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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Ciência da Computação
AccessIT - Uma aplicação para o mapeamento de
recursos de acessibilidade da UnB
Livia Soares Jardim
Morgana Dourado de Souza
Monografia apresentada como requisito parcial
para conclusão do Curso de Computação — Licenciatura
Orientador
Prof. a Dr. a Leticia Lopes Leite
Brasília
2017
Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Ciência da Computação
AccessIT - Uma aplicação para o mapeamento de
recursos de acessibilidade da UnB
Livia Soares Jardim
Morgana Dourado de Souza
Monografia apresentada como requisito parcial
para conclusão do Curso de Computação — Licenciatura
Prof. a Dr. a Leticia Lopes Leite (Orientador)
CIC/UnB
Prof. a Dr. a Fernanda Lima Prof. Dr. Jorge Henrique Cabral Fernandes
CIC/UnB CIC/UnB
Prof. Dr. Pedro Antônio Dourado de Rezende
Coordenador do Curso de Computação — Licenciatura
Brasília, 14 de Dezembro de 2017
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais e à minha irmã pelo apoio e paciência que tiveram
comigo durante todos esses anos de UnB. Aos meus amigos que me apoiaram durante o
curso, entenderam as dificuldades e me ajudaram cada um da sua maneira; em especial
para Marcela, amiga para todos os momentos, Fernando, que me entendeu e me deu total
apoio em todas as vezes que precisei durante a confecção deste trabalho, Danilo, que fez
com que eu não desistisse de tudo uns anos atrás e Caio, pelas horas na sala de estudos
realizando pesquisas. Dedico também, aos meus colegas de trabalho, que me ajudaram a
resolver problemas e me motivaram a persistir para alcançar o resultado final. E a todos
que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.
Lívia Soares Jardim
Dedico a conclusão dessa etapa especialmente em memória da minha amada mãe Marileide
Dourado, inspiração e fortaleza nos dias em que me faltava coragem pra seguir. A minha
avó Maria Oliveira, a minha tia Mariluce Dourado e ao meu irmão Lázaro Dourado. A
Ariela Vieira, a Daniele Mariano e a Tainan Guanais por estarem sempre presentes, nos
momentos alegres ou difíceis vividos ao longo desses anos; a Yuri D’Lauan e a Fernanda
Nascimento pela compreensão e empatia na caminhada acadêmica; a Flávio Serafim e
a Yan Costa pela gentileza, pelos bons momentos e pela amizade; a Renata Pessoa e a
Tamiris Almeida pelos excelentes momentos vividos e por preservarem a nossa amizade
além da Universidade; a Natália Maia pelo incentivo, companheirismo e empatia durante
a fase inicial do TCC; a Pollyana Soares e a Sara Karine pelos momentos divertidos
e pelo aprendizado de convivência; a Ada Maria e a Maria Paula por serem presença
de luz em minha vida; a José Augusto, a José das Dores e a José Eduardo por terem
acreditado em mim e me incentivado durante e após o período em que fui colaboradora
na Experimentoteca; aos meus colegas de trabalho por acreditarem em mim, por serem
exemplos de profissionais e terem me encorajado nos momentos finais da minha graduação.
Morgana Dourado de Souza
iii
Agradecimentos
Ao Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais - PPNE (UnB), pelo fornec-
imento de informações relacionadas aos problemas encontrados na UnB; à Secretaria Es-
pecial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, pela disponibilidade e atenção; ao nosso
colega, Evandro que deu total apoio durante o desenvolvimento do AccessIT e à nossa
Orientadora Letícia, pela paciência e ajuda durante todo o processo.
iv
Resumo
Partindo do princípio da universalidade do conhecimento e do fomento à interdisciplinari-
dade apresentados no Estatuto da Universidade de Brasília (UnB), o presente trabalho foi
elaborado e fundamentado em áreas de estudo da Ciência da Computação e da Educação,
tendo como enfoque principal a Acessibilidade. Foram realizadas pesquisas relativas à
deficiência, acessibilidade e tecnologias assistivas envolvendo conceitos, recursos e legis-
lação. A partir de problemas encontrados em múltiplas dependências da Universidade,
tais como inadequações no que diz respeito às recomendações da norma que regulamenta a
Acessibilidade à Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos, esse trabalho
foi estruturado e fundamentado. Como decorrência do estudo, foi desenvolvida a aplicação
AccessIT que tem como objetivo fornecer informações sobre os recursos de acessibilidade
disponíveis na UnB por meio da geolocalização dos pontos. As técnicas utilizadas na
concepção e implementação do AccessIT foram selecionadas a partir da prerrogativa do
desenvolvimento de softwares acessíveis, objetivando minimizar as possíveis dificuldades
de acesso ao conteúdo e, tornando-a uma ferramenta com potencial inclusivo. Para tanto,
são apresentadas as avaliações realizadas ao término do desenvolvimento, as quais foram
executadas por meio da validação do código, verificação de compatibilidade com TAs de
acessibilidade ao computador e usabilidade.
Palavras-chave: Acessibilidade, Tecnologia Assistiva, Mapeamento, Universidade de
Brasília
v
Abstract
Based on the principle of universality of knowledge and the promotion of interdisciplinarity
presented in the Statute of University of Brasilia(UnB), the present work was elaborated
and based on areas of study of Computer Science, Education and accessibility. Research
was conducted on disability, accessibility and assistive technology involving concepts, re-
sources and legislation. This work was structured and based on problems found in multiple
dependencies of the University, such as inadequacies with respect to the recommendations
of the norm that regulates the Accessibility to Buildings, Furnishings, Spaces and Urban
Equipment. As a result of the study, the AccessIT application was developed to provide
information about the accessibility features available at UnB through geolocation of the
points, their description and their correspondence with each category belonging to the
People With Disabilities. The techniques used in the design and implementation of Ac-
cessIT were selected based on the prerogative of the development of accessible softwares,
in order to minimize the possible difficulties of accessing the content, and making it a tool
with an inclusive potential. To do so, we present the evaluations performed at the end of
the development, which were performed through code validation, verification of compati-
bility with assistive technology of computer accessibility, usability and human-computer
interaction.
Keywords: Acessibility, Assistive Technology, Mapping, University of Brasilia
vi
Sumário
1 Introdução 1
1.1 Cidadania para a Educação Inclusiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 As Diferenças no Contexto Educacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.5 Identificação do Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.6 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.7 Organização do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2 Deficiência, Acessibilidade e Tecnologia Assistiva 7
2.1 Deficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.1 Definição e Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.1.2 Tipos de Deficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.1 Dimensão Conceitual e Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.2 Tipos de Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 Tecnologias Assistivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3.1 Tipos de Tecnologias Assistivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3.2 Instituições de Apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . 18
2.3.3 Relação entre Deficiência e Tecnologias Assistivas . . . . . . . . . . . . 18
2.4 Acessibilidade em Instituições de Ensino Superior . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4.1 Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE/UnB) 21
2.4.2 Análise de Acessibilidade do ICC Baseada na NBR 9050 . . . . . . . . 23
2.4.3 Acessibilidade e Tecnologias Assistivas na UnB . . . . . . . . . . . . . 24
3 Inclusão Social por Meio da Acessibilidade Digital 26
3.1 Inclusão Social e Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.2 Ferramentas Acessíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.3 Recomendações de Acessibilidade para Softwares . . . . . . . . . . . . . . . 30
vii
3.4 Avaliador de Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4 AccessIT - Projetando a Aplicação 34
4.1 Levantamento de Requisitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.2 Análise de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.3 Diagrama de Classes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.4 Protótipo de Baixa Fidelidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
5 AccessIT - Desenvolvendo a Aplicação 42
5.1 Recursos Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
5.1.1 Hypertext Prepocessor (PHP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
5.1.2 O Sistema Gerenciador de Banco de Dados . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1.3 API MapBox . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1.4 Adequações para a Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.2 Apresentação do AccessIT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.2.1 Tela Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
5.2.2 Tela Mapa - Perfil de Visitante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.2.3 Tela Mapa - Perfil de Usuário Cadastrado . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5.2.4 Tela Busca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5.2.5 Tela Reportar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.2.6 Tela Visualizar Registros de Reports . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5.2.7 Tela Sobre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
6 AccessIT - Avaliando a Aplicação 55
6.1 Teste de Compatibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6.2 Teste de Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6.3 Teste de Usabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.3.1 Técnicas Prospectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.3.2 Técnicas Objetivas ou Empíricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7 Conclusão 67
Referências 69
Apêndice 76
A AccessIT - Questionário 77
B AccessIT - Roteiro de Testes 82
viii
C AccessIT - Checklist de Usabilidade 91
ix
Lista de Figuras
2.1 Auxílios para Vida Diária e Prática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 PCS - Símbolos de Comunicação Pictórica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Símbolos Bliss. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4 Recursos de Acessibilidade ao Computador. . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.5 Projetos Arquitetônicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.6 Órteses e Próteses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.7 Adequação Postural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.8 Auxílio de Mobilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.9 Recursos para Cegos ou com Visão Subnormal . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.10 Adaptações em Veículos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.11 Cartilha Do Censo 2010 - Pessoas com Deficiência. . . . . . . . . . . . . . . 19
2.12 Variação do número de alunos com NEs cadastrados na UnB no período
de 1999 a 2011. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.13 Cadastros no PPNE por campus, Nível e Deficiência ou Necessidade Espe-
cial em Dezembro de 2016. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1 Pilares de uma Política Pública de Inclusão Digital. . . . . . . . . . . . . . 28
3.2 Resumo dos Documentos de Acessibilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.1 História de Usuário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.2 História de Usuário Cadastrado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.3 História de Usuário Administrador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.4 Diagrama de Classes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.5 Protótipo NecessIT - Primeira Ideia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4.6 Protótipo AccessIT - Home. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.7 Protótipo Tela Mapa - Perfil Visitante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.8 Protótipo Tela Login. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.9 Protótipo Tela Reportar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.10 Protótipo Tela Sobre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
x
5.1 ASP.NET vs. PHP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
5.2 A Guide to Choose Maps API for your On-Demand App. . . . . . . . . . . 45
5.3 Qual leitor de tela para computador você mais utiliza?. . . . . . . . . . . . 46
5.4 Tela inicial - (a) Acesso ao Mapa (b) Realizar Login. . . . . . . . . . . . . 48
5.5 Tela Mapa - Perfil Visitante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.6 Tela Mapa - Perfil Visitante - Recursos disponíveis. . . . . . . . . . . . . . 49
5.7 Tela Mapa - Perfil de Usuário Cadastrado Cadastrado. . . . . . . . . . . . 51
5.8 Tela Busca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.9 Tela Reportar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5.10 Tela Registros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.11 Tela Sobre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
6.1 VLibras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.2 Primeira Avaliação - DaSilva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.3 Última Avaliação - DaSilva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
6.4 Percentual de PcDs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
6.5 Facilidade de uso do Sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.6 Leitura da tela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
6.7 Apresentação dos links. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.8 Organização das informações disponíveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
6.9 Tempo de resposta do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
6.10 Feedback dos participantes em relação ao sistema. . . . . . . . . . . . . . . 61
6.11 Etapas na montagem de um ensaio de interação. . . . . . . . . . . . . . . . 63
xi
Lista de Tabelas
2.1 Relação entre Categorias de Deficiências e Tecnologias Assistivas. . . . . . . 20
xii
Lista de Abreviaturas e Siglas
BAES Bloco de Sala de Aula Eudoro de Sousa.
BCE Biblioteca Central da UnB.
BSAN Bloco de Sala de Aula Norte.
BSAS Bloco de Sala de Aula Sul.
CAT Comitê de Ajudas Técnicas.
e-MAG Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico.
EaD Educação à Distância.
FENAPESTALOZZI Federação Nacional das Associações Pestalozzi.
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
ICC Instituto Central de Ciências.
IHC Interação Humano-Computador.
ITS Instituto de Tecnologia Social.
JAWS Job Access With Speech.
NVDA NonVisual Desktop Access.
ONG Organização Não-Governamental.
PcD Pessoa com Deficiência.
PcDsPessoas com Deficiência.
PHP Hypertext Prepocessor.
xii
PNEs Portadores de Necessidades Especiais.
PPNE Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais.
QUIS Questionaire for User Interaction Satisfaction.
SGBD Sistema Gerenciador de Banco de Dados.
SISP Administração dos Recursos de Informação e Informática.
TA Tecnologia Assistiva.
TAs Tecnologias Assistivas.
TICs Tecnologias da Informação e Comunicação.
UnB Universidade de Brasília.
W3C World Wide Web.
WCAG Web Content Accessibility Guidelines.
xiii
Capítulo 1
Introdução
Inspirado no Estatuto da Universidade de Brasília (UnB) [1], onde um de seus princí-
pios promove a "universalidade do conhecimento e fomento à interdisciplinaridade", este
trabalho tem como fundamentação as áreas de estudo da Ciência da Computação e da
Educação, tendo como enfoque principal a Acessibilidade.
Com base na legislação nacional [2] e internacional [3], o tema da inclusão vem sendo
abordado na escolas, universidades, órgãos públicos e demais áreas da sociedade. Desse
modo, os conceitos de acessibilidade passaram a ser incorporados e estão cada vez mais
presentes no cotidiano dos cidadãos, especialmente em ambientes que possuem maior
circulação de indivíduos e entre eles Pessoas com Deficiência (PcDs). Como exemplo,
é possível destacar o sistema educacional, que em sua concepção, já inclui os princípios
acessibilidade, tais como acessibilidade arquitetônica e comunicacional [4].
De acordo com a Constituição Federal de 1988 [5]:
“ A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Segundo Raposo [6], o sentido do direito à educação na ordem constitucional de 1988
está intimamente ligado ao reconhecimento da dignidade da pessoa humana como funda-
mento da República Federativa do Brasil e está relacionado à busca do ideal de igualdade.
A educação vai além do saber, ela serve de estímulo para que as pessoas tenham um
pensamento crítico, permitindo o desenvolvimento da sociedade no que diz respeito à
política, à democracia, à economia e, novamente, para a igualdade social, fornecendo uma
base para uma sociedade em evolução.
1
1.1 Cidadania para a Educação Inclusiva
Quando o assunto é educação é fundamental salientar a sua importância para a sociedade
e o seu valor para a construção da cidadania. É importante considerar que os conceitos
e definições de educação e cidadania não são imutáveis e variaram ao longo dos anos de
acordo com o período histórico. Os diferentes momentos da história mundial indicam
que é possível rever conceitos inicialmente enraizados na cultura de um povo, permitindo
compreender a constante mudança de um mundo em evolução [7].
Um indivíduo para ser considerado cidadão deve possuir direitos e deveres e é súdito
e soberano [8] [5], ou seja, deve cumprir com os seus deveres da mesma forma em que
seus direitos devem ser atendidos. Essa abordagem está presente na Carta de Direitos da
ONU [9], que propõe que todos os homens são iguais perante a lei, independente de raça,
cor ou religião; que possuem o direito de ter uma vida digna. Cabe ao indivíduo cumprir
com seus deveres, que por sua vez incluem: respeitar as leis, cumprir seu papel para com
a sociedade, pressionar o governo para que cumpram com o que lhe foi prometido [9] [8].
A cidadania consiste em direitos e deveres do cidadão para uma boa convivência em
sociedade, onde um respeita e trata o outro como igual. Tal aprendizado ocorre tanto em
casa quanto na escola, ambos se complementam e fazem com que o indivíduo aprenda a
conviver em família e em comunidade [10].
A escola é um locus fundamental de educação para a cidadania, de uma impor-
tância cívica fundamental, não como uma «antecâmara para a vida em sociedade»
mas constituindo o primeiro degrau de uma caminhada que a família e a comunidade
enquadram ([10, p.111, 2007] apud [11, p.41, 1992])
De acordo com Delors [12], os quatro pilares da educação são: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Segundo Vasconcelos [10] estes
pilares são um quadro de referência importante quando se fala da construção de novas
cidadanias na infância.
A educação funciona como base para a formação de um cidadão, e com o intuito de
se cumprir com a Constituição, foi implantada a Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional (LDBN) No9294/96[13] em 1996, onde, no Capítulo V, trata-se da educação
especial:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade
de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para edu-
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação.
Baseada na LDBN, a educação especial funciona como educação inclusiva, que, se-
gundo a Declaração de Salamanca [3], tem como principal proposta uma escola onde
2
todos os alunos aprendem juntos, independentemente de dificuldades ou diferenças, uma
escola que deve atender às necessidades dos alunos, adaptando o ritmo e a forma de
aprendizagem, garantindo uma educação igualitária e de qualidade.
Considerando a educação especial e a educação inclusiva, podemos dizer que a primeira
seria uma escola regular que oferece em seus serviços um atendimento exclusivo, separado
da turma, para alunos com deficiências; e a educação inclusiva seria uma escola que
percebe que os alunos são diferentes e assim, adapta o método de ensino para que todos
aprendam em conjunto [14].
1.2 As Diferenças no Contexto Educacional
O ambiente educacional é composto de sujeitos que possuem características heterogêneas.
Segundo Silva [15], a identidade simplesmente existe e é considerada como algo positivo,
que faz parte do indivíduo representando aquilo que ele é. Por exemplo, em uma interação
entre seres humanos, a afirmação “sou brasileiro” é necessária porque existem pessoas que
não são brasileiras, seguindo essa linha, a afirmação “sou humano” torna-se dispensável.
Em consonância com o que é proposto por Silva [15], é perceptível que a identidade e a
diferença possuem uma relação de estreita dependência, pois o que compõe a identidade
de um indivíduo e o distingue dos outros são as diferenças.
O preconceito ainda é presente na sociedade sobretudo nas escolas, por mais que
há muito tempo uma batalha em busca da igualdade seja travada [16]. Por conta do
preconceito ainda presente no cotidiano, uma PcD pode ser vista como inferior em relação
a uma pessoa que não possui uma deficiência, por ser diferente do que é considerado
normal [14]. Entretanto, de acordo com o artigo primeiro da Lei 13.146, de 6 julho de
2015[2], é responsabilidade do Estado assegurar que uma pessoa com deficiência tenha em
condições de igualdade o exercício dos direitos e liberdades fundamentais. De acordo com
o Art. 2o desta Lei [2], uma pessoa com deficiência é considerada aquela que: "[...] tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.".
Diante do surgimento da legislação que apoia a Pessoa com Deficiência no seu cotidi-
ano, sancionou-se o Decreto No7.611, em 17 de novembro de 2011 [17], que dispõe sobre
a educação especial e o atendimento educacional especializado, com a finalidade de que a
educação funcione de forma acessível e inclusiva. No §4 do Art. 5o temos:
A produção e a distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade e apren-
dizagem incluem materiais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua
Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz, softwares para
3
comunicação alternativa e outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao cur-
rículo.
Com o objetivo de cumprir com a determinação citada, são implantadas as tecnologias
assistivaspara o auxílio do aprendizado. Tecnologia Assistiva (TA) pode ser considerada
como um conjunto de instrumentos, métodos e técnicas que têm por objetivo auxiliar o
processo de inclusão social, baseado no conceito proposto pelo Comitê de Ajudas Técnicas
(CAT), conforme registrado em ATA VII – Reunião do Comitê de Ajudas Técnicas [18].
A partir da ideia apresentada, do direito à educação, da educação inclusiva e de tecno-
logias assistivas, o ambiente educacional deve ser acessível para todos, sem dificuldades.
Contudo, nem todos os lugares estão totalmente adaptados às Pessoas com Deficiência.
Sendo assim, a presente proposta, o AccessIT, apoia a independência e o planejamento
da PcD no ambiente educacional, por meio da apresentação de uma aplicação que ma-
peia os espaços da Universidade de Brasília, indicando o tipo de recurso de acessibilidade
disponível como, por exemplo, elevador, piso tátil, rampas. De posse destas informações,
o usuário do sistema pode identificar as características do local, viabilizando um melhor
atendimento às PcDs.
1.3 Objetivo Geral
Apoiar a independência de Pessoas com Deficiência por meio do desenvolvimento de um
mecanismo que dê suporte à mobilidade do estudante em relação à acessibilidade da
Universidade de Brasília (UnB).
1.4 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos são:
• apresentar os principais conceitos que envolvem a temática da acessibilidade;
• apresentar a importância da acessibilidade no contexto dos processos de ensino e de
aprendizagem;
• investigar, em parceria com o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades
Especiais (PPNE/UnB), as dificuldades de acesso de PcDs no campus da UnB;
• fazer um levantamento dos componentes que podem promover a acessibilidade em
sistemas computacionais;
• desenvolver um protótipo de sistema que apresente o mapeamento de requisitos de
acessibilidade física;
4
• realizar a avaliação da aplicação desenvolvida, a fim de identificar possíveis manu-
tenções a serem realizadas.
1.5 Identificação do Problema
No que diz respeito ao que é recomendado na Norma que regulamenta a Acessibilidade
a Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos [19], existem espaços inade-
quados nas dependências da Universidade de Brasília [20]:
• dificuldade de acesso aos prédios: ao longo dos últimos semestres foram construídos
prédios novos no campus Darcy Ribeiro porém, apesar da maioria deles possuírem
acessibilidade adequada, as imediações não foram modificadas de forma apropriada.
Prédios como o Bloco de Sala de Aula Eudoro de Sousa (BAES), Bloco de Sala de
Aula Norte (BSAN) e Bloco de Sala de Aula Sul (BSAS) não possuem estaciona-
mento asfaltado, estes são de terra ou brita, o que dificulta o acesso para todos os
usuários, principalmente em dias de chuva [21].
• prédios com baixa acessibilidade: os prédios mais antigos da UnB deixam a desejar
quanto à acessibilidade, pois em sua concepção essa questão não foi considerada.
Diante disso, identificam-se tentativas de adaptação dos locais, que nem sempre são
efetivas, tornando necessária muitas vezes a mudança de sala de aula [21].
1.6 Justificativa
Este trabalho apresenta uma proposta de apoio à comunidade universitária, a partir do
desenvolvimento de uma aplicação que mapeia os espaços da UnB e indica os recursos
de acessibilidade disponíveis nestes locais. A dificuldade de acesso aos prédios em um
ambiente de ensino, implica em um obstáculo para tornar a universidade um espaço de
educação inclusiva, fazendo com que seus frequentadores possam enfrentar dificuldades
quando estiverem em um destes locais. A presente proposta encoraja a autonomia da
PcD, subsidia o planejamento quando este desejar se deslocar a algum lugar do Campus
e viabiliza a organização de atividades nos espaços da Universidade, considerando as
características de seus usuários.
5
1.7 Organização do Trabalho
O capítulo dois aborda o referencial teórico relativo à acessibilidade: ao conceito, ao
histórico, as leis, aos tipos de acessibilidade existentes e uma breve análise quanto ao
atendimento de requisitos de acessibilidade na UnB.
O capítulo três relaciona e ilustra a inclusão social por meio da da acessibilidade
digital.
O capitulo quatro é composto pelo processo de idealização da aplicação, incluindo as-
pectos da engenharia de software, como as historias de usuário, analise de riscos, diagrama
de classes e protótipo de baixa fidelidade.
O capítulo cinco expõe o processo de desenvolvimento do AccessIT, incluindo recursos
utilizados para a implementação da aplicação, recursos de acessibilidade compatíveis e o
resultado final obtido, explicando cada uma das telas e suas funcionalidades.
O capítulo seis apresenta as técnicas utilizadas para a avaliação e realização dos testes
do AccessIT, e os resultados obtidos com cada uma delas.
E, por fim, no capítulo sete, é apresentada a conclusão e as perspectivas de trabalhos
futuros.
6
Capítulo 2
Deficiência, Acessibilidade e
Tecnologia Assistiva
Neste capítulo serão abordados conceitos, definições, tipos e legislações relacionadas à
deficiência, acessibilidade e Tecnologias Assistivas.
2.1 Deficiência
O termo deficiência é utilizado em muitos contextos no cotidiano, porém, existem Decretos
e Leis com o objetivo de fornecer um definição sólida e que sirva de base para garantia dos
direitos das pessoas que se encaixarem em uma ou mais categorias. Na seção 2.1.1 será
apresentado o conceito a partir do Decreto 3298 e na seção 2.1.2 de forma mais detalhada
as características de cada categoria de deficiência.
2.1.1 Definição e Histórico
O conceito de deficiência de acordo com o Decreto 3298 [22] é descrito como: "toda
perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica
que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado
normal para o ser humano". Para efeito do Decreto, são dadas também as definições de
deficiência permanente e incapacidade, por meio das quais se busca atingir uma definição
mais abrangente acerca do tema. Segundo o Decreto 3298, para ser considerado portador
de deficiência, o indivíduo deve se enquadrar em pelo menos umas das seguintes categorias:
deficiência física, deficiência visual, deficiência auditiva, deficiência mental e deficiência
múltipla.
7
2.1.2 Tipos de Deficiência
O artigo 3o do Decreto 3298 [22] considera:
I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psi-
cológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;
II - deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de
que se altere, apesar de novos tratamentos; e
III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração
social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais
para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações
necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser
exercida.
E categoriza as deficiências em:
• Deficiência Física: é definida como parcial ou completa em um ou mais segmentos
do corpo humano. Apresenta-se na forma de "paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemipare-
sia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, mem-
bros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as
que não produzam dificuldades para o desempenho de funções."
• Deficiência Auditiva: é definida como "Perda bilateral, parcial ou total, de qua-
renta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ,
1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz;"
• Deficiência Visual: é dividida em casos, sendo dois deles a cegueira e a baixa
visão que são definidos como: "na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05
no melhor olho, coma melhor correção óptica"e "que significa acuidade visual entre
0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica", respectivamente. Pode
ser considerada também quando existir ocorrências em que a soma do campo visual
dos olhos for igual ou inferior a 60 graus.
• Deficiência Mental: é definida como sendo o funcionamento intelectual significati-
vamente abaixo da média que tenha se apresentado antes do dezoito anos e que esteja
ligado a comprometimentos em duas ou mais áreas das habilidades adaptativas, tais
como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da
comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho.
• Deficiência Múltipla: é a associação de duas ou mais deficiências.
8
Por muito tempo tratou-se a deficiência como um problema individual. Desse modo,
a pessoa com deficiência deveria adaptar-se ao meio em que vivia e não o contrário.
Contudo, a partir do fortalecimento do conceito de acessibilidade e de legislações que
garantem o direito à integração da pessoa com deficiência, passou-se a buscar um modelo
mais inclusivo por meio do qual a sociedade acolheria as diferenças e buscaria promover os
princípios do desenho universal, contemplando não apenas a Pessoa com Deficiência, mas
todo o cidadão independente de sua condição, provendo-lhe acesso aos serviços coletivos
de saúde, educação, trabalho, autonomia para realização de suas tarefas, locomoção,
segurança etc.
2.2 Acessibilidade
Nessa seção serão apresentados conceitos de acessibilidade e seis dimensões por meio das
quais Sassaki [4] defende ser possível construir ou compor um ambiente acessível. O tema
acessibilidade na UnB será abordado a partir da apresentação do Programa de Apoio
às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) na seção 2.4.1 e da acessibilidade arqui-
tetônica do campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília na seção 2.4.2 com base
nas determinações da Norma Brasileira ABNT NBR 9050 - Acessibilidade a Edificações,
Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos [20], encerrando na seção 2.4.3.
2.2.1 Dimensão Conceitual e Histórica
Segundo Tavares, Rodriguez e Alves [23], a acessibilidade é conceituada pela Lei 10.098,
como sendo a possibilidade e a condição de alcance para a utilização, com segurança e
autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos trans-
portes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou
com mobilidade reduzida. Refere-se a dois aspectos, que embora tenham características
distintas, estão sujeitos a problemas semelhantes no que diz respeito à existência de bar-
reiras que são interpostas às pessoas com necessidades especiais: o espaço físico e o espaço
digital.
Segundo Aurélio [24] acessibilidade é:
[Do lat. tard. accessibilitate] S. f. 1. Qualidade de acessível. 2. Facilidade na
aproximação, no trato ou na obtenção. 3. Educ. Condição de acesso aos serviços de
informação, documentação e comunicação, por parte do portador de necessidades
especiais (q.v). [Termo da educação especial.]
Já para efeito da ABNT NBR 9050 [19] se caracteriza o termo como:
9
Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com
segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações,
transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem
como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de
uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou
mobilidade reduzida.
Para entender o termo acessibilidade é necessário também, definir a palavra acessível
que, segundo Aurélio[24], significa:
[Do lat. tard. accessibile] Adj. 2g. 1. A que se pode chegar; de acesso fácil:
porto acessível a todo tipo de embarcação. 2. Que se pode alcançar, obter ou
possuir: livros bons e acessíveis. 3. Inteligível, compreensível: É um filme acessível
a qualquer público. 4. Tratável, comunicativo: É pessoa muito acessível e simpática.
5. Módico, moderado, razoável: preços acessíveis.
De modo semelhante, temos a definição de acessível para efeitos da ABNT NBR 9050
[19]: “Espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e
comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias ou elemento que possa ser alcançado,
acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa.”
O termo acessibilidade é amplamente utilizado por se tratar da inserção das pessoas
que possuem algum tipo de necessidade especial, de modo seguro e proporcionando au-
tonomia para realizar suas atividades na sociedade. O conceito ganhou importância e
visibilidade com a criação de leis e normas que estabelecem indicações para a concepção
de novos espaços, meios de transporte e tecnologias; ou ainda para a adaptação dos já
existentes.
Mesmo com a evolução do conceito de acessibilidade é comum que para muitas pessoas
o termo retome apenas a ideia de transpor as barreiras de acesso físico. Entretanto,
Sassaki[4] subdivide a acessibilidade em dimensões, apresentadas na próxima seção, que
possibilitam uma compreensão mais abrangente de seu significado.
2.2.2 Tipos de Acessibilidade
Para Sassaki [4, p. 10], a acessibilidade pode ser dividida em seis dimensões: atitudinal,
arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental e programática.
• Acessibilidade Atitudinal: eliminação de preconceitos, estigmas, estereótipos e
discriminações. Deve ocorrer em todos os âmbitos da sociedade.
• Acessibilidade Arquitetônica: eliminação de impedimentos estruturais e físicos
que dificultem o acesso a locais públicos e privados por parte de qualquer indivíduo
10
que possua alguma necessidade especial, seja por motivo de deficiência ou de qual-
quer outra condição. As medidas são indicadas para espaços de lazer, trabalho e
educação.
Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade,
públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos
os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência
ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios,
ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários. [25]
Conforme Decreto no5296 [25], tanto a concepção quanto a implementação de pro-
jetos arquitetônicos e urbanísticos devem seguir o conceito de desenho universal e
ter como referências básicas as normas técnicas de acessibilidade da ABNT [19]:
Todos os espaços, edificações, mobiliários e equipamentos urbanos que vi-
erem a ser projetados, construídos, montados ou implantados, bem como as
reformas e ampliações de edificações e equipamentos urbanos, devem atender
ao disposto nesta Norma para serem considerados acessíveis. [...] As edifica-
ções residenciais multifamiliares, condomínios e conjuntos habitacionais devem
ser acessíveis em suas áreas de uso comum, sendo facultativa a aplicação do
disposto nesta Norma em edificações unifamiliares. As unidades autônomas
acessíveis devem ser localizadas em rota acessível.
• Acessibilidade Comunicacional: eliminação dos impedimentos ou fatores que
dificultem a comunicação e o acesso à informação. Adequação das sinalizações,
formação em língua de sinais, comunicação escrita, Braille, tecnologias assistivas,
são exemplos de iniciativas que promovem este tipo de acessibilidade. O parágrafo
segundo do artigo 12 da Resolução CNE/CEB [26] estabelece que:
Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam difi-
culdades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a
acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e
códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a língua de sinais, sem prejuízo do
aprendizado da língua portuguesa, facultando-lhes e às suas famílias a opção
4 pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais
especializados em cada caso.
• Acessibilidade Metodológica: eliminação de métodos que não contemplem as
necessidades especiais de cada indivíduo.Ocorre desde a formação do discente até
a garantia de que indivíduo tenha acesso a uma metodologia inclusiva.
• Acessibilidade Instrumental: eliminação de impedimentos que possam estar pre-
sentes nos equipamentos, ferramentas e outros dispositivos no campo do lazer, do
trabalho e da educação.
11
• Acessibilidade Programática: eliminação dos impedimentos que podem ser en-
contrados em decretos, leis, regulamentos, normas, políticas públicas, etc.
No contexto da acessibilidade é comum se falar em Tecnologias Assistivas, que com-
põem uma variedade de produtos, serviços, metodologias, estratégias e práticas que as-
sociadas a uma ou mais categorias de deficiências e consequentemente a necessidade de
desenvolvimento de recursos de acessibilidade que possam promover a independência, a
qualidade de vida e a inclusão social deste grupo de pessoas.
2.3 Tecnologias Assistivas
Bersch [27] separa as tecnologias assistivas em dois grupos: recursos e serviços. Os recur-
sos podem ser: equipamentos, produtos, ou sistemas feitos com o objetivo de "aumentar,
manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência". Já os serviços
são aqueles de auxílio direto ao deficiente, que tem como objetivo tornar possível que o
individuo selecione, compre ou use os recursos. Os recursos são bastante variados, entre
eles objetos de uso diário como: bengalas, brinquedos, roupas, objetos domésticos; mas
também engloba artefatos mais complexos, como softwares e hardwares especiais, dispo-
sitivos que auxiliam na mobilidade, na postura, na comunicação e na visão do indivíduo
também são considerados recursos [28].
Tecnologia Assistiva é a forma encontrada para que pessoas com deficiência ou neces-
sidades especiais possam viver em sociedade sem sofrer prejuízos por possuírem alguma
característica especial. Além da definição já citada, feita pelo CAT, é possível definir as
TAs como "uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas
e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiências"[29].
De acordo com Radabaugh [30], "Para as pessoas sem deficiências a tecnologia torna as
coisas mais fáceis. Para pessoas com deficiências, a tecnologia torna as coisas possíveis".
Essa afirmação comprova a importância da tecnologia na vida das pessoas, evidenciando
que através da tecnologia é possível tornar atividades rotineiras possíveis para pessoas
que possuem algum tipo de deficiência.
2.3.1 Tipos de Tecnologias Assistivas
Foi criada por Bersch [27] a categorização de Tecnologias Assistivas que promove a or-
ganização e auxílio de políticas públicas, a organização de serviços e a identificação de
adequada de qual Tecnologia Assistiva é adequada para cada indivíduo.
• Auxílios para a vida diária: os itens de auxílio para tarefas diárias, como por
exemplo: comer, tomar banho e limpar a casa (Figura 2.1).
12
Figura 2.1: Auxílios para Vida Diária e Prática (Fonte: [31]).
• Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) / Comunicação Suple-
mentar e Alternativa (CSA): a CAA e CSA são apresentados na forma de recur-
sos, sejam eles eletrônicos ou não, que auxiliam a comunicação expressiva e receptiva
de pessoas sem fala ou com dificuldade. Exemplos deste recurso são as pranchas de
comunicação que utilizam símbolos PCS - Picture Communication Symbols (dese-
nhos com ações e coisas) (Figura 2.2) e Bliss (símbolos mais simples, geométricos,
com significados) (Figura 2.3) e alguns softwares com este propósito.
Figura 2.2: PCS - Símbolos de Comunicação Pictórica (Fonte: [31]).
• Recursos de acessibilidade ao computador: os computadores devem estar
equipados com softwares especiais, hardwares (teclado e mouse) adaptados e equi-
pamentos de entrada e saída (síntese de voz e Braille), para permitir que pessoas
com deficiência utilizem o computador. Alguns exemplos podem ser vistos na Fi-
13
Figura 2.3: Símbolos Bliss (Fonte: [32]).
gura 2.4, onde (a) Teclado com colmeia de acrílico (b) Teclado com adesivo de letras
grandes (c) Mouse comum adaptado com velcro (d) Teclados programáveis.
Figura 2.4: Recursos de Acessibilidade ao Computador (Fonte: [33]).
14
• Sistemas de controle de ambiente: os softwares que permitem que o indiví-
duo controle remotamente a iluminação, som, aparelhos eletrônicos através de um
smartphone, por exemplo.
• Projetos arquitetônicos para acessibilidade: os recursos relacionados à estru-
tura de um ambiente para que não tenham ou reduzam as barreiras físicas existentes
para a pessoa com deficiência. Adaptação ou criação de um lugar com rampas de
acesso, elevadores, banheiros adaptados, piso tátil entre outros. Na Figura 2.5, (a)
Vaso sanitário com barras de apoio (b) Cadeira elevatória (c) Rampa de acesso.
Figura 2.5: Projetos Arquitetônicos (Fonte: [31]).
• Órteses e próteses: os membros artificiais ou recursos ortopédicos (bengalas, ta-
las, etc.) que tem como objetivo suprir ou melhorar a mobilidade do indivíduo.
Nesta categoria também está incluso gravadores de fita magnética, que funcionam
como lembretes instantâneos para pessoas que possuem limitações cognitivas (Fi-
gura 2.6).
• Adequação postural: o conforto e a devida distribuição da pressão na superfície da
pele através de assentos e encostos anatômicos, almofadas especiais, posicionadores
e contentores que auxiliam na estabilidade e postura adequada através do suporte
e posicionamento de tronco/cabeça/membros (Figura 2.7).
• Auxílios de mobilidade: as "Cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases
móveis, andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veículo utilizado na melhoria
da mobilidade pessoal."(Figura 2.8).
• Auxílios para cegos ou com visão subnormal: os auxílios voltados para um
grupo específico, que possuem alguma alteração no sentido visão, incluindo lupas,
15
Figura 2.6: Órteses e Próteses (Fonte: [31]).
Figura 2.7: Adequação Postural (Fonte: [31]).
lentes, Braille, sintetizadores de voz, telas grandes, etc. Na Figura 2.9, (a) Lupas
de aumento (b) Máquina de Braille (c) Recurso pedagógico - Caixa de vocabulário
• Auxílios para surdos ou com déficit auditivo: os auxílios voltados para um
grupo específico, que possuem alteração no sentido audição, incluindo equipamentos
de infravermelho, aparelhos para surdez, telefones com teclados especiais — teletipo
(TTY), sistemas com alerta táctil-visual, etc.
• Adaptações em veículos: são os "acessórios e adaptações que possibilitam a
condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e
outros veículos automotores usados no transporte pessoal."(Figura 2.10).
16
Figura 2.8: Auxílio de Mobilidade (Fonte: [31]).
Figura 2.9: Recursos para Cegos ou com Visão Subnormal (Fonte: [34]).
Figura 2.10: Adaptações em Veículos (Fonte: [31]).
17
2.3.2 Instituições de Apoio
No Brasil, existem instituições de apoio à PcDs. Cada instituição possui a sua proposta
específica, mas o objetivo geral delas é fornecer suporte para as pessoas com deficiência
e seus familiares [35] [36]. As instituições podem ser sem fins lucrativos ou privadas,
algumas que promovem a inclusão social e no mercado de trabalho são:
• APAE-DF: é uma Organização Não-Governamental (ONG), sem fins lucrativos que
atende pessoas a partir de catorze anos, com deficiência intelectual, que pode ou
não estar associada a outras deficiências. Tal atendimento tem como foco projetos
educacionais e profissionalizantes, cuja intenção é de inserir e de acompanhar o
deficiente no trabalho e proporcionar apoio e segurança para o indivíduo [37].
• Pestalozzi: o movimento Pestalozziano acontece desde 1926 [38], através das As-
sociações Pestalozzi existentes no país, ele defende os direitos e assistência social à
pessoa com deficiência. A Federação Nacional das Associações Pestalozzi (FENA-
PESTALOZZI) foi fundada na década de 60 e é composta por Associações Pestalozzi,
Federações Estaduais e Associações Análogas [39].
• Assistiva: está localizada no Rio Grande do Sul, tem como proposta a inclusão de
pessoas com deficiênciana educação, no trabalho, no lazer, na cultura e na sociedade.
Oferece serviços de formação, assessoria e pesquisa, de te tecnologia assistiva e de
atendimento educacional especializado [28].
O AccessIT, que será apresentado com detalhes no Capítulo 5, tem como proposta
similar às instituições de apoio, que é promover a independência e inclusão do deficiente,
no meio educacional.
2.3.3 Relação entre Deficiência e Tecnologias Assistivas
Segundo o Censo Demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), cerca de 45.606.048 dos brasileiros se enquadram em pelo menos uma
categoria de deficiência, correspondendo a 23,9% da população total do país (Figura 2.11).
Diante do número de Pessoas com Deficiência no Brasil, nota-se também uma maior
variedade de tecnologias que objetivam apoiar e auxiliar no desenvolvimento de tarefas
cotidianas. Atividades que antes eram inviáveis por falta de acessibilidade passaram a ser
desempenhadas com o suporte das TAs.
Instituto de Tecnologia Social (ITS) fundado em 2001 tem como um de seus objetivos:
“promover a geração, o desenvolvimento e o aproveitamento de tecnologias voltadas para
o interesse social, além de reunir as condições de mobilização do conhecimento, a fim
18
Figura 2.11: Cartilha Do Censo 2010 - Pessoas com Deficiência (Fonte: [40]).
de que as demandas da população sejam atendidas”[41]. Em 2012 foi realizada pelo
ITS a pesquisa nacional de tecnologia assistiva mostrando as diferentes concepções e
classificações relativas ao tema. As tecnologias pesquisadas são desenvolvidas por setores
de natureza pública municipal, estadual, federal, privada com fins lucrativos e privada
sem fins lucrativos. Esses projetos baseiam-se nos diferentes tipos de deficiência para
desenvolverem as TAs que auxiliam em demandas específicas de pelo menos uma categoria
de deficiência. Sendo assim a relação entre as as tecnologias assistivas e as deficiências
podem ser apresentadas da seguinte maneira (Tabela 2.1):
2.4 Acessibilidade em Instituições de Ensino Supe-
rior
Segundo Duarte e Coehn [42], os Estados Unidos da América foi um dos primeiros países a
criar estratégias para tornar as universidades mais acessíveis, especialmente com relação a
barreiras arquitetônicas. Estudantes da Universidade da Califórnia que possuíam alguma
deficiência conseguiram convencer a prefeitura a construir as "primeiras guias rebaixadas
do mundo, usando como plataforma de lançamento o programa universitário para alunos
com deficiência"; durante a revolução estudantil dos anos 60 o mesmo grupo de estudantes
criou o serviço de atendentes pessoais com a intenção de lhes possibilitar maior autonomia
na realização de suas atividades e essa iniciativa deu origem ao movimento de direitos dos
deficientes [43]. Com a ampliação e a popularização de tais estratégias, várias universida-
des em diversos países passaram a adotar programas que têm como objetivo atender as
necessidades educacionais específicas de diferentes grupos da população.
19
Tabela 2.1: Relação entre Categorias de Deficiências e Tecnologias Assistivas.
Categorias de Deficiência Tecnologias assistivas associadas
Deficiência Física Teclados virtuais
Simuladores de mouse
Software para comunicação alternativa
Preditores de texto
Deficiência Auditiva Próteses auditivas
Implante coclear
Vocalizadores
Língua brasileira de sinais
Deficiência Visual Leitores de telas
Ampliadores de telas
Display braille
Bengalas
Impressora braille
Deficiência Intelectual Softwares educacionais de apoio ao ensino
Deficiência Múltipla Equipamentos de auxílio para a visão e audição
Software misto
De modo semelhante ao que ocorreu nas universidades americanas, é possível iden-
tificar no Brasil iniciativas para intensificação da acessibilidade dos espaços físicos no
ambiente acadêmico. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está entre as pio-
neiras no assunto acessibilidade com a criação do Grupo de Pesquisa sobre Acessibilidade
no Brasil [20]. A Universidade de São Paulo (USP), por meio do programa USP Legal e
da Comissão Permanente para assuntos relacionados às pessoas com deficiência, busca le-
vantar informações sobre as barreiras existentes e elaboração de propostas de intervenção
para compor o plano diretor de acessibilidade da Universidade [42]. Na Universidade Es-
tadual de Campinas (UNICAMP), foi realizada a iniciativa de criação Espaços de Acesso
à Informação e também de um Laboratório de Apoio Didático da Biblioteca Central que
visa a integração e o acesso ao acervo bibliográfico da Universidade Estadual de Cam-
pinas por parte de pessoas que possuem necessidades especiais. Em algumas salas da
biblioteca, por exemplo, é possível encontrar impressoras de Braille, mouse eletrônico e
softwares [42].
Seguindo a tendência presente em outras universidades brasileiras, em 1999, foi criado
na UnB, o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE), vinculado
à Vice-Reitoria da Universidade. Posteriormente, em 2014, o Programa passou a ser
administrado pelo Decanato de Assuntos Comunitários [44].
20
2.4.1 Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especi-
ais (PPNE/UnB)
O PPNE tem como objetivo o acompanhamento e a atenção ao estudante para que o
mesmo esteja inserido de maneira efetiva na convivência e experiência acadêmica, pos-
sibilitando a sua permanência no ensino superior [44]. O público-alvo do programa são
os membros da comunidade acadêmica que possuem algum tipo de deficiência sensorial,
física, intelectual, dislexia, transtornos globais do desenvolvimento, transtorno de déficit
de atenção e hiperatividade [44]; entretanto, o programa também atende pessoas com
necessidades especiais, como por exemplo uma deficiência física temporária. Uma das
responsabilidades do PPNE é fazer o levantamento da quantidade de alunos cadastrados
no programa. Em 2014 Costa [45] publicou um gráfico, conforme ilustrado na Figura 2.12
onde foi apresentado o número de alunos cadastrados no período de 1999 a 2011.
Figura 2.12: Variação do número de alunos com NEs cadastrados na UnB no período de
1999 a 2011 (Fonte: [45]).
Segundo PPNE-UnB [46] em dezembro de 2016 o Programa registrou um número
total de 215 PNEs cadastrados nos quatro campi da Universidade. Desse total, 178 são
alunos de Graduação e 4 de Pós-Graduação do campus Darcy Ribeiro, o que representa
aproximadamente 85% do total dos estudantes registrados em sua base de dados, conforme
apresentado na Figura 2.13. A adesão ao Programa é realizada de forma voluntária,
cabendo ao estudante decidir cadastrar-se ou não.
Programa conseguiu, ao longo dos anos e em parceria com a prefeitura do campus,
departamentos, institutos e faculdades, alcançar melhorias para os Portadores de Ne-
21
Figura 2.13: Cadastros no PPNE por campus, Nível e Deficiência ou Necessidade Especial
em Dezembro de 2016 (Fonte: [46]).
cessidades Especiais. As melhorias podem ser, por exemplo, de caráter arquitetônico,
relacionado à otimização de processos para alocação de espaços.
De acordo com as informações fornecidas pelo PPNE, o programa desenvolve os se-
guintes projetos e atividades [44]:
• Acompanhamento acadêmico: objetiva o acompanhamento da vida acadêmica
dos estudantes registrados no PPNE para que seja possível estabelecer estratégias
e realizar adequações para atender as necessidades dos estudantes. Essas ações são
estabelecidas em conjunto com os professores.
• Interação com Institutos e Faculdades: objetiva estabelecer comunicação com
os coordenadores de curso, professores e servidores. Por meio dessa interação será
realizado diálogo sobre as necessidades do estudante cadastrado no Programa, pos-
sibilitando que as devidas adequações ocorram.
• Interação com a Prefeitura do campus: pretende assegurar a acessibilidade
dos projetos de infraestrutura do Campi e diminuir as barreiras arquitetônicas que
possam existir no planejamento de construções ou modificações nos espaços já exis-
tentes.
• Parceria com o Laboratório de Apoio ao DeficienteVisual (LDV): busca-se,
por meio dessa parceria, possibilitar o acesso à materiais e equipamento adaptados
para pessoas com deficiência visual. O laboratório está localizado na Faculdade
22
de Educação e nele são realizadas impressões ampliadas ou em Braille. Também é
viabilizada a utilização de ferramentas e recursos instalados em computadores como,
por exemplo, gravação de áudio e outros instrumentos de acessibilidade.
• Parceria com a Biblioteca Digital e Sonora (BDS): planeja-se por meio desta
parceria tornar mais democrático o acesso à educação, à informação e à cultura, por
meio da utilização de recursos tecnológicos. Este é um projeto da Biblioteca Central
da UnB (BCE).
• Transporte no campus: trata-se de um veículo que é disponibilizado para o
estudante com dificuldade de locomoção. O estudante precisa estar cadastrado para
utilizar o serviço e deve fazer o agendamento com antecedência.
• Realização de cursos e palestras para a comunidade interna e externa.
Após a sua criação, o PPNE conseguiu mediar e alcançar avanços no que diz respeito
à infraestrutura, à comunicação e ao acesso à informação. No entanto, um dos principais
aspectos observados é a redução das barreiras arquitetônicas, tanto na construção de
novos espaços urbanos, quanto na modificação dos já existentes [20]. Tal atuação foi
possibilitada pela parceria estabelecida em conjunto com a prefeitura do campus e sua
equipe técnica. Dentre os instrumentos empregados para a padronização dos espaços
da Universidade está o uso da norma externa NBR 9050 [19] criada com o objetivo de
estabelecer critérios e parâmetros a serem observados para a garantia de acessibilidade.
2.4.2 Análise de Acessibilidade do ICC Baseada na NBR 9050
A NBR 9050 - Acessibilidade a Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos
tem como objetivo estabelecer critérios e parâmetros técnicos que devem ser observados
quando se trata da criação de projeto, construção, instalação e adaptação de edificações,
mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. A Norma
busca contemplar o maior número de pessoas para que elas possam utilizar os ambientes
de modo autônomo e seguro. Todo espaço que seja projetado, construído, montado,
implantado, reformado ou modificado devem atender os itens presentes na NBR 9050
para ser considerado acessível [19].
Embora a UnB tenha alcançado avanços significativos, ainda é possível notar com base
nas determinações da NBR 9050 que diversas dependências do campus ainda encontram-se
em desacordo com o que é proposto.
Segundo Negreiros [20], foi possível identificar inconformidades em vários ambientes da
UnB. Destacam-se as presentes do Instituto Central de Ciências (ICC): as lojas de cópia e
impressão que possuem balcões muito altos e os anfiteatros que, embora possuam largura
23
das portas em acordo com a NBR 9050, não disponibilizam em seu interior rampas de
acesso ou espaços reservados para cadeiras de rodas. 1 "Para passar de uma ala para outra,
no térreo, há aproximadamente 21 corredores de acesso, mas que apresentam degraus de
aproximadamente 22 cm, bueiros destampados e alguns vasos de plantas e bancos."[20]
Conforme informado pela coordenação do PPNE-UnB [21], a Universidade vem se
adequando às Normas à medida que realiza reformas nos espaços já construídos como,
por exemplo, a implantação do primeiro elevador no ICC. De modo semelhante, a parce-
ria estabelecida com a prefeitura possibilita que as construções mais recentes recebam a
visita de algum membro do PPNE com o objetivo de avaliar as instalações com base nas
recomendações presentes na NBR 9050. Modificações também já foram realizadas por
meio de solicitação enviada pelo Programa à Prefeitura. Outra demanda existente é rela-
cionada à aquisição e aderência da utilização de Tecnologias Assistivas nas dependências
do campus.
2.4.3 Acessibilidade e Tecnologias Assistivas na UnB
O Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da UnB faz um vínculo
entre o estudante e algumas tecnologias assistivas que a universidade dispõe, como por
exemplo o Laboratório de Apoio ao Deficiente Visual (LDV), que já foi apresentado na
seção 2.4.1. Quando o estudante percebe a necessidade de um atendimento diferenciado,
ou de um equipamento específico, pode contar com o apoio do PPNE para tentar resolver
o problema, contudo, é encontrado barreiras burocráticas no processo [21].
A computação possui papel importante para o desenvolvimento de Tecnologias As-
sistivas, tanto na produção de softwares quanto nos processos pedagógicos envolvendo a
informática. Para o deficiente auditivo e/ou visual, o que tem auxiliado muito no processo
de ensino e aprendizagem são os softwares acessíveis, que abre inúmeras possibilidades
para os deficientes. No caso do deficiente físico, a Educação à Distância (EaD) é ou-
tra solução fornecida pela computação, para o estudante que possui baixa mobilidade e
dificuldade para chegar no ambiente físico [21].
Em relação a acessibilidade física, a Universidade encontra dificuldades ao realizar al-
guma adaptação, pois a documentação de plantas dos prédios antigos não é de fácil acesso
e os processos burocráticos fazem com que essa adaptação demore mais que o necessário
[21], e assim acaba com que seja necessário uma terceira pessoa sempre auxiliando para
que seja possível o acesso nos locais desejados.
Os prédios novos do Darcy Ribeiro, estão sendo construídos de acordo com as normas
de acessibilidade, porém, os arredores não são acessíveis. Os prédios possuem piso tátil,
1http://bdm.unb.br/handle/10483/5594
24
http://bdm.unb.br/handle/10483/5594
rampas, elevadores, mas não possui calçadas, o estacionamento é irregular, ou brita,
tornando-o assim inacessível [21].
A proposta da aplicação é apoiar a independência de Pessoas com Deficiência dando
suporte à mobilidade do estudante em relação à acessibilidade da Universidade de Brasília
(UnB).
25
Capítulo 3
Inclusão Social por Meio da
Acessibilidade Digital
Retomando o que foi abordado na seção 1.1 relativo à cidadania, Martini [47] defende
que a promoção da cidadania é uma iniciativa fundamental para incrementar a educação
brasileira, preservar a cultura, iniciar a requalificação profissional e, por consequência, a
construção da cidadania digital e ativa.
Baseado na ideia de cidadania apresentada anteriormente, identificamos o conceito de
cidadania digital como o uso da tecnologia de forma responsável por parte do cidadão e
assim como a cidadania, que já foi abordada, é um direito e dever de todos [48]. Contudo,
o país ainda encontra-se em uma situação de desigualdade social visível, de acordo com
Martini [47] e é de responsabilidade do governo dar a oportunidade de incluir a população
dos benefícios do mundo digital e consolidar os direitos à cidadania.
Afim de promover a inclusão digital o governo criou ao longo dos anos propostas e
projetos com essa finalidade [49]. Algumas das propostas criadas são: disponibilização
do acesso à internet, implantação de telecentros e capacitação da comunidade para a uti-
lização de tecnologias [50]. Nesse contexto, o modelo proposto para a implantação das
políticas públicas era dividido em três pilares: alfabetização (competência em informá-
tica), infraestrutura e conteúdo adequado [49].
Considerando o movimento de inclusão digital e o histórico apresentado em relação à
acessibilidade, tecnologias assistivas e deficiência, pode-se inferir que parte do processo
da inclusão digital ainda é falho, pois a infraestrutura instalada nos telecentros é com-
posta por tecnologia antiga, muitas vezes doada por pessoas ou instituições, que não dão
condições de acesso adequado aos seus usuários, além disso, outro fator que dificulta a
inclusão digital é que muitos softwares e websites são desenvolvidos sem levar em conta a
acessibilidade digital.
26
A principal proposta da Lei 13.146 para as Pessoas com Deficiência é a inclusão social,
que por sua vez é assegurada no Art. 1o, que garante "assegurar e a promover, emcondições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa
com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania"[2]. Todavia, mesmo sendo um
direito do cidadão, enfrenta algumas barreiras pois a sociedade ainda está em fase de
adaptação para se tornar inclusiva por inteira [50].
A promoção da inclusão social de PcDs se daria com maior facilidade se os softwares e
aplicações utilizassem as recomendações de acessibilidade como a ISO 9241 e e-MAG, que
serão abordadas na seção 3.2. Dessa forma, seria contemplada além da inclusão social, a
inclusão digital da Pessoa com Deficiência.
3.1 Inclusão Social e Digital
As Tecnologias Assistivas possibilitam romper barreiras, entretanto diversas Pessoas com
Deficiência ainda são excluídas ou discriminadas em seu cotidiano. Conforme Maciel [51],
a exclusão social é um processo antigo, que acontece desde os primórdios da estrutura das
sociedades e que fazem com que o ser humano preste mais atenção às aparências externas
do que aos possíveis potenciais do indivíduo.
Diante desta realidade, ações de pais e educadores promovem a inclusão de PcDs em
escolas, com a intenção de recuperar o respeito humano e a dignidade, possibilitando o
desenvolvimento igualitário entre todos os indivíduos. Além de ações locais realizadas,
alguns movimentos nacionais e internacionais apresentam propostas de uma política de
educação inclusiva, como por exemplo a declaração de Salamanca [51].
No Brasil, definiu-se três pilares para a implantação do modelo de funcionamento da
política pública de inclusão digital efetiva (Figura 3.1):
De acordo com o documento de Políticas Públicas de Inclusão Digital, disponibilizado
pelo TCU [49], o primeiro pilar seria "alfabetização do indivíduo para o uso das TIC", o
segundo seria "infraestrutura que garanta a disponibilidade de acesso"e o terceiro "con-
teúdo adequado às necessidades dos usuários". Também de acordo com este documento,
os desafios que podem ser encontradas pelo cidadão excluído devem ser uma preocupa-
ção dos gestores para que as ações voltadas para o atendimento desses indivíduos seja
realizada de forma adequada. Baseado no documento de Políticas Públicas de Inclusão
Digital [49], os desafios consistem em:
• Acesso: refere-se “à capacidade de realmente ir on-line e conectar-se à internet,
estando relacionado a diversos fatores, como política de preços, condições de renda
da população e limitações da infraestrutura”.
27
Figura 3.1: Pilares de uma Política Pública de Inclusão Digital (Fonte: [49]).
• Habilidades: refere-se “a aspectos de formação e competência dos indivíduos, mas
que ultrapassa a simples capacitação específica para utilização das TIC, abrangendo
questões como o nível de instrução da população, que afeta sua capacidade de usar
as Tecnologias de Informação e Comunicação”.
• Motivação: refere-se “às dimensões da alfabetização e conteúdo, este desafio refere-
se à motivação do indivíduo em querer utilizar as TIC, ou seja, ter conhecimento das
vantagens e da potencialidade dessas novas tecnologias para o seu desenvolvimento
pessoal”.
• Confiança: refere-se “a aspectos da segurança da informação, como, por exemplo,
o receio do indivíduo de ter seus dados e informações violados, indo até questões
psicológicas, como o receio do erro, não saber por onde começar ou sua incapacidade
individual”.
A inclusão é um processo que ocorre na sociedade para atender as necessidades dos
indivíduos e grupos sociais buscando minimizar ou eliminar as desvantagens existentes
[52]. Com a popularização e a expansão da internet, surgiram também novas formas de
28
interação social e econômica. Segundo o TCU [49], de modo simultâneo, as mudanças
ocorridas provocaram a aparição de um novo grupo de indivíduos excluídos digitalmente.
Conforme apresentado no documento Políticas Públicas de Inclusão Digital [49], a
partir da identificação de grupos excluídos, formulou-se o conceito de inclusão digital que
propõe-se a “garantir que os cidadãos e instituições disponham de meios e capacitação para
acessar, utilizar, produzir e distribuir informações e conhecimento, por meio das TICs,
de forma que possam participar de maneira efetiva e crítica da sociedade da informação”.
Para alcançar um maior número de indivíduos, a compreensão de inclusão digital engloba
também o conceito de acessibilidade digital e garantir que PcDs utilizem autonomamente
as TICs. Diante disso, entidades nacionais e internacionais desenvolveram métricas que
possibilitam a implementação de ambientes majoritariamente acessíveis desde o processo
de concepção [53].
Ao englobar a acessibilidade digital na implementação de Tecnologias da Informação
e Comunicação, os produtores desse tipo de conteúdo propõem-se a criar ferramentas que
atendem aos princípios do desenho universal [25], e portanto tem potencial inclusivo e
igualitário para todos os usuários.
3.2 Ferramentas Acessíveis
Uma ferramenta acessível permite reunir diferentes necessidades diminuindo as barreiras
que poderiam causar impedimento de acesso aos seus usuários. Desse modo, a ferramenta
abrange o princípio do desenho universal e possibilita o acesso igualitário a todos por meio
da busca da construção de um projeto universal [25][27].
As ferramentas digitais trazem consigo possibilidades de maior autonomia e acesso
igualitário e proporcionam mudanças no modo como as pessoas a utilizam, portanto tais
tecnologias tem o poder de incluir ou excluir [54]. Segundo Conforto e Santarosa [54],
se faz necessária uma revolução conceitual para que novas Tecnologias da Informação
e Comunicação (TICs) sejam elementos co-estruturantes para a superação da exclusão,
uma vez que podem fortalecer a inovação que prioriza a construção de uma sociedade
verdadeiramente inclusiva.
Para Torres, Mazzoni e Alves [55], a acessibilidade consiste também na garantia de que
os princípios de acesso à educação, ao trabalho e ao lazer sejam observados e assegurados
da mesma forma no espaço digital.
É comum que a internet seja utilizada como exemplo de espaço digital que deve pro-
mover a acessibilidade, pois reúne aspectos fundamentais das Tecnologias da Informação
e Comunicação. A internet acessível engloba tanto questões associadas à necessidade
29
quanto à preferência daquele que irá utilizá-la [55], sendo assim exige uma flexibilização
da forma como são apresentadas as informações [54] [55].
Por conseguinte, espaço digital acessível significa disponibilizar ao usuário o acesso de
modo autônomo independente das suas características corporais mantendo a integridade
do conteúdo. Para tanto, a apresentação da informação é dada de formas múltiplas que
potencializam as habilidades do usuário que possua limitações, das quais é possível desta-
car: redundância, sistema automático de transcrição de mídias, ajudas técnicas (sistemas
de leitura de tela, sistemas de reconhecimento da fala, simuladores de teclado, etc.) [55].
A flexibilidade das formas de apresentação da informação possibilita que a mesma possa
ser falada, escrita em Braille, impressa ou utilizada por diferentes dispositivos de entrada
- teclado, apontadores, voz [54].
Conforme Torres, Mazzoni e Alves [55] ao analisar a presença da informática em siste-
mas utilizados por Pessoas com Deficiência é possível determinar categorias. No ambiente
da educação, por exemplo, existem sistemas de auxílio na utilização de computadores, no
processo de aprendizagem, na comunicação, entre outros.
Para alguns grupos de indivíduos as ajudas técnicas podem ser em forma de sistema ou
qualquer outro tipo que tenha a função de complemento onde lhes possibilitam desempe-
nhar melhor suas atividades, por outro lado existem usuários que fazem o uso das mesmas
ajudas e são de uso indispensável pois se configuram como sua forma de interação com o
mundo e expressão do seu intelecto[55]. Diante desse contexto, se mostra a necessidade
da implementação de ferramentas acessíveis desde o início do projeto.
3.3 Recomendações de Acessibilidade para Softwa-
res
Existemalguns modelos de acessibilidades que são propostos para que um software seja
considerado acessível, como por exemplo, o e-MAG e a ISO 9241.
Para desenvolvimento de um software que seja considerado acessível é necessário a
investigação de modelos que possibilitem sua formulação de modo adequado. Em sua
dissertação de mestrado sobre acessibilidade no desenvolvimento de software livre, Alves
[53] exemplifica apresentando a ISO 9241-171 e Guias que mostram que diferentes aspectos
precisam ser levados em consideração para que seja possível um software ser concebido de
forma acessível.
A ISO 9241-171 [56] é uma norma abrangente que contempla todas as pessoas com
deficiência e todos os aspectos do design acessível do software, para ser usado em casa,
no trabalho, na educação e em locais públicos. Se destina ao auxílio de desenvolvedores
30
de software fornecendo orientações sobre o projeto de software e tem como finalidade
alcançar o nível mais elevado possível de acessibilidade [53].
Figura 3.2: Resumo dos Documentos de Acessibilidade (Fonte: [53]).
Na Figura 3.2, elaborada por Alves [53], são apresentados diversas guias que servem
de apoio à elaboração e ao desenvolvimento de interfaces acessíveis. Entretanto, é comum
que a maior parte dessas guias estejam voltadas ao desenvolvimento de sites, porém isso
não quer dizer que outros tipos de softwares não necessitam de requisitos de acessibilidade
[57]. Um software pode ser de uso comum e possuir interface acessível como pode também
31
ser um software do tipo TA que promova a acessibilidade por meio da sua utilização. Em
ambos os casos é importante que seja concebido seguindo recomendações ou exigências
associadas ao design acessível de modo a minimizar seu custo com a adição tardia destes
recursos.
Com o objetivo de promover a inclusão social o governo federal buscou iniciativas que
incentivam o uso adequado e coordenado da tecnologia pois compreende que a inclusão
digital é um meio para alcançar a inclusão social. Ao considerar a expansão da internet,
percebe-se que as forma de comunicação e de acesso a informação sofreram uma revolução
na última década. Diante disso, não atentar-se a falta de acessibilidade em sites ocasiona
exclusão de uma parcela significativa da população brasileira.
A partir dessa percepção e tendo em vista suas atribuições, o governo brasileiro propôs
o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (e-MAG) que se compromete a ser um
norteador no desenvolvimento e na adaptação de conteúdos digitais do governo federal e
desse modo, visa garantir que todos os grupos tenha acesso igualitário ao conteúdo eletrô-
nico. As recomendações apresentadas no e-MAG propõem padronizar a implementação
da acessibilidade digital de forma coerente com a necessidade brasileira ao mesmo tempo
em que mantém a conformidade com os padrões internacionais. O e-MAG trata-se de
um versão do documento internacional Web Content Accessibility Guidelines (WCAG):
(Recomendações de Acessibilidade para Conteúdo Web) aplicado ao governo brasileiro,
todavia não exclui qualquer boa prática apresentada no WCAG [58].
3.4 Avaliador de Acessibilidade
O DaSilva é uma ferramenta desenvolvida pela Acessibilidade Brasil em parceria com a
empresa W2B Soluções Internet. Ele é o primeiro avaliador de acessibilidade de sites em
língua portuguesa com base nos princípios de acessibilidade preconizados pelo W3C/WAI
(WCAG 1.0 e WCAG 2.0) e pelo documento e-MAG, possibilitando a análise de todas as
páginas do site e indicando os erros das páginas em discrepância relacionados à acessibi-
lidade. Foi desenvolvido na linguagem Java, um motor baseado num conjunto de regras
semânticas orientadas a objeto, permitindo sua utilização em qualquer plataforma que
suporte Java [59].
No avaliador DaSilva é possível avaliar o código fonte da página web ou o próprio site
através de sua URL e, como resultado da análise, ele apresenta um relatório contendo a
quantidade de erros e/ou avisos e separa as informações em: pontos verificados, ocorrên-
cia(s) e linha(s). . O DaSilva ainda disponibiliza uma avaliação por prioridades (1, 2 e
3), conforme o WCAG 1.0 ou 2.0 e o documento e-MAG. De acordo com o W3C [60] e os
relatórios gerados pelo DaSilva [59], cada item avaliado pode ser descrito como:
32
• Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.0: As Diretrizes de Aces-
sibilidade para Conteúdo Web (WCAG 2.0) abrangem diversas recomendações com
a finalidade de tornar o conteúdo da Web mais acessível. Seguir estas diretrizes irá
tornar o conteúdo acessível a um maior número de pessoas com deficiência, incluindo
cegueira e baixa visão, surdez e baixa audição, dificuldades de aprendizagem, limita-
ções cognitivas, limitações de movimentos, incapacidade de fala, fotossensibilidade
e combinações destas características. O WCAG é um conjunto de recomendações,
os resultados da avaliação segundo ele é dividido em três níveis de prioridade, onde
a maior prioridade é a 1.
– Prioridade 1: Pontos que os criadores de conteúdo Web devem satisfazer
inteiramente. Se não o fizerem, um ou mais grupos de usuários ficarão im-
possibilitados de acessar as informações contidas no documento. A satisfação
desse tipo de pontos é um requisito básico para que determinados grupos pos-
sam acessar documentos disponibilizados na Web.
– Prioridade 2: Pontos que os criadores de conteúdos na Web deveriam sa-
tisfazer. Se não o fizerem, um ou mais grupos de usuários terão dificuldades
em acessar as informações contidas no documento. A satisfação desse tipo de
pontos promoverá a remoção de barreiras significativas ao acesso a documentos
disponibilizados na Web.
– Prioridade 3: Pontos que os criadores de conteúdos na Web podem satisfa-
zer. Se não o fizerem, um ou mais grupos poderão se deparar com algumas
dificuldades em acessar informações contidas nos documentos. A satisfação
deste tipo de pontos irá melhorar o acesso a documentos disponibilizados na
Web.
• e-MAG: O governo brasileiro, comprometido com a inclusão, buscou através da
elaboração do modelo de acessibilidade do governo eletrônico, facilitar o acesso para
todas as pessoas às informações e serviços disponibilizados nos sítios e portais do
governo. Assim, a primeira versão do e-MAG, elaborada pelo Departamento de Go-
verno Eletrônico em parceria com a ONG Acessibilidade Brasil, foi disponibilizada
para consulta pública em 18 de janeiro de 2005, e a versão 2.0 já com as alterações
propostas, em 14 de dezembro do mesmo ano. Em 2007 a Portaria no3, de 7 de maio,
institucionalizou o e-MAG no âmbito do sistema de Sistema de Administração dos
Recursos de Tecnologia da Informação (SISP), tornando sua observância obrigatória
nos sítios e portais do governo brasileiro.
O DaSilva será utilizado para testar a acessibilidade do AccessIT.
33
Capítulo 4
AccessIT - Projetando a Aplicação
O cotidiano das Pessoas com Deficiência é diferenciado, pois demanda eventual planeja-
mento para a realização de tarefas diárias. Convenientemente, pode existir a necessidade
de se verificar os recursos de acessibilidade e Tecnologias Assistivas disponíveis. Entre-
tanto, essa informação nem sempre é de fácil acesso.
Considerando as problemáticas citadas e baseadas nos conceitos de acessibilidade apre-
sentados na seção 2.2, é importante que o ambiente educacional promova e incentive a
inclusão em seu espaço [3][22]. Buscando a promoção e a efetivação desse direito, a apli-
cação AccessIT foi projetada tendo como propósito auxiliar na autonomia e na inclusão
daqueles que frequentam as dependências da Universidade de Brasília.
O AccessIT funciona como um sistema de consulta aos recursos de acessibilidade dis-
poníveis nos prédios da Universidade, de forma a promover a autonomia e facilitar o
deslocamento e utilização destes espaços.
Neste capítulo será apresentado o processo utilizado para a concepção do AccessIT,
baseado em princípios de Engenharia de Software. A apresentação dos conceitos será feita
da seguinte forma: requisitos, análise de riscos, diagrama de classes

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