção do significado do que ouve, preenchendo lacunas que o falante deixa em seu discurso.” (p.130).
“Um primeiro exemplo a ser analisado são as inferências em que o falante recupera uma relação anafórica existente entre sentenças, ou seja, o falante identifica elementos de sentenças que se referem a uma mesma entidade no mundo.” (p.130).
2.2 Implicatura conversacional
“Grice (1972,1978) afirma que as implicaturas conversacionais podem ser previstas por um princípio de cooperação entre os falantes. Esse princípio tem regras que explicita o acordo mútuo existente entre os participantes de uma conversação” (p.132).
“É importante realçar que esse princípio não pode ser tomado de uma maneira muito ampla, comparando-o a regras fonológicas, morfológicas, sintáticas, ou mesmo a princípios morais. Também não deve ser associado a uma linguagem ideal, utópica, em que todos nos entendemos de uma maneira racional e cooperativa.” (p.132).
“Para o autor, os participantes de uma conversação sempre serão cooperativos nos sentido de que a sua contribuição para aquela conversação seja adequada aos objetivos da mesma.” (p132).
“Podemos perceber que os atos de fala de Austin fundem-se naturalmente com a teoria de Grice sobre a comunicação: para os dois autores, a força ilocutiva de uma proferimento e as implicaturas que um proferimento possa ter dependem de suposições partilhadas entre o ouvinte e o falante.” (p.135).
3. Ambiguidades situacionais
“As implicaturas também podem apresentar um certo grau de ambiguidade, característica bastante comum em sentenças descritivas.” (p.136).
COMENTÁRIO: Neste capítulo, Cançado vai falar sobre os atos de fala e as implicaturas conversacionais. Ela comenta sobre as sentenças não-declarativas, onde essas constituem de um valor de verdade. Em seguida, aborda os atos da fala. Esses atos, segundo Austin (1962) são divididos em níveis, onde os principais são: o ato locutivo, o ato ilocutivo e o ato perlocutivo. Esses atos são aplicados quando ordenamos, pedimos, interrogamos etc. Outro tópico são as condições de felicidade, que para Austin (1962), são os proferimentos que não podem ser avaliados pelo seu valor de verdade e dependem da adequação do contexto. Agora, ao tratar das implicaturas conversacionais, no subtópico inferências, a autora define que estas inferências conversacionais são feitas a partir do contexto, onde o ouvinte participa da construção do significado do que foi proferido pelo falante. Segundo Grice (1975, 1978), as implicaturas conversacionais podem ser previstas por um princípio de cooperação entre os falantes, onde existem regras na conversa dos participante, Por fim, as ambiguidades, que segundo a autora, são recorrentes também na implicaturas e comuns nas sentenças descritas.
PARTE 5: TEORIAS SEMÂNTICAS
Capítulo 9: Um breve percurso pelas teorias semânticas
1. As várias correntes teóricas
“Retomando a divisão inicial dos tipos de abordagens usados para a investigação do significado: a abordagem referencial, a abordagem mentalista, a abordagem pragmática” (p.139).
2. A Semântica Formal
“A teoria conhecida como semântica formal encaixa-se na abordagem referencial” (p.139).
“Rapidamente, a semântica formal se tornou influente na linguística, e linguistas têm desempenhado um importante papel na evolução da semântica formal contemporânea.” (p.140).
“Os traços mais constantes que permeiam a semântica formal durante toda a sua evolução têm sido: o foco nos aspectos de condição de verdade do significado (Tarsky, 1944), a concepção de teoria de modelos em semântica e a centralidade metodológica do Princípio da Composicionalidade (Frege, 1892). (p.140).
“Ainda segundo Borges (2003), geralmente o termo modelo designa uma representação em forma de esquema de um objeto ou de um sistema complexo, que tem como objetivo facilitar a compreensão desse objetou ou sistema.” (p.141).
“Portanto, o procedimento dos semanticistas formais tem sido esse, ou seja, propor modelos bastante simples das linguagens formais e tentar interpretar neles o maior número possível de sentenças das línguas naturais.” (p.141).
“Uma das críticas que se faz à abordagem formal é que, muitas vezes, essas teorias atendem somente a uma pequena parte da língua, a tipos bem específicos de dados. Entretanto, é importante realçar a importância de se conhecer essa perspectiva formal.” (p.141).
3. A semântica argumentativa
“A semântica argumentativa é um desses modelos que surgem como alternativos à semântica formal. Podemos encaixar essa perspectiva teórica em uma abordagem pragmática” (p.142).
“Na análise sob uma perspectiva argumentativa, uma mesma sentença pode ter vários significados, dependendo do seu uso.” (p.142).
“Certamente, os recursos usados pela semântica argumentativa trazem explicações para fatos que outras análises semânticas não contemplam.” (p.142).
4. A teoria dos atos de fala
“A teoria dos atos de fala surgiu com Austin (1962), sendo reformulada mais à frente por Searie (1969), tendo como foco o uso e a ideia de que parte do sentido de uma sentença tem uma função.” (p.142).
“Precisamos saber os usos convencionados para cada situação e como coloca-los em prática. Essas funções são os chamados Atos de Fala.” (p.143).
5. A semântica cognitiva
“A semântica cognitiva tem sua origem atrelada ao que ficou conhecido como semântica gerativa.” (p.143).
“Como reação a essa semântica, surge a semântica interpretativa de Jackendoff (1972), que é uma abordagem semântica compatível com o modelo gerativista.” (p.143).
“A semântica cognitiva acredita que o pensamento é estruturado por esquemas de imagens, mapeando domínios conceituais distintos. Assume-se a extensão de conceitos temporais/espaciais para outros campos semânticos, em uma relação metafórica.” (p.143).
6. A semântica representacional
“A semântica representacional tem compromisso com a forma das representações mentais internas, que constituem a estrutura conceitual, e com as relações formais entre esse nível e os outros níveis de representação (sintático, fonológico, visual, etc.).” (p.144).
“Também podemos perceber que a semântica conceitual partilha com a semântica cognitiva a adoção de uma representação mental do mundo e sua relação com a língua; vale-se de conceitos espaciais/temporais e de sua extensão para outros campos semânticos.” (p.144).
7. A semântica lexical
“Esses autores lexicalistas exploramas noções de papel temático, hierarquia temática, assumindo sempre a existência de um módulo sintático; em geral, são teorias totalmente compatíveis com a gramática gerativa.” (p.145).
COMENTÁRIO: Para este capítulo, a autora vai tratar das teorias semânticas. Nessa perspectiva, fala-se sobre a Semântica formal, trazendo uma abordagem teórica, onde ela se encaixa e exemplos são apresentados relacionados a essa teoria. Ela se baseia na verdade do significado, na teoria dos modelos em semântica e no Princípio da Composicionalidade. Para a semântica argumentativa, a autora afirma que surge como alternativa a semântica formal, na qual o falante tenta convencer o interlocutor em seu discurso. Na Semântica cognitiva. Também conhecida como Semântica gerativa, o pensamento se faz a partir de esquemas de imagens, onde são mapeados domínios conceituais distintos. Abordando a Semântica representacional, comenta-se que a mesma se baseia em representações mentais internas para constituir a estrutura conceitual com outros níveis de representação, o sintático, o fonológico e etc. No tópico de Semântica lexical, é colocado que os autores lexicalistas estudam os papeis temáticos, a hierarquia temática, assumindo a existência de um módulo sintático.
SCOTTA, Larissa. A semântica proposto por Michel Pêcheux: Uma ruptura nas bases da linguística. IDEIAS: Santa Maria, v 21, p. 8-14, Jan/Jun, 2005.
INTRODUÇÃO
“Fazendo a relação do que foi enunciado por Pêcheux com o propósito que o levou a fazer tal afirmação, podemos entender que, ao propor uma substituição da forma como a Semântica era pensada na Linguística, o teórico estava disposto a apresentar um novo modo de entender o estudo dos processos de significação.” (p.8).
“Em alguns de seus textos, escritos na França..., e em trechos das obras Análise Automática do Discurso (1969) e Semântica e Discurso (1975), o teórico questiona as evidências fundadoras da semântica.” (p.8).
“Poderíamos afirmar o sentido de um termo era dado a partir da diferença dos termos dentro do sistema linguístico. Sob essa perspectiva, a Semântica era entendida como uma parte da Linguística.” (p.8).
“Pêcheux (1997) questiona o lugar da Semântica da linguística saussuriana, fundada sobre a dicotomia língua/fala e, não obstante, interroga sobre a contradição em que se baseava a Linguística.” (p.8).
“Pêcheux (1977a, 1997b) busca elaborar as bases de uma teoria materialista da significação.” (p.8).
“Essa nova proposta vai significar, não somente uma nova abordagem dessa problemática, como também uma diferente forma de conceber a questão da ‘língua’ e da ‘fala’, tal como apresentados por Saussure.” (p.8).
1. A Linguística saussuriana e os processos de significação 
“A Linguística moderna..., adquiriu status de ciência com Saussure, que estabeleceu a língua como objeto de estudo da Linguística.” (p.8).
“Entendemos que o propósito de Saussure era o de dar à Linguística legitimidade cientifica e, por esta razão, ele optou por tratar apenas da língua.” (p.8).
“Segundo seu entendimento, somente a língua seria passível de análise e sistematização rigorosas.” (p.9).
“A fala, por ser da ordem do individual e, portanto, estar relacionada ao ‘uso’ do sistema linguístico, foi posta em segundo plano pelo linguista.” (p.9).
“Para Saussure (2003), a língua podia ser definida como um sistema de valores constituído não por conteúdos ou produtos de uma vivência mas por diferenças puras.” (p.9).
“No Curso de Linguística Geral (2003, p.134), Saussure ressalta que, a palavra, fazendo parte de um sistema, ‘está revestida não só de uma significação como também, e, sobretudo, de um valor’.” (p.9).
“Para a linguística, portanto, um signo não existe por si só, mas apenas na relação com outros signos.” (p.9).
“A noção de significação é deslocada na Linguística saussuriana para uma noção de valor. Sob essa perspectiva, um termo não significa, mas vale.” (p.9).
“Para Saussure, as noções de significação e valor não são consideradas de fácil entendimento, mas algo que se revela, sob determinados aspectos, aparentemente contraditório.” (p.9).
“A Linguística saussuriana teria por corolário o fato de que toda unidade linguística é entendida como parte de um sistema, onde essas unidades seriam explicadas a partir das diferenças existentes entre os termos da língua.” (p.9).
2. A Semântica proposta por Michel Pêcheux
“O corolário saussuriano sai ser posto em voga, no final da década de 60, por Michel Pêcheux, o qual desenvolve uma proposta teórico-metodológica.” (p.10).
“A Semântica será pensada a partir do conceito de discurso proposto por Pêcheux, onde não exclusivamente a língua, mas também o histórico e o político, vão constituir os processos de significação do dizer.” (p.10).
“Abordaremos a relação de Pêcheux com a teoria saussuriana a partir da divisão elaborada por Gadet (et. al, 1997). (p.10).
“Pêcheux compartilha da ideia de Saussure de que a língua é um sistema e, como tal, deve ser pensada a partir de seu funcionamento.” (p.10).
2.1 Da dicotomia língua/ fala ao discurso
“Segundo o teórico (1997ª), a Linguística saussuriana, fundada sobre a dicotomia língua/fala, desenvolveu-se em torno de duas exclusões teóricas: a exclusão da fala no inacessível da ciência linguística e a exclusão das instituições não semiológicas do intuito da ciência.” (p.10).
“Pêcheux (idem) afirma que ‘nem sempre se pode dizer que ela é normal ou anômala apenas por sua referência a uma norma universal inscrita na língua.” (p.10).
“Esse entendimento de que a oposição entre o universal e o individual estabelecida por Saussure não se sustenta, vai levar Pêcheux (1997, p.74) a propor ‘um nível intermediário entre a singularidade individual e a universalidade’. É nessa região intervalar que se situaria o discurso.” (p.10).
“Essa proposição vai se relacionar com a segunda exclusão teórica efetivada por Saussure, a exclusão do não-semiológico do campo da ciência linguística.” (p.11).
“Par Pêcheux (1997ª), o conceito de não-semiológico é um equívoco em Saussure” (p.11).
“O entendimento de Pêcheux, ao contrário, é o de que o estudo do funcionamento da língua deveria incluir o não-semiológico como pertinente ao linguístico.” (p.11).
“Para Pêcheux, o essencial torna-se a compreensão das ‘condições’ sob as quais essas palavras se combinam, na medida em que elas (as condições) determinam a significação que adquirem essas palavras” (p.11).
“Ao acrescentar a noção de condições de produção, além disso, Pêcheux (1997b) vai de encontro à ideia de sujeito decorrente da atividade individual que é a fala. Em outras palavras, o teórico recusa a ‘liberdade’ identificada em Saussure.” (p.11).
2.2 Por uma outra noção de Semântica 
“Essa ruptura empreendida por Pêcheux vai ligar-se diretamente à área da Linguística denominada Semântica.” (p.11).
“Para Pêcheux (1997b), a Semântica poderia ser pensada levando em consideração somente o sistema linguístico, pois o sentido, seu objeto de estudo, excederia o âmbito da Linguística fundada sobre a dicotomia língua/fala.” (p.11).
“Com o intuito de ratificar essa afirmativa, Pêcheux sustenta a hipótese de que a Semântica desenvolvida a partir do corte saussuriano é uma Semântica fortemente idealista, lançando mão de algumas evidências que seriam capazes de comprová-la.” (p.11).
“No entendimento de Pêcheux (1997b), esta evidência de que a linguagem comunica através de palavras com sentidos incontestes ‘informações’ sobre coisas e objetos, traduziriam um modelo abstrato universal produzido pela sociedade capitalista.” (p.11).
“A dicotomia língua/fala reconduziria a Semântica a um substancialismo e a um subjetivismo porque subjaz a ela a oposição kantiana contingente/necessário através do qual se recupera a operação de juízo de um sujeito.” (p.12).
“Ao expor sua crítica à Semântica estrutural, percebemos que Pêcheux a situa em dois pontos: um primeiro ponto diria respeito ao fato de que se postula a existência de um cálculo passível de determinar uma combinatória semântica para o sentido do enunciado e um segundo referir-se-iaà teoria da enunciação, enquanto teoria de um sujeito produtor de sentidos em uma dada situação.” (p.12).
“Pêcheux (1997b) questiona, portanto, as evidências fundadoras da Semântica, objetivando a instauração de outra semântica, pensada por ele nos moldes da filosofia marxista.” (p.12).
“Pêcheux defende a teses de que os sujeitos não são nem donos nem a origem de seus dizeres, pois para um sujeito ter o domínio de seu dizer, deveria existir um sentido predeterminado por propriedades da língua, justamente o que ele queria negar.” (p.12).
“Em outras palavras, o que Pêcheux propõe é deslocamento das noções de linguagem e sujeito, que passam a ser entendidas a partir de um trabalho com a ideologia.” (p.12).
“No entendimento de Pêcheux (1997b), todo seu trabalho em relação à teoria do discurso é alicerçado no fato de que a questão da constituição do sentido se junta à da constituição do sujeito, e isto não lateralmente, mas no interior da própria ‘tese central’, na figura da interpelação ideológica.” (p.13).
“Considerada uma ‘primeira etapa’ da consolidação de um novo campo de pesquisa da linguagem, o da Análise de Discurso surgida na França, a Semântica materialista proposta por Pêcheux no final da década de 60 e início de 70 não vai parar de ser aprofundada.” (p.13).
CONCLUSÃO
“A crítica severa à concepção idealista de uma língua sem sujeito e logicamente perfeita, tal como a desenvolvida na Linguística saussuriana, bem como a crítica à fala, entendida por Pêcheux como o avesso indispensável da língua e, por conseguinte, reduto da liberdade individual do sujeito, desencadeou a formulação de uma Semântica de caráter materialista que foi de encontro às noções de processos de significação correntes na época.” (p.13).
“Em nosso entendimento, ao criticar a Semântica desenvolvida até então e, principalmente, ao propor que o materialismo histórico tome posição junto a essa problemática, Pêcheux rompe com o postulado saussuriano de análise puramente linguística do ‘sentido’, onde os processos de significação são entendidos a partir das diferenças entre os termos, instaurando a possibilidade de se pensar na exterioridade coo construtiva dos processos de significação.” (p.13).
COMENTÁRIO: 
 Nesse artigo, Larissa Scotta vai abordar como o conceito de ‘sentido’ dentro da Análise do Discurso se comporta, relacionado como o significado era colocado pela Linguística de Saussure e a ruptura teórico-política por Michel Pêcheux.
 Na introdução, a autora aponta que Pêcheux queria apresentar uma nova visão para estudar os significados, sendo assim, Scotta traz exemplos de trabalhos que o autor escreveu: a Análise Automática do Discurso e a Semântica e Discurso. O objetivo de Pêcheux era o de encontrar o lugar da Semântica na Linguística Saussuriana, desse modo ele vai procurar criar as bases materiais da significação. Nesse sentido, essa teoria vai buscar conceber o ponto da ‘língua’ e da ‘fala’ discutidas por Saussure.
 No primeiro tópico, Scotta vai falar sobre “A Linguística saussuriana e os processos de significação”. Ela começa abordando as definições se Saussure na dicotomia língua/fala, enfatizando os estudos do linguista diante da fala. Ademais, aponta a definição que Saussure tinha sobre a língua, onde se enquadravam os níveis: fonológico, morfológico, sintático e semântico. Além disso, são abordados os trabalhos escritos por ele e sobre o que cada um deles fala: o Curso de Linguística Geral e o Escritos de Linguística Geral. Na Linguística saussuriana, a noção de significação se adequa para uma noção de valor. Sob a perspectiva de Ernst-Pereira, a Linguística saussuriana ainda permitiu a ideia da língua sem sujeito, com signos e toda sistematizada.
 No segundo tópico, aborda-se a semântica proposta por Michel Pêcheux. A Semântica é pensada a partir do conceito do discurso, e o histórico e o político constituem a significação do dizer. A autora vai usar da divisão elaborada por Gadet para comentar sobre a relação de Pêcheux com a teoria de Saussure. Pêcheux concorda com Saussure no pensamento de que, a língua é um sistema e deve ser pensada a partir de um funcionamento.
 Em um primeiro subtópico, para abordar a dicotomia língua/fala ao discurso, inicia-se com a opinião de Pêcheux sobre a Linguística Saussuriana sobre a dicotomia língua/fala. Sobre isso, Pêcheux seria contrário a essa dicotomia, pois não se explica, segundo ele, o funcionamento linguístico em um sistema universal, assim como também vincular um sujeito livre na atividade linguística. Nessa perspectiva, Pêcheux propõe “um nível intermediário entre a singularidade individual e a universalidade”. E ainda, para Pêcheux, “o conceito de não semiológico é um equívoco em Saussure”. Para ele, o não semiológico deveria ser incluído na língua como pertinente linguístico. Fala-se ainda sobre as “condições”, ode as palavras se combinam, quando essas condições determinam suas significações.
 No próximo subtópico, a autora coloca, que pra Pêcheux, a Semântica não deveria apenas ser levada em conta somente o se sistema linguístico, onde ele ainda contradiz a perspectiva de Saussure sobre a Semântica. Pêcheux ainda vai criticar a Semântica estrutural e via questionar as ideias fundadoras da Semântica, com o objetivo de instaurar outra semântica pensada por ele mesmo.
 Pêcheux defende que, os sujeitos não podem donos ou criadores de seus dizeres, pois não há sentidos predeterminados por propriedades linguísticas para tal coisa. Nesse sentido, ele está propondo o deslocamento da linguagem e do sujeito a serem trabalhados com ideologias. Para o autor, o seu trabalho sobre a teoria do discurso está relacionada a constituição do sentido e a do sujeito.
 Scotta conclui seu trabalho afirmando que as perspectivas de Saussure e de Pêcheux são diferentes. Os estudos feitos pelos autores geraram uma Semântica materialista em sua época. Para ela, Pêcheux rompe o postulado saussuriano ao criticar a Semântica a qual desenvolveu e quando propõe o materialismo histórico. Em seu ponto de vista, a autora acredita que as bases da Semântica saussuriana ainda hoje se sustentam e a ‘destruição’ que Pêcheux pensava sobre a mesma não aconteceu.

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