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CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE JI-PARANÁ – CEULJI /ULBRA CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NATANAEL ANTUNES VIEIRA O SERVIÇO SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZ ADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CREAS): Relato do Estágio em Se rviço Social JI-PARANÁ/RO 2014/1 NATANAEL ANTUNES VIEIRA O SERVIÇO SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZ ADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CREAS): Relato do Estágio em Se rviço Social Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná/ CEULJI/ULBRA, como requisito para a obtenção do titulo de bacharel em Serviço Social sob a orientação da professora e Assistente Social Odete Rigato Mioto. JI-PARANA/RO 2014/1 NATANAEL ANTUNES VIEIRA O SERVIÇO SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZ ADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CREAS): Relato do Estágio em Se rviço Social AVALIADORES ________________________________________________________________ Orientadora Prof.ª Odete Rigato Mioto ________________________________________________________________ Examinadora: Prof.ª e MS. Dulce Teresinha Heineck ________________________________________________________________ Examinadora: Assistente Social Yolanda Flores Acerbi JI-PARANA/RO 2014/1 Dedico este trabalho a Deus que sempre me amparou em sua infinita sabedoria e misericórdia, e a minha esposa que nunca mediu esforços para que eu pudesse continuar a estudar e concluir mais esta etapa de minha vida. Às minhas filhas Emilly e Nathalia que são o orgulho de mais uma importante fase de minha história de vida. AGRADECIMENTOS Às vezes é difícil imaginar que uma dissertação para se materializar em conhecimento depende de uma semelhança relacionada à sua produção. Por isso, neste momento, passo a agradecer a essas pessoas maravilhosas que fazem parte de minha vida. Agradeço a DEUS, por ter me concedido a vida, a família, saúde, trabalho, pela inspiração, pelas palavras, e pela humildade (Senhor ajuda-me a aprender, para que eu ajude emancipar e validar direitos). À minha querida e amada esposa, Tatiane Franco de Oliveira Vieira, que me ajudou a enfrentar as dificuldades da vida, em compreender os momentos que estivemos ausentes e na hora da tristeza ela tem sido a minha alegria, e quando chorei foi ela que enxugou as minhas lágrimas, e por ter me dado duas lindas filhas (Emilly e Nathalia), que juntas me apoiam em meus projetos e nos meus sonhos. Às minhas filhas Emilly Franco Vieira e Nathalia Franco Vieira, bênçãos que o Senhor me concedeu de um modo todo especial, por terem que segurar firmes a ausência quando eu estava na faculdade, e todos os dias me esperavam para poder lanchar ao meu lado e me dar um beijo antes de dormir. À minha Mãe Saura Ponciana Vieira, por me ensinar os caminhos que conduz a dignidade, por ter sido um Pai quando precisei, e por me ajudar nas madrugadas em oração. Aos meus familiares por me apoiarem com incentivo moral, que DEUS os abençoe. Á professora e coordenadora do curso de serviço social Prof.ª Dulce Teresinha Heineck, por sempre esta presente quando precisei, nas horas das orientações das rematrículas, por suportar minhas reclamações, e quando queria desistir, ela sempre falava palavras que traziam animo, não tenho palavras que possa agradecer por todos estes períodos que passamos juntos dentro da universidade. Aos professores por nos suportarem dentro da sala de aula, e muitas das vezes não podiam estar presente, mais faziam de tudo para não prejudicar aos seus acadêmicos. A minha coordenadora do TCC Prof.ª Odete Rigato Mioto, por me compreender nas minhas dificuldades, e me apoiar nas horas mais difíceis deste período. À equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social, e principalmente à Assistente Social Yolanda Flores Acerbi, onde foi minha orientadora de estágio, por ter dado esta oportunidade para eu enfrentar de perto as inúmeras situações quanto à complexidade de atuar no enfrentamento dessa expressão da questão social. Aos meus amigos que sempre estiveram presente em momentos alegres e tristes da minha vida. Quero também não deixar de agradecer as duas maravilhosas pessoas, que em memorias deixaram lembranças que nunca irão se apagar, a meu Papai Derval Antunes Vieira, e a minha prima Andressa Franco Carbuloni, que me convidou a entrar no curso. Onde quer que esteja, sei que estão com DEUS. Meus sinceros agradecimentos a todos e todas que me ajudaram nessa fase da minha vida. A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade. Paulo Freire; LISTA DE SIGLAS ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência ANDES-Associação Nacional de Ensino Superior CREAS- Centro de Referência Especializada de Assistência Social CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CF - Constituição Federal ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDHM- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LOAS- Lei Orgânica de Assistência Social MEC - Ministério da Educação e Cultura NOB- Norma Operacional Básica PNAS - Política Nacional de Assistência Social PAEFI-Serviço de Proteção e Atendimento Especializado á Famílias e Indivíduos SUAS- Sistema Único de Assistência Social SUMÁRIO Resumo .....................................................................................................................11 Introdução .................................................................................................................13 Capítulo I Metodologia 1.1 Metodologia.........................................................................................................14 1.2 Método de Procedimento Estudo de Caso......................................................16 1.3 Técnicas de coleta de dados...........................................................................18 1.3.1 Entrevista....................................................................................................18 1.3.2 Observação.................................................................................................19 1.3.3 Pesquisa Bibliográfica e Documental..........................................................21 1.3.4 Diário de campo..........................................................................................23 1.4 Visita Domiciliar...............................................................................................24 1.5 Visita institucionais..........................................................................................25 1.6 Métodos de análise..........................................................................................26 CAPÍTULO II QUESTÃO SOCIAL NO CENÁRIO BRASILEIRO: diversas expr essões 2.1 EDUCAÇÕES NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE 80........................... 27 2.2 A QUESTÃO SOCIAL COMO OBJETO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL................................................................................................................. 29 2.3 A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL....................... 33 2.3.1 Conceituando a violência............................................................................. 33 2.3.2 As principaisformas de violência contra criança e adolescente................. 35 2.3.3 Violência sexual extrafamiliar e intrafamiliar................................................ 36 CAPÍTULO III PROCESSO SOCIOEDUCATIVO VISANDO O DESPERTAR PARA A LEITURA COMO FORMA DE EMANCIPAÇÃO: relato da prátic a de estágio em Serviço Social 3.1Intervenção na Questão Social: a escolha pelo Serviço Social....................... 43 3.2 Históricos da Instituição.................................................................................. 44 3.3 O estágio de observação................................................................................ 47 3.4 A intervenção de estágio em Serviço Social no CREAS de Ji-Paraná/RO.... 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 58 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 61 11 RESUMO Ao analisar o processo histórico percebe-se que a violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem na sociedade desde o princípio da existência humana, atingindo a todas as faixas etárias, classes sociais, culturais, etnias e religiões. Na atualidade os índices de violência sexual contra crianças e adolescente têm crescido em grau alarmante, porém grandes conquistas em relação às politicas de enfrentamento e combate a violência sexual contra crianças e adolescentes foram alcançadas no decorrer da história. O trabalho apresenta o resultado do estágio em Serviço Social no Centro de Referência de Assistência Social – CREAS de Ji-Paraná /RO. Para a realização do mesmo se utilizou como método de procedimento o estudo de caso, com as técnicas para coletar dados a observação e entrevista não sistematizada e para análise dos dados coletados recorreu-se a dialética. A assistente social do CREAS trabalha com crianças e adolescentes que sofreram violações de seus direitos, neste caso o abuso sexual, essas crianças e adolescentes encontram-se em situação de vulnerabilidade social, desta forma, ao longo do seu processo de trabalho depara-se com vários tipos de violação de direitos. A partir da Constituição federal (CF) de 1988 e com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), houve mais ênfase no trabalho de prevenção entre os diferentes tipos de violência contra crianças e adolescentes destacando a negligencia, a violência física, psicológica e a violência sexual. Pode se dizer que o assistente social encontra muitas vezes dificuldades em realizar um trabalho voltado para emancipação dos usuários devido à dinâmica institucional e outros fatores diversos que interferem em uma ação mais preventiva educativa do que de atendimento aos vitimizados e seus familiares. PALAVRAS-CHAVE: Questão social, Violência sexual, Serviço Social. Enfrentamento, Emancipação. JI-PARANA/RO 2014/1 12 ABSTRACT By analyzing the historical process is perceived that sexual violence against children and adolescents occur in society since the beginning of human existence, reaching all age groups, social classes, cultural, ethnic groups and religions. At present rates of sexual violence against children and teenagers have grown at an alarming degree, but great achievements in relation to policies addressing and combating sexual violence against children and adolescents were achieved throughout history. The paper presents the results of the stage in Social Work at the Center for Social Assistance Reference - CREAS Ji-Paraná / RO. To perform the same method was used as the case study procedure, the techniques for collecting data and not systematic observation and analysis of interview data collected resorted to dialectic. The social worker CREAS works with children and adolescents Who have suffered violations of their rights, in this case sexual abuse, these children and adolescents are in a situation of social vulnerability, thus over their work process is facing various types of human rights violations. From the Federal Constitution (FC) 1988 and the Statute of the Child and Adolescent (ECA), there was more emphasis on prevention work among the different types of violence against children and adolescents highlighting the neglect, physical, and psychological violence sexual violence. You could say that the social worker often finds difficulty in undertaking work toward emancipation of users due to the institutional dynamics and various other factors that interfere in a more preventive action than educational assistance to victimized and their families. KEY WORDS: Social Issues, Sexual Violence, Social Service. Coping Emancipation. JI-PARANA/RO 2014/1 13 INTRODUÇÃO Ao analisar o processo histórico percebe-se que a violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem na sociedade desde o princípio da existência humana, atingindo a todas as faixas etárias, classes sociais, culturais, etnias e religiões. Na atualidade os índices de violência sexual contra crianças e adolescente têm crescido em grau alarmante, porém grandes conquistas em relação às políticas de enfrentamento e combate a violência sexual contra crianças e adolescentes foram alcançadas no decorrer da história. A violência cometida contra crianças e adolescentes em suas várias formas faz parte de um contexto histórico-social, podemos dizer que esta é a maior das violências que acontece em nossa sociedade. O primeiro capítulo trata do processo metodológico do trabalho, apresenta os métodos e técnicas de procedimento e análise em função do conhecimento científico em relação à temática em foco qual seja a violência sexual contra crianças e adolescentes bem como a busca de estratégias de enfrentamento e de formas de emancipação destes. O segundo capítulo contempla uma pequena discussão a cerca dos fatores que contribuíram nos avanços da educação do Brasil e em seguida aborda o conceito e as principais formas de violência contra crianças e adolescentes, fundamentada na visão de diversos autores. Já o terceiro capítulo caracteriza a instituição campo de estágio e apresenta o resultado da observação e da intervenção do acadêmico junto à instituição campo de estágio e faz um fechamento discutindo a prática profissional da assistente social e do estagiário em função de processos socioeducativos que contribuam à emancipação dos sujeitos gradativamente. 14 CAPÍTULO I A METODOLOGIA 1.1 Metodologia A metodologia é importante na elaboração de um trabalho científico, pois tem como função mostrar o caminho a percorrer para coletar os dados e alcançar os objetivos propostos. Desenvolver um processo em busca de conhecimentos científicos com a finalidade de produzir conhecimentos novos ou atualizar os existentes é tarefa que exige uma sistematização adequada. É impossível avançar nos conhecimentos científicos sem uma metodologia adequada. Demo (1994, p.25), descreve: Metodologia é uma preocupação instrumental. Ao mesmo tempo em que visa conhecer caminhos do processo cientifico. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos. A finalidade da ciência é tratar a realidade teórica e praticamente. Para atingirmos tal finalidade, colocam-se vários caminhos . O caminho que se traça para atingir a finalidade científica não importa, mas importa sim que ele seja de acordo com a temática e que facilite o processo de busca pelo conhecimento de forma fidedigna para que não haja distorções. Demo (1994) destaca que a metodologia não aparece pronta e acabada, como uma resolução final, mas sim para fomentar a criatividade, apresenta caminhos a serem seguidos, porém dando lugar a novas estratégias e formas, que o próprio pesquisador deve encontrar, é a metodologia que estuda as técnicas utilizadas no processo de conhecimento. A metodologia vem estudando osinstrumentos, métodos de se formular um trabalho, ou seja, meios para se construir o trabalho. Tozoni-Reis (2006, p.17) propõe que: ”[...] a teoria e a metodologia caminham juntas, interminavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de técnicas a metodologia deve dispor de um 15 instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio à prática”. O escrito acima vem realçando de que tanto a teoria quanto a metodologia são técnicas que andam juntas e são exigidas para desenvolver um trabalho científico com coerência e coesão. Sem uma metodologia apropriada se torna impossível uma pesquisa com resultados qualitativos que contribuam em termos de mudanças na sociedade. A autora Minayo (2007, p. 14), salienta que: Entende-se por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). Compreende-se que ao se utilizar de uma metodologia adequada a temática o pesquisador se torna capaz de articular a teoria com a realidade empírica e adquire uma visão amplamente crítica do contexto. Essa articulação teoria e metodologia permitem a produção do conhecimento relevante à sociedade. Gil. (1999), compreende que os resultados da pesquisa se desenvolvem com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos entre outros que fundamentam os dados empíricos. Esse é sempre um processo dialético, pois ao terminar uma etapa já ocorre automaticamente a exigência de outra mais avançada. De acordo com Gil. (1999, p.42), O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. A partir dessa conceituação, pode-se, portanto, definir pesquisa social como o processo que, utilizando a metodologia cientifica, permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social. A partir do estágio de observação surgiu uma perspectiva de pesquisar a respeito da informação como ferramenta de emancipação das pessoas atendidas pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de Ji- paraná-RO, o mesmo trabalha com Serviço de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Aprofundar o conhecimento pela 16 pesquisa é permitir ao pesquisador ampliar a compreensão da problemática que envolve o tema em estudo, além de aguçar a curiosidade e contribuir com os resultados para o melhor atendimento das pessoas que procuram o CREAS. 1.2 Método de Procedimento Estudo de Caso O estudo de caso é utilizado nas pesquisas para melhor entender o caso que se está estudando ou acompanhando. O estudo de caso permite um aprofundamento em relação à compreensão de todo o contexto que envolve o problema, neste momento a situação em que se encontram as crianças e adolescentes vitimizadas pela violência assim como seus familiares, tendo como direcionamento aproximar estas das informações que necessitam para superar a problemática. Diniz (1999, p.46) relata que, O estudo de caso é usado quando se deseja analisar situações concretas, nas suas particularidades. Seu uso é adequado para investigar tanto a vida de uma pessoa quanto a existência de uma entidade de ação coletiva, nos seus aspectos sociais e culturais. O estudo de caso quando bem aprofundado auxilia para desvendar o problema e instiga novos estudos que contribuirão para a prevenção para que outras situações semelhantes ou iguais não ocorram. O estudo de Caso é uma abordagem metodológica muito utilizada quando se pretende compreender acontecimentos que estão relacionados á área social de forma mais aprofundada. Nessa investigação o estudo de caso é o mais adequado para levantar os dados necessários para compreender o que ocorre em relação ao processo de informação das pessoas que procuram o PAEFI/CREAS e assim inferir novas intervenções. Segundo GIL, (1991, p.58-59), O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos casos de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante os outros delineamentos considerados. Estudo de caso é adotado na investigação de fenômenos das mais diversas áreas do conhecimento. 17 Para a realização deste trabalho optou-se como método de procedimento o estudo de caso uma vez que é o mais adequado à temática que se deseja intervir buscando melhorias. Em outras palavras para Yin (2006, p.33), O estudo de caso como estratégia de pesquisa compreende um método que abrange tudo, tratando da lógica de planejamento, das técnicas de coleta de dados e das abordagens específicas à análise do mesmo. Nesse sentido, o estudo de caso não é nem uma tática para a coleta de dados nem meramente uma característica do planejamento em si, mas uma estratégia de pesquisa abrangente. O estudo de caso como estratégia de investigação é o mais adequado em relação à verificação da situação das pessoas que procuram o CREAS e para poder aproximar estas de informações pela leitura, aprofundamento de estudos das leis e outros conhecimentos que conduzam a superar o problema enfrentado. Para Martinelli (1999, p.46), O estudo de caso é, portanto, a articulação do caráter técnico, que investiga a realidade, com o caráter lógico, que devem estar apoiados em referências teóricas. Além disso, deve-se considerar o processo histórico que, norteando a explicação do objeto estudado, destaca a gênese e a modificação de conceitos e hipóteses. O estudo de caso realizado no PAEFI/CREAS permitiu não apenas obter dados, mais também analisá-los e interpretá-los de modo que fosse possível compreender com maior profundidade todos os fatores que envolvem a problemática e perceber a necessidade de ampliar acesso das pessoas às informações para que estas lutem pela emancipação. De acordo com Martinelli (1999, p.49) “o estudo de caso é uma forma de investigar o real pela qual se coletam e se registram dados para a posterior interpretação, objetivando a reconstrução, em bases científicas, dos fenômenos observados”. O estudo aprofundado não contribui para a mudança de paradigma só no momento que este ocorre, mas de forma mais ampla em diversos outros casos. 18 1.3Técnicas de coleta de dados Coletar dados significa ligar informações necessárias ao desenvolvimento do raciocínio previsto nos objetivos. Para Santos (2001, p.74) “na prática, a coleta de dados consistirá em pôr em andamento os procedimentos planejados para os objetivos, obedecendo ao cronograma estabelecido pelo pesquisador”. As técnicas vêm somar ao método de procedimento. Técnicas bem adequadas facilitam no andamento da pesquisa e coleta dos dados bem como na posterior análise dos mesmos. Nesse processo optou-se por um conjunto de técnicas tanto de pesquisa quanto de intervenção visto que junto à pesquisa também ocorreu a prática de estágio em Serviço Social. 1.3.1 Entrevista A entrevista é uma técnica bastante utilizada por pesquisadores e por diversos profissionais e também faz parte do instrumental técnico operativo em Serviço Social. De acordo com Gil (1991, p.113): A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizada no âmbito das ciências sociais. Psicólogos, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais e praticamente todos os outros profissionais que tratam de problemas humanos valem-se dessa técnica, não apenas para coleta de dados, mas também com objetivos voltados para diagnóstico e orientação. A entrevista é importante e utilizada pelos diversos profissionais das ciências sociais e tem como objetivo principal a coleta aprofundada de informações a respeitodo tema previamente escolhido pelo entrevistador. Conforme Lakatos (2001, p.195), A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnostico ou no tratamento de um problema social. 19 No campo da atuação do assistente social a entrevista é um instrumento que acompanha o profissional desde o primeiro contato com o usuário até à intervenção e vai adquirindo diferentes formas de operacionalização atendendo aos objetivos que o profissional planejou. Para Sperotto (2009, p.46) o momento da entrevista: É um espaço que o usuário pode exprimir suas idéias, vontades, necessidades, ou seja, que ele possa ser ouvido. Ser ouvido não é concordar com tudo que o usuário diz estabelecer essa relação é fundamental, pois se o usuário não é respeitado nesse direito básico, não apenas estaremos desrespeitando-o, como prejudicando o próprio processo de um conhecimento sólido sobre a realidade social que ele está trazendo [...]. Para a autora, a entrevista quando bem planejada, instiga confiança entre entrevistado e entrevistador e permite que o primeiro expresse suas opiniões e considerações sem nenhum constrangimento. A entrevista é um instrumento de trabalho que serve de base para se adquirir mais conhecimento a cerca da realidade dos usuários, portanto, uma forma de interação social, é uma forma de captar a realidade na busca do ouvir e ser ouvido. Magalhães (2006, p.48) relata que “a entrevista implica relacionamento profissional em todos os sentidos, na postura atenta e compreensiva sem paternalismo na delicadeza do trato com o usuário, ouvindo-o, compreendendo-o, principalmente enxergando-o como sujeito de direitos”. O assistente social no momento da entrevista utiliza do olhar mais sensível e atento aos problemas relatados pelo entrevistado despertando uma relação de confiança entre o profissional e o usuário para que a intervenção também seja qualitativa. A entrevista foi realizada de forma direta e sem sistematização com a assistente social da instituição. 1.3.2 Observação 20 A observação é a primeira etapa da investigação e ela acompanha o pesquisador em todas as etapas permitindo captar dados a partir dos mais diversos gestos, olhares e postura em sociedade. Para Lakatos (2001, p.190): a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. Mais importante ainda é que a observação ocorra de forma natural, pois nessa perspectiva há a captação de informações fundamentais e relevantes para que o assistente social construa sua proposta de ação pautada em conhecimento tanto prático quanto científico, contribuindo consequentemente para a solução dos conflitos que envolvem os usuários de seus serviços. Chizotti (2001, p.54) enfatiza que: a observação sistemática objetiva superar as ilusões das percepções imediatas e construir um objeto que, tratando por definições provisórias, seja descrito por conceitos e estes permitam ao observador formular hipóteses explicativas a serem ulteriormente constatadas e analisadas. Nesse aspecto cabe destacar que não importa o tipo de observação utilizada, importa sim ser adequada à temática e que contribua tanto para a pesquisa quanto para a solução de problemas manifestos pela sociedade, ou o usuário dos serviços sociais em cada contexto específico. Sperotto (2009, p.87- 88) faz sua observação de que o: Compromisso do Assistente Social é o de colocar seus saberes a serviço da luta de classes e de superação das desigualdades sociais [...] tendo como definição e concepção teórica [...] este tipo de instrumento serve perfeitamente para orientar o profissional em seu processo de compreensão da situação apresentada pelo usuário dos serviços sociais. A observação permite que o profissional melhor compreenda o conjunto de manifestações da sociedade e assim possa inferir ações interventivas de forma fundamentada, auxilia também no momento da entrevista e da visita domiciliar ou 21 institucional para captar dados que não são encontrados nos diálogos e com uso de outros instrumentais. Souza (2008, p.126) diz que o: Assistente Social, ao estabelecer uma interação face a face, estabelecer uma relação social com outros seres humanos, que possuem expectativas quando às intervenções que serão realizadas pelo profissional. Assim além de observar, o profissional também é observado. Com um olhar técnico a respeito do problema é possível observar vários fatores que envolvem os usuários do PAEFE/ CREAS bem como as questões cotidianas enfrentadas pelo profissional de Serviço Social em sua prática interventiva. 1.3.3 Pesquisa Bibliográfica e Documental A pesquisa bibliográfica visa a coleta de informações pelo pesquisador em relação a tudo o que foi escrito, dito, ou filmado anteriormente sobre o tema em questão. A pesquisa bibliográfica e documental tem o caráter de investigar inclusive conferências, debates, simpósios e demais registros ocorridos em relação à temática. Para Manzo (1971, p.32), A bibliografia pertinente “oferece meios para definir, resolve, não somente problemas já conhecido, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente” e tem por objetivo permitir ao cientista “o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de informações”. A pesquisa bibliográfica não é simplesmente para copiar ou repetir o que já existe, mas sim refletir sobre o existente visando aprofundamento de conhecimentos e busca de novos achados a respeito do tema. A pesquisa bibliográfica serve ainda para fundamentar o novo que se encontra na caminhada investigativa. Para Lakatos & Marconi. (1991, p.44). 22 A descrição do que é e para que serve a pesquisa bibliográfica permite compreender que, se de um lado a resolução de um problema pode ser obtida através dela, por outro, tanto a pesquisa de laboratório quanto a de campo documentação direta exigem, como premissa, o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e solucionar. Assim, produzir o conhecimento exige o processo de pesquisa bibliográfica do inicio ao final das investigações, sem um referencial bibliográfico adequado não se chega a nenhum resultado mais relevante em termos de conhecimento. Santos (2001, p.29-30) enfatizam que as pesquisas documentais: São fontes de informação que ainda não receberam organização, tratamento analítico e publicação. A pesquisa de ação acontece quando qualquer dos processos é desenvolvido envolvendo pesquisadores e pesquisados no mesmo trabalho, já que a ambos interessaria a criação de respostas imediatas para uma certa necessidade. Ambas as técnicas são importantes para o desenvolvimento da pesquisa, pois vem contribuir de forma precisa com informações que vão direcionar o bom andamento de todo o processo, o desenvolvimento da pesquisa documental segue o mesmo caminho da pesquisa bibliográfica, considerando que esta se dedica mais na exploração de fontes documentais. Para Gil (2002, p.45): A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale- se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. Para Gil (2008), Nesse sentido, é possível até mesmo tratar a pesquisa bibliográfica comoum tipo de pesquisa documental, que se vale especialmente de material impresso fundamentalmente para fins de leitura. Tanto na pesquisa bibliográfica, documental, quanto na pesquisa de campo o diário de campo é um instrumento fundamental para anotações dos dados a serem analisados. Os documentos são instrumentos de pesquisas necessários, pois através deles é 23 possível observar relatos e detalhes da construção das atividades ocorridas em determinada época e serve como prova para as fontes de pesquisa. 1.3.4 Diário de campo O diário de campo não precisa ser compartilhado com as outras pessoas, ele é um instrumento pessoal e muito importante para a análise da própria prática e compreensão do seu objeto de estudo. Sperotto (2009, p. 91) relata que, “o propósito do diário é marcar na linha do tempo quanto e porque o pesquisador chegou àquelas formulações, o que estava acontecendo no mundo, na instituição, ou mesmo na sua vida pessoal que indicaram outros caminhos”. O diário de campo é de fundamental relevância para não perder nenhum acontecimento que envolva a temática pesquisada. A autora destaca que o diário de campo é utilizado para registrar e explicar como se constrói o processo do conhecimento em seus diferentes momentos, ou, seja para registrar o cotidiano do pesquisador. De acordo com Lima (2007, p.95-96), o diário de campo: É um documento que apresenta tanto um caráter descritivo-analítico, como também um caráter investigativo e de sínteses cada vez mais provisórias e reflexivas, ou seja, consiste em uma fonte inesgotável de construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento profissional e do agir através de registros quantitativos e qualitativos. A autora salienta que este é um instrumento que facilita o cotidiano do pesquisador, profissional, pois suas anotações livres e individuais e suas reflexões sobre seu trabalho estarão sempre guardadas para auxiliá-lo a qualquer momento que precisar. O diário de campo é o parceiro inseparável do estagiário ou pesquisador, pois é nele que deve ser registrado o cotidiano e os bastidores da pesquisa. Após cada dia de investigação ou intervenção recorre-se ao diário para extrair dele os fatos mais relevantes às análises da temática. 24 1.4 Visita Domiciliar As visitas domiciliares permitem que o profissional possa ser inserido no contexto familiar e nas condições vivenciadas pelos seus integrantes. Ela auxilia também o estagiário para que ele compreenda como se dá a prática profissional diretamente in loco por isso que é importante que este acompanhe atentamente a ação profissional. Segundo Sperotto e Arena (2009, p.60). A visita domiciliar oportuniza a observação do espaço-tempo da vida familiar. É possível, pela observação desse contexto, identificar como a dinâmica familiar está sendo construídos, quais os arranjos e necessidades que estão satisfeitos e quais carências existem. Estes elementos vão chamando a atenção pelos detalhes dos fatos e relatados apresentados durante a visita. Assim a visita domiciliar como instrumento técnico operativo do Serviço Social, é tido como um importante complemento à entrevista e a observação. Esse instrumento dá ao assistente social a oportunidade de observar o indivíduo no espaço familiar e social contribuindo para que realize um estudo mais eficiente quanto às necessidades de cada usuário (Martinelli, 2007). Tendo em vista que “o objetivo da visita é classificar situações, considerar o caso na particularidade do seu contexto sociocultural das relações sociais (Magalhães, 2006, p.54)”. A autora destaca que é necessário entender algumas situações e responder os “porquês”, respeitando o contexto histórico no qual está inserido o indivíduo pesquisado. Assim sendo, tem-se na visita domiciliar um instrumento de trabalho que se bem utilizado contribuirá nos resultados qualitativos tanto nas pesquisas quanto na intervenção. Através deste contato direto no núcleo familiar foram obtidos elementos para abranger a realidade dos indivíduos e consequentemente suas necessidades. As visitas domiciliares foram realizadas durante o período de estágio supervisionado em Serviço Social acompanhando da assistente social que atua diretamente com as pessoas que demandam seus serviços para enfrentamento das situações de violência que vivenciam. 25 1.5 Visita Institucional A Visita institucional é mais um dos instrumentos utilizados no trabalho do assistente social que também completa a entrevista no estudo de caso para conhecer o trabalho da instituição, principalmente quando seus usuários estão de alguma forma vinculada à mesma, nesse intuito Sperotto e Arena (2009, p.70) descrevem: Considera-se importante entrar em contato com outras instituições que também prestem serviços de assistência aos membros do sistema que está sendo acompanhado. É o caso das escolas, instituições de abrigagem ou albergagem, hospitais, conselhos tutelares, secretárias de estado ou municipais, organizações governamentais, enfim, espaços onde o profissional pode obter informações de outra ordem das que são fornecidas pelo usuário. A visita institucional é importante para estreitar laços profissionais e fortalecer a rede de atendimento socioassistencial, pois conhecendo melhor cada serviço e a equipe que nele se insere se torna possível realizar os encaminhamentos e atendimentos aos usuários com mais eficiência e eficácia. 1.6 Métodos de análise O método de análise escolhido foi o dialético por ser um método que interpreta a realidade e seus fenômenos em sua totalidade e com visão crítica de todo o contexto. Analisar uma problemática se utilizando da visão dialética significa sair da zona de conforto e buscar as múltiplas dimensões e fatores que envolvem o problema. De acordo com Gil (1999, p.32), [...] para conhecer realmente um objeto é preciso estudá-lo em todos os seus aspectos, em todas as suas relações e todas as suas conexões, Fica claro também que a dialética é contrária a todo conhecimento rígido. Tudo é visto em constante mudança: sempre há algo que nasce e se desenvolve e algo que se desagrega e se transforma. 26 O método dialético permite ao pesquisador ou profissional, captar a problemática de forma abrangente e analisar todas as contradições que envolvem o mesmo captando inclusive as relações que se estabelecem no em torno deste para compreender em sua totalidade. A análise dialética entende a problemática apresentada sempre ligada a seu contexto histórico, político e ideológico. Esse método permite observar o objeto investigado sempre em processo de mudança e transformação. Lakatos (2001, p.101) entende que “[...] para a dialética, as coisas não são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimentos: nenhuma coisa está “acabada”, encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver; o fim de um processo é sempre o começo de outro”. Já o autor Konder (2006, p.84) reforça que, [...] a dialética não dá “boa consciência” a ninguém. Sua função é tornar determinadas pessoas plenamente satisfeitas com elas mesmas. O método dialético nos ensina a revermos o passado à luz do que está acontecendo no presente; ela questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. Para o autor, a dialética possibilita o espírito da inquietação, é um processo desafiante tanto para o pesquisador quanto para o estagiário ou profissional que vai intervir na realidade visando uma solução para o problema que se manifesta. Em relação ao PAEFI/CREAS o método dialético se constitui em adequado por permitir averiguar toda a problemática que envolve o atendimento aos usuários que necessitam dos serviços de média e alta complexidade que a entidade oferece. 27 CAPÍTULO II QUESTÃO SOCIAL NO CENÁRIO BRASILEIRO: diversas expr essões 2.1-EDUCAÇÃO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE 80. Referenciamos a partir da década de 60, ressaltando que diferentes protagonistas e atores sociais, sujeitos coletivos e políticos, encontraram presentes no cenário nacional brasileiro, através dos movimentos sociais. Na década de 60 muitos atores comprometidos com um Brasil menos autoritário e ditatorial sofreram fortes punições e outros até foram mortos e ocultados da família e sociedade e até hoje não foram encontrados. Essas pessoas lutavam contra regimes ditatoriais opressores. Esses movimentos estavam empenhados na luta pela redemocratização do país e pela consolidação e garantia de direitos, tais como os movimentos de trabalhadores urbanos e rurais, os movimentos populares, de gênero, étnicos, de meninos e meninas que vivem nas ruas, movimento pela cidadania e ética na política, movimentos ecológico e ambientalista, etc. No final dos anos 1970 quando se deu o combate a ditadura militar pelos setores organizados da sociedade civil, identificados com a construção histórica do socialismo. Sader (2010). Os Movimentos Sociais são um fenômeno com perspectivas de abordagem diferenciadas relacionando-os ao cenário social e econômico no qual surgem e se manifestam. Na década de 80 os movimentos sociais se destacam pelas diversas conquistas em função de melhorias na educação no Brasil. Segundo a teoria de Gohn (2007), Em 1981 ocorreu a Fundação da ANDES - Associação Nacional de Professores do Ensino Superior, ela nasceu da união das Associações Docentes das universidades, especialmente públicas e comunitárias. Por possuir na década de 80 movimentos sociais expressivos que lutavam, não só pela garantia e construção de uma educação pública de qualidade, mas também por condições de uma vida digna. 28 O ano de 1984 entrou para a História do Brasil como o grande ano “da virada”, de total esgotamento do regime militar, com o movimento das “Diretas Já” e também ele teve vários antecedentes destacando-se, também, a luta dos professores no início dos anos 80, com a crise econômica e o desemprego, ficou famosa a ação do movimento dos professores por derrubarem as grades do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, em uma de suas manifestações (SADER, 1988, p. 15). Cury – ( 2002), A partir destes movimentos o Brasil teve um grande avanço que se deu inicio a formação do Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública e lançado nacionalmente nos anos seguintes, o qual teve um papel decisivo no processo constituinte e na elaboração dos artigos relativos à Educação na Carta Constitucional de 1988. O lançamento do Fórum foi acompanhado de um manifesto em defesa da escola pública e gratuita. O Fórum demandou um projeto de educação como um todo e não apenas reformas no sistema escolar. Este movimento surgiu da articulação em torno da representação em seu capítulo da Educação e se fez necessário ante a exigência constitucional de elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Gruzinski (2003) concorda que ao longo dos anos 90 o cenário sociopolítico se transformou radicalmente, e teve-se um atraso das manifestações nas ruas que conferiam visibilidade aos movimentos populares nas cidades. Segundo Gohn, (2007), ressalta sobre os movimentos que eles estavam em crise porque haviam perdido seu alvo e inimigo principal - o regime militar, mais na realidade a partir de 1990 ocorreu o surgimento de outras formas de organização popular, mais institucionalizadas - como a constituição de Fóruns Nacionais de Luta pela Educação, pela Moradia, pela Reforma Urbana Nacional de Participação Popular etc. As lutas e movimentos pela educação são antigos, mas às vezes invisíveis perante a sociedade mais geral e só recentemente ganharam visibilidade na mídia. Os movimentos sociais sempre têm um caráter educativo. A educação, de um modo geral, e a escola, de forma específica, tem sido lembrada como uma das possibilidades de espaço civilizatório numa era de violência, medo e descrença. A escola pode ser polo de formação de cidadãos ativos a partir de interações compartilhadas entre a escola e a comunidade civil organizada. As lutas pela educação podem ser o alicerce desta nova história. (OLIVEIRA, 2006, p. 22) 29 Todavia a mudança na política de educação originou novas provocações a estes movimentos que a partir dos anos 90, provocado por estes o governo idealizou canais institucionais de participação popular, como os conselhos de escola e as alianças de lideranças comunitárias que pudessem intervir diretamente nas decisões do âmbito escolar. Estes movimentos e lutas pela a educação no Brasil, está em consonância com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) que é o principal documento de ordenamento jurídico educacional do país, constituído em nosso país em meados dos anos 90 e é ela que direciona, organizam, estabelece e legisla a educação brasileira. A educação escolar é compreendida como um papel fundamental de importância no enfrentamento às desigualdades sociais. Moreira - (2003). A educação é o componente que mais avançou, entre 1991 e 2010, no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Portal do MC (2013) relata que em “1991, o Brasil possuía um IDHM da Educação de 0,279. Ao longo de duas décadas o País avançou 0,358 pontos, chegando a um índice de 0,637 em 2010 – crescimentos de 128% no período”. O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 aponta que o IDHM (índice de desenvolvimento humano municipal) médio do país subiu de 0,493 em 1991 para 0,727 em 2010. Com isso, o Brasil passou de um patamar "muito baixo" para um patamar "alto" de desenvolvimento social. Podemos dizer que nosso país teve o melhor avanço da Educação na História Brasileira. 2.2 A QUESTÃO SOCIAL COMO OBJETO DE TRABALHO DO ASS ISTENTE SOCIAL. Sabe-se que a questão social está enraizada na contradição capital x trabalho como uma expressão de formação e desenvolvimento das classes operárias e ela 30 expressa, assim a desigualdade econômica, política e cultural das classes sociais. Na compreensão, de TELES, (1996, p. 85). [...] a questão social é própria das sociedades modernas que põem em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação. A questão social resulta exatamente das contradições entre capital e trabalho no sistema capitalista de produção e gera nesse processo inúmeras expressões de desigualdade e nesse ínterim também resistências. A questão social em suas mais variadas formas de expressão se torna objeto de trabalho do Serviço Social como destaca Iamamoto, (1997, p. 14), Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resiste se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social. O profissional de Serviço Social se insere no âmbito das desigualdades sociais, tais como: violência, criminalidade, desemprego, desigualdade racial e de gênero, guerras, educação precária, falta de acesso a serviços públicos de qualidade, entre outros visando diagnóstico e intervémem prol de mudança e transformação. Para Freitas (2001, p.10) “o assistente social tem na questão social a base de sua fundação enquanto especialização do trabalho; ou seja, tem nela o elemento central da relação profissional e realidade”. Nesta interface, os assistentes sociais são chamados a intervir nas relações sociais cotidianas, visando à ampliação e consolidação da cidadania na garantia dos direitos civis, políticos e sociais aos segmentos menos favorecidos e mais 31 vulnerabilizados socialmente (trabalhadores, crianças, adolescentes, idosos, portadores de necessidades especiais, mulheres, negros, homossexuais e suas respectivas famílias). Pastorini, 2007 e Iamamoto, 2008. É importante salientar que esta questão por muito tempo esteve relacionada à disfunção ou ameaça de alguns indivíduos à ordem social. Seu reconhecimento deu-se na segunda metade do século XIX, a partir da emergência da classe operária e seu ingresso no cenário político, na luta em prol dos direitos relacionados ao trabalho e na busca pelo reconhecimento de seus direitos pelos poderes vigentes, em especial pelo Estado. Segundo Iamamoto a expressão “questão social”, [...] diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade humana – o trabalho –, das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos (IAMAMOTO, 2001, p.10). Em decorrência com esta percepção, a questão social 1se fazer referência o aumento do trabalho na sociedade capitalista, começando pela degradação do trabalho, e a perda, também o afastamento de muitas categorias e postos de trabalho isso é quando o estado sobrevém a se ausentar-se do campo social com cortes, privatizações entre outros. Yazbek ( 2001, p.10) analisa que “as crises dos padrões produtivos, da gestão do trabalho e as recentes transformações societárias têm repercutido diretamente nas políticas públicas de proteção social” e no surgimento de novas configurações da “questão social” no cenário brasileiro, em especial, a partir da década de 1970. Diante desse quadro, a questão social é 1 [...] a questão social expressa à subversão do humano própria da sociedade capitalista contemporânea, que se materializa na naturalização das desigualdades sociais e na submissão das necessidades humanas ao poder das coisas sociais [...]. Conduz à indiferença ante os destinos de enormes contingentes de homens e mulheres trabalhadores – resultados de uma pobreza produzida historicamente (e, não, naturalmente produzida) –, universalmente subjugados, abandonados e desprezados, porquanto sobrantes para as necessidades médias do capital (IAMAMOTO, 2008, p.125) 32 redimensionada, sofre alterações e apresenta particularidades e especificidades para a sociedade brasileira no cenário contemporâneo. Segundo, Yazbek ( 2012) as profundas alterações do sistema capitalista, que intensifica o processo de exploração e expropriação das classes trabalhadoras, reduzem o papel do Estado na garantia de direitos e promoção de políticas públicas sociais2 que atendam as necessidades básicas de maior parte da população. Para Iamamoto esse tipo de ação conduz á banalização do humano, a descartabilidade e a diferença perante o outro, a questão social passa a condensar. [...] a banalização do humano, que atesta a radicalidade da alienação e a invisibilidade do trabalho social – e dos sujeitos que o realizam – na era do capital fetiche. A subordinação da sociabilidade humana às coisas – ao capital-dinheiro e ao capital mercadoria –, retrata, na contemporaneidade, um desenvolvimento econômico que se traduz como barbárie social (IAMAMOTO, 2008, p. 125) Conforme se observa e se entende pelas leituras e análises no procedimento de desenvolvimento do capitalismo, as formas de exploração e as manifestações da questão social estão ligadas a diversos fatores que seguem o desenvolvimento do capital, e está alienada a força de trabalho, no constante aperfeiçoamento das forças produtivas sob a autoridade do capital. De acordo com Carletto (2008), a preferência ao econômico em detrimento ao social das políticas governamentais, tanto nos países centrais como periféricos, tem levado a “banalização do humano” e radicalização das necessidades sociais. Ou seja, o aumento do desemprego, a instabilidade do trabalho, perda dos direitos trabalhistas, aumento da pobreza, empobrecimento da classe média, privatização dos serviços sociais, inserção das mulheres no setor de serviços colocam muitos em 2 [...] as políticas sociais nasceram, ao mesmo tempo, como uma resposta ao ímpeto mobilizador da classe trabalhadora por novos direitos e uma forma de articulação do Estado com a classe patronal a fim de preservar interesses comuns aos segmentos desta classe (CURRY, 2002, p. 149). 33 situação de extrema vulnerabilidade social – de pobreza, exclusão e subalternidade – que se agrava ante o momento atual de regressão dos direitos sociais. Conforme Mesquita, (2010), é nesse quadro, que ganham destaque as famílias pobres e suas questões. Essas famílias aparecem necessariamente como um “problema social”, principalmente diante da ausência de serviços públicos, como: creches, escolas, saúde, saneamento básico, habitação entre outros. Desse modo, temos a crescente vulnerabilização social das classes trabalhadoras frente ao aumento das desigualdades socioeconômicas que podem levar ao processo de criminalização das famílias pobres, tornando-as num perigo para a sociedade – que precisaria ser evitado. A autora destaca que assim, da mesma forma que crescem as desigualdades, tem-se o aumento das lutas cotidianas por trabalho digno, acesso os direitos dentre outras. Nesse sentido as relações sociais se constituem em processo de reprodução, não mera imitação é também criação de novas forças e necessidades produtivas do trabalho social em cujo processo arraiga- se desigualdades e são designadas novas relações entre os homens na luta pelo poder e pela hegemonia entre as dessemelhantes classes e grupos sociais. Falar em questão social é analisar o todo em suas diversas formas de expressão, e neste trabalho de conclusão de curso, o que se analisa é a violência sexual contra as crianças e adolescente como uma das expressões da questão social. 2.3 A VIOLÊNCIA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL. Quando não ocorre uma educação de qualidade com bases sólidas e de forma emancipatória as pessoas ficam sujeitas as mais diversas formas de violação de direitos e com extrema dificuldade de libertação desse processo. 2.3.1 Conceituando a violência. 34 Para entender o conceito de violência recorreu-se ao Dicionário Houaiss (2001, p.2.866), violência é a “ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém), ato violento, crueldade, força”. No aspecto legal o mesmo dicionário define o termo com o “constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, para obriga-la a submeter- se á vontade de outrem; coação”, um ato violento dotado pela força. A filósofa Marilena Chauí define o conceito de violência como: Todo ato de transgressão contra oque alguém ou uma sociedade define como justo e como um direito. Consequentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. (CHAUÍ 1999, p.3) De acordo oliveira (2010), a noção de violência dispõe de vários significados, uma vez que apresenta uma diversidade deatos violentos que devem ser analisados de acordo com o contexto social, histórico e econômico em que o sujeito se insere. Compreender a problemática da violência sexual contra crianças e adolescente é conceituá-la analisando a forma como vem sendo tratada, é explicar a natureza do fenômeno em estudo pautando-se em diferentes teorias. Segundo MINAYO (2001, p.26), No Brasil, as bases teóricas que conceituam a violência contra crianças e adolescentes tem por base a teoria do poder. Portanto, a relação violenta é considerada desigual e estrutura-se num processo de dominação, na qual o dominador utilizando-se de coação e agressão faz do dominado um objeto para alcançar seus objetivos. A questão social se configura como a contradição que se estabelece na relação entre o capital e o trabalho, e se expressa de diversas formas, dentre elas a violência, que atinge todas as camadas sociais e faixa etária, e o assistente social que tem como objeto de seu fazer profissional a questão social se depara com essa realidade no seu cotidiano. 35 No contexto da violência, uma que causa comoção a sociedade é a violência cometida contra criança e adolescente, por entender no imaginário social que são pessoas em situação de formação e indefesas. 2.3.2 As principais formas de violência contra criança e adolescente. De acordo oliveira (2010). A prática da violência contra crianças e adolescentes ocorre de diversas formas, por diferentes atores, independente da classe social em que se inserem. O Brasil, um país com grandes desigualdades sociais e econômicas é extremamente violento, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social. Nesta situação, compreende-se a necessidade de abordar a violência estrutural, por considerar que esta constitui um dos principais fatores responsáveis por desencadear as demais violências cometidas contra crianças e adolescentes. A violência estrutural: Caracteriza-se pelo destaque na atuação das classes, grupos ou nações econômicas ou politicamente dominantes, que se utiliza de leis e instituições para manter sua situação privilegiada, como se isso fosse um direito natural. (MINAYO 1993, p.35). A população jovem é afetada diretamente por diferentes formas de violência, físicas e simbólicas. Preconceito e discriminação por raça, gênero, local e moradia são violências exercidas sobre os jovens, sem contar o estigma de baderneiro e rebelde sem causa que o jovem adquiriu socialmente. A violência estrutural é formada por um conjunto de ações que se produzem na esfera da vida cotidiana, mas que nem sempre são consideradas ações violentas. Trata-se do uso da força, não necessariamente física, mas com capacidade de impor regras, valores e propostas quase sempre consideradas naturais (DHNET, 2012). Na análise de Gonçalves (2003, p.161) “qualquer situação que coloque em risco o desenvolvimento pleno de uma criança ou adolescente pode ser uma forma de violência”. Esta violência poderá acontecer dentro e fora de casa, e as mais 36 comuns entre elas estão, a negligência, o abandono, a discriminação, as agressões físicas e psicológicas, o trabalho infantil, o abuso e exploração sexual. Todo o ato que possa prejudicar a integridade das crianças e dos adolescentes pode ser considerado uma forma de violência. Os conceitos de violência são geralmente propostos para abordar diversas práticas, hábitos e disciplinas, e tem-se estabelecido pelo senso comum a clareza de que a violência é um problema social e histórico. Conforme Faleiros e Faleiros (2007) as várias formas de violência, são: violência física, que é uma relação social de poder que se manifesta nas marcas que ficam pelo corpo; violência psicológica, pouco reconhecida como violência pela maioria das pessoas, devido ao alto grau de tolerância da sociedade caracterizada pela rejeição, humilhação, ameaça de abandono; negligência, ocorre quando a família ou os responsáveis pela criança se omitem em prover suas necessidades físicas ou emocionais básicas para o desenvolvimento saudável; violência sexual, abuso delituoso de crianças e adolescentes, em especial de sua sexualidade, negando o direito das crianças e adolescentes a sua sexualidade em desenvolvimento. As mais diversas formas de violência praticadas na e pela sociedade atual ficam encobertas pelo próprio sistema que não interesse que venha à tona. Dentre essas violências o fator determinante de todas as demais é a falta de educação de qualidade visando possibilitar que as pessoas desde sede construam mecanismos de defesa contra a miséria, a opressão e todas as outras formas de violência que a esta se soma, entre estas a violência sexual. 2.3.3 Violência sexual extrafamiliar e intrafamiliar. A violência sexual extrafamiliar pode ocorrer em qualquer espaço e pode ser uma pessoa que a criança conhece e confia e que muitas vezes a família também confia ou não percebe o quanto está deixando a criança exposta a tal agressão. Na concepção de Faleiros (2000, p7). 37 A violência sexual contra crianças e adolescentes sempre se manifestaram em todas as classes sociais de forma articulada ao nível de desenvolvimento civilizatório da sociedade, relacionando-se com a concepção de sexualidade humana, compreensão sobre as relações de gênero, posição da criança e o papel das famílias no interior das estruturas sociais e familiares. Desta forma, devemos entendê-la em seu contexto histórico, econômico, cultural e ético. Na análise do autor tais situações atingem toda a classe independente de seu nível social, em forma de afinidades igualitárias e esta violência ocorre de forma oculta, sendo que ninguém perceba durante algum tempo. A violência sexual praticada contra a criança e adolescente embora constitua um fenômeno social grave que atinge todas as idades, classes sociais, etnias, religião, culturas, geralmente acontece em um envolvente relacional favorável, a absoluta da confiança que a vítima coloca no abusador3, que se aproveita da inocência da criança e do adolescente. A violência sexual intrafamiliar constitui-se em qualquer relação de caráter sexual entre um adulto e uma criança ou adolescente, existindo um laço familiar direto ou não, ou relação de responsabilidade, esta violência sempre surgem de quem a criança espera amor, carrinho, respeito e dignidade. Carvalho (2009). De acordo com o (MEC) Ministério da Educação (2004, p.39), na violência sexual intrafamiliar. O agressor é uma pessoa que a criança conhece e mantém laços de amor e confiança. Essa relação de parentesco do agressor com a vítima contribui para que ele exerça seu poder sobre ela. Este poder pode ser hierárquico e 3 [...] usa da imaturidade e insegurança da vítima, colocando em dúvida a importância que tem para a sua família, diminuindo ainda mais seu amor próprio, ao demonstrar que qualquer queixa da parte dela não teria valor ou crédito. O abuso é progressivo; quanto mais medo, aversão ou resistência pela vítima, maior o prazer do agressor, maior a violência (PFEIFFER; SALVAGNI, 2005, p. 199). 38 econômico, quando se trata do pai, padrasto ou mãe, e de relações afetivas, avós, tios, primos e irmãos. A violência sexual consiste não só numa violação á liberdade sexual do outro, mas também na violação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, essa violência vai interferir na vida do ser humano como todo. Segundo Azambuja (2011), o abuso sexual comedido contra crianças e adolescentes precisam ser entendidos como uma conjuntura de transposição de limites dos direitos humanos, e este enfrentamento vêm se manifestando de forma complicada, com inúmeras interconexões que para melhor compreensão devem ser analisadas em suas diferentes dimensões, tantofamiliar como social. Para Azevedo & Guerra (1989, p.42): Violência sexual infanto-juvenil é todo o ato ou jogo sexual, relação heterossexual entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou utilizá-la para obter estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. Desta forma todo ato de relação heterossexual ou homossexual que venha levar a vitimização de crianças e adolescentes pelo uso da diferença de idade, de conhecimento sobre o comportamento sexual é uma relação de poder, visando o prazer e gratificação individual. MINAYO (2001, p.26), descreve a violência contra crianças e adolescentes como: [...] todo ato ou omissão cometidos pelos pais, parentes, outras pessoas ou instituições capazes de causar dano físico, sexual e ou psicológico à vitima. Implica, de um lado, uma transgressão no poder/dever de proteção do adulto e da sociedade em geral, e de outro, numa coisificação da infância. Isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes tem de serem tratados como sujeitos e pessoas em condições especiais de desenvolvimento. A violência é também produto de relações sociais desiguais, onde a interação dos envolvidos se estabelece numa dinâmica em que o autor da agressão tem alguma condição de vantagem, seja física, emocional ou econômica sobre a vítima. Esse fenômeno viola o direito da criança e do adolescente constituído no Estatuto da 39 Criança e do Adolescente (ECA) que estabelece no artigo 5°. “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990). A violência sexual pode ocorrer sem contato físico e com contato físico e de acordo com a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA, 2004) constitui a violência sem contato físico como: abuso sexual verbal que são conversas abertas sobre atividades sexuais destinadas a despertar o interesse sexual da criança ou adolescente; telefonemas obscenos que na maioria são feitos por adultos, especialmente do sexo masculino, que podem gerar ansiedade na criança, no adolescente e na família; exibicionismo que é do ato de mostrar os órgãos genitais ou se masturbar em frente a criança ou adolescente, tendo como intenção chocar a vitima; o voyeurismo que se configura como observação fixa de atos ou órgãos sexuais de outras pessoas quando elas não desejam ser vistas para obter satisfação com essa pratica. Esses tipos de violência não envolvem contato físico, mas também deixam marcas em suas vitimas. Para Abrapia (2004), constitui violência com contato físico o estupro que é a prática sexual onde ocorre penetração vaginal com o uso de violência ou grave ameaça; a sedução que é uma forma de abuso sexual considerado crime, caracterizando-se pela indução de mulheres virgens entre 14 e 18 anos a manter relações sexuais com penetração vaginal mesmo com consentimento; o incesto sendo a atividade de caráter sexual envolvendo crianças e ou adolescentes e um adulto que tenha com eles uma relação de consanguinidade, de afinidade ou de mera responsabilidade; a pedofilia considerada uma perversão sexual, com caráter compulsivo e obsessivo, em que adultos apresentam uma atração sexual, exclusiva ou não, por crianças e adolescentes. A violência sexual pode ocorrer com o contato físico deixando marcas externas e internas que, precisam de ajuda de profissionais especializados para facilitar a sua comprovação, e tratamento/acompanhamento de forma que seja menos dolorosa para a vítima. 40 Outra forma de violência cometida com crianças e adolescentes á exploração sexual: A exploração sexual é uma atividade essencialmente econômica, de caráter comercial. A violência sexual comercial é todo tipo de atividade em que redes, usuários e pessoas usam o corpo de uma criança ou adolescente para tirar vantagem ou proveito de caráter sexual com base em uma relação de exploração comercial e poder. Nessa perspectiva a exploração sexual comercial do segmento infanto-juvenil é um crime contra a humanidade. (LEAL 1999 p.10) De acordo com o mesmo autor, a exploração sexual é o modo que pessoas se utilizam da criança ou do adolescente para que estas lhes proporcionem resultados econômicos. Esses casos inclusive são muito comuns e hoje até expostos pela mídia que a todo o momento noticia casos de políticos e até mesmo de pessoas da lei envolvidos na exploração sexual de crianças e adolescentes. O pior é que as investigações se arrastam anos após anos até que sejam concluídas e durante esse tempo os agressores continuam explorando novas vítimas em seu próprio estado, município ou em outros locais para os quais mudam visando continuar a exploração sem nenhum entrave. No Brasil, aspectos culturais, econômicos e sociais, aliados a pouca visibilidade e impunidade que cercam a questão da violência, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, têm se revelado como empecilho no processo de enfrentamento à exploração sexual. Na concepção de (LIBÓRIO 2005. p.413), a exploração sexual comercial pode ser definida como: Uma violação fundamental dos direitos da criança. Esta violação abrange o abuso sexual por adultos e a remuneração em espécie a criança ou adolescente, ou uma terceira pessoa ou várias. A exploração sexual comercial de crianças constitui uma forma de coerção e violência contra crianças que pode implícita o trabalho forçado e formas contemporâneas de escravidão. A autora destaca que foi a partir dos anos 90, do século XX, que se observou uma crescente visibilidade da exploração sexual comercial infanto-juvenil, ocorrendo principalmente nas cidades litorâneas e nas regiões de garimpo como mostram 41 alguns relatórios governamentais e não governamentais, além de materiais jornalísticos. A exploração sexual contra crianças e adolescentes é um ato repugnante, privado, geralmente mantido em silêncio e em segredo. Dessa forma, os abusos sexuais podem ocorrer tanto na dimensão intrafamiliar ou extrafamiliar e muitas vezes a vitima não tem noção do que está acontecendo, visto que não tem uma formação definida sobre conceitos morais. Os problemas que envolvem o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes incorrem diretamente nas estruturas familiares e é agravada pela falta de investimento público nos setores sociais onde ocorre a precarização dos valores humanos. Os crimes de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes alimentam-se do medo das vitimas de denunciar as agressões, nutrem-se da omissão ou da falência pública para lidar com a questão e ganham força na silenciosa cumplicidade social. Acompanhadas por receio ou tabu, os temas carecem da mobilização de todos os setores da sociedade para serem enfrentados [...] o silêncio das vitimas muitas vezes prevalece e denuncias deixam de ser registradas. (BRASIL, 2006, p.19) O medo é fator determinante para que a violência sexual fique acobertada, pois a relação de poder que o agressor exerce sobre a vítima conduz este a calar-se e sofrer a violência por longos períodos além do medo pelas ameaças do agressor existe a vergonha por ter sido violentado. Pode também a vítima calar-se por relação de afetividade com o agressor, isso é muito comum quando o violentador é pessoa da família. Entender e tratar a criança e o adolescente, enquanto seres humanos em desenvolvimento e sujeitos de direitos civis, humanos e sociais, ainda não é uma realidade vivenciada pela maioria da sociedade, pois na medida em que a sociedade como todo passar a não aceitar essa agressão com certeza o agressor também passará a ser punido com mais urgência e severidade. O meio mais usado para denunciar é o disk100, além deste, essas informações precisam chegar até os conselhos tutelares e de direito, delegacias, promotoria da 42 Infância e da Juventude, após o recebimento da denúncia são tomadas as medidas cabíveis e repassadas à vara criminal onde são abertos inquéritos policiais e tomadas as medidas punitivas em relação aos acusados. Cabe ao Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS) tomar providências quanto ao atendimento/acompanhamento da vítima que teve seus direitos violados e ameaçados no sentido de encontrar estratégias de empoderamento destas para enfrentar e superar o problema. 43 CAPÍTULO III PROCESSO SOCIOEDUCATIVO VISANDO O DESPERTAR PARA A LEITURA COMO FORMA DE EMANCIPAÇÃO: relato da prátic a de estágio em Serviço Social 3.1 Intervenções na Questão Social : a escolha pelo Serviço Social. Fazer uma graduação é plano de grande parte dos brasileiros, mas infelizmente uma grande parcela de sonhadores não consegue alcançar nem se quer a conclusão do ensino médio devido a ingressar no mundo do trabalho para sobreviver com o mínimo necessário e não conseguir ou não ter coragem de continuar os estudos por ser dominado pelo cansaço e até mesmo o desânimo. Como cidadão este estudante vislumbrou ingressar em um curso que pudesse proporcionar um bom retorno financeiro como, por exemplo: engenharia, direito ou medicina. A demora por ingressar no ensino superior se deu devido a problemas cotidianos, família, trabalho, condições financeiras. No ano de 2009, em conversas familiares, em especial com uma prima, o incentivo e motivação para cursar Serviço Social surgiu. Inicialmente as concepções em relação ao curso não eram claras eram embasadas pelo senso comum, pensava que a função do assistente social era apenas amparar, ajudar as pessoas necessitadas. Com os embates teóricos e debates em sala de aula e também pesquisas de campo, foi possível observar que o Serviço Social é uma profissão dinâmica e que o assistente social é capaz de intervir nas mais variadas expressões da questão social, para com a população encontrar estratégias de intervenção e de transformação ou no mínimo de empoderamento da população para validar direitos sociais. 44 Na visão de (Guerra apud Baptista e Battini 2009 p. 83), Como profissão interventiva no âmbito das chamadas “expressões da questão social”, o reconhecimento profissional advém da resolutividade dessa intervenção, o que exige respostas em nível imediato, emergencial, já que atende a questões que, pelo nível de tensão que provocam, põem em risco a ordem vigente. Nesta visão ser assistente social é ser capaz de se indignar frente às injustiças que cotidianamente se defronta na sociedade. Buscar incessantemente a validação dos direitos outorgados nas legislações vigentes para uma parcela da sociedade que se encontra em situação de vulnerabilidade social, e conduzir esses atores em um processo de emancipação para que se tornem sujeitos protagonistas de sua história. Diante do aprendizado percebeu-se que intervir nas mais diversas expressões da questão social é uma forma dos profissionais contribuírem com seu saber para que os cidadãos enfrentem seus problemas e superem reconquistando a dignidade em uma sociedade de tantas injustiças. Nesse mesmo caminho que se optou pelo estágio no CREAS - Centro de Referencia Especializado de Assistência Social de Ji- Paraná-RO. 3.2 Históricos da Instituição As instituições são organizações criadas pelo Estado para atuar como repassadoras de políticas públicas e sociais e são também mecanismos de controle do Estado, com finalidade de reconhecer de uma forma rigorosa sobre o modo de vida das pessoas, para poder desenvolver diferentes ações segundo o seguimento e classes dos indivíduos. Conforme Faleiros (2011, p. 31) as instituições são: [...] organizações específicas de política social, embora se apresentem como organismos autônomos e estruturados em torno de normas e objetivos manifestos. Elas ocupam um espaço político nos meandros das relações entre o Estado e a sociedade civil. Elas fazem parte da rede, do tecido social lançado pelas classes dominantes para amealhar o conjunto da sociedade. 45 Segundo o autor, as instituições também proporcionam características que passam a representar o estado perante todo o corpo social, essas são essenciais para a relação entre Estado e sociedade. As instituições são ainda mecanismos de manutenção da ordem vigente, pois possuem papel de amenizar ânimos pelos mínimos oferecidos. O CREAS pode ser definido como instituição pública que trabalha diretamente com o serviço de enfrentamento à violência, abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes e está em consonância com a definição expressa na Lei Nº 12.435/2011, a qual descreve. O CREAS é a unidade pública estatal de abrangência municipal ou regional que tem como papel constituir-se em lócus de referência, nos territórios, da oferta de trabalho social especializado no SUAS a famílias e indivíduos em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos. Seu papel no SUAS determina, igualmente, seu papel na rede de atendimento. O CREAS articula os serviços de média complexidade, sua política de atendimento é voltada para trabalhar em rede, sendo ela unidade pública e estatal, integrante do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Seus serviços devem ser desenvolvidos de modo articulado com a rede de serviços da assistência social, um órgão de defesa de direitos e das demais políticas públicas prestar serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos com seus direitos violados. O CREAS de Ji-Paraná-RO, oferta serviços especializado e continuado às famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas sócioeducativas em meio aberto, etc.). A oferta de atenção especializadas e continuada tem como foco o acesso da pessoa e família vitimada a direitos sócio assistenciais, por meio da potencialização de recursos e capacidade de proteção. De acordo com Serra (1984 p.33), As instituições enquanto parte e expressão de um processo social mais amplo, não são estáticas. Elas se transformam, se modificam, mudam seus programas de acordo com as rearticulações que se verificam entre as forças sociais que lutam para obter um espaço no controle do poder político e econômico. 46 As instituições são também espaço de poder político e que muitas vezes impedem ou dificultam a prática profissional da forma que deve ocorrer, qual seja com ética e transparência em todos os momentos. O assistente social tem seu fazer profissional muitas vezes dificultado e outras até impedido pelo jogo de poder e pela falta de recursos adequados ao desenvolvimento de suas ações interventivas. Vale ressaltar que: O profissional, em sua prática cotidiana, coloca-se entre as demandas da clientela e as exigências e determinações da instituição, e, frequentemente, as carências determinadas pelas instituições como sendo da clientela não são as mesmas que essa considera e define (SERRA, 1983, p. 41). Nas instituições a relação de poder político muitas vezes também é enfrentada e vencida pelo saber profissional que estrategicamente organiza seu trabalho com competência em função de atender as demandas dos usuários dos serviços institucionais e não o jogo político que se manifesta no cotidiano. O CREAS enquanto instituição proporciona além do atendimento às vítimas de violência, busca a construção de um espaço de acolhida e escuta qualificada, fortalecendo vínculos familiares e comunitários, priorizando a reconstrução de suas relações familiares. Os profissionais que atuam no CREAS focam suas ações no fortalecimento de laços e
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