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1 3. Semiologia Gastrointestinal Exame Físico – etapas: 1) Inspeção: - Estática; - Dinâmica; 2) Ausculta; 3) Percussão; 4) Palpação; 5) Manobras especiais; Ao iniciar o exame físico do abdome, devemos realizar uma inspeção prévia da parede abdominal anterior, orientando nossa observação a partir das divisões topográficas. Ela facilita a organização anatômica dos órgãos abdominais e, também, a localização de forma padronizada, sendo fácil localizar zonas e formações anômalas do ventre. Temos algumas divisões conhecidas, como: • Divisão em 4 quadrantes: traçamos uma linha seguindo a orientação da cicatriz umbilical e a linha alba (espaço entre os músculos retos do abdome), mediana e vertical a cicatriz umbilical, dividindo o abdome em 4 regiões (Figura 1); Figura 1 - Divisão topográfica do abdome em 4 quadrantes. • Divisão em andares (Figura 2): traçamos uma linha horizontal passando pela cicatriz umbilical e, assim, dividimos o abdome em andares superior e inferior; • Divisão em hemiabdome (Figura 3): seguindo a mesma linha de raciocínio para os andares, traçamos uma linha vertical que passa pela cicatriz umbilical e fazemos a divisão do abdome em hemiabdome direito e esquerdo. Usualmente esta classificação é utilizada para a ausculta do abdome; Figura 2 - Divisão topográfica do abdome em andares. Figura 3 - Divisão topográfica do abdome em hemiabdome. • Divisão em 9 regiões (Figura 4): comumente, esta divisão é utilizada para a palpação abdominal. Para estabelecermos essa divisão, precisamos, assim, delimitá-la. Superiormente, traçamos duas linhas anatômicas curvas, acompanhando o rebordo costal à direita e à esquerda e contornando a base do apêndice 2 xifoide. Inferiormente, traçamos duas linhas anatômicas oblíquas, assinalando as pregas inguinais e uma linha curva, anatômica, contornando a crista pubiana. Seguindo a orientação com base nas linhas hemiclaviculares, bilateralmente, unimos o ponto de encontro delas com o rebordo costal traçando uma linha horizontal, unindo da mesma forma as cristas ilíacas anterossuperiores. Do ponto de encontro da linha hemiclavicular com o rebordo costal, traçamos, assim, uma linha que segue verticalmente e de forma oblíqua, até o tubérculo do púbis do lado correspondente. O limite das regiões, lateralmente, dar-se-á pelo prolongamento da linha axilar média. Figura 4 - Divisão topográfica do abdome em 9 regiões. Cada uma das regiões terá um nome específico, sendo assim, uma forma de também padronizar os achados em cada região: 1. Hipocôndrio Direito, sendo local de alojamento do fígado e vesícula biliar; 2. Região Epigástrica, alojando o estômago, em grande parte; 3. Hipocôndrio Esquerdo, local de alojamento do baço; 4. Flanco Direito, parte do intestino grosso, sendo a alça ascendente; 5. Região Mesogástrica, contando com parte do intestino delgado e aorta; 6. Flanco Esquerdo, parte do intestino grosso, sendo a alça descendente; 7. Fossa Ilíaca Direita, contando com o ceco e o apêndice vermiforme; 8. Região Hipogástrica, alojamento da bexiga e, em mulheres, local onde se apresenta o útero; 9. Fossa Ilíaca Esquerda, contando com a parte terminal do intestino grosso, o colo sigmoide. ▪ Divisão da parte posterior do abdome: temos, assim, para esta divisão, o prolongamento da linha espondiléia (linha que passa pelas apófises espinhosas das vértebras dorsais) e a presença de linhas anatômicas contornando superiormente o rebordo costal e, inferiormente, as cristas ilíacas e a base do crânio. Assim, teremos a divisão em regiões lombares esquerda e direita. Figura 5 - Divisão topográfica da parede posterior do abdome. 1) Inspeção: a) Estática: No primeiro momento do exame, avaliamos o paciente de acordo com a forma do seu abdome, sendo um abdome sem alterações classificado como de forma normal. Também visualizamos a pilificação do paciente, cicatriz umbilical, cicatrizes cirúrgicas, presença de estrias e circulação colateral. Entretanto, caso sejam visíveis alterações no abdome do paciente, devemos classificá-lo como de forma patológica (ou típica). A forma patológica possui dois tipos de alteração, sendo: 3 ▪ Alterações simétricas: em que o abdome, de forma global, apresentará uma simetria para a forma patológica apresentada, sendo algumas dessas alterações: 1. Abdome retraído (ou escavado) (Figura 6) – presente em pacientes muito emagrecidos ou em casos de neoplasias; 2. Abdome globoso (Figura 7) – podemos considerar um paciente ascítico em casos de hepatopatias (como uma complicação da cirrose) ou esquistossomose, um abdome gravídico é globoso, contudo, ele não é patológico; 3. Abdome de sapo (ou batráquio) (Figura 8) – em casos em que há um aumento predominante do diâmetro transversal sobre o diâmetro anteroposterior, possuindo uma distribuição lateral equivalente. À percussão, o som ouvido pelos golpes efetuados pelo examinador serão timpânicos; 4. Abdome em avental (ou pendular) (Figura 9) – em casos em que há uma protrusão abdominal no sentido inferior (a favor da gravidade). Figura 6 - Abdome escavado. Figura 7 - Abdome globoso. Figura 8 - Abdome de batráquio Figura 9 - Abdome em avental. 4 ▪ Alterações assimétricas: em que os achados patológicos não irão apresentar uma forma simétrica, por comprometerem apenas um segmento da parede abdominal. Algumas dessas alterações, são: 1. Hérnias e tumores abdominais (Figuras 11 e 12) – em geral, podemos ter achados de neoplasias, como o tumor de cabeça do pâncreas, sendo o Sinal de Courvosier- Terrier (presença de uma vesícula biliar protrusa em paciente ictérico, é ocasionada pela obstrução de colédoco). Quanto às herniações, devemos localizar elas de acordo com sua região de origem, seguindo as 9 regiões da divisão topográfica e outras regiões, como femoral, umbilical e as provocas por incisão; 2. Cicatriz umbilical (Figuras 13 e 14) – podendo se apresentar de forma diferente de uma cicatriz normoimplantada, sendo também possível apresentar granulomas; 3. Sinal de Cullen (Figuras 15 e 16) – ao redor da cicatriz umbilical, indicando uma pancreatite aguda necro-hemorrágica e, em alguns casos, indica uma gravidez ectópica; 4. Sinal de Grey-Turner (Figura 16) – presença de equimose nos flancos, indicado uma hemorragia em retroperitônio; 5. Cicatrizes cirúrgicas (Figura 10) – quando observadas, devem ser descritas e identificadas de acordo com o procedimento a qual elas são referentes; Figura 10 - Cicatrizes cirúrgicas e suas posições. 6. Estrias atróficas (Figura 17) – geralmente presentes em pessoas previamente acima do peso, tendo retornado a um peso menor; 7. Soluções de continuidade (Figura 18) – provocadas por lesões de armas brancas ou armas de fogo, são eviscerações, ferimentos perfuro contusos (como por balas), entre outros. Figura 11 - Sinal de Courvosier-Terrier para neoplasia pancreática. Figura 12 - Hérnia epigástrica. Figura 13 - Hérnia umbilical. 5 Figura 14 - Granuloma umbilical. Figura 15 - Paciente apresentando Sinal de Cullen. Figura 16 - Paciente apresentando simultaneamente os sinais de Cullen e Grey-Turner. Figura 17 - Estrias atróficas periumbilicais. Figura 18 - Solução de continuidade por arma de fogo. Para a inspeção, devemos observar, também, a presença de circulação colateral, já que algumas patologias cursam com este sinal clínico. Alguns tipos dessas circulações colaterais são: 1. Tipo Porta; As circulações tipo porta podem ser divididas em: ▪ Periumbilical (ou caput medusae) (Figura 19) – disposta de forma radial à cicatrizumbilical; ▪ Supra umbilical (Figura 20) – presente no andar superior do abdome; ▪ Infra umbilical (Figura 21) – presente no andar inferior do abdome. 6 2. Tipo veia cava inferior (Figura 22) – veias distribuídas na parede lateral e na raiz dos membros inferiores; 3. Tipo porto cava (Figura 23); Figura 19 - Circulação colateral tipo caput medusae. Figura 20 - Circulação colateral supra umbilical. Figura 21 - Circulação colateral infra umbilical. Figura 22 - Circulação colateral tipo cava inferior. Figura 23 - Circulação colateral tipo porto cava. b) Dinâmica: Nesta etapa do exame, devemos observar as movimentações que o abdome realiza, como pulsações e outros movimentos. Devemos diferenciar os movimentos respiratórios daqueles realizados pelas pulsações epigástricas (geralmente fisiológicas). Em caso de movimentos peristálticos, devemos também ficar atentos, pois comumente não são observados. Para melhorar as observações dinâmicas, devemos lançar mão da manobra de Valsalva (Figura 24), em que pedimos que o paciente faça um movimento forçado de exalar o ar com os lábios fechados e o nariz tapado (com isso, a pressão abdominal irá aumentar e poderemos visualizar movimentos específicos da parede anterior do abdome). 7 Figura 24 - Exemplo para a manobra de Valsalva. No caso de soluções de continuidade, precisamos nos ater para diástase dos retos e eventrações ou hérnias (sendo pontos de fraqueza da parede abdominal no local onde ocorra a lesão). Devemos ficar atentos a massas pulsáteis, pois podemos estar diante de um aneurisma de aorta e podemos iniciar o acompanhamento do paciente o quanto antes (Figura 25). Figura 25 - Massa pulsátil, característica de aneurisma de aorta. Assim, ao descrever uma inspeção (estática e dinâmica) normal de um paciente, devemos citar: “A inspeção da parede anterior do paciente X apresenta um abdome atípico, com padrão respiratório misto, pulsações epigástricas visíveis, cicatriz umbilical normoimplantada, pilificação adequada para gênero e idade, sem retrações ou abaulamentos, ausência de peristaltismo visível e pulsações, ausência de circulação colateral, ausência de cicatriz ou massas pulsáreis visíveis e manobra de Valsalva negativa”. 2) Ausculta: A ausculta, num geral, deve ser realizada em um ambiente tranquilo, silencioso e sem interrupções de terceiros, devendo, preferencialmente, ser realizada antes da palpação, para que se evite aumentar involuntariamente o peristaltismo. Para local onde será realizado a ausculta, deve-se permanecer até, no máximo, 2 minutos, para que se realize uma ausculta adequada. O sentido que devemos adotar para a ausculta e para palpação deve ser padronizado. Se o paciente aponta uma região como mais dolorosa ou com maior desconforto, devemos começar por outra região, que não haja incômodo para ele. Assim, devemos também seguir uma ordem lógica de exame, em sentido horário ou anti-horário, levando em conta a divisão em 4 quadrantes. Os ruídos hidroaéreos que devemos escutar são da motilidade das alças intestinais, sendo presentes gás e líquido nessas regiões de ausculta. Esses ruídos podem estar diminuídos ou ausentes, pois quando há um esforço exagerado da musculatura em casos de obstrução, a fadiga muscular irá ocorrer. Assim que essa fadiga começa a dar sinais de comprometimento do peristaltismo, os ruídos começam a reduzir, ficando cada vez menos audíveis, até o momento em que paramos de lhes ouvir. Podem estar diminuídos, também, por processos irritativos como peritonite ou úlcera perfurativa. Em casos de ausência do ruído hidroaéreo, consideramos, também, causas para o íleo paralítico. Quando estão aumentados, podemos estar diante de um caso de diarreia. Devemos escutar os ruídos com bastante cautela, para identificarmos sua intensidade, timbre, e tipos, sendo de propulsão ou de mistura. Devemos lembrar de auscultar as regiões vasculares que possam apresentar sopros, pelo turbilhonamento do fluxo sanguíneo. Dessa forma, precisamos fazer a auscultas das posições 8 compatíveis com a aorta abdominal, as artérias renais, as artérias ilíacas e as femorais, respeitando a anatomia de suas posições (Figura 26). Figura 26 - Pontos de ausculta vascular no abdome. Para uma ausculta fisiologicamente normal dos ruídos hidroaéreos, temos então a seguinte denominação: “A ausculta da parede anterior do paciente X apresenta ruídos hidroaéreos de intensidade e timbre normais nos 4 (quatro) quadrantes, sem sopros audíveis.”. 3) Percussão: Tendo em mente a técnica para percussão, iremos realizá-la em ambiente calmo e silencioso, para extrair melhor os dados clínicos desta semiotécnica. Em condições fisiológicas, pacientes com um trato gastrointestinal em pleno funcionamento, produzirão o som timpânico pela presença dos gases neste ambiente. Em situações que os cólons estejam com muitas fezes presentes em seu lúmen, o som escutado pode variar de sub- maciço a maciço. De forma geral, o som produzido em hipocôndrio direito será maciço, devido a presença do fígado alojado em sua posição anatômica, enquanto o som ouvido com a percussão em hipocôndrio esquerdo deverá ser timpânico, pela presença do espaço livre de Traube. O Espaço de Traube é uma zona de percussão de timbre timpânico de formato semilunar, limitada à direita pelo lobo esquerdo do fígado, acima pelo diafragma e pulmão esquerdos e à esquerda pela linha axilar anterior esquerda. De modo geral, esse espaço tem largura de 12cm e altura de 9cm, projetando-se sobre da 6ª à 9-10ª costelas. A expressão “Traube Livre”, muito usado no cotidiano dos hospitais e acadêmicos, significa dizer que a percussão do espaço apresenta o timbre timpânico e que a loja de Traube encontra- se “livre” de ocupação, conforme normal. No entanto, alguns fatores podem alterar o timbre da percussão do Espaço de Traube, tornando-se, agora, maciços à dígito percussão do espaço. Além das esplenomegalias, comuns em doenças como Leucemias, doença de Chagas e Esquistossomose, as cardiomegalias, os aumentos de volume do lobo hepático esquerdo e os derrames pleurais também correspondem ao “Traube preenchido” ou maciço. Quando o baço aumenta de volume, por qualquer dos motivos, faz seguindo direção obliqua da esquerda para a direita e para baixo, podendo ocupar, inclusive a fossa ilíaca esquerda. Para uma percussão fisiologicamente normal da parede abdominal anterios, temos então a seguinte denominação: “ A percussão da parede anterior do abdome do paciente X observa-se indolor, presença de som maciço em HD (Hipocôndrio Direito) e som timpânico nas demais regiões”. 4) Palpação: Esta técnica é o método semiológico mais eficiente para a percepção e avaliação dos órgãos abdominais. O exame de palpação deve ser realizado com o paciente em decúbito dorsal, estando completamente relaxado e sem camisa, caso possível. O examinador deve estar à direita do paciente, exceto durante a palpação do baço. O objetivo da palpação é avaliar o estado de integridade da parede abdominal, reconhecer as condições anatômicas das vísceras 9 abdominais, detectando alterações palpáveis e sua consistência e explorar a sensibilidade abdominal. Se encontramos algum abaulamento durante a inspeção, podemos lançar mão da manobra de Smith-Bates (Figura 27), para identificar a posição deste abaulamento durante a palpação. Por ser uma fase mais ativa do exame, essas manobras podem ser utilizadas com maior liberdade. Essa manobra consiste em solicitar ao paciente que realize um movimento de elevação das pernas, de forma a contrair a musculatura abdominal, se o abaulamento persistir, significa que ele está próximo ou aderidoà parede abdominal anterior, caso este abaulamento desapareça, então a origem encontra-se abaixo da parede abdominal anterior. Figura 27 - Manobra de Smith-Bates. a) Palpação superficial: Nesta primeira parte da palpação, devemos avaliar os seguintes pontos da parede abdominal anterior: sensibilidade, resistência, continuidade, pulsações e reflexos e, por fim, frêmitos catáreos (sendo a percepção tátil de um sopro). Buscamos sempre, na palpação, avaliar a presença de dores, incômodos, tumorações ou lesões. Deve-se iniciar a palpação com a mão direita (Figura 28) espalmada sobre o abdome, no sentido paralelo ao eixo longitudinal da parede, exercendo ligeira compressão por todo o ventre. Caso o paciente relate qualquer dor ou desconforto em ponto específico, devemos deixar esta região como a última para a avaliação, sem comprometer o exame. Figura 28 - Técnica palpatória superficial. Os movimentos a serem executados devem ser de pequena amplitude, suaves e rápidos, flexionando as articulações metacarpo falangianas e interfalangianas. Caso o abdome se apresente tenso ou rígido, recomenda-se que a técnica palpatória superficial seja realizada durante a expiração, momento em que esta tensão superficial tende a diminuir. Dentro da avaliação, devemos considerar: ▪ Sensibilidade: devemos palpar de forma leve a parede abdominal, sem forçar excessivamente; ▪ Espessura (Figura 29): para isso, devemos utilizar o movimento de oposição polegar- indicador, formando uma pinça; Figura 29 - Preensão da parede abdominal. 10 ▪ Temperatura: utiliza-se o dorso da mão direita para verificar a temperatura da região; ▪ Resistência (tensão): para esta avaliação, podemos utilizar o método bimanual, sem utilizar força para aprofundar a palpação (Figura 30). Figura 30 - Método bimanual de palpação superficial. b) Palpação profunda: Para esta parte do exame, utiliza-se tanto a técnica uni quanto a bi manual, para uma melhor percepção dos órgãos que estão sendo palpados. Sobrepomos as mãos espalmadas, sendo a mão de maior sensibilidade utilizada para a percepção e a de menor sensibilidade para a força extra no momento de aprofundar a palpação (Figura 31). Figura 31- Técnica palpatória profunda. É facultado para a realização da semiotécnica a colocação das mãos uma sobre a outra ou as duas mãos estiradas e oblíquas, convergentes nas extremidades e divergentes na base. Faz-se a palpação profunda deslizando com as mãos em posição adequada, sobre a parede anterior do abdome. Deve-se adotar uma posição perpendicular a víscera para a palpação, procurando identificar as características (consistência, textura, volume, forma e sensibilidade). Não devemos iniciar o exame aprofundando as mãos diretamente sobre a parede abdominal do paciente. Lembrar que ao realizar um exame abdominal, as queixas são bastante vinculadas a sensações dolorosas, portanto, o paciente pode reclamar de desconforto ao se realizar uma técnica de forma displicente. A gradação do aprofundamento é a forma mais adequada de realizar o exame, sempre avisando e visualizando se o paciente irá apresentar alguma fácies dolorosa. Para melhor desempenho do exame, aconselha-se realizá-lo nos períodos de expiração. O examinador possui a liberdade de realizar a manobra quantas vezes for necessário, contudo, o mínimo possível para evitar desconfortos a quem se submete ao exame. Na palpação, convém seguir a uma determinada sequência para a realização da palpação. Pode-se adotar uma mesma linha de raciocínio utilizada para a ausculta abdominal, contudo, deve-se segui-la à risca, para padronização do exame. Cada examinador terá uma ordem prévia formada em sua avaliação clínica, porém deve seguir sua avaliação por esta ordem, lembrando sempre de palpar a região dolorosa no final. Uma ordem que pode ser convencionada a se seguir é: 1. Fossa Ilíaca D; 2. Flanco D; 3. Hipocôndrio D; 4. Epigástrio; 5. Hipocôndrio E; 6. Flanco E; 7. Fossa Ilíaca E; 8. Hipogástrio e 9. Mesogástrio. 11 Em caso de hipertonia da parede abdominal, que possa dificultar ou comprometer a avaliação, utiliza-se a manobra de Galambos, que consiste em forçar uma depressão do abdome com uma das mãos, numa área adjacente a região que se deseja palpar. Com esta manobra, a parede irá apresentar uma tensão menor, pela força aplicada e viabilizará a avaliação. Ao realizarmos a palpação profunda em qualquer local do abdome, podemos estar diante do sinal de Gueneau de Mussy. Este sinal é característico de uma sensação de dor difusa à descompressão súbita em qualquer região do abdome. Assim, para uma palpação fisiologicamente normal da parede abdominal anterior, temos então a seguinte denominação: “A palpação superficial e profunda da parede anterior abdominal do paciente X apresenta-se flácida e indolor, sem massas ou visceromegalias.”. 5) Manobras especiais: a) Propedêutica hepática; Devemos saber, antes de realizar o exame, a posição anatômica para a loja hepática (Figura 32). O fígado está localizado na loja sub frênica e parte do epigástrio. Em condições fisiológicas normais, apenas o bordo e a parede da face anterior e inferior são palpáveis no exame. Este órgão se encontra fixado ao diafragma, possuindo grande mobilidade. Figura 32 - Organização das vísceras abdominais. ▪ Inspeção: À inspeção hepática normal, não se encontram achados dignos de nota. Em casos de hepatomegalia (Figura 33), podemos visualizar um abaulamento proeminente na região de hipocôndrio direito. Figura 33 - Paciente apresentando hepatomegalia visível. ▪ Percussão: A percussão hepática deve ser realizada seguindo a orientação da linha axilar anterior ou a linha hemiclavicular, de cima para baixo, com o paciente em repouso, em decúbito dorsal. O limite superior do órgão é determinado pelo aparecimento de som sub maciço, ouvido naturalmente do 5º EIC Direito. O som maciço é ouvido naturalmente no 6º EIC, marcando o 12 ponto de contato do fígado com a parede torácica anterior. Podemos delimitar o tamanho do fígado pela técnica de percussão, levando em conta os achados de hepatimetria (Figura 34). Os valores encontrados para cada paciente variam com sexo, idade e biotipo, contudo, um fígado de tamanho normal será percutido do 4º ao 6º EIC Direito, tendo até 12 cm na linha hemiclavicular, e até 8 cm abaixo apêndice xifoide do osso esterno (localizado na linha média esternal). Figura 34 - Hepatimetria normal. Ao realizar a percussão, podemos nos deparar com a sensação dolorosa provocada pela manobra, sendo característico para um comprometimento hepático. O sinal de Torres- Homem é caracterizado por uma dor intensa ao se percutir o hipocôndrio direito e outras áreas de projeção do fígado. É extremamente indicativo de um abscesso hepático, sendo amebiano ou bacteriano. O sinal de Jobert se refere a perda de macicez à percussão de Hipocôndrio Direito. Em casos de grandes pneumoperitônios, há a presença de hipertimpanismo audível na região hepática, por presença de gás interposto entre o fígado e parede abdominal. ▪ Palpação: Para a palpação do fígado, o paciente deve estar em decúbito dorsal, relaxado e com o tronco desnudo. Os membros inferiores devem estar em extensão, assim como os superiores. Para a palpação hepática, podemos considerar algumas variações da palpação realizada habitualmente. Alguns dos métodos possuem maior efetividade em relação aos outros, então, o examinador deve avaliar a condição clínica do paciente para selecionar o método mais adequado. Deve-se constatar aspectos hepáticos que sejam indicativos de alguma patologia, de acordo com mudanças na organização do órgão(Esquema 1). Assim, temos 4 métodos para realizar esta etapa do exame: 1. Método simples (Figura 35); Com a mão espalmada (uni manual), colocada superficialmente sobre o abdome, próximo ao rebordo costal, estando aproximada de forma paralela a ele. A borda hepática inferior deve ser identificada e explorada lateralmente a borda do músculo reto anterior direito. Os movimentos da mão devem seguir, então, a borda, de forma a identificar o lobo hepático direito, este penetrando sob o rebordo costal. Após este movimento de palpação, o movimento deve continuar até o epigástrio, alcançando o lobo esquerdo (identificado tanto em hepatomegalias quanto em condições fisiológicas normais). Figura 35 - Palpação hepática pelo método simples. 2. Método de Lemos-Torres (Figura 36); Estando à direita do paciente, o examinador utiliza os dedos da mão esquerda para realizar uma pressão no ângulo lombo costal, colocando 13 a mão direita espalmada para palpar o fígado e buscar a borda hepática. Este é um método pouco utilizado para a palpação hepática. Figura 36 - Palpação hepática pelo método de Lemos- Torres. 3. Método de Mathieu-Cardarelli (Figura 37); Neste método, o examinador utilizará as mãos justapostas em garra para fazer a busca da borda hepática inferior. Estando à direita do paciente, o médico iniciará a palpação deste a fossa ilíaca direita, até encontrar a borda inferior do fígado. Deve ser realizada esta busca durante as inspirações profundas do paciente. É mais utilizado em pacientes que apresentem com uma resistência abdominal elevada ou uma grande quantidade de panículo adiposo. Figura 37 - Palpação hepática pelo método de Mathieu- Cardarelli. 4. Método do rechaço hepático (Saccadée); É mais utilizado em pacientes que apresentem quadros de ascite volumosa, explorando-se o fígado por meio de pequenos choques gerados pela mão direita, com os dedos da mão constantemente em contato com a parede do hipocôndrio direito. A técnica se baseia em sentir o retorno do órgão (rechaço) gerado pelo líquido na cavidade abdominal, devido às compressões bruscas. Assemelha-se ao movimento de quicar uma bola de basquete contra o chão de uma quadra de esportes. 14 Esquema 1 - Elementos da análise na palpação do fígado. Elementos de análise do fígado Bordo (espessura) Rombo Agudo Regularidades da superfície Regular (lisa) Irregular Sensibilidade Indolor Dolorosa Consistência Elástica ou normal Firme, dura ou aumentada Diminuída 15 Em casos de superfície irregular do fígado, podemos considerar um caso de fígado cirrótico nodular, levando em conta o histórico do paciente. Quando a consistência deste órgão estiver firme, dura ou aumentada, levamos em conta a história clínica do paciente, considerando possível processo de fibrose, usualmente desencadeado por cirrose alcóolica. Caso a consistência esteja diminuída, em junção com os achados clínicos, considera-se um quadro de hepatite ou esteatose. O sinal de Lenander é pouco usado nos dias de hoje, mas pode ser associado com processos irritativos e inflamatórios de peritônio e pélvicos. Ocorre uma dissociação entre a temperatura axilar e a retal > 1ºC. Sendo constatada essa diferença, o sinal é positivo. b) Propedêutica da vesícula biliar; Devido a posição anatômica da vesícula biliar (Figura 38), encontrando-se na face posterior do fígado, sua inspeção, ausculta e percussão não serão eficazes para a avaliação clínica. Aumentos de volume podem provocar um abaulamento abdominal por efeito de massa na sua sede anatômica. Figura 38 - Posição anatômica da vesícula biliar. Utilizam-se, então, técnicas palpatórias para examinar de forma adequada a vesícula biliar. ▪ Palpação: Os métodos para palpar a vesícula biliar são os mesmos utilizados para a palpação do fígado. Quando esta víscera é palpável, sem processos inflamatórios, apresenta-se como uma saliência arredondada de superfície lisa e consistência elástica. • Manobra de Murphy: Em casos de processos inflamatórios agudos e crônicos com agudização, podemos realizar este método diagnóstico. Coloca-se a mão sob o rebordo costal direito, na localização do ponto cístico, de forma paralela e contígua à borda externa do m. reto anterior para realizar esta manobra. Figura 39 - Localização do ponto cístico para a Manobra de Murphy. O ponto cístico situa-se no ângulo formado pelo rebordo costal direito com a borda externa do músculo reto abdominal, na interseção da linha hemiclavicular com o rebordo costal direito (Figura 39). As extremidades dos dedos deprimem com energia a parede abdominal, orientando a pressão para cima, em direção à sede da vesícula. 16 Então, solicita-se que o paciente faça uma inspiração profunda, durante a qual a vesícula inflamada descerá impelida pelo diafragma, provocando uma sensação de dor aguda, levando o paciente a sustentar a respiração. Havendo esta resposta, consideramos que o Sinal de Murphy para colecistite aguda é positivo (Figura 40). Figura 40 - Manobra de Murphy. c) Propedêutica do baço; Em casos fisiologicamente normais, o baço costuma não ser palpável. Ele possui um formato semelhante ao rim, com um tamanho reduzido e, em doenças que cursem com esplenomegalia, podem se tornar palpáveis (Figura 41). Figura 41 - Diferença entre um baço normal e um baço aumentado (esplenomegalia). A inspeção e ausculta não são bastante utilizadas para o exame físico deste órgão, mas a palpação e, em alguns casos, a percussão, possuem uma maior aplicabilidade clínica. Para variações de tamanho nas esplenomegalias, utilizamos a classificação de Boyd (Tabela 1). Tabela 1 - Classificação de Boyd. Classificação de Boyd Tipo 1 Baço palpável sem ultrapassar o rebordo costal Tipo 2 Entre o rebordo costal e a linha transverso umbilical Tipo 3 Na mesma direção da linha transverso umbilical Tipo 4 Além da linha transverso umbilical ▪ Palpação: Para realizar a palpação adequada do baço, devemos nos ater a 3 métodos, sendo eles adequados para a identificação adequada de alterações da víscera. Deve-se ter em mente sempre que a história clínica do paciente deve ser levada em conta para os validar os achados semiológicos. 1. Método de Mathieu-Cardarelli (Figura 42): A posição em decúbito lateral direito deve ser adotada pelo paciente para melhor execução da técnica. Semelhante à palpação do fígado, o método deve ser repetido, alterando-se o que for necessário para realização da palpação do lado esquerdo do paciente. Estando à esquerda do paciente, o examinador irá, com as mãos justapostas em forma de garra, palpar desde a fossa ilíaca esquerda até o hipocôndrio esquerdo, a parede abdominal do paciente, tentando localizar o baço. Os movimentos de busca devem ser realizados durantes os intervalos de inspiração profunda. 17 Figura 42 - Palpação do baço pelo método de Mathieu- Cardarelli. 2. Método na posição intermediária de Schuster; Coloca-se o paciente em um semi-decúbito lateral, com o tronco voltado para frente e os membros inferiores rotacionados de forma contrária, expondo a área de palpação do baço. O paciente deve estar posicionado em decúbito lateral direito com o membro inferior esquerdo fletido a 90° e o joelho serve como ponto de apoio sobre a mesa do exame, garantindo equilíbrio ao paciente. Esta forma de palpação, usualmente, é aplicada para pacientes que apresentem um baço pequeno ou difícil de ser palpado. Figura 43 - Paciente na posição diagonal de Schuster. 3. Método de Lemos-Torres (Figura 44); Estando à direita do paciente, o examinador utilizaos dedos da mão esquerda para realizar uma pressão no ângulo lombo costal, colocando a mão direita espalmada para palpar o baço e alterações de tamanho deste órgão. Este método é semelhante ao realizado para a palpação do fígado. Figura 44 - Palpação do baço pelo método de Lemos- Torres. ▪ Percussão: Para ser realizada, deve-se colocar o paciente em decúbito dorsal ou lateral direito, estando o médico examinador à direita do paciente. A percussão é feita a partir do 6º EIC Esquerdo até alcançar o 11º EIC, seguindo o eixo longitudinal das linhas axilares anterior, média e posterior (Figura 45). Figura 45 - Zonas indicativas para percussão do baço. d) Propedêutica da ascite; Alguns critérios de avaliação, como a tonicidade muscular, a posição do paciente e o volume de líquido intraperitoneal vão ser dependentes para o exame físico. Assim, ao avaliarmos o paciente que apresente uma ascite, devemos colocá-lo em posição de decúbito dorsal para um melhor seguimento do exame físico. ▪ Inspeção: Para inspecionar um paciente que apresente uma ascite volumosa, devemos observar se há presença de lesões, circulação colateral visível e os demais critérios de inspeção do exame físico. 18 Figura 46 - Abdome ascítico. ▪ Palpação: Em casos de ascite de moderado e grande volume, podemos utilizar com maior propriedade as manobras de percussão. Estando o paciente em decúbito dorsal, o examinador irá colocar uma das mãos espalmadas no flanco (tanto esquerdo, quanto direito), e com o dedo médio, aplicar pequenos golpes (piparotes) no flanco contralateral à mão espalmada. Estes golpes irão produzir uma vibração no volume de líquido, que será transmitido ao outro lado em casos de ascite. Esta manobra nos indica um sinal, denominado de sinal do piparote (Figura 47). Para evitar que ocorra transmissão da vibração pela própria parede abdominal, coloca-se um anteparo no sentido vertical na linha mediana do ventre, podendo ser a mão de um assistente (estando a mão apoiada com a borda cubital na parede abdominal). Esta manobra tende a funcionar em volumes ascíticos superiores a 3 L. Figura 47 - Sinal do Piparote. ▪ Percussão: Em casos de ascite de menor volume, a percussão se encaixa como o melhor método propedêutico para diagnóstico. Utilizando-a, podemos detectar pequenos volumes intraperitoneais, com o paciente em repouso em decúbito dorsal. O líquido se deposita nos flancos e o som ouvido será sub maciço ou maciço. Em casos de macicez móvel (Figura 48), devemos realizar uma pesquisa do volume intra-abdominal. Assim, utilizamos o semicírculo de Skoda (Figura 49) para essa avaliação de moderados ou grandes volumes de líquido. A partir do apêndice xifoide, traçamos 5 linhas de percussão, para avaliar o momento em que o som passa de timpânico para maciço. Figura 48 - Pesquisa de macicez móvel. 19 Figura 49 - Pesquisa de ascite pelo semicírculo de Skoda. ▪ Manobras apendiculares; Existem diversas técnicas de semiologia, visando realizar uma avaliação mais adequada do paciente e os problemas que este venha a apresentar. Assim, algumas outras manobras de avaliação abdominal podem ser utilizadas buscando sinais de irritabilidade peritoneal. Nesses casos, a palpação superficial pode se demonstrar extremamente dolorosa. Como exemplo, ao realizar uma palpação abdominal que conste uma alteração no tônus muscular, estando extremamente rígido, conhecido como abdome em tábua, revela uma alteração inflamatória considerável no peritônio. A dor é ocasionada pelo estiramento súbito do peritônio parietal inflamado. 1. Manobra de Blumberg: Com a extremidade da mão, primeiro se localiza o ponto de McBurney (Figura 50). Também chamado de ponto apendicular. É traçado uma linha que liga a cicatriz umbilical com a espinha ilíaca anterossuperior. Divide-se esta linha em 3 partes, sendo o ponto referido o local que corresponde ao encontro do terço médio com o terço distal da linha. Após a localização, realiza-se uma depressão progressiva, de forma firme e enérgica na região. Em seguida, retira-se a mesma mão realizando a compressão, de forma brusca, equivalente à força de resistência implicada pela parede abdominal. Estando inflamada a serosa peritoneal, a resposta é uma dor de extrema intensidade. A apendicite é predominante em jovens adultos (19-44 anos) e no sexo masculino. Decorrente principalmente de obstrução da comunicação entre ceco e apêndice vermiforme por fecalitos, na maioria dos casos. A obstrução também ocorre por hiperplasia linfoide e tumores. O quadro clínico são dores difusas e periumbilicais no início do quadro, com progressão para dor aguda intensa em Fossa Ilíaca Direita. É a principal causa de abdome agudo cirúrgico (apendicectomia). Em algumas situações, pode ser presente, também, o sinal de Lapinsky, que diz respeito à dor em Fossa Ilíaca Direita quando realizada a palpação profunda (compressão) em ponto de McBurney com o membro inferior hiperestendido e elevado (> 70º). É presente em casos de apendicite retrocecal. Figura 50 - Localização do ponto de McBurney. 20 Figura 51 - Manobra de Blumberg. O sinal do psoas também pode ser indicativo de uma apêndice, pela irritação causada ao músculo psoas pelo processo inflamatório. Posiciona-se o paciente em decúbito lateral esquerdo e o examinador deverá realizar uma hiperextensão passiva do membro inferior direito (ou uma flexão ativa com resistência) (Figura 52). Em caso de dor a hiperextensão passiva ou flexão ativa, o sinal é positivo. Figura 52 - Manobra do psoas. O sinal do obturador (Figura 53) é um sinal médico indicador de irritação do músculo obturador interno. É um dos sinais que pode ser observado em casos de apendicite aguda. Para realizá-lo, com o paciente em decúbito dorsal, faz-se a flexão passiva da perna sobre a coxa e da coxa sobre a pelve, então procede-se com uma rotação interna da coxa. Tem maior sensibilidade nas apendicites com posição retrocecal, aderido ao músculo obturador. Dá-se positivo quando se refere dor no hipogástrio. Figura 53 - Manobra do obturador. 2. Manobra de Rovsing A manobra (Figura 54) em si consiste em gerar uma força em sentido contrário ao peristaltismo do intestino delgado e grosso (movimentos antiperistálticos). Dessa forma, ao impor esta rotina de movimentos durante o exame, os gases presentes no lúmen do cólon seguirão em sentido retrógrado. Assim, ao provocar esta movimentação, o gás exercerá pressão na base do cólon ascendente, em região de ceco e acarretando sensação dolorosa no apêndice vermiforme inflamado. As mãos executaram compressão vigorosa e contínua, em sentido ascendente no cólon descendente. Figura 54 - Manobra de Rovsing. Durante a manobra de Rovsing, podemos nos deparar com o sinal de Gersuny. Este sinal é indicativo de pacientes que apresentem fecaloma presente no intestino grosso. Neste caso, 21 crepitações que ocorrem ao descomprimir o abdome podem ser percebidas, sendo o deslocamento da mucosa aderida à superfície do fecaloma. Deve ser investigado em pacientes constipados a bastante tempo. Em casos de uso da imagem radiológica, podemos nos deparar com o sinal de Chilaiditi, (Figura 55) em que é um termo radiográfico usado quando o cólon, intestino delgado ou estômago são vistos interpostos entre o fígado e o diafragma direito. Geralmente é visto em radiografias de tórax, com a alça colônica contendo gás, abaixo do diafragma. Costuma ser assintomático e se constitui em um achado radiológico raro (0,025% dos exames). Figura 55 - Sinal de Chilaiditi e) Propedêutica renal; Os rins (Figura 56) encontram-se alojados nas lojas renais,conectados pelo hilo renal à aorta abdominal, realizando a filtragem do sangue. Em condições normais, a inspeção destes órgãos é normal, não sendo vísceras delimitáveis pela percussão dígito-digital. Figura 56 - Localização anatômica do rim. A propedêutica dos rins oferece resultados inespecíficos para doenças de comprometimento renal, sendo necessários ao bom clínico a coleta adequada da história clínica e, por vezes, os exames complementares. A palpação oferece melhores insights para a abordagem de doenças do rim. ▪ Palpação; 1. Método de Devoto (Lemos-Torre); É realizado com o paciente em decúbito dorsal. O examinador deverá estar sentado no leito, junto ao paciente, de maneira que esteja adjacente ao órgão a ser palpado. Colocando a mão contralateral à posição do rim no ângulo lombo costal (mão esquerda no rim direito, por exemplo), irá exercer uma pressão da região posterior para a anterior. A outra mão, espalmada sobre o abdome, abaixo do rebordo costal, procura sentir e pinçar o polo inferior do órgão, de acordo com as inspirações do paciente (Figura 57). Figura 57 - Palpação do rim pelo método de Devoto. 22 2. Método de Israel; Para este método de palpação (Figura 58), o paciente deve estar em decúbito lateral, oposto ao rim que será palpado. A coxa do membro inferior correspondente ao lado que será palpado deve repousar, estando fletida, sobre a bacia e o outro membro deverá ficar em extensão. O examinador, então, deverá colocar uma das mãos sobre o ângulo lombo costal, realizando uma pressão em sentido a parte anterior do corpo do paciente. Com a outra mão espalmada sobre o abdome, logo abaixo do rebordo costal, realizará movimentos de pinça no rim para identificar alterações, durante as expirações. Figura 58 - Palpação do rim pelo método de Israel. 3. Punho-percussão de Murphy e percussão de Giordano; Neste tipo de percussão, realiza-se o golpeio na zona de proteção renal com o punho fechado (Figura 59) ou com a borda cubital da mão (Figura 60). O paciente permanece sentado ou em ortostase, com uma leve inclinação anterior e deve ser observada a fácies apresentada pelo paciente durante a percussão. A posição do examinador varia de acordo com a mão que ele irá usar para a técnica, sendo destro, ficará à esquerda dos pacientes, realizando a palpação bilateralmente. Esta semiotécnica irá apresentar resposta em casos de pielonefrite, cólica renal e, em alguns casos, colecistite aguda. Figura 59 - Punho-percussão de Murphy. Figura 60 - Percussão de Giordano. O sinal de Giordano difere da percussão de Giordano quanto a diagnóstico em exame físico. Aquele refere-se à semiotécnica aplicada em casos suspeitos de doenças renais, enquanto este é o sinal visualizado tanto pela percussão de Giordano quanto pela punho-percussão de Murphy. O Sinal de Giordano é pesquisado durante o exame físico através de uma manobra como Giordano. Se a manobra evidenciar sinal de dor aguda, em pontada, no paciente, o sinal de Giordano é positivo, o que indica grande probabilidade doença renal (litíase e pielonefrite aguda). Elaborado por: Nivin Said; Danillo Porfírio.
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