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AULA_10-_economia_e_financiamento_parte_1

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AULA 05-Economia da Saúde; Financiamento da Saúde; lei 
complementar 141/12 
 
1. ECONOMIA DA SAÚDE 
Introdução 
Economia da Saúde é uma especialidade de recente surgimento dentro dos estudos 
econômicos, dedicada a investigação, estudo, método de medição, racionalização e 
sistema de análise de atividades relacionadas com financiamento, produção, 
distribuição e consumo de bens e serviços que satisfazem necessidades sanitárias e de 
saúde, sob os princípios normativos da eficiência e da equidade (RubioCebrian, 1995). 
A Economia da Saúde surgiu como uma área de conhecimento que integra os campos 
da Saúde e da Economia com o objetivo de otimizar o uso dos recursos, a partir da 
aplicação do arcabouço teórico e de ferramentas das Ciências Econômicas à área da 
Saúde. 
No Brasil, sob a perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS), a Economia da Saúde 
nasce como área que aporta conhecimento para a discussão do financiamento do 
sistema e a definição da melhor distribuição de recursos, fornecendo subsídios à 
tomada de decisão por parte dos gestores, a fim de garantir o direito constitucional à 
saúde, sem perder de vista que os recursos são limitados. 
 
Vínculos entre Economia e Saúde 
Economia e saúde estão interligadas de várias formas; seu estudo e pesquisa 
sistemática e a aplicação de instrumentos econômicos a questões tanto 
estratégicas como operacionais do setor saúde deram origem à economia da 
saúde. 
As condições de vida das populações e suas consequências sobre asaúde são objeto de 
estudo e pesquisa sistemática há muito mais tempo.Esses trabalhos procuram 
relacionar fatores socioeconômicos e indicadoresde saúde, como, por exemplo, renda e 
mortalidade infantil, isto é,demonstrar que quanto menor a renda familiar, maior o 
número demortes de crianças até o primeiro ano de vida. Ou então, comprovar quea 
prevalência da tuberculose diminuiu com a urbanização, indicando umaassociação 
estatística positiva entre a melhoria da habitação e dosserviços públicos e a redução 
dos casos existentes de tuberculose numadeterminada comunidade. 
A economia da saúde discute muitas das controvérsias existentes nosetor. Uma delas 
refere-se à relação existente entre desenvolvimentoeconômico e nível de saúde. Em 
1961, o estatuto da Aliança para oProgresso afirmava que saúde constitui um requisito 
essencial e prévioao desenvolvimento econômico. Neste caso, saúde vem antes, ou 
seja,existiria uma relação de causa e efeito, na qual saúde é um pré-requisito.No 
entanto, como já vimos, é difícil conseguir consenso em torno dessasafirmações. A 
aplicação dos princípios das teorias do crescimento e dodesenvolvimento ao campo da 
saúde tornam mais objetivos os debatessobre o tema. 
Uma das mais importantes áreas de interesse da economia da saúde é oestudo da 
função distributiva dos sistemas de saúde. 
A equidade em saúde é um tema muito discutido;em geral conota equidade de acesso 
aos serviços, mas atinge desdeequidade geográfica a equidade por classe social, por 
faixa etária ougrupo sociocultural, até a equidade de utilização e a equidade de 
resultadosterapêuticos. Os trabalhos nessa área têm orientado a definição depolíticas e 
prioridades de saúde de muitas regiões e países. 
 
 
Equidade, Princípio segundo o qual a alocação de 
recursos é feita em função das necessidades de 
determinada população. 
 
É importante sublinhar o papel da economia parao estudo da dinâmica do mercado de 
serviços de saúde. A economia dasaúde lança mão da colaboração multidisciplinar para 
entender o significadodas necessidades de serviços de saúde e as relações entre 
ofertae demanda. Também reconhece que a percepção dos processospatológicos é 
diferente para cada grupo social, afetando e sendo afetadapelo comportamento desses 
grupos em cada contexto. Cabe tambémanalisar o papel influenciador que exercem os 
interesses comerciais,sejam de fabricantes de medicamentos ou equipamentos, sejam 
asdiferentes formas de apresentação de planos e seguros-saúde e o papeldos médicos 
e diversos tipos de prestadores na decisão de consumo deserviços pelos pacientes. 
VAMOS ANALISAR ALGUMAS DEFINIÇÕES DE ECONOMIA X ECONOMIA DA SAÚDE: 
Samuelson (1976, p.3) define a economia como o "estudo de como oshomens e a 
sociedade escolhem, com ou sem o uso de dinheiro, a utilizaçãode recursos produtivos 
limitados, que têm usos alternativos, paraproduzir bens e distribuí-los como consumo, 
atual ou futuro, entreindivíduos e grupos na sociedade. Ela analisa os custos e os 
benefíciosda melhoria das formas de distribuir os referidos recursos." 
A aplicação dessa definição ao setor saúde é direta; nele encontramosrecursos 
produtivos limitados, geralmente escassos, e parte de um processodecisório 
centralizado e de natureza política. A utilização dessesrecursos não tem destinação 
prévia, cabendo aos planejadores determinarseu uso alternativo. Atribuídos ao setor 
saúde, resultam em bens eserviços que serão distribuídos de acordo com as 
características e estruturado sistema de saúde, com impacto imediato ou futuro, 
atingindoindivíduos ou grupos definidos da população. Por fim, a análise 
econômicaavalia custos e benefícios, tomados de forma ampla, para o 
aperfeiçoamento das formas de distribuição e futura programação da 
intervenção no setor. 
 
Campos (1985) vai além para afirmar que a economia da saúde "não éum mero saco 
de ferramentas; antes é um modo de pensar que tem aver com a consciência da 
escassez, a imperiosidade das escolhas e a necessidade de elas serem precedidas da 
avaliação dos custos e das consequências das alternativas possíveis, com vista a 
 
melhorar a repartição final dos recursos". Neste ponto de vista é amparado por Culyer 
(1978), que afirma que poucos conceitos econômicos não são aplicáveis ao setor 
saúde. Daí a economia da saúde não existir de forma independente da economia. 
Deste corpo de conceitos econômicos mais amplos, a economia da saúde passa a 
explorar tópicos relevantes para seu campo de aplicação: o papel dos serviços de 
saúde no sistema econômico; o sistema de produção e distribuição de serviços de 
saúde; as formas de medir o impacto de investimentos em saúde; o estudo de 
indicadores e níveis de saúde correlacionados a variáveis econômicas; o emprego e os 
salários de profissionais de saúde e a oferta de mão-de-obra; a indústria da saúde no 
capitalismo avançado; o comportamento do prestador de serviços e suas relações com 
o consumidor; a análise de custo-benefício, de custo efetividade e de custo-utilidade de 
serviços ou bens específicos, além de análise das políticas de saúde em vários níveis. 
 
A Abrangência da Economia da Saúde 
No Brasil, assim como em outros países de economia semelhante, o mosaico de 
serviços de saúde que a população encontra está distorcido por uma série de razões: 
• os serviços não correspondem às necessidades da população; 
• a distribuição geográfica dos recursos é extremamente desigual; 
• em algumas áreas existe excessivo uso de alta tecnologia médico-hospitalar para 
tratar os efeitos de moléstias preveniveis; 
• o uso excessivo e a venda liberal de medicamentos; 
• internações desnecessárias, referências a outros níveis e examessupérfluos; 
• competição do setor privado com o setor público por examesauxiliares lucrativos e 
cirurgias eletivas; e 
• distribuição do financiamento proveniente da seguridade socialsem mecanismos 
apropriados de controle. 
 
Como consequência, os custos dos serviços estão fora de controle, sendodifícil medir 
benefícios, mesmo a partir de programas específicos. Osincentivos direcionam-se à 
especialização; o governo premiaprocedimentos de alto custo com programas especiais 
e remuneraçãodiferenciada. As indústrias farmacêutica e de equipamentos médico-
hospitalares seguem essa tendência, também estimulando o desenvolvimentode 
especialistas. 
As estimativas oficiais dão conta de que 95% da população brasileiratem coberturade 
serviços de saúde. Enquanto isso, cerca de 30% da populaçãonão tem acesso a 
qualquer tipo de serviço. São os habitantes daperiferia das grandes cidades e a 
população de áreas remotas. Planejamentoe controles insuficientes tornam o sistema 
de saúde burocrático eineficaz, com marcante ausência de padrões assistenciais 
mínimos.Em face dessas comprovações, é natural que sejam levantadas 
algumasperguntas, fundamentais ao início de uma discussão mais sistemáticasobre o 
papel dos serviços de saúde: 
• Os serviços de saúde têm conseguido promover saúde? 
• Quais os princípios que regem a organização e o financiamentodesses serviços? 
• É possível manter um certo número de serviços disponíveissempre que necessários e 
em todas as localidades? 
• É possível diminuir o custo dos serviços sem alterar suaqualidade? 
Essas perguntas são amplas e não podem ser respondidas sem a 
devidacontextualização, ou seja, existe um pano de fundo no qual elas se 
confundemou do qual se destacam. Para seu estudo e discussão, o referencialteórico 
da economia da saúde torna possível ligar um tema ao outro,entendendo suas relações 
e dinâmica interna. De outra forma, seriamvistos como problemas pontuais, analisados 
em perspectivas particulares,com a consequente perda da visão de conjunto, essencial 
para acompreensão das alternativas existentes no setor saúde e a complexidadede sua 
implementação. 
A economia da saúde busca ainda respostas a perguntas como: 
• Quanto um país deve gastar com saúde? 
• Como devem ser financiados os gastos com saúde? 
• Qual a melhor combinação de pessoal e tecnologia para produziro melhor serviço? 
• Qual a demanda e qual a oferta de serviços de saúde? 
• Quais as necessidades de saúde da população? 
• O que significa atribuir prioridade? 
• Quando e onde deve ser construído um novo hospital? 
• É preferível prevenir a curar em que condições? 
• Quais as implicações da introdução das taxas moderadoras sobrea utilização de 
serviços? 
 
Custos em Saúde 
Os gastos com saúde e os serviços sanitários podem ser suportados por: prestadores 
dos serviços (pessoal, locais, equipamentos, materiais e fornecimento, etc.) e usuários 
(meios de transporte, medicamentos, etc.) 
Para a OMS (1976), são fatores que determinam a tendência dos custos em saúde: 
causas demográficas, necessidade de pessoal nos serviços de saúde, qualidade dos 
serviços de saúde, exigências dos cidadãos, mudança epidemiológica em consequência 
do desenvolvimento econômico, organização e estrutura do sistema de atenção 
sanitária e da extensão da cobertura. 
 
 
 
CUSTO 
 Valor monetário de recursos consumidos na produção de outros bens e serviços 
em um determinado período (ou a impossibilidade de utilização de um recurso, 
no caso das perdas de produtividade) 
Ex: Custo com antibióticos utilizados para dar alta a um paciente com 
pneumonia 
 
Tipos de custos 
Tangíveis (mensuráveis) 
 Diretos e Indiretos ou Produtividade 
Intangíveis (não-mensuráveis) 
Custos diretos 
 São os custos diretamente relacionados com os cuidados de saúde 
 
 
Custos indiretos (produtividade) 
Mudança na capacidade produtiva do indivíduo, geralmente, por perda de dias de 
trabalho ou falecimento 
• São importantes para determinadas doenças crônicas 
• Ao contrário dos custos diretos não representam despesas efetivamente incorridas 
• Métodos de mensuração: Capital Humano e APVP 
Custos intangíveis 
Estão relacionados às mudanças na qualidade de vida e às consequências da doença 
em si ou do tratamento, como dor, ansiedade, sofrimento. 
Custo de oportunidade 
• Benefício derivado da utilização de recursos em sua melhor alternativa de uso 
•Uma medida de sacrifício feito pelo uso de recursos em um dado programa/ atividade/ 
decisão 
•Benefícios que são excluídos pela escolha de uma opção em vez de outra 
Despesa: valor dos bens ou serviços não relacionados diretamente com a produção de 
outros bens ou serviços consumidos em um determinado período. 
Ex: despesas com frete de equipamentos biomédicos para manutenção 
Gasto: valor dos bens ou serviços adquiridos por uma dada instituição. 
Ex: valor da aquisição de uma licitação de fios cirúrgicos 
Desembolso: pagamento resultante das aquisições dos bens e serviços por uma 
instituição. 
Ex: pagamento de aquisição de um lote de bolsas hemoterápicas 
Perda: É o valor dos bens ou serviços consumidos de forma anormal e involuntária. 
Ex: danos provocados por sinistros 
Desperdício: É o consumo intencional, que por alguma razão não foi direcionado à 
produção de um bem ou serviço. 
Ex: violar pacotes esterilizados e não utilizar todo o seu conteúdo 
 
MERCADOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE 
MERCADO 
“ É contexto ou instituição social, dentro do qual se forma livremente o preço de um 
produto (bem ou serviço) peloadequado ajustamento de sua oferta e sua demanda, em 
que se realiza um intercâmbio de caráter livre e voluntário entre diferentes pessoas ou 
entidades”(RubioCebrián, 1995) 
O estudo de um mercado qualquer deverá atender a três componentes fundamentais: 
a escolha do objeto, o comportamento do agente da procura (demanda) e o 
comportamento do agente da oferta. No caso, dos serviços de saúde, os componentes 
são respectivamente: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. FINANCIAMENTO DA SAÚDE 
 
UM POUCO DE HISTÓRIA... 
 
O FINANCIAMENTO PÚBLICO DA SAÚDE APÓS A CF/1988 
A CF/1988, ao criar a seguridade social, estabeleceu que ela deveria ser financiada 
com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Distrito Federal e 
dos municípios, e de contribuições sociais. No governo federal, esses recursos seriam 
repartidos entre a previdência, a assistência social e a saúde e, no caso desta última, 
previu-se, conforme consta do Artigo 55 do Ato das Disposições Constitucionais 
Transitórias (ADCT), uma vinculação de 30% dos recursos do orçamento da seguridade 
social (OSS), excluído o seguro-desemprego. Esta disposição teria validade até que 
fosse aprovada a primeira Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria definir a 
cada ano qual o percentual a ser destinado à saúde. 
Ressalta-se que a CF/1988 ampliou não somente o direito à saúde, mas também criou 
novos direitos em outros campos da seguridade social. Por exemplo, no caso da 
previdência social ampliou o direito à aposentadoria rural e no campo da assistência 
estabeleceu o Benefício de Prestação Continuada (BPC). 
Conforme descrito pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
(MDS), “o Benefício de Prestação Continuada (BPC)é um direito garantido pela 
Constituição Federal, que assegura um salário mínimo mensal ao idoso, com idade de 
65 anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, incapacitada para a 
vida independente e para o trabalho, que comprove não possuir meios de garantir o 
próprio sustento, nem tê-lo provido por sua família. Em ambos os casos, é necessário 
que a renda mensal bruta familiar per capita seja inferior a um quarto do salário 
mínimo vigente”. Disponível 
em:<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc>. Acesso 
em: 5 set. 2011. 
A implantação dos novos direitos sociais coincidiu com um período de hiperinflação e 
restrições macroeconômicas. Assim, várias áreas buscaram aplicar os princípios 
constitucionais sem necessariamente observar um aumento de recursos para essas 
políticas. Isso gerou uma forte disputa interna entre as áreas sociais, entre elas as 
áreas de saúde e a previdência social. No caso da saúde, o percentual de 30% 
dosrecursos da seguridade social não foi cumprido em 1990 e 1991. 
Essa disputa se acirra a tal ponto que, em 1993, as contribuições previdenciárias não 
mais compuseram as fontes de financiamento da saúde. Conforme destacam Mendes e 
Marques (2009), “Nesse ano, apesar da previsão de recursos para a saúde, nada foirepassado com base na alegação de problemas de caixa na Previdência. Esse fato 
agravou a situação de incerteza e de instabilidade do financiamento da saúde”. Por fim, 
recorreu-se ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para garantir um mínimo de 
recursos para a saúde. 
A EC NO 29 E A AMPLIAÇÃO DE RECURSOS PARA A SAÚDE 
Desde a crise instaurada pelo afastamento dos recursos previdenciários ao 
financiamento da saúde, começaram a prosperar iniciativas parlamentares para 
assegurar a vinculação de recursos para o SUS. Algumas mais gerais, por incluírem 
vinculação de recursos nas três esferas de governo, outras mais restritas, como a 
criação da CPMF em 1997. A primeira, de caráter mais geral, foi apresentada em junho 
de 1993 e teve como autores os deputados Waldir Pires e Eduardo Jorge – Proposta de 
Emenda Constitucional (PEC) no 169/1993. 
As diversas proposições apresentadas, entre 1993 e 1999, foram aglutinadas, dando 
origem à EC no 29/2000. Essa emenda definiu montantes mínimos a serem aplicados 
pela União, estados e municípios em Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS). 
A EC no 29 trouxe mais recursos e promoveu o aumento da participação de estados, 
Distrito Federal e municípios no financiamento do SUS. Ela começou a vigorar em 
2000, quando a União ainda respondia por quase 60% do recurso público total aplicado 
em saúde. Desde então, sua participação foi decrescendo, ficando em torno de 44% 
em 2011, apesar de terem sido observados incrementos reais no montante destinado à 
saúde. Nesse mesmo período, a participação dos estados passou de 18,5% para 
25,7%, enquanto a dos municípios foi de 21,7% para 29,6%, de acordo com os dados 
do Sistema de Informações e Orçamentos Públicos de Saúde (SIOPS) (tabela 2). 
Assim, afirma-se que a aprovação da EC no 29 teve impactos diferenciados em cada 
ente da federação e foi bem-sucedida na busca do objetivo de atender ao 
princípioconstitucional da descentralização, ampliando a participação de estados e 
municípios no financiamento das ações e serviços de saúde. 
A LEI NO 141/2012 E OS MECANISMOS E CRITÉRIOS DE RATEIO DE 
RECURSOS 
Como visto, a EC no 29 (Artigo 6º) acrescentou ao Artigo 198 da CF o parágrafo 3º, 
item II, estabelecendo que a LC que será reavaliada, pelo menos, a cada cinco anos 
determinará “os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde 
destinados aos Estados, ao DF e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus 
respectivos municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais”. 
Obedecendo à prescrição, a Lei no 141 estabelece: 
O rateio dos recursos da União vinculados a ações e serviços públicos de saúde e 
repassados na forma do caput dos arts. 18 e 22 aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios observará as necessidades de saúde da população, as dimensões 
epidemiológica, demográfica, socioeconômica, espacial e de capacidade de oferta de 
ações e de serviços de saúde e, ainda, o disposto no art. 35 da Lei no 8.080, de 
19/9/1990, de forma a atender os objetivos do inciso II do § 3º do art. 198 da 
Constituição Federal. 
§ 1o O Ministério da Saúde definirá e publicará, anualmente, utilizando metodologia 
pactuada na comissão intergestores tripartite e aprovada pelo Conselho Nacional de 
Saúde, os montantes a serem transferidos a cada Estado, ao Distrito Federal e a cada 
Município para custeio das ações eserviços públicos de saúde. 
§ 2o Os recursos destinados a investimentos terão sua programação realizada 
anualmente e, em sua alocação, serão considerados prioritariamente critérios que 
visem a reduzir as desigualdades na oferta de ações e serviços públicos de saúde e 
garantir a integralidade da atenção à saúde. 
Além disso, aproveita para revogar o parágrafo 1o do Artigo 35 da Lei no 
8.080/1990 em seu Artigo 47.27 Adicionalmente, os Artigos 18 e 22 da Lei no 
141/2012 reforçam a modalidade de transferência regular e automática para os 
recursos repassados pela União para estados e municípios e dos estados para os 
municípios. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
São conhecidas as tentativas de ampliar e dar estabilidade ao financiamento público da 
saúde. Esse processo teve início com a criação da CPMF em 1996 e culminou com a 
promulgação da EC no 29, em 2000. Observou-se, nos anos subsequentes, uma 
ampliação do total de recursos para a área, bem como das transferências federais para 
estados e municípios. Contudo, de 2000 a 2012 os movimentos vinculados à saúde 
mantiveram a pressão para regulamentar a EC no 29 e aumentar os recursos para a 
saúde. A expectativa desses movimentos era de que a própria regulamentação 
trouxesse uma mudança do critério que estabelece o mínimo a ser aplicado pelo 
governo federal e, com isso, se obtivesse um aporte de recursos adicionais. Além 
disso, a efetiva definição do que se entende por ações e serviços públicos de saúde 
impediria os vazamentos de recursos públicos, isto é, a aplicação de recursos em 
outras áreas ou ações que não aquelas destinadas à atenção universal em saúde. 
Adicionalmente, com o fim da CPMF em 2007, havia a expectativa da definição de uma 
nova fonte tributária, por meio da criação da CSS. 
A regulamentação da EC no29 ocorreu em 2012 e apenas uma dessas expectativas foi 
atendida: a definição de ações e serviços públicos de saúde. A regulamentação não 
promoveu mudança do critério de vinculação dos recursos federais ou embutiu a 
criação de uma nova contribuição. Além disso, outras questões relativas à gestão do 
SUS e aos critérios de transferências de recursos para estados e municípios ainda 
demandam uma definição mais clara. 
Assim, com relação aos recursos para o SUS, no campo técnico-político, será 
necessário discutir novas fontes de recursos que permitiriam aumentar o financiamento 
público para a saúde. Até o momento, a defesa da necessidade de financiamento tem 
sido feita com base em comparações com países que possuem sistemas de saúde 
universais. 
Contudo, faz-se necessário dimensionar melhor os custos, o perfil epidemiológico e os 
gastos realizados para aprimorar o conhecimento sobre a necessidade de 
financiamento do SUS. Em relação aos gastos, com as informações hoje disponíveis é 
possível ter conhecimento sobre em quais ações e programas são aplicados os recursos 
federais destinados às ASPS. Contudo, essas informações não estão disponíveis para os 
recursos dos estados e municípios em um formato que permita as mesmas análises 
que são feitas para o nível federal. Assim, tem-se apenas uma visão parcial dos 
objetos do gasto do SUS, visto que mais de 50% do gasto é complementado com 
recursos de estados, Distrito Federal e municípios. Para que sistemas como o SIOPS 
permitam realizar análises mais consolidadas, seria necessário proceder a alterações 
significativas. Todavia, isso só seria possível por meio de uma ação coordenada com o 
MF e o MPOG, além de uma forte capacitação dos estados e, principalmente, dos 
municípios 
 
FINANCIAMENTO DA SAÚDE 
Até 1988 imperou no Brasil o conceito de seguro, vale dizer, cobertura do Estado 
apenas para as pessoas que tivessem vínculo direto e formal com o processo 
econômico e com a produção de bens e serviços. A saúde era tratada como questão de 
misericórdia. 
A Constituição Federal de 1988, promulgada em 5 de outubro, pretendeu substituir o 
conceito de seguro (cobertura ao contribuinte direto) pelo conceito de seguridade 
social – cobertura ao cidadão. A Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde 
foram reconhecidas como direitos nos termos dos artigos 194 a 204. 
Ações e serviços de Saúde são financiados com recursos próprios da União, estados e 
municípios e de outras fontes suplementares de financiamento, todos devidamente 
contemplados no orçamento da Seguridade Social. 
Cada esfera governamental deve assegurar o aporte regular de recursos à Saúde de 
acordo com a LC 141 de 2012. As transferências, regulares ou eventuais, da Uniãopara estados, municípios e Distrito Federal estão condicionadas à contrapartida destas 
esferas de governo, em conformidade com as normas legais vigentes (Lei de Diretrizes 
Orçamentárias e outras). 
Esses repasses ocorrem por meio de transferências “fundo a fundo”, realizadas pelo 
Fundo Nacional de Saúde (FNS) diretamente para os estados, Distrito Federal e 
municípios, ou pelo Fundo Estadual de Saúde aos municípios, de forma regular e 
automática, propiciando que gestores estaduais e municipais contem com recursos 
previamente pactuados, no devido tempo, para o cumprimento de sua programação de 
ações e serviços de Saúde. 
As transferências regulares contemplam, ainda, os pagamentos diretos a prestadores 
de serviços e beneficiários cadastrados de acordo com os valores e condições 
estabelecidas em Portarias do Ministério da Saúde. Para cumprir os preceitos do 
financiamento do SUS, o gestor tem de estar seguro quanto a algumas questões 
legais, tais como: 
Gasto em Saúde: os recursos da saúde só podem ser empregados em ações e 
serviços de Saúde definidos na Constituição Federal (Artigo 200) e nas Leis nº 8080/90 
e nº 8142/90. 
No município, o gestor não pode realizar gastos com ações ou serviços que não 
estejam previstos no Plano Municipal de Saúde, aprovado pelo Conselho Municipal de 
Saúde e nas Leis Orçamentárias (PPA, LDO e LOA). Para o início de 2013, o grande 
desafio para os gestores municipais será a elaboração do Plano Municipal de Saúde, do 
PPA (2014-2017) e da LDO 2014. 
Recursos da Saúde: a LC 141 define claramente o quantitativo mínimo que as esferas 
de governo devem investir em saúde: 1) a União deve investir o que foi empenhado no 
ano anterior, corrigido com o percentual de variação nominal do PIB; 2) os Estados, 
12%, no mínimo, do montante de impostos recolhidos; 3) os Municípios, no mínimo, 
15% de sua receita com impostos. 
Administração dos Recursos: os recursos da Saúde devem ser administrados em 
um “Fundo de Saúde”, sob responsabilidade do Secretário de Saúde, que deve ser o 
único ordenador de despesas. 
No Fundo Municipal de Saúde, devem estar depositados todos os recursos do SUS 
(transferências da União e do Estado e os recursos próprios municipais) e não 
necessariamente em uma conta única. Nenhum recurso da Saúde pode ser 
administrado em outra conta da Prefeitura. Além disso, não podem estar fora de 
aplicações financeiras quando não estiverem sendo utilizados. 
Transparência: o Conselho Municipal de Saúde tem obrigação constitucional de 
acompanhar e fiscalizar o Fundo Municipal de Saúde. Porém, nenhum conselho poderá 
cumprir este preceito se o secretário de Saúde não garantir as condições adequadas. O 
gestor deve dar publicidades às contas do Fundo, de modo a garantir a participação 
dos conselheiros e cidadão. Esta obrigatoriedade deve se concretizar principalmente 
nas prestações de contas quadrimestrais ao Conselho de Saúde e em audiência pública 
na Câmara Municipal. Anualmente deve ser elaborado o RAG, único instrumento de 
prestação de contas, parte do processo de planejamento que deve ser submetido ao 
CNS, e ter enviada a resolução do CMS a CIR. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. 
______. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Economia da 
Saúde, Investimentos e Desenvolvimento. Glossário temático: economia da saúde / 
Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Economia da Saúde, 
Investimentos e Desenvolvimento. – 3. ed.– Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 92 p. 
– (Série A. Normas e Manuais Técnicos) 
______. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Economia da 
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