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Resenha - Documentário Privacidade Hackeada

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
PSICOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO
Prof. Luiz Gibier de Souza
Aluno: Uriel de Mendonça Batalha Silveira - 201532020
Resenha: Documentário - Privacidade Hackeada
Os dados são o ativo / recurso mais valioso da Terra. Ainda assim, temos pouco ou
nenhum controle sobre quem está explorando o nosso sem o nosso consentimento. É isso que
os autores, Jehane Noujaim e Karim Amer, querem nos fazer perceber em seu documentário
The Great Hack, lançado pela Netflix em 24 de julho de 2019.
Privacidade Hackeada serve tanto para o espectador que acompanhou no noticiário o
desenrolar do escândalo do nefasto uso de dados pessoais pela Cambridge Analytica quanto
para aquele que não sabe do que se trata. Para o primeiro, ele revela parte dos bastidores dos
vazamentos, dos testemunhos e das publicações referentes ao caso. Para o segundo, ele
funciona como um ótimo resumo e uma importante contextualização desses acontecimentos.
Para quem já conhece as curvas que a história fará, a narrativa pode parecer um tanto
lenta e demasiadamente dependente de informações já publicadas nos jornais. Ainda assim, é
interessante conhecer as experiências e os pontos de vista dos jornalistas e ativistas
responsáveis pelas publicações. Em determinados momentos, é possível ver a reação de
alguns deles diante de revelações feitas durante depoimentos transmitidos ao vivo.
Entretanto, a inclusão do aspecto humano nem sempre vai fundo o suficiente para se
justificar. O roteiro passa de forma superficial por vários dos envolvidos até focar sua atenção
na figura que pode ser considerada sua protagonista. Isso acaba inflando o tempo de duração
do filme, que chega a quase duas horas, e exigindo um pouco mais de paciência do
espectador. Talvez uma abordagem mais direta seria mais adequada, o que exigiria que o
escopo da produção fosse reduzido ou que ela se tornasse uma minissérie mais detalhada.
A protagonista em questão é a principal informante do caso, a ex-diretora da
Cambridge Analytica, que é apresentada de forma sincera e razoavelmente equilibrada. As
necessidades financeiras de sua família e a vontade de fazer parte de um trabalho no qual
poderia ver os resultados concretos de suas ações a levaram a se dedicar à empresa e ao seu
carismático CEO Alexander Nix sem se preocupar com as implicações éticas e morais dos
serviços que estavam prestando. Empolgada com o emprego dos seus sonhos, ela
(conscientemente ou não) ficou cega para as óbvias repercussões que seu trabalho teria.
E essas repercussões são inéditas na História da humanidade. Para começar, o
modelo de negócios da Cambridge Analytica era baseado na coleta de dados pessoais de
bilhões de pessoas ao redor do mundo. Usando o Facebook como plataforma e quizzes de
personalidade como ferramenta, a empresa montou uma das mais ricas e detalhadas bases de
dados sobre o comportamento humano da qual se tem notícia. Por mais que o usuário
precisasse autorizar o compartilhamento das informações, ele não tinha ideia de onde elas
seriam armazenadas (ou para quem seriam vendidas) e para quais fins seriam utilizadas.
Uma ferramenta como essa dá a seu portador algo que nenhum governo (ou outros
grupos de interesse) jamais teve: poder direto sobre os pontos de vista de milhões ou bilhões
de pessoas. Isso, essencialmente, quebra a roda da democracia. Se a vontade do povo se torna
passível de manipulação sistemática por um pequeno grupo de pessoas, o sistema político está
condenado a voltar para modelos autocráticos ou, no mínimo, oligárquicos.
Os principais casos de sucesso da empresa são a eleição de Donald Trump como
presidente dos EUA e a vitória do “sim” no referendo sobre o Brexit no Reino Unido, além do
notório caso da manipulação das eleições em Trindade e Tobago. Independente dos lados
beneficiados pelo uso dessas tecnologias, a questão realmente preocupante é que o futuro de
centenas de milhões de pessoas foi definido com base em campanhas de desinformação
promovidas por meio de técnicas de guerra psicológica
É interessante notar que essa nova realidade põe em cheque aquilo que chamamos de
livre arbítrio e condiz com as conclusões às quais os criadores da série Westworld chegaram
durante suas pesquisas . Em determinado ponto da série (que também lida com a coleta de
dados de usuários que não estão cientes disso), uma inteligência artificial responsável por
copiar a personalidade de pessoas reais explica parte de sua metodologia: “As cópias não
falharam por serem muito simples, mas por serem muito complexas. A verdade é que um ser
humano é apenas um breve algoritmo. Uma vez que você os conhece, seus comportamentos
são bem previsíveis.”
Assim como a criação da ciberarma conhecida como Stuxnet deu origem a um novo
tipo de guerra, como mostrado no documentário Zero Days, as tecnologias desenvolvidas pela
Cambridge Analytica originaram um novo tipo de propaganda: anúncios produzidos sob
medida e cirurgicamente direcionados para eleitores de acordo com os traços de suas
personalidades; projetados para provocar a exata reação emocional pela qual o cliente está
pagando; que “hackeiam” as emoções humanas e o nosso processo de tomada de decisões.
Os desafios que surgem com essa nova realidade são inéditos e colocam a civilização
em território inexplorado. A solidez e a resiliência de instituições montadas ao longo dos
últimos séculos serão testadas diante de forças que tentam afastar a racionalidade e fazer a
humanidade retornar a um estado puramente instintivo. Até que ponto o “sistema
imunológico” dos nossos tecidos sociais estão prontos para combater essa infecção?
O documentário é bem estruturado e cativante, e deve ser facilmente compreensível
para um grande público. Porém, ele não apresenta uma solução, apenas fornece uma visão de
como o mundo hoje está funcionando. Não há consolo, explorar dados é uma realidade e o
filme deixa o espectador com um sabor amargo. Mesmo que a Cambridge Analytica encerre
suas operações, existem e haverá outras empresas oferecendo o mesmo serviço.
O formato e a distribuição via Netflix tornam Privacidade Hackeada o veículo
perfeito para que essas informações e questionamentos cheguem ao público de forma mais
organizada e menos diluída. Resta saber até que ponto a população realmente se importa com
a sua privacidade sendo violada dessa forma e com os processos eleitorais se tornando jogos
de cartas marcadas. Ou se ela entende o que está perdendo com isso.

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