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Clínica Cirúrgica 05 Caroline Leão Conhecer os principais tipos de fios cirúrgicos e suas características. Introdução A síntese cirúrgica e a amarração de estruturas têm papel essencial na técnica cirúrgica. A escolha de material adequado, além de facilitar o procedimento, leva seu resultado mais próximo ao ideal. A tecnologia em equipamentos médicos e indústria da saúde fez crescer o número de opções de materiais e facilitou a execução técnica dos procedimentos. Cabe ao cirurgião o conhecimento e a atualização aos materiais cirúrgicos, bem como suas propriedades e indicações. Tipos de fios de sutura Fio 6-0: Mais fino. Utilizado em face e áreas com importância estética. Fio 5-0: Utilizado em suturas da mão e dedos. Fio 4-0: Utilizados para reparo de extremidades proximais e tronco. Fio 3-0: Fio de grande calibre, utilizado para planta do pé e escalpo. Fio 2-0: Couro cabeludo. Características dos Fios Absorvíveis 1) Categute simples Tempo de absorção: 7 – 10 dias; Reação com o tecido: Grande; Uso: Ligar vasos hemorrágicos, anastomoses intestinais e fechamento de plano subcutâneo; Características: Sintético, trançado e maior incidência de infecções. 2) Categute cromado Tempo de absorção: 21 – 28 dias; Reação com o tecido: Grande; Uso: Igual ao simples; Características: Obtido de intestino de boi ou carneiro e tratado com cromo. 3) Ácido poligalático (Vycril) Tempo de absorção: 14 – 30 dias; Reação com o tecido: Mínima; Uso: Fechar aponeuroses e subcutâneo; Características: Fio sintético, trançado e maior chance de infecções. 4) Polidiaxona (PDS) Tempo de absorção: 14 – 30 dias; Reação com o tecido: Mínima; Uso: Anastomoses intestinais e urológicas; os mais calibrosos podem ser utilizados em aponeuroses. Uso permitido em presença de infecção; Características: Monofilamentar, incolor ou violeta e de difícil manejo pela rigidez. Características dos Fios Inabsorvíveis 1) Seda Mantém tensão por aproximadamente 1 ano; Reação com o tecido: Baixa; Uso: Ligaduras vasculares e mucosa oral; Características: Filamento proteico, fácil manuseio e fixação. Não deve ser utilizado na presença de infecção. 2) Algodão De 6 meses a 2 anos, mantendo boa tensão; Reação com o tecido: Baixa; Uso: Ligaduras vasculares e mucosa oral; Características: Filamento proteico, fácil manuseio e fixação. Não deve ser utilizado na presença de infecção. 3) Nylon Degradação em 2 anos aproximadamente; Reação com o tecido: Mínima; Uso: Suturas dérmicas; Características: Mono ou polifilamentar. Pode ser preto, verde ou branco. 4) Polipropileno (Prolene) Mantém-se por tempo indefinido, mantém tensão por anos; Reação com o tecido: Mínima; Uso: Intradérmico, fáscia e microvascular; Características: Monofilamentar. Pode ser utilizado em contaminação ou infecção. Incolor ou azul. Tempo para retirada dos pontos Couro Cabeludo = 7 dias; Pálpebra e lábio = 3 a 4 dias; Nariz e supercílio = 3 a 5 dias; Orelha = 10-14 dias; Tronco (face anterior) = 8 a 10 dias; Dorso e extremidades = 12 a 14 dias; Mão, pé e sola = 10 a 14 dias. Descrever as características ideais de um fio cirúrgico e saber fazer a escolha correta em diversas situações. Mesmo com o avanço atual da tecnologia, permanece verdadeira a ideia de que nenhum fio de sutura tem todas as características que o classifiquem como o fio ideal. Qualidades do fio de sutura ideal 1. Ter boa resistência à tração e à torção, uma vez que no ato da sutura o cirurgião exerce a tração (força para que o fio deslize pelos tecidos) e a torção (força para a realização e fixação do nó); 2. Possuir força tênsil adequada ao tempo de cicatrização dos diferentes tecidos onde for aplicada. A força tênsil equivale à resistência do fio à degradação ao qual é submetido e está diretamente relacionada à composição e a forma de construção do fio. Quanto maior a sua força tênsil, maior a capacidade de manter os tecidos unidos por mais tempo. Essa característica é aplicável somente aos fios absorvíveis; 3. Ser flexível, pois quanto mais flexível for o fio, maior a facilidade de manipulação, favorecendo assim a técnica do cirurgião; 4. Apresentar baixa reação tecidual (hipoalérgicos) para que ocorra menor sensibilização dos tecidos suturados e garanta o sucesso no processo de cicatrização; 5. Constituir-se estéril e vir armazenado de modo adequado para evitar contaminação por microorganismos no momento da cirurgia e no pós-cirúrgico; 6. Possuir encastoamento adequado à agulha. O encastoamento consiste na fixação do fio à agulha de sutura. Na realidade atual, em que as suturas cirúrgicas já vêm encastoadas, ou soldadas eletronicamente aos fios, é importante que essa junção apresente boa resistência, evitando a perda do fio e, consequentemente, o comprometimento do ato de suturar, caso venham a se soltar quando submetidos à tração e torção exercidas pelo cirurgião e pelos tecidos. 7. Boa segurança para o nó 8. Não possuir ação carcinogênica 9. Não provocar reação alérgica 10. Não provocar ou manter infecção 11. Não ser eletrolítico 12. Manter as bordas aproximadas pelo menos até a fase proliferativa 13. Se absorvível, ter tempo de absorção previsível. 14. Ser resistente ao meio onde atua (ex.: pH do estômago) 15. Baixo custo A decisão do uso de fio absorvível, inabsorvível, monofilamentar ou multifilamentar depende de uma série de fatores. Há que se considerar o tempo necessário para a ferida cicatrizar, a tensão suportada pelos tecidos durante o processo de cicatrização e a questão da necessidade temporária ou permanente do fio de sutura para garantir o suporte mecânico. O calibre dos fios varia de nº 0 até nº 12.0. Quanto menor o número de zeros, maior é o calibre do fio, portanto, um fio 2.0 (dois zeros) é mais calibroso que o fio 4.0 (quatro zeros). Isso é importante por que cada calibre do fio exerce uma tensão na sutura, sendo necessária a escolha do calibre adequado. Além disso, cada calibre tem sua aplicação: oftalmologia e microcirurgia (7.0 – 12.0); face e vasos (6.0); face, pescoço e vasos (5.0); mucosa, tendão e pele-abdome e tronco (4.0); pele-extremidades e intestino (3.0); pele-extremidades, fáscia e vísceras (2.0); parede abdominal, fáscia e ortopedia (0-3). Os fios absorvíveis são utilizados para suturas invasivas, enquanto os não absorvíveis são utilizados para suturas externas. Já os fios de seda são utilizados em suturas odontológicas. Formas de apresentação dos fios de suturas e os tipos de agulhas. Material do fio: Os fios de sutura são classificados considerando sua degradação pelo organismo (absorvíveis ou inabsorvíveis), sua origem (orgânicos, sintéticos, mistos ou minerais) e à quantidade de seus filamentos (multifilamentados ou monofilamentados). Fios absorvíveis geram reação local de hidrólise ou proteólise, perdendo cerca de 50% de sua força tênsil em quatro semanas. Em período de tempo variável, podem ser completamente absorvidos. Conforme sua duração pode ser absorvível de curta permanência, como o fio de catgute, ou absorvível de longa permanência, como o fio de poligalactina. No outro extremo, existem os fios inabsorvíveis, que não são completamente degradados pelo organismo, como os fios de aço, de algodão, de nylon ou de polipropileno. Apesar de não serem completamente absorvidos e eliminados pelo organismo, os fios não absorvíveis perdem sua força tênsil em tempo variável (por exemplo, fio mononylon diminui 20% sua força tênsil em um ano). Porém, mesmo sem a totalidade de sua função, permanecem presentes no organismo, gerando reação de corpo estranho. Os fios absorvíveis são completamente eliminados em determinado período de tempo, com secundária perda de função, porém esse processo gera reação de corpo estranholocal de amplitude mais importante quando comparados aos inabsorvíveis. Quanto à origem, os fios podem ser orgânicos, sintéticos, mistos ou minerais. Como exemplos, o fio de algodão é um fio orgânico, o fio de aço é um fio mineral, o fio de nylon é um fio sintético. Fios orgânicos geram maior reação de corpo estranho, porém são fios geralmente de menor custo. Fios minerais são os que produzem menor reação, permanecendo com suas propriedades e exercendo sua função durante tempo indefinido. Entretanto, são de difícil manuseio e sua presença e inextensibilidade podem causar lesões. Os fios sintéticos possuem características intermediárias entre os dois grupos. A configuração dos fios pode ser monofilamentar ou multifilamentar. Estes últimos podem ser, ainda, torcidos, trançados ou trançados revestidos. Fios monofilamentares possuem menor capilaridade e deslizam com menos fricção. Contudo, possuem tendência à memória. O revestimento de fios multifilamentares, por exemplo com substâncias antibióticas, tenta atenuar suas deficiências. Os fios têm diâmetros ou calibres variados expressos em número de zeros (#-0), por exemplo 2-0 ou 6-0. O número de zeros corresponde a um diâmetro capaz de determinada resistência tênsil. Isto é, fios de mesmo número, por exemplo aço 3-0 e categute 3-0, podem ter diâmetros diferentes. Colas biológicas e adesivos cirúrgicos foram desenvolvidos com o propósito de auxiliar ou mesmo suprimir a função dos fios na síntese de tecidos. Entretanto permanecem sendo materiais pouco utilizados pelo seu preço e sua indicação restrita a sínteses de determinados tecidos (como a pele, por exemplo). Agulhas Os fios cirúrgicos são utilizados soltos, para nós manuais, ou com auxílio de agulhas. Podem ser originalmente fabricados e montados com agulha ou o processo de acoplamento fio-agulha ser realizado no ato operatório. A agulha tem por função promover a passagem do fio pelo tecido com o menor trauma possível. Dividem-se em fundo (região em contato com o fio), corpo e ponta. Podem ser montadas originalmente no fio (atraumáticas) ou de múltipla utilização e montagem em fios (traumáticas). Esta diferenciação guarda relação com o maior calibre do fundo da agulha em relação ao fio. Quanto ao seu formato, podem ser retas ou circulares. As redondas têm curvatura relacionada à fração de um círculo (1/4, 3/8, ½, 5/8). Diferentes curvaturas facilitam determinado movimento durante sua utilização. Sua ponta pode ser triangular (cortante), redonda ou espatulada. Seu corpo varia entre retangular, redondo e espatulado, fazendo uma transição entra a ponta e a inserção do fio. Agulhas cortantes facilitam a técnica cirúrgica em tecidos resistentes, como a derme, por exemplo. Porém, tecidos nobres como fígado ou córnea podem exigir menos trauma local, indicação de utilização de agulhas rombas e espatuladas. Reta: usadas para visceras ocas, tendões e pele; Semiretas: laparoscopia; ½: intestino; 3/8 intestino; 5/8: Urologia. Suturas Mecânicas A sutura mecânica é mais rápida que a manual. Isso reduz o tempo operatório, o que é bastante significativo para pacientes clinicamente graves quando submetidos a cirurgias. Outra vantagem é o seu uso no caso de anastomoses em localizações anatômicas desfavoráveis para a sutura manual, como nos casos de anastomoses retais baixas ou esofagianas. O custo da utilização da sutura mecânica é elevado e sua indicação deve ser baseada na real vantagem de seu emprego. É de grande importância para o resultado final da sutura, seja a mesma feita manual ou mecanicamente, alguns cuidados como: hemostasia bem feita, dissecção e preparo adequado das bordas a serem suturadas, boas condições de aporte sanguíneo e ausência de tensão na linha de sutura. A realização de suturas mecânicas envolve a tecnologia de aplicação de grampos de forma sequencial e ordenada, visando promover a fixação segura dos tecidos e garantindo sua integridade e vascularização. A concepção de Hultz de utilizar grampos, que ao serem aplicados, assumem o formato de “B” permanece até hoje. O que foi aprimorado diz respeito ao desenho do equipamento de aplicação e ao desenvolvimento de materiais como o titânio que é inerte e bem tolerado pelos tecidos. Os grampos tornaram-se progressivamente mais delicados reduzindo a reação tecidual no local de sua aplicação. Outro avanço é a aplicação em sequência de duas, ou até mesmo três, fileiras de grampos intercalados garantindo o aporte sanguíneo ao tecido. É de grande importância para o cirurgião o conhecimento sobre como manipular estes materiais para conseguir os melhores resultados. A sutura mecânica isoladamente não é hemostática. A pressão exercida pelos grampeadores mais recentes é de 8g/mm2. Esta pressão é suficiente para que pequenos vasos passem por entre as linhas dos grampos permitindo a manutenção da vascularização e como consequência a vitalidade das bordas a serem suturadas. Nos casos em que houver sangramento da linha de sutura este deverá ser coibido com eletrocoagulação ou mesmo com pontos. Existe também a questão do princípio básico sobre as suturas do tubo digestório que devem ter invertidas as bordas suturadas, motivo pelo qual, muitos cirurgiões aplicam uma “sobre-sutura” após o uso do grampeador. Estudos experimentais mostraram, entretanto, que quando não é necessário fazer a hemostasia, esta segunda sutura de inversão é dispensável. Segundo suas configurações os grampeadores são de aplicações internas (órgãos internos) ou externa (pele); com ou sem lâmina cortante, lineares ou circulares. Cada um deles com calibre e tamanho diferente. Seu uso é especifico e o resultado final da sutura também é dependente do uso do aparelho adequado para cada caso, obedecendo às variações entre o diâmetro, distância entre os grampos e tamanho dos mesmos. Tecidos espessos pedem grampos com hastes longas, e, por outro lado, o delicado tecido vascular exige o uso de grampeadores com hastes finas e curtas, colocados mais próximos uns dos outros. Tipos de grampeadores Atualmente existem equipamentos concebidos para uso nos mais variados procedimentos englobando, praticamente, todas a especialidades cirúrgicas. A cirurgia laparoscópica com suas necessidades específicas também levou ao desenvolvimento de novos aparelhos de sutura que possam ser usados naquele tipo de acesso. Podemos dividi-los em alguns tipos básicos: 1. Grampeadores simples – cutâneos, de hemostasia ou de fixação. 2. Grampeadores que suturam apenas. 3. Grampeadores que suturam e cortam – anastomoses. Grampeadores simples São aqueles em que os grampos são aplicados um a um de forma a aproximar superfícies ou fixar estruturas. Neste grupo temos os grampeadores cutâneos usados para o fechamento da pele. Estes possuem configuração completamente diferente daqueles que são usados em vísceras. Possuem forma de ++ e devem ser retirados no pós-operatório. São apresentados em diversos tipos e tamanho e podem ser usados inclusive para fixação de retalhos de pele. Há também os clipes hemostáticos, que podem tanto ser de uso em cirurgia convencional como em videolaparoscopia. Temos também os grampos de fixação, como aqueles usados para fixar telas em herniorrafias realizadas por laparoscopia. Grampeadores que suturam Seu uso está em geral relacionado situações em que há necessidade de suturas contínuas. São utilizados quando há necessidade do fechamento de um segmento ou coto. Sua aplicação é ampla na cirurgia do tubo digestório, sendo de grande utilidade em diversas cirurgias, tais como no fechamento do reto nas ressecções anteriores ou no procedimento de Hartmann. Podem ser usados também em procedimentos no tórax, como em biópsias apicais, ressecções em cunha e fechamento de brônquios. Grampeadores que suturam e cortam Este grupo de aparelhos associa a capacidade de corte à capacidadede suturar, permitindo a realização de anastomoses entre vísceras ocas. Podem ser divididos em dois grupos: lineares cortantes e circulares. • Grampeadores Lineares Cortantes: servem não só para seccionar e suturar mas também para realização de anastomoses. A presença da lâmina, que corta o teci do ao mesmo tempo em que a sutura é realizada pela aposição seqüencial dos grampos, facilita a confecção de anastomoses na maioria das vezes laterolaterais. São de grande utilidade na execução de gastroenteroanastomoses e enteroenteroanastomoses. Em cirurgias que demandam grande número de suturas, estes aparelhos encontram grande aplicabilidade, como nas gastrectomias e na cirurgia bariátrica. Podem, também, ter desenho adaptado a procedimentos laparoscópicos, por exemplo em ligaduras de pedículos de órgãos, como o baço e o rim. • Grampeadores Circulares: são compostos de duas partes: uma menor removível, chamada ogiva, que é fixada em um dos segmentos a serem anastomosados e a outra maior e circular, que introduzida pelo outro segmento a ser anastomosado, encaixa-se à ogiva. Ao mesmo tempo em que sutura, uma lâmina circular interna corta o tecido a ser anastomosado. São utilizados para anastomoses entre vísceras ocas. Suas principais aplicações são nas anastomoses colorretais e esofagojejunais. São equipamentos com diâmetros variados. O calibre mais utilizado para as anastomoses esofagojejunais é o de 25mm. Já para as anastomoses colônicas o mais utilizado é o de calibre 29 . Existem grampeadores com calibres que variam entre 23 e 33mm, e que devem ser escolhidos levando-se em conta o diâmetro do segmento a ser anastomosado. Um cuidado que se deve ter após o grampeamento, é a verificação da integridade dos anéis seccionados, que não devem ter rupturas, o que significa que nenhum ponto da sutura ficou sem grampos. Algumas vezes, quando as condições de sutura não são totalmente favoráveis, impõe-se uma sutura manual de segurança.
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