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Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon Nessa segunda parte do exame da motricidade serão avaliados o tônus muscular e os reflexos. Tônus muscular É o estado permanente de tensão do músculo. Então, mesmo que o indivíduo não faça nenhum esforço, que ele esteja em repouso, o músculo vai estar em um estado de contração mínima e permanente. Esse estado de tensão permanente exige que os fatores neurológicos, nervosos e físicos do próprio músculo estejam atuando para ter um tônus normal. Isso é muito percebido em pacientes que têm uma lesão aguda, um traumatismo raquimedular ou um AVE em fase de choque medular, em que o paciente não tem nenhum grau de força, nem contração muscular ou contorno muscular. Fatores neurológicos: o Sistema Nervoso Central e o Sistema Nervoso Periférico precisam estar íntegros, assim como a consistência do próprio músculo, a elasticidade (fatores físicos e anatômicos em si). Podem ser considerados três tipos de tônus: Tônus de repouso: observado no relaxamento (é com esse tônus que se examina o paciente). Tônus postural: observado na manutenção da atitude, ajudando na posição livre. Tônus cinético: observado no movimento. Exame do tônus o O exame do tônus é explorado através de 5 etapas: Inspeção: realizado no trofismo, em que se avalia os grupamentos musculares e se há algum grau de atrofia ou hipertrofia. Palpação: palpa-se os principais grupamentos musculares. Percussão: não é necessário realiza-la em todos os pacientes, mas sim naqueles em que se observa ter alguma doença do músculo. É observada uma contração do músculo ou um fenômeno miotônico. Pode ser usado o martelo neurológico ou até mesmo os dedos. Movimentação passiva: principal etapa de avaliação. O paciente deve estar relaxado (ele não deve realizar movimentos), em decúbito dorsal/sentado. Balanço passivo das articulações: o paciente deve estar deitado (avaliação dos membros inferiores) ou em pé/sentado (avaliação dos membros superiores). É necessário observar como o paciente realiza o movimento, se é um movimento muito amplo, se é um movimento rígido ou normal (nem muito amplo, nem muito rígido). O exame do tônus, então, deve ser realizado com o paciente relaxado, examinando a movimentação dos membros superiores (punho, cotovelo e ombro) e inferiores (pés e joelhos). Nesse momento, observa-se se há alguma resistência quando o movimento é feito, ou nenhuma resistência. Pacientes com hipotonia têm uma resistência diminuída, quase nenhuma resistência; e pacientes com hipertonia têm uma resistência muito aumentada. Transcrição – Aula 2 (P1) Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon Nas imagens: O médico testa a extensibilidade do punho e cotovelo e dos membros inferiores. o Avaliação do tônus: Tônus normal. Hipotonia: tônus diminuído. Em uma paralisia cerebral, em que há uma síndrome piramidal bilateral, o paciente vai ter atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, e inicialmente ele pode ficar hipotônico. Na fase crônica, esse paciente fica hipertônico, com tendência a adotar a postura de Wernicke Mann, porém de forma bilateral. Quando aprende a andar, o paciente tem uma marcha em tesoura/espástica, com as pernas bem abertas em adução, uma sobre a outra. Hipertonia: tônus aumentado. Há dois tipos de hipertonia, a hipertonia elástica e a hipertonia plástica. Hipertonia elástica: espasticidade da musculatura. Aparece em síndromes piramidais. É seletiva, acometendo os músculos flexores dos membros superiores e extensores dos membros inferiores. O paciente adota uma postura chamada postura de Wernicke Mann (flete os braços e estende as pernas). Além disso, o paciente apresenta uma marcha característica, em semicírculo, chamada de marcha ceifante/hemiplégica. Tem um sinal característico, chamado sinal do canivete, em que o paciente apresenta uma resistência inicial ao movimento feito pelo médico. Na fase aguda da síndrome piramidal, em uma fase chamada fase deficitária, o paciente apresenta uma hipotonia, além da hemiparesia. Essa fase aguda não possui um tempo certo, podendo durar de 20 a 30 dias. Sabe-se que em 30 dias, esse paciente passa da fase aguda para a fase crônica, ocorrendo então a fase de liberação piramidal, que é a fase em que além da diminuição de força, o paciente vai ter um aumento do tônus, chegando à hipertonia elástica. Ocorre também em pacientes com sequelas de AVE. F a se c rô ni ca Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon Hipertonia plástica: rigidez da musculatura, adotando uma postura em anteroflexão, projetando o corpo para frente, com os braços mais próximos ao corpo e sem a movimentação de automatismo. Possui um sinal característico, chamado sinal da roda dentada. Aparece em pacientes com síndromes extrapiramidais, principalmente na doença de Parkinson. O paciente tem uma hipertonia da musculatura agonista e antagonista, e seu movimento é como um “movimento de catraca”, como se estivesse decompondo o movimento. Durante a marcha, pode haver um aumento do tremor, tendo uma aceleração involuntária dessa marcha, além do paciente ter dificuldade tanto para inicia-la quanto para pará-la, devido à bradicinesia. Ao pedir que o paciente vire para o outro lado, ele vira por completo, dando uma voltinha ao redor dele mesmo. OBS: os reflexos acompanham o tônus. Se há um aumento do tônus, também espera-se um aumento dos reflexos. Se há uma diminuição do tônus, espera-se uma diminuição dos reflexos. Reflexos São classificados em: Profundos / proprioceptivos / miotáticos. Superficiais / exteroceptivos. OBS: A base anatomo-funcional da motricidade é constituída de uma via aferente (para onde o estímulo vai ser levado até a medula), um centro e uma via eferente. O centro medular vai depender de cada segmento, ou seja, cada segmento tem um centro correspondente. No reflexo patelar, por exemplo, a sinapse medular ocorre em L4, ou seja, seu centro medular é L4. Com o martelo de reflexos, no caso da região patelar, percute-se na área reflexógena, que é no ligamento rotuliano, no joelho. Nessa área há um receptor anulo espiral, no fuso neuromuscular, e um neurônio sensitivo no gânglio anexo à raiz dorsal, que irá fazer sinapse no H medular de L4. Essa resposta vai para o neurônio motor na ponta anterior da medula, voltando para o nervo femoral (nervo periférico) e para os músculos da região anterior da coxa, que são os efetores do movimento. A resposta para todo esse reflexo será a extensão da perna. Quando há um aumento desse reflexo (hiperreflexia), pode haver o aumento da área reflexógena. Arco Reflexo Patelar 1. Área reflexógena: ligamento rotuliano, no joelho. 2. Receptor anulo espiral, no fuso neuromuscular. 3. Neurônio sensitivo: no gânglio anexo à raiz dorsal. 4. Sinapse no H medular L4. 5. Neurônio motor na ponta anterior da medula. 6. Nervo periférico: nervo femoral 7. Efetor do movimento: músculos da região anterior da coxa. Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon O material a ser utilizado é: Martelo: pesquisa dos reflexos profundos. Estilete rombo/cabo do martelo: pesquisa dos reflexos superficiais. Na pesquisa dos reflexos é fundamental o paciente estar relaxado. O paciente pode estar sentado ou deitado, dependendo da técnica. Se a pesquisa for do reflexo patelar, o ideal é que o paciente esteja sentado em uma superfície que suas pernas fiquem pendentes. O paciente deve estar com poucas roupas, para que se possa percutir com o martelo diretamente na pele. Caso o paciente não consiga relaxar, existem técnicas paratentar sensibilizar o reflexo. Os reflexos que serão testados são: Reflexos profundos (9): Membros superiores: estilo radial, bicipital, tricipital e flexor dos dedos. Membros inferiores: patelar e aquileu. Axiais da face: nasopalpebral/glabelar, orbicular dos lábios e mandibular/mentoniano. Reflexos superficiais (2): Reflexos cutâneo-abdominais. Reflexo cutâneo plantar. OBS: lembrar de fazer a pesquisa dos reflexos de ambos os lados em sequência, assim como todo o restante do exame neurológico (método espelhado). Exame dos Reflexos Profundos » REFLEXO ESTILO RADIAL Técnica: percussão com o martelo na apófise estiloide do rádio. Resposta: flexão do antebraço sobre o braço. Segmento medular: C5. Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon » REFLEXO BICIPITAL Técnica: o examinador coloca o dedo interposto no tendão de inserção do músculo bíceps braquial e percute com o martelo em cima do dedo. Resposta: flexão do antebraço sobre o braço. É possível observar também uma contração do bíceps braquial. Segmento medular: C6. » REFLEXO TRICIPITAL Técnica: percussão com o martelo sobre o tendão do músculo tríceps braquial, que é mais ou menos 1 dedo acima do olecrano. Resposta: extensão do antebraço sobre o braço. Segmento medular: C7. OBS: a mão do examinador na imagem está errada, está na articulação. O correto é colocar a mão mais para cima do braço, no meio. » REFLEXO FLEXOR DOS DEDOS Técnicas: o paciente deve estar com a mão em supinação (palma da mão para cima). O examinador irá percutir na superfície palmar das falanges, com interposição do segundo e terceiro dedos do examinador. Também se pode realizar a percussão no punho no paciente. O examinador coloca o dedo no local e percute em cima dele. Resposta: flexão dos dedos. Segmento medular: C7, C8 e T1. Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon » REFLEXO PATELAR Técnica: percussão com o martelo no ligamento rotuliano no joelho. O paciente pode estar sentado (com as pernas pendentes) ou deitado. Quando deitado, faz-se um “gancho” na coxa, elevando um pouco a perna do paciente para que ele apoie levemente o pé no leito. Resposta: extensão da perna sobre a coxa. Segmento medular: L4. » REFLEXO AQUILEU Técnica: percussão com o martelo no tendão de Aquiles. 1- O paciente pode estar sentado. Faz-se uma pressão plantar e percute no tendão de Aquiles. A resposta é uma dorsoflexão plantar, que será sentida na palma da mão do examinador. 2- O paciente pode apoiar os joelhos em uma cadeira. Percute-se no tendão de Aquiles. 3- O paciente pode estar deitado, em decúbito dorsal. Nesse caso, o paciente flete uma perna sobre a outra e o examinador faz uma pressão plantar, percutindo no tendão de Aquiles. A resposta é uma dorsoflexão plantar ou a extensão do pé. Resposta: extensão do pé / dorsoflexão plantar. Segmento medular: S1. MANOBRA DE JENDRASSIK: Manobra utilizada para facilitar a obtenção dos reflexos dos membros inferiores, quando o paciente não consegue relaxar. É para sensibilizar. Pede-se ao paciente para que junte uma mão com a outra e puxe-as, olhando para cima. Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon » REFLEXO NASOPALPEBRAL / GLABELAR Técnica: percussão com o martelo ou com o dedo na glabela. O examinador deve realiza-la pela lateral do paciente. Resposta: contração bilateral do músculo orbicular das pálpebras, com oclusão da rima palpebral (o paciente fecha os olhos). Centro reflexógeno: ponte. Vias aferentes e eferentes: nervo facial. Sinal de Myerson: ocorre ao percutir várias vezes na área glabelar, como se fosse uma exacerbação do reflexo. O paciente não consegue frear o reflexo, piscando os olhos toda vez que se faz a percussão. Está presente em pacientes com doenças neurodegenerativas, principalmente na doença de Parkinson. » REFLEXO ORBICULAR DOS LÁBIOS Técnica: percussão com o martelo no lábio superior (na imagem está errado). Resposta: projeção do lábio para diante, como se o paciente fizesse um bico. Arco reflexo: trigêmeo – ponte – facial. » REFLEXO MANDIBULAR / MENTONIANO Técnica: paciente com a boca entreaberta, o examinador coloca o dedo na região do mento e percute com o martelo em cima do dedo. Resposta: elevação da mandíbula pela contração dos músculos masseteres. Arco reflexo: trigêmeo – ponte – trigêmeo. OBS: nos reflexos axiais da face, consegue-se avaliar se eles estão exacerbados nas doenças neurodegenerativas (doença de Parkinson, doença de Alzheimer). ALTERAÇÕES DOS REFLEXOS PROFUNDOS: Hiperreflexia: reflexos aumentados. Hiporreflexia: reflexos diminuídos. Arreflexia: ausência de reflexos. Qualquer lesão na base anatomo-funcional e, principalmente, no nervo periférico, pode causar uma arreflexia ou uma hiporreflexia. Um exemplo disso é uma neuropatia periférica, uma polineuropatia. Na neuropatia periférica, as alterações são sempre mais distais. Espera-se primeiramente uma alteração do reflexo aquileu e depois uma alteração do reflexo patelar. Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon CLÔNUS: Em pacientes com hiperreflexia profunda (uma síndrome piramidal na fase crônica, por exemplo),quando provoca-se passivamente a distensão de um tendão e mantém-na, obtém-se uma série de contrações clônicas, rítmicas e involuntárias do respectivo músculo. Dependendo da hiperreflexia, o clônus pode ser esgotável ou inesgotável. Em um clônus esgotável, o paciente faz o movimento com o estímulo e para. Em um clônus inesgotável, enquanto o examinador estiver fazendo uma pressão contra a articulação, o paciente continua fazendo o movimento. Exame dos Reflexos Superficiais » REFLEXO CUTÂNEO PLANTAR Técnica: estímulo cutâneo na região plantar lateral, do calcanhar para os dedos. Resposta: flexão dos dedos. Segmento medular: S1. SINAL DE BABINSKI: Pode acontecer devido à síndromes piramidais. É a extensão lenta do Hálux, provocada pela estimulação da região plantar do pé. Pode ocorrer também uma abertura em leque dos dedos. Manobras sucedâneas: Gordon (compressão da panturrilha), Shaeffer (compressão do tendão de Aquiles), Oppenheim (fricção da crista da tíbia), Chadock (estímulo por toda a lateral do pé), Austregésilo-Esposel (compressão da face anterior da coxa). Esse sinal pode ocorrer em crianças, o que é normal, podendo acontecer até 12 meses de idade. Isso ocorre devido à mielinização da via piramidal, na fase de desenvolvimento da marcha. Descrição: sinal de babinski se apresenta na pesquisa do reflexo cutâneo plantar. Laís Molina – Med 102 PAPM IV – Prof. Ana Beatriz Calmon » REFLEXOS CUTÂNEOS ABDOMINAIS Técnica: estímulo cutâneo iniciado na região lateral, em direção à cicatriz umbilical. Com o paciente em decúbito dorsal, faz-se o estímulo de fora para dentro, em direção à cicatriz umbilical (superior, médio e inferior). Resposta: contração da cicatriz umbilical do lado estimulado. Segmento medular: T6 a T12. OBS: Os reflexos superficiais podem estar abolidos nas síndromes piramidais. » OUTROS REFLEXOS SUPERFICIAIS: Reflexo cremastérico. Reflexo anal. Esses reflexos não são habitualmente pesquisados. Pesquisa-se quando há um paciente que sofreu um trauma na região do cóccix.
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