Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 05-Economia da Saúde; Financiamento da Saúde; lei complementar 141/12 1. ECONOMIA DA SAÚDE Introdução Economia da Saúde é uma especialidade de recente surgimento dentro dos estudos econômicos, dedicada a investigação, estudo, método de medição, racionalização e sistema de análise de atividades relacionadas com financiamento, produção, distribuição e consumo de bens e serviços que satisfazem necessidades sanitárias e de saúde, sob os princípios normativos da eficiência e da equidade (RubioCebrian, 1995). A Economia da Saúde surgiu como uma área de conhecimento que integra os campos da Saúde e da Economia com o objetivo de otimizar o uso dos recursos, a partir da aplicação do arcabouço teórico e de ferramentas das Ciências Econômicas à área da Saúde. No Brasil, sob a perspectiva do Sistema Único de Saúde (SUS), a Economia da Saúde nasce como área que aporta conhecimento para a discussão do financiamento do sistema e a definição da melhor distribuição de recursos, fornecendo subsídios à tomada de decisão por parte dos gestores, a fim de garantir o direito constitucional à saúde, sem perder de vista que os recursos são limitados. Vínculos entre Economia e Saúde Economia e saúde estão interligadas de várias formas; seu estudo e pesquisa sistemática e a aplicação de instrumentos econômicos a questões tanto estratégicas como operacionais do setor saúde deram origem à economia da saúde. As condições de vida das populações e suas consequências sobre asaúde são objeto de estudo e pesquisa sistemática há muito mais tempo.Esses trabalhos procuram relacionar fatores socioeconômicos e indicadoresde saúde, como, por exemplo, renda e mortalidade infantil, isto é,demonstrar que quanto menor a renda familiar, maior o número demortes de crianças até o primeiro ano de vida. Ou então, comprovar quea prevalência da tuberculose diminuiu com a urbanização, indicando umaassociação estatística positiva entre a melhoria da habitação e dosserviços públicos e a redução dos casos existentes de tuberculose numadeterminada comunidade. A economia da saúde discute muitas das controvérsias existentes nosetor. Uma delas refere-se à relação existente entre desenvolvimentoeconômico e nível de saúde. Em 1961, o estatuto da Aliança para oProgresso afirmava que saúde constitui um requisito essencial e prévioao desenvolvimento econômico. Neste caso, saúde vem antes, ou seja,existiria uma relação de causa e efeito, na qual saúde é um pré-requisito.No entanto, como já vimos, é difícil conseguir consenso em torno dessasafirmações. A aplicação dos princípios das teorias do crescimento e dodesenvolvimento ao campo da saúde tornam mais objetivos os debatessobre o tema. Uma das mais importantes áreas de interesse da economia da saúde é oestudo da função distributiva dos sistemas de saúde. A equidade em saúde é um tema muito discutido;em geral conota equidade de acesso aos serviços, mas atinge desdeequidade geográfica a equidade por classe social, por faixa etária ougrupo sociocultural, até a equidade de utilização e a equidade de resultadosterapêuticos. Os trabalhos nessa área têm orientado a definição depolíticas e prioridades de saúde de muitas regiões e países. Equidade, Princípio segundo o qual a alocação de recursos é feita em função das necessidades de determinada população. É importante sublinhar o papel da economia parao estudo da dinâmica do mercado de serviços de saúde. A economia dasaúde lança mão da colaboração multidisciplinar para entender o significadodas necessidades de serviços de saúde e as relações entre ofertae demanda. Também reconhece que a percepção dos processospatológicos é diferente para cada grupo social, afetando e sendo afetadapelo comportamento desses grupos em cada contexto. Cabe tambémanalisar o papel influenciador que exercem os interesses comerciais,sejam de fabricantes de medicamentos ou equipamentos, sejam asdiferentes formas de apresentação de planos e seguros-saúde e o papeldos médicos e diversos tipos de prestadores na decisão de consumo deserviços pelos pacientes. VAMOS ANALISAR ALGUMAS DEFINIÇÕES DE ECONOMIA X ECONOMIA DA SAÚDE: Samuelson (1976, p.3) define a economia como o "estudo de como oshomens e a sociedade escolhem, com ou sem o uso de dinheiro, a utilizaçãode recursos produtivos limitados, que têm usos alternativos, paraproduzir bens e distribuí-los como consumo, atual ou futuro, entreindivíduos e grupos na sociedade. Ela analisa os custos e os benefíciosda melhoria das formas de distribuir os referidos recursos." A aplicação dessa definição ao setor saúde é direta; nele encontramosrecursos produtivos limitados, geralmente escassos, e parte de um processodecisório centralizado e de natureza política. A utilização dessesrecursos não tem destinação prévia, cabendo aos planejadores determinarseu uso alternativo. Atribuídos ao setor saúde, resultam em bens eserviços que serão distribuídos de acordo com as características e estruturado sistema de saúde, com impacto imediato ou futuro, atingindoindivíduos ou grupos definidos da população. Por fim, a análise econômicaavalia custos e benefícios, tomados de forma ampla, para o aperfeiçoamento das formas de distribuição e futura programação da intervenção no setor. Campos (1985) vai além para afirmar que a economia da saúde "não éum mero saco de ferramentas; antes é um modo de pensar que tem aver com a consciência da escassez, a imperiosidade das escolhas e a necessidade de elas serem precedidas da avaliação dos custos e das consequências das alternativas possíveis, com vista a melhorar a repartição final dos recursos". Neste ponto de vista é amparado por Culyer (1978), que afirma que poucos conceitos econômicos não são aplicáveis ao setor saúde. Daí a economia da saúde não existir de forma independente da economia. Deste corpo de conceitos econômicos mais amplos, a economia da saúde passa a explorar tópicos relevantes para seu campo de aplicação: o papel dos serviços de saúde no sistema econômico; o sistema de produção e distribuição de serviços de saúde; as formas de medir o impacto de investimentos em saúde; o estudo de indicadores e níveis de saúde correlacionados a variáveis econômicas; o emprego e os salários de profissionais de saúde e a oferta de mão-de-obra; a indústria da saúde no capitalismo avançado; o comportamento do prestador de serviços e suas relações com o consumidor; a análise de custo-benefício, de custo efetividade e de custo-utilidade de serviços ou bens específicos, além de análise das políticas de saúde em vários níveis. A Abrangência da Economia da Saúde No Brasil, assim como em outros países de economia semelhante, o mosaico de serviços de saúde que a população encontra está distorcido por uma série de razões: • os serviços não correspondem às necessidades da população; • a distribuição geográfica dos recursos é extremamente desigual; • em algumas áreas existe excessivo uso de alta tecnologia médico-hospitalar para tratar os efeitos de moléstias preveniveis; • o uso excessivo e a venda liberal de medicamentos; • internações desnecessárias, referências a outros níveis e examessupérfluos; • competição do setor privado com o setor público por examesauxiliares lucrativos e cirurgias eletivas; e • distribuição do financiamento proveniente da seguridade socialsem mecanismos apropriados de controle. Como consequência, os custos dos serviços estão fora de controle, sendodifícil medir benefícios, mesmo a partir de programas específicos. Osincentivos direcionam-se à especialização; o governo premiaprocedimentos de alto custo com programas especiais e remuneraçãodiferenciada. As indústrias farmacêutica e de equipamentos médico- hospitalares seguem essa tendência, também estimulando o desenvolvimentode especialistas. As estimativas oficiais dão conta de que 95% da população brasileiratem coberturade serviços de saúde. Enquanto isso, cerca de 30% da populaçãonão tem acesso a qualquer tipo de serviço. São os habitantes daperiferia das grandes cidades e a população de áreas remotas. Planejamentoe controles insuficientes tornam o sistema de saúde burocrático eineficaz, com marcante ausência de padrões assistenciais mínimos.Em face dessas comprovações, é natural que sejam levantadas algumasperguntas, fundamentais ao início de uma discussão mais sistemáticasobre o papel dos serviços de saúde: • Os serviços de saúde têm conseguido promover saúde? • Quais os princípios que regem a organização e o financiamentodesses serviços? • É possível manter um certo número de serviços disponíveissempre que necessários e em todas as localidades? • É possível diminuir o custo dos serviços sem alterar suaqualidade? Essas perguntas são amplas e não podem ser respondidas sem a devidacontextualização, ou seja, existe um pano de fundo no qual elas se confundemou do qual se destacam. Para seu estudo e discussão, o referencialteórico da economia da saúde torna possível ligar um tema ao outro,entendendo suas relações e dinâmica interna. De outra forma, seriamvistos como problemas pontuais, analisados em perspectivas particulares,com a consequente perda da visão de conjunto, essencial para acompreensão das alternativas existentes no setor saúde e a complexidadede sua implementação. A economia da saúde busca ainda respostas a perguntas como: • Quanto um país deve gastar com saúde? • Como devem ser financiados os gastos com saúde? • Qual a melhor combinação de pessoal e tecnologia para produziro melhor serviço? • Qual a demanda e qual a oferta de serviços de saúde? • Quais as necessidades de saúde da população? • O que significa atribuir prioridade? • Quando e onde deve ser construído um novo hospital? • É preferível prevenir a curar em que condições? • Quais as implicações da introdução das taxas moderadoras sobrea utilização de serviços? Custos em Saúde Os gastos com saúde e os serviços sanitários podem ser suportados por: prestadores dos serviços (pessoal, locais, equipamentos, materiais e fornecimento, etc.) e usuários (meios de transporte, medicamentos, etc.) Para a OMS (1976), são fatores que determinam a tendência dos custos em saúde: causas demográficas, necessidade de pessoal nos serviços de saúde, qualidade dos serviços de saúde, exigências dos cidadãos, mudança epidemiológica em consequência do desenvolvimento econômico, organização e estrutura do sistema de atenção sanitária e da extensão da cobertura. CUSTO Valor monetário de recursos consumidos na produção de outros bens e serviços em um determinado período (ou a impossibilidade de utilização de um recurso, no caso das perdas de produtividade) Ex: Custo com antibióticos utilizados para dar alta a um paciente com pneumonia Tipos de custos Tangíveis (mensuráveis) Diretos e Indiretos ou Produtividade Intangíveis (não-mensuráveis) Custos diretos São os custos diretamente relacionados com os cuidados de saúde Custos indiretos (produtividade) Mudança na capacidade produtiva do indivíduo, geralmente, por perda de dias de trabalho ou falecimento • São importantes para determinadas doenças crônicas • Ao contrário dos custos diretos não representam despesas efetivamente incorridas • Métodos de mensuração: Capital Humano e APVP Custos intangíveis Estão relacionados às mudanças na qualidade de vida e às consequências da doença em si ou do tratamento, como dor, ansiedade, sofrimento. Custo de oportunidade • Benefício derivado da utilização de recursos em sua melhor alternativa de uso •Uma medida de sacrifício feito pelo uso de recursos em um dado programa/ atividade/ decisão •Benefícios que são excluídos pela escolha de uma opção em vez de outra Despesa: valor dos bens ou serviços não relacionados diretamente com a produção de outros bens ou serviços consumidos em um determinado período. Ex: despesas com frete de equipamentos biomédicos para manutenção Gasto: valor dos bens ou serviços adquiridos por uma dada instituição. Ex: valor da aquisição de uma licitação de fios cirúrgicos Desembolso: pagamento resultante das aquisições dos bens e serviços por uma instituição. Ex: pagamento de aquisição de um lote de bolsas hemoterápicas Perda: É o valor dos bens ou serviços consumidos de forma anormal e involuntária. Ex: danos provocados por sinistros Desperdício: É o consumo intencional, que por alguma razão não foi direcionado à produção de um bem ou serviço. Ex: violar pacotes esterilizados e não utilizar todo o seu conteúdo MERCADOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE MERCADO “ É contexto ou instituição social, dentro do qual se forma livremente o preço de um produto (bem ou serviço) peloadequado ajustamento de sua oferta e sua demanda, em que se realiza um intercâmbio de caráter livre e voluntário entre diferentes pessoas ou entidades”(RubioCebrián, 1995) O estudo de um mercado qualquer deverá atender a três componentes fundamentais: a escolha do objeto, o comportamento do agente da procura (demanda) e o comportamento do agente da oferta. No caso, dos serviços de saúde, os componentes são respectivamente: 2. FINANCIAMENTO DA SAÚDE UM POUCO DE HISTÓRIA... O FINANCIAMENTO PÚBLICO DA SAÚDE APÓS A CF/1988 A CF/1988, ao criar a seguridade social, estabeleceu que ela deveria ser financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, e de contribuições sociais. No governo federal, esses recursos seriam repartidos entre a previdência, a assistência social e a saúde e, no caso desta última, previu-se, conforme consta do Artigo 55 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), uma vinculação de 30% dos recursos do orçamento da seguridade social (OSS), excluído o seguro-desemprego. Esta disposição teria validade até que fosse aprovada a primeira Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria definir a cada ano qual o percentual a ser destinado à saúde. Ressalta-se que a CF/1988 ampliou não somente o direito à saúde, mas também criou novos direitos em outros campos da seguridade social. Por exemplo, no caso da previdência social ampliou o direito à aposentadoria rural e no campo da assistência estabeleceu o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Conforme descrito pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), “o Benefício de Prestação Continuada (BPC)é um direito garantido pela Constituição Federal, que assegura um salário mínimo mensal ao idoso, com idade de 65 anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, incapacitada para a vida independente e para o trabalho, que comprove não possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo provido por sua família. Em ambos os casos, é necessário que a renda mensal bruta familiar per capita seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente”. Disponível em:<http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficiosassistenciais/bpc>. Acesso em: 5 set. 2011. A implantação dos novos direitos sociais coincidiu com um período de hiperinflação e restrições macroeconômicas. Assim, várias áreas buscaram aplicar os princípios constitucionais sem necessariamente observar um aumento de recursos para essas políticas. Isso gerou uma forte disputa interna entre as áreas sociais, entre elas as áreas de saúde e a previdência social. No caso da saúde, o percentual de 30% dosrecursos da seguridade social não foi cumprido em 1990 e 1991. Essa disputa se acirra a tal ponto que, em 1993, as contribuições previdenciárias não mais compuseram as fontes de financiamento da saúde. Conforme destacam Mendes e Marques (2009), “Nesse ano, apesar da previsão de recursos para a saúde, nada foirepassado com base na alegação de problemas de caixa na Previdência. Esse fato agravou a situação de incerteza e de instabilidade do financiamento da saúde”. Por fim, recorreu-se ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para garantir um mínimo de recursos para a saúde. A EC NO 29 E A AMPLIAÇÃO DE RECURSOS PARA A SAÚDE Desde a crise instaurada pelo afastamento dos recursos previdenciários ao financiamento da saúde, começaram a prosperar iniciativas parlamentares para assegurar a vinculação de recursos para o SUS. Algumas mais gerais, por incluírem vinculação de recursos nas três esferas de governo, outras mais restritas, como a criação da CPMF em 1997. A primeira, de caráter mais geral, foi apresentada em junho de 1993 e teve como autores os deputados Waldir Pires e Eduardo Jorge – Proposta de Emenda Constitucional (PEC) no 169/1993. As diversas proposições apresentadas, entre 1993 e 1999, foram aglutinadas, dando origem à EC no 29/2000. Essa emenda definiu montantes mínimos a serem aplicados pela União, estados e municípios em Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS). A EC no 29 trouxe mais recursos e promoveu o aumento da participação de estados, Distrito Federal e municípios no financiamento do SUS. Ela começou a vigorar em 2000, quando a União ainda respondia por quase 60% do recurso público total aplicado em saúde. Desde então, sua participação foi decrescendo, ficando em torno de 44% em 2011, apesar de terem sido observados incrementos reais no montante destinado à saúde. Nesse mesmo período, a participação dos estados passou de 18,5% para 25,7%, enquanto a dos municípios foi de 21,7% para 29,6%, de acordo com os dados do Sistema de Informações e Orçamentos Públicos de Saúde (SIOPS) (tabela 2). Assim, afirma-se que a aprovação da EC no 29 teve impactos diferenciados em cada ente da federação e foi bem-sucedida na busca do objetivo de atender ao princípioconstitucional da descentralização, ampliando a participação de estados e municípios no financiamento das ações e serviços de saúde. A LEI NO 141/2012 E OS MECANISMOS E CRITÉRIOS DE RATEIO DE RECURSOS Como visto, a EC no 29 (Artigo 6º) acrescentou ao Artigo 198 da CF o parágrafo 3º, item II, estabelecendo que a LC que será reavaliada, pelo menos, a cada cinco anos determinará “os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao DF e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais”. Obedecendo à prescrição, a Lei no 141 estabelece: O rateio dos recursos da União vinculados a ações e serviços públicos de saúde e repassados na forma do caput dos arts. 18 e 22 aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios observará as necessidades de saúde da população, as dimensões epidemiológica, demográfica, socioeconômica, espacial e de capacidade de oferta de ações e de serviços de saúde e, ainda, o disposto no art. 35 da Lei no 8.080, de 19/9/1990, de forma a atender os objetivos do inciso II do § 3º do art. 198 da Constituição Federal. § 1o O Ministério da Saúde definirá e publicará, anualmente, utilizando metodologia pactuada na comissão intergestores tripartite e aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, os montantes a serem transferidos a cada Estado, ao Distrito Federal e a cada Município para custeio das ações eserviços públicos de saúde. § 2o Os recursos destinados a investimentos terão sua programação realizada anualmente e, em sua alocação, serão considerados prioritariamente critérios que visem a reduzir as desigualdades na oferta de ações e serviços públicos de saúde e garantir a integralidade da atenção à saúde. Além disso, aproveita para revogar o parágrafo 1o do Artigo 35 da Lei no 8.080/1990 em seu Artigo 47.27 Adicionalmente, os Artigos 18 e 22 da Lei no 141/2012 reforçam a modalidade de transferência regular e automática para os recursos repassados pela União para estados e municípios e dos estados para os municípios. CONSIDERAÇÕES FINAIS São conhecidas as tentativas de ampliar e dar estabilidade ao financiamento público da saúde. Esse processo teve início com a criação da CPMF em 1996 e culminou com a promulgação da EC no 29, em 2000. Observou-se, nos anos subsequentes, uma ampliação do total de recursos para a área, bem como das transferências federais para estados e municípios. Contudo, de 2000 a 2012 os movimentos vinculados à saúde mantiveram a pressão para regulamentar a EC no 29 e aumentar os recursos para a saúde. A expectativa desses movimentos era de que a própria regulamentação trouxesse uma mudança do critério que estabelece o mínimo a ser aplicado pelo governo federal e, com isso, se obtivesse um aporte de recursos adicionais. Além disso, a efetiva definição do que se entende por ações e serviços públicos de saúde impediria os vazamentos de recursos públicos, isto é, a aplicação de recursos em outras áreas ou ações que não aquelas destinadas à atenção universal em saúde. Adicionalmente, com o fim da CPMF em 2007, havia a expectativa da definição de uma nova fonte tributária, por meio da criação da CSS. A regulamentação da EC no29 ocorreu em 2012 e apenas uma dessas expectativas foi atendida: a definição de ações e serviços públicos de saúde. A regulamentação não promoveu mudança do critério de vinculação dos recursos federais ou embutiu a criação de uma nova contribuição. Além disso, outras questões relativas à gestão do SUS e aos critérios de transferências de recursos para estados e municípios ainda demandam uma definição mais clara. Assim, com relação aos recursos para o SUS, no campo técnico-político, será necessário discutir novas fontes de recursos que permitiriam aumentar o financiamento público para a saúde. Até o momento, a defesa da necessidade de financiamento tem sido feita com base em comparações com países que possuem sistemas de saúde universais. Contudo, faz-se necessário dimensionar melhor os custos, o perfil epidemiológico e os gastos realizados para aprimorar o conhecimento sobre a necessidade de financiamento do SUS. Em relação aos gastos, com as informações hoje disponíveis é possível ter conhecimento sobre em quais ações e programas são aplicados os recursos federais destinados às ASPS. Contudo, essas informações não estão disponíveis para os recursos dos estados e municípios em um formato que permita as mesmas análises que são feitas para o nível federal. Assim, tem-se apenas uma visão parcial dos objetos do gasto do SUS, visto que mais de 50% do gasto é complementado com recursos de estados, Distrito Federal e municípios. Para que sistemas como o SIOPS permitam realizar análises mais consolidadas, seria necessário proceder a alterações significativas. Todavia, isso só seria possível por meio de uma ação coordenada com o MF e o MPOG, além de uma forte capacitação dos estados e, principalmente, dos municípios FINANCIAMENTO DA SAÚDE Até 1988 imperou no Brasil o conceito de seguro, vale dizer, cobertura do Estado apenas para as pessoas que tivessem vínculo direto e formal com o processo econômico e com a produção de bens e serviços. A saúde era tratada como questão de misericórdia. A Constituição Federal de 1988, promulgada em 5 de outubro, pretendeu substituir o conceito de seguro (cobertura ao contribuinte direto) pelo conceito de seguridade social – cobertura ao cidadão. A Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde foram reconhecidas como direitos nos termos dos artigos 194 a 204. Ações e serviços de Saúde são financiados com recursos próprios da União, estados e municípios e de outras fontes suplementares de financiamento, todos devidamente contemplados no orçamento da Seguridade Social. Cada esfera governamental deve assegurar o aporte regular de recursos à Saúde de acordo com a LC 141 de 2012. As transferências, regulares ou eventuais, da Uniãopara estados, municípios e Distrito Federal estão condicionadas à contrapartida destas esferas de governo, em conformidade com as normas legais vigentes (Lei de Diretrizes Orçamentárias e outras). Esses repasses ocorrem por meio de transferências “fundo a fundo”, realizadas pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) diretamente para os estados, Distrito Federal e municípios, ou pelo Fundo Estadual de Saúde aos municípios, de forma regular e automática, propiciando que gestores estaduais e municipais contem com recursos previamente pactuados, no devido tempo, para o cumprimento de sua programação de ações e serviços de Saúde. As transferências regulares contemplam, ainda, os pagamentos diretos a prestadores de serviços e beneficiários cadastrados de acordo com os valores e condições estabelecidas em Portarias do Ministério da Saúde. Para cumprir os preceitos do financiamento do SUS, o gestor tem de estar seguro quanto a algumas questões legais, tais como: Gasto em Saúde: os recursos da saúde só podem ser empregados em ações e serviços de Saúde definidos na Constituição Federal (Artigo 200) e nas Leis nº 8080/90 e nº 8142/90. No município, o gestor não pode realizar gastos com ações ou serviços que não estejam previstos no Plano Municipal de Saúde, aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde e nas Leis Orçamentárias (PPA, LDO e LOA). Para o início de 2013, o grande desafio para os gestores municipais será a elaboração do Plano Municipal de Saúde, do PPA (2014-2017) e da LDO 2014. Recursos da Saúde: a LC 141 define claramente o quantitativo mínimo que as esferas de governo devem investir em saúde: 1) a União deve investir o que foi empenhado no ano anterior, corrigido com o percentual de variação nominal do PIB; 2) os Estados, 12%, no mínimo, do montante de impostos recolhidos; 3) os Municípios, no mínimo, 15% de sua receita com impostos. Administração dos Recursos: os recursos da Saúde devem ser administrados em um “Fundo de Saúde”, sob responsabilidade do Secretário de Saúde, que deve ser o único ordenador de despesas. No Fundo Municipal de Saúde, devem estar depositados todos os recursos do SUS (transferências da União e do Estado e os recursos próprios municipais) e não necessariamente em uma conta única. Nenhum recurso da Saúde pode ser administrado em outra conta da Prefeitura. Além disso, não podem estar fora de aplicações financeiras quando não estiverem sendo utilizados. Transparência: o Conselho Municipal de Saúde tem obrigação constitucional de acompanhar e fiscalizar o Fundo Municipal de Saúde. Porém, nenhum conselho poderá cumprir este preceito se o secretário de Saúde não garantir as condições adequadas. O gestor deve dar publicidades às contas do Fundo, de modo a garantir a participação dos conselheiros e cidadão. Esta obrigatoriedade deve se concretizar principalmente nas prestações de contas quadrimestrais ao Conselho de Saúde e em audiência pública na Câmara Municipal. Anualmente deve ser elaborado o RAG, único instrumento de prestação de contas, parte do processo de planejamento que deve ser submetido ao CNS, e ter enviada a resolução do CMS a CIR. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. ______. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento. Glossário temático: economia da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento. – 3. ed.– Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 92 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) ______. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento.Microeconomia / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento. –Brasília: Ministério da Saúde, 2012. ______. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento (DESID).Macroeconomia / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Departamento de Economia da Saúde, Investimentos e Desenvolvimento (DESID).– Brasília: Ministério da Saúde, 2012. ______. Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Financiamento público da saúde: uma história à procura de rumo. Rio de Janeiro, julho de 2013. Disponível: http://apsredes.org/site2013/wpcontent/uploads/2013/10/IPEA18461.pdf. Acesso em: 15/07/2015 SILVA, L. M. V. &FORMIGLI,V. L. A.Avaliação em Saúde: Limites e Perspectivas.Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10(1): 80-91, Jan/Mar, 1994. PIOLA, Sérgio Francisco, VIANNA, Solon Magalhães (orgs.)Economia da Saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde.Brasília: IPEA, 1995. http://apsredes.org/site2013/wpcontent/uploads/2013/10/IPEA18461.pdf
Compartilhar