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INSTITUIÇÕES DOS PROCESSOS ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL Magnum Eltz Questões atuais no sistema tributário Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os elementos da teoria geral do Direito Tributário. Explicar o procedimento de recolhimento dos tributos. Reconhecer os aspectos relacionados aos impostos de renda e de veículos automotores. Introdução A teoria geral do Direito Tributário é um ramo do direito público. Ela é responsável por desenvolver os princípios e as normas gerais da cobrança de tributos feita pelo Estado. Neste capítulo, você vai estudar os principais aspectos da teoria do Direito Tributário. Também vai conhecer o procedimento administrativo de recolhimento de tributos e os aspectos específicos sobre o imposto de renda (IR) e o imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA). Elementos da teoria geral do Direito Tributário A teoria geral do Direito Tributário é um ramo do direito público. Ela é res- ponsável por desenvolver os princípios e a ligação entre as normas gerais da cobrança de tributos feita pelo Estado. Como você sabe, essa cobrança é realizada por meio das relações obrigacionais tributárias. Nas palavras de Carvalho (2012, p. 54), o sistema tributário nacional, que dá a base legal dessas relações, é a reunião de todos os textos do direito positivo em vigor no Brasil. Isso inclui desde a Constituição Federal até os mais singelos atos infralegais, compondo um conjunto integrado por elementos inter-relacionados. As unidades desse sistema são normas jurídicas que se C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 1 24/04/2018 11:26:40 despregam dos textos e se ligam por meio de vínculos horizontais (relações de coordenação) e verticais (subordinação). Carvalho (2012, p. 59–60) acrescenta que a Constituição Federal, pedra fundamental desse sistema, é composta por sistemas gerais. Estes, por sua vez, constituem os direitos fundamentais e princípios que ordenam todo o sistema jurídico vigente, bem como os subsistemas dos quais se depreendem as normas específicas que dispõem sobre o sistema tributário nacional. Além disso, constam na Constituição os princípios específicos de Direito Tributá- rio que, segundo o autor (CARVALHO, 2012, p. 229), conformam o âmbito axiológico (valorativo), invariavelmente presente na comunicação normativa. Esses princípios também representam normas fundamentais da aplicação do Direito Tributário, delineando suas funções e limites de aplicação. Entre os princípios específicos de Direito Tributário, destaca-se o princípio da legalidade. Segundo Amaro (2006, p. 111), esse princípio é informado pelos ideais de justiça e de segurança jurídica, valores que poderiam ser utilizados de forma exacerbada caso a administração pública pudesse decidir livremente quando, como e de quem cobrar tributos. Somam-se a isso os princípios da anterioridade, da anualidade e da irretroatividade. O princípio da anterioridade não permite a cobrança antes do próximo exercício fiscal. Já o princípio da anualidade exige a autorização orçamentária para que a cobrança de tributos ocorra de modo válido. O princípio da irretroatividade, por sua vez, proíbe os efeitos retroativos à vigência da norma. Há ainda a tipologia tributária, como um desdobramento da legalidade em sentido estrito identificada por Carvalho (2012, p. 253), bem como a proibição do confisco, identificada desde Montesquieu, conforme Baleeiro (2005, p, 571), como um meio de garantir a liberdade de denúncia dos abusos da administração (e consequente compensação por qualquer ato dessa natureza). Você também deve considerar os princípios da capacidade contributiva e personalização, que pregam a correspondência entre a capacidade do contribuinte e o tributo exigido (AMARO, 2006, p. 138). Além disso, há a não discriminação tributária em razão da procedência ou destino dos bens, a territorialidade dos tributos e a uniformidade geográfica, que compõem o tripé da coerência sistêmica nacio- Questões atuais no sistema tributário2 C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 2 24/04/2018 11:26:41 nal, segundo Carvalho (2012, p. 259–260). Ainda são relevantes os princípios específicos, como a não cumulatividade (por exemplo, o ICMS), a seletividade (por exemplo, o IPTU) e a progressividade (por exemplo, o IRPF e o IRPJ). Outra questão essencial para a teoria do Direito Tributário é a compreensão de seu objeto, ou seja, o tributo. Segundo Carvalho (2012, p. 65), esse termo possui nada menos do que seis significações diversas presentes nos textos do direito positivo brasileiro, nas lições de doutrina e nas manifestações jurispru- denciais. Assim, tributo é entendido: como quantia em dinheiro; como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo; como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo; como sinônimo de relação jurídica tributária; como norma jurídica tributária; e como norma, fato e relação jurídica. Nessas acepções, se destaca a relação tributária em que se encontram envolvidos o sujeito passivo (contribuinte) e o sujeito ativo (Estado), em relação bilateral. Nessa relação, o primeiro desprende-se de valores monetários em troca de serviços diretos ou indiretos prestados pelo segundo. Com relação à figura do contribuinte, do ponto de vista jurídico, é definida pela legislação. Ela pode atingir tanto aquele designado de forma direta (ou o contribuinte em sentido estrito ou direto) quanto aquele que a lei define como “responsável” pelo pagamento do tributo, seja por solidariedade em relação à obrigação tributária, seja por capacidade econômica dentro da cadeia de responsáveis legais. Assim, o contribuinte se configura como aquele que possui a obrigação de dar quitação ao débito tributário, seja de forma originária ou derivada (CARVALHO, 2012, p. 229, 444). Sobre as classificações dos tributos, considere que os fatos geradores podem ser divididos como: naturais ou próprios — classificação clássica proposta pelo Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966); divisão em impostos, taxas e contribuições; constitucionais ou impróprias — classificação utilizada nas figuras atípi- cas que se encontram elencadas na Constituição, tais como os empréstimos compulsórios, a contribuição de melhorias, o pedágio, a contribuição de iluminação pública e as contribuições sociais (AMARO, 2006, p. 27, 55). Já quanto à sua função, os tributos podem ser classificados como fiscais ou extrafiscais. Enquanto a fiscalidade é o objetivo típico do tributo, com a finalidade de sustentar o aparato estatal, a extrafiscalidade desempenha funções atípicas do tributo. Essas funções podem variar de acordo com a vontade do legislador. Elas vão desde o incentivo a determinadas práticas pela seletividade de produtos para 3Questões atuais no sistema tributário C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 3 24/04/2018 11:26:41 redução de alíquotas até o desincentivo de práticas pelo aumento de alíquotas seletivas de determinados produtos ou serviços (CARVALHO, 2012, p. 347–348). Já quanto ao seu recolhimento, os tributos podem ser classificados como fiscais ou parafiscais. Para que seja caracterizada a parafiscalidade, o sujeito ativo atípico deve receber o tributo de forma direta para satisfazer as suas atividades (conselhos, organizações não governamentais, etc.). Já a fiscalidade é caracterizada pelo recolhimento direto pelos sujeitos ativos típicos (União, estados, Distrito Federal e municípios); ela também ocorre quando o sujeito ativo atípico que recolhe o tributo redireciona a receita coletada aos sujeitos típicos (AMARO, 2006, p. 89). Finalmente, ao lado dos princípios constitucionais e infraconstitucionais que pautam os tributos nacionais, há limitações ao poder de tributar nas figuras constitucionais e infraconstitucionais das limitações, imunidades e isenções tributárias. Essas figuras excepcionama incidência tributária a determinadas situações que se colocam de fora da competência tributária. Segundo Amaro (2006, p. 150), a Constituição instituiu que determinadas situações materiais não sejam oneradas por tributos (ou por algum tributo em especial). Dessa forma, a Constituição exclui determinadas pessoas, bens, ser- viços ou situações, deixando-os de fora do alcance do poder de tributar. Como exemplos, você pode considerar livros, cultos religiosos, partidos políticos, etc. Finalmente, o ordenamento jurídico é constituído de regras que proíbem ou autorizam determinadas condutas. Enquanto a proibição normalmente se trata de um comando absoluto, a autorização pode ser exercida conforme a discricionariedade do sujeito, pessoa natural, política ou jurídica à qual é atribuído esse poder. Segundo Kelsen (1998, p. 54), a competência é uma autorização estatal para determinada conduta, que pode ser livre ou vinculada a um dever. Segundo Amaro (2006), no que compete à questão tributária, a Consti- tuição sistematiza um misto de partilha das competências e do produto da arrecadação entre as pessoas políticas (a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal). Para o autor, Temos assim a competência tributária — ou seja, a aptidão para criar tributos — da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Todos têm, Questões atuais no sistema tributário4 C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 4 24/04/2018 11:26:41 dentro de certos limites, o poder de criar determinados tributos e definir seu alcance, obedecidos os critérios de partilha de competência estabelecidos pela Constituição (AMARO, 2006, p. 93). Sobre a competência da União, Carvalho (2012, p. 326–327) ensina que ela pode legislar em termos regulares, especiais ou excepcionais. A sua compe- tência é caracterizada pela residualidade. Ou seja, enquanto para os estados e Distrito Federal encontram-se especificados os tributos do ICMS, Heranças e Doações e IPVA, e para os municípios, ISS, IPTU e ITBI, todos os demais impostos teriam sido deferidos à União (competência residual), conforme o art. 154, I (BRASIL, 1988). Daí se infere que a listagem do art. 153 (BRASIL, 1988) possui aspecto meramente exemplificativo. Além disso, os impostos extraordinários previstos no art. 154 (BRASIL, 1988) caracterizam-se pela sua supressão conforme suas causas cessem de existir. O recolhimento dos tributos O recolhimento dos tributos ocorre a partir de um procedimento adminis- trativo vinculado ao lançamento e ao efetivo recolhimento do tributo. Esse processo, como você sabe, envolve a quitação da relação tributária por parte do contribuinte. Os processos fi scais e os atos fi scalizatórios são parte integrante do direito administrativo especializado no tocante aos assuntos do sistema tributário nacional. Ou seja, estão em cena o lançamento tributário, a fi scali- zação e a cobrança de tributos, além de eventuais consultas formais ao fi sco. Segundo Meirelles (2016, p. 818), a administração pública, para fins de controle de conduta de seus administrados, ou mesmo para solucionar contro- vérsias com eles, utiliza diversos procedimentos, que recebem a denominação comum de “processo administrativo”. As modalidades mais recorrentes são o processo disciplinar, tributário ou fiscal e o processo ambiental. Segundo Carvalho (2012, p. 574–575), o lançamento do tributo é um dos processos administrativos relacionados ao Fisco. De acordo com o autor (CARVALHO, 2012, p. 575-576), o Fisco utiliza quatro qualificativos dos atos administrativos propriamente ditos. Veja a seguir. Presunção de legitimidade — ainda que seja tratada como uma pre- sunção relativa ou juris tantum. Exigibilidade — define que, ao ser intimado o administrado de seu predicado, o tributo passa a ser exigível (ou impugnável, sendo que 5Questões atuais no sistema tributário C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 5 24/04/2018 11:26:41 o não cumprimento ou a falta de impugnação pode acarretar novo procedimento de caráter sancionatório). Imperatividade — pressupõe a unilateralidade da imposição de obriga- ções pela administração pública, mas não se concretiza no lançamento, uma vez que a tributação responde a mandamentos gerais e abstratos, inscritos em normas de hierarquia superior. Desse modo, a vinculação à lei torna esse ato destituído da característica imperativa. Executoriedade — permitiria à administração utilizar meios de coer- ção para exigir diretamente seu crédito, mas também não se verifica no lançamento. Isso porque a administração deve atender ao devido processo administrativo e, subsidiariamente, ao processo de execução fiscal para essa finalidade. Tudo como forma de satisfazer seu direito ao crédito estabelecido pela relação obrigacional tributária. Segundo Amaro (2006, p. 346–347), o lançamento de tributos é sempre um ato administrativo, de modo que “[...] o sujeito passivo não executa lançamento nas numerosas situações em que lhe cabe valorizar os fatos e subsumi-los na norma de incidência, calcular o tributo e recolhê-lo. Com isso, prescreve-se no direito positivo a ideia de ‘autolançamento’ ou o lançamento feito pelo próprio devedor”. O ato da autoridade, para que gere efeitos, deve ser objeto de notificação ao sujeito passivo, sendo o efeito dessa notificação o estabelecimento do dever do sujeito passivo de recolher o tributo. Porém, Amaro (2006) alerta que há casos em que o tributo deve ser recolhido independentemente do lançamento, sem nenhum ato por parte do sujeito ativo para fazer atuar seu direito. Porém, o Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966) prevê, mesmo nos casos em que o sujeito passivo recolha corretamente o tributo devido, independentemente de lançamento, a consecução do lançamento como prática efetiva do sujeito ativo, seja pela homologação expressa ou pela homologação tácita. O lançamento é o procedimento administrativo pelo qual se constitui o crédito tributário. É um ato privativo da autoridade administrativa. Além disso, é compreendido como o procedimento tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente para determinar a matéria tributável, calcular o montante devido, identificar o sujeito passivo e, se for o caso, propor a aplicação de penalidade cabível (BRASIL, 1966, art. 142). Já a notificação de lançamento será expedida pelo órgão que administra o tributo e, conforme o art. 11 e incisos (BRASIL, 1966), conterá: a qualificação do notificado; o valor do crédito tributário e o prazo para recolhimento ou impugnação; a disposição legal infringida, se for o caso; a assinatura do chefe Questões atuais no sistema tributário6 C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 6 24/04/2018 11:26:41 do órgão expedidor ou de outro servidor autorizado, além da indicação do seu cargo ou função e do seu número de matrícula (à exceção do lançamento emitido por processo eletrônico, conforme o parágrafo único do referido artigo). Na prática, o recolhimento de tributos depende do rito procedimental de cada ente político competente. No caso do imposto de renda, depende da autodeclaração anual realizada pelo próprio contribuinte ou por meio de seu agente (contador ou terceiro). Essa autodeclaração é feita a partir do preenchimento do cadastro no programa de computador disponibilizado pela Receita, ou de forma presencial junto à Receita Federal. Para realizá- -lo, é preciso juntar os dados e/ou documentos referentes à comprovação de rendimentos e aos possíveis fatos geradores de isenções, reduções ou imunidades tributárias. Já o imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) é recolhido: em procedimento de fiscalização física em balanças controladas por cada estado, no caso de transporte; mediante declaração de valor de produtos, no caso de circulação de produtos de forma indireta; ou mesmo por meio de declaração computacional, no caso de venda direta ao consumidor a partirda expedição de nota fiscal no estabelecimento. O IPVA, em alguns estados, é recolhido de forma virtual a partir do sistema do Departamento Estadual de Trânsito, ou calculado e recolhido diretamente em agências bancárias. Como você deve imaginar, essas modalidades podem se distinguir de acordo com o estado competente. Os tributos municipais dependem da legislação local, sendo usual o envio de comuni- cação por carta no caso de recolhimento do IPTU. Também é comum o recolhimento a partir da expedição de notas fiscais no caso do ISS e do ISSQN, assim como o recolhi- mento conjugado no caso de taxas de serviços de limpeza urbana e recolhimento de resíduos (junto ao boleto do IPTU). Porém, esses ritos podem mudar de acordo com a realidade do município competente para realizar o lançamento. Aspectos sobre IR e IPVA O IR e o IPVA hoje compõem grande parte das receitas federal e estaduais. Afi nal, o imposto de renda é o principal responsável pela arrecadação em estados nacionais modernos, e o veículo automotor é o principal bem de consumo almejado pelos cidadãos brasileiros. 7Questões atuais no sistema tributário C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 7 24/04/2018 11:26:42 Segundo Caliendo (2009, p. 301–302), a tributação de renda é uma ativi- dade fiscal relativamente recente na história, principalmente em virtude da complexidade dos conceitos envolvidos nessa modalidade tributária. Nesse sentido, para a incidência desse imposto, é necessário considerar conceitos como renda, contabilidade acurada e renda real. Além disso, é preciso distinguir conceitos similares à renda, como a receita, o faturamento e o lucro. Trata-se de uma modalidade diferente da modalidade proeminente durante séculos, que levava em conta o patrimônio em seu aspecto estático, com ênfase na propriedade do indivíduo. Os antecedentes do imposto de renda moderno, segundo Caliendo (2009), remontam ao ano 10 da China Imperial. Naquela época, havia um imposto sobre 10% dos lucros dos profissionais e trabalhadores especializados instituído pelo imperador Wang Mang. No Ocidente, o imposto de renda é creditado a William Pitt, com a previsão de orçamento para as guerras napoleônicas em 1798. No Brasil, ensina Caliendo (2009, p. 303) que o imposto de renda foi instituído com a denominação “décima urbana”, com o advento do alvará de 27 de junho de 1808. Nesse momento, eram tributados 10% dos rendimentos líquidos dos locadores de prédios urbanos. Posteriormente, foi instituído por D. João VI o imposto sobre lojas, por meio do alvará de 20 de outubro de 1812, com a finalidade de cobrir a compra de ações do capital do Banco do Brasil. Somente com o Decreto nº 14.263, de 15 de julho de 1920, é que o imposto sobre a renda viria a ser regulado. Esse imposto começou a ser cobrado apenas a partir da Lei nº 4.625, de 31 de dezembro de 1922, com a arrecadação sobre os rendimentos líquidos de toda pessoa física ou jurídica residente no território do País. Na teoria econômica, há dois princípios conflitantes sobre a determinação da renda (CALIENDO, 2009, p. 306). O primeiro é o princípio da igualdade dos sacrifícios e o segundo, o do menor sacrifício agregado. Nesse sentido, a ideia de sacrifício é a diferença entre a satisfação líquida e aquele valor que seria usufruído na ausência de um sistema tributário. Segundo a teoria econômica, o sistema de tributação exerce importante influência e pressão sobre o incentivo ao trabalho e à produção, de modo que os contribuintes podem desejar trabalhar mais ou menos dependendo da renda esperada e dos impactos da tributação sobre ela. A teoria da igualdade dos sacrifícios defende que a distribuição de encar- gos deve ser igual entre os contribuintes (privilegiando o princípio geral da igualdade). Contudo, segundo Caliendo (2009), essa concepção funcionaria apenas para contribuintes em situação similar. No caso de contribuintes em situações diversas, tal determinação pode acarretar resultados injustos (o que Questões atuais no sistema tributário8 C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 8 24/04/2018 11:26:42 desrespeitaria o princípio da igualdade contributiva). Dessa forma, a teoria econômica mais verificada na prática é a do menor sacrifício agregado. Nela, o pagamento maior feito pelo contribuinte com maior renda é compensado com um ganho social obtido pelo pagamento menor do contribuinte de menor renda, o que ocorre a partir de mecanismos de compensação de mercado. Outro aspecto polêmico envolvendo esse tributo é a dificuldade de deter- minação da renda efetiva por parte da fiscalização. Segundo Caliendo (2009, p. 306–307), a partir do economista Arthur C. Pigou, a renda é estabelecida pelas seguintes variáveis: a determinação monetária da renda; a renda líquida a partir do controle de receitas e despesas; e a distinção entre renda e inves- timento (que possui uma natureza distinta daquela da renda e o objetivo de manter fatores de produção intactos). Por fim, compõem a polêmica acerca do imposto de renda a sua comple- xidade e a carga gigantesca de requerimentos, declarações, provas e outros elementos para a determinação da base de cálculo. Segundo alguns críticos, isso tudo desencoraja a busca do lucro e do empreendedorismo, ao transformar o Estado em um sócio oculto dos contribuintes, sem nenhuma contrapartida visível. Por outro lado, autores altamente liberais criticam duramente esse imposto por caracterizar-se como forma de coletivização da riqueza merecida pelos privados. Para Chorodov, referido por Caliendo (2009, p. 301), o imposto sobre a renda é uma forma de pavimentação para a planificação e o coletivismo (encarados como ineficientes para a teoria econômica contemporânea), de modo que implica a recusa à naturalidade do direito à propriedade. Caliendo (2009) sustenta o oposto. Ele compreende o imposto sobre a renda como possuidor da virtude de encontrar melhor a capacidade contributiva do que as alternativas do imposto sobre o consumo e sobre a propriedade. Assim, o IR respeitaria a neutralidade fiscal e cumpriria dessa forma a função fiscal de financiamento dos direitos fundamentais tutelados pelo Estado. O IPVA, por sua vez, de acordo com Felix e Garcia (2008, p. 3), foi instituído em substituição à antiga Taxa Rodoviária Única (TRU) sobre o licenciamento de veículos, de competência da União. Hoje, conforme o autor, o IPVA ainda guarda relação com o licenciamento de veículos, mas deixou de ser taxa para passar a ser propriamente um imposto. Também passou a ser de competência dos estados e do Distrito Federal ao destacar-se da União. Não há lei complementar que regulamente nacionalmente o IPVA. Assim, a competência legislativa é estatal: cada estado membro possui legislação própria sobre esse imposto. As alíquotas variam e apresentam, por vezes, efeito extrafiscal, sobretudo ao privilegiar utilitários ou veículos nacionais. Contudo, a ausência de lei nacional sobre o tema incentiva a malfadada guerra fiscal 9Questões atuais no sistema tributário C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 9 24/04/2018 11:26:42 entre os estados vizinhos. Isso fere o princípio da unidade tributária nacional, como quando estados baixam alíquotas a fim de atrair o emplacamento de grandes frotas em seu território, como ocorreu entre os estados do Paraná e São Paulo em relação a frotas de automóveis destinados à locação. Outro aspecto polêmico em relação ao imposto (FELIX; GARCIA, 2008, p. 4) vincula-se à matriz de incidência da expressão “proprietário de veículo automotor”. Ao não haver unidade nacional sobre o conceito, os estados podem editar leis em sentidos diversos, ferindo dessa forma o princípio da isonomia tributária. A discussão se torna patente no caso de veículos terrestres, aero- naves e embarcações. O conceito de veículo automotor dado pelo Código de Trânsito Brasi- leiro não abrange aeronaves. Além disso, o conceito do Código Brasileiro de Aeronáutica não defineas aeronaves como veículos automotores de forma expressa. Desse modo, os defensores da redução dos conceitos entendem que o legislador não os equiparou para fins tributários. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF), segundo Felix e Garcia (2008), entende que uma vez que o TRU foi substituído pelo IPVA, a abrangência dos tributos seria análoga. Já os defensores da ampliação do conceito compreendem que a extinção da TRU e a não especificação sobre a abrangência do IPVA abririam brechas para a legislação específica estadual (FELIX; GARCIA, 2008, p. 5). O Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997) encara como veículo automotor “Todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas”. Já o Código Brasileiro de Aeronáutica (BRASIL, 1986), em seu art. 106, define a aeronave como “[...] todo aparelho manobrável em voo que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas”. Por sua vez, o Decreto nº 87.648, de 24 de setembro de 1982 (BRASIL, 1982), conhecido como Regulamento do Tráfego Marítimo, define, em seu art. 10, que “[...] qualquer construção, capaz de transportar pessoas ou coisas, suscetível de se locomover na água por meios próprios ou não” configura embarcação. Como bem referem Caliendo (2009), Felix e Garcia (2008), a abrangência dos impostos é um tema polêmico e recorrente. Isso tem muita relação com a signifi- cação atribuída ao fenômeno tributário pelo contribuinte, que vê na relação com o Questões atuais no sistema tributário10 C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 10 24/04/2018 11:26:42 Estado um déficit entre a contribuição e a prestação de serviços. Especialmente no Brasil, são recorrentes reportagens que denunciam o precário estado das estradas em relação à receita auferida com o IPVA, ou o déficit de educação e saúde em relação às massivas contribuições de imposto de renda. No entanto, as adequações que devem ser feitas no campo da administração pública são assuntos a serem debatidos de forma paulatina no âmbito do controle social sobre a administração pública. Aqui, cabe a você notar a indispensabilidade dos tributos para o bom funcionamento do Estado e para a preservação do mínimo existencial representado pelos direitos fundamentais. Os tributos são uma realidade imperativa devido à necessidade de capital para que a instituição governamental atue de acordo com a escolha pública que lhe deu origem na Constituição Federal. 1. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Acerca do sistema tributário, NÃO se pode afirmar que: a) a hipótese de incidência é a “veiculação legal” de uma hipótese de incidência. b) o fato gerador da obrigação principal é a situação de fato ou de direito sem conteúdo econômico. c) são três as espécies de fato gerador: instantâneo, periódico e continuado. d) o fato jurídico faz nascer a obrigação tributária. e) a obrigação tributária principal (obrigação de dar) tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. 2. A teoria geral do Direito Tributário apresenta diversos temas gerais que permitem o aprendizado da matéria e a compreensão do sistema tributário. Acerca do tema, NÃO se pode afirmar que: a) o lançamento declara ou reconhece a existência da obrigação tributária e constitui ou quantifica o crédito tributário. b) o crédito tributário é o valor apurado pelo lançamento. c) a base de cálculo é a grandeza econômica do tributo. d) a alíquota é o valor fixo que será aplicado sobre a base de cálculo. e) para fins tributários, o sujeito ativo é a pessoa jurídica titular do direito subjetivo de exigir o tributo. 3. Os elementos da teoria geral do Direito Tributário são essenciais para a compreensão do tributo e do seu recolhimento ao erário. NÃO é correto que: 11Questões atuais no sistema tributário C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 11 24/04/2018 11:26:43 a) sujeito passivo é pessoa natural ou jurídica, privada ou pública, de quem se exige o cumprimento da prestação pecuniária (tributo ou penalidade) ou a prestação não pecuniária positiva ou negativa (capacidade). b) solidariedade é a ocorrência de mais de um credor, ou mais de um devedor, na mesma relação obrigacional, cada qual com direito ou obrigado à dívida toda. c) o imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS) é um tributo estadual. d) o imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA) é um tributo estadual. e) o imposto territorial rural (ITR) é um imposto municipal. 4. Os tributos possuem uma finalidade fiscal (de arrecadação) e outra parafiscal (que não compreende a finalidade de arrecadar). NÃO está compreendido na esfera federal o seguinte tributo: a) imposto sobre a importação de produtos estrangeiros (II). b) imposto sobre a exportação de produtos nacionais ou nacionalizados (IE). c) imposto sobre transmissões causa mortis e doações de qualquer bem ou direito (ITCMD). d) imposto sobre produtos industrializados (IPI). e) imposto territorial rural (ITR). 5. NÃO está compreendido na esfera estadual o seguinte tributo: a) imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS). b) imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA). c) imposto sobre transmissões causa mortis e doações de qualquer bem ou direito (ITCMD). d) imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro ou relativas a títulos ou valores mobiliários (IOF). e) taxa de licenciamento de veículos. Questões atuais no sistema tributário12 C18_Instituicoes_do_Processo_Administrativo.indd 12 24/04/2018 11:26:44 AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. BALEEIRO, A. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 14 dez. 2017. BRASIL. Decreto nº 87.648, de 24 de setembro de 1982. Brasília, DF, 1982. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/1980-1984/d87648.htm>. Acesso em: 14 dez. 2017. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de Direito Tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Brasília, DF, 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L5172. htm>. 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