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Ana Laura Octávio - TXXII BIOQUÍMICA DOS NEUROTRANSMISSORES CATECOLAMINÉRGICOS INTRODUÇÃO - Os neurotransmissores são agrupados, de acordo com sua natureza química, em diferentes ``famílias´´. - As catecolaminas pertencem a uma família de NT que tem como estrutura básica um catecol (3,4-diidroxibenzeno) conectado a um grupo amina por uma ponte etil. - A partir disso, as catecolaminas diferem entre si em razão dos radicais funcionais. - Diferentes radicais conferem diferentes estruturas tridimensionais; logo, necessidade de diferentes receptores nas células-alvo. - Como exemplos a serem estudados na família de catecolaminas, tem-se: ▪ Dopamina (DA) – transmissor/neuromodulador no SNC. ▪ Norepinefrina (NE) – NT liberado pelas terminações nervosas simpáticas. ▪ Epinefrina (EP) – NT liberado pela medula da glândula adrenal. - As catecolaminas do SNC modulam a função da neurotransmissão de ponto a ponto e afetam processos complexos, como humor, atenção e emoção. - A dopamina, é tida como um percursor dos outros NT catecolaminérgicos (norepinefrina e epinefrina). Dessa forma, o mecanismo envolvido na neurotransmissão das catecolaminas possui diversos componentes que são compartilhados entre os membros da família, incluindo enzimas de biossíntese e metabólicas. OBS.: Há também componentes que são especializados para membros individuais da família, incluindo bombas de recaptação e receptores pré-sinápticos e pós-sináptico. BIOSSÍNTESE (comum) DAS CATECOLAMINAS - Os NT dopamina, norepinefrina e epinefrina compartilham entre si as mesmas etapas de biossíntese. Elas diferem entre si, dependendo das quantidades de etapas da biossíntese que realizam. - De maneira resumida, a epinefrina é derivada da norepinefrina e, a epinefrina da dopamina. No entanto, todas derivam de um mesmo percursor comum → tirosina. - A tirosina é um aminoácido neutro, obtido, em sua grande parte, através da dieta e, uma pequena porção, também pode ser sintetizada no fígado a partir da fenilalanina: ou noradrenalina ou adrenalina Ana Laura Octávio - TXXII SEQUÊNCIA DE EVENTOS ETAPA COMUM – CONVERSÃO DE TIROSINA EM DOPAMINA - Moléculas de tirosina entram no neurônio dopaminérgico junto com íons Na+ através de um transporte simporte (dois componentes transportados para um mesmo lado da membrana). - No citoplasma do neurônio, a tirosina é convertida em L-dopa (1-3,4- diidroxifenilalanina ou levodopa), por meio da ação da enzima tirosina hidroxilase. - A L-dopa serve de substrato para uma outra enzima, a aminoácido aromático descarboxilase (AADC). Esta, abundante no cérebro, converte L-dopa em dopamina, liberando uma molécula de CO2. OBS.: É importante ter em mente que a oxidação de tirosina em L-dopa é a etapa que limita a velocidade na produção não apenas da DA, mas também de todos os neurotransmissores da família das catecolaminas. CONVERSÃO DE DOPAMINA EM NOREPINEFRINA E/OU EPINEFRINA - Após isso, caso o organismo vise sintetizar norepinefrina, entra em ação uma outra enzima, a dopamina β-hidroxilase que converte dopamina em norepinefrina. Essa conversão ocorre no interior da vesícula de secreção. - Caso o objetivo seja epinefrina, a enzima feniletanolamina N-metiltransferase converte subsequentemente norepinefrina em epinefrina, no citoplasma das células de cromafim da medula da glândula adrenal. OBS.: A diferença entre os neurônios dopaminérgicos (produtores de dopamina) e adrenérgicos (produtores de norepinefrina) consiste na expressão de um gene que codifica a enzima dopamina β-hidroxilase. Ela é a responsável por converter dopamina em norepinefrina, logo, os neurônios dopaminérgicos não possuem/ ``não precisam´´ esse gene. Ana Laura Octávio - TXXII DOPAMINA – ARMAZENAMENTO E LIBERAÇÃO - A dopamina é sintetizada, a partir de tirosina, no citoplasma do neurônio. Após isso, é transportada no interior de vesículas secretoras para armazenamento e liberação. - Essas vesículas secretoras estão presentes na porção terminal dos axônios dos neurônios. - A entrada de DA nas vesículas secretoras necessita de duas bombas moleculares separadas para acontecer: ▪ Uma ATPase de prótons para concentrar certa quantidade de íons H+ na vesícula (entrada de íons H+ contra o gradiente de concentração: transporte ativo). ▪ Um antiportador de prótons, chamado VWAT (transportador vesicular associado a membrana) que permite a saída dos íons H+ para fora da vesícula (a favor do gradiente de concentração) enquanto, ao mesmo tempo, efetua o transporte de DA para dentro da vesícula, contra seu gradiente de concentração. OBS.: A proteína transmembrana é classificada como antiporte, uma vez que transporta duas diferentes moléculas para lados opostos da membrana. - Com as moléculas de DA no interior das vesículas de secreção, a célula nervosa precisa receber um estímulo (P.A.) para fundir a vesícula em sua membrana e, assim, liberar a DA na fenda sináptica. SEQUÊNCIA DE EVENTOS - O neurônio recebe uma P.A., o que faz com que canais de Na+ se abram, despolarizando a membrana da célula. - Essa despolarização, desencadeia a abertura de canais de íons Ca2+ voltagem dependentes, presentes na membrana do neurônio. - Esses íons, quando presente no interior no neurônio, estimulam a liberação dos NT na fenda sináptica, uma vez que ativam proteínas snare, as quais fundem as duas membranas (a da vesícula com a do neurônio). - Realizado todos esses processos, a DA é então liberada por exocitose. OBS.: ETAPAS DA NEUROTRNASMISSÃO Ana Laura Octávio - TXXII DOPAMINA – DESTINOS PÓS LIBERAÇÃO O neurotransmissor dopamina, após ser liberado na fenda sináptica e exercer sua função, pode ter 3 destinos diferentes: ✓ Difundir-se para fora da fenda sináptica (p.ex. ligar-se ao receptor pós-sináptico). ✓ Ser recaptado pela célula pré-sináptica. ✓ Ser metabolizado por enzimas especificas situadas na fenda sináptica. I) RECAPTAÇÃO PELA CÉLULA PRÉ-SINÁPTICA - A maior parte da liberada na fenda sináptica é transportada de volta a célula pré- sináptica através de uma bomba de recaptação, presente na membrana celular do neurônio, denominada DAT (transportador de dopamina). - A DAT realiza um transporte simporte de DA e íons Na+. - Como a recaptação da envolve o transporte do neurotransmissor contra o seu gradiente de concentração, esse processo requer uma fonte de energia. Por isso, o DAT acopla a recaptação de dopamina com o cotransporte de Na+ ao longo de seu gradiente de concentração na célula. OBS.: Como o gradiente de Na+ é mantido pela bomba de Na+/K+-ATPase, a recaptação de DA depende indiretamente da presença de uma bomba de Na+/K+ funcional. - Destinos da DA após recaptação: ▪ RECICLAGEM – a DA é internalizada novamente nas vesículas de secreção. ▪ METABOLIZAÇÃO – enzimas especificas (MAO e COMT), situadas no citoplasma do neurônio, metabolizam esses NT. II) METABOLIZAÇÃO POR ENZIMAS ESPECÍFICAS OBS.: Essa metabolização pode ocorrer tanto na fenda sináptica, quanto no citoplasma do neurônio (DA recaptada). - A metabolização de DA envolve 3 enzimas especificas e visa converter DA em ácido homovanílico, que pode ser/é excretado na urina. ▪ COMT – inativa as catecolaminas pela adição de um grupo metila (CH3) ao grupo hidroxila (OH-) na posição 3 do anel benzeno. Ou seja, ela retira H+ e adiciona CH3. - A COMT é uma enzima citosólica expressa primariamente no fígado. ▪ MAO – age transformando a amina em aldeído. Ou seja, retira o grupo amina (NH2) e adiciona grupo aldeído (CHO). COMT Dopamina 3-metoxitiramina Ana Laura Octávio - TXXII - Enzima mitocondrial expressa na maioria dos neurônios. ▪ ADH (aldeído desidrogenase)– transforma aldeído em ácido carboxílico (ácido homovanílico). - As enzimas MAO e COMT já inativam o neurotransmissor dopamina. Assim, a enzima ADH vem para metabolizar os produtos das primeiras enzimas e excretar, via urina. OBS.: Essas enzimas não precisam agir, necessariamente, numa ordem específica. Mesmo com ordens distintas, no final, o produto obtido é ácido homovanílico. OBS.: AUTO-RECEPÇÃO – os receptores de DA também são expressos em nível pré- sináptico, nas terminações dos neurônios dopaminérgicos. Eles pertencem, em sua maioria, a classe dos receptores D2, os quais estão acoplados a proteínas Gi e atuam como auto-receptores. MAO Aldeído de dopamina ADH Ácido homovanílico Ana Laura Octávio - TXXII SEQUÊNCIA DE EVENTOS - Moléculas de DA tocam o auto-receptor, o que estimula a proteína Gi trocar GDP por GTP, tornando-se ativa. - Com a proteína Gi ativa, a adenilato ciclase é inativa, acarretando redução dos níveis intracelulares de cAMP e, consequentemente, dos níveis de PKA’s ativas. - Uma vez reduzido os níveis de PKA’s ativas, ocorre o comprometimento da fosforilação dos canais de Ca2+, dessa forma, as proteínas snare não realizam interações, fundindo as membranas, o que não libera DA na fenda. NOREPINEFRINA E EPINEFRINA – ARMAZENAMENTO E LIBERAÇÃO - A biossíntese, armazenamento e liberação de norepinefrina e epinefrina ocorre de maneira análoga aos processos que envolvem a dopamina (diferença está na ocorrência de uma ou duas fases há mais: conversão de dopamina em norepinefrina dentro das vesículas de secreção e conversão de norepinefrina em epinefrina, nas células de cromafim da medula da glândula adrenal). OBS.: A conversão de dopamina em norepinefrina ocorre no interior das vesículas de secreção. Já a conversão de norepinefrina em epinefrina, ocorre no citoplasma das células de cromafim. NOREPINEFRINA – DESTINOS PÓS LIBERAÇÃO O neurotransmissor norepinefrina, assim como a dopamina, após ser liberado na fenda sináptica e exercer sua função, pode ter 3 destinos diferentes: ✓ Difundir-se para fora da fenda sináptica (p.ex. ligar-se ao receptor pós-sináptico). ✓ Ser recaptado pela célula pré-sináptica. ✓ Ser metabolizado por enzimas especificas situadas na fenda sináptica. I) RECAPTAÇÃO PELA CÉLULA PRÉ-SINÁPTICA - Ocorre de maneira igual a recaptação dos NT dopamina. A única diferença está no nome do transportador (bomba de captação). Nesse caso, ele é denominado NET (transportador de norepinefrina), todavia atua de maneira igual ao DAT (transporte simporte de NE e íons Na+). II) METABOLIZAÇÃO POR ENZIMAS ESPECÍFICAS - A metabolização de NE visa reduzir esse neurotransmissor em ácido vanil mandélico, para esse ser excretado através da urina. - Esse processo envolve a ação de 4 enzimas, quatro delas já são conhecidas: MAO, COMT e ADH. A quarta é denominada AR (aldeído redutase). Ana Laura Octávio - TXXII - Como o mecanismo de ação das três primeiras enzimas já foi exemplificado anteriormente, nessa parte somente a ação da AR será detalhada: Essa enzima reduz aldeído (CHO) em álcool (OH), ou seja, o carbono de sua cadeia deixa de realizar dupla ligação com o oxigênio. OBS.: O primeiro tópico de destinos pós liberação (difundir-se para fora da fenda sináptica – ligar-se ao receptor pós-sináptico) é abordado em outro resumo: receptores catecolaminérgicos. Os destinos e a metabolização da epinefrina ocorre de forma muito semelhante a norepinefrina. Claro que como são moléculas diferentes, os produtos durante a metabolização divergem. Porém o produto final – ácido vanil mandélico – é o mesmo, assim como as enzimas envolvidas no processo.
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