AT 1 A PSICOLOGIA JUNTO AO DIREITO DE FAMÍLIA E VIOLÊNCIA DE GÊNERO 2 32 S U M Á R IO 2 3 INTRODUÇÃO 5 UNIDADE 1 - Família 5 1.1 Desenvolvimento humano e relacionamentos amorosos 10 1.2 Família 17 UNIDADE 2 - Conflitos e litígios 23 UNIDADE 3 - Mediação 27 UNIDADE 4 - Conjugalidade e parentalidade 30 UNIDADE 5 - Guarda e visitação 30 5.1 A criança filha de divorciados: guarda e visitação 33 5.2 Guarda compartilhada 36 5.3 Atuação do psicólogo 41 5.4 Síndrome da alienação parental 47 UNIDADE 6 - Implicações da separação para a criança 51 UNIDADE 7 - Violência de gênero e violência doméstica 55 UNIDADE 8 - Lei maria da penha 60 UNIDADE 9 - Atendimento à mulher vitimizada e ao agressor 60 9.1 Atendimento às vítimas de violência doméstica 62 9.2 Atendimento aos agressores 64 REFERÊNCIAS 2 333 INTRODUÇÃO Dando prosseguimento ao curso, neste material iremos enfatizar a importância do psicólogo nas questões inerentes às Varas de Família e nas questões acerca da violência de gênero – situação tão preocu- pante, relevante estatisticamente e atual na sociedade brasileira. Partimos nossa reflexão a partir de uma análise – superficial, devido às limitações de espaço – porém marcante, de deter- minados fatores associados ao contexto histórico-cultural brasileiro que auxiliam uma melhor compreensão do conceito de família, divórcio e do papel que a mulher desempenha na sociedade. O panorama atual possui suas origens numa sociedade machista, patriarcalista, na qual a mulher não gozava de uma série de direitos, tais como o de voto, de admi- nistração de seus bens quando casada ou de trabalhar sem a permissão do marido. As mudanças que envolvem as relações familiares e relacionadas à violência de gênero foram acontecendo a partir da promulgação de leis, tais como a lei do Di- vórcio, lei Maria da Penha, lei da Alienação parental, dentre outras que serão eluci- dadas no decorrer do material. A importância do movimento feminista, associado a outras conquistas, garanti- ram mudanças na mentalidade social que beneficiaram não apenas as mulheres, mas também as famílias e os filhos. Como membro da equipe multiprofis- sional que atua nas Varas de Família, o psicólogo deve conhecer um pouco do Di- reito de Família, a legislação vigente, além de técnicas que possam embasar o traba- lho de avaliação para a elaboração de pa- receres que auxiliam os juízes a tomarem suas decisões, assim como em situações que envolvam o trabalho em equipe, vi- sando ao bem-estar das pessoas que bus- cam a lei. O Direito de Família regula e assegura direitos individuais, pois a vida familiar funda-se na autonomia, onde a inter- venção dos órgãos públicos tem caráter excepcional: restringindo poderes e atri- buindo direitos nas relações domésticas; fazendo-se árbitro através do juiz dos conflitos entre os membros da família (KRUGER, 2009, p.238). Além disso, conhecer aspectos do de- senvolvimento humano na adolescência ajuda, assim como aspectos relacionais, a contribuir para uma maior compreen- são de como se dão as escolhas conjugais, além de elucidar fatores que são respon- sáveis pelo sucesso do casamento ou para a ocorrência de divórcio. Assim, terminamos a introdução afir- mando que os temas que aqui serão abor- dados são extensos, sendo impossível es- gotar os mesmos, trazemos apenas uma discussão sobre os aspectos essenciais envolvidos em cada um deles que podem servir de subsídios para a prática do psi- cólogo jurídico. Como reforçamos desde o início do curso, pelos motivos já elucida- dos, não iremos descrever o uso de testes psicológicos. Esta apostila foi formulada a partir da pesquisa bibliográfica realizada, principal- mente, nas obras de Gonçalves e Brandão (2011) e Rovinski e Cruz (2009), que fa- 4 5 zem parte da coletânea de diversas obras relacionadas ao universo da psicologia ju- rídica. Além disso, ressaltamos também a utilização da “Cartilha do Divórcio para os Pais” (CNJ/AMB, 2013), referenciada ao final da apostila. Esse material, além de servir como subsídio teórico da apostila, é um importante referencial que deve ser recomendado a genitores em processo de divórcio para auxiliá-los em sua relação com os filhos. Leis também serão citadas e referenciadas. 4 4 55 UNIDADE 1 - Família 1.1 Desenvolvimento hu- mano e relacionamentos amorosos Atualmente, discutir o conceito de fa- mília abre margem para diferentes inter- pretações, visto que a família vem pas- sando por uma série de transformações sociais, históricas, políticas, culturais e psicológicas ao longo do tempo. Antes de adentrarmos ao estudo de como o Psicó- logo Jurídico atua nos contextos das Varas de Família – nesse caso citaremos situa- ções de divórcio e a posterior relação com os filhos – pretendemos discorrer breve- mente sobre o conceito de família e sobre como costuma acontecer o processo de formação das famílias. Voltaremos nosso foco para o estudo do desenvolvimento humano, que trará subsídios para compreendermos como acontece a escolha do parceiro. Compre- ende-se que, quando um casal começa a namorar e deseja se casar para constituir sua família, pensa que será para sempre, porém, nem sempre o relacionamento dá certo e o fim de muitos acaba sendo o di- vórcio. Por que as pessoas constituem família? Parte-se do pressuposto que é afirmado inclusive em meios não científicos: “o ho- mem é um ser social”. Segundo Gazzanin- ga e Heatherton (2005), o homem possui a necessidade de pertencer, além do de- sejo por contatos sociais. Esse é um dos pontos que justifica por que as pessoas buscam relacionamentos estáveis. A questão da escolha do parceiro re- mete à adolescência. Erikson postula que, nessa faixa etária, o adolescente vive a crise da identidade versus confusão de identidade (ou confusão de papel) e ca- racteriza-se como o momento em que o indivíduo busca desenvolver um senso coerente de identidade, incluindo o papel que ele irá desempenhar na sociedade. Nesse quesito, a definição de identida- de caminha paralelamente à questão da intimidade e, segundo o teórico, há dife- renças entre os gêneros (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Não há necessidade de pormenorizarmos aqui essa diferença que ocorre no feminino e no masculino, apenas ressaltamos que há diferenças – assim como várias outras que serão apon- tadas ao longo deste material. Segundo os mesmos autores, na ado- lescência, a questão da sexualidade vem à tona, o que interfere na escolha dos parceiros e, futuramente, na constituição de uma família. A formação da identidade sexual do adolescente inclui a identifica- ção do mesmo enquanto um ser sexual, o reconhecimento de sua orientação sexu- al, a consonância entre a excitação sexu- al e a formação de vínculos românticos e sexuais. Nessa etapa do desenvolvimen- to, a consciência urgente da sexualidade relaciona-se diretamente à formação da identidade, influenciando a autoimagem e os relacionamentos que podem se esta- belecer a partir dessa fase. É um processo conduzido biologicamente (marcado pela puberdade), porém sua expressão sofre também influências culturais. Com o final da adolescência – perío- do que, segundo a lei, encerra-se aos 18 6 7 anos, mas que pode perdurar por mais tempo se considerarmos as característi- cas psicossociais de cada sujeito individu- almente – o início da vida de adulto é mar- cado por outra crise definida por Erikson como intimidade versus isolamento. Como afirmamos anteriormente, na adolescên- cia, a identidade foi a questão central da crise característica dessa etapa da vida e espera-se que o adulto jovem consiga o equilíbrio entre um pouco de isolamento para pensar em suas próprias questões e uma intimidade