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Andressa – P3B FMO – 2021.1 As doenças desmielininzantes do SNC são condições adquiridas que se caracterizam por dano preferencial à mielina, com relativa preservação dos axônios. Os deficits clínicos são consequências do efeito da perda de mielina na transmissão dos impulsos elétricos ao longo dos axônios. A história natural das doenças desmielinizantes é determinada, em parte, pela limitada capacidade de o SNC regenerar a mielina normal e pelo grau de danos secundários que os axônios sofrem à medida que a doença progride. Vários processos patogênicos podem causar a perda da mielina. Estes incluem destruição imunomediada de mielina, como na esclerose múltipla, e infecções. E s c l e r o s e M ú l t i p l a A esclerose múltipla (EM) é uma doença desmielinizante autoimune caracterizada por episódios distintos de instalação de deficits neurológicos, separadas no tempo, atribuíveis a lesões de massa branca que são separadas no espaço. É a doença desmielinizante mais comum, tendo prevalência de aproximadamente um caso para 1.000 pessoas na maior parte dos EUA e da Europa. A doença pode se tornar clinicamente aparente a qualquer idade, porém é relativamente raro o início na infância ou após os 50 anos. As mulheres são duas vezes mais afetadas do que os homens. ‼Na maior parte dos indivíduos com EM, o curso clínico toma a forma de episódios de surto e remissão de duração variável (de semanas até meses ou anos) caracterizados por deficits neurológicos seguidos por recuperação parcial gradual das funções neurológicas. A frequência de recaídas tende a diminuir à medida que a doença progride, mas existe uma deterioração neurológica progressiva na maior parte dos indivíduos. Patogenia: As lesões da EM são causadas por uma resposta autoimune dirigida contra componentes da bainha de mielina. Como em outras doenças autoimunes, a patogenia da doença envolve fatores genéticos e ambientais. A incidência da EM é 15 vezes maior quando a doença está presente em parentes de primeiro grau e aproximadamente 150 vezes maior quando um gêmeo monozigótico é afetado. Apesar de uma série de estudos bem fundamentados, apenas uma porção da base genética da doença foi explicada. ♦Mecanismos imunológicos que fundamentam a destruição da mielina são o foco de muita pesquisa. As evidências disponíveis indicam que a doença inicia com células T CD4+ TH1 e TH17 que reagem contra antígenos da própria mielina e secretam citocinas. Células TH1 secretam IFN-γ, que ativa macrófagos, e células TH17 promovem o recrutamento de leucócitos. ►A desmielinização é causada por esses leucócitos ativados e por seus produtos lesivos. Os infiltrados das placas e de regiões circunjacentes do cérebro consistem em células T (principalmente CD4+ e alguns CD8+) e macrófagos. Com base no crescente conhecimento a respeito da patogenia da EM, foram desenvolvidas terapias que modulam ou inibem as respostas de células T e bloqueiam o recrutamento de células T no encéfalo. Suspeita-se também de uma contribuição potencial da imunidade humoral por um longo período de tempo, com base na observação inicial de bandas oligoclonais de imunoglobulina no LCR. A demonstração de que o tratamento com agentes que destroem as células B diminui a incidência de lesões desmielinizantes em pacientes com EM suporta esta ideia. Morfologia: AEM é uma doença da substância branca que pode ser mais bem estudada em cortes do encéfalo e da medula espinal. No estado fresco, as lesões são mais firmes do que a substância branca ao redor (esclerose) e aparecem como placas bem circunscritas, um pouco deprimidas, vítreas, cinza, e de forma irregular. A área de desmielinização muitas vezes tem bordas definidas, uma característica mais bem apreciada com corantes para mielina. O tamanho das lesões varia consideravelmente, de pequenos focos que só podem ser reconhecidos à microscopia até placas confluentes que envolvem grandes porções do centro semioval. Elas também são frequentes nos nervos ópticos, no quiasma, no tronco encefálico, nos tratos de fibras ascendentes e descendentes, no cerebelo e na medula espinal. As placas também podem se estender até a substância cinzenta, já que as fibras mielinizadas estão presentes lá também. Microscopicamente, em uma placa ativa, há decomposição da mielina em curso relacionada com macrófagos abundantes contendo detritos PAS-positivos e ricos em lipídios. As células inflamatórias, incluindo linfócitos e monócitos, estão presentes, principalmente como manguitos perivasculares, especialmente nos limites externos da lesão. As lesões ativas são frequentemente perivenulares. Andressa – P3B FMO – 2021.1 Dentro da placa, existe uma relativa preservação dos axônios e depleção dos oligodendrócitos. Com o tempo, os astrócitos sofrem alterações reativas. À medida que se torna quiescente, a lesão inflamatória lentamente desaparece. Dentro das placas inativas, a mielina é escassa ou se encontra ausente e existe uma redução do número de núcleos de oligodendrócitos, sendo que, em seu lugar, há proeminente proliferação astrocitária e gliose. Nas placas glióticas antigas, há grande depleção dos axônios e da sua mielina Em algumas placas de EM (placas com sombra) a fronteira entre a substância branca normal e a afetada não é fortemente demarcada. Nesse tipo de lesão, algumas bainhas de mielina que se afinam de forma anormal podem ser observadas, especialmente nos seus limites externos. Esse fenômeno é mais comumente interpretado como evidência de remielinização parcial ou incompleta por oligodendrócitos sobreviventes. Já foram observadas fibras anormalmente mielinizadas nos limites de placas típicas. Embora esses achados histológicos sugiram um potencial limitado para a remielinização no SNC, os axônios restantes na maioria das placas de esclerose permanecem não mielinizados; estudos destinados a promover a remielinização são um importante foco de pesquisa. Aspectos Clínicos: Embora as lesões da EM possam ocorrer em qualquer região do SNC e assim induzir a uma grande variedade de manifestações clínicas, alguns padrões de sinais e sintomas clínicos são em geral observados. A deficiência visual unilateral devido ao envolvimento do nervo óptico (neurite óptica, neurite retrobulbar) é uma manifestação inicial frequente de EM. No entanto, apenas uma minoria de indivíduos (10% a 50%, dependendo da população estudada) com um episódio de neurite óptica continua desenvolvendo EM (que requer múltiplos episódios para auxiliar no diagnóstico). O envolvimento do tronco cerebral produz sinais em nervos cranianos, ataxia, nistagmo e oftalmoplegia internuclear originária da interrupção das fibras do fascículo longitudinal medial. ‼As lesões da medula espinal dão origem ao prejuízo motor e à sensibilidade do tronco e membros, à espasticidade e à dificuldade no controle voluntário da função vesical. O exame do LCR em indivíduos com EM mostra uma discreta elevação do teor de proteínas e, em um terço dos casos, pleocitose moderada. Os níveis de IgG no LCR estão aumentados e bandas oligoclonais de IgG são geralmente observadas na imunoeletroforese. Esse achado é indicativo da presença no SNC de um pequeno número de clones de células B ativadas, supostamente autorreativas. Estudos de imagem por ressonância magnética, baseados na identificação de lesões com realce após injeção de gadolínio, passaram a ter um importante papel para averiguar a progressão da doença. Esses estudos, quando correlacionados com a necropsia e os achados clínicos, indicam que algumas placas podem ser clinicamente silenciosas mesmo em pacientes que apresentem sintomas. ( ) A ELA é uma doença progressiva em que há perda de neurônios motores superiores do córtex cerebral e de neurônios motores inferiores na medula espinal e no tronco cerebral. A perda desses neurónios resulta em denervação muscular, produzindofraqueza que se torna profunda enquanto a doença progride. É uma Andressa – P3B FMO – 2021.1 doença relativamente rara, com incidência de cerca de dois casos por 100.000 habitantes, que afeta homens com frequência ligeiramente maior do que mulheres e se manifesta clinicamente a partir da 5ª década de vida. A ELA esporádica é mais comum do que a ELA familiar (ELAF), que pode representar até 20% dos casos. Patogenia e Genética Molecular: Tanto a ELA esporádica quanto a familiar estão associadas com a degeneração de neurônios motores superiores e inferiores, muitas vezes em associação com a evidência de acúmulo de proteína tóxica. Uma das formas hereditárias mais precoces descobertas de ELA tem mutações no gene que codifica a dismutase superóxido de cobre-zinco (SOD1) no cromossomo 21; essa variante é responsável por cerca de 20% dos casos familiares. Uma ampla variedade de mutações missense foi identificada ao longo do gene. ►Inicialmente, a identificação de mutações de SOD1 sugeriu que a lesão neuronal na ELA pode refletir uma capacidade diminuída de desintoxicar radicais livres, mas acredita-se agora que as mutações levam a um fenótipo de ganho de função adverso associado à proteína mutante SOD1. Parece que a proteína mutante SOD1 se desdobra e forma agregados (que podem incluir proteína de tipo selvagem) e resulta em lesão celular através de uma variedade de mecanismos, incluindo perturbação da função do proteossoma e autofagia, efeitos diretos no transporte axonal e função mitocondrial ou sequestro de outras proteínas dentre os agregados. O acúmulo de agregados de proteínas pode, eventualmente, desencadear a resposta da proteína desdobrada, com início posterior da apoptose. O desenvolvimento de SOD1 agregado também foi observado em ELA sem mutações neste gene, o que sugere que essa via a lesões celulares pode contribuir para a ELA esporádica, também. Por essa razão, métodos para limpar SOD1 desdobrada estão sendo desenvolvidos como formas terapêuticas. Morfologia: As raízes anteriores da medula espinal são muito finas devido à perda de fibras de neurônios motores inferiores, e o giro motor pré-central no córtex pode ser atrófico especialmente em casos graves. Existe uma redução no número de neurônios do corno anterior, ao longo do comprimento da medula espinal, associada à gliose reativa. Achados similares são encontrados nos núcleos dos nervos cranianos hipoglosso, ambíguo e motor do trigêmeo. Os neurônios remanescentes frequentemente contêm inclusões citoplasmáticas PAS positivas, denominadas corpúsculos de Bunina, que parecem ser remanescentes de vacúolos autofágicos. Os músculos esqueléticos que são inervados pelos neurônios motores inferiores degenerados mostram sinais de atrofia neurogênica. A perda dos neurônios motores superiores leva à degeneração dos tratos corticoespinais, resultando em perda de volume e ausência de fibras mielinizadas, o que é particularmente evidente nos segmentos medulares mais baixos. Aspectos Clínicos: Os sintomas iniciais incluem fraqueza assimétrica das mãos, que se manifesta por dificuldade em segurar objetos e de realizar atividades motoras finas, e cãibras e espasticidade dos braços e das pernas. À medida que a doença progride, a força e o volume muscular diminuem e ocorrem contrações involuntárias de unidades motoras individuais, chamadas de fasciculações. A doença finalmente envolve os músculos respiratórios, levando a surtos de infecção pulmonar. Enquanto a maioria dos indivíduos afetados tem uma combinação de envolvimento dos neurônios motores tanto superiores quanto inferiores, tal como determinado por características clínicas e exame patológico, existem outros padrões observados. O termo atrofia muscular progressiva aplica-se aos casos relativamente raros em que o envolvimento do neurônio motor inferior predomina, enquanto a esclerose lateral primária refere-se aos casos com envolvimento do neurônio motor superior na maior parte. Em alguns indivíduos afetados, a degeneração dos núcleos motores Andressa – P3B FMO – 2021.1 dos nervos cranianos do tronco encefálico inferior ocorre precocemente e progride rapidamente, um padrão citado como paralisia bulbar progressiva ou ELA bulbar. Nesses indivíduos, as anomalias de deglutição e de fonação predominam e o curso clínico é inexorável em um período de 1 a 2 anos. Quando o envolvimento bulbar é menos grave, cerca de metade dos indivíduos afetados permanece viva 2 anos após o diagnóstico. ►Os neurônios motores que inervam os músculos extraoculares são os últimos envolvidos em ELA; com longa sobrevida, geralmente associada a suporte ventilatório, até mesmo essa forma de saída do motor falha. Os casos familiais desenvolvem sintomas mais precocemente do que os esporádicos, porém a evolução clínica é comparável. Enquanto a ELA é considerada uma doença do sistema motor, é evidente que uma fração significativa de indivíduos afetados também tem evidências de doença cerebral cortical mais generalizada. Q u e s t õ e s 1) Microscopicamente, como se caracteriza uma placa de esclerose múltipla antiga? Alto número de oligodendrócitos Lesões perivenulares Macrófagos abundantes Gliose 2) Classifique a placa de esclerose da imagem abaixo de acordo com o padrão morfológico microscópico observado. Placa ativa Placa com sombra Placa inativa Placa de Koru 3) Qual o diagnóstico mais provável da imagem abaixo? Abcessos encefálicos Doença de Alzheimer Esclerose Múltipla Esclerose Lateral Amiotrófica 4) Qual das complicações abaixo é mais comumente encontrada em pacientes com avançada esclerose lateral amiotrófica? Insuficiência hepática Paralisia bulbar Infecção pulmonar Ataxia cerebelar 5) Qual achado macroscópico de ELA é observado na imagem ao lado?ec Degeneração das raízes anteriores Degeneração das raízes sensoriais Atenuação das raízes posteriores Ingurgitamento das raízes posteriores 6) O senso de propriocepção de uma pessoa com esclerose lateral amiotrófica seria alterado? Por que, ou porque não? Sim, porque o sistema arco-reflexo será interrompido. Não, porque ambos, neurônios motores e sensoriais são afetados. Não, porque os neurônios sensoriais não são afetados. Sim, porque ambos, neurônios motores e sensoriais são afetados.
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