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Doença Periodontal e Problema Respiratório

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DOENÇA PERIODONTAL ASSOCIADA A PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS
 
A doença periodontal é o desequilíbrio entre as ações de agressão e defesa sobre os tecidos de sustentação e de proteção do dente, que tem como principal determinante o biofilme dental. A periodontite está associada em maior ou menor grau a mais de dez tipos de bactérias da cavidade oral. Entre essas as mais estudadas são:Porphyromonas Gengivalis, Actinobacillus, Actinomycetemcomitans, Tannerella Forsythia. (BEZERRA et al, 2019)
O entendimento da etiologia e patogênese das doenças periodontais e sua natureza crônica, inflamatória e infecciosa exige admitir a possibilidade de que essas infecções possam influenciar eventos em outras partes do corpo. Ao mesmo tempo, o reconhecimento da interação entre doenças bucais e algumas condições sistêmicas implica que dentistas e periodontistas devem direcionar sua prática e conhecimento não apenas para eventos estritamente relacionados à cavidade oral, mas também considerar condições e doenças sistêmicas que podem mudar ou interferir com abordagens preventivas e terapêuticas estabelecidas. (WEIDLICH et al, 2008)
Atualmente pesquisas indicam que a doença periodontal é um provável fator de risco para doenças cardiovasculares, incluindo aterosclerose, infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, diabetes, desfecho adverso a gravidez e distúrbios respiratórios como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Além disso os microrganismos presentes na cavidade bucal podem ser facilmente transportados para os pulmões e causar infecções (BEZERRA et al, 2019), já que ocorre uma continuidade anatômica entre os pulmões e a cavidade oral, tornando a cavidade oral um local de colonização de patógenos respiratórios. (PARASHAR et al, 2018)
As infecções respiratórias resultam da aspiração da flora orofaríngea para o trato respiratório menor. Além disso, foi sugerido que o biofilme dental pode servir como reservatório de patógenos respiratórios. A natureza da inflamação crônica da doença periodontal pode indiretamente contribuir para o desenvolvimento da inflamação respiratória, através de mediadores, que são liberados na saliva e levados ao epitélio respiratório.(BEZERRA et al, 2019)
As periodontites podem influenciar o curso das doenças pulmonares, e podem ser fonte de aspiração de secreções orais nos pulmões e também são as principais fontes de infecções pulmonares. Uma boa saúde bucal e higiene podem reduzir a carga de colonização orofaríngea e, portanto, reduzir o risco geral de infecções respiratórias. (BEZERRA et al, 2019)
As doenças pulmonares estão entre as principais causas de mortalidade no mundo, a doença periodontal é um provável fator de risco para o desenvolvimento e exacerbação dessas doenças. É importante entender se realmente existe essa associação para a conscientização da importância da prevenção e do tratamento de doenças periodontais, e alertar sobre o risco das doenças periodontais no desenvolvimento de desordens sistêmicas. (BEZERRA et al, 2019)
A cavidade oral pode ser uma importante fonte de bactérias que causam infecções pulmonares. A placa dentária pode fornecer nutrição aos patógenos no trato respiratório, principalmente em pacientes com falta de higiene bucal, como também pode se transformar em saliva e contaminar a porção distal da árvore respiratória por aspiração. (PARASHAR et al, 2018)
 Citocinas e enzimas induzidas pelo tecido periodicamente inflamado pelo biofilme oral podem ser transferidas para os pulmões, onde podem estimular processos inflamatórios locais que precedem a colonização de patógenos e a infecção pulmonar real. Outros possíveis mecanismos de infecção pulmonar são a inalação de patógenos no ar ou a translocação de bactérias de infecções locais por bacteremia. (PAJU & SCANNAPIECO, 2008)
A placa dentária, um biofilme transportado por dentes que inicia a doença periodontal e a cárie dentária também pode influenciar o início e a progressão da pneumonia devido à realocação das bactérias do biofilme para o trato respiratório. Um milímetro cúbico de placa dentária contém cerca de 100 milhões de bactérias e pode servir como um reservatório persistente para possíveis patógenos, bactérias orais e respiratórias. É provável que as bactérias orais e respiratórias na placa dentária sejam derramadas na saliva e depois aspiradas para o trato respiratório inferior e os pulmões, causando infecção. (PAJU & SCANNAPIECO, 2008)
PARASHAR et al, 2018 sugeriram que a periodontite não apenas causa sangramento gengival, mas também é um fator de risco para doenças crônicas relacionadas à inflamação sistêmica, como doenças cardiovasculares, diabetes e DPOC como asma, derrame pleural e tuberculose.
Dados sugerem a associação entre periodontite e doenças respiratórias, como distúrbios respiratórios, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pneumonia, asma e outras doenças respiratórias superiores, associadas principalmente à má higiene bucal e baixo status de imunidade (MOGADHAN et al., 2017). (BEZERRA et al, 2019) Existem evidências crescentes de que uma saúde bucal precária pode predispor a doenças respiratórias, especialmente em pacientes de alto risco (residentes de asilos, idosos, pacientes em unidades de terapia intensiva e indivíduos hospitalizados que necessitam de ventilação mecânica). A cavidade oral é contígua à traquéia e pode ser um portal para a colonização do patógeno respiratório. A placa dentária pode ser colonizada por patógenos respiratórios, que podem ser aspirados da orofaringe para as vias aéreas superiores e, em seguida, alcançar as vias aéreas inferiores e aderir ao epitélio brônquico ou alveolar. (WEIDLICH, 2008)
Os dentes podem se mostrar como um depósito para infecções respiratórias. As toxinas liberadas nas secreções das saliva de microrganismos no biofilme dental, quando inalados para o trato respiratório inferior provocam pneumonia. Isto é, já se conhece que infecções pulmonares anaeróbias graves podem acontecer após a aspiração de secreções salivares,especialmente com doenças periodontais. As bactérias orais também podem ter uma função no agravamento da obstrução obstrutiva crônica(MALATHI & SUJATHA, 2013).
Em grande parte das pesquisas clínicas, a avaliação da doença periodontal é realizada principalmente através dos seus índices e parâmetros clínicos: índice de placa (IP), índice de sangramento gengival (IG), profundidade de bolsa à sondagem (PS) e nível de inserção clínica (NIC). Na maioria dos estudos, os parâmetros periodontais apresentaram-se mais graves nos pacientes do grupo DPOC, sugerindo a doença periodontal como um fator de risco para a DPOC. Alguns estudos populacionais foram desenvolvidos com a finalidade de avaliar indicadores do status da saúde oral em pacientes com DPOC e os resultados destes estudos demonstraram que pacientes com DPOC tiveram maior perda de inserção periodontal e que esta perda também estava relacionada com maior redução da função pulmonar e maior risco de desenvolver DPOC. (LIBÓRIO-LAGO et al, 2018)
Não obstante, segundo ÖZTEKIN, 2014, o número de dentes em pacientes com DPOC acaba sendo inferior aos pacientes que não possuem a patologia, e a perda de inserção também se mostra maior em pacientes com DPOC. Comprovando assim que há relação entre a doença pulmonar e doença periodontal.
Foram propostos vários meios para definir a associação da doença periodontal e da DPOC declarado pela Federação Europeia de Periodontologia e Academia Americana de Periodontologia (EFP/AAP), a condição inflamatório da DPOC pode ser alterado tanto pela aspiração de biofilme dentário como pela difusão hematológica de mediadores inflamatórios e organismos da placa das bolsas periodontais (LINDEN et al., 2013). Assim, levantamos a possibilidade de que a diminuição da inflamação periodontal pelo tratamento periodontal pode auxiliar a precaver a degeneração progressiva da função pulmonar e reduzir a frequência de exacerbações em pacientes com DPOC com Periodontite crônica. (ZHOU et al., 2014).
A relação entre asma e a doençaperiodontal tem sido também avaliada pelas características inflamatórias, inerentes das doenças, e pela análise das alterações metabólicas decorrentes do uso de medicações para controle da asma. Algumas medicações utilizadas no tratamento da asma atuam inibindo o sistema imunológico do indivíduo, favorecendo o aparecimento de infecções, ao mesmo tempo que podem alterar o metabolismo ósseo com diminuição da sua densidade mineral, em como afetam a secreção salivar que influencia negativamente a saúde periodontal (CORRÊA et al., 2016)
WATANABE et al, 2019 realizaram um estudo de caso em que a doença periodontal foi a fonte primária de SPE (embolia pulmonar séptica) e P. micra foi identificado como um patógeno causador de SPE associada a doença periodontal por hemocultura. Segundo os autores, a doença periodontal, incluindo periodontite e abscesso periapical, tem sido relatada como uma causa menos comum, mas importante, da SPE. No entanto, é difícil identificar o patógeno causador da SPE associada à doença periodontal, provavelmente devido a técnicas inadequadas de cultura e coleta de amostras.
Em um estudo de caso, realizado por PARASHAR et al, 2018, 99 pacientes com doenças respiratórias foram incluídos no grupo teste e 99 pacientes com função pulmonar normal foram adicionados ao grupo controle, com pacientes da faixa etária acima de 15 anos e abaixo de 65 anos foram incluídos no estudo. Os escores do índice gengival foram utilizados para avaliar o status gengival. No qual houve uma comparação dos índices do escore gengival e o resultado foi comparado como estatisticamente significante. Os valores médios de casos e controles para o índice de placa foram de 2,11 e 1,59, respectivamente, o que foi estatisticamente significativo ( P ≤ 0,05). Quando a comparação do escore da placa foi feita entre os pacientes respiratórios e os não-doenças, verificou-se que era significativamente alto.
A Terapia periodontal pode regredir a redução na função pulmonar e diminuir a periodicidade da frequência de exacerbação da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Terapias periodontais podem ser usadas como uma maneira complementar eficaz do tratamento de pacientes com DPOC, embora serem necessários maiores estudos para a comprovação da resultante do tratamento periodontal na DPOC (ZHOU et al., 2014).
É unanimidade que os meios de higiene oral é o meio mais efetivo de prevenção e preservação da saúde periodontal podendo, ou não, ter a ajuda de medicamentos de uso tópico ou sistêmico durante o tratamento, de forma especial quando há severidade no tratamento . Minimizando, assim, a quantidade de biofilme e as citocinas secretadas pelo organismo do hospedeiro, diminuindo, deste modo, os riscos de modificações (MOGHADAM et al., 2017).
REFERÊNCIAS
BEZERRA, Joelma da Silva et al. Relationship between periodontitis and pulmonary diseases: literature review. Braz J Periodontol , [S. l.], v. 29, p. 22-30, jun. 2019. Disponível em: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://www.revistasobrape.com.br/arquivos/2019/junho/REVPERIO_JUNHO_2019_PUBL_SITE_PAG-22_A_30%2520-%252026-07-2019.pdf. Acesso em: 30 set. 2019.
Watanabe, Tsuyoshi et al. “Embolia pulmonar séptica associada à doença periodontal: relato de caso e revisão da literatura.” BMC disease infecciosas vol. 19,1 74. 21 de janeiro de 2019, doi: 10.1186 / s12879-019-3710-3
WEIDLICH, Patrícia et al. Associação entre doenças periodontais e doenças sistêmicas. Braz. res oral. , São Paulo, v. 22, supl. 1, p. 32-43, agosto de 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-83242008000500006&lng=en&nrm=iso>. acesso em 28 de outubro de 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-83242008000500006.
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Parashar P, Parashar A, Saraswat N, Pani P, Pani N, Joshi S. Relação entre saúde respiratória e periodontal em adultos: um estudo de caso-controle. J Int Soc Prevent Communit Dent 2018; 8: 560-4
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Linden, G. J., Herzberg, M. C. & Working Group 4 of Joint EFP/AAP Workshop. (2013a) Periodontitis and systemic diseases: a record of discussions of working group 4 of the Joint EFP/ AAP Workshop on Periodontitis and Systemic Diseases. Journal of Clinical Periodontology 40, S20–S23. 
	
	Paloma Sthephanny

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