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Material Teórico Direito Civil Parte Geral Bens Profª Marlene Lessa cod CivilGeralCDSG202101_ a04 2 Dos Bens Todo direito tem um objeto sobre o qual se desenvolve o poder de fruição da pessoa. Em regra, o poder de fruição, de usufruto, de destruição recai sobre um bem. Bem, do latim “bonum” (felicidade, estar bem), em sentido amplo, é tudo o que satisfaz uma necessidade humana. No dizer de Clóvis Beviláqua, para o Direito, bens são os valores materiais ou imateriais que servem de objeto a uma relação jurídica. Não se deve confundir coisa1 com bem, muito embora o Código Civil não faça uma distinção precisa, utilizando ora a palavra coisa, ora a palavra bem, ao se referir ao objeto do Direito. Entretanto, bem é gênero, do qual a coisa é espécie, uma vez que se trata esta, dos bens materiais ou concretos, úteis aos homens e de expressão econômica, sendo, por isso, passíveis de apropriação. Bens Corpóreos - Incorpóreos Daí fazer-se distinção entre bens corpóreos e incorpóreos, os primeiros designando aqueles que têm existência física (uma mesa, um livro, um animal) e os segundos os de existência abstrata, contudo, suscetíveis de valor econômico, porque possuem existência jurídica (direitos autorais, invenções, crédito, direito à imagem). 1No direito romano a palavra “res” dava significação às coisas que podiam ser alvo da fruição das pessoas, inclusive coisas imateriais. O sol, a lua, as estrelas são coisas, mas não podemos nos apropriar delas, por isso não podem ser chamadas de bens. A honra, a liberdade, o nome são bens jurídicos, mas não são coisas. • Direitos Autorais • Invenções • Crédito • Direito à Imagem • Uma mesa • Um livro • Um animal • ... 3 Patrimônio O conjunto de bens de qualquer natureza pertencente a um indivíduo, constitui o seu patrimônio. O patrimônio, é pois, o conjunto de bens, direitos, ações e obrigações de um indivíduo, conversível em dinheiro (aí não se incluindo as qualidades pessoais). O patrimônio é uma universalidade, pois subsiste, muito embora não conste de objetos materiais. O Código estabelece várias categorias de bens, considerando-os segundo os critérios abaixo discriminados: • Dos bens considerados em si mesmos; • Dos bens reciprocamente considerados; • Dos bens considerados em relação ao titular do domínio; • Dos bens considerados em relação à suscetibilidade de serem negociados; • Do bem de família. Passaremos, então, a analisar a classificação dos bens, segundo cada uma dessas categorias. Dos Bens Considerados em Si Mesmos Quanto a esse aspecto, segundo disposições das normas dos artigos 79 a 91 do CC, os bens são classificados em: • Bens móveis e imóveis; • Bens fungíveis e não fungíveis; • Bens consumíveis e não consumíveis; • Bens divisíveis e indivisíveis; • Bens singulares e coletivos. A primeira classificação, que divide os bens em móveis e imóveis é, na verdade, aquela que se funda na efetiva natureza dos bens. Os bens imóveis, segundo preleciona Clóvis Beviláqua, são aqueles que não podem ser removidos de um lugar para outro sem destruição, sem alteração de sua substância. 4 ➔ Imóveis por sua natureza: o solo, a superfície, o subsolo e o espaço aéreo. Os acessórios e adjacências naturais, as árvores e os frutos pendentes (ainda não colhidos). As JAZIDAS, os RECURSOS MINERAIS e HIDRÁULICOS, conforme determina a Constituição Federal em seu art. 176 são propriedade DISTINTA do solo para exploração, lavra, estando a União autorizada a conceder ou autorizar seu aproveitamento no interesse nacional. O dono da terra tem direito à participação no fruto da lavra. ➔ Imóveis por acessão física artificial: acessão compreende o acréscimo ou aderência2 de uma coisa à outra. Bem imóvel por acessão física ou artificial é o produzido pelo homem que se incorpora ao solo. Ex. construção, concreto armado, plantação, ponte, viaduto. ➔ Imóveis por determinação legal: são aqueles que o artigo 80 do Código Civil entende como IMÓVEIS para fins legais: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que o asseguram; Os direitos reais sobre imóveis envolvem os direitos que um titular possui sobre sua coisa, seu bem; São direitos de propriedade, de usufruto, de uso, de superfície e os que garantem desses direitos: de anticrese, de hipoteca com as respectivas ações de proteção: as ações reivindicatórias, hipotecárias, etc. II - o direito à sucessão aberta. Direitos sobre a sucessão aberta, que se configura como o conjunto de bens que constituem o patrimônio de pessoa falecida (“de cujus”). É o acervo da herança, do espólio. Se o herdeiro quiser RENUNCIAR à herança deve fazê-lo por escritura pública ou por termo nos autos do processo. Se casado, o cônjuge deve autorizar a renúncia. III – Outros Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local. A caixa d’água ou casa pré-fabricada (de madeira) – ambas - que podem ser removidas sem alteração estrutural. II - os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem. 2 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. Op Cit p. 128. 5 Também se constitui como bem imóvel o material provisoriamente destacado da construção para ser nela reempregado após conserto ou reparo, como por exemplo, janelas, tijolos, telhas, etc. CUIDADO: Pelo art. 84 do CC o material que vai para a demolidora ou não será empregado na obra é considerado MÓVEL. Os bens móveis, por sua vez, são definidos pelo artigo 82 do Código Civil, que os considera como sendo aqueles suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Os que se movimentam por força própria são denominados semoventes (os animais), e que dependem de remoção por força alheia, por serem inanimados são os bens móveis propriamente ditos. ➔ Móveis Por Sua Natureza: são os bens que se movem ou podem ser movidos sem que dano ou modificação de sua substância. Ex. rebanho, vacas, cavalo, carro. ➔ Móveis Por Antecipação: O homem destina bens que são imóveis para uma finalidade econômica. Ex. árvores (imóveis) destinadas ao corte (se tornarão móveis), frutos destinados à colheita, pedras preciosas à lapidação. ➔ Móveis Por Determinação Legal: são os que o artigo 83 do Código Civil expressamente determina que o são: I - as energias que tenham valor econômico; A energia produzida cujo valor econômico possa ser aferido (elétrica, a térmica, a nuclear, a eólia, proveniente de águas represadas, etc.). II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; São os direitos reais que incidem sobre bens móveis, sejam eles de propriedade ou garantia - o usufruto (carro), o penhor (joias), bem como as ações correspondentes para proteção desses bens. III- os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. Direito a tomar e dar crédito, a receber determinada prestação de fazer, de dar coisa certa. Estão ligados ao direito obrigacional. São obrigações estabelecidas entre pessoas de caráter patrimonial. Incluem o fundo de comércio, quotas e ações etc. O direito autoral também está no rol, vez que a Lei dos Direitos Autorais já o incluiu3. 3 A Lei 9.610/98, artigo 3º, faz menção que: “Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis.” 6 Os navios, aeronaves, gás natural são bens móveis. Por determinação do art. 1473, incisos V, VI e VII e parágrafo 1o do CC estes bens podem ser objeto de HIPOTECA (que é uma garantia, um direito real que grava, que incide sobre uma coisa ou bem, para que o credor, se necessário os venda para ser pago, preferencialmente, se o devedornão cumprir sua parte na obrigação). Seguem abaixo, alguns dos principais fatores de diferenciação entre os bens móveis e os imóveis: BENS MÓVEIS BENS IMÓVEIS São adquiridos pela TRADIÇÃO (entrega de uma pessoa para outra); Ou ainda pela ocupação, caça, pesca, invenção, etc. São adquiridos por meio da transcrição da escritura pública no Cartório de Registro de Imóveis. Ou ainda por acessão, usucapião e direito hereditário. Podem ser alienados, vendidos, pela companheira (o), pelos casados, sem necessidade de outorga ou autorização do outro. Bens que necessitam da outorga, autorização para alienação por um dos cônjuges ou companheiros – se nada estiver estabelecido em contrário. Não exigem instrumento público para a validade dos contratos constitutivos ou translativos de direitos que tenham por objeto bens móveis. Os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis só se aperfeiçoam por escritura pública. Aberta a sucessão provisória do ausente, os bens móveis podem ser alienados sem maiores formalidades. Aberta a sucessão provisória do ausente, os bens imóveis só podem ser alienados em caso de desapropriação ou por ordem do Juiz, motivadas por ruína iminente ou conveniência em convertê-los em títulos da dívida pública. Estão passíveis de empréstimo. Estão sujeitos à concessão da superfície (art. 1369 CC). O direito real de garantia que lhes é reservado é o penhor. A hipoteca, em regra, é direito real de garantia reservado aos imóveis. Já os bens fungíveis são, em geral, os bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Ex. lenha, café, arroz, açúcar, soja, dinheiro. Para bens imóveis pode ser considerado o caso do sócio de um loteamento que receberá uma quantidade de lotes de partilha, enquanto não lavrada a escritura: é credor de coisas determinadas pela mesma espécie, qualidade e quantidade4. 4 SHIKICIMA, Nelson Sussumo. Op cit p. 47. 7 Os bens infungíveis, por outro lado, são aqueles insuscetíveis de substituição, tem um valor individual, uma qualidade própria que os tornam únicos. Pode possuir a qualidade de serem únicos tanto os bens móveis ou imóveis. Ex. O quadro de PICASSO “La Vie”, a joia de família que foi usada no casamento da bisavó, a guitarra que foi utilizada por Mick Jagger no primeiro show que realizou, a escultura em cobre feita por renomado artista especialmente para o Parque Municipal em seu 100o. aniversário, etc. As coisas fungíveis são encaradas enquanto gênero, sendo especificadas apenas pela quantidade e qualidade, assim, por exemplo, o credor de dinheiro pode receber o valor devido em qualquer espécie de moeda, uma vez que elas se equivalem. As coisas infungíveis são consideradas em sua individualidade, levando-se em conta um interesse econômico. O que importa conhecer, também, é a questão da obrigação de fazer, se ela pode ser realizada por uma pessoa que não o devedor (fungível) ou não (infungível). Se a prestação depende de conhecimento técnico ou individualidade da pessoa que a realizará é infungível (Ex. Conserto de piano por Artur Moreira Lima), caso contrário será fungível (Ex. engraxar as botas). O artigo 86 define bens consumíveis como sendo os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, bem como aqueles destinados à alienação. São considerados bens inconsumíveis, por outro lado, aqueles que admitem uso reiterado, sem destruição, sem que sua integridade seja perdida. No que concerne aos bens consumíveis destinados à alienação: é o caso, por exemplo, do livro que se encontra na livraria com o objetivo de ser vendido; ao mesmo tempo em que é consumível para aquele que o vende, é inconsumível para aquele que o utiliza, uma vez que sobrevive ao uso. Um manuscrito de obra rara pode ser colocado para ser vendido. Neste caso temos um bem infungível que é consumível5. 5 Isto se chama consuntibilidade jurídica - Art. 86, 2a. parte do CC – COISAS INCONSUMÍVEIS SE TORNAM CONSUMÍVEIS quando se destinam à venda, alienação. 8 Os bens divisíveis são os que se podem partir em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito, entendendo-se como todo perfeito, aquilo que não teve sua substância alterada (art. 87 CC). Por exemplo, uma barra de ouro, ainda que dividida em várias, continuará sendo uma barra de ouro; saca de soja, pode ser dividida, ainda é soja. Os bens indivisíveis são aqueles bens que se não podem partir sem alteração na sua substância, bem como aqueles que embora naturalmente divisíveis, se consideram indivisíveis por lei, ou vontade das partes. Exemplo, uma pedra preciosa, se dividida não possui mais valor econômico; um reprodutor, quando dividido morrerá. Uma área de terra que o instituidor determinou como passível de venda, somente se for em conjunto com o galpão, etc. Vamos agora aos bens singulares... Mesmo quando reunidos, os bens singulares são considerados por si só, independentemente dos demais. São os bens considerados de forma individual, isolada. Podem classificar-se em: ➔ Singulares Simples: são bens em que seus componentes ou partes, estão reunidos, em virtude da natureza ou da ação humana. São homogêneos, ou seja, não permitem o seu desmembramento em partes. Ex. semovente, caneta. ➔ Singulares Compostos: são aqueles bens, cujas partes heterogêneas, estão ligadas pelo engenho humano. São objetos independentes que se unem num só. Ex. um carro (banco, vidros, motor, portas). Os bens coletivos, por sua vez, formam um todo único, um conjunto, que passa a ter sua própria individualidade. Formam universalidades de fato (cuja destinação é unitária, como uma biblioteca, um rebanho, uma galeria de obras) ou de direito (relações jurídicas de uma pessoa, com valor econômico, como, patrimônio, fundo de comércio, herança, etc.). 9 Dos Bens Reciprocamente Considerados Nessa categoria, os bens dividem-se em principais e acessórios, tratados nos artigos 92 a 97 do Código Civil. • Principal, é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente, isto é, a coisa. • Acessória é aquela cuja existência supõe a da principal, ou seja, é aquela cuja existência está atrelada à existência da coisa principal. Por exemplo, os contratos de locação são principais, ao passo que a fiança neles estipulada é acessório. A coisa acessória segue a principal, salvo se for determinado de forma diversa, quer por convenção das partes, quer por dispositivo legal (art. 1284 CC): Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono do solo onde caíram, se este for de propriedade particular. Em razão dessa regra, consequências importantes devem ser observadas, a saber: a. o acessório acompanha o principal em seu destino; b. o acessório assume a natureza do principal; c. o proprietário do principal, salvo exceção legal ou convencional, é o proprietário do acessório. Na classe dos bens acessórios estão incluídos: ➔ Os frutos: são as utilidades que a coisa periodicamente produz e são divididos, quanto ao seu estado em: Pendentes: enquanto unidos à coisa que os produziu; Percebidos ou colhidos: depois de separados da coisa; Estantes: se depois de separados ainda existem armazenados ou acondicionados para a venda. Percipiendos: os que deviam ser, mas não foram percebidos; Consumidos: os que não mais existem. ➔ Os produtos: são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo- lhes a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente, como as pedras preciosas extraídas das pedreiras. 10 ➔ As pertenças: previstas no art. 93 do CC são bens móveis que estão vinculados à coisa, mas não se constituem partes da mesma. Ex. órgão da igreja, tratores da fazenda. Em rigor não seguem o principal,mas admitem determinação em contrário. Nos termos do artigo 96 CC, são também consideradas acessórias da coisa as benfeitorias6 de qualquer valor, excetuando-se a pintura em relação à tela; a escultura em relação à matéria-prima; a escritura e outro qualquer trabalho gráfico, em relação à matéria prima que os recebe. As benfeitorias, por sua vez, são divididas em: Necessárias: aquelas que têm por fim conservar a coisa ou evitar a sua deterioração, podendo também ser consideradas aquelas realizadas para permitir a normal exploração econômica da coisa; Úteis: as que aumentam ou facilitam o uso da coisa; Voluptuárias: as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual da coisa, ainda que a tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. Bens Quanto ao Titular Do Domínio Sob esta óptica os bens se classificam em públicos (art. 98 a 103 do CC) e particulares. Públicos são os que pertencem ao domínio da União, dos Estados e dos Municípios, sendo particulares todos os demais, independentemente da pessoa a que pertencerem. Chamamos de “res nullius” as coisas que não são de ninguém, as coisas e animais que estão na natureza, livres. Ex. conchas do mar, águas pluviais, etc. Bens Públicos 6 As benfeitorias diferem das ACESSÕES porque as benfeitorias são obras ou despesas realizadas em bem que já existe. 11 Apresentam-se através das seguintes espécies: • Bens de uso comum do povo – são os bens que todos podem usar, como as ruas e praças. • Bens de uso especial – são destinados às instalações e aos serviços públicos, como os prédios das repartições ou escolas públicas. • Bens dominicais – são os que pertencem ao acervo do poder público, sem destinação especial. Regime jurídico dos bens públicos Os bens públicos são, em regra, inalienáveis, admitindo-se, pois, exceção: ➔ Os bens de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis em princípio, mas poderão tornar-se alienáveis se forem desafetados, ou seja, se for mudada sua destinação, de modo que passem a ser considerados dominicais. Pode dar-se por lei, por ato administrativo ou por um fato que torne a destinação inviável. ➔ Bens dominicais podem ser alienados, exigindo-se, em regra, autorização legislativa, avaliação prévia e licitação – art. 37, XXI da CF. Tratando-se de bens móveis é dispensada a licitação. Os direitos do poder público sobre seus bens não prescrevem, não havendo usucapião de bens públicos, de qualquer espécie. Todos são impenhoráveis, não podendo ser alienados, arrestados ou sequestrados, objeto de penhor, hipoteca ou anticrese. Aquisição de bens para o patrimônio público ➔ doação ➔ compra ➔ desapropriação ➔ confisco – art. 91, II do CP e art. 243 da CF7 ➔ permuta ➔ dação em pagamento ➔ direito hereditário Alienação de bens públicos 7 CF: Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm#art1 12 É a utilização especial de bens públicos por particulares. Podem ser apresentadas como: ➔ Autorização de uso: auxílio de interesses particulares em eventos ocasionais ou temporários (ex. uso de um terreno baldio para uma quermesse). Ato unilateral, discricionário, de título precário, podendo ser revogado a qualquer tempo, independente de licitação e de lei autorizadora, podendo ser em caráter gratuito ou oneroso, por tempo determinado ou indeterminado. ➔ Permissão de uso: semelhante à autorização, porém com grau menor de precariedade. Depende, em regra, de licitação e cria para o permissionário um dever de utilização, sob pena de revogação (ex. permissão de instalação de uma banca de jornal na via pública). Funda- se no interesse público. ➔ Concessão de uso: contrato entre a Administração e um particular, tendo por objeto uma utilidade pública de certa permanência (ex. instalação de restaurante num zoológico municipal). Exige, em regra, autorização legislativa e licitação. ➔ Concessão de direito real de uso: aplica-se apenas a bens dominicais. É instituto de direito privado, de natureza contratual. Consiste na aquisição, pelo particular, de direito resolúvel do uso de um terreno público, de modo gratuito ou remunerado, para fins de interesse social de certo vulto, como urbanização ou cultivo. Exige autorização legislativa e licitação. Bens do patrimônio público (art. 20 a 26 da CF) • Terras devolutas: terras que ninguém se apossou, nem foram utilizadas para algum fim público. Não tem localização e limites claros, por isso necessitam ser demarcadas e separadas das outras propriedades. Esta separação ou discriminação pode ser administrativa ou judicial – Ação discriminatória – Lei 6.383/76, sendo utilizada a via judicial se insuficiente a via administrativa. Após a discriminação elas deixam de ser devolutas e passam a ser simplesmente terras públicas. Pertencem à União e, por exclusão, aos Estados. • Mar territorial: estende-se numa faixa de 12 milhas marítimas (equivale a 1.852m) da linha de baixa-mar do litoral continental e insular (Lei 8.617/93 – art.1o.). Trata-se de águas públicas de uso comum, pertencentes à União, sobre as quais o Brasil exerce soberania. Depois do mar territorial temos... • Zona contígua – com início a partir de 12 milhas do litoral até 24 milhas marítimas, nesta faixa o Brasil conserva o poder de fiscalização e polícia, embora sem soberania. 13 • Zona econômica – com início a partir de 12 milhas do litoral (igual a zona contígua) e vai de 12 até 200 milhas marítimas, nesta faixa tem o Brasil direitos exclusivos de exploração dos recursos naturais do mar. • Terras tradicionalmente ocupadas por índios - são bens da União, art. 20, XI, CF, destinam-se à posse permanente dos índios, cabendo- lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes – art. 231, § 2º, CF. • Plataforma continental: são bens da União os recursos naturais da plataforma continental, que consiste no prolongamento natural das terras continentais ou insulares, por baixo das águas do mar, em extensão variável, conforme a legislação de cada país – art. 20, V, CF • Terrenos de marinha: são bens da União, assim considerados os que, banhados pelas águas do mar ou dos rios navegáveis, vão até 33m para a parte da terra, contados desde o ponto a que chega a “ preamar médio” – art. 13 do Cód. de Águas; art. 20, VII, CF e Decreto Lei 9.760/46 (art. 2o.). Os terrenos de marinha tem sido objeto de arrendamento perpétuo a particulares, mediante o pagamento de um foro anual. Tal arrendamento perpétuo denomina-se enfiteuse, continuando a União a ser proprietária e o particular enfiteuta, como detentor do domínio útil. • Terrenos marginais ou reservados: são os que se situam ao lado dos rios navegáveis, até uma distância de 15m contados desde a linha média das enchentes ordinárias. Tais terrenos podem pertencer a algum órgão público ou a um particular. Se foremde propriedade privada, são onerados por uma servidão de trânsito, para possibilitar a fiscalização e a realização de obras ou serviços públicos pela Administração (há divergências). • Lagos, rios e correntes de água: são bens da União quando banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham. Os terrenos marginais, nestes casos, são também da União. • Álveos ou leitos abandonados: caso um rio de águas públicas vier a abandonar naturalmente o seu leito, as terras por onde ele corria, passam a pertencer aos proprietários ribeirinhos das respectivas margens, sem que tenham direito à indenização alguma os donos dos terrenos por onde as águas abram novo curso. Mas, se o fato ocorrer por obra do poder público, fica ele com leito original do rio, devendo indenizar os proprietários das terras por onde passa a correr o novo curso. • Faixa de fronteira: faixa de 150 km de largura, ao longo das fronteiras terrestres, e considerada fundamental para a defesa nacional. Este trecho e sua utilização são regulados em lei, como servidão administrativa. – art. 20, § 2º, CF. 14 • Minas, jazidas e quedas d’água: as jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia elétrica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra – art. 176 da CF. • Ilhas: as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II da CF. • Fauna silvestre: os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha (Lei 5.197/67 – art. 1º). Dos Bens Considerados Quanto à Possibilidade de Serem Negociados Levando-se em conta esse critério, são os bens classificados em bens no comércio e bens fora do comércio. As coisas ou bens fora do comércio são as insuscetíveis de apropriação, e as legalmente inalienáveis, do que se depreende que há coisas naturalmente indisponíveis (ar, água do mar em grandes quantidades, espécies capturadas em vidros), coisas cuja indisponibilidade provém de lei (liberdade, vida, órgãos do corpo humano, direitos da personalidade, etc.) e coisas que são indisponíveis pela vontade humana (bens doados com cláusula de inalienabilidade, deixados em testamento, etc.). A expressão “legalmente inalienáveis”, inclui aqueles bens que são indisponíveis por força de lei e as que o são pela vontade humana. Assim, pode-se concluir que as coisas insuscetíveis de apropriação são aquelas que se encontram fora do alcance da apreensão humana, e as legalmente inalienáveis são aquelas normalmente apropriáveis pelo homem, mas cuja venda a lei proíbe, seja em face da sua destinação, seja por vontade das partes. 15 Bem de Família O princípio geral das obrigações é o de que o patrimônio do devedor deve responder por elas. O bem de família veio abrir uma exceção à regra de que ninguém pode tornar os seus próprios bens impenhoráveis, salvo no caso de liberalidades. Ao instituir o bem de família, buscou o legislador proteger a família, garantindo-lhe um teto. Assim, mediante esse instituto, o imóvel residencial ficou isento de execução por dívidas, exceto as provenientes de impostos a ele relativos. Com o advento da Lei nº 8.009/90, o conceito de bem de família foi ampliado, não mais dependendo da sua instituição mediante escritura pública, nos termos das disposições constantes do Código Civil. O bem de família a partir de então, resulta diretamente de lei, de ordem pública, que tornou impenhorável o imóvel utilizado para a residência da família, ficando, assim, isento de responder por dívida civil, comercial, fiscal, ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam. Há, entretanto, algumas exceções a essa regra, ou seja, há hipóteses em que o bem de família pode ser penhorado. Tais itens estão previstos no artigo 3º da referida lei, a saber, em caso de execução movida: • pelo titular do crédito oriundo do financiamento destinado à construção ou em função do respectivo contrato; • pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; (Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015) • para a cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; • para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; • por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. Como o objetivo da lei é a proteção da entidade familiar, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a impenhorabilidade não alcança o imóvel do devedor solteiro que reside solitário. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13144.htm#art1 16 O Código Civil assim dispõe mais sobre este instituto: Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial. Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada. Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família. Art. 1.713. Os valores mobiliários, destinados aos fins previstos no artigo antecedente, não poderão exceder o valor do prédio instituído em bem de família, à época de sua instituição. § 1o Deverão os valores mobiliários ser devidamente individualizados no instrumento de instituição do bem de família. § 2o Se se tratar de títulos nominativos, a sua instituição como bem de família deverá constar dos respectivos livros de registro. § 3o O instituidor poderá determinar que a administração dos valores mobiliários seja confiada a instituição financeira, bem como disciplinar a forma de pagamento da respectiva renda aos beneficiários, caso em que a responsabilidade dos administradores obedecerá às regras do contrato de depósito. Art. 1.714. O bem de família, quer instituído pelos cônjuges ou por terceiro, constitui-se pelo registro de seu título no Registro de Imóveis. Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio. Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz. Art. 1.716. A isenção de que trata o artigo antecedente durará enquanto viver umdos cônjuges, ou, na falta destes, até que os filhos completem a maioridade. Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público. Art. 1.718. Qualquer forma de liquidação da entidade administradora, a que se refere o § 3o do art. 1.713, não atingirá os valores a ela 17 confiados, ordenando o juiz a sua transferência para outra instituição semelhante, obedecendo-se, no caso de falência, ao disposto sobre pedido de restituição. Art. 1.719. Comprovada a impossibilidade da manutenção do bem de família nas condições em que foi instituído, poderá o juiz, a requerimento dos interessados, extingui-lo ou autorizar a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos o instituidor e o Ministério Público. Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência. Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor. Art. 1.721. A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família. Parágrafo único. Dissolvida a sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá pedir a extinção do bem de família, se for o único bem do casal. Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.
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