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Carolina Maria de Jesus Carolina Maria de Jesus A origem de Carolina Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, no interior de Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Neta de escravos e filha de uma lavadeira analfabeta, Carolina cresceu em uma família com mais sete irmãos. A jovem recebeu o incentivo e a ajuda de Maria Leite Monteiro de Barros – uma das freguesas de sua mãe – para frequentar a escola. Com sete anos, ingressou no colégio Alan Kardec, onde cursou a primeira e a segunda série do ensino fundamental. Apesar de pouco tempo na escola, Carolina logo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita. Em 1924, em busca de oportunidades, sua família mudou-se para Lageado, onde trabalharam como lavradores em uma fazenda. Em 1927, retornaram para Sacramento. A mudança para São Paulo Em 1930 a família vai morar em Franca, São Paulo, onde Carolina trabalha como lavradora e, em seguida, como empregada doméstica. Com 23 anos, perde a sua mãe e vai para a capital onde emprega-se como faxineira na Santa Casa de Franca e, mais tarde, como empregada doméstica. Em 1937, sua mãe morreu e ela se viu impelida a migrar para a metrópole de São Paulo. Carolina construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer material que pudesse encontrar. Saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir dinheiro para sustentar a família. Mudança para a favela do Canindé Em 1947, aos 33 anos, desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do Canindé, na zona norte de São Paulo— num momento em que surgiam na cidade as primeiras favelas — cujo contingente de moradores estava em torno de cinquenta mil. Ao chegar à cidade, conseguiu emprego na casa do notório cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, médico precursor da cirurgia de coração no Brasil, o que permitia a Carolina ler os livros de sua biblioteca nos dias de folga. Em 1948, deu à luz seu primeiro filho, João José. Teve ainda mais dois filhos: José Carlos e Vera Eunice, nascidos em 1949 e 1953 respectivamente. Ao mesmo tempo em que trabalhava como catadora, registrava o cotidiano da comunidade onde morava nos cadernos que encontrava no material que recolhia, que somavam mais de vinte. Um destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem a seu livro mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. Morando em uma favela, durante a noite trabalha como catadora de papel. Lê tudo que recolhe e guarda as revistas que encontra. Estava sempre escrevendo o seu dia a dia. Em 1941, sonhando em ser escritora, vai até a redação do jornal Folha da Manhã com um poema que escreveu em louvor a Getúlio Vargas. No dia 24 de fevereiro, o seu poema e a sua foto são publicados no jornal. Carolina continuou levando regularmente os seus poemas para a redação do jornal. Por esse motivo acabou sendo apelidada de “A Poetisa Negra” e era cada vez mais admirada pelos leitores. Em 1958, o repórter do jornal Folha da Noite, Audálio Dantas, foi designado para fazer uma reportagem sobre a favela do Canindé e, por acaso, uma das casas visitadas foi a de Carolina Maria de Jesus. Carolina lhe mostrou o seu diário, surpreendendo o repórter. Carolina e a literatura Publicado em 1960, a tiragem inicial de Quarto de Despejo foi de dez mil exemplares e esgotou-se em uma semana. Desde sua publicação, a obra vendeu mais de um milhão de exemplares e foi traduzida para catorze línguas, tornando-se um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior. Depois da publicação, Carolina teve de lidar com a raiva e inveja de seus vizinhos, que a acusaram de ter colocado suas vidas no livro sem autorização. A autora relatou que muitos dos moradores da favela chegaram a jogar, nela e em seus três filhos, os conteúdos de seus penicos. Carolina definiu a favela como "tétrica", "recanto dos vencidos" e "depósito dos incultos que não sabem contar nem o dinheiro da esmola.“ O professor da USP Ricardo Alexino Ferreira caracterizou a escrita de Carolina como "direta, nua e crua, mas, ao mesmo tempo, suave.“ Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de cem mil exemplares vendidos, tradução para treze idiomas e publicados em mais de quarenta países. Publicação de Quarto de Despejo É certo que Carolina tinha direito a dez por cento do preço de venda das traduções, com trinta por cento de sua parte reservada a Audálio Dantas; ela recebia pequenos pagamentos em dólares das editoras estadunidenses, mas, por força do contrato original, não podia autorizar traduções de sua obra: este direito fora cedido à editora Paulo de Azevedo, uma filial da editora Francisco Alves. Pagamento de direitos autorais das traduções https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Aud%C3%A1lio_Dantas https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Livraria_Francisco_Alves Depois da publicação de Quarto de Despejo, Carolina mudou-se para Santana, bairro de classe média, na zona norte de São Paulo. Em1969, Carolina acumulou dinheiro suficiente para se mudar de Santana para Parelheiros, uma região árida da Zona Sul de São Paulo, no pé de uma colina. Saída da favela Parelheiros se caracterizava por fortes contrastes entre ricos e pobres: grandes casarões ao lado de barracos. Embora pobre, Parelheiros era o mais próximo que Carolina poderia chegar do interior de sua infância sem deixar São Paulo e suas escolas públicas, para as quais seus filhos iam de ônibus. A casa de Carolina fora construída num terreno modesto, perto de uma estrada de terra: visitantes andavam em tábuas de madeira sobre lama para chegar à casa cor de abóbora com janelas de caixilhos verdes. Agora passando boa parte de seu tempo sozinha, a autora lia o jornal e plantava milho e hortaliças, apesar de reclamar que seus esforços de jardinagem lhe rendessem tanto quanto lhe custassem. Logo depois de se mudar para Paralheiros, Carolina tinha tão pouco dinheiro que, assim fizera na favela do Canindé, ela e seus filhos passavam certos dias catando papéis e garrafas para vender: agora, contudo, usava o dinheiro de catadora para comprar refrigerantes e bilhetes de cinema. De tempos em tempos, entregava a uma vendedora local os abacates, bananas e mandiocas que produzia para serem vendidos num mercado local. Segundo reportagens da época, os pagamentos de direitos autoriais recebidos por Carolina eram "pequenos, mas constantes". Não eram, todavia, suficientes para que conseguisse viver melhor do que pouco acima da linha da pobreza. Para o acadêmico Robert Levine, a família de Carolina vivia bem melhor do que na favela, mas num nível muito abaixo do esperado para uma autora cujos livros ainda estavam vendendo bem em diversos países. Relacionamentos Carolina nunca quis se casar para não ter que ser submissa aos homens. Manteve diversos relacionamentos afetivos ao longo da vida, tendo sido pedida em casamento por alguns namorados, mas nunca aceitou. Suas três gravidezes não foram planejadas, e foram frutos de relacionamentos diferentes. Seus três filhos nasceram de parto normal, na cidade de São Paulo. As crianças desde cedo apegaram-se aos livros por influência da mãe, e todos frequentaram escolas públicas. Carolina registrou e criou seus filhos sozinha. Para sustentá-los, além de escrever e vender livros, fazia coleta de materiais recicláveis, realizava faxinas, lavava roupas para fora e dava aulas em casa, de alfabetização. https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Parto_normal https://pt.m.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo O declínio de Carolina Apesar de ter um livro transformado em best seller, Carolina não se beneficiou com o sucesso e não demorou muito para voltar à condição de catadora de papel. Em 1969, mudou-se com os filhos para um sítio no bairro de Parelheiros, em São Paulo, época em que foi praticamente esquecida pelo mercado editorial. Carolina Maria de Jesus faleceu em São Paulo, no dia 13 de fevereiro de 1977.
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