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1 CURSO DE FORMAÇÃO DE INSTRUTORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA PÚBLICA DAVID DOUGLAS RAMALHO CHAVES ISMAEL CHAVES FAUSTINO DE ARAUJO IMPORTÂNCIA DO JUDÔ PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA PARAÍBA JOÃO PESSOA 2014 2 DAVID DOUGLAS RAMALHO CHAVES ISMAEL CHAVES FAUSTINO DE ARAUJO IMPORTÂNCIA DO JUDÔ PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA PARAÍBA Artigo apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do II Curso Formação de Instrutores de Educação Física para Profissionais de Segurança Pública, como requisito final para conclusão do curso. Orientador: Prof. Ms. Leonardo S. Oliveira JOÃO PESSOA 2014 3 IMPORTÂNCIA DO JUDÔ PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DA PARAÍBA RESUMO Introdução: O Judô é uma arte marcial e também uma filosofia de vida que se expressa como um caminho ou princípio do uso eficiente de energia mental e física, através de técnicas de ataque e defesa. Os benefícios da prática do Judô abrangem três principais aspectos: o condicionamento físico, a disciplina, a ética e a moral. A referida arte marcial é componente curricular do primeiro ano do Curso de Formação de Oficiais da Policia Militar da Paraíba. Diante da inexistência de estudos que enfatizem a importância da disciplina Judô neste curso, surgiram diversos questionamentos sobre o porquê da escolha desta arte marcial, dentre as demais artes existentes. Objetivo: Destacar a importância da disciplina judô na grade curricular do Curso Formação de Oficiais da Polícia Militar do Estado da Paraíba em seus diversos aspectos. Metodologia: Trata- se de um estudo bibliográfico documental realizado pelo método da revisão integrativa onde serão selecionados manuais, artigos, livros que incluam o judô em sua temática considerando os aspectos filosóficos, mental, ético e físico, e, principalmente os fatores relacionados às técnicas de defesa pessoal proporcionado pela modalidade, desde a sua criação em 1882 até os dias atuais. Resultados: Verificou-se que a prática do Judô, além dos conhecimentos de defesa pessoal, proporciona a adaptação do aluno-oficial a vida Policial Militar, desde o preparo físico aos aspectos mentais exigidos pela profissão. Conclusão: Diante do conjunto de benefícios que a disciplina do Judô proporciona ao aluno oficial durante o primeiro ano do Curso de Formação de Oficiais, conclui-se que o Judô é a arte marcial mais indicada para compor a grade curricular do CFO. Neste sentido, destaca-se a importância da disciplina e a necessidade de aumento da carga horária no curso de formação policial. Palavras-chave: Judô; Curso de Formação de Oficiais; Policial Militar. 4 SUMÁRIO Introdução 5 Metodologia 7 Resultados e Discussão 7 Análise do currículo Aspecto Físico Aspecto Mental Aspecto Ético Filosófico-Espiritual Aspecto Técnico 7 8 10 10 11 12 Conclusão 13 Referências 15 5 Introdução Desde o surgimento da humanidade, os indivíduos tinham que lutar pela sua sobrevivência contra as adversidades do ambiente, obrigando-os a desenvolver técnicas de ataque e defesa eficientes para salvaguardar sua vida. Com o passar do tempo, as populações tornaram- se numerosas, o que resultou em disputas por terra, alimento e poder. As pessoas cada vez mais tinham a necessidade de adquirir meios que possibilitassem a sua segurança. Diante destas necessidades, foram desenvolvidas milhares de artes marciais na tentativa de possibilitar ao homem conhecimentos de autodefesa, para sua proteção e de sua família. Neste contexto, ao passar de gerações e aprimoramento destes conhecimentos, em 1882 no Japão o mestre Jigoro Kano, procurou sistematizar as técnicas de uma arte marcial japonesa, conhecida como “Jujutsu”, arte de extrema violência, e fundamentar sua prática em princípios filosóficos bem definidos. O objetivo era torná-la um meio eficaz para o aprimoramento físico, intelectual e de caráter, em um processo de aperfeiçoamento do ser humano, denominando esta nova técnica que de “Judô”. Traduz-se o termo Judô como “caminho suave” ou “caminho da suavidade”. Esta arte se expressa como um meio, princípio do uso eficiente de energia mental e física, através de técnicas de ataque e defesa. Os benefícios da pratica do Judô classificam-se em três principais aspectos: o primeiro refere-se ao condicionamento físico proporcionado pela prática; o segundo diz respeito à disciplina atingida por meio da luta e dos mecanismos de concentração, autocontrole e autoconfiança; e o terceiro se dá no campo da ética e da moral, em que o respeito aos valores apresenta significativa importância (SOUZA; FACHIN, 2012). Para Jigoro Kano, a prática do Judô consiste em dois princípios fundamentais: o da máxima eficácia (Seiryoku-Zen’yo) - com o menor desprendimento energético e da prosperidade e benefícios mútuos (Jita-Kyoei). Estes princípios estão intimamente ligados ao princípio da máxima eficiência na aplicação das técnicas de ataques e defesa e no relacionamento do indivíduo com ele mesmo e com a sociedade (KANO, 2008). A carreira dos oficiais da Academia de Policia Militar do Cabo Branco do Estado da Paraíba (APMCB- PB) inicia-se após a conclusão do Curso de Formação de Oficiais, que tem duração de três anos, onde são ministrados diversas disciplinas, com o objetivo de preparar o profissional de segurança pública nas diversas modalidades de policiamento, podendo ser a pé, 6 montado, escolta, guarda, custodia, entre outras. Todas essas modalidades de policiamento exigem um conhecimento do uso diferenciando da força pautando-se na legalidade, necessidade, proporcionalidade, e, principalmente na ética. A arte marcial Judô é componente curricular do primeiro ano do Curso de Formação de Oficiais da Policia Militar da Paraíba, sendo as disciplinas Judô I e II requisito para a conclusão do 1º ano do referido curso. Na disciplina Judô I são lecionados os conteúdos referentes aos aspectos históricos, filosóficos, e os fundamentos básicos das técnicas do Judô, conhecimentos necessários à disciplina Judô II, onde os alunos colocam em prática a sistematização das técnicas do Judô nos fundamentos de ataque e defesa e contra-golpes, saídas de imobilizações de chaves e estrangulamentos, como instrumento de sua autodefesa e na defesa de outrem. O Judô é uma prática esportiva fundamental, que também é ensinado em instituições de ensino médio como parte integrante da disciplina de educação física, auxiliando na formação físico-intelectual dos jovens, bem como no aprendizado de diversas técnicas de defesa pessoal. De acordo com Souza e Fachin (2012 apud FEITOSA, 2011) “na educação de um aluno, atrelada ao Judô, que não se resume a uma prática tecnicista voltada para fins exclusivamente corporais e sim, uma manifestação cultural esportiva continente de princípios filosóficos que vêm a preencher lacunas formativas.” Estes princípios são aplicáveis não somente com finalidades esportivas, fazendo-se úteis em diversas situações e problemáticas sociais ou profissionais que venham aparecer. O treinamento desenvolvido por meio das aulas de Judô proporciona aptidão física necessária ao desempenho da atividade policial militar, ou seja, o aluno desenvolve força, flexibilidade, resistência, equilíbrio e coordenação motora, além de possibilitar o desenvolvimento psicológico e ético do profissional. Segundo Borges (2010), o Judô foi desenvolvido de maneira que os valores entre corpo e mente fossem valorizadas, há necessidadedo equilíbrio mental e físico através da disciplina, nos movimentos harmoniosos, na desvalorização do individualismo, na superação da marcialidade, na fraternidade, no desenvolvimento interior, na estética e eficiência, na superação da força, dentre outros princípios antigos da cultura oriental. 7 METODOLOGIA Trata-se de um estudo bibliográfico documental acerca da arte marcial Judô, onde foram analisados manuais, artigos e livros que incluam o Judô em sua temática considerando os aspectos filosóficos, mental, ético e físico, e, principalmente os fatores relacionados às técnicas de defesa pessoal proporcionado pela modalidade, desde a sua criação em 1882 até os dias atuais. A coleta de dados foi realizada entre os meses de março e setembro de 2014. Foram incluídos materiais na língua portuguesa e inglesa.Os dados foram analisados e resumidos em quadros para discussão conforme a literatura. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados apresentados estão pontuados nos seguintes aspectos: Análise do currículo, Aspectos Físico, Mental, Ético, Filosófico-Espiritual e Técnico da prática no Judô e suas contribuições aos alunos do 1º ano do Curso de Formação de Oficias da APMCB. Análise do currículo A disciplina Judô no primeiro ano do Curso de Formação de Oficiais da APMCB é divida em dois semestres contendo cada um 45h/a, sendo cada aula composta por 02h/a, com dois encontros semanais, totalizando 04h/a por semana. A disciplina do 1º semestre é denominada de Judô I e possui como objetivos específicos a conscientização do educando policial militar da importância do Judô em sua formação profissional, a capacitação para o emprego das técnicas de Judô como instrumento de sua auto-defesa e na defesa de outrem, no contexto da defesa pessoal, e conhecimento dos aspectos históricos e filosóficos do Judô, bem como, a legislação pertinente ao emprego desta arte em situação de defesa pessoal. Esta disciplina é dividida em duas unidades. Na primeira são destacados os aspectos históricos, filosóficos e legislativos do Judô, enquanto na segunda unidade, os fundamentos básicos e técnicas desta arte marcial. A metodologia de ensino é desenvolvida por meio de aulas expositivas, práticas e teórico-prática, através dos recursos do Dojô, DVD e quadro branco. Por sua vez, a disciplina do segundo semestre denominada de Judô II, tem como finalidade proporcionar conhecimento ao educando policial militar, para que o mesmo possa 8 sistematizar as técnicas do Judô nos fundamentos de ataque e defesa e contra-golpes, saídas de imobilizações de chaves e estrangulamentos, assim como oportunizar o domínio das técnicas de luta desenvolvidas na posição em pé, e da luta quando desenvolvida no solo, capacitando-o para o emprego das técnicas de Judô como instrumento de sua autodefesa e na defesa de outrem, e por fim, proporcionar o domínio das técnicas de atemi-waza 1 demonstrando conhecimento de defesa de socos e chutes. A metodologia e os recursos empregados são os mesmos descritos para o primeiro semestre. Percebe-se que o currículo descrito aborda desde os aspectos históricos, filosóficos e legislativos, passando por educativos de quedas, técnicas de domínio de solo e em pé, finalizando em técnicas contundentes (atemi-waza). Desta maneira, pode-se considerar completo para os alunos que estão iniciando a carreira policial militar o referido componente curricular. Aspectos Físicos Durante uma aula de Judô, o educando policial militar exercita o corpo por completo, o que obriga o desenvolvimento de suas capacidades físicas. Segundo Rosa, Capacidades Físicas são definidas como todo atributo físico treinável num organismo humano. Em outras palavras, são todas as qualidades físicas motoras passíveis de treinamento comumente classificadas em diversos tipos: Resistência, Força, Velocidade, Agilidade, Equilíbrio, Flexibilidade e Coordenação motora (destreza). ( 2009) Para Ibidem (1995 apud Lussac, 2008), o princípio da especificidade do treinamento é aquele que impõe, como ponto essencial, que o treinamento deve ser montado sobre os requisitos específicos da performance desportiva, em termos de qualidade física interveniente, sistema energético preponderante, segmento corporal e coordenações psicomotoras utilizados . Segundo Mcardle et al. (2013), em conformidade com o conceito de especificidade do treinamento, as atividades que exigem um alto nível de metabolismo anaeróbico 2 produzem alterações especificas nos sistemas de energia imediato e a curto prazo, sem aumento concomitantes das funções aeróbicas. Os sistemas energéticos imediato e a curto prazo, isto é, metabolismo anaeróbico, acionam predominantemente o exercício explosivo com duração de até 2 minutos. 1 Atemi-waza são técnicas contundentes de ataque e defesa utilizadas apenas em situações reais. 2 Metabolismo anaeróbico é o processo químico e fisiológico que o corpo realiza para obtenção de energia com pouca utilização de oxigênio 9 Neste sentido, Franchini (2010, pág.14), afirma que as modalidades esportivas intermitentes envolvem importante contribuição dos metabolismos anaeróbicos, uma vez que normalmente demanda movimentos de alta potência. Considerando que o Judô é uma modalidade intermitente que exige explosão muscular durante suas lutas, sua prática possibilita ao policial o aprimoramento deste sistema energético, melhorando sua performance durante uma intervenção policial que exija uma ação vigorosa com força máxima para anular a capacidade de reação por parte do agressor, mostrando que os conhecimentos possibilitados pela prática do Judô contribui na execução da atividade policial. Em atividades intermitentes como o Judô, a capacidade de manter o desempenho e a recuperação mais rápida tem sido associada à aptidão aeróbica 3 , retardando ou evitando o processo de fadiga (FRANCHINI, 2010, pág.3). Logo, a prática do Judô, que proporciona uma maior capacidade anaeróbia, associada às aulas da disciplina de Educação Física, também componente curricular do CFO e que permite um melhor desenvolvimento do sistema energético aeróbio, associados, possibilitam um maior aptidão física aos profissionais de segurança, o que refletirá no desempenho da atividade policial, tendo em vista que as escalas de serviço se prolongam longas jornadas de trabalho, exigindo do policial uma resistência à fadiga diante das várias intervenções que ocorrem durante a execução do serviço. Durante o desenvolvimento de suas atividades, é exigido do profissional da segurança pública força para imobilizar um agressor, resistência para percorrer de maneira segura locais que ofereçam risco de vida, flexibilidade para aplicar corretamente as técnicas de defesa pessoal, e acima de tudo velocidade a fim de impedir qualquer reação por parte do agressor. Logo, conforme as informações destacadas, a arte marcial Judô desenvolve a aptidão física necessária para o desempenho da atividade policial. Aspectos Mentais O treinamento mental é exercitado nas aulas do curso de formação de oficiais durante a prática do Randori 4 , onde o aluno é estimulado a buscar as fraquezas do oponente e estar pronto 3 Aptidão aeróbica é capacidade que o organismos tem de absorver oxigênio para realizar uma atividade, podendo ser medidas através de diversas variáveis, tais como VO2max e a velocidade de limiar anaeróbico. 4 Randori significa “prática livre”. Os parceiros se encontram e aproximam-se um do outro como se estivessem em uma verdadeira competição. 10 para atacar com todos os recursos disponíveis no momento em que encontrar uma brecha, mas sem violar as regras do judô (Kano, 2008, pág.26). No randori, às vezes nos defrontamos com um oponenteque está fora de si em seu desejo de vencer. Somos treinados para não resistir diretamente com força, mas a jogar com o oponente até que sua fúria e sua energia fiquem esgotadas, e só então atacamos. Essa lição é útil quando encontramos na vida diária uma pessoa desse tipo. Como nenhum argumento racional funcionará com alguém assim, tudo o que podemos fazer é esperar ate que ela se acalme (Kano, 2008). Na concepção de Sugai (2001) o Judô é um esporte de contato físico direto e muito intenso. É a pressão de um com outro aonde os seus desejos e intenções que se farão sentir com toda a força de alguém invadindo seu espaço vital. É algo muito mais sujeito a variantes e em termos psicológicos infinitamente mais complexos. A atividade de segurança pública também exige um controle mental para que os limites legais não sejam ultrapassados. Para isto, é necessário que o policial militar tenha o domínio dos seus impulsos e conhecimento das peculiaridades de sua atividade, estando sempre preparado para enfrentar as dificuldades da atividade operacional. Diante disto, comprova-se que a prática do Judô proporciona ao profissional de segurança pública o desenvolvimento mental necessário para suportar as agressões verbais durante as ocorrências, sempre mantendo a calma e buscando fazer as escolhas certas para melhor solucionar o conflito. Aspectos Éticos O treinamento ético esta atrelado ao princípio da máxima eficiência. Segundo Kano, (2008), o Judô auxilia as pessoas nervosas e que ficam raivosas por qualquer motivo, a se controlarem. Através do treinamento elas descobrem que a raiva é um desperdício de energia e que só exerce efeitos negativos sobre elas mesmas e aos outros indivíduos. Auxilia também as pessoas que perderam sua autoconfiança em consequência de erros cometidos. Ainda de acordo com o autor supracitado, o Judô nos ensina a buscar a melhor atitude a ser tomada, não importando as circunstâncias, e nos ajuda a compreender que a preocupação também corresponde a um desperdício de energia. Outras pessoas que podem se beneficiar com a prática do Judô são os descontentes crônicos, aqueles que, transferem imediatamente a outras pessoas a culpa por suas próprias falhas. Esse tipo de indivíduo, ao praticar a referida arte marcial, descobre que o estado negativo de sua mente é incoerente, considerando o princípio da 11 eficiência máxima e que viver de acordo com esses princípios é a chave para atingir um estado mental confiante. No que se refere às vestimentas utilizadas na prática da modalidade esportiva, o judogui 5 é o uniforme do Judô, o qual deve estar sempre limpo e impecável, refletindo o lado ético do Judô, isto é, demonstrando o respeito para com o mestre e os colegas de treinamento. Trazendo para a atividade policial, o respeito aos superiores, bem como aos colegas de trabalho devem sempre ser destacados no seio militar. Já o uso da farda regulamentar, exige uma liturgia semelhante ao uso do judogui, devendo encontrar-se sempre limpa e o policial militar sempre bem asseado, demonstrando a sociedade o grau de comprometimento com o seu dever em prover a segurança pública. Aspectos Filosóficos-espiritual O Dojo, local de treinamento do Judô, é considerado sagrado, onde o respeito ao mestre e aos colegas de treinamento são colocados em destaque. Para Lowry (2006, pág.22), o Dojo pode parecer um ginásio, mas suas inspirações históricas, literal ou estética, são o templo e o santuário. De acordo com Kano, no momento em que visitamos um Dojo pela primeira vez, podemos observar como ele é mantido muito limpo e ficamos impressionados com sua atmosfera solene. É importante destacar que a palavra Dojo deriva de um templo budista que faz referencia ao “local de iluminação”. Como um monastério, o Dojo é um lugar sagrado que as pessoas procuram para aperfeiçoar seu corpo e mente. (1986, p. 30) Quando Jigoro Kano idealizou o que seria o Judô, ele criou os princípios que norteariam o praticante desta arte. Estes representariam o “Espírito do Judô”, que se compõe de duas máximas e nove princípios. As máximas do Judô são conhecidas como: Seiryoku Zen’yo - Máxima eficácia com o menor desprendimento energético; Jita Kyoei - Prosperidade e benefícios mútuos (SOUZA; MOURÃO, 2011). Virgílio (1986) destaca que o Judô apresenta nove princípios: Conhecer-se é dominar-se, e dominar-se é triunfar; Quem teme perder já está vencido; Somente se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e, sobretudo, humildade; Quando verificares, com tristeza, que nada sabes, terás feito teu primeiro progresso no aprendizado; Nunca te orgulhes 5 Judogui é o uniforme utilizado para praticar o judô, sendo composto por blusão, calça e faixa. 12 de haver vencido um adversário; quem venceste hoje poderá derrotar-te amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a própria ignorância; O judoca não se aperfeiçoa para lutar; luta para se aperfeiçoar; O judoca é o que possui inteligência para compreender aquilo que lhe ensinam e paciência para ensinar o que aprendeu aos seus companheiros; Saber cada dia um pouco mais, utilizando o saber para o bem, é o caminho do verdadeiro judoca; Praticar o judô é educar a mente a pensar com velocidade e exatidão, bem como ensinar o corpo a obedecer corretamente. O corpo é uma arma cuja eficiência depende da precisão com que se usa a inteligência. Aspectos Técnicos Segundo Watson (2011, p.17), os principais objetivos do Judô são fortalecer o físico, a mente e o espírito, de forma integrada, além de desenvolver técnicas de defesa pessoal. Todas as técnicas ensinadas no judô podem ser usadas na defesa pessoal policial, entretanto existe uma Kata 6 denominado Goshin Jutsu que está intimamente relacionado com técnicas de estrangulamentos e consiste em técnicas de auto-defesa usando arremesso, chaves de braço, marcantes, e técnicas de chutes. Estas formas de combate são concebidos como defesas para várias formas de ataques armados ou desarmados. O Kata apresenta 21 (vinte e uma) técnicas, sendo 12 (doze) técnicas para uso contra um atacante desarmado e 9 (nove) técnicas para uso contra um invasor armado. Estas técnicas foram incluídas no currículo do Curso de Formação de Oficiais nas defesas contra agarramentos (mãos livres) e na defesa contra facas e armas de fogo. Por sua vez, existe também um grupo de técnicas denominadas “Atemi-waza” que é um conjunto de técnicas que são aplicadas em determinadas regiões do corpo, ou seja, se refere à técnicas traumáticas aplicadas nos pontos vitais onde o lutador visa um ponto específico no corpo do adversário, para, quando o atingir, não ocasionar lesões, mas um desequilíbrio no seu fluxo de energia. As técnicas de atemi-waza não podem ser utilizadas em competições devido ao grande risco de lesionar seriamente o adversário, pois são técnicas de auto-defesa nas quais os ataques são feitos em regiões vitais do corpo, a fim de infringir dor, inconsciência ou morte. Elas são 6 Kata é um sistema de movimentos preestabelecidos que ensina os fundamentos de ataque e defesa, os quais inclui técnicas para bater, chutar, apunhalar, dentre outras, além de usar os movimentos de arremessar e segurar o oponente. 13 empregadas apenas como último recurso, quando alguém corre o risco de vida, incapacidade ou for capturado. Os níveis de ataque do atemi-waza no Judô são três: nível superior: da cabeça e pescoço (Jôdan); nível médio: do pescoço à cintura médio (Chûdan), e nível inferior: da cintura aos pés (Gedan). Os principais ataques visam os níveis superior e inferior, uma vez que os mesmos possuem uma maior capacidade de produzir danos imediatos ao adversário. Os ataques alternativos visamo nível médio (que também produzem danos consideráveis ao adversário, dependendo do ponto vital a ser atacado). As técnicas de atemi-waza são ensinadas ao educando policial militar na forma de chutes, socos e pontos de pressão, sempre respeitando os limites legais da necessidade, proporcionalidade, legalidade e ética. CONCLUSÃO Diante do que foi visto na literatura analisada, verificou-se, do ponto de vista físico, que o judô melhora a aptidão física do policial militar, trabalhando as capacidades físicas envolvidas durante o exercício da profissão. Do ponto de vista mental, estimula o controle emocional do policial, ensinando-o a escolher a melhor estratégia para solucionar os problemas do cotidiano, desenvolvendo também o domínio de seus comportamentos. No que se refere aos aspectos éticos, a prática do Judô influência o futuro oficial a ser um profissional pró-ativo, respeitoso consigo mesmo, com as regras da instituição e colegas de trabalho. Quanto aos fatores filosóficos-espiritual, a prática desta modalidade esportiva propicia princípios básicos para a auto-reflexão, fortalecendo seu interior para os desafios da vida. Por fim, do ponto de vista técnico, esta arte marcial traz um conjunto de técnicas úteis à defesa pessoal policial, capacitando-o a utilizar a força dentro dos limites legais. Percebe-se uma identidade entre a profissão policial militar e o Judô, o que nos leva a entender que esta deve ser a arte marcial padrão nos cursos de formação de policiais. Prova disso é que no Estado do Ceará, os alunos do curso de formação de policiais, na disciplina de Defesa Pessoal, aprendem a utilizar golpes de defesa que misturam conhecimentos do Judô, tendo a oportunidade de aprender técnicas de defesa, sem utilização de armas letais, com objetivo de conter a pessoa que oferece resistência (SOUSA, 2008). 14 Diante deste contexto, sugere-se o aumento da carga horária das disciplinas Judô I e II, uma vez que a carga horária atual de 90 horas-aula estabelecida pelo Centro de Educação é insuficiente para assimilação de todo o conteúdo, tendo em vista os benefícios e vantagens que a prática do Judô durante este curso oferece a formação dos oficiais militares do Estado da Paraíba. Referências FRANCHINI, Emerson. Judô: desempenho competitivo. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2010. Judô Tradicional Goshinjutsu. Disponível em: <http://judotradicionalgoshinjutsukan.blogspot.com.br/2007/06/atemi-waza.html>.Acesso em: 05/08/2014. 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A utilização dos princípios filosóficos do judô no cotidiano dos judocas do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/218648235/Principios- Filosoficos-Do-Judo>. Acesso em: 13/07/2014. ROSA, E. E. P. Capacidades Físicas. Disponível em: <http://educadorfisico.wordpress.com/2009/03/30/capacidades-fisicas/>. Acesso em: 12/07/2014. SOUZA, G. C.; MOURÃO, L. Mulheres no Tatame: o judô feminino no Brasil. Rio de Janeiro: MAUAD X/ FAPERJ, 2011. SOUZA, Rodrigo Poderoso; FACHIN, Paulo César. O Judô e sua socialização nas escolas: superando a timidez e as dificuldades de aprendizagem. Revista Digital efdeportes, Buenos Aires, n. 164, Jan. 2012. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd164/o-judo-e-a-sua- socializacao-nas-escolas.htm>. Acesso em 15/07/2014. 15 SUGAI, Vera Lucia. Psicologia e Judô Competitivo. Disponível em: <http://www.fpj.com.br/>. Acesso em: 14/08/2014. VIRGILIO, S. A Arte do Judô. 2 ed. Campinas-SP: Papirus, 1986. WATSON Brian N. Memórias de Jigoro Kano: o inicio da história do judô/tradução: shihan Wagner Bull (6º Dan de Aikido) - São Paulo: Cultrix, 2011.