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OKRs, da Missão às Métricas Usando as OKRs para criar uma cultura de execução e inovação na sua empresa Francisco S. Homem de Mello © 2016 - 2019 - Qulture, Inc À incrível equipe da Qulture.Rocks. Q-Players, vocês são demais! Conteúdo Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i 1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 O que são OKRs? . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Por que usar OKRs na gestão da sua empresa? 6 Por que as OKRs são diferentes das metas tradicionais? . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2. Uma breve história das OKRs . . . . . . . . . 12 Mace e a definição de metas . . . . . . . . . . 14 Peter Drucker, George Odiorne e MBO . . . . 18 Hoshin Kanri, ou Policy Deployment . . . . . . 21 Andy Grove e Intel: iMBOs . . . . . . . . . . . 23 John Doerr e a ida das OKRs para o Google . . 26 3. OKRs e ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 A teoria por trás das metas: a GST . . . . . . . 31 Estabelecendo metas de forma correta . . . . 34 CONTEÚDO 4. O estado atual da gestão por metas . . . . . 38 5. O que é diferente nas OKRs . . . . . . . . . . 43 6. OKRs e estratégia . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Missão e visão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Visão e OKRs estratégicas . . . . . . . . . . . . 70 Visão e OKRs anuais . . . . . . . . . . . . . . . 77 7. O ciclo curto de OKR . . . . . . . . . . . . . . 80 8. Planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 Desdobrar ou não desdobrar? Eis a questão . 87 Desdobrando as OKRs . . . . . . . . . . . . . . 96 9. Monitoramento . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 10.Debriefing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Apurando as OKRs . . . . . . . . . . . . . . . . 116 11. Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 12. Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 13. Posfácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Prefácio Este é um ótimo momento para escrever sobre OKRs. Digo isso porque estamos em um ponto de máxima oportunidade: por um lado, nunca houve tanto inte- resse no tema; por outro lado, ainda há pouca com- preensão da metodologia em sua teoria e prática. Es- crevi este livro justamente para preencher essa la- cuna. Não há escassez de conteúdo na Internet e nas estan- tes das livrarias americanas sobre as maravilhas que as OKRs podem fazer por uma empresa. John Doerr, famoso investidor de empresas como Google, fez um ótimo trabalho com seu livroMeasureWhatMatters em nos vender como empresas podem se tornar incríveis se incorporarem OKRs em suas rotinas de gestão. No entanto, uma história muito comum se repete: gestoras, líderes e empreendedoras terminam de ler esses livros e blogs, saem super animadas para im- plementar a metodologia em suas organizações e in- Prefácio ii variavelmente se frustram com a quantidade de dú- vidas que parecem brotar do chão quando a teoria encontra a prática. Queremos, com esse livro, ser guias dessa jornada e estarmos ao lado dessa turma quando mais precisam de ajuda. Nossa jornada Eu sei o quão frustrante essa jornada pode ser, pois a vivi em primeira mão. Quando fundei a Qulture.Rocks, tive um palpite, que mais tarde seria confirmado, de que as metas devem ser parte integrante do kit de ferramentas de gestão de uma empresa. Por isso, construímos nosso produto, que leva o mesmo nome, para incluir metas juntamente com avaliações de de- sempenho, feedbacks e reconhecimento contínuos e reuniões one-on-one entre gestoras e seus lideradas. Minha convicção da importância das metas logica- mente me levou a implementá-las na Qulture.Rocks (um dos nossos principais princípios de trabalho é eat our own cooking, ou coma o que cozinhamos, às vezes chamada de dogfooding nos EUA). Assim, desde os primórdios da nossa organização vimos nos aperfei- Prefácio iii çoando no uso de metas na gestão. Também mais ou menos na mesma época do nasci- mento da Qulture, eu aprendi sobre as OKRs e como elas pareciam ser a resposta para todos os problemas causados pelas metas tradicionais, percebidas como muito complexas, burocráticas e ineficazes. Então, decidi que nosso foco aqui na Qulture.Rocks seria usar - e oferecer aos nossos clientes - a gestão por metas tipo OKRs. Logo depois, veio a frustração: quando fomos de fato planejar a execução da nossa estratégia com OKRs, vimos que tinha muita coisa que ainda não sabíamos sobre a metodologia. Parecia que a cada nova OKR que escrevíamos ou desdobrávamos, pipocavam duas ou três perguntas inéditas nas nossas reuniões, para as quais francamente não havia resposta na internet ou nas páginas dos livros. Logo depois veio Measure What Matters, livro do ven- ture capitalist americano John Doerr, que eu espe- rava que fosse o guia definitivo para as OKRs. O livro provocou uma explosão de interesse no assunto. Eu tinha muitas colegas empreendedoras vindo até mim Prefácio iv durante nossa aceleração na Y Combinator, livro em mãos, para dizer o quão bons as OKRs pareciam ser, já que nas palavras de Doerr, eles eram o “segredo por trás do crescimento do Google”. Eles também vinham com muitas perguntas, sabendo que eu era o “especialista” em OKRs. O livro tinha feito, como disse, um trabalho incrível em atrair o interesse das empreendedoras, mas deixou muitas brechas que co- locariam em risco uma tentativa de implementar as OKRs em suas startups. Foi ali que decidi escrever este livro. Percebi que tí- nhamos que preencher essa lacuna e ajudar a capaci- tar organizações em todo o mundo para implementar as OKRs de verdade. Para escrever o livro, eu tive que ler, basicamente, tudo o que já foi escrito sobre OKRs no mundo, e isso não foi suficiente. Depois fui procurar as origens da metodologia, que estavam enraizadas noManagement by Objectives, no Hoshin Kanri e Teoria da Definição de Metas, ou Goal Setting Theory. Nessa fase, li autores como Cristina Wodtke, Ben La- morte, Paul Niven, John Doerr, Dan Montgomery, Prefácio v Laszlo Bock, entre muitos outros, e a sensação de vazio persistiu. Havia, de um lado, muito conteúdo sobre as maravilhas das OKRs e, em de outro, muito pouco detalhe tático e prático sobre como elas de- veriam ser usadas. Algumas exceções, como Radi- cal Focus, até desciam no nível tático, mas focavam unicamente na realidade de pequenos times, como startups em busca do tão falado product/market fit, realidade essa que é muito diferente em uma empresa em grande crescimento. Eu não desisti e fui além: comecei a procurar onde tudo tinha começado. Encontrei um “elo perdido” em autores como Michelle Bechtell, Jorge Odiorne, Yoki Akao, Vicente Falconi, Thomas Jackson, Randy Kesterson e Pete Babich. E ao olhar para esses auto- res muitas vezes ignorados, encontrei respostas para muitas das perguntas que estavam me assombrando. Fechar essas lacunas fez toda a diferença. Os sinto- mas desapareceram rapidamente: usar as OKRs na Qulture.Rocks tornou-se muito mais divertido e efi- caz, e comecei a sentir que estávamos finalmente fa- zendo um bom trabalho em planejar nossa estratégia e executá-la com excelência. Prefácio vi Por que outro livro sobre OKRs? Depois de ver em primeira mão quão incrível as OKRs poderiam ser em nossa própria empresa, decidi levar esse conhecimento para outras empresas, e que me- lhor maneira de fazer isso do que escrever um livro sobre o assunto (pelo menos para mim, que adoro escrever)? Eu tinha um grande objetivo ao olhar para um arquivo de Word em branco: ajudar as empresas em fase de crescimento a implementar OKRs. Eu também sabia que nosso livro não seria, provavelmente, o primeiro contato que nossos leitores teriam com a metodologia - chegariam a John Doerr ou a algum outro autor muito antes de chegar ao nosso livro. Então, decidi focar em lacunas e contradições que acho que esses autores deixam na cabeça de quem os lê. Essas contradições surgiram basicamente da baixa qualidade dos exemplosusados por esses autores, como o site re:Work do Google, e pela falta de pro- fundidade em explicar como realmente implementar OKRs em uma empresa com várias equipes, camadas Prefácio vii de gestão, etc. Algo mais aprofundado, com exemplos mais relevantes. Eu realmente espero que você goste deste livro e que ele ajude sua organização a alcançar sua missão!!! -Francisco S. Homem de Mello Fundador e CEO, Qul- ture.Rocks São Francisco, 18 de janeiro de 2019 1. Introdução “As OKRs nos ajudaram a multiplicar nossa empresa em muitas, muitas vezes” - Larry Page “Se você não sabe para onde está indo, você provavel- mente não chegará lá” - Yogi Berra “Visão sem execução é apenas alucinação” - Thomas Alva Edison As OKRs são uma poderosa ferramenta de gestão que vem ganhando espaço entre empresas inovadoras nos setores de tecnologia, varejo e até em organizações sem fins lucrativos. Algumas das mais ilustres são Google, Dropbox, Twitter, a Fundação Gates, e tam- bém empresas mais tradicionais como AB Inbev e Disney. Este livro funciona como um guia prático para enten- der o que são OKRs e como aplicá-las em sua empresa. Introdução 2 O que são OKRs? A sigla “OKRs” significa “Objectives and Key Results” (ou Objetivos e Key Results, ou Resultados-Chave). Para fins de simplicidade, vamos adotar, daqui pra frente, os termos “Objetivos” e “Key Results” para nos referirmos aos componentes de uma OKR. As OKRs são uma ferramenta para orientar e executar a estratégia de uma organização. A empresa define Objetivos e Key Results para si, para os times que a compõe e, em alguns casos, para os indivíduos que compõe os times. Em alguns aspectos, OKRs seguem a mesma lógica das metas “tradicionais”, baseadas no Balanced Sco- recard, no Hoshin Kanri, ou até na Gestão pelas Di- retrizes de Vicente Falconi. Em outros aspectos, que vamos explorar mais à frente, elas são diferentes, e essas diferenças as tornam mais eficazes para os desafios de negócio das empresas e dos profissionais de hoje em dia. Uma OKR é um conjunto de um Objetivo e n Key Results. Introdução 3 O Objetivo é o resultado do negócio que precisa ser alcançado e deve ser escrito em termos qualitativos (ou seja, sem números associados). Os Key Results são a combinação de um KPI, ou indi- cador-chave, um valor base, que deve ser o atual (no começo do ciclo), e um valor alvo, que é a meta a ser atingida. Como pode-se ver, há grande semelhança entre um Key Result e uma meta S.M.A.R.T. (um acrô- nimo para específicas, mensuráveis, atingíveis, rele- vantes e temporais). Os Key Results devem “provar” se o Objetivo foi al- cançado. Um bom OKR deve ser construído de tal forma que, se todos os Key Results são alcançados, você deve se sentir seguro de que o Objetivo foi alcançado. Eles devem servir como prova da realização do Objetivo. Alternativamente, se você sentir que o seu Objetivo ainda não foi alcançado, mesmo que todos os Key Results tenham sido alcançados, houve um problema com seus Key Results. Você pode usar um a frase muito simples para ajudar a formar uma OKR correta: Introdução 4 “Nós vamos _ _ _ _ _ _ _ , e vamos saber se fomos bem sucedidos se atingirmos _ _ _ _ _ _ , _ _ _ _ _ _ , _ _ _ _ _ _ “. A primeira lacuna é preenchida pelo seu Objetivo e a segunda, terceira e quarta são preenchidas pelos Key Results. Vamos usar um exemplo para ilustrar nossa defini- ção: • Objetivo: Aumentar a rentabilidade da empresa • Key Results: i) Lucro líquido da empresa de R$ 100 milhões, e ii) Margem de lucro líquido de mais de 7% Como as OKRs pertencem a ciclos, se não houver uma data-limite explícita, você deve assumir auto- maticamente que a data-limite é o final do ciclo ao qual as OKRs pertencem. Ciclos de OKRs geralmente duram 3 meses, período dentro do qual as OKRs são planejadas, monitoradas e avaliadas. Ao fim de cada ciclo, inicia-se automaticamente um novo ciclo. Voltando ao nosso exemplo, se preenchermos as la- cunas, nós teremos: Introdução 5 “Nós vamos aumentar a rentabilidade da empresa, e vamos saber se fomos bem-sucedidos se atingirmos lucro líquido da empresa de R$ 100 milhões e margem de lucro líquido de mais de 7%. Introdução 6 Por que usar OKRs na gestão da sua empresa? As OKRs são uma ferramenta de gestão que traz mui- tos benefícios para qualquer empresa que as use da maneira correta. Vamos ver quais são alguns desses benefícios: Foco e priorização OKRs forçam as organizações (e times e indivíduos) a priorizar os resultados de negócios mais importantes em um determinado período (por exemplo, no pró- ximo trimestre), e reverberar esse foco e priorização por toda a organização. O efeito de foco das OKRs é bem documentado e pes- quisado, especialmente através do trabalho do acadê- mico do americano Edwin Locke. Alinhamento As OKRs nascem da missão e da visão da empresa em um processo de alinhamento e desdobramento que Introdução 7 tem a função final de fazer com que todos saibam em qual direção devem remar, aqui e agora. Este processo de alinhamento acontece em duas dimensões: atra- vés do tempo e através da organização. A organização cria suas OKRs estratégicas alinhadas à sua missão e à sua visão. Em seguida, cria suas OKRs anuais alinhadas às suas OKRs estratégicas. Isso as alinha no aspecto temporal. Dentro de um mesmo ciclo, diferentes pessoas e equi- pes dentro da organização também alinham suas OKRs umas com as outras. VPs criam suas OKRs em alinha- mento com as da empresa. As diretoras criam suas OKRs em alinhamento com as VPs. Squads criam suas OKRs em alinhamento com as OKRs de unidades de negócios (ou até tribos). Isso as alinha no aspecto organizacional. O benefício do alinhamento é reforçado pelo fato de que as OKRs são públicas por padrão. Dependências e conflitos podem ser prontamente identificados, dis- cutidos e resolvidos. Introdução 8 Motivação Está cientificamente provado (vamos falar bastante de Edwin Locke mais à frente, acadêmico que já es- tudava o efeito das metas no trabalho muito antes do termo “OKR” existir), que metas difíceis, mas alcan- çáveis aumentam a motivação de um indivíduo em relação a uma tarefa. Como as OKRs são menos diretamente vinculadas à remuneração das colaboradoras de uma empresa (são uma ferramenta de gestão, e não de remuneração, e falaremos sobre isso mais tarde), apoiar OKRs ambi- ciosas é possível, e até encorajado. Vale observar que essas OKRs mais ambiciosas são chamadas de roofshots ou moonshots. Vicente Falconi, guru da administração brasileira, re- laciona metas difíceis ao engajamento das colabora- doras quando diz que “do ponto de vista das pessoas envolvidas, a meta deve estar acima de sua capaci- dade de alcançá-la, de modo que elas devam aprender e crescer no processo de atingi-las.” Introdução 9 Cultura As OKRs são uma ferramenta muito poderosa para solidificar uma cultura de execução e orientação para resultados em qualquer organização. Talvez 9 entre 10 empresas tenham, entre suas com- petências corporativas, valores ou diretrizes estraté- gicas, alguma variação de “foco em resultados”. Mas o que isso significa na prática? Em nossa opinião, uma profissional orientada para resultados sabe claramente a diferença entre um es- forço e um resultado. Vamos olhar para alguns esfor- ços e resultados que são frequentemente confundi- dos: • Fazer reuniões de vendas (uma ou 50) é um es- forço. Fechar uma venda é um resultado. • Implementar um sistema ERP é um esforço. Re- duzir erros contábeis é um resultado. • Construir uma nova funcionalidade no carrinho de compras é um esforço. Aumentar a taxa de conversão é um resultado. Introdução 10 A relação entre esforços e resultados é sempre re- lativa. Para ilustrar isso, vamos pensar em futebol. “Correr mais rápido” é um resultado do esforço “trei- nar”, mas “correr mais rápido” também é um esforço para o resultado “marcar mais gols”. E “marcar maisgols” é um esforço para “vencer o jogo”. As OKRs devem acompanhar os resultados relativos à pessoa ou equipe que os possui. Assim, se uma equipe de produto trabalha exclusivamente no carrinho de compras de um site de e-commerce, seu Objetivo será algo como “melhorar as taxas de conversão do carrinho de compras” e o seu Key Result será algo como “taxa de conversão entre itens adicionados ao carrinho para compras realizadas de 5%”. Com mais clareza sobre o que são esforços e o que são resultados, a cultura da empresa se torna menos po- lítica e menos subjetiva, e mais focada em resultados! Introdução 11 Por que as OKRs são diferentes das metas tradicionais? OKRs, em sua atual aplicação no Vale do Silício, são diferentes de metas nos seguintes aspectos: • Elas não são definidas apenas de cima para baixo: as OKRs devem ser definidas tanto de baixo para cima como de cima para baixo. Na prática, as colaboradoras assumem um papel mais ativo no processo. • Elas estão menos diretamente ligadas à planos de remuneração variável, como bônus por de- sempenho (falaremos mais sobre isso em breve). • Elas são executadas em ciclos mais curtos de 3, 4 ou 6 meses. • Elas são públicas por padrão. Isso significa que as OKRs confidenciais são a exceção e não a regra (as relacionadas a fusões e aquisições ou downsizing são alguns exemplos de OKRs privadas). 2. Uma breve história das OKRs OKRs são metas: velhas amigas do mundo dos ne- gócios, renomeadas e adaptadas às necessidades dos profissionais e das empresas de hoje em dia. Acredita-se que tudo começou com os pais da ad- ministração, Taylor e Fayol, que começaram a en- carar a prática da gestão empresarial como ciência. Eles foram pioneiros na medição dos tempos e mo- vimentos dos trabalhadores de linhas de produção, correlacionando essas medidas com a produtividade (basicamente a produção por colaborador) e, em se- guida, formulando hipóteses sobre como melhorar esses resultados. É assim que descobriram efeitos interessantes como o tempo de descanso ideal para trabalhadores de uma dada fábrica, ou onde um equi- pamento deve ser alocado em relação ao trabalha- dor para o alcance ideal, e até mesmo os melhores Uma breve história das OKRs 13 esquemas de iluminação da linha de produção que minimizassem a quantidade de erros e desperdício de materiais. Em 1916, Fayol já propunha o uso de metas na ges- tão, segundo William LaFollette, em seu artigo The Historial Antecedents of Management by Objectives, di- zendo que “… em 1916, Henri Fayol identificou cinco funções da gestão: planejamento, organização, co- mando, coordenação e controle. Fayol considerou que a função de planejamento consistia em visualizar o fim desejado (isto é, o objetivo ou meta), o plano de ação a ser seguido e os métodos a ser usados”. Uma breve história das OKRs 14 Mace e a definição de metas Por volta de 1935, um homem chamado Cecil Alec Mace conduziu a primeiros experimentos que pro- varam que as metas melhoravam o desempenho de trabalhadores. Mace nasceu em 22 de julho de 1894 em Norwich, Grã- Bretanha. A paixão inicial de Mace era a teologia, e ele realmente foi a Cambridge com o intuito de se or- denar, mas acabou cursando ciências morais na uni- versidade. Enquanto em Cambridge, Mace fez muitas matérias de psicologia (com mentores e tutores como G.E. Moore, C.S. Meyers e G.F. Stout), e mergulhou no campo da psicologia experimental, que definiria sua carreira. Em 1935, Mace realizou o primeiro estudo experi- mental de definição de metas e nos anos seguintes descobriu muitos dos princípios básicos que hoje são ensinados no assunto. Suas descobertas estão abso- lutamente alinhadas com descobertas mais recentes, como as de Garry Latham e Edwin Locke: Uma breve história das OKRs 15 • Em primeiro lugar, o desempenho é dependente da existência de metas. • Em segundo lugar, metas podem ser atribuídas a indivíduos e, a menos que sejam muito difíceis de alcançar (irrealistas), serão aceitas como suas pelos referidos indivíduos. • Em terceiro lugar, metas podem ser atribuídas para uma variedade de resultados: para qualquer critério de desempenho que possa ser medido, uma meta pode ser definida. • Em quarto lugar, uma meta rígida e específica levará a incrementos maiores no desempenho do que uma instrução pouco específica, do tipo “faça o seu melhor”. • Em quinto lugar, as metas aumentam o desem- penho menos através da intensificação de es- forço e mais através do prolongamento do es- forço. • Por último, em sexto lugar, na ausência de mo- tivação intrínseca por parte do colaborador o de- sempenho será pior se não houver metas. Mace também descobriu que, para que as metas fos- sem eficazes, indivíduos precisavam de feedback cons- Uma breve história das OKRs 16 tante sobre seu desempenho em comparação com as metas em questão, e eventuais discrepâncias entre desempenho e meta. Ou seja, de nada adiantava uma meta sem que ela fosse acompanhada de perto. Ainda hoje é muito recorrente a busca pelo entendi- mento do que motiva indivíduos no trabalho (o as- sunto de livros extremamente populares como Drive, de Daniel Pink, e Payoff, de Dan Ariely). É muito inte- ressante notar que Mace já estava chegando em con- clusões muito semelhantes décadas atrás. De acordo com Mace, *“A doutrina tradicional tem sido simplista. O erro dos sábios do mundo, que gostam de dizer que ‘o único incentivo efetivo é o dinheiro’, não é que eles ignoram outras fontes de motivação como essa: o erro é que eles não conseguem observar a complexidade desse motivo em si. Nós todos amamos dinheiro, mas nós amamos mais pelo que ele nos permite fazer. Para alguns, isso pode significar cerveja e circo, para ou- tros significa maior segurança, ou melhor oportuni- dade para os filhos, ou maior oportunidade para pro- mover um projeto social. A teoria do dinheiro como motivador não é ruim para começar, mas é apta a Uma breve história das OKRs 17 abafar o pensamento precisamente no ponto em que ele deve começar”. * Depois de Mace vieram muitos estudos sobre o efeito da definição de metas no desempenho de uma tarefa. O assunto seria mais tarde desenvolvido definitiva- mente por Locke e Latham, que acabariam escre- vendo a bíblia sobre o assunto. Uma breve história das OKRs 18 Peter Drucker, George Odiorne e MBO Na década de 1950, Peter Drucker, que se acredita ser o maior guru da administração de todos os tempos, articulou, em um de seus livros, que metas poderiam ser uma ótima maneira de medir o desempenho de gestores, uma nova geração de trabalhadores que es- tava surgindo na economia dos EUA. Drucker concluiu que os gestores devem definir me- tas em torno de melhorias de produtividade e outros resultados mensuráveis, verificar o desempenho em relação a essas metas de tempos em tempos e entrar em um processo de melhoria contínua. Ele o chamou de Management by Objectives and Self- Control, ou “MBO”, um conceito introduzido no livro The Practice of Management (ninguém sabe ao certo quem usou o termo “MBO” pela primeira vez, mas é amplamente entendido que foi Drucker. Por outro lado, Drucker afirma ter ouvido pela primeira vez o termo de Alfred Sloan, da General Motors). Na época, uma das empresas mais proeminentes a Uma breve história das OKRs 19 adotar a metodologia MBO foi a HP. Outros prati- cantes foram a General Mills, a DuPont e a General Electric. Drucker via o MBO como uma filosofia de gestão. De acordo com ele, em The Practice of Management, “… o que a empresa precisa é de um princípio de gestão que dará amplitude total à força individual e responsabilidade e, ao mesmo tempo, dará direção de visão e esforço em comum, estabelecerá o trabalho em equipe e harmonizará as metas do indivíduo com o bem-estar comum. O único princípio que pode fazer isso é o MBO”. Ao contrário do que é amplamente dito por aí, no MBO, mas metas não deveriam ser definidas de cimapara baixo, nem serviriam para controlar as pessoas de maneira mecanicista. Novamente, de acordo com Drucker, e a ênfase aqui é minha, “[MBO] exige que cada gerente desenvolva e defina os objetivos de sua unidade. A administração superior deve, obviamente, reservar o poder de aprovar ou desaprovar esses ob- jetivos. Mas seu desenvolvimento é parte da respon- sabilidade de um gerente; na verdade, é sua primeira responsabilidade. Significa, também, que todo ge- Uma breve história das OKRs 20 rente deveria participar responsavelmente no desen- volvimento dos objetivos da unidade superior da qual faz parte. “Dar a ele um senso de participação” (usar uma frase de estimação do jargão das “relações hu- manas”) não é suficiente, e “A maior vantagem da gestão por objetivos é, talvez, que torna possível para um gerente controlar seu próprio desempenho. O au- tocontrole significa motivação mais forte: o desejo de fazer o melhor em vez de apenas o suficiente para “sobreviver”. Isso significa metas de desempenho mais altas e uma visão mais ampla. Mesmo que a gestão por objetivos não fosse necessária para dar à empresa a unidade de direção e esforço de um time de gestão, seria necessário viabilizar a gestão pelo autocontrole. O trabalho de Drucker não se aprofundou nas especi- ficidades de como aplicar o MBO a uma organização. Esse trabalho foi feito, em parte, por seus alunos, como George Odiorne, que passou a escrever livros sobre o assunto e consultar muitas grandes empresas nos EUA. Uma breve história das OKRs 21 Hoshin Kanri, ou Policy Deployment Por volta dos anos 50, no Japão pós-guerra, W. Edwards Demming e os industriais japoneses estavam desen- volvendo maneiras de aumentar a qualidade dos pro- dutos do país, aprimorando seus processos de fabri- cação. Demming havia sido enviado ao Japão pelo governo americano para ajudar a reconstruir aquela economia, que havia sido devastada pela Segunda Guerra Mundial. Foi daí que nasceram metodologias como o TQC - Total Quality Control - e o Toyota Way. No Japão, algo derivado do MBO foi desenvolvido, e não se sabe ao certo o grau de influência que a teoria de Drucker, Odiorne, et. al., teve nessa vertente ocidental das metas. A ela deu se o nome de Hoshin Kanri, ou Policy Deployment, na tradução mais co- mum para o inglês, uma metodologia que fazia parte da gestão pela qualidade total e, por meio de seu pro- cesso as metas, ou hoshins, eram desdobradas anu- almente por toda a organização. A propósito, como falamos há pouco, acreditamos que a literatura sobre o Hoshin Kanri é fundamental para qualquer empresa Uma breve história das OKRs 22 que queira se tornar um excelente praticante da OKR. Desde a introdução dos MBOs e do TQC, praticamente todas as empresas modernas são gerenciadas usando alguma vertente de metas. Algumas empresas defi- nem metas anuais; outras fazem duas vezes ao ano. Outras vinculam as metas ao pagamento de bônus; outras executam algum tipo de avaliação de desem- penho com base no alcance das metas. Uma coisa, no entanto, é mais comum a praticamente todas as empresas: uma relação bastante próxima (ainda que mais na teoria do que na prática) entre as metas e a remuneração dos colaboradores. Uma breve história das OKRs 23 Andy Grove e Intel: iMBOs O termo “OKRs” foi cunhado, até onde se sabe, por Andy Grove, o nome ocidental de András István Gróf, um imigrante húngaro. Grove foi CEO da Intel por mais de 10 anos, escreveu livros de negócios de su- cesso, como High Output Management e Only the Pa- ranoid Survive, e mais tarde ensinou estratégias para empresas de alta tecnologia em Stanford. Na Intel, a gestão de metas se chamava “iMBO” ou “Intel Management by Objectives” (referindo-se ao termo MBO, de Drucker). Todos na equipe do escritó- rio participaram, estabelecendo metas SMART anu- ais e trimestrais. Na Intel, os colaboradores também eram encorajados a acoplar planos de ação às metas, e Grove chamava as ações individuais do plano de “key results”. A metodologia era inclusive ministrada em um curso de integração de novos colaboradores, com o título de Intel’s Organization, Philosophy, and Econo- mics. É curioso que, ao contrário do que se acredita no Vale do Silício, crença essa multiplicada por quem re- Uma breve história das OKRs 24 pete cegamente informações imprecisas sem a devida checagem de fatos, Grove não trouxe nenhum insight transformacional para as metas. Sua única inovação, que já era amplamente praticada no Hoshin Kanri, eram os planos de ação junto das metas, e o nome que deu a eles. Na opinião de Grove, os key results eram ‘marcos’ que levariam alguém a atingir suas metas: uma meta de “Dominar o negócio de componentes de micro- computadores de médio alcance” (as traduções são sempre minhas) seria seguida, por exemplo, por um key result para “ganhar novos projetos para o 8085”. Grove enfatizou que os key results devem ser men- suráveis, e todos os seus exemplos se assemelham a esforços ou resultados, como parte de um plano de ação, e não se parecem com resultados reais. Outra suposta contribuição de Grove para a OKRs foi sua crença de que as metas, chamadas de objetivos, e as ações, chamadas de key results, devem ser definidas em um processo bidirecional: de cima para baixo, mas também de baixo para cima, partindo do próprio colaborador, de modo a trazer comprometimento e engajamento para o processo. A prática estava longe Uma breve história das OKRs 25 de ser um conceito novo, como vimos há pouco, mas estava parcialmente perdida em grandes empresas americanas, o que impulsionou as metas serem “im- postas”, ou “cascateadas”, por toda a organização, do Conselho ao CEO, do CEO aos vice-presidentes e assim por diante. Grove incentivou os funcionários da Intel a definir seus objetivos de acordo com os objetivos da empresa e depois calibrá-los com seus gerentes (exatamente, vale dizer, o que sugere o livro de Vicente Falconi, Gestão Pelas Diretrizes). Por último, mas não menos importante, Grove insis- tiu que as OKRs fossem ambiciosas, o que significava serem difíceis de alcançar, e o que chamava de stretch goals. Uma breve história das OKRs 26 John Doerr e a ida das OKRs para o Google No final dos anos 90, as OKR se espalharam para outras empresas do Vale do Silício pelas mãos de John Doerr, sócio da Kleiner Perkins (agora KPCB), uma das firmas de venture capital mais respeitadas do mundo. Doerr trabalhou na Intel, sob a liderança indireta (e distante) de Grove, e usou iMBOs como todo colaborador da Intel usava. Mais tarde, ele di- fundiu a metodologia para algumas de suas empresas de portfólio na Kleiner Perkins, das quais a mais im- portante foi uma startup fundada por dois estudantes de doutorado de Stanford, que criaram um excelente mecanismo de busca na web. Essa empresa era o Google. No Google, as OKRs assumiram diversas formas e conquistaram fama mundial. Larry Page, cofundador do Google, afirma que “OKRs … ajudaram a levar o [Google] ao crescimento de 10x, repetidas vezes. Eles ajudaram a tornar a missão louca do Google de ‘orga- nizar as informações do mundo’, talvez até viável … e Uma breve história das OKRs 27 mantiveram eu e o resto da empresa no timing certo e no caminho certo quando mais importava.” O Google opera sob um estilo de OKRs bastante pouco padronizado. Além dos vendedores, que têm metas que são definidas de forma mais tradicional e de acordo com o orçamento da empresa, a maioria das outras equipes, como produto e engenharia, está livre para usar OKRs como quiserem. Isso leva, naturalmente, a diferentes graus de homogeneidade e eficácia na prática. Em comum com todos esses ‘sabores’, lá as OKRs são tratadas mais como uma ferramenta de gestão de desempenho de RH do que como uma fi- losofia de gestão. Elas são classificadas no final de cada ciclo de gestão de desempenho em uma escala de cinco pontos (0.0, 0.3, 0.5, 0.7 e 1.0). A opiniãode Laszlo Bock, ex-VP de gente da empresa, sobre como as OKRs devem ser planejadas no Google dá uma boa ideia de por que os usuários do Google usam OKRs de forma tão frouxa: “Ter objetivos melhora o desempenho da empresa. Gastar horas e horas cascateando metas precisamente por toda a organização não. Demora muito tempo e é muito difícil garantir que todos os objetivos se ali- Uma breve história das OKRs 28 nhem perfeitamente. No Google, temos uma aborda- gem baseada no livre-mercado, onde, com o tempo, nossos objetivos convergem, porque as principais OKRs da empresa são conhecidas por todos e as OKRs de todos são visíveis aos outros times e indivíduos. Equi- pes que estão totalmente fora de alinhamento se des- tacam negativamente, e as poucas iniciativas im- portantes que tocam a todos são fáceis de gerenciar diretamente.” As OKRs foram amplamente adotadas no Vale do Si- lício, um fenômeno que pode ser atribuído à fama e ao sucesso do Google como empresa. Mas há muito pouco consenso sobre como as OKRs devem real- mente ser implementadas, ou até mesmo qual a mor- fologia correta de uma OKR. Essa é a parte da história das OKRs que gostaríamos de corrigir. 3. OKRs e ciência Metas (e OKRs) são usadas em organizações para dois principais objetivos: o primeiro é gerencial: motivar e alinhar os colaboradores, e o segundo é de gestão da remuneração: avaliar o seu desempenho para poder tomar melhores decisões de gente. Explico: o senso comum - e a ciência - diz que metas motivam os colaboradores a obter mais e melhores resultados. O atingimento de metas, por outro lado, que é, na prática, quantos por cento da meta foram atingidos, tem sido usado historicamente como sinô- nimo de desempenho: quem atingiu 100% de uma meta teve um desempenho melhor do que quem atin- giu 70%. Esse foco menor nos efeitos motivacionais das metas é um desperdício. Pensando nisso, achamos que faria sentido rever brevemente a teoria por trás do uso das metas no ambiente de trabalho, conhecida nos EUA por Goal Setting Theory, ou GST. Acredito que mais OKRs e ciência 30 conhecimento sobre o que há de científico sobre o tema pode ser muito útil para qualquer praticante de OKRs. Para escrever esse capítulo, me baseei no livro New Developments in Goal Setting and Task Performance, de Garry Latham e Edwin Locke, que é, sem dúvida, o maior e melhor compêndio do mundo no tema das metas e seu efeito no desempenho de humanos. OKRs e ciência 31 A teoria por trás das metas: a GST De acordo com o GST, metas têm três grandes efeitos: Foco Presumindo que as metas foram estabelecidas de acordo com as estratégias de longo, médio e curto prazo da empresa, com base em inúmeras metodologias como BSC, Hoshin Kanri, etc., as metas ajudam a empresa a concentrar esforços, atenção e energia no que for mais relevante para o seu sucesso. De acordo com Johnson, Chang e Lord (2006), “metas direcionam a atenção dos indivíduos para perto de atividades re- levantes ao objetivo da organização, e para longe de atividades irrelevantes.” Está provado que “indiví- duos, tanto cognitiva quanto comportamentalmente, prestam mais atenção a uma tarefa que está associada a um objetivo do que uma tarefa que não está. OKRs e ciência 32 Esforço Outro efeito muito importante das metas é aumentar o nível de esforço que as pessoas exercem no seu tra- balho. Também está provado que “metas energizam e geram esforço para a realização de tarefas relacio- nadas a elas. Quanto mais agressiva a meta, maior o esforço.” Esta é uma equação complicada: uma meta muito difícil leva os colaboradores a ficarem desmoti- vados, e reduzirem seu esforço; mas uma meta muito fácil também leva os colaboradores a ficarem desmo- tivados e reduzirem seu esforço. Há um balanço ideal no meio termo: um nível certo de dificuldade, que leve as pessoas a se sentirem desafiadas, mas ainda com uma chance razoável de atingir suas metas. Isso oti- miza o desempenho, pois maximiza nossos esforços. Persistência A persistência, ou sustentação do esforço, é um efeito importante das metas e provavelmente o mais difícil de se obter no tempo. Bater metas nos leva a confiar mais no nosso taco, e assim a bater novas metas OKRs e ciência 33 no futuro; não bater metas tira nossa confiança, e assim reduz nossas chances de bater metas no futuro: “grandes discrepâncias negativas [entre a meta e o desempenho] podem levar a uma diminuição do es- forço quando os indivíduos são desencorajados e per- cebem baixa probabilidade de atingir metas futuras” (Carver & Scheier, 1998). Como veremos, existem fa- tores derivados que influenciam a persistência dos colaboradores em relação às metas. OKRs e ciência 34 Estabelecendo metas de forma correta Quando cientistas da GST pesquisam a eficácia das metas, muita atenção é dada ao modo como os in- divíduos se relacionam com elas, especialmente em relação a atingir ou não as atingir. Quando existem lacunas negativas, ou quando os indivíduos têm de- sempenho abaixo da meta, eles procuram atribuir as razões pelas quais as metas não foram atingi- das: “Quando os indivíduos enfrentam discrepâncias negativas no desempenho dos objetivos, ativamente buscam causas que justifiquem o desempenho, e as causas determinarão seus comportamentos no fu- turo” (vimos isso agora há pouco, quando falamos do efeito persistência). “Razões diferentes significam diferentes impactos sobre como esses mesmos indi- víduos encaram suas metas no futuro.“ Esse processo de justificativa interna é chamado pelos cientistas de “atribuição”. As atribuições são, portanto, um me- canismo motivacional importante que pode explicar sob quais circunstâncias os indivíduos persistem na busca de suas metas ou tentam reduzir suas metas. OKRs e ciência 35 Veja uma lista dos principais mecanismos de atribui- ção e como eles podem afetar a definição de metas futuras: Interno (próprio) e externo (lócus de causalidade) Se eu acho que atingi minhas metas por causa de minha própria competência, tentarei definir metas mais difíceis no futuro; alternativamente, se eu acho que não atingi minhas metas por causa de minha própria incompetência, tentarei definir metas mais fáceis no futuro. Estável e Instável Se eu achar que a razão pela qual eu não atingi minhas metas não vai mudar (isto é, o motivo, ou a condição, é estável), vou tentar definir metas mais fáceis no futuro, ao passo que se eu acho que a razão de eu não ter atingido o meu o objetivo foi algo pontual (ou seja, não estável), vou tentar definir metas mais difíceis. Então, se eu achar que foi pela minha falta OKRs e ciência 36 de esforço (menos estável), será melhor do que se eu achar que foi pela minha falta de competência (mais estável, ainda que relativamente). “Quando os indivíduos percebem a causa do fracasso é estável, e que, portanto, provavelmente permanecerá igual no futuro, eles provavelmente esperarão que o resultado (isto é, a falha em alcançar a meta) se repita”. Controlável e incontrolável Analogamente, se eu achar que a causa da minha falha em bater uma meta é por mim controlável, provavelmente eu vou continuar comprometido com ela, e renovar meu esforço no futuro. Por outro lado, se eu achar que as causas estão fora do meu con- trole, vou me desmotivar a bater a meta e a continuar comprometido com ela no futuro. ### Vinculada a metas e objetivos “maiores” “Ao tentar justificar a falha em atingir uma meta, um indivíduo pode ser mais propenso a continuar perseguindo suas metas quando a meta contribui significativamente para uma meta maior altamente valorizada. O indivíduo pode ser mais propenso a rever a meta quando o objetivo é tangencial à realização da meta superordenada”. Tro- OKRs e ciência 37 cando em miúdos, se eu entendo que a minha meta é relevante para a meta do meu time ou da minha organização, tendo a buscar a meta com mais vigor do que se achar que a meta é arbitrária ou poucoligada a algo maior. 4. O estado atual da gestão por metas Para saber como se faz OKRs bem, primeiro veremos como as empresas do índice Fortune 500, que aglo- mera as 500 maiores empresas dos EUA, costumam usar metas na sua gestão. Chamaremos essa aborda- gem de “gestão de metas F500”. Antes de tudo, a maioria dessas empresas gerencia metas em ciclos anuais, que começam e terminam junto com seus anos fiscais. O ciclo começa no início de cada ano fiscal, quando conselho da empresa es- tabelece metas para a empresa, que são geralmente as metas do CEO, baseadas majoritariamente em al- guma métrica financeira relevante para os acionistas, como lucro por ação ou até a valorização da ação na bolsa em que é negociada. Depois que a meta (ou as poucas metas) da empresa é definida, a empresa inicia o cascateamento das me- O estado atual da gestão por metas 39 tas pela organização. Na maioria das empresas (di- gamos, 98% das empresas), o processo de cascatea- mento é muito limitado. As metas de Vice Presidentes e unidades de negócio (BUs) tendem a ser cascateadas abaixo para os funcionários e equipes que têm resul- tados mais mensuráveis, como a turma de vendas, e o restante da empresa (ou seja, quem não é vende- dor, como as áreas de finanças, TI, marketing, RH e operações), estabelecem metas para fins de gestão de desempenho e, portanto, remuneração. Essas “metas de RH” são superficiais, de baixa qualidade e geral- mente misturam elementos de atividades, descrições de cargo e projetos - coisas como “entregar relató- rios no prazo”, “Cuidar muito bem dos clientes” e “implementar um novo sistema de gerenciamento de recrutamento e seleção”. Geralmente não há KPIs mensuráveis por trás da grande maioria das metas, nem distinção entre esforços e resultados de negócio. Dentro de um segundo grupo, que é pequeno (diga- mos, 2% das empresas), o processo de cascateamento das metas é mais rigoroso e totalmente centralizado. Algumas empresas têm uma equipe de business in- telligence que monitoram todos os KPIs corporativos O estado atual da gestão por metas 40 e tendem a ser “donos” do processo de definição de metas, centralizando o processo de planejamento. Nesse caso, os funcionários não sabem por que têm as metas que têm. Uma meta é apenas algo que foi empurrado unilateralmente para o colo deles. Em ambos os tipos de empresas, a definição de me- tas pode levar de 2 a 4 meses de um ano fiscal, o que deixa menos de 70% do ano, no máximo, livre para o trabalho real. No meio do ano fiscal, o RH põe em marcha um processo de revisão de meio de ano em que alguns funcionários podem alterar suas metas se houver algum fator exógeno ao seu controle que tenha as tornado irrelevantes. Deve-se notar, no entanto, que ajustar uma meta para baixo (ou seja, torná-la “menos difícil”), mesmo que com bons mo- tivos, é geralmente visto com maus olhos e desen- corajado. Portanto, a maioria das metas não muda, e todos respiram aliviados que ela não aumentou. Além disso, uma vez que as metas são fator decisivo para a remuneração variável de fim de ano, geralmente há regras muito rígidas em torno da mudança de metas de meio do ano (como múltiplas aprovações necessá- rias). O estado atual da gestão por metas 41 Metas > remuneração Na grande maioria das Fortune 500, o fim do ano fiscal marca o começo da fase de apuração de metas. As me- tas mais quantitativas, como aquelas de vendedores e executivos sêniores, geralmente são apuradas por alguma entidade centralizada da organização, como o time de controladoria ou BI. Em outras, cada um apura suas metas, mas elas passam por alguns graus de aprovação até que se “prove” que estão corre- tamente apuradas. Todo o preciosismo é bem justi- ficado: a remuneração variável do executivo ou dos executivos de uma dada área pode ser dependente do atingimento percentual de alguma meta. Um execu- tivo, por exemplo, pode ganhar remuneração variável diferente em função de se bateu 60%, 70% ou 100% de sua meta. Isso, claro faz com que o ciclo todo fique gravemente comprometido: ao perceber que seu bô- nus depende da porcentagem de atingimento de sua meta, um executivo ficará incentivado a usar de todos os meios possíveis para, no próximo ciclo, “contra- tar” a meta mais fácil possível de ser batida, e não a que for mais relevante para o negócio ou mais ambi- O estado atual da gestão por metas 42 ciosa dadas as suas capacidades. Falaremos bastante desse tema (a ligação direta e perversa entre metas e remuneração) mais à frente. Agora vamos falar sobre como as OKRs são diferentes da gestão de metas da Fortune 500. 5. O que é diferente nas OKRs OKRs são basicamente metas. Então, por que todo o fuzuê? Ótimo ponto. As OKRs são uma adaptação da prática tradicional de MBOs (Management By Ob- jectives) à realidade mais instável e competitiva das empresas de hoje em dia. O objetivo deste capítulo é explicar as principais diferenças entre o que você vê nas empresas da Fortune 500 (ou seja, entre as metas F500) e o que conhecemos como a forma correta de se fazer a gestão pelas OKRs. Em muitos aspectos, uma prática bem-feita de OKRs se assemelha ao que se lê nos livros de Gestão pela Qualidade Total e MBO dos anos 60, 70, 80 e 90, como os de George Odiorne, Michele Bechtell e Pete Babich. No entanto, a maioria das grandes empresas desfi- gurou a prática nesse ínterim e a deturpou para fins de gestão da remuneração dos seus colaboradores. O que é diferente nas OKRs 44 Acreditamos que essa deturpação é a raiz de tudo o que há de errado com as metas. Remuneração variável A principal diferença entre OKRs e metas F500 é o grau de ligação entre o alcance da meta (um número geralmente representado por uma porcentagem de 0% a 200%) e a remuneração do colaborador. Quando esse link é quebrado, surgem várias possibilidades que tornam as OKRs muito mais eficazes e envolven- tes. Como vimos agora há pouco, nessas organizações a porcentagem de atingimento da meta é input para uma fórmula que tem como output o valor do bônus do executivo ou colaborador. Se alcançar X% da meta, fará Y vezes o seu salário mensal/anual em forma de bônus. Algumas empresas costumam mesclar o % de atin- gimento da meta individual com o atingimento das metas do time do colaborador e até da empresa. Nes- ses casos, é dado um peso para cada um dos três componentes, de modo que, é esperado, o colabo- rador equilibre seus esforços com os interesses da O que é diferente nas OKRs 45 empresa e do seu time. Outra prática comum é que haja uma tabela de aceleradores para os diferentes níveis de atingimento possíveis para uma meta. Nes- ses casos, por exemplo, a empresa pode acordar que abaixo de um certo nível de atingimento, como 50%, o colaborador na verdade bateu 0% da meta; entre 50% e 120%, a relação pode ser linear, ou seja, 70% continuam sendo 70%; acima de 120%, o colaborador multiplica o percentual de atingimento por um fator de 1.2x, e no caso de ter atingido 120%, apuram- se 144% de atingimento para fins de remuneração. Como falamos acima, o grande problema desse vín- culo matemático entre metas e remuneração variável é a série de incentivos que gera nos colaboradores. O primeiro tipo, chamado de sandbagging, é quando o colaborador tenta negociar metas mais fáceis para si; com isso, deixa de definir as melhores e mais ambi- ciosas metas pois teme receber menos remuneração variável no fim do ciclo. O segundo tipo tem a ver com tentar bater a meta mesmo que bater a meta seja contra produtivo para o negócio. Imaginemos o caso de um vendedor, que para alcançar sua meta de volume de vendas, dá des- O que é diferente nas OKRs 46 contos exagerados aos seus clientes, efetivamente fazendo com que a empresa perca dinheiro nas ven- das. O terceiro tipo é uma extensão do segundo, e tem a ver com desvios éticos relacionados ao incentivo que o colaborador tem para trapacear na sua função parabater sua meta. No ano passado, a imprensa ameri- cana noticiou extensivamente o escândalo do banco americano Wells Fargo e de seus executivos, que es- tavam abrindo contas falsas em nome dos clientes e “vendendo” produtos sem o seu devido consenti- mento. Com as OKRs, a porcentagem de realização de um Objetivo ou de seus Key Results não importa muito. Os resultados reais alcançados, que são o nu- merador na conta de porcentagem de atingimento, são o que vale. Nas metas F500, por outro lado, é o quociente (porcentagem de conclusão de uma meta) que importa, servindo como uma aproximação para os resultados alcançados. Todas as seguintes diferen- ças, que podem ser contadas como vantagens das OKR sobre as metas F500, derivam desta quebra na relação direta e matemática entre metas e remuneração. O que é diferente nas OKRs 47 E a meritocracia? É importante notar que quebrar o elo matemático entre o atingimento de metas e a remuneração va- riável não faz uma empresa necessariamente menos meritocrática, e, portanto, OKRs não significam, de nenhuma maneira, o fim da meritocracia. Deixando a discussão sobre a remuneração variável à parte, quem mais contribui para os resultados da organiza- ção deve, em uma meritocracia, continuar recebendo uma parte maior dos seus recursos escassos, sejam estes aumentos, bônus, oportunidades, desafios ou benefícios. No entanto, o mérito de um dado colabo- rador não é dado por uma fórmula matemática redu- cionista, e sim pelo julgamento do seu gestor, cali- brado pelos seus colegas, gestores e área de RH, sobre a contribuição do colaborador para os resultados da empresa. Voltando aos méritos da remuneração variável, há quem defenda - e eu tendo a concordar com essa turma - que a remuneração variável tende a ser con- traproducente nas organizações. Mas não somos mai- oria. Empresas como a Netflix, por exemplo, com- O que é diferente nas OKRs 48 prometem-se a pagar uma remuneração top-of-mar- ket para todos os colaboradores, pois entende que é contraproducente tentar diferenciar a contribuição de cada um a cada semestre ou ano que passa. Assim, fazem-se pesquisas de mercado, e são ajustados os salários e pacotes de remuneração total de acordo, sem avaliação de desempenho, comitê de calibração ou metas. Em outras, como Facebook e Google, a remuneração variável é função de uma nota dada pelo gestor - e calibrada, como vimos antes - durante o processo bianual de avaliação de desempenho. Essa nota busca incorporar aspectos de desempenho, fit cultural entre outros fatores menos explícitos, ge- ralmente batizados sob o nome do “impacto” que o colaborador tem na organização. Os críticos da remuneração variável entendem que o dinheiro não é o grande motivador das pessoas; di- nheiro, um motivador extrínseco, teria menos efeito sobre a motivação dos colaboradores do que outros fatores intrínsecos, como uma missão grandiosa, fa- tor defendido por Dan Ariely, ou a possibilidade de uma ocupação que dê autonomia, propósito e senso de crescimento ao colaborador, fatores defendidos O que é diferente nas OKRs 49 por Daniel Pink. Ainda que esse não seja o tema primário deste livro, eu acredito que seja um tema de grande relevância na nossa discussão dos méritos da relação entre as me- tas e a remuneração variável. Acredito pessoalmente que os efeitos motivacionais defendidos por Pink e Ariely são de fato mais efetivos do que o dinheiro, e que os benefícios do uso do dinheiro como motivador são difíceis de domar e traiçoeiros. Empresas que esperam motivar seus colaboradores com “cenou- ras monetárias” acabam atraindo mais mercenários e menos missionários que realmente acreditam na causa; na média, isso faz com que menos gente na empresa goste de fato do que faz em relação aos que apenas estão lá pelo dinheiro; além disso, os bônus são frequentemente incorporados às expectativas de remuneração dos colaboradores, perdendo, de fato, sua característica variável, e se tornando uma grande fonte de frustração, quando vêm abaixo das expecta- tivas, e de relaxo, quando vêm acima, o que raramente acontece. Por fim, acredito que o uso da remuneração variá- vel como fator motivador é uma muleta gerencial, O que é diferente nas OKRs 50 frequentemente usada quando a direção da empresa falhou em motivar sua equipe pelos motivos certos, ou seja, não conseguiu dar senso de pertencimento e missão à organização, e/ou quando não possuem a disciplina necessária para acompanharem de perto os rumos da organização, o que também ocorre com frequência. Por exemplo, é muito mais fácil pagar bônus baixos a um colaborador que não vêm perfor- mando bem e esperar que ele saia da organização por vontade própria, do que de fato tratar o problema de desempenho de frente, e eventualmente até demitir o colaborador (presenciei isso pessoalmente na minha vida profissional inúmeras vezes). Que fique claro, há um outro argumento a favor da re- muneração variável que tem seus méritos mas que, a meu ver, parte das premissas erradas: vários empre- sários, mesmo entendendo que de fato a remuneração variável é incorporada às expectativas do colabora- dor, preferem esta à remuneração fixa pelo simples fato de terem a opcionalidade de não a pagar em caso de uma crise, mantendo assim “custos fixos” baixos, enquanto a remuneração variável é, de forma, um “custo variável”, dependente do resultado da em- O que é diferente nas OKRs 51 presa. No entanto, essa teoria põe todo o ônus de um eventual solavanco no caminho da organização no colo do colaborador. Ciclos curtos e cadências aninhadas Em seu nível mais fundamental, as OKRs são defi- nidas e redefinidas em ciclos mais curtos, variando de um a seis meses, enquanto as metas F500 tendem a ser executadas em ciclos anuais. As OKRs também ocorrem em cadências aninhadas: como você verá, o ciclo curto, que é a unidade fundamental do gerenci- amento das OKRs, e varia de 1 a 6 meses, dependendo da maturidade do negócio e da prática, está contido em ciclos anuais, que por sua vez estão contidos em ciclos estratégicos, de três a dez anos, assim como bonecas russas. Transparência As OKRs são públicas por padrão. Isso significa que a grande maioria das OKRs individuais e de equipes estará aberta para consulta por qualquer pessoa da O que é diferente nas OKRs 52 empresa. Exceções se aplicam a assuntos confiden- ciais como fusões, planos de redução de custos que podem implicar em demissões, etc. A transparência por padrão leva a mais alinhamento e comprometimento com as OKRs: alinhamento por- que as pessoas podem resolver conflitos e dependên- cias entre si e seus times mais aberta e rapidamente; compromisso porque as pessoas sabem como o seu trabalho afeta o todo, inclusive, e mais importante, as metas das quais a sua meta se desdobrou. De cima para baixo e de baixo para cima As OKRs são definidas de forma mais descentrali- zada, dando mais voz e participação às equipes e seus membros. Na gestão de metas F500, as metas tendem a ser im- postas de cima para baixo de maneira formal e rígida, por uma equipe de planejamento estratégico ou de business intelligence. Quem recebe as metas não tem voz no processo e, portanto, pode se sentir muito menos comprometido com elas. As OKRs, por outro lado, são mais envolventes: colaboradores são incen- O que é diferente nas OKRs 53 tivados a definir suas próprias OKRs de acordo com as metas de seus times, gestores e até da empresa, e depois discuti-las com seus gestores em busca de coesão e alinhamento. Mas cuidado: essa via de mão dupla não significa que o processo deva ser caótico ou pouco sincronizado: o alinhamento é muito im- portante e deve ser objetivo primordial do processo todo. É fundamental que todos remem na mesma direção, portanto autonomia não quer dizer que as pessoas possam escolher OKRs e projetos aleatórios sem coesão vertical e horizontal. Moonshots e roofshots Este é um assuntobastante polêmico. O Google defende que as OKRs sejam definidas de forma muito ambiciosa, de modo que atingir 70% delas exija muito esforço. Eles dizem que se um co- laborador atinge 100% de uma OKRs (ou dá a ela nota 1 - em breve, veremos mais sobre o sistema de gra- dação de OKR do Google), elas devem ter sido fáceis demais. Eles também dizem que algumas OKRs têm que ser ainda mais agressivos, o que eles chamam de O que é diferente nas OKRs 54 “moonshots”. Em primeiro lugar, acho que a questão dos 70% x os 100% é meramente semântica. Se 70% significa o esperado, ou algo como “alcançado com esforço razoável”, basicamente 70% se torna o novo 100%, e as pessoas simplesmente se ajustam a isso. Em segundo lugar, acho que um risco considerável da adoção de OKRs é a falta de comprometimento dos colaboradores com bater de fato suas OKRs. E acho que colocar moonshots e roofshots no jogo tende a aumentar a complexidade da metodologia e pode levar uma cultura onde seja aceitável não bater metas por padrão. Na minha opinião, deve ser evitado o con- ceito demoonshots e roofshots até que a empresa atinja muita maturidade na sua prática, momento este em que, alguns praticantes defendem, pode ser inserida na prática a figura de OKRs aspiracionais (como as moonshots e roofshots) que podem não ser atingidas, e as OKRs comprometidas, que devem ser atingidas com mais afinco. De qualquer forma, o que importa é que quando as OKRs são definidas de maneira menos diretamente ligada à remuneração, elas tendem a ser definidas de maneira mais agressiva, pois seus “donos” não O que é diferente nas OKRs 55 correm o risco de serem penalizados por um percen- tual de atingimento menor, e metas maiores, como provado por Locke e Latham (vimos isso há pouco), leva a um melhor desempenho et ceteris paribus. 6. OKRs e estratégia “Um dia, Alice chegou a uma bifurcação na estrada e viu um gato Cheshire em uma árvore. “Qual caminho eu sigo?”, perguntou ela. ‘Aonde você quer ir?’, foi a resposta dele. “Eu não sei”, respondeu Alice. “En- tão”, disse o gato, “não faz diferença!” -Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas Planejamentos estratégicos plurianuais podem pare- cer uma piada no mundo dos negócios acelerados de hoje em dia. Parece que nem podemos planejar 6 ou 8 meses à frente, quanto mais vários anos! Mas será possível operar sem um plano? Sem ter um norte? Achamos que algum tipo de plano ainda é essencial, um plano contra o qual as decisões possam ser toma- das. E achamos que as OKRs podem ser um compo- nente fundamental desse plano. Nossa estrutura de planejamento estratégico começa com uma missão inspiradora, que alinha toda a or- OKRs e estratégia 57 ganização em prol de um propósito. A partir dessa missão, são desdobradas uma visão concreta de três a dez anos no futuro, e OKRs que traduzam essa visão em Objetivos e Key Results mensuráveis. Essa visão e OKRs estratégicas são o que Jim Collins chama de Big, Hairy and Audacious Goals, ou BHAGs. Ato contí- nuo, a organização planeja seu ano seguinte, também em formato de visão e OKRs anuais. Por fim, chega- se aos ciclos curtos, de 1 a 6 meses, que funcionam da mesma maneira. Vamos a alguns exemplos ilus- trativos (usarei a Qulture.Rocks como exemplo pelo simples fato de ser uma organização que conheço de perto): • Missão: A empresa tem um propósito missioná- rio/visionário, que levará vários anos para ser al- cançado. Na Qulture.Rocks, nossa missão é aju- dar empresas e pessoas a atingirem e expandi- rem seus potenciais • Visão e OKRs estratégicas: Aqui as OKRs podem ser bastante “cabeludas”, mas com contornos mensuráveis. A partir da visão, que é mais inspi- radora e qualitativa, tentamos derivar Objetivos que devem ser atingidos para que a organiza- OKRs e estratégia 58 ção feche as lacunas entre sua realidade atual e sua visão; por fim, são escolhidos Key Results que, como vimos, provam se esses Objetivos fo- ram atingidos. Na Qulture.Rocks, nossa OKR de 5 anos é “aumentar nosso impacto globalmente” e seus Key Results são “mais de 1 milhão de pessoas usando nossos produtos e serviços” e “usuários em mais de 10 países”. Eles nos aju- darão a avaliar se estamos no caminho certo para alcançar nossa visão • Visão e OKRs anuais: com base na visão e nas OKRs estratégicas, a empresa define sua visão e suas OKRs anuais, que devem ser comunicadas pelo CEO a toda a empresa no início de cada ano fiscal. No caso da Qulture.Rocks, temos uma OKR anual relacionada ao nosso crescimento (de receita e número de clientes) • Visão e OKRs de ciclo curto: Por fim, a empresa, as equipes e seus colaboradores definem suas visões e OKRs de ciclo curto em ciclos de um a seis meses OKRs e estratégia 59 Missão e visão vi.são substantivo feminino: A capacidade de pensar ou planejar o futuro com imaginaçãoou sabedoria; uma ima- gemmental do que o futuro será ou poderia ser. -Dicionário Google “Se as pessoas não internalizarem a missão e a visão da organização, elas não as usarão para tomar decisões cotidianas e, se não as usarem em suas vidas diárias, todo o esforço terá sido em vão”. -Pete Babich Como leio muito conteúdo produzido no Vale do Silí- cio, fico impressionado com quão pouca clareza existe sobre o que deve ser uma missão e visão bem escri- tas, especialmente entre aqueles que escrevem justa- mente sobre o tema e sua importância. Então resol- vemos escrever um aparte sobre com que se parece uma boa missão e uma boa visão. OKRs e estratégia 60 Como os especialistas definemmissão e visão Os pundits (um termo americano para pessoas bem informadas que falam sobre um assunto, quase como especialistas) raramente concordam sobre o que uma grande missão ou visão realmente significam. Para começar, vejamos um dos artigos mais comentados sobre o assunto: Building Your Company’s Vision, de Jim Collins, que se tornou a ideia central por trás de Good to Great, o best-seller do autor. Na primeira linha do artigo, publicado na Harvard Business Review, Collins e seu coautor, Jerry Porras, escrevem: “Empresas que desfrutam de sucesso duradouro têm um propósito central e valores fundamentais que permanecem fi- xos enquanto suas estratégias e práticas continua- mente se adaptam a um mundo de mudança”. Ler isso já me confunde. Em um artigo sobre visão, o autor fala, na primeira linha, sobre propósito central e valores fundamentais, e não sobre visão. Eles os autores então tentam esclarecer um pouco o tema, e continuam dizendo que “[a visão] tem duas partes principais: a ideologia central e o futuro imaginado”. OKRs e estratégia 61 Não sei exatamente o que é uma ideologia central, mas imagino que isso tenha a ver com um propósito. Se for isso, Collins define visão como a soma de uma missão e uma visão. Vamos examinar isso um pouco mais à frente. Pesquisando “como construir a visão de uma em- presa”, encontramos um artigo no site da Openview Venture Partners, fundo de venture capital ameri- cano, escrito por Firas Raouf, CEO de uma das empre- sas do portfólio do fundo. Ele define a missão como “o que uma empresa está se esforçando para ser a longo prazo” e a visão como “como pode chegar lá”, per- guntando “que coisas precisam ser executadas para cumprir a missão?” Lembrando: este é um artigo em um dos blogs mais respeitados sobre venture capital e empreendedorismo do mundo, e faz mais para con- fundir o leitor do que resolver sua dúvida sobre que raios quer dizer missão e visão. OKRs e estratégia 62 Como as grandes empresas escrevem sua missão e visão Se os especialistas não nos ajudam muito, pelo me- nos na superfície, vamos tentar olhar para os sites de grandes empresas e ver se, na prática, a coisa melhora. Já adianto que não faremos grande pro- gresso. A missão do Google, encontrada em seu site, é “…organizar as informações do mundo e torná-las universalmente acessíveis e úteis”. Não há menção de haver uma visão. Se desdobrarmossua missão nos seus componentes, vemos que há uma primeira parte que fala sobre como o Google causa impacto no mundo (organizando as informações do mundo e facilitando o alcance). Depois, segue uma parte que fala sobre como o Google quer que o mundo pareça no futuro: “um mundo onde a informação é organizada e universalmente acessível e útil”. Por outro lado, quando procurarmos a missão da Ama- zon, achamos algo um pouco diferente. A empresa fala em “ser a empresa mais centrada no cliente da Terra, onde os clientes podem encontrar e desco- brir qualquer coisa que desejem comprar on-line e OKRs e estratégia 63 se esforçar para oferecer a seus clientes os menores preços possíveis”. A missão da Amazon é focada em o que a companhia quer se tornar (a empresa mais voltada ao cliente da Terra). Continua explicando com mais detalhes como isso se parecerá no futuro (onde os clientes podem encontrar muitas coisas de forma barata). Pelos sites, portanto, Google e Amazon falam apenas de missões, e não de visões. E se usarmos as duas empresas como inspiração, entendo que sairemos do exercício mais confusos do que educados sobre o que uma missão e uma visão são, e como devem se parecer quando bem-escritas. Na “velha economia” Se olharmos para a “velha economia” como refe- rência, seguimos confusos. A Koch Industries, por exemplo, define sua visão assim: “A Koch Indus- tries é uma empresa comercial, de investimentos e operacional que identifica e adquire agressivamente empresas nas quais pode alavancar nossas forças para gerar lucros ou valor de mercado superiores”. A sua missão é “A Koch Industries procura maximizar o OKRs e estratégia 64 valor presente dos lucros futuros. Isso oferece segu- rança e oportunidade para acionistas e funcionários produtivos, ao mesmo tempo em que beneficia os clientes e a sociedade…” Agora, desempacotar a missão e a visão de Koch é um longo caminho. Sua missão basicamente descreve em que negócio a empresa está (o negócio é comprar outras empresas a preços baixos). Sua visão, por outro lado, descreve o benefício que a empresa deseja tra- zer para seus stakeholders (segurança e oportunidade para acionistas e empregados, e benefícios menos explícitos para os clientes e a sociedade). Nossa definição Se você está se sentindo mais confuso do que quando começou a ler este capítulo, atingi o meu objetivo. Foi exatamente assim que nos sentimos quando ten- tamos entender como são as grandes declarações de missão e visão para articular as nossas próprias na Qulture.Rocks. Após esta longa jornada, que incluiu inúmeras outras referências, vamos mostrar a nossa definição: OKRs e estratégia 65 A missão, de um lado, é o propósito da organização. É porque que esta existe. Uma dica é pensar “Como o mundo seria impactado negativamente se nossa or- ganização deixasse de existir?” Na Qulture.Rocks, por exemplo, nossa missão te a ver com “ajudar pessoas e organizações a alcançar grandes realizações através de culturas incríveis e crescimento”. Na nossa de- finição, a missão do Google seria “organizar as in- formações do mundo e torná-las mais acessíveis”. A da Amazon já é um exercício mais difícil, mas eu chutaria, se fosse convidado a contribuir, algo como “inventar soluções que façam a vida dos nossos cli- entes melhor a cada dia”. A visão, de outro lado, é como o mundo (ou o país, no caso de empresas domésticas) será se a empresa cumprir sua missão. Aqui estamos falando de visões de super longo prazo, a que nos referimos quando falamos em “missão, visão e valores”, que são de- clarações atemporais, sem prazo de validade. Na Qul- ture.Rocks, nossa visão é “um mundo onde todas as organizações e seus colaboradores podem atingir seus potenciais”. Se fôssemos escrever uma visão para o Google, a partir do que temos, seria algo como “Um OKRs e estratégia 66 mundo onde todas as informações estão disponíveis e organizadas para utilidade da humanidade”. Centrada na empresa x centrada no cliente Outro aspecto interessante sobre escrever missões e visões é que a missão da companhia pode ser oti- mizada para o olhar de algum grupo de stakeholders específico, principalmente clientes, colaboradores ou acionistas. A missão do Google (ou a parte dela que parece uma missão da nossa definição) é centrada no cliente. Se um cliente a lê, imediatamente sente o impacto da empresa em sua própria vida. A missão das Koch Industries, por outro lado, é centrada nos seus acionistas, basicamente falando sobre como a empresa ganha dinheiro em termos muito práticos. Acreditamos que as missões devem ser o mais cen- tradas no cliente por natureza. Na Qulture.Rocks, por exemplo, não estamos falando de outra coisa senão do impacto que queremos ter no mundo. Se focarmos no cliente, nossos colaboradores automaticamente se sentirão inspirados, e clientes e colaboradores são, em minha humilde opinião, o que mais importa para OKRs e estratégia 67 a organização. O exercício de fazer uma missão ori- entada ao cliente também é extremamente útil pois sobe a barra do que definimos como aceitável em termos da redação da declaração: a barra é mais alta quando produzimos algo que seja ativamente comu- nicado para os nossos clientes, e isso servirá de exter- nalidade positiva para inspirarmos nossos colabora- dores. Outra boa diretriz é não mencionar sua linha de ne- gócios em suas declarações de missão e visão. Elas devem ser mais sobre o mundo e o cliente, e menos sobre como, especificamente, sua empresa buscará criar esse impacto. Se olharmos a missão do Airbnb, de fazer com que todos se sintam pertencentes a qualquer lugar do mundo, vemos que a empresa não fala nada sobre alugar quartos no apartamento dos outros, ou até sobre viagens. Essas são opções estra- tégicas de como a empresa entende, hoje, que poderá maximizar as chances de atingir sua missão/visão. OKRs e estratégia 68 Recapitulando A essa altura, espero que você tenha uma compreen- são melhor do que são boas missões e visões. Como vimos, uma missão é o propósito da organização. É por que ela existe. Um grande ajudante é pensar “como o mundo seria impactado negativamente se nossa empresa deixasse de existir?” A visão é como o mundo será se a empresa cumprir seu propósito. Como falamos, você não precisa falar sobre a missão e a visão da sua empresa. A missão do Google, por exemplo, é uma declaração de missão com elementos de declaração de visão, e tudo bem. Apenas certifi- que-se de que as pessoas - principalmente clientes - possam entender, em termos que sejam relevantes para elas, por que sua organização existe e/ou como o mundo será se sua organização cumprir seu propó- sito. As declarações de missão e visão são como dois lados da mesma moeda. Se a empresa cumpre sua missão, o mundo poderá ser descrito com sua visão. Se atingir sua visão, terá cumprido sua missão. Então, se eles estiverem bem escritos, as duas declarações serão harmoniosas e cacofônicas. Por isso, a partir de OKRs e estratégia 69 um entendimento claro de o que é missão e o que é vi- são, sugiro que sua empresa escolha apenas uma das duas para usar tanto nas suas comunicações internas como externas. E como acho que visões estratégicas, anuais e de ciclo curto têm uma utilidade enorme no processo de planejamento e gestão pelas OKRs, sugiro que, para esse horizonte de tempo super longo, você foque apenas na missão da sua organização. OKRs e estratégia 70 Visão e OKRs estratégicas A partir da missão da empresa, que é bastante abs- trata, o próximo passo é definir a sua estratégia. Al- guns aspectos da estratégia da empresa geralmente já estão definidos no presente, como o mercado ge- ográfico em que ela opera, a natureza dos produtos e serviços que oferece aos clientes e assim por diante. A parte difícil da estratégia de uma empresa é tomar decisões sobre como essas variáveis devem mudar no futuro, para que a empresa se aproxime de sua missão.Uma boa forma de definir a estratégia é com uma analogia ao pôquer. A missão de qualquer jogador de pôquer (nossa aproximação para a organização) é naturalmente ganhar o jogo, que é composto por uma série de rodadas, ou mãos. A estratégia, por outro lado, tem dois componentes: um é macro, e define como o jogador vai se comportar durante as várias mãos a serem jogadas para obter a vitória no jogo. O Outro é micro, e define como jogador vai jogar cada uma das suas mãos para obter a vitória. Em resumo, a OKRs e estratégia 71 estratégia trata de como o jogador vai jogar suas car- tas para ganhar a mão. E essas escolhas estratégicas têm riscos (como apostar demais ou de menos, cedo demais ou tarde demais, ou apostar em um possível blefe ou acreditar nos outros jogadores) e tradeoffs. Uma boa estratégia é dolorosa de definir justamente porque força a empresa a fazer escolhas difíceis. É impossível competir por preço e qualidade ao mesmo tempo. É difícil estar em todos os mercados ao mesmo tempo. Recursos são escassos e certas escolhas tor- nam outras escolhas inviáveis. Algumas das variáveis que compõem a estratégia de uma empresa são: • Competição por custo/preço ou diferenciação: O aspecto mais básico da estratégia de uma em- presa é escolher um dos dois principais cami- nhos identificados por Michael Porter, acadê- mico de Harvard e autor de Estratégia Competi- tiva. Na maioria dos mercados, uma mesma em- presa não pode, de forma sustentável, competir por custo e qualidade. Lembre-se de que algumas ofertas podem ser oferecidas por algum tempo, a fim de roubar rapidamente a participação no OKRs e estratégia 72 mercado - mas nos médio e longo prazos isso tende a ser insustentável. • Geografia: A empresa tem que escolher onde irá operar. Certos negócios são mais fáceis de ex- pandir nacional ou internacionalmente. Uma em- presa pode querer dominar um mercado antes de se expandir para outro, enquanto outra empresa pode querer “fincar sua bandeira” em um grande número de mercados, embora sem dominar ne- nhum deles. • Portfólio de produtos e serviços: A empresa tem que escolher quais produtos e serviços oferecer. Uma opção é se concentrar em um ou alguns pro- dutos, tornando-os muito completos (uma abor- dagem vertical). Outra é expandir suas ofertas horizontalmente, tendo muitos produtos, porém mais rasos. Além disso, a empresa pode optar por abocanhar etapas que estão ou à sua frente ou atrás dela na cadeia de valor, como a Apple, que passou a operar também no varejo. • Clientes: A empresa deve escolher a quem ofere- cerá seus produtos e serviços. Isso é necessário, seja concentrando-se em um nicho de cliente específico, abordando suas necessidades de ma- OKRs e estratégia 73 neira muito profunda ou atendendo a um amplo grupo de clientes de maneira mais superficial. • Crescimento orgânico ou aquisições: a empresa tem que escolher qual será seu principal mo- tor de crescimento: se crescerá organicamente - ou seja, investindo em suas próprias opera- ções (como a maioria das startups crescem) - ou através de aquisições e possível incorporação de outros produtos e empresas (como a maioria das grandes empresas de alto crescimento cresce). As decisões estratégicas de uma empresa, algumas das quais discutimos acima, devem ser quantificadas por OKRs estratégicos. Mas não entre em pânico se você não souber exatamente qual é a visão, a missão ou a estratégia de sua organização. Você não precisa deles para começar a planejar as OKRs. O importante é que esses temas comecem a ser dis- cutidos e eventualmente decididos. Eles ajudarão sua empresa a funcionar melhor. Algo que deve facilitar sua vida: 99% das empresas devem ter visões base- adas na maximização do impacto da organização no mundo por meio da missão. Acreditamos que qual- OKRs e estratégia 74 quer empresa de sucesso precisa ter o crescimento como seu principal objetivo, e esse objetivo já fun- ciona muito bem como uma diretriz para as OKRs estratégicos e anuais. O crescimento é fundamental para o sucesso de qual- quer negócio. Da estratégia à visão e às OKRs estratégicas Como vimos, a visão e as OKRs estratégicas da or- ganização se desdobram da sua missão. Elas devem destilar como a empresa “jogará suas cartas” para maximizar suas chances de tornar sua missão reali- dade. A visão estratégica da empresa é uma descrição de como o mundo e a empresa vão ser no prazo esco- lhido, que pode ser de três a dez anos. Essa visão pode ser quantitativa, ou seja, pode descrever em números como esse futuro vai ser. Essa visão também não pre- cisa ser tão polida quanto a missão da empresa, mais usada externamente: a visão estratégica é uma ferra- menta interna, que tem que ser a mais clara possível. Além disso, uma boa visão deve ser escrita como se OKRs e estratégia 75 quem a lê estivesse no futuro, olhando e descrevendo o que vê. Vamos a um exemplo resumido: “Estamos em 2025, e estamos faturando R$ 300 milhões de reais. Nossas operações se expandiram para toda a América Latina e sudeste asiático, ondeagora temos 15 es- critórios (muito bonitos, por sinal!). Estamos nesses mer- cados pois entendemos que neles temos vantagens com- petitivas importantes, como nossa agilidade e a qualidade dos nossos serviços em várias línguas. Nossas margens brutas seguem mais altas do que o mercado, principal- mente porque entendemos que temos um produto supe- rior, mais fácil de usar e de se customizar.” Claro que o texto pode ser um pouco mais atraente e inspirador para quem o lê, e mais completo: a ideia aqui é apenas mostrar o quão descritivo ele deve ser para mostrar, sem dúvidas, como o futuro se pa- recerá. Para fins de comparação, vale ressaltar que nossa visão para 2019 da Qulture.Rocks foi transmi- tida à empresa em um documento de cinco páginas. As OKRs estratégicas são basicamente uma articu- lação das principais diferenças entre o estado atual da empresa e a sua visão estratégica. Obviamente, se OKRs e estratégia 76 uma receita 3x maior é um componente importante da visão de três anos da empresa, uma das OKRs deve tratar do tema do crescimento (Objetivo), e ser “provado” pelo novo nível de receita, que é 3x maior do que o atual. O mesmo pode acontecer para outros pilares da visão. Se usarmos nossa visão estratégica hipotética de agora há pouco, derivamos as seguintes OKRs estratégica: • Objetivo 1: Crescer muito nosso impacto • Key Result 1.1: Receita líquida global de R$ 300 milhões • Objetivo 2: Expandir nossa empresa por merca- dos emergentes • Key Result 2.1: Mais de 20% das nossas receitas globais geradas na América Latina (excl. Brasil) • Key Result 2.2: Mais de 9% das nossas receitas globais geradas no Sudeste Asiático • Objetivo 3: Margens brutas líderes de mercado • Key Result 3.1: Margem bruta 20% maior do que a segunda empresa de cada um dos nossos mer- cados OKRs e estratégia 77 Visão e OKRs anuais Das OKRs estratégicas, que cobrem de três a dez anos no futuro, a empresa deve definir sua visão e suas OKRs anuais no início de seu ano fiscal. A lógica da visão e das OKRs anuais da empresa é bastante parecida com a lógica que acabamos de des- crever na visão e nas OKRs estratégicas. Por isso, não vamos repetir o exercício de escrever uma visão e de- rivar OKRs dela, e sim discutir alguns outros aspectos de boas OKRs do nível organizacional. Uma ótima maneira de estruturar as OKRs anuais de sua empresa é por meio da lente doBalanced Scorecard. A teoria, criada por Robert Kaplan e David Norton, define que uma empresa deve medir seu sucesso de maneira equilibrada e sustentável. Uma empresa não pode priorizar seus resultados financeiros (margens de lucro, receitas e lucro por ação) se isso signifi- car colocar em risco a experiência do cliente ou do colaborador; a empresa também não pode priorizar apenas seus resultados financeiros, que geralmente são medidos no curto prazo, em detrimento
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