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Universidade de Brasília Instituto de Ciências Exatas Departamento de Ciência da Computação AccessIT - Uma aplicação para o mapeamento de recursos de acessibilidade da UnB Livia Soares Jardim Morgana Dourado de Souza Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Computação — Licenciatura Orientador Prof. a Dr. a Leticia Lopes Leite Brasília 2017 Universidade de Brasília Instituto de Ciências Exatas Departamento de Ciência da Computação AccessIT - Uma aplicação para o mapeamento de recursos de acessibilidade da UnB Livia Soares Jardim Morgana Dourado de Souza Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Computação — Licenciatura Prof. a Dr. a Leticia Lopes Leite (Orientador) CIC/UnB Prof. a Dr. a Fernanda Lima Prof. Dr. Jorge Henrique Cabral Fernandes CIC/UnB CIC/UnB Prof. Dr. Pedro Antônio Dourado de Rezende Coordenador do Curso de Computação — Licenciatura Brasília, 14 de Dezembro de 2017 Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais e à minha irmã pelo apoio e paciência que tiveram comigo durante todos esses anos de UnB. Aos meus amigos que me apoiaram durante o curso, entenderam as dificuldades e me ajudaram cada um da sua maneira; em especial para Marcela, amiga para todos os momentos, Fernando, que me entendeu e me deu total apoio em todas as vezes que precisei durante a confecção deste trabalho, Danilo, que fez com que eu não desistisse de tudo uns anos atrás e Caio, pelas horas na sala de estudos realizando pesquisas. Dedico também, aos meus colegas de trabalho, que me ajudaram a resolver problemas e me motivaram a persistir para alcançar o resultado final. E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação. Lívia Soares Jardim Dedico a conclusão dessa etapa especialmente em memória da minha amada mãe Marileide Dourado, inspiração e fortaleza nos dias em que me faltava coragem pra seguir. A minha avó Maria Oliveira, a minha tia Mariluce Dourado e ao meu irmão Lázaro Dourado. A Ariela Vieira, a Daniele Mariano e a Tainan Guanais por estarem sempre presentes, nos momentos alegres ou difíceis vividos ao longo desses anos; a Yuri D’Lauan e a Fernanda Nascimento pela compreensão e empatia na caminhada acadêmica; a Flávio Serafim e a Yan Costa pela gentileza, pelos bons momentos e pela amizade; a Renata Pessoa e a Tamiris Almeida pelos excelentes momentos vividos e por preservarem a nossa amizade além da Universidade; a Natália Maia pelo incentivo, companheirismo e empatia durante a fase inicial do TCC; a Pollyana Soares e a Sara Karine pelos momentos divertidos e pelo aprendizado de convivência; a Ada Maria e a Maria Paula por serem presença de luz em minha vida; a José Augusto, a José das Dores e a José Eduardo por terem acreditado em mim e me incentivado durante e após o período em que fui colaboradora na Experimentoteca; aos meus colegas de trabalho por acreditarem em mim, por serem exemplos de profissionais e terem me encorajado nos momentos finais da minha graduação. Morgana Dourado de Souza iii Agradecimentos Ao Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais - PPNE (UnB), pelo fornec- imento de informações relacionadas aos problemas encontrados na UnB; à Secretaria Es- pecial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, pela disponibilidade e atenção; ao nosso colega, Evandro que deu total apoio durante o desenvolvimento do AccessIT e à nossa Orientadora Letícia, pela paciência e ajuda durante todo o processo. iv Resumo Partindo do princípio da universalidade do conhecimento e do fomento à interdisciplinari- dade apresentados no Estatuto da Universidade de Brasília (UnB), o presente trabalho foi elaborado e fundamentado em áreas de estudo da Ciência da Computação e da Educação, tendo como enfoque principal a Acessibilidade. Foram realizadas pesquisas relativas à deficiência, acessibilidade e tecnologias assistivas envolvendo conceitos, recursos e legis- lação. A partir de problemas encontrados em múltiplas dependências da Universidade, tais como inadequações no que diz respeito às recomendações da norma que regulamenta a Acessibilidade à Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos, esse trabalho foi estruturado e fundamentado. Como decorrência do estudo, foi desenvolvida a aplicação AccessIT que tem como objetivo fornecer informações sobre os recursos de acessibilidade disponíveis na UnB por meio da geolocalização dos pontos. As técnicas utilizadas na concepção e implementação do AccessIT foram selecionadas a partir da prerrogativa do desenvolvimento de softwares acessíveis, objetivando minimizar as possíveis dificuldades de acesso ao conteúdo e, tornando-a uma ferramenta com potencial inclusivo. Para tanto, são apresentadas as avaliações realizadas ao término do desenvolvimento, as quais foram executadas por meio da validação do código, verificação de compatibilidade com TAs de acessibilidade ao computador e usabilidade. Palavras-chave: Acessibilidade, Tecnologia Assistiva, Mapeamento, Universidade de Brasília v Abstract Based on the principle of universality of knowledge and the promotion of interdisciplinarity presented in the Statute of University of Brasilia(UnB), the present work was elaborated and based on areas of study of Computer Science, Education and accessibility. Research was conducted on disability, accessibility and assistive technology involving concepts, re- sources and legislation. This work was structured and based on problems found in multiple dependencies of the University, such as inadequacies with respect to the recommendations of the norm that regulates the Accessibility to Buildings, Furnishings, Spaces and Urban Equipment. As a result of the study, the AccessIT application was developed to provide information about the accessibility features available at UnB through geolocation of the points, their description and their correspondence with each category belonging to the People With Disabilities. The techniques used in the design and implementation of Ac- cessIT were selected based on the prerogative of the development of accessible softwares, in order to minimize the possible difficulties of accessing the content, and making it a tool with an inclusive potential. To do so, we present the evaluations performed at the end of the development, which were performed through code validation, verification of compati- bility with assistive technology of computer accessibility, usability and human-computer interaction. Keywords: Acessibility, Assistive Technology, Mapping, University of Brasilia vi Sumário 1 Introdução 1 1.1 Cidadania para a Educação Inclusiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2 As Diferenças no Contexto Educacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1.3 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.4 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.5 Identificação do Problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.6 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.7 Organização do Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2 Deficiência, Acessibilidade e Tecnologia Assistiva 7 2.1 Deficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.1.1 Definição e Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.1.2 Tipos de Deficiência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.2 Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.2.1 Dimensão Conceitual e Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.2.2 Tipos de Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.3 Tecnologias Assistivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.3.1 Tipos de Tecnologias Assistivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.3.2 Instituições de Apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . 18 2.3.3 Relação entre Deficiência e Tecnologias Assistivas . . . . . . . . . . . . 18 2.4 Acessibilidade em Instituições de Ensino Superior . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.4.1 Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE/UnB) 21 2.4.2 Análise de Acessibilidade do ICC Baseada na NBR 9050 . . . . . . . . 23 2.4.3 Acessibilidade e Tecnologias Assistivas na UnB . . . . . . . . . . . . . 24 3 Inclusão Social por Meio da Acessibilidade Digital 26 3.1 Inclusão Social e Digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.2 Ferramentas Acessíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.3 Recomendações de Acessibilidade para Softwares . . . . . . . . . . . . . . . 30 vii 3.4 Avaliador de Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4 AccessIT - Projetando a Aplicação 34 4.1 Levantamento de Requisitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4.2 Análise de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.3 Diagrama de Classes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.4 Protótipo de Baixa Fidelidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 5 AccessIT - Desenvolvendo a Aplicação 42 5.1 Recursos Utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 5.1.1 Hypertext Prepocessor (PHP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 5.1.2 O Sistema Gerenciador de Banco de Dados . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.1.3 API MapBox . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.1.4 Adequações para a Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 5.2 Apresentação do AccessIT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 5.2.1 Tela Inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 5.2.2 Tela Mapa - Perfil de Visitante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5.2.3 Tela Mapa - Perfil de Usuário Cadastrado . . . . . . . . . . . . . . . . 50 5.2.4 Tela Busca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 5.2.5 Tela Reportar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 5.2.6 Tela Visualizar Registros de Reports . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 5.2.7 Tela Sobre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 6 AccessIT - Avaliando a Aplicação 55 6.1 Teste de Compatibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 6.2 Teste de Acessibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 6.3 Teste de Usabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 6.3.1 Técnicas Prospectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 6.3.2 Técnicas Objetivas ou Empíricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 7 Conclusão 67 Referências 69 Apêndice 76 A AccessIT - Questionário 77 B AccessIT - Roteiro de Testes 82 viii C AccessIT - Checklist de Usabilidade 91 ix Lista de Figuras 2.1 Auxílios para Vida Diária e Prática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 PCS - Símbolos de Comunicação Pictórica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.3 Símbolos Bliss. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.4 Recursos de Acessibilidade ao Computador. . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.5 Projetos Arquitetônicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.6 Órteses e Próteses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.7 Adequação Postural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.8 Auxílio de Mobilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.9 Recursos para Cegos ou com Visão Subnormal . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.10 Adaptações em Veículos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.11 Cartilha Do Censo 2010 - Pessoas com Deficiência. . . . . . . . . . . . . . . 19 2.12 Variação do número de alunos com NEs cadastrados na UnB no período de 1999 a 2011. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.13 Cadastros no PPNE por campus, Nível e Deficiência ou Necessidade Espe- cial em Dezembro de 2016. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.1 Pilares de uma Política Pública de Inclusão Digital. . . . . . . . . . . . . . 28 3.2 Resumo dos Documentos de Acessibilidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 4.1 História de Usuário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.2 História de Usuário Cadastrado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 4.3 História de Usuário Administrador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.4 Diagrama de Classes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.5 Protótipo NecessIT - Primeira Ideia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.6 Protótipo AccessIT - Home. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.7 Protótipo Tela Mapa - Perfil Visitante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4.8 Protótipo Tela Login. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.9 Protótipo Tela Reportar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.10 Protótipo Tela Sobre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 x 5.1 ASP.NET vs. PHP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 5.2 A Guide to Choose Maps API for your On-Demand App. . . . . . . . . . . 45 5.3 Qual leitor de tela para computador você mais utiliza?. . . . . . . . . . . . 46 5.4 Tela inicial - (a) Acesso ao Mapa (b) Realizar Login. . . . . . . . . . . . . 48 5.5 Tela Mapa - Perfil Visitante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5.6 Tela Mapa - Perfil Visitante - Recursos disponíveis. . . . . . . . . . . . . . 49 5.7 Tela Mapa - Perfil de Usuário Cadastrado Cadastrado. . . . . . . . . . . . 51 5.8 Tela Busca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 5.9 Tela Reportar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 5.10 Tela Registros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 5.11 Tela Sobre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 6.1 VLibras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 6.2 Primeira Avaliação - DaSilva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 6.3 Última Avaliação - DaSilva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 6.4 Percentual de PcDs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 6.5 Facilidade de uso do Sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 6.6 Leitura da tela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 6.7 Apresentação dos links. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 6.8 Organização das informações disponíveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 6.9 Tempo de resposta do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 6.10 Feedback dos participantes em relação ao sistema. . . . . . . . . . . . . . . 61 6.11 Etapas na montagem de um ensaio de interação. . . . . . . . . . . . . . . . 63 xi Lista de Tabelas 2.1 Relação entre Categorias de Deficiências e Tecnologias Assistivas. . . . . . . 20 xii Lista de Abreviaturas e Siglas BAES Bloco de Sala de Aula Eudoro de Sousa. BCE Biblioteca Central da UnB. BSAN Bloco de Sala de Aula Norte. BSAS Bloco de Sala de Aula Sul. CAT Comitê de Ajudas Técnicas. e-MAG Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico. EaD Educação à Distância. FENAPESTALOZZI Federação Nacional das Associações Pestalozzi. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. ICC Instituto Central de Ciências. IHC Interação Humano-Computador. ITS Instituto de Tecnologia Social. JAWS Job Access With Speech. NVDA NonVisual Desktop Access. ONG Organização Não-Governamental. PcD Pessoa com Deficiência. PcDsPessoas com Deficiência. PHP Hypertext Prepocessor. xii PNEs Portadores de Necessidades Especiais. PPNE Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais. QUIS Questionaire for User Interaction Satisfaction. SGBD Sistema Gerenciador de Banco de Dados. SISP Administração dos Recursos de Informação e Informática. TA Tecnologia Assistiva. TAs Tecnologias Assistivas. TICs Tecnologias da Informação e Comunicação. UnB Universidade de Brasília. W3C World Wide Web. WCAG Web Content Accessibility Guidelines. xiii Capítulo 1 Introdução Inspirado no Estatuto da Universidade de Brasília (UnB) [1], onde um de seus princí- pios promove a "universalidade do conhecimento e fomento à interdisciplinaridade", este trabalho tem como fundamentação as áreas de estudo da Ciência da Computação e da Educação, tendo como enfoque principal a Acessibilidade. Com base na legislação nacional [2] e internacional [3], o tema da inclusão vem sendo abordado na escolas, universidades, órgãos públicos e demais áreas da sociedade. Desse modo, os conceitos de acessibilidade passaram a ser incorporados e estão cada vez mais presentes no cotidiano dos cidadãos, especialmente em ambientes que possuem maior circulação de indivíduos e entre eles Pessoas com Deficiência (PcDs). Como exemplo, é possível destacar o sistema educacional, que em sua concepção, já inclui os princípios acessibilidade, tais como acessibilidade arquitetônica e comunicacional [4]. De acordo com a Constituição Federal de 1988 [5]: “ A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Segundo Raposo [6], o sentido do direito à educação na ordem constitucional de 1988 está intimamente ligado ao reconhecimento da dignidade da pessoa humana como funda- mento da República Federativa do Brasil e está relacionado à busca do ideal de igualdade. A educação vai além do saber, ela serve de estímulo para que as pessoas tenham um pensamento crítico, permitindo o desenvolvimento da sociedade no que diz respeito à política, à democracia, à economia e, novamente, para a igualdade social, fornecendo uma base para uma sociedade em evolução. 1 1.1 Cidadania para a Educação Inclusiva Quando o assunto é educação é fundamental salientar a sua importância para a sociedade e o seu valor para a construção da cidadania. É importante considerar que os conceitos e definições de educação e cidadania não são imutáveis e variaram ao longo dos anos de acordo com o período histórico. Os diferentes momentos da história mundial indicam que é possível rever conceitos inicialmente enraizados na cultura de um povo, permitindo compreender a constante mudança de um mundo em evolução [7]. Um indivíduo para ser considerado cidadão deve possuir direitos e deveres e é súdito e soberano [8] [5], ou seja, deve cumprir com os seus deveres da mesma forma em que seus direitos devem ser atendidos. Essa abordagem está presente na Carta de Direitos da ONU [9], que propõe que todos os homens são iguais perante a lei, independente de raça, cor ou religião; que possuem o direito de ter uma vida digna. Cabe ao indivíduo cumprir com seus deveres, que por sua vez incluem: respeitar as leis, cumprir seu papel para com a sociedade, pressionar o governo para que cumpram com o que lhe foi prometido [9] [8]. A cidadania consiste em direitos e deveres do cidadão para uma boa convivência em sociedade, onde um respeita e trata o outro como igual. Tal aprendizado ocorre tanto em casa quanto na escola, ambos se complementam e fazem com que o indivíduo aprenda a conviver em família e em comunidade [10]. A escola é um locus fundamental de educação para a cidadania, de uma impor- tância cívica fundamental, não como uma «antecâmara para a vida em sociedade» mas constituindo o primeiro degrau de uma caminhada que a família e a comunidade enquadram ([10, p.111, 2007] apud [11, p.41, 1992]) De acordo com Delors [12], os quatro pilares da educação são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Segundo Vasconcelos [10] estes pilares são um quadro de referência importante quando se fala da construção de novas cidadanias na infância. A educação funciona como base para a formação de um cidadão, e com o intuito de se cumprir com a Constituição, foi implantada a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBN) No9294/96[13] em 1996, onde, no Capítulo V, trata-se da educação especial: Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para edu- candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Baseada na LDBN, a educação especial funciona como educação inclusiva, que, se- gundo a Declaração de Salamanca [3], tem como principal proposta uma escola onde 2 todos os alunos aprendem juntos, independentemente de dificuldades ou diferenças, uma escola que deve atender às necessidades dos alunos, adaptando o ritmo e a forma de aprendizagem, garantindo uma educação igualitária e de qualidade. Considerando a educação especial e a educação inclusiva, podemos dizer que a primeira seria uma escola regular que oferece em seus serviços um atendimento exclusivo, separado da turma, para alunos com deficiências; e a educação inclusiva seria uma escola que percebe que os alunos são diferentes e assim, adapta o método de ensino para que todos aprendam em conjunto [14]. 1.2 As Diferenças no Contexto Educacional O ambiente educacional é composto de sujeitos que possuem características heterogêneas. Segundo Silva [15], a identidade simplesmente existe e é considerada como algo positivo, que faz parte do indivíduo representando aquilo que ele é. Por exemplo, em uma interação entre seres humanos, a afirmação “sou brasileiro” é necessária porque existem pessoas que não são brasileiras, seguindo essa linha, a afirmação “sou humano” torna-se dispensável. Em consonância com o que é proposto por Silva [15], é perceptível que a identidade e a diferença possuem uma relação de estreita dependência, pois o que compõe a identidade de um indivíduo e o distingue dos outros são as diferenças. O preconceito ainda é presente na sociedade sobretudo nas escolas, por mais que há muito tempo uma batalha em busca da igualdade seja travada [16]. Por conta do preconceito ainda presente no cotidiano, uma PcD pode ser vista como inferior em relação a uma pessoa que não possui uma deficiência, por ser diferente do que é considerado normal [14]. Entretanto, de acordo com o artigo primeiro da Lei 13.146, de 6 julho de 2015[2], é responsabilidade do Estado assegurar que uma pessoa com deficiência tenha em condições de igualdade o exercício dos direitos e liberdades fundamentais. De acordo com o Art. 2o desta Lei [2], uma pessoa com deficiência é considerada aquela que: "[...] tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.". Diante do surgimento da legislação que apoia a Pessoa com Deficiência no seu cotidi- ano, sancionou-se o Decreto No7.611, em 17 de novembro de 2011 [17], que dispõe sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado, com a finalidade de que a educação funcione de forma acessível e inclusiva. No §4 do Art. 5o temos: A produção e a distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade e apren- dizagem incluem materiais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz, softwares para 3 comunicação alternativa e outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao cur- rículo. Com o objetivo de cumprir com a determinação citada, são implantadas as tecnologias assistivaspara o auxílio do aprendizado. Tecnologia Assistiva (TA) pode ser considerada como um conjunto de instrumentos, métodos e técnicas que têm por objetivo auxiliar o processo de inclusão social, baseado no conceito proposto pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), conforme registrado em ATA VII – Reunião do Comitê de Ajudas Técnicas [18]. A partir da ideia apresentada, do direito à educação, da educação inclusiva e de tecno- logias assistivas, o ambiente educacional deve ser acessível para todos, sem dificuldades. Contudo, nem todos os lugares estão totalmente adaptados às Pessoas com Deficiência. Sendo assim, a presente proposta, o AccessIT, apoia a independência e o planejamento da PcD no ambiente educacional, por meio da apresentação de uma aplicação que ma- peia os espaços da Universidade de Brasília, indicando o tipo de recurso de acessibilidade disponível como, por exemplo, elevador, piso tátil, rampas. De posse destas informações, o usuário do sistema pode identificar as características do local, viabilizando um melhor atendimento às PcDs. 1.3 Objetivo Geral Apoiar a independência de Pessoas com Deficiência por meio do desenvolvimento de um mecanismo que dê suporte à mobilidade do estudante em relação à acessibilidade da Universidade de Brasília (UnB). 1.4 Objetivos Específicos Os objetivos específicos são: • apresentar os principais conceitos que envolvem a temática da acessibilidade; • apresentar a importância da acessibilidade no contexto dos processos de ensino e de aprendizagem; • investigar, em parceria com o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE/UnB), as dificuldades de acesso de PcDs no campus da UnB; • fazer um levantamento dos componentes que podem promover a acessibilidade em sistemas computacionais; • desenvolver um protótipo de sistema que apresente o mapeamento de requisitos de acessibilidade física; 4 • realizar a avaliação da aplicação desenvolvida, a fim de identificar possíveis manu- tenções a serem realizadas. 1.5 Identificação do Problema No que diz respeito ao que é recomendado na Norma que regulamenta a Acessibilidade a Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos [19], existem espaços inade- quados nas dependências da Universidade de Brasília [20]: • dificuldade de acesso aos prédios: ao longo dos últimos semestres foram construídos prédios novos no campus Darcy Ribeiro porém, apesar da maioria deles possuírem acessibilidade adequada, as imediações não foram modificadas de forma apropriada. Prédios como o Bloco de Sala de Aula Eudoro de Sousa (BAES), Bloco de Sala de Aula Norte (BSAN) e Bloco de Sala de Aula Sul (BSAS) não possuem estaciona- mento asfaltado, estes são de terra ou brita, o que dificulta o acesso para todos os usuários, principalmente em dias de chuva [21]. • prédios com baixa acessibilidade: os prédios mais antigos da UnB deixam a desejar quanto à acessibilidade, pois em sua concepção essa questão não foi considerada. Diante disso, identificam-se tentativas de adaptação dos locais, que nem sempre são efetivas, tornando necessária muitas vezes a mudança de sala de aula [21]. 1.6 Justificativa Este trabalho apresenta uma proposta de apoio à comunidade universitária, a partir do desenvolvimento de uma aplicação que mapeia os espaços da UnB e indica os recursos de acessibilidade disponíveis nestes locais. A dificuldade de acesso aos prédios em um ambiente de ensino, implica em um obstáculo para tornar a universidade um espaço de educação inclusiva, fazendo com que seus frequentadores possam enfrentar dificuldades quando estiverem em um destes locais. A presente proposta encoraja a autonomia da PcD, subsidia o planejamento quando este desejar se deslocar a algum lugar do Campus e viabiliza a organização de atividades nos espaços da Universidade, considerando as características de seus usuários. 5 1.7 Organização do Trabalho O capítulo dois aborda o referencial teórico relativo à acessibilidade: ao conceito, ao histórico, as leis, aos tipos de acessibilidade existentes e uma breve análise quanto ao atendimento de requisitos de acessibilidade na UnB. O capítulo três relaciona e ilustra a inclusão social por meio da da acessibilidade digital. O capitulo quatro é composto pelo processo de idealização da aplicação, incluindo as- pectos da engenharia de software, como as historias de usuário, analise de riscos, diagrama de classes e protótipo de baixa fidelidade. O capítulo cinco expõe o processo de desenvolvimento do AccessIT, incluindo recursos utilizados para a implementação da aplicação, recursos de acessibilidade compatíveis e o resultado final obtido, explicando cada uma das telas e suas funcionalidades. O capítulo seis apresenta as técnicas utilizadas para a avaliação e realização dos testes do AccessIT, e os resultados obtidos com cada uma delas. E, por fim, no capítulo sete, é apresentada a conclusão e as perspectivas de trabalhos futuros. 6 Capítulo 2 Deficiência, Acessibilidade e Tecnologia Assistiva Neste capítulo serão abordados conceitos, definições, tipos e legislações relacionadas à deficiência, acessibilidade e Tecnologias Assistivas. 2.1 Deficiência O termo deficiência é utilizado em muitos contextos no cotidiano, porém, existem Decretos e Leis com o objetivo de fornecer um definição sólida e que sirva de base para garantia dos direitos das pessoas que se encaixarem em uma ou mais categorias. Na seção 2.1.1 será apresentado o conceito a partir do Decreto 3298 e na seção 2.1.2 de forma mais detalhada as características de cada categoria de deficiência. 2.1.1 Definição e Histórico O conceito de deficiência de acordo com o Decreto 3298 [22] é descrito como: "toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano". Para efeito do Decreto, são dadas também as definições de deficiência permanente e incapacidade, por meio das quais se busca atingir uma definição mais abrangente acerca do tema. Segundo o Decreto 3298, para ser considerado portador de deficiência, o indivíduo deve se enquadrar em pelo menos umas das seguintes categorias: deficiência física, deficiência visual, deficiência auditiva, deficiência mental e deficiência múltipla. 7 2.1.2 Tipos de Deficiência O artigo 3o do Decreto 3298 [22] considera: I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psi- cológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; II - deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. E categoriza as deficiências em: • Deficiência Física: é definida como parcial ou completa em um ou mais segmentos do corpo humano. Apresenta-se na forma de "paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemipare- sia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, mem- bros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções." • Deficiência Auditiva: é definida como "Perda bilateral, parcial ou total, de qua- renta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz;" • Deficiência Visual: é dividida em casos, sendo dois deles a cegueira e a baixa visão que são definidos como: "na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, coma melhor correção óptica"e "que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica", respectivamente. Pode ser considerada também quando existir ocorrências em que a soma do campo visual dos olhos for igual ou inferior a 60 graus. • Deficiência Mental: é definida como sendo o funcionamento intelectual significati- vamente abaixo da média que tenha se apresentado antes do dezoito anos e que esteja ligado a comprometimentos em duas ou mais áreas das habilidades adaptativas, tais como: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer e trabalho. • Deficiência Múltipla: é a associação de duas ou mais deficiências. 8 Por muito tempo tratou-se a deficiência como um problema individual. Desse modo, a pessoa com deficiência deveria adaptar-se ao meio em que vivia e não o contrário. Contudo, a partir do fortalecimento do conceito de acessibilidade e de legislações que garantem o direito à integração da pessoa com deficiência, passou-se a buscar um modelo mais inclusivo por meio do qual a sociedade acolheria as diferenças e buscaria promover os princípios do desenho universal, contemplando não apenas a Pessoa com Deficiência, mas todo o cidadão independente de sua condição, provendo-lhe acesso aos serviços coletivos de saúde, educação, trabalho, autonomia para realização de suas tarefas, locomoção, segurança etc. 2.2 Acessibilidade Nessa seção serão apresentados conceitos de acessibilidade e seis dimensões por meio das quais Sassaki [4] defende ser possível construir ou compor um ambiente acessível. O tema acessibilidade na UnB será abordado a partir da apresentação do Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE) na seção 2.4.1 e da acessibilidade arqui- tetônica do campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília na seção 2.4.2 com base nas determinações da Norma Brasileira ABNT NBR 9050 - Acessibilidade a Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos [20], encerrando na seção 2.4.3. 2.2.1 Dimensão Conceitual e Histórica Segundo Tavares, Rodriguez e Alves [23], a acessibilidade é conceituada pela Lei 10.098, como sendo a possibilidade e a condição de alcance para a utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos trans- portes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. Refere-se a dois aspectos, que embora tenham características distintas, estão sujeitos a problemas semelhantes no que diz respeito à existência de bar- reiras que são interpostas às pessoas com necessidades especiais: o espaço físico e o espaço digital. Segundo Aurélio [24] acessibilidade é: [Do lat. tard. accessibilitate] S. f. 1. Qualidade de acessível. 2. Facilidade na aproximação, no trato ou na obtenção. 3. Educ. Condição de acesso aos serviços de informação, documentação e comunicação, por parte do portador de necessidades especiais (q.v). [Termo da educação especial.] Já para efeito da ABNT NBR 9050 [19] se caracteriza o termo como: 9 Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. Para entender o termo acessibilidade é necessário também, definir a palavra acessível que, segundo Aurélio[24], significa: [Do lat. tard. accessibile] Adj. 2g. 1. A que se pode chegar; de acesso fácil: porto acessível a todo tipo de embarcação. 2. Que se pode alcançar, obter ou possuir: livros bons e acessíveis. 3. Inteligível, compreensível: É um filme acessível a qualquer público. 4. Tratável, comunicativo: É pessoa muito acessível e simpática. 5. Módico, moderado, razoável: preços acessíveis. De modo semelhante, temos a definição de acessível para efeitos da ABNT NBR 9050 [19]: “Espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa.” O termo acessibilidade é amplamente utilizado por se tratar da inserção das pessoas que possuem algum tipo de necessidade especial, de modo seguro e proporcionando au- tonomia para realizar suas atividades na sociedade. O conceito ganhou importância e visibilidade com a criação de leis e normas que estabelecem indicações para a concepção de novos espaços, meios de transporte e tecnologias; ou ainda para a adaptação dos já existentes. Mesmo com a evolução do conceito de acessibilidade é comum que para muitas pessoas o termo retome apenas a ideia de transpor as barreiras de acesso físico. Entretanto, Sassaki[4] subdivide a acessibilidade em dimensões, apresentadas na próxima seção, que possibilitam uma compreensão mais abrangente de seu significado. 2.2.2 Tipos de Acessibilidade Para Sassaki [4, p. 10], a acessibilidade pode ser dividida em seis dimensões: atitudinal, arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental e programática. • Acessibilidade Atitudinal: eliminação de preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações. Deve ocorrer em todos os âmbitos da sociedade. • Acessibilidade Arquitetônica: eliminação de impedimentos estruturais e físicos que dificultem o acesso a locais públicos e privados por parte de qualquer indivíduo 10 que possua alguma necessidade especial, seja por motivo de deficiência ou de qual- quer outra condição. As medidas são indicadas para espaços de lazer, trabalho e educação. Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários. [25] Conforme Decreto no5296 [25], tanto a concepção quanto a implementação de pro- jetos arquitetônicos e urbanísticos devem seguir o conceito de desenho universal e ter como referências básicas as normas técnicas de acessibilidade da ABNT [19]: Todos os espaços, edificações, mobiliários e equipamentos urbanos que vi- erem a ser projetados, construídos, montados ou implantados, bem como as reformas e ampliações de edificações e equipamentos urbanos, devem atender ao disposto nesta Norma para serem considerados acessíveis. [...] As edifica- ções residenciais multifamiliares, condomínios e conjuntos habitacionais devem ser acessíveis em suas áreas de uso comum, sendo facultativa a aplicação do disposto nesta Norma em edificações unifamiliares. As unidades autônomas acessíveis devem ser localizadas em rota acessível. • Acessibilidade Comunicacional: eliminação dos impedimentos ou fatores que dificultem a comunicação e o acesso à informação. Adequação das sinalizações, formação em língua de sinais, comunicação escrita, Braille, tecnologias assistivas, são exemplos de iniciativas que promovem este tipo de acessibilidade. O parágrafo segundo do artigo 12 da Resolução CNE/CEB [26] estabelece que: Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam difi- culdades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando-lhes e às suas famílias a opção 4 pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada caso. • Acessibilidade Metodológica: eliminação de métodos que não contemplem as necessidades especiais de cada indivíduo.Ocorre desde a formação do discente até a garantia de que indivíduo tenha acesso a uma metodologia inclusiva. • Acessibilidade Instrumental: eliminação de impedimentos que possam estar pre- sentes nos equipamentos, ferramentas e outros dispositivos no campo do lazer, do trabalho e da educação. 11 • Acessibilidade Programática: eliminação dos impedimentos que podem ser en- contrados em decretos, leis, regulamentos, normas, políticas públicas, etc. No contexto da acessibilidade é comum se falar em Tecnologias Assistivas, que com- põem uma variedade de produtos, serviços, metodologias, estratégias e práticas que as- sociadas a uma ou mais categorias de deficiências e consequentemente a necessidade de desenvolvimento de recursos de acessibilidade que possam promover a independência, a qualidade de vida e a inclusão social deste grupo de pessoas. 2.3 Tecnologias Assistivas Bersch [27] separa as tecnologias assistivas em dois grupos: recursos e serviços. Os recur- sos podem ser: equipamentos, produtos, ou sistemas feitos com o objetivo de "aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência". Já os serviços são aqueles de auxílio direto ao deficiente, que tem como objetivo tornar possível que o individuo selecione, compre ou use os recursos. Os recursos são bastante variados, entre eles objetos de uso diário como: bengalas, brinquedos, roupas, objetos domésticos; mas também engloba artefatos mais complexos, como softwares e hardwares especiais, dispo- sitivos que auxiliam na mobilidade, na postura, na comunicação e na visão do indivíduo também são considerados recursos [28]. Tecnologia Assistiva é a forma encontrada para que pessoas com deficiência ou neces- sidades especiais possam viver em sociedade sem sofrer prejuízos por possuírem alguma característica especial. Além da definição já citada, feita pelo CAT, é possível definir as TAs como "uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivíduos com deficiências"[29]. De acordo com Radabaugh [30], "Para as pessoas sem deficiências a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para pessoas com deficiências, a tecnologia torna as coisas possíveis". Essa afirmação comprova a importância da tecnologia na vida das pessoas, evidenciando que através da tecnologia é possível tornar atividades rotineiras possíveis para pessoas que possuem algum tipo de deficiência. 2.3.1 Tipos de Tecnologias Assistivas Foi criada por Bersch [27] a categorização de Tecnologias Assistivas que promove a or- ganização e auxílio de políticas públicas, a organização de serviços e a identificação de adequada de qual Tecnologia Assistiva é adequada para cada indivíduo. • Auxílios para a vida diária: os itens de auxílio para tarefas diárias, como por exemplo: comer, tomar banho e limpar a casa (Figura 2.1). 12 Figura 2.1: Auxílios para Vida Diária e Prática (Fonte: [31]). • Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) / Comunicação Suple- mentar e Alternativa (CSA): a CAA e CSA são apresentados na forma de recur- sos, sejam eles eletrônicos ou não, que auxiliam a comunicação expressiva e receptiva de pessoas sem fala ou com dificuldade. Exemplos deste recurso são as pranchas de comunicação que utilizam símbolos PCS - Picture Communication Symbols (dese- nhos com ações e coisas) (Figura 2.2) e Bliss (símbolos mais simples, geométricos, com significados) (Figura 2.3) e alguns softwares com este propósito. Figura 2.2: PCS - Símbolos de Comunicação Pictórica (Fonte: [31]). • Recursos de acessibilidade ao computador: os computadores devem estar equipados com softwares especiais, hardwares (teclado e mouse) adaptados e equi- pamentos de entrada e saída (síntese de voz e Braille), para permitir que pessoas com deficiência utilizem o computador. Alguns exemplos podem ser vistos na Fi- 13 Figura 2.3: Símbolos Bliss (Fonte: [32]). gura 2.4, onde (a) Teclado com colmeia de acrílico (b) Teclado com adesivo de letras grandes (c) Mouse comum adaptado com velcro (d) Teclados programáveis. Figura 2.4: Recursos de Acessibilidade ao Computador (Fonte: [33]). 14 • Sistemas de controle de ambiente: os softwares que permitem que o indiví- duo controle remotamente a iluminação, som, aparelhos eletrônicos através de um smartphone, por exemplo. • Projetos arquitetônicos para acessibilidade: os recursos relacionados à estru- tura de um ambiente para que não tenham ou reduzam as barreiras físicas existentes para a pessoa com deficiência. Adaptação ou criação de um lugar com rampas de acesso, elevadores, banheiros adaptados, piso tátil entre outros. Na Figura 2.5, (a) Vaso sanitário com barras de apoio (b) Cadeira elevatória (c) Rampa de acesso. Figura 2.5: Projetos Arquitetônicos (Fonte: [31]). • Órteses e próteses: os membros artificiais ou recursos ortopédicos (bengalas, ta- las, etc.) que tem como objetivo suprir ou melhorar a mobilidade do indivíduo. Nesta categoria também está incluso gravadores de fita magnética, que funcionam como lembretes instantâneos para pessoas que possuem limitações cognitivas (Fi- gura 2.6). • Adequação postural: o conforto e a devida distribuição da pressão na superfície da pele através de assentos e encostos anatômicos, almofadas especiais, posicionadores e contentores que auxiliam na estabilidade e postura adequada através do suporte e posicionamento de tronco/cabeça/membros (Figura 2.7). • Auxílios de mobilidade: as "Cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases móveis, andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veículo utilizado na melhoria da mobilidade pessoal."(Figura 2.8). • Auxílios para cegos ou com visão subnormal: os auxílios voltados para um grupo específico, que possuem alguma alteração no sentido visão, incluindo lupas, 15 Figura 2.6: Órteses e Próteses (Fonte: [31]). Figura 2.7: Adequação Postural (Fonte: [31]). lentes, Braille, sintetizadores de voz, telas grandes, etc. Na Figura 2.9, (a) Lupas de aumento (b) Máquina de Braille (c) Recurso pedagógico - Caixa de vocabulário • Auxílios para surdos ou com déficit auditivo: os auxílios voltados para um grupo específico, que possuem alteração no sentido audição, incluindo equipamentos de infravermelho, aparelhos para surdez, telefones com teclados especiais — teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, etc. • Adaptações em veículos: são os "acessórios e adaptações que possibilitam a condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros veículos automotores usados no transporte pessoal."(Figura 2.10). 16 Figura 2.8: Auxílio de Mobilidade (Fonte: [31]). Figura 2.9: Recursos para Cegos ou com Visão Subnormal (Fonte: [34]). Figura 2.10: Adaptações em Veículos (Fonte: [31]). 17 2.3.2 Instituições de Apoio No Brasil, existem instituições de apoio à PcDs. Cada instituição possui a sua proposta específica, mas o objetivo geral delas é fornecer suporte para as pessoas com deficiência e seus familiares [35] [36]. As instituições podem ser sem fins lucrativos ou privadas, algumas que promovem a inclusão social e no mercado de trabalho são: • APAE-DF: é uma Organização Não-Governamental (ONG), sem fins lucrativos que atende pessoas a partir de catorze anos, com deficiência intelectual, que pode ou não estar associada a outras deficiências. Tal atendimento tem como foco projetos educacionais e profissionalizantes, cuja intenção é de inserir e de acompanhar o deficiente no trabalho e proporcionar apoio e segurança para o indivíduo [37]. • Pestalozzi: o movimento Pestalozziano acontece desde 1926 [38], através das As- sociações Pestalozzi existentes no país, ele defende os direitos e assistência social à pessoa com deficiência. A Federação Nacional das Associações Pestalozzi (FENA- PESTALOZZI) foi fundada na década de 60 e é composta por Associações Pestalozzi, Federações Estaduais e Associações Análogas [39]. • Assistiva: está localizada no Rio Grande do Sul, tem como proposta a inclusão de pessoas com deficiênciana educação, no trabalho, no lazer, na cultura e na sociedade. Oferece serviços de formação, assessoria e pesquisa, de te tecnologia assistiva e de atendimento educacional especializado [28]. O AccessIT, que será apresentado com detalhes no Capítulo 5, tem como proposta similar às instituições de apoio, que é promover a independência e inclusão do deficiente, no meio educacional. 2.3.3 Relação entre Deficiência e Tecnologias Assistivas Segundo o Censo Demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 45.606.048 dos brasileiros se enquadram em pelo menos uma categoria de deficiência, correspondendo a 23,9% da população total do país (Figura 2.11). Diante do número de Pessoas com Deficiência no Brasil, nota-se também uma maior variedade de tecnologias que objetivam apoiar e auxiliar no desenvolvimento de tarefas cotidianas. Atividades que antes eram inviáveis por falta de acessibilidade passaram a ser desempenhadas com o suporte das TAs. Instituto de Tecnologia Social (ITS) fundado em 2001 tem como um de seus objetivos: “promover a geração, o desenvolvimento e o aproveitamento de tecnologias voltadas para o interesse social, além de reunir as condições de mobilização do conhecimento, a fim 18 Figura 2.11: Cartilha Do Censo 2010 - Pessoas com Deficiência (Fonte: [40]). de que as demandas da população sejam atendidas”[41]. Em 2012 foi realizada pelo ITS a pesquisa nacional de tecnologia assistiva mostrando as diferentes concepções e classificações relativas ao tema. As tecnologias pesquisadas são desenvolvidas por setores de natureza pública municipal, estadual, federal, privada com fins lucrativos e privada sem fins lucrativos. Esses projetos baseiam-se nos diferentes tipos de deficiência para desenvolverem as TAs que auxiliam em demandas específicas de pelo menos uma categoria de deficiência. Sendo assim a relação entre as as tecnologias assistivas e as deficiências podem ser apresentadas da seguinte maneira (Tabela 2.1): 2.4 Acessibilidade em Instituições de Ensino Supe- rior Segundo Duarte e Coehn [42], os Estados Unidos da América foi um dos primeiros países a criar estratégias para tornar as universidades mais acessíveis, especialmente com relação a barreiras arquitetônicas. Estudantes da Universidade da Califórnia que possuíam alguma deficiência conseguiram convencer a prefeitura a construir as "primeiras guias rebaixadas do mundo, usando como plataforma de lançamento o programa universitário para alunos com deficiência"; durante a revolução estudantil dos anos 60 o mesmo grupo de estudantes criou o serviço de atendentes pessoais com a intenção de lhes possibilitar maior autonomia na realização de suas atividades e essa iniciativa deu origem ao movimento de direitos dos deficientes [43]. Com a ampliação e a popularização de tais estratégias, várias universida- des em diversos países passaram a adotar programas que têm como objetivo atender as necessidades educacionais específicas de diferentes grupos da população. 19 Tabela 2.1: Relação entre Categorias de Deficiências e Tecnologias Assistivas. Categorias de Deficiência Tecnologias assistivas associadas Deficiência Física Teclados virtuais Simuladores de mouse Software para comunicação alternativa Preditores de texto Deficiência Auditiva Próteses auditivas Implante coclear Vocalizadores Língua brasileira de sinais Deficiência Visual Leitores de telas Ampliadores de telas Display braille Bengalas Impressora braille Deficiência Intelectual Softwares educacionais de apoio ao ensino Deficiência Múltipla Equipamentos de auxílio para a visão e audição Software misto De modo semelhante ao que ocorreu nas universidades americanas, é possível iden- tificar no Brasil iniciativas para intensificação da acessibilidade dos espaços físicos no ambiente acadêmico. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está entre as pio- neiras no assunto acessibilidade com a criação do Grupo de Pesquisa sobre Acessibilidade no Brasil [20]. A Universidade de São Paulo (USP), por meio do programa USP Legal e da Comissão Permanente para assuntos relacionados às pessoas com deficiência, busca le- vantar informações sobre as barreiras existentes e elaboração de propostas de intervenção para compor o plano diretor de acessibilidade da Universidade [42]. Na Universidade Es- tadual de Campinas (UNICAMP), foi realizada a iniciativa de criação Espaços de Acesso à Informação e também de um Laboratório de Apoio Didático da Biblioteca Central que visa a integração e o acesso ao acervo bibliográfico da Universidade Estadual de Cam- pinas por parte de pessoas que possuem necessidades especiais. Em algumas salas da biblioteca, por exemplo, é possível encontrar impressoras de Braille, mouse eletrônico e softwares [42]. Seguindo a tendência presente em outras universidades brasileiras, em 1999, foi criado na UnB, o Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PPNE), vinculado à Vice-Reitoria da Universidade. Posteriormente, em 2014, o Programa passou a ser administrado pelo Decanato de Assuntos Comunitários [44]. 20 2.4.1 Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especi- ais (PPNE/UnB) O PPNE tem como objetivo o acompanhamento e a atenção ao estudante para que o mesmo esteja inserido de maneira efetiva na convivência e experiência acadêmica, pos- sibilitando a sua permanência no ensino superior [44]. O público-alvo do programa são os membros da comunidade acadêmica que possuem algum tipo de deficiência sensorial, física, intelectual, dislexia, transtornos globais do desenvolvimento, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade [44]; entretanto, o programa também atende pessoas com necessidades especiais, como por exemplo uma deficiência física temporária. Uma das responsabilidades do PPNE é fazer o levantamento da quantidade de alunos cadastrados no programa. Em 2014 Costa [45] publicou um gráfico, conforme ilustrado na Figura 2.12 onde foi apresentado o número de alunos cadastrados no período de 1999 a 2011. Figura 2.12: Variação do número de alunos com NEs cadastrados na UnB no período de 1999 a 2011 (Fonte: [45]). Segundo PPNE-UnB [46] em dezembro de 2016 o Programa registrou um número total de 215 PNEs cadastrados nos quatro campi da Universidade. Desse total, 178 são alunos de Graduação e 4 de Pós-Graduação do campus Darcy Ribeiro, o que representa aproximadamente 85% do total dos estudantes registrados em sua base de dados, conforme apresentado na Figura 2.13. A adesão ao Programa é realizada de forma voluntária, cabendo ao estudante decidir cadastrar-se ou não. Programa conseguiu, ao longo dos anos e em parceria com a prefeitura do campus, departamentos, institutos e faculdades, alcançar melhorias para os Portadores de Ne- 21 Figura 2.13: Cadastros no PPNE por campus, Nível e Deficiência ou Necessidade Especial em Dezembro de 2016 (Fonte: [46]). cessidades Especiais. As melhorias podem ser, por exemplo, de caráter arquitetônico, relacionado à otimização de processos para alocação de espaços. De acordo com as informações fornecidas pelo PPNE, o programa desenvolve os se- guintes projetos e atividades [44]: • Acompanhamento acadêmico: objetiva o acompanhamento da vida acadêmica dos estudantes registrados no PPNE para que seja possível estabelecer estratégias e realizar adequações para atender as necessidades dos estudantes. Essas ações são estabelecidas em conjunto com os professores. • Interação com Institutos e Faculdades: objetiva estabelecer comunicação com os coordenadores de curso, professores e servidores. Por meio dessa interação será realizado diálogo sobre as necessidades do estudante cadastrado no Programa, pos- sibilitando que as devidas adequações ocorram. • Interação com a Prefeitura do campus: pretende assegurar a acessibilidade dos projetos de infraestrutura do Campi e diminuir as barreiras arquitetônicas que possam existir no planejamento de construções ou modificações nos espaços já exis- tentes. • Parceria com o Laboratório de Apoio ao DeficienteVisual (LDV): busca-se, por meio dessa parceria, possibilitar o acesso à materiais e equipamento adaptados para pessoas com deficiência visual. O laboratório está localizado na Faculdade 22 de Educação e nele são realizadas impressões ampliadas ou em Braille. Também é viabilizada a utilização de ferramentas e recursos instalados em computadores como, por exemplo, gravação de áudio e outros instrumentos de acessibilidade. • Parceria com a Biblioteca Digital e Sonora (BDS): planeja-se por meio desta parceria tornar mais democrático o acesso à educação, à informação e à cultura, por meio da utilização de recursos tecnológicos. Este é um projeto da Biblioteca Central da UnB (BCE). • Transporte no campus: trata-se de um veículo que é disponibilizado para o estudante com dificuldade de locomoção. O estudante precisa estar cadastrado para utilizar o serviço e deve fazer o agendamento com antecedência. • Realização de cursos e palestras para a comunidade interna e externa. Após a sua criação, o PPNE conseguiu mediar e alcançar avanços no que diz respeito à infraestrutura, à comunicação e ao acesso à informação. No entanto, um dos principais aspectos observados é a redução das barreiras arquitetônicas, tanto na construção de novos espaços urbanos, quanto na modificação dos já existentes [20]. Tal atuação foi possibilitada pela parceria estabelecida em conjunto com a prefeitura do campus e sua equipe técnica. Dentre os instrumentos empregados para a padronização dos espaços da Universidade está o uso da norma externa NBR 9050 [19] criada com o objetivo de estabelecer critérios e parâmetros a serem observados para a garantia de acessibilidade. 2.4.2 Análise de Acessibilidade do ICC Baseada na NBR 9050 A NBR 9050 - Acessibilidade a Edificações, Mobiliários, Espaços e Equipamentos Urbanos tem como objetivo estabelecer critérios e parâmetros técnicos que devem ser observados quando se trata da criação de projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. A Norma busca contemplar o maior número de pessoas para que elas possam utilizar os ambientes de modo autônomo e seguro. Todo espaço que seja projetado, construído, montado, implantado, reformado ou modificado devem atender os itens presentes na NBR 9050 para ser considerado acessível [19]. Embora a UnB tenha alcançado avanços significativos, ainda é possível notar com base nas determinações da NBR 9050 que diversas dependências do campus ainda encontram-se em desacordo com o que é proposto. Segundo Negreiros [20], foi possível identificar inconformidades em vários ambientes da UnB. Destacam-se as presentes do Instituto Central de Ciências (ICC): as lojas de cópia e impressão que possuem balcões muito altos e os anfiteatros que, embora possuam largura 23 das portas em acordo com a NBR 9050, não disponibilizam em seu interior rampas de acesso ou espaços reservados para cadeiras de rodas. 1 "Para passar de uma ala para outra, no térreo, há aproximadamente 21 corredores de acesso, mas que apresentam degraus de aproximadamente 22 cm, bueiros destampados e alguns vasos de plantas e bancos."[20] Conforme informado pela coordenação do PPNE-UnB [21], a Universidade vem se adequando às Normas à medida que realiza reformas nos espaços já construídos como, por exemplo, a implantação do primeiro elevador no ICC. De modo semelhante, a parce- ria estabelecida com a prefeitura possibilita que as construções mais recentes recebam a visita de algum membro do PPNE com o objetivo de avaliar as instalações com base nas recomendações presentes na NBR 9050. Modificações também já foram realizadas por meio de solicitação enviada pelo Programa à Prefeitura. Outra demanda existente é rela- cionada à aquisição e aderência da utilização de Tecnologias Assistivas nas dependências do campus. 2.4.3 Acessibilidade e Tecnologias Assistivas na UnB O Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da UnB faz um vínculo entre o estudante e algumas tecnologias assistivas que a universidade dispõe, como por exemplo o Laboratório de Apoio ao Deficiente Visual (LDV), que já foi apresentado na seção 2.4.1. Quando o estudante percebe a necessidade de um atendimento diferenciado, ou de um equipamento específico, pode contar com o apoio do PPNE para tentar resolver o problema, contudo, é encontrado barreiras burocráticas no processo [21]. A computação possui papel importante para o desenvolvimento de Tecnologias As- sistivas, tanto na produção de softwares quanto nos processos pedagógicos envolvendo a informática. Para o deficiente auditivo e/ou visual, o que tem auxiliado muito no processo de ensino e aprendizagem são os softwares acessíveis, que abre inúmeras possibilidades para os deficientes. No caso do deficiente físico, a Educação à Distância (EaD) é ou- tra solução fornecida pela computação, para o estudante que possui baixa mobilidade e dificuldade para chegar no ambiente físico [21]. Em relação a acessibilidade física, a Universidade encontra dificuldades ao realizar al- guma adaptação, pois a documentação de plantas dos prédios antigos não é de fácil acesso e os processos burocráticos fazem com que essa adaptação demore mais que o necessário [21], e assim acaba com que seja necessário uma terceira pessoa sempre auxiliando para que seja possível o acesso nos locais desejados. Os prédios novos do Darcy Ribeiro, estão sendo construídos de acordo com as normas de acessibilidade, porém, os arredores não são acessíveis. Os prédios possuem piso tátil, 1http://bdm.unb.br/handle/10483/5594 24 http://bdm.unb.br/handle/10483/5594 rampas, elevadores, mas não possui calçadas, o estacionamento é irregular, ou brita, tornando-o assim inacessível [21]. A proposta da aplicação é apoiar a independência de Pessoas com Deficiência dando suporte à mobilidade do estudante em relação à acessibilidade da Universidade de Brasília (UnB). 25 Capítulo 3 Inclusão Social por Meio da Acessibilidade Digital Retomando o que foi abordado na seção 1.1 relativo à cidadania, Martini [47] defende que a promoção da cidadania é uma iniciativa fundamental para incrementar a educação brasileira, preservar a cultura, iniciar a requalificação profissional e, por consequência, a construção da cidadania digital e ativa. Baseado na ideia de cidadania apresentada anteriormente, identificamos o conceito de cidadania digital como o uso da tecnologia de forma responsável por parte do cidadão e assim como a cidadania, que já foi abordada, é um direito e dever de todos [48]. Contudo, o país ainda encontra-se em uma situação de desigualdade social visível, de acordo com Martini [47] e é de responsabilidade do governo dar a oportunidade de incluir a população dos benefícios do mundo digital e consolidar os direitos à cidadania. Afim de promover a inclusão digital o governo criou ao longo dos anos propostas e projetos com essa finalidade [49]. Algumas das propostas criadas são: disponibilização do acesso à internet, implantação de telecentros e capacitação da comunidade para a uti- lização de tecnologias [50]. Nesse contexto, o modelo proposto para a implantação das políticas públicas era dividido em três pilares: alfabetização (competência em informá- tica), infraestrutura e conteúdo adequado [49]. Considerando o movimento de inclusão digital e o histórico apresentado em relação à acessibilidade, tecnologias assistivas e deficiência, pode-se inferir que parte do processo da inclusão digital ainda é falho, pois a infraestrutura instalada nos telecentros é com- posta por tecnologia antiga, muitas vezes doada por pessoas ou instituições, que não dão condições de acesso adequado aos seus usuários, além disso, outro fator que dificulta a inclusão digital é que muitos softwares e websites são desenvolvidos sem levar em conta a acessibilidade digital. 26 A principal proposta da Lei 13.146 para as Pessoas com Deficiência é a inclusão social, que por sua vez é assegurada no Art. 1o, que garante "assegurar e a promover, emcondições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania"[2]. Todavia, mesmo sendo um direito do cidadão, enfrenta algumas barreiras pois a sociedade ainda está em fase de adaptação para se tornar inclusiva por inteira [50]. A promoção da inclusão social de PcDs se daria com maior facilidade se os softwares e aplicações utilizassem as recomendações de acessibilidade como a ISO 9241 e e-MAG, que serão abordadas na seção 3.2. Dessa forma, seria contemplada além da inclusão social, a inclusão digital da Pessoa com Deficiência. 3.1 Inclusão Social e Digital As Tecnologias Assistivas possibilitam romper barreiras, entretanto diversas Pessoas com Deficiência ainda são excluídas ou discriminadas em seu cotidiano. Conforme Maciel [51], a exclusão social é um processo antigo, que acontece desde os primórdios da estrutura das sociedades e que fazem com que o ser humano preste mais atenção às aparências externas do que aos possíveis potenciais do indivíduo. Diante desta realidade, ações de pais e educadores promovem a inclusão de PcDs em escolas, com a intenção de recuperar o respeito humano e a dignidade, possibilitando o desenvolvimento igualitário entre todos os indivíduos. Além de ações locais realizadas, alguns movimentos nacionais e internacionais apresentam propostas de uma política de educação inclusiva, como por exemplo a declaração de Salamanca [51]. No Brasil, definiu-se três pilares para a implantação do modelo de funcionamento da política pública de inclusão digital efetiva (Figura 3.1): De acordo com o documento de Políticas Públicas de Inclusão Digital, disponibilizado pelo TCU [49], o primeiro pilar seria "alfabetização do indivíduo para o uso das TIC", o segundo seria "infraestrutura que garanta a disponibilidade de acesso"e o terceiro "con- teúdo adequado às necessidades dos usuários". Também de acordo com este documento, os desafios que podem ser encontradas pelo cidadão excluído devem ser uma preocupa- ção dos gestores para que as ações voltadas para o atendimento desses indivíduos seja realizada de forma adequada. Baseado no documento de Políticas Públicas de Inclusão Digital [49], os desafios consistem em: • Acesso: refere-se “à capacidade de realmente ir on-line e conectar-se à internet, estando relacionado a diversos fatores, como política de preços, condições de renda da população e limitações da infraestrutura”. 27 Figura 3.1: Pilares de uma Política Pública de Inclusão Digital (Fonte: [49]). • Habilidades: refere-se “a aspectos de formação e competência dos indivíduos, mas que ultrapassa a simples capacitação específica para utilização das TIC, abrangendo questões como o nível de instrução da população, que afeta sua capacidade de usar as Tecnologias de Informação e Comunicação”. • Motivação: refere-se “às dimensões da alfabetização e conteúdo, este desafio refere- se à motivação do indivíduo em querer utilizar as TIC, ou seja, ter conhecimento das vantagens e da potencialidade dessas novas tecnologias para o seu desenvolvimento pessoal”. • Confiança: refere-se “a aspectos da segurança da informação, como, por exemplo, o receio do indivíduo de ter seus dados e informações violados, indo até questões psicológicas, como o receio do erro, não saber por onde começar ou sua incapacidade individual”. A inclusão é um processo que ocorre na sociedade para atender as necessidades dos indivíduos e grupos sociais buscando minimizar ou eliminar as desvantagens existentes [52]. Com a popularização e a expansão da internet, surgiram também novas formas de 28 interação social e econômica. Segundo o TCU [49], de modo simultâneo, as mudanças ocorridas provocaram a aparição de um novo grupo de indivíduos excluídos digitalmente. Conforme apresentado no documento Políticas Públicas de Inclusão Digital [49], a partir da identificação de grupos excluídos, formulou-se o conceito de inclusão digital que propõe-se a “garantir que os cidadãos e instituições disponham de meios e capacitação para acessar, utilizar, produzir e distribuir informações e conhecimento, por meio das TICs, de forma que possam participar de maneira efetiva e crítica da sociedade da informação”. Para alcançar um maior número de indivíduos, a compreensão de inclusão digital engloba também o conceito de acessibilidade digital e garantir que PcDs utilizem autonomamente as TICs. Diante disso, entidades nacionais e internacionais desenvolveram métricas que possibilitam a implementação de ambientes majoritariamente acessíveis desde o processo de concepção [53]. Ao englobar a acessibilidade digital na implementação de Tecnologias da Informação e Comunicação, os produtores desse tipo de conteúdo propõem-se a criar ferramentas que atendem aos princípios do desenho universal [25], e portanto tem potencial inclusivo e igualitário para todos os usuários. 3.2 Ferramentas Acessíveis Uma ferramenta acessível permite reunir diferentes necessidades diminuindo as barreiras que poderiam causar impedimento de acesso aos seus usuários. Desse modo, a ferramenta abrange o princípio do desenho universal e possibilita o acesso igualitário a todos por meio da busca da construção de um projeto universal [25][27]. As ferramentas digitais trazem consigo possibilidades de maior autonomia e acesso igualitário e proporcionam mudanças no modo como as pessoas a utilizam, portanto tais tecnologias tem o poder de incluir ou excluir [54]. Segundo Conforto e Santarosa [54], se faz necessária uma revolução conceitual para que novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) sejam elementos co-estruturantes para a superação da exclusão, uma vez que podem fortalecer a inovação que prioriza a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Para Torres, Mazzoni e Alves [55], a acessibilidade consiste também na garantia de que os princípios de acesso à educação, ao trabalho e ao lazer sejam observados e assegurados da mesma forma no espaço digital. É comum que a internet seja utilizada como exemplo de espaço digital que deve pro- mover a acessibilidade, pois reúne aspectos fundamentais das Tecnologias da Informação e Comunicação. A internet acessível engloba tanto questões associadas à necessidade 29 quanto à preferência daquele que irá utilizá-la [55], sendo assim exige uma flexibilização da forma como são apresentadas as informações [54] [55]. Por conseguinte, espaço digital acessível significa disponibilizar ao usuário o acesso de modo autônomo independente das suas características corporais mantendo a integridade do conteúdo. Para tanto, a apresentação da informação é dada de formas múltiplas que potencializam as habilidades do usuário que possua limitações, das quais é possível desta- car: redundância, sistema automático de transcrição de mídias, ajudas técnicas (sistemas de leitura de tela, sistemas de reconhecimento da fala, simuladores de teclado, etc.) [55]. A flexibilidade das formas de apresentação da informação possibilita que a mesma possa ser falada, escrita em Braille, impressa ou utilizada por diferentes dispositivos de entrada - teclado, apontadores, voz [54]. Conforme Torres, Mazzoni e Alves [55] ao analisar a presença da informática em siste- mas utilizados por Pessoas com Deficiência é possível determinar categorias. No ambiente da educação, por exemplo, existem sistemas de auxílio na utilização de computadores, no processo de aprendizagem, na comunicação, entre outros. Para alguns grupos de indivíduos as ajudas técnicas podem ser em forma de sistema ou qualquer outro tipo que tenha a função de complemento onde lhes possibilitam desempe- nhar melhor suas atividades, por outro lado existem usuários que fazem o uso das mesmas ajudas e são de uso indispensável pois se configuram como sua forma de interação com o mundo e expressão do seu intelecto[55]. Diante desse contexto, se mostra a necessidade da implementação de ferramentas acessíveis desde o início do projeto. 3.3 Recomendações de Acessibilidade para Softwa- res Existemalguns modelos de acessibilidades que são propostos para que um software seja considerado acessível, como por exemplo, o e-MAG e a ISO 9241. Para desenvolvimento de um software que seja considerado acessível é necessário a investigação de modelos que possibilitem sua formulação de modo adequado. Em sua dissertação de mestrado sobre acessibilidade no desenvolvimento de software livre, Alves [53] exemplifica apresentando a ISO 9241-171 e Guias que mostram que diferentes aspectos precisam ser levados em consideração para que seja possível um software ser concebido de forma acessível. A ISO 9241-171 [56] é uma norma abrangente que contempla todas as pessoas com deficiência e todos os aspectos do design acessível do software, para ser usado em casa, no trabalho, na educação e em locais públicos. Se destina ao auxílio de desenvolvedores 30 de software fornecendo orientações sobre o projeto de software e tem como finalidade alcançar o nível mais elevado possível de acessibilidade [53]. Figura 3.2: Resumo dos Documentos de Acessibilidade (Fonte: [53]). Na Figura 3.2, elaborada por Alves [53], são apresentados diversas guias que servem de apoio à elaboração e ao desenvolvimento de interfaces acessíveis. Entretanto, é comum que a maior parte dessas guias estejam voltadas ao desenvolvimento de sites, porém isso não quer dizer que outros tipos de softwares não necessitam de requisitos de acessibilidade [57]. Um software pode ser de uso comum e possuir interface acessível como pode também 31 ser um software do tipo TA que promova a acessibilidade por meio da sua utilização. Em ambos os casos é importante que seja concebido seguindo recomendações ou exigências associadas ao design acessível de modo a minimizar seu custo com a adição tardia destes recursos. Com o objetivo de promover a inclusão social o governo federal buscou iniciativas que incentivam o uso adequado e coordenado da tecnologia pois compreende que a inclusão digital é um meio para alcançar a inclusão social. Ao considerar a expansão da internet, percebe-se que as forma de comunicação e de acesso a informação sofreram uma revolução na última década. Diante disso, não atentar-se a falta de acessibilidade em sites ocasiona exclusão de uma parcela significativa da população brasileira. A partir dessa percepção e tendo em vista suas atribuições, o governo brasileiro propôs o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (e-MAG) que se compromete a ser um norteador no desenvolvimento e na adaptação de conteúdos digitais do governo federal e desse modo, visa garantir que todos os grupos tenha acesso igualitário ao conteúdo eletrô- nico. As recomendações apresentadas no e-MAG propõem padronizar a implementação da acessibilidade digital de forma coerente com a necessidade brasileira ao mesmo tempo em que mantém a conformidade com os padrões internacionais. O e-MAG trata-se de um versão do documento internacional Web Content Accessibility Guidelines (WCAG): (Recomendações de Acessibilidade para Conteúdo Web) aplicado ao governo brasileiro, todavia não exclui qualquer boa prática apresentada no WCAG [58]. 3.4 Avaliador de Acessibilidade O DaSilva é uma ferramenta desenvolvida pela Acessibilidade Brasil em parceria com a empresa W2B Soluções Internet. Ele é o primeiro avaliador de acessibilidade de sites em língua portuguesa com base nos princípios de acessibilidade preconizados pelo W3C/WAI (WCAG 1.0 e WCAG 2.0) e pelo documento e-MAG, possibilitando a análise de todas as páginas do site e indicando os erros das páginas em discrepância relacionados à acessibi- lidade. Foi desenvolvido na linguagem Java, um motor baseado num conjunto de regras semânticas orientadas a objeto, permitindo sua utilização em qualquer plataforma que suporte Java [59]. No avaliador DaSilva é possível avaliar o código fonte da página web ou o próprio site através de sua URL e, como resultado da análise, ele apresenta um relatório contendo a quantidade de erros e/ou avisos e separa as informações em: pontos verificados, ocorrên- cia(s) e linha(s). . O DaSilva ainda disponibiliza uma avaliação por prioridades (1, 2 e 3), conforme o WCAG 1.0 ou 2.0 e o documento e-MAG. De acordo com o W3C [60] e os relatórios gerados pelo DaSilva [59], cada item avaliado pode ser descrito como: 32 • Web Content Accessibility Guidelines (WCAG) 2.0: As Diretrizes de Aces- sibilidade para Conteúdo Web (WCAG 2.0) abrangem diversas recomendações com a finalidade de tornar o conteúdo da Web mais acessível. Seguir estas diretrizes irá tornar o conteúdo acessível a um maior número de pessoas com deficiência, incluindo cegueira e baixa visão, surdez e baixa audição, dificuldades de aprendizagem, limita- ções cognitivas, limitações de movimentos, incapacidade de fala, fotossensibilidade e combinações destas características. O WCAG é um conjunto de recomendações, os resultados da avaliação segundo ele é dividido em três níveis de prioridade, onde a maior prioridade é a 1. – Prioridade 1: Pontos que os criadores de conteúdo Web devem satisfazer inteiramente. Se não o fizerem, um ou mais grupos de usuários ficarão im- possibilitados de acessar as informações contidas no documento. A satisfação desse tipo de pontos é um requisito básico para que determinados grupos pos- sam acessar documentos disponibilizados na Web. – Prioridade 2: Pontos que os criadores de conteúdos na Web deveriam sa- tisfazer. Se não o fizerem, um ou mais grupos de usuários terão dificuldades em acessar as informações contidas no documento. A satisfação desse tipo de pontos promoverá a remoção de barreiras significativas ao acesso a documentos disponibilizados na Web. – Prioridade 3: Pontos que os criadores de conteúdos na Web podem satisfa- zer. Se não o fizerem, um ou mais grupos poderão se deparar com algumas dificuldades em acessar informações contidas nos documentos. A satisfação deste tipo de pontos irá melhorar o acesso a documentos disponibilizados na Web. • e-MAG: O governo brasileiro, comprometido com a inclusão, buscou através da elaboração do modelo de acessibilidade do governo eletrônico, facilitar o acesso para todas as pessoas às informações e serviços disponibilizados nos sítios e portais do governo. Assim, a primeira versão do e-MAG, elaborada pelo Departamento de Go- verno Eletrônico em parceria com a ONG Acessibilidade Brasil, foi disponibilizada para consulta pública em 18 de janeiro de 2005, e a versão 2.0 já com as alterações propostas, em 14 de dezembro do mesmo ano. Em 2007 a Portaria no3, de 7 de maio, institucionalizou o e-MAG no âmbito do sistema de Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação (SISP), tornando sua observância obrigatória nos sítios e portais do governo brasileiro. O DaSilva será utilizado para testar a acessibilidade do AccessIT. 33 Capítulo 4 AccessIT - Projetando a Aplicação O cotidiano das Pessoas com Deficiência é diferenciado, pois demanda eventual planeja- mento para a realização de tarefas diárias. Convenientemente, pode existir a necessidade de se verificar os recursos de acessibilidade e Tecnologias Assistivas disponíveis. Entre- tanto, essa informação nem sempre é de fácil acesso. Considerando as problemáticas citadas e baseadas nos conceitos de acessibilidade apre- sentados na seção 2.2, é importante que o ambiente educacional promova e incentive a inclusão em seu espaço [3][22]. Buscando a promoção e a efetivação desse direito, a apli- cação AccessIT foi projetada tendo como propósito auxiliar na autonomia e na inclusão daqueles que frequentam as dependências da Universidade de Brasília. O AccessIT funciona como um sistema de consulta aos recursos de acessibilidade dis- poníveis nos prédios da Universidade, de forma a promover a autonomia e facilitar o deslocamento e utilização destes espaços. Neste capítulo será apresentado o processo utilizado para a concepção do AccessIT, baseado em princípios de Engenharia de Software. A apresentação dos conceitos será feita da seguinte forma: requisitos, análise de riscos, diagrama de classes
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