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RESENHA O CORTIÇO

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RESENHA CRÍTICA
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. 30. ed. São Paulo: Ática, 1997.
O cortiço: da humanização à animalização determinista
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, nascido em 16 de abril de 1857 na cidade de São Luís, no estado do Maranhão, representa um dos mais celebres nomes da Literatura Brasileira. Considerado precursor do movimento Naturalista, Aluísio possui uma vasta produção literária abrangendo, dentre outros gêneros, romances, contos, crônicas, peças teatrais. Desse modo, Aluísio foi autor da obra O Mulato (1881), considerado o primeiro livro com a estética Naturalista do Brasil, mas foi por meio de O Cortiço (1890) que o referido escritor alcançou o auge da estética no país. Aluísio pode ser definido, portanto, “como um romancista predominantemente social, de acordo com o realismo-naturalismo, mas com visíveis reminiscências românticas”. (CASTELLO, 1953, p. 444)
Nesse sentido, Aluísio Azevedo, enquanto um escritor naturalista, tratava a literatura e a ficção da mesma forma que um cientista tratava a natureza: através de métodos e técnicas cientificas. Desse modo, na obra O Cortiço, o autor busca problematizar e retratar o aumento populacional da cidade do Rio de Janeiro que culminou com o surgimento de habitações populares, denominados de cortiços, onde residiam pessoas das camadas mais baixas da sociedade, além de indivíduos com comportamentos moralmente condenáveis. Assim, a obra traz uma crítica, sobretudo, a higienização urbana ocasionada pelo capitalismo emergente e a divisão social de classes que começava a surgir no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX. 
Nessa perspectiva, segundo o texto “De cortiço a Cortiço” de Antônio Candido, a referida obra a ser resenhada baseou-se no livro L'Assommoir, de Emile Zola. Assim, em O Cortiço, é narrado, inicialmente, o processo de construção da habitação coletiva por um dos personagens principais, João Romão, um jovem de poucas posses, bastante econômico e que trabalhou por 12 anos para o dono de uma pequena venda, que ao falecer deixou seu ínfimo estabelecimento para ele, onde esse investiu seus poucos tostões na tentativa de ascender financeiramente. Nesse sentido, dado as mais duras privações, a avareza, mesquinharia, o oportunismo, a total falta de caráter e a ajuda de Bertoleza, uma escrava fugida, João cresce social e financeiramente. Nesse sentido, Bertoleza sentia uma falsa sensação de proteção ao lado de João Romão e, por isso, se sujeitava as mais absurdas situações, como roubar materiais de construção de obras vizinhas para que João aumentasse/reformasse seu cortiço. Logo, vale salientar que Romão a enganara com uma falsa carta de alforria. 
Desse modo, um dos personagens de forte influência na trama fora Jerônimo, retratado como um português forte e trabalhador que havia sido contratado para trabalhar em uma pedreira e em função disso havia se mudado para o cortiço com sua esposa Piedade e sua filha. Logo, ao tornar-se conhecido no cortiço conhecera e se apaixonara por uma mulata chamada Rita Baiana. Nesse contexto, Rita era envolvida com o Firmo, um mulato presunçoso e capoeirista. Assim, em função da desconfiança, Firmo e Jerônimo brigam de forma avassaladora, fazendo com que Jerônimo fique entre a vida e a morte. Entretanto, Jerônimo se recupera e encomenda o assassinato de Firmo. 
Nessa perspectiva, ao decorrer da narrativa naturalista, nota-se a presença notória da corrente cientifica do determinismo. Assim, a referida corrente prega a influência direta do meio sobre o indivíduo, isto é, de acordo com a teoria, o ser humano sofre intervenção direta da raça, da geografia e do momento sócio-histórico o qual encontra-se inserido. Logo, a manifestação do determinismo na obra é marcada pelo referido personagem Jerônimo, português viril e honesto, que ao se mudar para o cortiço havia se desvirtuado, se “abrasileirado” e deixado de lado os seus princípios chegando, inclusive, a encomendar a morte de uma pessoa. 
Nesse sentido, um dos aspectos que chamam atenção na obra consiste na humanização do cortiço, isto é, na narrativa, o próprio cortiço é considerado o personagem principal da obra, mais especificamente, esse pode ser considerado enquanto um organismo vivo. Tal afirmação pode ser evidenciada, dentre outros, nos trechos: “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo” (AZEVEDO, 1997, p. 35) e “E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo” (AZEVEDO, 1997, p. 113). 
Em paralelo à humanização do cortiço, podemos notar o processo de animalização dos personagens, a denominada zoomorfização, que consiste na prática de atribuir aos seres humanos características animais. Assim, na narrativa, os personagens eram tratados como animais que sofriam influências infectas da espécie de circo malcheiroso onde viviam (o cortiço). Nesse sentido, infere-se, portanto, que os personagens da referida obra não eram tratados de forma idealizada, como era no Romantismo; ou com aspectos psicológicos, como era no Realismo. No Naturalismo, o homem retorna a sua essência animal e ao seu extintivo expressivo. Como salienta Coutinho (1999, p. 12) “A visão da vida no Naturalismo é mais determinista, mais mecanicista: o homem é um animal, presa de forças fatais e superiores sem efeito e impulsionado pela fisiologia [...]” 
Desse modo, ainda que todos os personagens do romance sejam limitados biologicamente pela visão do Naturalismo, a escrava Bertoleza exerce a posição mais indigna perante essa concepção. Tal afirmação é evidenciada, dentre outros, nos trechos “Bertoleza é que continuava na cepa torta, sempre a mesma crioula suja [...] essa em nada, em nada absolutamente, participava das novas regalias do amigo; pelo contrário, à medida que ele galgava posição social, a desgraçada fazia-se mais e mais escrava e rasteira”. (AZEVEDO, 1997, p. 134) e no momento final de sua vida em que comete suicídio “E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue” (p. 201). 
Nesse sentido, no romance, Aluísio se propõe a provar a teoria de que o indivíduo é produto do meio em que vive, sendo determinado por esses fatores. Tal afirmação é evidenciada na narrativa acerca de Jerônimo, que se contaminou com o ambiente do cortiço. Podemos, ainda, associar o tratamento animalesco dos personagens ao espaço em que viviam, isto é, características animais eram atribuídas às pessoas em função dessas viverem naquele infecto cortiço. Logo, podemos inferir, ainda, que a obra representa uma alegoria do Brasil da época, já que esse tematiza as representações das relações entre os diversos grupos sociais e raciais que compõem o país. Compreendemos, também, a contundente crítica feita acerca da exploração do homem pelo próprio homem. 
Destarte, recomendamos fortemente a obra resenhada acima a toda comunidade acadêmica do curso de Letras e afins. Recomendamos, ainda, a todos àqueles que possuem apreço e interesse pela impactante e plural produção literária do ilustre autor Aluísio Azevedo. 
Referências 
CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1998.
CASTELLO, José Aderaldo. Aspectos do Realismo-Naturalismo no Brasil. In: Revista de História. São Paulo. v. 6, n. 14, 1953.
COUTINHO, Afrânio; COUTINHO, Eduardo. A literatura no Brasil. Vol. 4. São Paulo: Global, 1999.

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