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Biomateriais: Suturas cirúrgicas

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Universidade Federal de Uberlândia 
Curso de Graduação em Engenharia Biomédica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
André Felipe Soares de Araujo 
Raul Nicolini Rodrigues 
 
 
 
 
 
Trabalho da disciplina 
Biomateriais e Próteses 
 
 
 
 
 
SUTURAS CIRÚRGICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Uberlândia 
2020 
1 
SUMÁRIO 
1. Introdução 2 
2. Histórico 3 
3. Normas 5 
3.1. Resistência à Tração (USP 881 & Farmacopeia Brasileira 5.7.1) 5 
3.2. Determinação do Diâmetro (USP 861 & Farmacopeia Brasileira 5.7.2) 6 
3.3. Resistência ao Encastoamento (USP 871 & Farmacopeia Brasileira 5.7.3) 
4. Suturas absorvíveis 6 
4.1. Suturas absorvíveis naturais 11 
4.1.1.Catgut 11 
4. 2. Suturas absorvíveis sintéticas 11 
4.2.1. VICRYL RAPID® 11 
4.2.2. VICRYL® 11 
4.2.3. PDS II® 12 
5. Suturas não absorvíveis 12 
5.1. Suturas não absorvíveis naturais 12 
5.1.1 Seda 12 
5.1.2. Aço inoxidável 12 
5.2. Suturas não absorvíveis sintéticas 13 
5.2.1. Polipropileno e Prolene 13 
5.2.2. Poliéster 13 
5.2.3. Nylon 13 
6. Conclusão 14 
Referencias Bibliográficas 15 
2 
1. INTRODUÇÃO 
 
A necessidade de fechar ferimentos é um dos fatores determinantes para a 
sobrevivência da espécie humana, pois uma lesão aberta poderá piorar o estado da vítima. 
Assim a sutura, apesar de ser constituída de elementos simples sofreu grandes mudanças em 
seus materiais e nas técnicas de aplicação mantendo o princípio do dispositivo, ou seja, 
aproximar ou unir as partes da ferida, buscando auxiliar e acelerar o processo de cicatrização. 
Com o avanço tecnológico e novos estudos sobre o tema, técnicas e materiais novos 
foram surgindo ao longo da história, buscando unir as técnicas e materiais disponíveis nas 
diversas situações vivenciadas no âmbito da saúde. Algumas das técnicas e aplicações de 
materiais descobertas no período greco-romano, ou anterior, ainda são ensinados atualmente 
nas escolas de medicina, como as ligaduras e suturas reabsorvíveis (catgut). 
Embora a diversidade de materiais das linhas tenha aumentado drasticamente nos 
últimos anos, com materiais para aplicações cirúrgicas mais específicas, ainda não existe um 
material que possa ser aplicado a todas as situações, uma sutura ideal. Ainda sim, o mercado 
de suturas vem se expandido e inovando, trazendo novos materiais para os fios de sutura, 
seja o material do fio ou o revestimento do fio. Dessa forma, o presente trabalho tem como 
objetivo mostrar os principais requisitos e normas que justificam a utilização de alguns 
materiais utilizados na produção de suturas cirúrgicas para sua respectiva aplicação. 
 
3 
2. HISTÓRICO 
A primeira descrição de uma sutura foi feita por volta do ano de 1600 Antes da Era 
Comum (AEC), no papiro do Antigo Egito encontrado por Edwin Smith. A sutura consistia 
de materiais como fibras vegetais, cabelos e até mesmo lãs e tendões que foram encontrados 
em restos mumificados (URL 1). No ano de 500 AEC, o cirurgião indiano Susruta fez a 
primeira discussão sobre técnicas de sutura em Samhita (SCOTT, 1983) onde descreve em 
detalhes suturas de feridas utilizando catgut, linha feita a partir do intestino delgado de 
ovelhas, além da utilização de grandes formigas pretas, que atuavam como grampos bem 
eficientes por conta de suas mandíbulas. 
Descrições detalhadas feitas pelos gregos e romanos Hipócrates (460 – 377 AC), 
Aurelius Cornelius Celsus (25 AC-50 DC) e Galeno de Pérgamo (131-211) continham 
técnicas de sutura bem detalhadas como o controle da hemostasia "fazendo ligaduras em 
muitos lugares", registros dos sintomas apresentados na lesão como dor, rubor, calor e tumor, 
que são ensinados nas escolas de medicina contemporâneas (GREIVE, 1756), mas também 
a utilização de vinho diluído para limpar as feridas e a utilização de cordão de tripas para a 
sutura, sendo preferível o uso de seda quando disponível (BOLLON, 2003). Ali Ibn Sina, 
conhecido também por Avicena (980-1037) buscava uma alternativa aos materiais utilizados 
na época, utilizando um monofilamento natural, cerdas de porcos, para o fechamento de 
feridas, além de sugerir novas técnicas para o fechamento de abdome, utilizando alças 
(GRUNER, 1930). 
Com a ampla difusão da cauterização, realizada com óleos fervilhando danificando 
também os tecidos, as suturas utilizando materiais naturais eram utilizadas para o reparo 
interno, entre os séculos XVI e XVIII. A reintrodução das ligaduras pelo cirurgião militar 
Ambroise Paré (1510-1590) que as utilizava para a amputação de membros e para as 
ligaduras vasculares linho fino e seda (PARÉ, 1840). Já no início do século XIX, o médico 
americano Philip Syng Physick (1768-1837) difundiu em palestras as suas observações sobre 
a dissolução de suturas de couro por fluidos corporais, acreditando que este tipo de tecnologia 
era muito úteis para a área médica (EDWARDS, 1940), além de popularizar o uso de suturas 
com cromo em sua composição (DORSEY, 1818). 
Devido a inflamações no reparo de fístulas o fio de cromo e seda foi substituído pelo 
fio de prata difundido por James Marion Sims (1813-1884), que afirmou em seu discurso 
para a Academia de Medicina de Nova York, que no futuro a utilização dos fios de prata 
reduziria drasticamente a mortalidade em grandes operações dos hospitais, devido às 
propriedades do material (SIMS, 1858), sendo esterilizante. Entretanto, a partir do início do 
século XX, com a disponibilidade de novas suturas com materiais sintéticos mais flexíveis e 
não absorvíveis, a utilização de suturas metálicas teve seu uso diminuído. 
Apesar da grande utilização das suturas nos procedimentos, a cauterização continuou 
sendo a técnica mais utilizada, uma vez que as suturas tinham uma grande chance de se 
infeccionar, até que em 1867 elas se tornaram evitáveis após Lord Joseph Lister publicar "O 
sistema anti-séptico" onde descreve a relação entre a infecção e 'influências malignas da 
atmosfera impura' (os germes), propondo métodos de esterilização utilizando ácido carbólico 
em materiais como as suturas e os equipamentos cirúrgicos, e na própria ferida, conseguindo 
resultados promissores (LISTER, 1867). Posteriormente notou-se que o método de Lister era 
inconsistente, apresentando falhas na esterilização do equipamento utilizado, podendo levar 
a uma infecção indesejada (KELLY, 1906). 
4 
 Com a produção de suturas no modelo industrial no início do século XX houve uma 
necessidade de se padronizar as suturas fabricadas, tal padronização foi feita pela United 
States Pharmacopeia (USP). Na Segunda Guerra Mundial a sutura se tornou mais popular, 
devido a grandes contratos com os militares para suprirem os feridos nas linhas de frente, 
além de acelerar o processo de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais para as suturas 
durante as décadas de 1960 e 1970, impulsionada pelas regulamentações do Food and Drug 
Administration (FDA) americano. Na segunda metade do século XX e início do século XXI 
diversas suturas surgiram apresentando características e aplicações distintas, muitas suturas 
sintéticas foram desenvolvidas para funções distintas umas das outras. As técnicas e normas 
utilizadas também foram se modernizando, acompanhando as demandas do mercado médico 
(MUFFLY, 2011). 
 
5 
3. NORMAS 
 Segundo a definição internacional norma é um “documento estabelecido por 
consenso e aprovado por um organismo reconhecido, que fornece, para uso comum e 
repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à 
obtenção de um ótimo grau de ordenação em um dado contexto” (URL 2). As normas tornam 
algumas qualidades desejadas nos produtos, ou seja um padrão a ser seguido, porém não são 
obrigatórias. Assim elas são colocadas com a finalidade de garantir qualidade e 
confiabilidade para o produto, asseguradas por meio de testes estabelecidos, também, pelas 
normas. 
 A norma ISO 10993 - Biological Evaluation of medical devices,avalia os riscos 
biológicos apresentados por dispositivos médicos, além dos padrões específicos de cada 
produto e seus testes aplicáveis. Esta norma é dividida em várias partes, cada uma assegurar 
a qualidade e segurança de um processo de fabricação ou interação voltados para o corpo 
humano. Os testes realizados nas suturas visam aprovar as mesmas com relação à 
biocompatibilidade e sua resistência à tração, entre outros. 
 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) através da Farmacopeia 
brasileira, recomenda a execução de alguns testes e condições para o mesmo, a fim de garantir 
a partir da reprodutividade do teste, a qualidade da sutura. As condições ambientes dos testes 
de tração, do diâmetro e do encastoamento são 60% e 80% de umidade relativa do ar e 
temperatura ambiente entre 20ºC e 25ºC. 
 
3.1. RESISTÊNCIA À TRAÇÃO (USP 881 & Farmacopeia Brasileira 5.7.1) 
A norma ABNT utiliza uma máquina de tração com prendedores do tipo rolo com 
180 a 190 mm de diâmetro e no mínimo 25 mm de comprimento com superfícies lisas. Já a 
norma USP varia o tempo e o diâmetro dos prendedores de acordo com o tamanho da sutura, 
longa, média ou pequena. A marcação dos resultados é feita por uma pena inscritora calibrada 
para estar entre 20% e 80% no momento da ruptura, tendo um deslize máximo de 2,5% 
quando sem carga. A inclinação de 0º a 30º do plano deve durar 20 segundos a partir do início 
do teste (ANVISA v1; URL 3). 
Dois testes são realizados, a tração direta e a tração sobre-nó, garantindo a 
confiabilidade durante o uso do material. No primeiro teste a carga inicial aplicada é de 25% 
da exigida para a sutura nos testes, já a segunda é realizada sobre um tubo de borracha de 50 
mm de comprimento e 8,1 mm de diâmetro externo e 6,5 mm de diâmetro interno, com as 
pontas equidistantes dos prendedores, o nó cirúrgico utilizado pode ser observado na figura 
1 abaixo. 
O resultado obtido quando há um rompimento próximo aos prendedores é sempre 
descartado. Os demais devem ser comparados com a literatura e apresentar continuidade e 
reprodutividade durante os testes. 
 
Figura1. Nó cirúrgico. Fonte: Farmacopeia Brasileira, 2019. 
6 
 
3.2. DETERMINAÇÃO DO DIÂMETRO (USP 861 & Farmacopeia Brasileira 5.7.2) 
Para ambas as normas ABNT e USP é utilizado um relógio comparador do tipo "peso 
morto" com resolução de escala mínima de 0,002 mm e sapata com 12,7±0,02 mm de 
diâmetro, e a carga total aplicada na amostra deve ser de (210±3)g, o conjunto utilizado para 
o teste pode ser observado na figura 2 abaixo. Para suturas 9-0 de diâmetro ou menores a 
carga não deve exceder 60g. As suturas acondicionadas em líquidos devem ser testadas logo 
após a retirada do líquido, sem a espera para secar o fio, já as suturas sem líquidos devem 
ficar no mínimo 4 horas em ambiente com temperatura e umidade controlada para então 
realizar a medição. Todas as aferições são feitas em 1/4 , 1/2 e 3/4 do comprimento da 
amostra a fim de determinar seu diâmetro médio, para as suturas multifilamentares são 
aferidas 2 amostras perpendiculares em cada ponto (ANVISA v1; URL 4). 
Os resultados obtidos devem estar compreendidos dentro dos limites estabelecidos 
pela literatura, também compreendido entre os limites dos padrões das suturas de calibres 
superior e inferior da amostra em questão. 
 
Figura 2. Mesa para a medição de diâmetro de suturas multifilamentares. Fonte: 
Farmacopeia Brasileira, 2019. 
 
3.3. RESISTÊNCIA AO ENCASTOAMENTO (USP 871 & Farmacopeia Brasileira 5.7.3) 
Este teste é feito em 100% das suturas, uma vez que ele garante que a linha esteja 
devidamente presa a agulha, não correndo o risco das mesmas se separarem durante o uso, 
resultando em uma falha grave do equipamento. As aferições são feitas individualmente 
colocando a agulha da sutura presa ao tensor e a outra ponta é puxada. Os resultados são 
avaliados individualmente e por lote, devendo obedecer os limites para os mesmos conforme 
a tabela 1 abaixo (ANVISA v1; URL 5). 
7 
 
Tabela 1. Limite de resistência ao encastoamento da agulha. Fonte: Farmacopeia Brasileira, 
2019. 
Além dos testes acima citados, outros testes como os de biocompatibilidade, teste de 
interação com o sangue, testes de esterilização do material entre outros previstos nas normas 
ISO, USP, ABNT e ASTM. Os testes apresentados abaixo foram realizados para a liberação 
dos produtos REXLON®, REXSIL® da empresa SM ENG CO., LTD. apresentados ao FDA 
para a liberação do produto em 2017 (FDA, 2017): 
● ISO 11135-1: 2007 Esterilização de produtos de saúde - Óxido de etileno - Parte 1: 
Requisitos para desenvolvimento, validação e controle de roteamento de um processo 
de esterilização para dispositivos médicos; 
● ISO 10993 Avaliação Biológica de Dispositivos Médicos; 
● ISO 10993-1: 2009 Parte 1 - Avaliação e teste dentro de um processo de 
gerenciamento de risco; 
● ISO 10993-3: 2014 Parte 3 - Testes de genotoxicidade, carcinogenicidade e 
toxicidade reprodutiva; 
● ISO 10993-4: 2002 Parte 4 - Seleção de testes para interações com sangue; 
● ISO 10993-5: 2009 Parte 5 - Testes de citotoxicidade in vitro; 
● ISO 10993-6: 2007 Parte 6 - Testes para efeitos locais após implantação; 
● ISO 10993-7: 2008 Parte 7 - Resíduos da esterilização por óxido de etileno; 
● ISO 10993-10: 2010 Parte 10 - Testes de irritação e sensibilização da pele; 
● ISO 10993-11: 2006 Parte 11 - Testes de toxicidade sistêmica; 
● USP 35 <861> Suturas - Diâmetro; 
● USP 35 <871> Suturas - Anexo da Agulha; 
● USP 35 <881> Força de Tensão; 
● USP 36 <151> Teste de Pirogênio; 
● USP <71> Teste de Esterilidade; 
● USP <85> Limite de endotoxina bacteriana; 
● ASTM F88-09 Método de teste padrão para resistência de vedação de materiais de 
barreira flexível; 
8 
● ASTM F1929-98 Método de teste padrão para detecção de vazamentos de vedação 
em embalagens médicas porosas por penetração de corante. 
A Farmacopeia brasileira 6ª Edição, volume 2, apresenta os requerimentos brasileiros 
para a aprovação e liberação de equipamentos médicos. No documento são apresentados os 
requisitos para suturas cirúrgicas absorvíveis (catgut), absorvível sintética e não absorvíveis. 
Para as suturas absorvíveis (catgut) o comprimento do fio não deve ser inferior a 90% 
do valor indicado na embalagem, caso a sutura possua agulha o encastoamento deve seguir 
os padrões descritos na tabela 1 acima. O teste de esterilidade deve respeitar os padrões 
estipulados na Farmacopeia brasileira 6ª Edição, volume 1, e os padrões para a resistência a 
tração e o diâmetro precisam estar dentro dos limites estipulados na tabela 2 abaixo. A 
embalagem da sutura absorvível deve manter a sua esterilidade até o momento do uso. 
 
Tabela 2 - Configurações físicas das suturas naturais absorvíveis segundo a Farmacologia 
Brasileira (ANVISA,2019) 
Já para as suturas absorvíveis sintéticas o comprimento do fio não deve ser menor 
que 95% do valor indicado na embalagem, também é verificado o encastoamento da sutura, 
que deve permanecer dentro dos limites estipulados na tabela 1 apresentada anteriormente. 
Os padrões para resistência a tração e variação do diâmetro da sutura estão apresentados na 
tabela 3 abaixo. A esterilidade deve obedecer os padrões definidos na Farmacopeia brasileira 
6ª Edição, volume 1 e tal esterilização deve ser mantida pela embalagem até o momento do 
uso. 
9 
 
Tabela 3. Configurações físicas das suturas sintéticas absorvíveis segundo a Farmacologia 
Brasileira (ANVISA, 2019) 
Por fim, as suturas não absorviveis são subdivididas em classes, a primeira (classe I) 
são aquelas compostas por seda ou fibras sintéticas de monofilamento, de construção torcida 
ou trançada. Já a segunda (classe II) são aquelas composta por fibras de algodão, linho ou 
sintéticas que possuam um revestimento formando uma película de espessura significante, e 
a terceira (classeIII) são aquelas composta por fios metálicos mono ou multifilamentos.Tais 
suturas obedecem os mesmos padrões para resistência ao encastoamento e esterilidade, 
devendo manter a mesma até a abertura da embalagem para uso. O seu comprimento deve 
ser maior que 95% do valor estipulado na embalagem, e o seu diâmetro e resistência tração 
tem seus limites estipulados na tabela 4 abaixo. 
10 
 
Tabela 4. Configurações físicas das suturas não absorvíveis segundo a Farmacologia 
Brasileira (ANVISA,2019) 
 
 Usualmente as suturas são pigmentadas visando o destaque delas no meio biológico, 
facilitando o manuseio devido a diferenciação da sutura entre o sangue, tecidos e órgãos do 
corpo humano. Os pigmentos devem ser biocompatíveis, não gerando reações indesejadas 
sobre o corpo. Diferentes tipos de materiais de sutura necessitam de diferentes tipos de 
pigmentos, como exemplificado pela Tabela 5. 
 Tabela 5. Disponibilidade da sutura em determinado pigmento. 
4. Suturas absorvíveis 
11 
Segundo a USP (United States of Pharmacopoeia) as suturas absorvíveis podem ser 
feitas de colágenos derivados de animais que sigam a Tabela 2, ou de polímeros sintéticos, 
que sofrem hidrólise e devam seguir a Tabela 3, podendo ser monofilamentares ou 
multifilamentares, e sigam com a finalidade de serem absorvidas pelos tecidos vivos de 
mamíferos. Logo, elas são tratadas para terem sua resistência à absorção alterada. Além disso, 
passam pelos processos de amolecimento e coating (revestimento bactericida). 
(TIMURALAI, 2007) 
4.1. SUTURAS ABSORVÍVEIS NATURAIS 
4.1.1.Catgut 
A Catgut, uma fibra natural retirada da serosa do intestino do boi ou da submucosa 
do intestino de ovelha, pode ser utilizada como sutura em cirurgias para os fechamentos 
internos (de ligaduras de vasos sanguíneos superficiais, de tecidos subcutâneos, e da mucosa 
labial ou ocular) e externos (da epiderme). A justificativa de seu uso nesses casos é que seu 
fio resiste à tensão em torno de uma semana e degrada totalmente em dois meses. Essas 
características de rápida absorção são devido sua configuração em monofilamentos e pela 
sua alta pureza em colágeno, uma proteína que quando em grande porcentagem tem baixa 
estranheza para o corpo humano e é digerida enzimaticamente por proteólise. Ademais, 
quando esse material é tratado com sais de cromo pode aumentar seu tempo de absorção em 
mais um mês e prolonga em mais uma semana a resistência tênsil. (BYRNE, 2019; 
CARTER,2014). 
 
 
4. 2. SUTURAS ABSORVÍVEIS SINTÉTICAS 
4.2.1. VICRYL RAPID® 
Essa sutura trançada é feita a partir de um copolímero que têm 90% de ácido glicólico 
e 10% de L-lactida, recoberta com Poliglactina 370 (30% glicolida e 70% L-lactida) e 
Estearato de cálcio, esses monômeros juntos, se tratados com raios gamas, dão propriedades 
semelhantes às dos fios de colágeno (baixa reação tecidual). Ou seja, assim elas são usadas, 
cirurgicamente, para a junção de tecidos moles da superfície da pele ou da mucosa, 
absorvidas pelo processo de hidrólise, entre 40-50 dias e sua força suporte dura 14 dias 
(SINGH, 2017; CARTER, 2014; URL 6). 
 
4.2.2. VICRYL® 
O VICRYL® (ASTM F2313-18) possui a mesma composição, organização dos filamentos e 
revestimento que o VICRYL RAPID®, porém não possui o tratamento com raio gama, o que 
torna sua absorção mais lenta no organismo (56-70 dias), dando a ele outras aplicações como 
https://compass-astm.ez34.periodicos.capes.gov.br/EDIT/html_annot.cgi?F2313+18
12 
ligação de tecidos moles, principalmente, em procedimentos oftálmicos, entretanto, não é 
indicado para tecidos nervosos e cardiovasculares (SINGH, 2017; URL 7). 
4.2.3. PDS II® 
Essa sutura é utilizada, principalmente, nos fechamentos da laparotomia, de tecidos 
cardiovasculares e oftálmicos, devido ter um maior tempo de absorção, 180 dias, quando 
comparado aos fios de poliglactina. Os fios monofilamentares de PDS II®, sintetizados com 
polidioxanona, causam uma pequena reação inflamatória e liberam imunotóxicos que 
influenciam na atividade dos macrófagos, esses são os principais fatores que colaboram com 
a lenta absorção (BYRNE, 2019; SINGH, 2017; MEDEIROS, 2017). 
 
5. SUTURAS NÃO ABSORVÍVEIS 
A farmacopeia brasileira define as suturas não absorvíveis como fios, de origem 
natural ou sintética, que quando colocados em um organismo não são absorvidos. Além disso, 
podem ser monofilamentares ou multifilamentares, reunidas por fibras elementares por 
torção ou traçamento, respeitando os valores da tabela 4 (ANVISA, 2019). 
5.1. SUTURAS NÃO ABSORVÍVEIS NATURAIS 
5.1.1 Seda 
Ainda usada em grande escala nos hospitais devido ao seu baixo custo, a sutura de 
seda é produzida a partir das proteínas filamentares feitas pelas larvas do bicho-da-seda. 
Mesmo que esses fios naturais possuam um fácil manuseio e uma resistência mecânica firma 
para o nó, por serem trançados e multifilamentares, eles têm uma notável resposta 
inflamatória, o que os torna contraindicados para feridas com uma alta contaminação 
bacteriana. Em vista disso, essa sutura é recomendada para a aproximação de tecidos moles 
em geral (HOCHBERG, 2009 ;MEDEIROS, 2017; URL 8). 
5.1.2. Aço inoxidável 
Com baixo teor de carbono, o aço inoxidável cirúrgico,independente da quantidade 
de carbono e de ser monofilamentar ou não, ele apresenta alguns problemas quanto a sua 
biocompatibilidade com organismos vivos, pois não é inerte se comparado com polímeros 
sintéticos. Entre esses impasses apresenta o risco de romper o tecido em que foi aplicado, 
assim possibilitando a transmissão de vírus ou do início reações eletrolíticas indesejadas. 
(BYRNE, 2019) Entretanto, devido a sua alta resistência à tração, o aço inoxidável 
monofilamentar é usado em cirurgias traumato-ortopédicas e para fechar de incisões 
externas, quando multifilamentar pode ser usado para a fixação de tendões. (MEDEIROS, 
2014). 
 
13 
5.2. SUTURAS NÃO ABSORVÍVEIS SINTÉTICAS 
5.2.1. Polipropileno e Prolene 
O polipropileno consiste num fio monofilamentar com elasticidade adequada e que 
não é propenso à perda de tensão através de degradação, visto que é resistente a ácidos, álcalis 
e enzimas. Por ser monofilamentar, pode ser fraturado pelo porta-agulhas, mas geralmente 
apresenta alta resistência. Essa sutura também é biologicamente inerte, o que diminui a 
reatividade da pele e minimiza futuras complicações. Devido a essas características, o 
polipropileno é um fio adequado para anastomoses vasculares, anastomoses de tendões e 
suturas da parede abdominal. Um de seus variantes, o Prolene, um cristalino isoestático 
estereoisômero do polipropileno, é bastante utilizado em traumas e lacerações faciais, onde 
as maracas cicatriciais devem ser minimizadas, pois ele tem a tendência de não perder 
(BYRNE, 2019; MEDEIROS, 2017). 
 
5.2.2. Poliéster 
O poliéster é um fio multifilamentar trançado confeccionado através da 
polimerização de éster resultante da combinação do etilenoglicol com o ácido tereftálico 
(polímero de tereftalato de etileno), sendo composta, portanto, por fibras de alto peso 
molecular, cadeias longas lineares com anéis aromáticos. Mesmo tendo alta resistência a 
tensão, esse fio contém um alto coeficiente de atrito. Essa alta capilaridade, além de 
desfavorecer o manuseio, induz uma reação tecidual significativamente maior do que o 
polipropileno, aumentando o risco de infecções. Visando a redução desse problema, cobre-
se os filamentos com materiais inertes e impermeáveis, como teflon, silicone ou polibutilato, 
mas sem melhora significativa. Dessa maneira, pode ser utilizado na aproximação de tecidos 
ou ligaduras e em cirurgias cardiovasculares, ortopédicas, laparoscópicas e neurológicas, 
desde que haja pouca chance de resposta inflamatória tecidual (MEDEIROS, 2017, URL 9). 
 
5.2.3. Nylon 
A sutura de Nylon tem baixo custo, fácil manuseio e pequena reação tecidual. 
Entretanto, os seus nós tem a tendência de se desfazer com facilidade, isso implica que o 
cirurgião seráobrigado a fazer vários nós nos pontos da sutura, resultando em outro problema 
que é a proliferação de bactérias nesses encaixes (MEDEIROS, 2017). Mesmo assim, essa 
fibra de poliamida mantém a sua resistência à tração alta em 2 semanas e perde sua potência 
pela metade entre 1 a 2 anos, pois ela sofre hidrólise com o decorrer desse tempo 
(HOCHBERG, 2009). Dessa forma, o Nylon pode ser usado, quando em monofilamentos, 
nos tamanhos 3-0 até 6-0, em cirurgias plásticas estéticas, para as de 6-0 à 7-0 são usadas 
para aproximação da pele e microcirurgias, já para as mais finas (8-0 até 11-0) são aplicadas 
em cirurgias microscópicas e plásticas, principalmente, anastomoses vasculares, neurorrafia 
e oculoplásticas (BYRNE, 2019). 
 
 
14 
6. CONCLUSÃO 
 Em vista das informações mostradas, constata-se que existe uma grande diversidade 
de materiais utilizados como sutura para supram as diferentes necessidades presentes na área 
da saúde. Logo características como a resistência à tração, a degradação, a absorção e a 
esterilização são os principais fatores que influenciam para a decisão de escolha diante da 
especificidade da cirurgia. 
A resistência à tração de um fio de sutura indica o quanto ele pode ser forçado sem 
que haja sua ruptura. Assim, a perda dessa força, devido a degradação das propriedades 
físicas da fibra ao longo do tempo, evidencia até quando a sutura é eficiente para cooperar 
com o processo de cicatrização. 
Já a absorção, dada pelo tipo de material empregado, é variável podendo favorecer 
ou não a recuperação de uma cirurgia, logo tempos de absorção diferentes são essenciais para 
alcançar a diversidade de casos cirúrgicos existentes. Porém, para que essa absorção seja 
totalmente eficiente, é necessário que o material seja biocompatível com o organismo no 
qual é aplicado, sem que o prejudique. 
Ademais, para procedimentos médicos, a esterilidade é algo vital para o sucesso da 
técnica de sutura, pois uma vez que haja a ausência de microrganismos no tecido 
danificado, melhor será a prevenção de complicações mais severas. Assim, normas que 
regulamentam e fiscalizam tal esterilização, através de testes, tem o papel de garantir o 
padrão de segurança exigidos para o uso seguro das suturas. Em suma, a demonstração 
desses fatores explicados acima, justificam a escolha do material da sutura para um 
determinado caso clínico. 
 
 
 
15 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Farmacopeia 
brasileira, 6ed. Vol.1 – Monografias, Correlatos, p459-466. Brasília, 2019. Disponível em: 
<https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-
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