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Literatura Brasileira I Margarete Louzano AULA 2 – Barroco (1601- 1768) TÓPICOS • Ecos do Barroco • O Barroco, espirito e estilo • O Barroco no Brasil • A Prosopopeia de Bento Teixeira INTRODUÇÃO • Nesta aula o objetivo será oferecer ao estudante de Letras uma perspectiva Literária sobre o Barroco, estilo e espírito, na visão mundial e, especialmente, no Brasil recém nascido aos olhos do mundo. Veremos as valiosas contribuições de Bento Teixeira, em sua Prosopopeia, para com ao desenvolvimento da Literatura Brasileira. Desta forma, o estudante de Letras terá a oportunidade de refletir sobre a origem e os primeiros passos na história do Brasil rumo à construção de uma identidade da Literatura Brasileira. Linha do tempo / comparativa O Barroco, espirito e estilo O advento da Contra-Reforma muito contribuiu no campo das Artes e da Literatura. Em 1567 encerrava-se o Concílio de Trento com as suas resoluções que atingiam tanto o campo da fé quanto o da Arte e Literatura. O século XVII iria restaurar o teocentrismo medieval. A Contra-reforma passa a orientar e a vigiar todas as atividades do mundo católico. Ao mesmo tempo, de países exóticos e praticamente desconhecidos até o início do século. Desta forma, alteraram-se os conceitos harmoniosos e simétricos das artes clássicas. “...a maioria dos historiadores literários, a começar pelo grande Fidelino de Figueiredo para Portugal, denominava “clássica” a literatura produzida desde o Renascimento até o Romantismo, portanto cobrindo os três séculos “clássicos” da Literatura Portuguesa e os brasileiros da fase colonial. Contestei essa teoria, asseverando que a literatura brasileira da chamada fase colonial era barroca e não clássica. Isso está profusamente discutido e demonstrado(...) ao exame do conceito de barroco, aplicado à literatura e artes em geral, desde os trabalhos pioneiros de Wolffin desde 1879. (COUTINHO, p. 226, 1997) “A literatura nasceu no Brasil sob o signo do Barroco, pela mão barroca dos jesuítas. E foi ao gênio plástico do Barroco que se deveu a implantação do longo processo de mestiçagem que constitui a principal característica da cultura brasileira, adaptando as formas europeias ao novo ambiente, (...) conciliando dois mundos – o europeu e o autóctone.” ( COUTINHO, p. 29, 1997) Espirito e estilo do barroco Barroco é o estilo artístico que desabrochou entre o final do século XVI e meados do século XVIII. Há controvérsias quanto à sua origem. Alguns teóricos dizem ser na Itália, outros na Espanha. O fato é que espalhou-se por todos os países católicos da Europa, da América e alguns pontos do Oriente. Considerado como o estilo correspondente ao absolutismo e à Contra- reforma, distingue-se pelo esplendor e o exuberante. De certo modo o Barroco foi uma continuação natural do Renascimento, ambos os movimentos apresentam profundo interesse pela arte da Antiguidade clássica. Espirito e estilo do barroco O Renascimento trata das temáticas e enfatiza a moderação, a economia formal, a austeridade, o equilíbrio e harmonia. O Barroco trata temas idênticos porém mostrava maior dinamismo, contrastes mais fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo, além de uma tendência ao decorativo. Manifesta ainda uma tensão entre o gosto pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida espiritual. Existem diversas abordagens que foram englobadas sob a denominação genérica de "arte barroca", o que tem gerado muita polêmica e pouco consenso na conceituação e caracterização do estilo. Mas há que se considerar que o Barroco constitui não apenas um estilo artístico, mas todo um período histórico e um movimento sociocultural, onde se formularam novos modos de entender o mundo, o homem e Deus. O Barroco no Brasil Prosopopeia (1601). Destacadamente a obra que dá início ao Barroco Brasileiro. Poema Épico escrito por Bento Texeira. Há dúvidas quanto à origem do poeta, estudos literários recentes afirmam que ele nasceu em Portugal (Porto, 1561 e morreu em Lisboa, 1600), porém viveu grande parte de sua vida no Brasil, em Pernambuco. Prosopopeia é constituído de 94 estrofes, que exalta Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da capitania de Pernambuco. Claramente, Bento Teixeira imita Camões em Os Lusíadas. “A intenção é encomiástica e o objeto de louvor Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, que encetava a sua carreira de prosperidade graças à cana-de-açúcar. A imitação de Os Lusíadas é assídua, desde a estrutura até o uso dos chavões da mitologia e dos torneios sintáticos (BOSI, p. 36, 2001) Bento Teixeira usa a mesma métrica que Camões, em os Lusíadas, e trata sobre a vida e o trabalho de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, e seu irmão, Duarte. Mas, sem dúvida, o poema apresenta nítidas características da realidade que vivia o poeta. Contudo, há de ser considerado o valor histórico da obra, pois trata-se da primeira obra com finalidade meramente literária publicada em solo brasileiro. De acordo com José Veríssimo, poemas como Prosopopeia eram frequentes na bibliografia da época, ou seja, a poesia que elogiava os nobres e suas famílias concedia ao poeta um status diferenciado, não à reveria que os Cancioneiros Portugueses apresentam inúmeros poemas dedicados aos reis. “É um poema de noventa e quatro oitavas, em verso hendecassílabo, sem divisão de cantos, nem numeração de estrofes, cheio de reminiscências, imitações, arremedos e paródias dos Lusíadas. Não tem propriamente ação, e a prosopopeia donde tira o nome está numa fala de Proteu, profetizando post facto, os feitos e a fortuna, exageradamente idealizados, dos Albuquerques, particularmente de Jorge, o terceiro donatário de Pernambuco, ao qual é consagrado.”(VERISSIMO in CULTURA, 2010) Padre Antonio Vieira Da poesia para a prosa, passamos para o notável Pe. Antonio Vieira, dotado de grande e corajoso espírito, além de excepcional capacidade discursiva. Seus Sermões e suas cartas são repletas de força e beleza. “Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão-de nascer todos da mesma matéria (...) Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há-de ser o sermão: há-de ter raízes fortes e sólidas (...) (VIEIRA, Sermão da Sexagésima) Padre Antonio Vieira Nasceu em 1608, Lisboa e faleceu em 1697 no Brasil. Com 6 anos é trazido ao Brasil e estuda no colégio jesuístico da Bahia. Ordenou-se Padre em 1634. Em 1640 retorna a Portugal junto à sua delegação para jurar lealdade ao novo rei, D. João VI, devido à independência de sua Pátria dos domínios espanhóis. Ganha prestígio junto à Corte e retoma ao Brasil. Realiza outras viagens Portugal –Brasil, porém em 1681 retorna definitivamente ao Brasil. Padre Antonio Vieira Adquiriu prestígio junto à Corte por ser o confessor real. Perseguido pela Inquisição por defender os judeus, volta ao Brasil onde passa a combater a escravidão dos indígenas e, com outros jesuítas, expulso do Maranhão Preso pela Inquisição, é proibido de pregar e condenado à prisão domiciliar. Sua atuação política, intimamente associada à sua obra, centralizou-se na defesa dos judeus, negros e índios. Padre Antonio Vieira “O Padre Antonio Vieira é a mais alta personalidade, humana e cultural, a qual sua estatura invulgar deu nível e serviu de símbolo perfeito. Nele se encontram reunidas, em estranho compósito, as linhas de força que norteiam o complexo quadro do Barroco português” (MOISÉS, p.75, 2003) Sua imaginação verbal, e o estilo de pensar, com os seus paradoxos, aproximam-no de Fernando Pessoa, que o considerava seu mestre e “imperador da língua portuguesa”. Obras do Padre Antonio Vieira 1) Cartas, sermões e obras de profecia (interesse documental), Vieira trata de diversos assuntos Relacionados à sua atuação e à questões políticas do momento em que vivia no Brasil). 2) Sermões. O sermão consistia em interpretaro texto sagrado citado à cabeça do sermão. Segundo a exegética tradicional, o texto tinha quatro sentidos: a) o sentido literal ou histórico, b) o alegórico (maneira velada de manifestar uma verdade da fé), c) o moral (ensinamento sobre como se comportar na vida), e d) o anagógico, relativo a outra vida. Estrutura dos Sermões A estrutura dos Sermões do Padre Viana obedecem à estrutura clássica tripartida: Intróito (ou exórdio), em que o orador declara o plano a utilizar na análise do tema a ser discutido: desenvolvimento (argumento), em que se apresentam os prós e contras da proposição e seus exemplos; Peroração, em que o orador finaliza a prédica conclamando os ouvintes à prática de virtudes que nela se enaltecem. A Linguagem do Padre Vieira A linguagem usada em seus sermões apresenta-se dramática, ao ponto de se notar seu vigor como ator e autor dos Sermões, que ainda hoje nos surpreende pelas respostas paradoxais que dá às perguntas que ele próprio faz ao texto e a si mesmo. Uma incontestável virtudes da eloqüência de Vieira é a chamada “propriedade”, ou seja, a arte de encontrar as palavras mais próprias para o que se quer significar. “A Linguagem de recorte clássico, apóia-o eficazmente graças a um vocabulário seleto e a sintaxe riquíssima, aliadas ao poder de revelar insuspeitadas conotações lógicas ou afetivas...”(MOISÉS, p.78, 2003) Sermão da Sexagésima – Fragmento da Parte I “O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que ouviu bem a palavra, mas nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa. A terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um.” (VIEIRA, p.78. 2007) “O caráter polêmico desse sermão delata preliminarmente que há excesso em manifestações. Sem excluir de modo algum a sinceridade com que combateu as extravagâncias do cultismo, não deixava Vieira de praticar ali mesmo o que condenava em outros pregadores, veladamente os dominicanos.” (COUTINHO in CULTURA) Desembarque de Cabral em 1500, Porto Seguro, de Oscar Pereira da Silva. Séc XIX Descrição do Recife de Pernambuco - Poema “XVIII É este porto tal, por estar posta Uma cinta de pedra, inculta e viva, Ao longo da soberba e larga costa, Onde quebra Netuno a fúria esquiva. Entre a praia e pedra descomposta, O estanhado elemento se diriva Com tanta mansidão, que uma fateixa Basta ter à fatal Argos aneixa. XIX Em o meio desta obra alpestre e dura, Uma boca rompeu o Mar inchado, Que, na língua dos bárbaros escura, Pernambuco de todos é chamado. de Para’na, que é Mar; Puca, rotura, Feita com fúria desse Mar salgado, Que, sem no dirivar cometer míngua, Cova do Mar se chama em nossa língua” Padre Antônio Vieira Considerações finais Vimos que se faz necessário o conhecimento de certos detalhes históricos e sociais para compreendermos melhor os primeiros passos na construção de uma identidade Literária Brasileira. As influências dos primeiros escritores e primeiras publicações realizadas no Brasil e os ecos do Barroco que nos chegavam de toda Europa com os migrantes. Como já vimos, a competência de análise e reflexões críticas dos estudos literários exige de seu estudante um olhar cuidadoso e crítico para além do senso comum. ç Referências Bibliográficas BOSI, Afredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1989. CÂNDIDO, Antônio . Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins Fonte , 1969. _________ Presença da Literatura Brasileira. Das origens ao Realismo. História e a Antologia. 11ª Ed. Rio de janeiro. Bertrand Brasil, 2003. __________ Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos. 6.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. Referências Bibliográficas CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Momentos decisivos. 6.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. ____________. Presença da Literatura Brasileira. Das origens ao Realismo. História e a Antologia. 11ª Ed. Rio de janeiro. Bertrand Brasil, 2003. COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1978. ___________, Afrânio (dir.) e COUTINHO, Eduardo de Faria (co-dir.). A literatura no Brasil. 4.ed. São Paulo: Global, 1997. Vols. I, II, III, IV, V e VI. CULTURA , Ministério da. A Carta de Pero Vaz Caminha. Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro. 2010. MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 32ª edição. São Paulo. Cultrix, 2003. http://www.resumosdeliteratura.com/2015/01/resumo- de-literatura-brasileira-linha.html https://www.google.com.br/search?q=linha+do+tempo+ comparativa+literatura+brasileir http//www.culturatura.com.br/obras/Sermão%20da% 20Sexagésima.pdf) Literatura Brasileira I Número do slide 2 TÓPICOS INTRODUÇÃO Linha do tempo / comparativa O Barroco, espirito e estilo� Número do slide 7 Número do slide 8 Espirito e estilo do barroco Espirito e estilo do barroco Número do slide 11 O Barroco no Brasil Número do slide 13 Número do slide 14 Número do slide 15 Número do slide 16 Padre Antonio Vieira Padre Antonio Vieira Padre Antonio Vieira Padre Antonio Vieira Obras do Padre Antonio Vieira Estrutura dos Sermões A Linguagem do Padre Vieira Sermão da Sexagésima – Fragmento da Parte I� Número do slide 25 Desembarque de Cabral em 1500, Porto Seguro, de Oscar Pereira da Silva. Séc XIX Descrição do Recife de Pernambuco - Poema Considerações finais Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas Número do slide 31
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