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Universidade Federal de Uberlândia Curso de Graduação em Engenharia Biomédica André Felipe Soares de Araujo Raul Nicolini Rodrigues Trabalho da disciplina Biomateriais e Próteses SUTURAS CIRÚRGICAS Uberlândia 2020 1 SUMÁRIO 1. Introdução 2 2. Histórico 3 3. Normas 5 3.1. Resistência à Tração (USP 881 & Farmacopeia Brasileira 5.7.1) 5 3.2. Determinação do Diâmetro (USP 861 & Farmacopeia Brasileira 5.7.2) 6 3.3. Resistência ao Encastoamento (USP 871 & Farmacopeia Brasileira 5.7.3) 4. Suturas absorvíveis 6 4.1. Suturas absorvíveis naturais 11 4.1.1.Catgut 11 4. 2. Suturas absorvíveis sintéticas 11 4.2.1. VICRYL RAPID® 11 4.2.2. VICRYL® 11 4.2.3. PDS II® 12 5. Suturas não absorvíveis 12 5.1. Suturas não absorvíveis naturais 12 5.1.1 Seda 12 5.1.2. Aço inoxidável 12 5.2. Suturas não absorvíveis sintéticas 13 5.2.1. Polipropileno e Prolene 13 5.2.2. Poliéster 13 5.2.3. Nylon 13 6. Conclusão 14 Referencias Bibliográficas 15 2 1. INTRODUÇÃO A necessidade de fechar ferimentos é um dos fatores determinantes para a sobrevivência da espécie humana, pois uma lesão aberta poderá piorar o estado da vítima. Assim a sutura, apesar de ser constituída de elementos simples sofreu grandes mudanças em seus materiais e nas técnicas de aplicação mantendo o princípio do dispositivo, ou seja, aproximar ou unir as partes da ferida, buscando auxiliar e acelerar o processo de cicatrização. Com o avanço tecnológico e novos estudos sobre o tema, técnicas e materiais novos foram surgindo ao longo da história, buscando unir as técnicas e materiais disponíveis nas diversas situações vivenciadas no âmbito da saúde. Algumas das técnicas e aplicações de materiais descobertas no período greco-romano, ou anterior, ainda são ensinados atualmente nas escolas de medicina, como as ligaduras e suturas reabsorvíveis (catgut). Embora a diversidade de materiais das linhas tenha aumentado drasticamente nos últimos anos, com materiais para aplicações cirúrgicas mais específicas, ainda não existe um material que possa ser aplicado a todas as situações, uma sutura ideal. Ainda sim, o mercado de suturas vem se expandido e inovando, trazendo novos materiais para os fios de sutura, seja o material do fio ou o revestimento do fio. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo mostrar os principais requisitos e normas que justificam a utilização de alguns materiais utilizados na produção de suturas cirúrgicas para sua respectiva aplicação. 3 2. HISTÓRICO A primeira descrição de uma sutura foi feita por volta do ano de 1600 Antes da Era Comum (AEC), no papiro do Antigo Egito encontrado por Edwin Smith. A sutura consistia de materiais como fibras vegetais, cabelos e até mesmo lãs e tendões que foram encontrados em restos mumificados (URL 1). No ano de 500 AEC, o cirurgião indiano Susruta fez a primeira discussão sobre técnicas de sutura em Samhita (SCOTT, 1983) onde descreve em detalhes suturas de feridas utilizando catgut, linha feita a partir do intestino delgado de ovelhas, além da utilização de grandes formigas pretas, que atuavam como grampos bem eficientes por conta de suas mandíbulas. Descrições detalhadas feitas pelos gregos e romanos Hipócrates (460 – 377 AC), Aurelius Cornelius Celsus (25 AC-50 DC) e Galeno de Pérgamo (131-211) continham técnicas de sutura bem detalhadas como o controle da hemostasia "fazendo ligaduras em muitos lugares", registros dos sintomas apresentados na lesão como dor, rubor, calor e tumor, que são ensinados nas escolas de medicina contemporâneas (GREIVE, 1756), mas também a utilização de vinho diluído para limpar as feridas e a utilização de cordão de tripas para a sutura, sendo preferível o uso de seda quando disponível (BOLLON, 2003). Ali Ibn Sina, conhecido também por Avicena (980-1037) buscava uma alternativa aos materiais utilizados na época, utilizando um monofilamento natural, cerdas de porcos, para o fechamento de feridas, além de sugerir novas técnicas para o fechamento de abdome, utilizando alças (GRUNER, 1930). Com a ampla difusão da cauterização, realizada com óleos fervilhando danificando também os tecidos, as suturas utilizando materiais naturais eram utilizadas para o reparo interno, entre os séculos XVI e XVIII. A reintrodução das ligaduras pelo cirurgião militar Ambroise Paré (1510-1590) que as utilizava para a amputação de membros e para as ligaduras vasculares linho fino e seda (PARÉ, 1840). Já no início do século XIX, o médico americano Philip Syng Physick (1768-1837) difundiu em palestras as suas observações sobre a dissolução de suturas de couro por fluidos corporais, acreditando que este tipo de tecnologia era muito úteis para a área médica (EDWARDS, 1940), além de popularizar o uso de suturas com cromo em sua composição (DORSEY, 1818). Devido a inflamações no reparo de fístulas o fio de cromo e seda foi substituído pelo fio de prata difundido por James Marion Sims (1813-1884), que afirmou em seu discurso para a Academia de Medicina de Nova York, que no futuro a utilização dos fios de prata reduziria drasticamente a mortalidade em grandes operações dos hospitais, devido às propriedades do material (SIMS, 1858), sendo esterilizante. Entretanto, a partir do início do século XX, com a disponibilidade de novas suturas com materiais sintéticos mais flexíveis e não absorvíveis, a utilização de suturas metálicas teve seu uso diminuído. Apesar da grande utilização das suturas nos procedimentos, a cauterização continuou sendo a técnica mais utilizada, uma vez que as suturas tinham uma grande chance de se infeccionar, até que em 1867 elas se tornaram evitáveis após Lord Joseph Lister publicar "O sistema anti-séptico" onde descreve a relação entre a infecção e 'influências malignas da atmosfera impura' (os germes), propondo métodos de esterilização utilizando ácido carbólico em materiais como as suturas e os equipamentos cirúrgicos, e na própria ferida, conseguindo resultados promissores (LISTER, 1867). Posteriormente notou-se que o método de Lister era inconsistente, apresentando falhas na esterilização do equipamento utilizado, podendo levar a uma infecção indesejada (KELLY, 1906). 4 Com a produção de suturas no modelo industrial no início do século XX houve uma necessidade de se padronizar as suturas fabricadas, tal padronização foi feita pela United States Pharmacopeia (USP). Na Segunda Guerra Mundial a sutura se tornou mais popular, devido a grandes contratos com os militares para suprirem os feridos nas linhas de frente, além de acelerar o processo de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais para as suturas durante as décadas de 1960 e 1970, impulsionada pelas regulamentações do Food and Drug Administration (FDA) americano. Na segunda metade do século XX e início do século XXI diversas suturas surgiram apresentando características e aplicações distintas, muitas suturas sintéticas foram desenvolvidas para funções distintas umas das outras. As técnicas e normas utilizadas também foram se modernizando, acompanhando as demandas do mercado médico (MUFFLY, 2011). 5 3. NORMAS Segundo a definição internacional norma é um “documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um ótimo grau de ordenação em um dado contexto” (URL 2). As normas tornam algumas qualidades desejadas nos produtos, ou seja um padrão a ser seguido, porém não são obrigatórias. Assim elas são colocadas com a finalidade de garantir qualidade e confiabilidade para o produto, asseguradas por meio de testes estabelecidos, também, pelas normas. A norma ISO 10993 - Biological Evaluation of medical devices,avalia os riscos biológicos apresentados por dispositivos médicos, além dos padrões específicos de cada produto e seus testes aplicáveis. Esta norma é dividida em várias partes, cada uma assegurar a qualidade e segurança de um processo de fabricação ou interação voltados para o corpo humano. Os testes realizados nas suturas visam aprovar as mesmas com relação à biocompatibilidade e sua resistência à tração, entre outros. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) através da Farmacopeia brasileira, recomenda a execução de alguns testes e condições para o mesmo, a fim de garantir a partir da reprodutividade do teste, a qualidade da sutura. As condições ambientes dos testes de tração, do diâmetro e do encastoamento são 60% e 80% de umidade relativa do ar e temperatura ambiente entre 20ºC e 25ºC. 3.1. RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (USP 881 & Farmacopeia Brasileira 5.7.1) A norma ABNT utiliza uma máquina de tração com prendedores do tipo rolo com 180 a 190 mm de diâmetro e no mínimo 25 mm de comprimento com superfícies lisas. Já a norma USP varia o tempo e o diâmetro dos prendedores de acordo com o tamanho da sutura, longa, média ou pequena. A marcação dos resultados é feita por uma pena inscritora calibrada para estar entre 20% e 80% no momento da ruptura, tendo um deslize máximo de 2,5% quando sem carga. A inclinação de 0º a 30º do plano deve durar 20 segundos a partir do início do teste (ANVISA v1; URL 3). Dois testes são realizados, a tração direta e a tração sobre-nó, garantindo a confiabilidade durante o uso do material. No primeiro teste a carga inicial aplicada é de 25% da exigida para a sutura nos testes, já a segunda é realizada sobre um tubo de borracha de 50 mm de comprimento e 8,1 mm de diâmetro externo e 6,5 mm de diâmetro interno, com as pontas equidistantes dos prendedores, o nó cirúrgico utilizado pode ser observado na figura 1 abaixo. O resultado obtido quando há um rompimento próximo aos prendedores é sempre descartado. Os demais devem ser comparados com a literatura e apresentar continuidade e reprodutividade durante os testes. Figura1. Nó cirúrgico. Fonte: Farmacopeia Brasileira, 2019. 6 3.2. DETERMINAÇÃO DO DIÂMETRO (USP 861 & Farmacopeia Brasileira 5.7.2) Para ambas as normas ABNT e USP é utilizado um relógio comparador do tipo "peso morto" com resolução de escala mínima de 0,002 mm e sapata com 12,7±0,02 mm de diâmetro, e a carga total aplicada na amostra deve ser de (210±3)g, o conjunto utilizado para o teste pode ser observado na figura 2 abaixo. Para suturas 9-0 de diâmetro ou menores a carga não deve exceder 60g. As suturas acondicionadas em líquidos devem ser testadas logo após a retirada do líquido, sem a espera para secar o fio, já as suturas sem líquidos devem ficar no mínimo 4 horas em ambiente com temperatura e umidade controlada para então realizar a medição. Todas as aferições são feitas em 1/4 , 1/2 e 3/4 do comprimento da amostra a fim de determinar seu diâmetro médio, para as suturas multifilamentares são aferidas 2 amostras perpendiculares em cada ponto (ANVISA v1; URL 4). Os resultados obtidos devem estar compreendidos dentro dos limites estabelecidos pela literatura, também compreendido entre os limites dos padrões das suturas de calibres superior e inferior da amostra em questão. Figura 2. Mesa para a medição de diâmetro de suturas multifilamentares. Fonte: Farmacopeia Brasileira, 2019. 3.3. RESISTÊNCIA AO ENCASTOAMENTO (USP 871 & Farmacopeia Brasileira 5.7.3) Este teste é feito em 100% das suturas, uma vez que ele garante que a linha esteja devidamente presa a agulha, não correndo o risco das mesmas se separarem durante o uso, resultando em uma falha grave do equipamento. As aferições são feitas individualmente colocando a agulha da sutura presa ao tensor e a outra ponta é puxada. Os resultados são avaliados individualmente e por lote, devendo obedecer os limites para os mesmos conforme a tabela 1 abaixo (ANVISA v1; URL 5). 7 Tabela 1. Limite de resistência ao encastoamento da agulha. Fonte: Farmacopeia Brasileira, 2019. Além dos testes acima citados, outros testes como os de biocompatibilidade, teste de interação com o sangue, testes de esterilização do material entre outros previstos nas normas ISO, USP, ABNT e ASTM. Os testes apresentados abaixo foram realizados para a liberação dos produtos REXLON®, REXSIL® da empresa SM ENG CO., LTD. apresentados ao FDA para a liberação do produto em 2017 (FDA, 2017): ● ISO 11135-1: 2007 Esterilização de produtos de saúde - Óxido de etileno - Parte 1: Requisitos para desenvolvimento, validação e controle de roteamento de um processo de esterilização para dispositivos médicos; ● ISO 10993 Avaliação Biológica de Dispositivos Médicos; ● ISO 10993-1: 2009 Parte 1 - Avaliação e teste dentro de um processo de gerenciamento de risco; ● ISO 10993-3: 2014 Parte 3 - Testes de genotoxicidade, carcinogenicidade e toxicidade reprodutiva; ● ISO 10993-4: 2002 Parte 4 - Seleção de testes para interações com sangue; ● ISO 10993-5: 2009 Parte 5 - Testes de citotoxicidade in vitro; ● ISO 10993-6: 2007 Parte 6 - Testes para efeitos locais após implantação; ● ISO 10993-7: 2008 Parte 7 - Resíduos da esterilização por óxido de etileno; ● ISO 10993-10: 2010 Parte 10 - Testes de irritação e sensibilização da pele; ● ISO 10993-11: 2006 Parte 11 - Testes de toxicidade sistêmica; ● USP 35 <861> Suturas - Diâmetro; ● USP 35 <871> Suturas - Anexo da Agulha; ● USP 35 <881> Força de Tensão; ● USP 36 <151> Teste de Pirogênio; ● USP <71> Teste de Esterilidade; ● USP <85> Limite de endotoxina bacteriana; ● ASTM F88-09 Método de teste padrão para resistência de vedação de materiais de barreira flexível; 8 ● ASTM F1929-98 Método de teste padrão para detecção de vazamentos de vedação em embalagens médicas porosas por penetração de corante. A Farmacopeia brasileira 6ª Edição, volume 2, apresenta os requerimentos brasileiros para a aprovação e liberação de equipamentos médicos. No documento são apresentados os requisitos para suturas cirúrgicas absorvíveis (catgut), absorvível sintética e não absorvíveis. Para as suturas absorvíveis (catgut) o comprimento do fio não deve ser inferior a 90% do valor indicado na embalagem, caso a sutura possua agulha o encastoamento deve seguir os padrões descritos na tabela 1 acima. O teste de esterilidade deve respeitar os padrões estipulados na Farmacopeia brasileira 6ª Edição, volume 1, e os padrões para a resistência a tração e o diâmetro precisam estar dentro dos limites estipulados na tabela 2 abaixo. A embalagem da sutura absorvível deve manter a sua esterilidade até o momento do uso. Tabela 2 - Configurações físicas das suturas naturais absorvíveis segundo a Farmacologia Brasileira (ANVISA,2019) Já para as suturas absorvíveis sintéticas o comprimento do fio não deve ser menor que 95% do valor indicado na embalagem, também é verificado o encastoamento da sutura, que deve permanecer dentro dos limites estipulados na tabela 1 apresentada anteriormente. Os padrões para resistência a tração e variação do diâmetro da sutura estão apresentados na tabela 3 abaixo. A esterilidade deve obedecer os padrões definidos na Farmacopeia brasileira 6ª Edição, volume 1 e tal esterilização deve ser mantida pela embalagem até o momento do uso. 9 Tabela 3. Configurações físicas das suturas sintéticas absorvíveis segundo a Farmacologia Brasileira (ANVISA, 2019) Por fim, as suturas não absorviveis são subdivididas em classes, a primeira (classe I) são aquelas compostas por seda ou fibras sintéticas de monofilamento, de construção torcida ou trançada. Já a segunda (classe II) são aquelas composta por fibras de algodão, linho ou sintéticas que possuam um revestimento formando uma película de espessura significante, e a terceira (classeIII) são aquelas composta por fios metálicos mono ou multifilamentos.Tais suturas obedecem os mesmos padrões para resistência ao encastoamento e esterilidade, devendo manter a mesma até a abertura da embalagem para uso. O seu comprimento deve ser maior que 95% do valor estipulado na embalagem, e o seu diâmetro e resistência tração tem seus limites estipulados na tabela 4 abaixo. 10 Tabela 4. Configurações físicas das suturas não absorvíveis segundo a Farmacologia Brasileira (ANVISA,2019) Usualmente as suturas são pigmentadas visando o destaque delas no meio biológico, facilitando o manuseio devido a diferenciação da sutura entre o sangue, tecidos e órgãos do corpo humano. Os pigmentos devem ser biocompatíveis, não gerando reações indesejadas sobre o corpo. Diferentes tipos de materiais de sutura necessitam de diferentes tipos de pigmentos, como exemplificado pela Tabela 5. Tabela 5. Disponibilidade da sutura em determinado pigmento. 4. Suturas absorvíveis 11 Segundo a USP (United States of Pharmacopoeia) as suturas absorvíveis podem ser feitas de colágenos derivados de animais que sigam a Tabela 2, ou de polímeros sintéticos, que sofrem hidrólise e devam seguir a Tabela 3, podendo ser monofilamentares ou multifilamentares, e sigam com a finalidade de serem absorvidas pelos tecidos vivos de mamíferos. Logo, elas são tratadas para terem sua resistência à absorção alterada. Além disso, passam pelos processos de amolecimento e coating (revestimento bactericida). (TIMURALAI, 2007) 4.1. SUTURAS ABSORVÍVEIS NATURAIS 4.1.1.Catgut A Catgut, uma fibra natural retirada da serosa do intestino do boi ou da submucosa do intestino de ovelha, pode ser utilizada como sutura em cirurgias para os fechamentos internos (de ligaduras de vasos sanguíneos superficiais, de tecidos subcutâneos, e da mucosa labial ou ocular) e externos (da epiderme). A justificativa de seu uso nesses casos é que seu fio resiste à tensão em torno de uma semana e degrada totalmente em dois meses. Essas características de rápida absorção são devido sua configuração em monofilamentos e pela sua alta pureza em colágeno, uma proteína que quando em grande porcentagem tem baixa estranheza para o corpo humano e é digerida enzimaticamente por proteólise. Ademais, quando esse material é tratado com sais de cromo pode aumentar seu tempo de absorção em mais um mês e prolonga em mais uma semana a resistência tênsil. (BYRNE, 2019; CARTER,2014). 4. 2. SUTURAS ABSORVÍVEIS SINTÉTICAS 4.2.1. VICRYL RAPID® Essa sutura trançada é feita a partir de um copolímero que têm 90% de ácido glicólico e 10% de L-lactida, recoberta com Poliglactina 370 (30% glicolida e 70% L-lactida) e Estearato de cálcio, esses monômeros juntos, se tratados com raios gamas, dão propriedades semelhantes às dos fios de colágeno (baixa reação tecidual). Ou seja, assim elas são usadas, cirurgicamente, para a junção de tecidos moles da superfície da pele ou da mucosa, absorvidas pelo processo de hidrólise, entre 40-50 dias e sua força suporte dura 14 dias (SINGH, 2017; CARTER, 2014; URL 6). 4.2.2. VICRYL® O VICRYL® (ASTM F2313-18) possui a mesma composição, organização dos filamentos e revestimento que o VICRYL RAPID®, porém não possui o tratamento com raio gama, o que torna sua absorção mais lenta no organismo (56-70 dias), dando a ele outras aplicações como https://compass-astm.ez34.periodicos.capes.gov.br/EDIT/html_annot.cgi?F2313+18 12 ligação de tecidos moles, principalmente, em procedimentos oftálmicos, entretanto, não é indicado para tecidos nervosos e cardiovasculares (SINGH, 2017; URL 7). 4.2.3. PDS II® Essa sutura é utilizada, principalmente, nos fechamentos da laparotomia, de tecidos cardiovasculares e oftálmicos, devido ter um maior tempo de absorção, 180 dias, quando comparado aos fios de poliglactina. Os fios monofilamentares de PDS II®, sintetizados com polidioxanona, causam uma pequena reação inflamatória e liberam imunotóxicos que influenciam na atividade dos macrófagos, esses são os principais fatores que colaboram com a lenta absorção (BYRNE, 2019; SINGH, 2017; MEDEIROS, 2017). 5. SUTURAS NÃO ABSORVÍVEIS A farmacopeia brasileira define as suturas não absorvíveis como fios, de origem natural ou sintética, que quando colocados em um organismo não são absorvidos. Além disso, podem ser monofilamentares ou multifilamentares, reunidas por fibras elementares por torção ou traçamento, respeitando os valores da tabela 4 (ANVISA, 2019). 5.1. SUTURAS NÃO ABSORVÍVEIS NATURAIS 5.1.1 Seda Ainda usada em grande escala nos hospitais devido ao seu baixo custo, a sutura de seda é produzida a partir das proteínas filamentares feitas pelas larvas do bicho-da-seda. Mesmo que esses fios naturais possuam um fácil manuseio e uma resistência mecânica firma para o nó, por serem trançados e multifilamentares, eles têm uma notável resposta inflamatória, o que os torna contraindicados para feridas com uma alta contaminação bacteriana. Em vista disso, essa sutura é recomendada para a aproximação de tecidos moles em geral (HOCHBERG, 2009 ;MEDEIROS, 2017; URL 8). 5.1.2. Aço inoxidável Com baixo teor de carbono, o aço inoxidável cirúrgico,independente da quantidade de carbono e de ser monofilamentar ou não, ele apresenta alguns problemas quanto a sua biocompatibilidade com organismos vivos, pois não é inerte se comparado com polímeros sintéticos. Entre esses impasses apresenta o risco de romper o tecido em que foi aplicado, assim possibilitando a transmissão de vírus ou do início reações eletrolíticas indesejadas. (BYRNE, 2019) Entretanto, devido a sua alta resistência à tração, o aço inoxidável monofilamentar é usado em cirurgias traumato-ortopédicas e para fechar de incisões externas, quando multifilamentar pode ser usado para a fixação de tendões. (MEDEIROS, 2014). 13 5.2. SUTURAS NÃO ABSORVÍVEIS SINTÉTICAS 5.2.1. Polipropileno e Prolene O polipropileno consiste num fio monofilamentar com elasticidade adequada e que não é propenso à perda de tensão através de degradação, visto que é resistente a ácidos, álcalis e enzimas. Por ser monofilamentar, pode ser fraturado pelo porta-agulhas, mas geralmente apresenta alta resistência. Essa sutura também é biologicamente inerte, o que diminui a reatividade da pele e minimiza futuras complicações. Devido a essas características, o polipropileno é um fio adequado para anastomoses vasculares, anastomoses de tendões e suturas da parede abdominal. Um de seus variantes, o Prolene, um cristalino isoestático estereoisômero do polipropileno, é bastante utilizado em traumas e lacerações faciais, onde as maracas cicatriciais devem ser minimizadas, pois ele tem a tendência de não perder (BYRNE, 2019; MEDEIROS, 2017). 5.2.2. Poliéster O poliéster é um fio multifilamentar trançado confeccionado através da polimerização de éster resultante da combinação do etilenoglicol com o ácido tereftálico (polímero de tereftalato de etileno), sendo composta, portanto, por fibras de alto peso molecular, cadeias longas lineares com anéis aromáticos. Mesmo tendo alta resistência a tensão, esse fio contém um alto coeficiente de atrito. Essa alta capilaridade, além de desfavorecer o manuseio, induz uma reação tecidual significativamente maior do que o polipropileno, aumentando o risco de infecções. Visando a redução desse problema, cobre- se os filamentos com materiais inertes e impermeáveis, como teflon, silicone ou polibutilato, mas sem melhora significativa. Dessa maneira, pode ser utilizado na aproximação de tecidos ou ligaduras e em cirurgias cardiovasculares, ortopédicas, laparoscópicas e neurológicas, desde que haja pouca chance de resposta inflamatória tecidual (MEDEIROS, 2017, URL 9). 5.2.3. Nylon A sutura de Nylon tem baixo custo, fácil manuseio e pequena reação tecidual. Entretanto, os seus nós tem a tendência de se desfazer com facilidade, isso implica que o cirurgião seráobrigado a fazer vários nós nos pontos da sutura, resultando em outro problema que é a proliferação de bactérias nesses encaixes (MEDEIROS, 2017). Mesmo assim, essa fibra de poliamida mantém a sua resistência à tração alta em 2 semanas e perde sua potência pela metade entre 1 a 2 anos, pois ela sofre hidrólise com o decorrer desse tempo (HOCHBERG, 2009). Dessa forma, o Nylon pode ser usado, quando em monofilamentos, nos tamanhos 3-0 até 6-0, em cirurgias plásticas estéticas, para as de 6-0 à 7-0 são usadas para aproximação da pele e microcirurgias, já para as mais finas (8-0 até 11-0) são aplicadas em cirurgias microscópicas e plásticas, principalmente, anastomoses vasculares, neurorrafia e oculoplásticas (BYRNE, 2019). 14 6. CONCLUSÃO Em vista das informações mostradas, constata-se que existe uma grande diversidade de materiais utilizados como sutura para supram as diferentes necessidades presentes na área da saúde. Logo características como a resistência à tração, a degradação, a absorção e a esterilização são os principais fatores que influenciam para a decisão de escolha diante da especificidade da cirurgia. A resistência à tração de um fio de sutura indica o quanto ele pode ser forçado sem que haja sua ruptura. Assim, a perda dessa força, devido a degradação das propriedades físicas da fibra ao longo do tempo, evidencia até quando a sutura é eficiente para cooperar com o processo de cicatrização. Já a absorção, dada pelo tipo de material empregado, é variável podendo favorecer ou não a recuperação de uma cirurgia, logo tempos de absorção diferentes são essenciais para alcançar a diversidade de casos cirúrgicos existentes. Porém, para que essa absorção seja totalmente eficiente, é necessário que o material seja biocompatível com o organismo no qual é aplicado, sem que o prejudique. Ademais, para procedimentos médicos, a esterilidade é algo vital para o sucesso da técnica de sutura, pois uma vez que haja a ausência de microrganismos no tecido danificado, melhor será a prevenção de complicações mais severas. Assim, normas que regulamentam e fiscalizam tal esterilização, através de testes, tem o papel de garantir o padrão de segurança exigidos para o uso seguro das suturas. Em suma, a demonstração desses fatores explicados acima, justificam a escolha do material da sutura para um determinado caso clínico. 15 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Farmacopeia brasileira, 6ed. Vol.1 – Monografias, Correlatos, p459-466. Brasília, 2019. Disponível em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia- brasileira/arquivos/7985json-file-1>. ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Farmacopeia brasileira, 6ed. Vol.2 – Monografias, Correlatos, p18. Brasília, 2019. Disponível em: <portal.anvisa.gov.br/documents/33832/259143/Correlatos+Pronto.pdf/23b1d7b2-4eb2- 4f96-b10b-57a05d02513d>. BARROS, M. GORGAL, R. Princípios Básicos em Cirurgia: Fios de Sutura. Acta Médica Portuguesa, 2011. BOLLON, T., MEISTER, K. Surgical principles: biodegradable materials in sports medicine. In: DeLee JC, Drez DJ, Miller MD. eds. 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