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Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 1 09.06.21 Síndromes disabsortivas Desordens nas quais há comprometimento do processo de digestão e absorção dos nutrientes PATOGÊNESE • Três fases da digestão/absorção: intraluminal, mucosa e transporte pós-mucosa. • Intraluminal: enzimas pancreáticas e sais biliares. • Lipase: gorduras em monoglicérides e ácidos graxos + sais biliares = micelas (ADEK). • Proteases: hidrólise das proteínas => di/tri peptídeos, aminoácidos. FASE INTRALUMINAL Relação entre os nutrientes, as enzimas do pâncreas e sais biliares. Principalmente as lipases que quebram as gorduras em monoglicérides. As gorduras quando interagem com os sais biliares formam as micelas. A formação micelar é importante na absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). • Insuficiência pancreática (pancreatite crônica, FC, neo) ou inativação enzimática (hipersecreção ácida). Na síndrome de Zollinger Ellison que existe uma secreção absurda de ácido. Ele chega na luz do delgado e inativa essas enzimas. O pH do intestino delgado é alcalino, ao ficar ácido, inativa as enzimas pancreáticas. Ocorre então, a esteatorreia. • ESTEATORREIA (gordura rançosa, fezes boiam, gotículas de gordura). • Proteínas e carboidratos pouco comprometidos. • Diminuição sais biliares (obstrução, doenças colestáticas, ressecções/doenças do íleo, overgrowth, medicações, hipersecreção ácida). • Esteatorreia LEVE, hipovitaminoses de ADEK. Se tiver um aporte importe de sal biliar no colon, a consequência vai ser uma diarreia de etiologia secretora. FASE MUCOSA Para acontecer a digestão e absorção por parte da mucosa, é preciso ter uma superfície de epitélio saudável. • Superfície de epitélio intacto suficiente. • Enzimas (dissacaridases) nas bordas em escova – lactase (hidrolisa as moléculas de lactose em glicose + galactose). • Doenças da mucosa, ressecções. • Má-absorção de TODOS os nutrientes (carboidrato, vitamina, gordura e proteína). FASE DE TRANSPORTE PÓS-MUCOSA • Absorção e transporte de quilomícrons e lipoproteínas – linfáticos. Se houver obstrução na drenagem linfática abdominal pode ter uma alteração nessa questão do transporte dos lipídeos. Um trauma do ducto torácico, uma obstrução por linfoma, tuberculose retroperitoneal. Há um refluxo da gordura para luz intestinal e perda proteica. • Obstrução por linfoma, tumores, fibrose retroperitonial, Whipple, TBC. • ESTEATORREIA, perda proteica (enteropatia perdedora de proteína). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS NAS SÍNDROMES DISABSORTIVAS Esteatorreia, diarreia, perda de peso e massa muscular, anemias micro ou macro, tetanias e parestesias - hipocalcemia, hiporreflexia - osteoporose, tendência hemorrágica – déficit de vit K, edema – perda de proteína. As anemias microcíticas se dão principalmente pela falta .... as anemias macrocíticas são por falta de..... e a hemácia fica maior que o normal. No hemograma há VCM que demonstra o tamanho da hemácia. Na falta do cálcio o paciente fica com hiperreflexia, pode ter sinais semiológicos (Chvostek e Trousseau). A vitamina K é precursor do fator da produção de fator de coagulação pelo fígado. DOENÇA CELÍACA • Desordem alimentar PERMANENTE causada por uma resposta imunológica ao GLÚTEN. • Glúten: proteína presentes em diversos grãos: trigo, centeio, aveia*, cevada. O grão de aveia puro não tem glúten, mas por questão da colheita e transporte pode haver traços. • HLA-DQ2 e -DQ8 (genético – condição para ter a doença). Um desses dois. 40% da população tem um desses dois, mas não é apenas ter esse fator, mas é condição para ter. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 2 PATOGÊNESE • Não totalmente esclarecida. Glúten → glutaminas → deamidação pela tTG → resíduos ác.glutâmico de carga negativa → ligação ao HLA DQ2/8 céls apresentadoras de antígeno → ativação céls T + anticorpos → destruição dos enterócitos. O glúten chega na luz intestinal, é convertido em glutaminas que sofrem deamidação pela transglutaminase tecidual. Isso gera resíduos de ácido glutâmico com carga negativa que se ligam ao receptor HLA DQ2/8 das células apresentadores de antígeno. As APC ativam os linfócitos e isso vai gerar uma cascata inflamatória com produção de anticorpo e destruição do epitélio. ACHADOS CLÍNICOS • CONSIDERAR O DIAGNÓSTICO!!! • >10 anos em alguns casos para serem diagnosticados. • Clássicos (>infância): diarreia, esteatorreia, perda de peso, distensão abdominal, fraqueza, perda de massa muscular e gordura, retardo de crescimento. • Adultos: QUADROS MENOS FLORIDOS! : pode ser NORMAL. • Emagrecimento, palidez, edema, equimoses, distensão abdominal, perda de massa muscular e gordura subcutânea, aftas orais recorrentes, artralgias. • DERMATITE HERPETIFORME. Alguns sintomas são pelo processo auto-imune. Dermatite herpetiforme. • Anemia micro ou macro (+ graves); hipocalcemia, TAP alargado, hipoalbuminemia, níveis diminuídos vit A e D, aumento leve de transaminases. • Screening para osteoporose (densitometria óssea). Deficiência na absorção de vitamina D e cálcio. • Anti-endomísio IgA, anti-transglutaminase IgA: se negativos, afastam a doença. • Anti-gliadina: PROSCRITO. • Solicitar anti-tTG IgA OU anti-endomísio IgA + dosagem sérica de IgA (3% celíacos def IgA). • 6-12 meses para negativar. Deficiência de IgA: paciente não produz IgA, então não há porque dosar. IgA normal e anti endomisio ou ttg negativo: pode afastar a doença. Esses testes são importantes para o segmento do paciente. Se seguir a dieta corretamente sem glúten em 6-12 esses anticorpos tendem a negativar. Se der positivo, é feito a endoscopia. Ter o anticorpo positivo, não significa que o paciente tem a doença fenotípica. • É o procedimento considerado standard. • Achados endoscópicos (atrofia de pregas, indentações). • Histologia: perda ou achatamento de vilosidades, hipertrofia de criptas, infiltrado extenso de linfócitos e plasmócitos em lâmina própria. Duodeno sem as pregas do delgado. Mucosas rachadas. “dentações” altamente sugestiva de doença celíaca. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 3 Hiperplasia de criptas. Infiltrado linfoplasmocitário. TRATAMENTO • Retirada TOTAL do glúten da dieta. • Retirada da lactose até melhora. (3-6 meses) até a mucosa regenerar. Depois desse período pode voltar a consumir lactose. • Melhora em algumas semanas. • Acompanhamento e orientação de nutricionista. • Reposição vitamínica inicial + cálcio, tto osteoporose SN. Mesmo que seja assintomático – paciente inflama, pode desencadear neoplasia intestinal (linfoma MALT). PROGNÓSTICO • Excelente se tratamento adequado. • Associação com outras doenças autoimunes: Addison, Graves, DM I, miastenia, esclerodermia, Sjögren, gastrite atrófica. • Se realmente refratária = mau prognóstico. AVALIAR LINFOMA. DOENÇA DE WHIPPLE • Doença RARA. • Multissistêmica. • 90% homens, 50 anos, fazendeiros. Ligada a fatores ambientais. • Bacilo Tropheryma whippelii. Infecciosa. • Perda de peso, má-absorção, diarreia crônica, febre, linfadenopatia, artralgia, SNC. DIAGNÓSTICO • Biópsia de duodeno com macrófagos + bacilo. • Se não tratada, FATAL. TRATAMENTO • ATB, longo prazo (1ano). SUPERCRESCIMENTO BACTERIANO • Intestino delgado normalmente contém quantidade pequena de bactérias. • SC => má-absorção por vários mecanismos: desconjugação sais biliares, dano epitelial, alteração na absorção carboidratos (bactérias fermentam e consomem) e B12 (bactéria consome), diarreia secretora por sais biliares no cólon. CAUSAS • Acloridria gástrica (IBP inclusive), alterações anatômicas (PO, alça cega, divertículos de delgado), dismotilidade (DM, esclerodermia), fístulas gastrocólicase coloentéricas (Crohn, neo). • Importante causa de má-absorção no idoso. DM crônica descompensada causa neuropatia acarretando em estase, e isso pode causar supercrescimento bacteriano. QUADRO CLÍNICO • Muitas vezes assintomático. • Diarreia aquosa, esteatorreia, distensão, perda de peso. • Def B12 pode gerar sintomas iniciais: anemia megaloblástica, neuropatia periférica, ataxia. Sempre suspeitar em paciente com S disabsortiva e CIRURGIA PRÉVIA DIAGNÓSTICO Específico difícil, com cultura de aspirado jejunal (>100.000/ml); testes respiratórios (hidrogênio expirado). Paciente que tem quadro diarreico com perda de peso e uma cicatriz de laparotomia (cirurgia prévia), pode ter uma alça cega. TRATAMENTO • Empírico é comum. • Corrigir defeito anatômico quando possível (divertículos; alça cega). • ATBs 1-2 semanas, amplo espectro contra aeróbios e anaeróbios. • Sulfa-TMP + metronidazol, amoxacilina-clavulanato, cipro + metronidazol. SÍNDROME DO INTESTINO CURTO • Síndrome disabsortiva resultante de significativa remoção de segmentos do intestino delgado. • Crohn, isquemia mesentérica (trombose), enterite actínica, volvos, ressecção tumoral, trauma. Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 4 • Tipo e gravidade dependem da quantidade de intestino perdido, do segmento e da capacidade adaptativa. RESSECÇÃO DE ÍLEO TERMINAL • Local onde são absorvidos sais biliares e vitamina B12. • Ressecção > 50cm: B12 IM mensal. • < 1m: diarreia secretora por sais biliares no cólon − tratamento com colestiramina. • > 1m: redução no pool de sais biliares. − Esteatorreia, def ADEK, urolitíase, colelitíase. Tratamento: dieta pobre em gordura, suplementação vitamínica, TCM, Cálcio VO. RESSECÇÃO INTESTINAL EXTENSA • Ressecção 40-50% bem tolerada. • Ressecções extensas (> 50%): “short bowel syndrome’’ = perda de peso, diarreia. • Cólon preservado: 1m de jejuno é suficiente - mantem a via oral, não precisa de ingestão parenteral. • Adaptação (aumento do intestino de 4x em 1 ano). • Sem cólon e < 200 cm de jejuno = NPT (Nutrição Parenteral Total). Mortalidade 2-5%/ano. Trombose vascular, fungemia... • Reposição parenteral de vitaminas. • Loperamida. • Transplante de intestino. INTOLERÂNCIA À LACTOSE • Lactase: enzima presente na “borda em escova”, dissacaridase. • Concentração alta no nascimento, vai decaindo. • Intolerância > asiáticos, negros, latinos; < caucasianos. • Primária (+ comum) ou secundária a: Crohn, DC, GEA, giardíase, Intestino curto. • Sintomas variáveis: distensão, cólicas e gases até diarreia osmótica. • Não há perda de peso nem má-absorção de outros nutrientes. DIAGNÓSTICO • Osmolalidade fecal aumentada (gap > 125 mosm/Kg), pH < 6, por causa do ácido lático. • Teste de hidrogênio respiratório. • Teste da curva glicêmica se a curva subir mais que 20, paciente conseguiu absorver a lactose. • Trial de dieta sem lactose. TRATAMENTO • Visa o conforto; paciente deve encontrar sua “faixa” permitida de consumo. • Leite, sorvete, queijos frescos tem mais lactose (mais brancos mais lactose). • Uso de lactase.
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