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Legislação e direito educacional

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LEGISLAÇÃO E DIREITO 
EDUCACIONAL
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Lauro Roberto Lostada
 Edemilson Gomes de Souza
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Ivan Tesck
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz
Prof.ª Tathyane Lucas Simão
Prof. Ivan Tesck
Revisão de Conteúdo: Maria Aparecida de Oliveira e Silva
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2017
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
 340
 L878l Lostada, Lauro Roberto
Legislação e direito educacional / Lauro Roberto Lostada; 
Edemilson Gomes de Souza. Indaial: UNIASSELVI, 2017.
138 p. : il.
ISBN 978-85-69910-83-1
1.Direito.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Lauro Roberto Lostada
Edemilson Gomes de Souza
Doutorando em Educação (UFSC). Mestre 
em Educação (UFSC). Especialista em Práticas 
Pedagógicas Interdisciplinares (FACVEST). Especialista 
em Mídias na Educação (FURG). Filósofo (UFSC). 
Lattes: <http://lattes.cnpq.br/1469046395979183>
Mestre em Educação, Comunicação e 
Tecnologia pela Universidade do Estado de Santa 
Catarina – UDESC. Graduado em Pedagogia pela 
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2006).
 
Lattes: <http://lattes.cnpq.br/3428954785179037>
Sumário
APRESENTAÇÃO ..........................................................................01
CAPÍTULO 1
A Origem da Escola .....................................................................09
CAPÍTULO 2
A Educação no Brasil .................................................................27
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
A Legislação Educacional Brasileira .......................................71
A Educação no Século XXI .......................................................107
APRESENTAÇÃO
Prezado estudante, neste livro de estudos iremos trabalhar a legislação e 
o direito educacional brasileiro, tecendo um debate crítico que poderá promover 
importantes reflexões sobre a sua própria prática pedagógica. Iremos conversar 
um pouco sobre a formação da escola, sua constituição histórica, e as práticas 
reprodutivistas comumente associadas à sua função. Apresentaremos como, 
a partir destas bases epistemológicas, a escola se constituiu no decorrer dos 
séculos até os dias de hoje. Com base nestas reflexões, iremos analisar as 
diversas mudanças vividas pelas pessoas no seu cotidiano, questionando o papel 
da escola e, destarte, do próprio educador tradicional, como figuras ultrapassadas, 
que ainda vivem um passado longínquo, transformando a escola num ambiente 
com resultados inexpressivos e com pouca participação. 
Vivemos um mundo onde há a exigência da sociedade para que as pessoas 
sejam ativas e participativas, mas muitas vezes nossa escola ainda se pauta por 
práticas alienantes, expressas por altos índices de evasão e reprovação. Nestes 
termos, precisamos conhecer a legislação que organiza este espaço e, a partir 
daí, elaborar um projeto que possa colaborar para a ressignificação deste espaço 
na vida das pessoas e em seus projetos de vida. 
A escola não pode ser vista como algo inerte, sem vida, pois é feita por nós, 
professores, e nossos alunos e comunidade. São nossas narrativas e nossos 
projetos que determinam esse ambiente e, portanto, nossas ações precisam ser 
revisitadas e planejadas em vista de nossos projetos e nossas intenções. E este, 
portanto, é o objetivo deste caderno: refletir sobre a nossa história e as bases de 
nossa escola para poder repensá-la e transformá-la em um ambiente realmente 
de aprendizagem, fundamental à vida das pessoas. 
Esperamos, enfim, que as reflexões que serão realizadas neste caderno de 
estudos sirvam como motivação para que você possa repensar suas práticas e 
que, portanto, lhe permitam um universo de novas possibilidades. 
Os autores.
CAPÍTULO 1
A Origem da Escola
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
	Apresentar as concepções de educação e saber escolar desde suas origens 
até os dias modernos.
	Debater o contexto histórico da escola, possibilitando uma reflexão coerente 
sobre os fundamentos da educação e suas bases epistemológicas. 
10
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
11
A Origem da Escola Capítulo 1 
A educação é algo que nos caracteriza desde nossas origens, configurando 
aquilo que conhecemos costumeiramente como cultura.
Contextualização
Apresentaremos, neste capítulo, um pouco da origem da educação e como 
ela foi sistematizada institucionalmente naquilo que hoje conhecemos como 
escola. Também iremos mostrar como esta instituição foi se constituindo ao longo 
da história e como ela se consolidou como um mecanismo político na Idade Média. 
Por último, iremos apresentar como a escola se transformou, na Idade Moderna, 
num instrumento de reprodução social, cuja função primordial era a manutenção 
das estruturas de poder vigentes.
Assim, toda essa panorâmica sobre a história da escola deve poder lhe 
oferecer subsídios suficientes para compreender os fundamentos epistemológicos 
da educação, que servirão como base para todo o mecanismo legislativo que 
iremos detalhar nos capítulos seguintes. 
Esperamos que você aproveite esse momento e as contribuições que lhe 
serão oferecidas para conhecer um pouco mais dessa complexa arquitetura, bem 
como para poder refletir sobre ela em busca de uma prática pedagógica mais livre 
e autônoma.
Educação x Escola: Origens
Cultura: significa a formação do homem, sua melhoria e seu 
refinamento [...] indica o produto dessa formação, ou seja, o conjunto 
dos modos de viver e de pensar cultivados, civilizados, polidos, que 
também costumam ser indicados pelo nome de civilização.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 225).
12
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Nestes termos, quando passamos a pensar a educação como resultado 
da cultura humana, acabamos por nos defrontar com os primórdios da nossa 
civilização. Essa fase primitiva é, portanto, onde vislumbramos as formas mais 
simples e elementares da educação, aspectos que determinavam diretamente a 
sobrevivência ou não do homem diante dos desafios que a natureza lhe impunha. 
Assim, nas civilizações primitivas, a família é que desempenha o papel 
fundamental na formação dos indivíduos, sem que exista ainda qualquer 
educação sistematizada ou instituição escolar organizada. O homem, certamente, 
já não é um ser animalizado nessas sociedades e, por isso, tece sua existência 
por parâmetros mais racionais que outrora – parâmetros estes que passam a 
desempenhar grande importância em sua vida, oferecendo as noções necessárias 
para a existência e os desafios impostos pela natureza. 
O objetivo da educação nesse primeiro momento é para com a satisfação 
imediata das necessidades materiais como a alimentação, o vestuário e o abrigo, 
de modo que a educação se realiza fundamentalmente através da promoção dos 
aspectos físicos, intelectuais e morais.
A formação dos jovens é promovida através de uma grande liberdade no 
tocante às experiências físicas com os jogos e a imitação, que passam a ser 
as ferramentas mais importantes para a aprendizagem naquele momento – as 
crianças brincam nestas sociedades de fazer arcos e espadas, por exemplo, 
criando histórias nas quais vivenciam aquilo que mais tarde terão que viver nas 
caças e batalhas. Quanto à formação intelectual, a criança é formada desde cedo 
para ser capaz de prover as suas próprias necessidades e também as da família 
e da comunidade. Obviamente que esta educação varia dependendo do sexo da 
criança, que irá determinarsua função social diante da família e da comunidade: 
enquanto os meninos aprendem os hábitos dos animais, as artimanhas da caça e 
da pesca, mecanismos de defesa e navegação, desenvolvendo suas habilidades 
físicas e sua percepção natural, as meninas são educadas para a reprodução 
e cuidado dos filhos, além das ocupações domésticas. Por último, além da 
educação física e intelectual, os povos primitivos cultivam também uma rústica 
educação moral, mediante a qual formam as novas gerações, ensinando-as os 
preceitos de respeito aos mais velhos, honra, obediência, autoridade etc. Os 
povos primitivos compartilham, de modo geral, em relação à religião, a crença 
em espíritos independentes, poder, justiça, responsabilidade, dever e consciência 
moral, onde o pecado é punido e a obediência recompensada.
13
A Origem da Escola Capítulo 1 
O MITO DE PANDORA
Em tempos longínquos não existiam mulheres no mundo, 
apenas homens, que viviam sem envelhecer, sem sofrimento, 
sem cansaço. Quando chegava a hora de morrerem, faziam-no 
em paz, como se simplesmente adormecessem. Um dia, contudo, 
Prometeu roubou o fogo a que só os deuses tinham acesso e deu-o 
aos homens, para que também eles pudessem usufruir desse bem, 
na defesa contra os animais ferozes, na confecção dos alimentos, 
na garantia de aquecimento nas noites frias. O rei dos deuses não 
podia deixar passar em branco a afronta de Prometeu e concebeu 
um castigo terrível para a humanidade: mandou que, com a ajuda de 
Atena, Hefesto, o deus ferreiro, criasse a primeira mulher, Pandora, 
e cada um dos deuses dotou-a com uma das suas características: 
O conhecimento primitivo é resultado direto da linguagem e sua organização 
se dá através, principalmente, do senso comum, que é aquele:
[...] conhecimento adquirido por tradição, herdado dos 
antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da 
experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-
se de um conjunto de ideias que nos permite interpretar a 
realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a 
avaliar, julgar e, portanto, agir (ARANHA, 2009, p. 35). 
Esse tipo de conhecimento, ainda segundo Aranha (2009), embora 
fundamental nessa fase de nossa existência, pode ser hoje entendido 
como ingênuo, fragmentário e conservador – ingênuo porque consiste num 
conhecimento não crítico; fragmentário porque é frequentemente assistemático, 
difuso e sujeito a incoerências; e conservador porque também resiste à mudança. 
O senso comum é, portanto, um primeiro degrau na escalada do conhecimento, 
que deve ser superado em vista de um conhecimento mais crítico e sistemático. 
Os povos primitivos, como dissemos, organizavam seu conhecimento 
através de suas experiências vivenciais e, portanto, tinham grandes dificuldades 
para compreender com exatidão muitos dos fenômenos e acontecimentos que 
permeavam sua existência. Por esta razão, podemos destacar que neste período 
os mitos tiveram um papel de grande importância na educação moral das pessoas. 
Sobre a origem do mundo, por exemplo, podemos encontrar a lenda de 
Pandora: 
14
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Afrodite deu-lhe beleza e poder da sedução; Atena fê-la arguta e 
concedeu-lhe a habilidade dos labores femininos; mas Hermes deu-
lhe a capacidade de mentir e de enganar os outros. Zeus ofereceu-a 
então de presente a Epimeteu, que era irmão de Prometeu. Sem 
pensar duas vezes e contrariando a advertência do irmão, que lhe 
dissera que nunca aceitasse nenhum presente vindo de Zeus, ele 
deixou-se seduzir pela bela Pandora e casou-se com ela. Pandora 
trazia um presente dado pelo pai dos deuses: a Caixa de Pandora, 
que estava proibida de abrir. Mas, roída pela curiosidade, um dia 
decidiu levantar só um bocadinho da tampa, para ver o que lá se 
escondia. De imediato dela se escaparam todos os males que até aí 
os homens não conheciam: a doença, a guerra, a velhice, a mentira, 
os roubos, o ódio, o ciúme. Assustada com o que fizera, Pandora 
fechou a caixa tão depressa quanto pôde, colocando-lhe de novo a 
tampa. Mas era demasiado tarde: todos os males haviam invadido o 
mundo para castigar os homens. Lá, muito no fundo da caixa, restara 
apenas uma pequena e tímida coisa, que ocupava muito pouco 
espaço: a esperança. 
Fonte: Disponível em: <http://www.olimpvs.net/index.php/
mitologia/a-caixa-de-pandora/>. Acesso em: 15 jul. 2016.
O mito de Pandora nos faz ver que, em geral, esse tipo de conhecimento 
aborda a curiosidade, a desobediência e o castigo, constituindo-se como verdade 
intuída, ou seja, que não exige comprovações, sendo o seu critério de adesão a 
crença e não a evidência racional. 
Mito: Além da acepção geral de “narrativa”, na qual essa palavra 
é usada [...], do ponto de vista histórico é possível distinguir três 
significados do termo: 1. Como forma atenuada de intelectualidade; 
2. Como forma autônoma de pensamento [...]; 3. Como instrumento 
de estudo social.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 673).
15
A Origem da Escola Capítulo 1 
Atividade de Estudos:
1) Como vimos, o mito consiste em uma série de conceitos que 
servem para tranquilizar o homem diante do mundo em que vive 
e daquilo que ele não sabe explicar. Assim, podemos afirmar 
que o mito ainda existe até os nossos dias enquanto forma de 
conhecimento. Que tal agora você descrever uma situação em 
que o mito pode ser exemplificado? Pode ser algo que você viu 
ou ouviu.
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Em geral, o mito surge como uma explicação daquilo que o homem não 
conhece, devido à sua capacidade imaginativa e fantasiosa, cuja função primordial 
é acomodar e tranquilizar o sujeito diante do mundo assustador em que vive. 
Assim, tudo aquilo que amedronta o homem passa a ser explicado através de 
narrativas mitológicas, que se eternizam através da cultura, sendo transmitidas de 
geração a geração. 
O Conhecimento Científico
Até o momento você aprendeu que o conhecimento informal que compõe a 
bagagem dos povos primitivos acabou sendo sistematizado de alguma maneira 
através do senso comum e dos mitos. Agora iremos analisar a passagem do 
mito à razão, que se institui primordialmente no âmbito da Grécia antiga. Neste 
sentido, é interessante destacar que os povos gregos também compartilhavam 
das concepções míticas, expressas principalmente pelas epopeias, que eram 
transmitidas pela tradição, em que pese o poder da oralidade e da coletividade (não 
existia até esse momento a concepção de autoria e nem mesmo a preocupação 
em registrar as histórias contadas). As epopeias, de modo geral, tiveram um papel 
de grande importância para os povos gregos, porque descrevem a história de sua 
civilização, transmitindo os valores de sua cultura. Os poemas de Homero, por 
exemplo, eram tidos como narrativas históricas e, desta forma, eram ensinados 
e decorados pelas crianças como sendo um guia de história, com informações 
importantes sobre comportamento, cultura, religião, fatos históricos, mitologia 
grega e a sociedade da Grécia antiga.
16
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Epopeia é um poema extenso que narra as ações, os feitos 
memoráveis de um herói histórico ou lendário que representa uma 
coletividade.
Que tal ler o livro A Ilíada e A Odisseia, de Márcia Williams, onde 
as aventuras dos heróis gregos na Guerra de Troia e a volta do herói 
Ulisses para sua casa em Ítaca se transformam em uma história em 
quadrinhos, cheia de personagens fantásticos e muito humor? 
A obra de Homero consiste na Ilíada: poema épico grego, considerado o mais 
antigo da literatura ocidental – são 15.693 versos que narram os acontecimentos 
do último ano da Guerra de Troia; e Odisseia – são 24 cantos que narram a 
viagem de 10 anos de volta do herói grego Odisseu (Ulisses) da Guerra de Troia 
até chegar à Ilhade Ítaca, onde era rei.
As ações heroicas narradas nas epopeias, de modo geral, demonstram a 
constante intervenção dos deuses na vida dos homens, seja para auxiliá-los ou 
para prejudicá-los. Neste sentido, o homem grego é uma vítima do destino, que 
passa a orientar a vida de todos os homens desde seu nascimento até a sua morte.
Essa situação permanece inalterada até o período arcaico da Grécia, por 
volta do século VII a.C., quando acontece a passagem do pensamento mítico 
para o pensamento crítico racional e filosófico. Essa mudança, contudo, não se 
deu de forma rápida e perceptível, mas como fruto de um longo e lento processo, 
que teve como fatores impactantes: a origem da pólis, as grandes navegações e 
o comércio entre os diferentes países e regiões. Considere o mapa a seguir, que 
mostra a Grécia no período arcaico:
17
A Origem da Escola Capítulo 1 
Figura 1 – Grécia no período arcaico
Fonte: Disponível em: <http://geacron.com/pt/>. Acesso em: 15 jul. 2016.
Nesse cenário podemos observar a formação das chamadas comunidades 
gentílicas, que consistiam em pequenas unidades agrícolas autossuficientes, nas 
quais todas as riquezas eram produzidas de forma coletiva. Com o passar do 
tempo, porém, a falta de terras e o uso de técnicas de plantio pouco avançadas 
estabeleceram um crescimento populacional maior que a produção agrícola das 
comunidades gentílicas, obrigando a divisão social dos membros, com a formação 
de uma restrita classe de proprietários de terras, os eupátridas (bem-nascidos); 
e aqueles que não tinham qualquer tipo de propriedade agrícola, os thetas 
(marginais). Assim, mais do que controlar a posse da terra, os eupátridas também 
organizaram os instrumentos e instituições responsáveis pelas decisões políticas, 
as manifestações religiosas e todas as outras manifestações que pudessem 
reafirmar o seu poder. Na medida em que a propriedade da terra estabelecia 
disputas de poder, vemos que alguns grupos passaram a se mobilizar em defesa 
de seus territórios, as chamadas fratrias. Com o passar do tempo, as fratrias 
também se uniriam em tribos, que tinham como função a defesa das terras.
A partir do momento em que as demandas políticas dessas comunidades se 
tornavam cada vez mais recorrentes, vemos que essas associações de cunho militar 
passaram a ter outro significado, determinando a formação das primeiras cidades-
estado ou as pólis gregas, que eram povoações que se desenvolviam em torno da 
acrópole, onde no ponto mais alto da cidade se encontravam os palácios e templos.
18
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Filosofia: é o uso do saber em proveito do homem. [...] De 
nada serviria possuir a capacidade de transformar pedras em ouro a 
quem não soubesse utilizar o ouro, de nada serviria uma ciência que 
tornasse imortal a quem não soubesse utilizar a imortalidade, e assim 
por diante. É necessária, portanto, uma ciência em que coincidam 
fazer e saber utilizar o que é feito, e esta ciência é a filosofia.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 442).
De outro modo, como podemos verificar no mapa apresentado, a geografia do 
universo grego evidencia os benefícios que este povo tinha a seu favor em relação 
ao Mar Mediterrâneo. Os gregos possuíam ao seu dispor o mar, notadamente 
calmo, como uma importante opção para a piscicultura de subsistência. A pesca, 
por sua vez, acabou oportunizando as navegações e o contato com outros povos 
e culturas. Esse contato, entendido como comércio, gerou um ambiente crítico, já 
que as explicações até então adotadas pelos gregos passaram a ser interpostas 
por outras explicações ou visões de mundo. A pólis, então, resume todo este 
processo de transição ao oferecer um ambiente fértil para o diálogo, onde as 
inquietações oriundas desses impasses passaram a ser analisadas, gerando o 
que conhecemos hoje como a filosofia.
Figura 2 – Desenvolvimento da Filosofia na Grécia
Fonte: Os autores.
GEOGRAFIA GREGA
AGRICULTURA
PESCA
NAVEGAÇÃO
COMÉRCIO
DIÁLOGO INQUIETAÇÃO
FILOSOFIA
Assim, podemos dizer que a filosofia não é necessariamente o que 
concebemos atualmente, pois ela resumia o conhecimento racional para além do 
senso comum e dos mitos, elaborado a partir do surgimento da pólis (cidade) e, 
consequentemente, da ágora (praça pública), onde as pessoas se encontravam 
para discutir os problemas de interesse comum, tornado espaço público. O 
saber, neste cenário, deixa de ser sagrado e passa a ser elaborado pelo conflito, 
discussão e argumentação. Assim é que surge a política, que permitiu que o 
homem se livrasse dos desígnios divinos e instituísse seu próprio destino através 
19
A Origem da Escola Capítulo 1 
da praça pública. Todos podem opinar nesse modelo de sociedade, desde que 
sejam cidadãos gregos, – não participavam desse modelo de democracia as 
mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos – portanto, participavam 
apenas os homens que fossem livres e nascidos gregos. Restavam, pois, 
poucos que, diante da população da época, podiam participar dos processos 
democráticos; e, desta forma, vislumbramos um modelo de participação direta, 
onde cada um podia exercer a palavra, em favor de seus interesses, ditos como 
interesses de todos. 
Foi a partir desse cenário que surgiram os sofistas. Segundo Aristóteles, a 
sofística resume a sabedoria aparente, mas não real, que indica a habilidade de 
aduzir argumentos capciosos ou enganosos (ABBAGNANO, 2007, p. 918). Estes 
sábios, diante do universo que se erguia ao seu redor, perceberam um ambiente 
em que poderiam obter lucros. Assim, eles passaram a ensinar as técnicas da 
dialética, fundamentais para o exercício da democracia, onde o cidadão, no 
exercício da palavra na ágora, poderia convencer os demais sobre aquilo que 
tinha como verdade. 
Atividade de Estudos:
1) Diante do que vimos sobre a democracia e o surgimento dos 
sofistas, analise a frase de Joseph Goebbels, Ministro da 
Propaganda na Alemanha nazista, confrontando com o poder da 
propaganda e da persuasão:
 “A essência da propaganda é ganhar as pessoas para 
uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, 
elas sucumbam a essa ideia completamente, de modo a nunca 
mais escaparem dela. A propaganda quer impregnar as pessoas 
com suas ideias. É claro que a propaganda tem um propósito. 
Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido 
que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito 
nem o percebam”.
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20
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A Atitude Filosófica
Você viu há pouco como se deu a ruptura do conhecimento mitológico dos 
povos primitivos para o conhecimento filosófico grego, cujo fundamento é a crítica 
e a argumentação, com base no diálogo. Neste sentido, é importante avaliar que 
a base desse conhecimento, tal como revela a etimologia da palavra (philos-
sophia = amor à sabedoria), aponta para uma atitude de admiração, que gera 
uma procura pela verdade. Não existe, para Platão, o processo filosófico se não 
houver antes uma atitude de espanto diante do mundo e, portanto, a filosofia aqui 
exposta não é de um saber abstrato, como muitos podem pensar, mas sim de um 
saber baseado no cotidiano, nos acontecimentos. Como diz Aranha (2009, p. 72): 
A filosofia se encontra no seio mesmo da história. No entanto, 
está mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo 
enfrentado pelo filósofo. Isso significa que o filósofo inicia a 
caminhada a partir dos problemas da existência, mas precisa 
se afastar deles para melhor compreendê-los, retornando 
depois a fim de dar subsídios para as mudanças.
Sócrates é um grande exemplo desse modelo de filósofo, pois ele costumavaconversar com todos, independentemente da classe ou grupo ao qual pertenciam, 
sempre preocupado com o método do seu conhecimento. Assim, nas praças 
públicas, Sócrates interpelava as pessoas a partir do pressuposto básico de que 
“nada sabia”, que consiste exatamente na atitude de abertura ao novo, a partir 
do reconhecimento da ignorância. Em sua ânsia pela verdade, Sócrates elaborou 
um método pedagógico baseado basicamente em dois momentos: a ironia e a 
maiêutica. Nas suas conversas ele induzia as pessoas a pensarem que ele 
realmente não sabia do assunto abordado, levando o interlocutor a declarar suas 
crenças sobre a questão. Assim, com hábeis questionamentos, Sócrates conduzia 
a conversa, desconstruindo o que o seu interlocutor tinha como certo, até forçá-lo 
a perceber sua ignorância – essa era a etapa do processo conhecida como ironia. 
Após esse primeiro momento do diálogo, Sócrates começa a reconstruir um novo 
conceito, como que em um parto – essa etapa é conhecida como maiêutica e teve 
como fonte de inspiração a figura da mãe de sua mãe, que atuava como parteira. 
O interessante é que o processo não levava às conclusões já estipuladas por 
Sócrates, pois, às vezes, não havia nem resposta para as dúvidas levantadas. 
O que importava, portanto, era descontruir os pré-conceitos em busca de uma 
verdade que fosse universal. 
21
A Origem da Escola Capítulo 1 
Figura 3 - Método Socrático
Pré-conceito Desconstrução
Ironia Maiêutica
Reconstrução Novo conceito
Fonte: Os autores.
Sócrates elabora, com esse modelo, um verdadeiro projeto didático onde o 
sábio/filósofo exerce o papel de mediador dialógico, cujo trabalho é desconstruir 
os pré-conceitos (mitos e senso comum) em busca de novas respostas, desta 
vez baseadas em argumentos coerentes, elaborados através de uma reflexão 
radical (por se tratar de uma busca de conceitos fundamentais utilizados em todos 
os campos do pensar e do agir), rigorosa (por ser uma argumentação baseada 
em uma linguagem rigorosa, livre das ambiguidades das expressões cotidianas) 
e de conjunto (porque examina os problemas sob a perspectiva de conjunto, 
relacionando os diversos aspectos entre si). 
 
A pedagogia grega representava, assim, um ideal não apenas de 
conhecimento, mas de aperfeiçoamento da personalidade através do 
conhecimento. O que é importante ressaltar também sobre esse tipo de educação 
é que ela não foi fruto de uma legislação e nem resultou de um sistema público 
de ensino, constituindo-se como uma iniciativa “particular” diante do idealismo do 
povo grego e do seu grande apego às ciências e às artes, tornado possível graças 
à liberdade de expressão que se cultivava na pólis. 
Assim, a educação grega, principalmente a ateniense, era dividida em duas 
fases distintas: 
1) A educação da infância: Entre os cinco aos sete anos compreendia 
os ensinamentos paternos, frequentemente vagos diante do capital 
cultural das famílias. Nesse momento os preceitos intelectuais, físicos 
e morais eram ensinados a partir, principalmente, das poesias, fábulas, 
contos e cânticos. A partir dos sete anos as crianças eram entregues 
a um pedagogo, escravo, que acompanhava a criança, ensinando-a, 
levando-a à escola e cuidando dela. Na educação elementar todas as 
crianças aprendiam a gramática (escrita, leitura e cálculo) e, através da 
leitura e da recitação, aprendiam religião, história, geografia, política, 
geometria, cálculos, etc. Quando terminavam essa fase, as crianças 
provenientes das famílias pobres deixavam a escola e iam dedicar-se 
ao exercício profissional, enquanto as provenientes das famílias mais 
abastadas continuavam seus estudos.
22
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
2) A educação da juventude: Com 15 anos os jovens eram encaminhados 
para o ginásio, onde permaneceriam por mais três anos recebendo lições 
de diversas ciências, além da filosofia e da sofística. Quando atingiam os 
18 anos, os adolescentes eram recebidos entre os efebos (palavra grega 
que significa aquele que atinge a idade da puberdade), tornando-se 
aptos para o serviço público, de caráter militar ou cívico, com duração de 
dois anos. Assim, cada efebo recebia uma preparação física e intelectual 
para o exercício das atividades de guerra e de paz.
Há que se ressaltar, contudo, que a educação ateniense visava apenas a 
formação dos homens, já que as meninas eram educadas no interior dos gineceus 
(parte da habitação que, na Grécia antiga, era reservada às mulheres), pelas suas 
mães, para o exercício exclusivo das funções domésticas. 
Paideia: é a denominação do sistema de educação e formação 
ética da Grécia antiga, que incluía temas como ginástica, gramática, 
retórica, música, matemática, geografia, história natural e filosofia, 
objetivando a formação de um cidadão perfeito e completo, capaz 
de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na 
sociedade. O conceito surgiu nos tempos homéricos e permaneceu 
em sua essência inalterado ao longo dos séculos, embora variando 
suas formas de aplicação e as disciplinas envolvidas.
Em geral, podemos dizer que Platão foi o primeiro pedagogo da história, 
não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, 
principalmente, por pensá-lo numa dimensão ética e política. Tanto como seu 
mestre Sócrates, Platão rejeitava ardentemente a educação que se praticava 
na Grécia de sua época, cuja responsabilidade cabia aos sofistas, incumbidos 
de transmitir conhecimentos técnicos, sobretudo da oratória, aos jovens da elite, 
para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. Platão, tendo por base a ideia 
de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado e que os 
melhores entre eles serão os governantes, defendia que toda educação era de 
responsabilidade estatal - um princípio que só se difundiria muitos séculos depois. 
Além disso, ele também defendia a mesma instrução para os meninos e as 
meninas e o acesso universal ao ensino. 
23
A Origem da Escola Capítulo 1 
Apesar do que parece, contudo, Platão era um radical opositor da democracia, 
pois via no sistema democrático que vigorava em Atenas uma estrutura que 
concedia poder a pessoas despreparadas para governar, fato que fora provado, a 
seu ver, através da condenação de Sócrates, acusado de corromper a juventude 
e morto por isso. Para Platão, o poder deveria ser exercido por um tipo de 
aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária, 
porém, definido pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos, pois a sociedade 
só pode ser salva, ou ser forte, se tiver à frente seus homens mais sábios.
Para esta seleção Platão elaborou um modelo em que as aptidões dos 
alunos eram testadas em favor da comunidade. Assim, a formação dos cidadãos 
começaria antes mesmo do seu nascimento, pelo planejamento eugênico da 
procriação. Após nascerem, as crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas 
para o campo, pois Platão considerava que a influência da família corrompia a 
juventude com pré-conceitos e falsas opiniões – lembre-se da famosa Alegoria da 
Caverna e dos grilhões que prendiam os cativos. 
Na Alegoria da Caverna de Platão (A República, Livro VII), 
encontramos a história de alguns homens que, tendo sido feitos 
prisioneiros desde a tenra infância, vivem acorrentados em uma 
caverna sem que lhes seja possível ver senão uma parede à sua 
frente, de tal modo que, assistindo somente às sombras que são 
projetadas por transeuntes que passam entre um muro e uma 
fogueira ali presentes, com toda a sorte de instrumentos e objetos, 
passam a acreditar que veem a realidade tal como ela é. 
Platão questiona nessa história sobre o que aconteceria 
se, de alguma maneira, um destes prisioneiros fosse liberto e 
seguisse o caminho que leva para fora da caverna. O prisioneiro, 
evidentemente, não poderia sair daquele ambiente sem que 
passasse por um cuidadoso processo de adaptação, de forma que 
viesse a conhecer gradativamente omundo de fora da caverna ao 
ponto de poder olhar diretamente para o Sol, se assim desejasse. 
Este sujeito, devidamente adaptado e ciente desta nova realidade, 
teria provavelmente o anseio de retornar aos seus companheiros de 
prisão com o objetivo de lhes oferecer um pouco daquilo que pôde 
provar em sua jornada, abrindo-lhes os olhos para a verdade que 
24
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
lhes fora negada em sua existência; no entanto, nesse retorno à 
caverna é possível imaginar que os demais prisioneiros teriam muita 
dificuldade para acreditar em sua história e que julgariam que sua 
fuga deixou-o alienado ou louco, de tal modo que o desconsiderariam 
e talvez até zombariam dele, permanecendo fiéis às suas antigas 
concepções.
Figura 3 – Ilustração da alegoria da caverna
Fonte: Disponível em: <http://mito-da-caverna-platao.blogspot.com/2010/07/
interpretacao-da-alegoria.html>. Acesso em: 10 jul. 2017.
Com essa metáfora Platão pretende demonstrar que a existência 
dos seres humanos se assemelha à dos prisioneiros da sua história, 
sendo a caverna o mundo onde eles vivem. As sombras simbolizam 
as coisas que são percebidas e as correntes são os preconceitos e 
as opiniões. O prisioneiro que se liberta é o filósofo e a luz do Sol que 
o ilumina é a verdade. O mundo fora dessa caverna seria, portanto, 
o mundo real, iluminado pelo Sol da verdade, e o instrumento que 
liberta o prisioneiro é a própria filosofia. Através desta alegoria Platão 
permite, portanto, refletir sobre a condição humana e sobre os riscos 
da crença e da opinião. 
A alegoria platônica possibilita compreender que a alma aspira 
a alcançar o objeto real, a essência inteligível, transcendental, mas 
os sentidos, a educação e os preconceitos dificultam esse encontro, 
agindo no sentido de acorrentar os sujeitos. De qualquer forma, no 
entanto, há um grande esforço em caminhar na direção da verdade, 
pois há uma afinidade de natureza entre a alma e a coisa inteligível. 
A inteligência é atraída para a verdade, porque não está sob a 
égide dos sentidos, constituindo-se também como algo imaterial 
25
A Origem da Escola Capítulo 1 
e inteligível, de modo que se pode perceber a existência de uma 
harmonia entre a inteligência e o inteligível. Segundo Platão, esse 
processo deixa ver que em geral o corpo não é fonte confiável de 
conhecimento, mas de engano. O mundo é feito de aparências, de 
ilusões. Deste modo, deve-se buscar a verdade das coisas. Platão 
falava que os prisioneiros da sua alegoria estavam presos desde a 
infância, simbolizando a prisão que o corpo impõe à alma, algemada 
à tradição. Os presos o estão pelas pernas, pois o conhecimento 
sugere um caminhar. Não veem, porque ver é conhecer. Todo o 
homem é prisioneiro de seus próprios preconceitos: tudo para eles 
é mera projeção do real, pura ilusão. Se os prisioneiros, contudo, 
reconhecessem a ilusão, reconheceriam também a sua ignorância. 
Não conversam, pois seria uma troca de informações que faz 
conhecer. A tarefa do filósofo é libertar as pessoas de suas prisões 
através do reconhecimento da própria ignorância. 
Os prisioneiros precisam de auxílio para deixar a ignorância e 
educar sua alma a uma escalada que parte da ilusão, passa pela 
crença, percorre os objetos matemáticos e chega finalmente às 
ideias. É possível imaginar, no entanto, que o prisioneiro que tivesse 
que passar pela experiência de se adaptar à luz do verdadeiro Sol 
preferiria permanecer nas sombras, pois a caminhada em vista do 
conhecimento é um percurso longo e difícil, mas o único possível 
para se chegar ao Sol da Verdade, do Bem e do Justo (CHAUÍ, 2002). 
Vive-se uma realidade onde o enganoso se faz, segundo Platão, 
verdade e a verdade se transforma em utopia, de modo que somente 
os momentos de crise, onde o certo se torna incerto, é que podem 
gerar mudanças de atitude. O sujeito passa a questionar suas 
crenças e suas opiniões, interrogando-se sobre suas causas e seu 
sentido (o que é, como é, por que é), em busca de razões, de certezas 
mais confiáveis, que serão, numa perspectiva política da teoria, 
fundamento de uma visão de mundo que valoriza o diálogo como 
fonte de libertação. Essa perspectiva também configura a filosofia e, 
de certo modo, as próprias tecnologias modernas, como instrumentos 
para romper os grilhões da opressão e guiar os homens que ainda 
não veem, pois elas funcionam como um espaço de encontro e de 
discussão – ágora, que era a praça principal na constituição da pólis 
grega, onde o cidadão grego convive com o outro e onde ocorrem as 
discussões políticas e os tribunais populares.
26
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Até os 10 anos, portanto, a educação seria predominantemente física e 
constituída de brincadeiras e esporte; só depois começaria a etapa da educação 
musical, que criaria uma propensão à justiça, e para atrair e tornar mais 
interessantes os conteúdos de matemática, história e ciência; depois dos 16 anos, 
à música se somariam os exercícios físicos, com o objetivo de equilibrar força 
muscular e aprimoramento do espírito; aos 20 anos, os jovens seriam submetidos 
a um teste para saber que carreira deveriam abraçar – os aprovados receberiam 
mais dez anos de instrução e treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No 
teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os 
aprovados para a filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar 
com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos terminaria a preparação 
dos reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, 
onde testariam os conhecimentos entre os homens comuns, trabalhando para se 
sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos em todas estas etapas é que 
se tornariam governantes.
Você conheceu um pouco do modelo educacional grego, das 
propostas educacionais de Sócrates e Platão, além das noções 
humanistas que permeavam seu ensino. Platão foi o primeiro 
pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o 
seu tempo, mas, principalmente, pensando numa dimensão ética e 
política. Agora sugerimos que você vá até a internet e pesquise um 
pouco mais sobre como funcionava a Paideia de Platão, cujo modelo 
inspirava-se na figura de Sócrates e no cuidado das crianças desde 
a mais tenra idade para que não fossem corrompidas pelo poder das 
crenças e das opiniões. É uma proposta radical de ensino, nunca 
implementada, mas muito interessante para pensar as possibilidades 
para uma educação cosmopolita!
O Conhecimento como Instrumento 
de Poder
É interessante notar que Aristóteles, discípulo de Platão e um dos grandes 
filósofos gregos, atuou como mestre de Alexandre III, comumente conhecido 
como Alexandre, o Grande – rei da Macedônia; e encerrou a história grega até 
aqui apresentada. O espírito romano, como resultado direto de um inventário de 
27
A Origem da Escola Capítulo 1 
conquistas, se caracterizou por ter um sentido prático e utilitário e a educação 
romana, por sua vez, passou a ser orientada para o aperfeiçoamento do próprio 
Estado. O ideal educativo dos romanos, durante seu período antigo, que se 
seguia ao fim da civilização grega, foi a preparação da juventude para os serviços 
militares, através de uma rígida educação física e pelo desprezo da cultura 
intelectual. Há também nesse período uma grande valorização do poder pátrio, 
com o advento do absolutismo familiar, onde o homem mantinha a função de rei 
e sacerdote, podendo exercer o direito de vida e de morte sobre a sua esposa, 
filhos e escravos. Dentro da sociedade, contudo, o homem era ainda um cidadão 
e, sendo membro da República, tinha que servir ao Estado. A educação dos filhos, 
da mesma forma, era atribuição do pai, que detinha absoluta liberdade no ensino 
das novas gerações, transmitindo seu capital cultural, econômico, social e político. 
Somente após um período de transição, aproximadamente no século III 
a.C., é que Roma passaa receber a influência dos povos e intelectuais gregos, 
que estabeleceram ali as primeiras escolas, destinadas a completar os estudos 
domésticos e, posteriormente, expandi-los através do ensino secundário. Foi 
assim que, com a helenização da cultura romana, houve a fusão entre a educação 
romana e a grega, fazendo com que os romanos perdessem suas virtudes cívicas 
e familiares, além das tradições religiosas e morais. O ensino passa a se dirigir, 
portanto, para a formação de oradores e magistrados, com a formação de cursos 
superiores e a estruturação de métodos empíricos (baseados na experiência e 
na observação), aplicados sob a égide de uma disciplina severa e muitas vezes 
até mesmo cruel. O ensino, ao contrário dos gregos, não visava a totalidade, 
harmonia e perfeição, pois estava subordinado, como dissemos, a um objetivo 
prático e utilitário, que resultava num modelo pragmático de ensino. 
É importante destacar que neste período houve também o surgimento do 
cristianismo, que inicialmente foi perseguido diante do risco que oferecia à ordem 
da República e ao poder exercido pelos governantes – havia uma esperança 
popular de que a proposta apresentada de um novo reino satisfaria o anseio de 
justiça diante de um governo cruel e opressor da época. Assim, o Império Romano 
passou a perseguir os cristãos, que muitas vezes eram presos, torturados e mortos 
– o Coliseu, em Roma, foi o palco de muitas dessas cenas, onde os cristãos eram 
lançados aos leões como entretenimento às multidões. Contudo, ao longo de 
séculos, a perseguição, que se instituíra cada vez mais cruel, culminando com a 
morte de milhares de cristãos, tornara-se inútil e até mesmo não proveitosa.
Esse cenário permaneceu inalterado durante muito tempo, até a conversão 
de Constantino, que, enquanto imperador romano, determinou o fim da 
perseguição aos cristãos e, paralelamente, incentivou a sua expansão, ao adotar 
o cristianismo enquanto religião “oficial”. Foi assim que, aos poucos, enquanto o 
Império Romano sucumbia, sendo dividido, a Igreja Católica se estabelecia e se 
28
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
fortalecia através de acordos entre aqueles que aos poucos passavam a ocupar 
o poder, na conformação daquilo que conhecemos hoje como sistema feudal. Os 
novos reis, detentores das terras, estabeleciam relações com os senhores feudais, 
que mantinham uma teia de contatos com seus vassalos, mediados sempre pela 
Igreja, que exercia um importante papel ideológico nesta tessitura. 
Para saber mais sobre o cristianismo e a perseguição do 
Império Romano, acesse: <http://imperioroma.blogspot.com.
br/2010/03/perseguicao-aos-cristaos.html>.
Diante desse novo cenário, a Igreja passou a realizar pactos paralelos com os 
reis, organizando teias de relacionamentos, que lhe fomentavam poder suficiente 
para gerir um modelo político e econômico capaz de erigir uma estrutura em que ela 
podia dirigir os rumos dos acontecimentos, determinando acordos e estabelecendo 
as diretrizes para os feudos, que passaram a ter que se subjugar ao poder ora 
imposto. O poder da Igreja, portanto, estava intimamente ligado ao do Estado. Foi 
isso que verificamos no decorrer da Idade Média com o advento das Cruzadas e da 
Inquisição, cujo papel era consolidar o poder da Igreja diante dos ateus (aqueles 
que não participavam dos acordos promovidos, ditos como dogmas). 
A perseguição ora impingida aos que não corroboravam com os dogmas da 
Igreja produziu um saldo de incontáveis vítimas de torturas e perseguições, que 
eram condenadas e forçadas ao silêncio. Galileu Galilei foi um exemplo dessa 
situação, tendo sido perseguido por afirmar que a Terra girava em torno do Sol e 
não o contrário (pense no impacto desta teoria diante da pregação da Igreja de 
que o homem teria sido feito à imagem e semelhança de Deus e que a Terra fora 
feita para seu uso, como um presente, que, portanto, não podia ser visto como 
algo periférico dentro de um sistema geocêntrico/antropocêntrico). 
29
A Origem da Escola Capítulo 1 
Depois de conhecer sobre a perseguição da Igreja contra 
Galileu Galilei, que tal pesquisar um pouco mais sobre o monge 
Giordano Bruno e Joana D’Arc, que também foram perseguidos, mas 
que acabaram mortos por não voltarem atrás em suas crenças e 
afirmações? Isto para poder pensar um pouco sobre a relação entre 
esta perseguição e seu resultado, expresso pela afirmação de que a 
Idade Média se constituiu como um período de trevas. 
A Igreja passou a determinar até mesmo a transmissão do conhecimento, 
organizando uma lista de livros proibidos (Index Librorum Prohibitorum). Além do 
mais, a cópia/guarda/distribuição dos livros passou a ser de responsabilidade da 
instituição, que mantinha as bibliotecas e detinha o controle das reproduções, que 
eram realizadas pelos seus monges copistas. O ensino também acabou sendo 
controlado pela Igreja Católica, que passou a deter a responsabilidade sobre a 
educação formal, organizando pela primeira vez um modelo formal de educação, 
com a abertura das primeiras universidades, sempre controladas pelo clero, a quem 
cabia o ensino das elites. É interessante destacar que nesse momento o controle 
da educação e da leitura/escrita era extremamente importante para a manutenção 
do poder ideológico atribuído à organização eclesial. O clero era detentor de 
uma educação privilegiada e era responsável pela exclusiva tarefa de leitura e 
interpretação das escrituras sagradas, o que oferecia à Igreja a possibilidade 
de determinar os rumos da história. Assim, a educação foi organizada em vista 
da exclusão das grandes massas, que deveriam apenas trabalhar para manter 
as castas superiores, dentre as quais o clero. Apenas as elites que compunham 
as relações de poder mais elevadas é que recebiam o letramento e a educação 
necessários para a manutenção de seu status e da ordem estabelecida. 
Em resumo, esse período, a partir do século II, é conhecido como patrística 
e compreende a fase em que é estabelecida uma rígida aliança entre fé e razão 
– nesse período são elaboradas interpretações e adaptações das obras clássicas 
em defesa do cristianismo. De outro modo, a partir do século IX até o século XIV, 
a patrística é substituída pela escolástica, que continua a aproximar fé e razão – 
a razão era tida comumente como serva da teologia e, por isso, com frequência 
as disputas terminam com o apelo ao princípio da autoridade, que consiste na 
recomendação de humildade para se consultar os intérpretes devidamente 
autorizados pela Igreja. 
30
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Atividade de Estudos:
1) Assista ao filme O Nome da Rosa, inspirado na obra de Umberto 
Eco, que relata um pouco dessa história de controle da Igreja sobre o 
conhecimento, e descreva quais são as suas impressões sobre esse 
período e o impacto que teve no desenvolvimento da educação.
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A Escola como Mecanismo de 
Reprodução Social na Idade 
Moderna
O poder da Igreja Católica e a conformação escolar aos seus interesses 
acabam entrando em decadência por uma série de fatores que, em conjunto, por 
um longo período, determinaram também o fim da Idade Média e do feudalismo, 
com maior abertura ao conhecimento e surgimento de novos mecanismos de 
subordinação. Assim, podemos dizer que a peste negra, que dizimou entre 25 
e 75 milhões de pessoas – mais ou menos um terço da população europeia –, a 
Guerra dos Cem Anos e a fome que se estabeleceram na Europa do século XIV 
criaram um ambiente aterrorizador, onde não havia expectativas para as pessoas. 
Foi assim que, com a grave crise que o sistema feudal passou a vivenciare com 
o advento da Revolução Industrial, aqueles que não participavam dos acordos da 
época, conhecidos como burgueses (eram comerciantes que se estabeleceram na 
beira das estradas que ligavam os feudos e viviam basicamente do comércio de 
trocas), e não tinham obrigações civis como os vassalos, aproveitaram o momento 
e, com os recursos que mantinham, promoveram o início da industrialização 
manufatureira, oferecendo vagas de empregos àqueles famintos e miseráveis que 
ora se amontoavam nos falidos feudos. 
31
A Origem da Escola Capítulo 1 
SOBRE A INVENÇÃO DA PRENSA TIPOGRÁFICA
A cidade alemã de Aachen foi palco de uma verdadeira 
revolução: havia grandes peregrinações para visitar relíquias 
consideradas as mais sagradas do cristianismo (o cueiro de 
Jesus, os mantos da Virgem Maria e o pano no qual a cabeça de 
João Batista foi enrolada). Acreditava-se que esses objetos tinham 
poderes miraculosos, emitindo raios invisíveis capazes de curar 
doenças e conceder outras graças. Como havia uma corrida de 
grandes multidões, em 1300 deliberou-se que os objetos seriam 
expostos apenas uma vez a cada sete anos, durante apenas duas 
semanas. Para evitar que as pessoas precisassem se aglomerar 
para tocar as relíquias, foram criados espelhos que teriam a função 
de reter a energia sagrada. Poucos tinham autorização para fabricar 
esses espelhos.
Tendo sido criado entre fabricantes de moedas, Gutenberg 
teve a ideia de tornar o processo de fabricação massivo através de 
prensas. Com esse mecanismo Gutenberg passou a enxergar outro 
mercado próspero com relação aos livros e assim repensou sua 
tecnologia desenvolvendo uma prensa tipográfica, onde fez a Bíblia 
com 42 linhas, apresentando-a numa feira em Frankfurt, onde Enea 
Picolomini, mais tarde Pio II, a viu, escrevendo uma carta para um 
clérigo da alta hierarquia sobre a novidade, que se espalhou como 
uma febre, primeiro em versões caras, como as manuscritas, sendo 
depois popularizadas em versões de bolso.
Fonte: Powers (2012, p. 113-125).
Neste novo cenário presenciamos também o surgimento da prensa 
tipográfica, cujo papel seria o de automatizar a produção de livros, possibilitando 
sua reprodução em massa. 
32
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A prensa possibilitou a impressão em grande escala da Bíblia, o que, por 
sua vez, gerou uma verdadeira revolução diante da democratização do acesso à 
interpretação, o que presenciamos através da Reforma Protestante de Martinho 
Lutero. A reforma protestante tem como principal contribuição a possibilidade de 
liberar a interpretação dos textos sagrados à exegese popular, permitindo uma 
abertura do cenário medieval à produção do conhecimento e livre circulação de 
ideias. A partir desta nova relação de forças surge o Iluminismo e, consequentemente, 
a Idade Moderna, como um ambiente fértil, no qual se manifestarão em breve as 
teorias do liberalismo que justificam e fundamentam o capitalismo enquanto modelo 
de regulamentação social, econômica, política e cultural. 
Iluminismo: Segundo Kant, o Iluminismo é a saída dos homens 
do estado de minoridade devido a eles mesmos. Minoridade é a 
incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. 
Essa minoridade será devida a eles mesmos se não for causada 
por deficiência intelectual, mas por falta de decisão e coragem para 
utilizar o intelecto como guia. ‘Sapere aude! Tem coragem de usar 
teu intelecto!’ É o lema do Iluminismo.
Fonte: Abbagnano (2007, p. 535).
O Iluminismo, de forma geral, caracterizou-se pela defesa de ideais que 
pautavam a renovação das práticas e das instituições vigentes em vista da 
felicidade, da justiça e da igualdade. Assim, sua crítica dirigia-se à dominação 
religiosa, ao estado absolutista e aos privilégios das elites e, como forma de superar 
tais injustiças, a razão passou a ser vista como o instrumento fundamental para 
promover o progresso da humanidade – visão esta que fundamentou as concepções 
liberalistas e positivistas enquanto núcleos basilares da Idade Moderna. 
Por defender a razão como instrumento para a conquista da felicidade, justiça 
e igualdade, o período também passou a ser conhecido como Século das Luzes 
ou Ilustração. De modo geral, os pensadores da época estabeleceram importantes 
contribuições para a escola moderna ao determinar a liberdade de pensamento 
e expressão como norte da prática educativa, que teria como princípios a 
universalidade, a individualidade e a autonomia. Ademais, por entender que sem 
a devida ilustração ninguém alcançaria a felicidade, os pensadores do período 
33
A Origem da Escola Capítulo 1 
defendiam que a educação deveria ser gratuita, obrigatória e laica. Para o campo 
da educação, são exemplos de importantes pensadores desse período: Erasmo 
de Roterdã, Jan Amos Komensky (Comênio), Jean-Jacques Rousseau, Johann 
Heinrich Pestalozzi, Johann Friedrich Herbart e Friedrich Froebel.
Resumidamente, o movimento iluminista acabou nutrindo grandes 
transformações, com a expansão dos direitos civis e a diminuição das influências das 
elites, de modo que um dos marcos desse momento foi a promulgação da Declaração 
dos Direitos do Homem e do Cidadão, enquanto documento político de grande 
impacto sobre o direito internacional e, destarte, da própria legislação educacional. 
Para conhecer a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
de 1789, acesse: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/>.
A grande mudança neste cenário, contudo, se estabeleceu com o advento 
da Revolução Industrial, séculos mais tarde (XVIII e XIX). Essa revolução se 
deu, basicamente, pela substituição do trabalho artesanal pelo assalariado, 
com o uso das máquinas (lembre-se de que, como vimos anteriormente, o início 
deste processo foi organizado pelos burgueses). Até esse período a maioria da 
população ainda vivia no campo, produzindo o que consumia, agora, contudo, a 
economia passa a se organizar em torno da concepção de mais-valia e, por isso, 
o empregado passa a vender sua força de trabalho aos donos das fábricas.
As novas condições de emprego nessas primeiras fábricas se assemelhavam 
à escravidão, pois eram oferecidas mínimas condições de trabalho: muitos dos 
trabalhadores tinham um cortiço como moradia e ficavam submetidos a jornadas 
de trabalho que chegavam até a 80 horas por semana; o salário era medíocre 
(em torno de 2,5 vezes o nível de subsistência) e tanto mulheres como crianças 
também trabalhavam, recebendo um salário ainda menor. Assim, ou as pessoas 
se sujeitavam a estas novas condições de trabalho ou permaneciam atreladas ao 
antigo regime e, desta forma, padeciam na miséria.
 
No tocante à educação, os impactos da Revolução Industrial se deram, 
principalmente, pela necessidade das indústrias, de mão de obra qualificada, 
o que fez com que se estabelecesse grande expansão da educação para as 
camadas mais pobres da população. A oferta, porém, era de uma educação 
34
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
de baixa qualidade, utilitarista, com fins profissionalizantes, conformadores 
e disciplinadores. Em geral, a escola passa a exercer um papel de grande 
importância para a conformação das massas aos interesses das elites. De 
qualquer forma, apesar dos esforços empreendidos pelas elites em vista do 
disciplinamento popular, alguns ainda se revoltaram, promovendo diversos 
movimentos com o objetivo de defender o trabalhador, o que gerou um conturbado 
momento social.
Para conhecer mais sobre o poder das fábricas e das escolas 
na formação do sujeito moderno, sugerimos que você leia a obra 
Vigiar e Punir, de Michel Foucault, que fala sobre a evolução histórica 
da legislação penal e respectivos métodos coercitivos e punitivos 
adotados pelo poder público na repressão da delinquência. Métodos 
que vão da violência física até instituições correcionais.
O que percebemos é que, com a democratização do conhecimento e acesso 
à educação impingidos por tais movimentos, foipreciso elaborar um sistema 
cada vez mais complexo para manter as relações de dominação até então 
constituídas. Para tanto, instituições como a própria família, a escola, a Igreja e 
o Estado se tornaram fundamentais – elas passaram a operar com a formulação 
de mecanismos estruturais que agem no sentido de organizar a sociedade e as 
relações que se estabelecem em torno dela. Para Bourdieu (1982, 1998, 2001, 
2003), por exemplo, o habitus é o princípio ativo de unificação das práticas e das 
representações, que é construído e naturalizado através destas instituições.
 
É como se fôssemos vítimas inconscientes de uma violência simbólica, 
constituída como tal por que não dispomos de ferramentas para entendê-la assim, 
tornando nossa história uma mera legitimação de processos distintivos em que o 
capital, seja ele econômico, cultural ou social, por exemplo, se constitui como um 
marco diferencial de uma disparidade já constituída e, desse modo, incorporada, 
objetivada e institucionalizada. Temos, resumidamente, disposições que marcam 
nossa posição e que geram, por sua vez, as diferenças entre o que se prega 
como sendo bom e mau, belo e feio ou certo e errado.
Bourdieu (1982, 1998, 2001, 2003) oferece, neste sentido, um sistema 
complexo de conceitos (habitus, campos, capital cultural, capital econômico, 
capital institucional, capital social, violência simbólica, illusio, éthos, héxis 
corporal etc.) que nos permitem vislumbrar como funciona a sociedade e como 
35
A Origem da Escola Capítulo 1 
somos determinados à reprodução de um sistema arbitrário. Somos educados 
pelas diversas instituições sociais de modo a não compreender como funciona 
realmente a sociedade, bem como somos motivados de diversas maneiras a 
perceber o “jogo” como interessante de ser jogado e, portanto, investir nossas 
forças e nosso capital para mantê-lo em funcionamento, pois assim mantemos 
nossa posição e os nossos privilégios herdados ou conquistados. A luta que se 
estabelece eventualmente não é para mudar as estruturas, mas para mudar a 
ordem das posições dentro do sistema, perpetuando o modelo e as arbitrariedades 
já constituídas nesse modelo. Essa relação de cooptação à ordem estabelecida é 
conhecida em Bourdieu (1998) como a illusio e se constitui essencialmente como 
o conjunto das estratégias incorporadas nos indivíduos que o fazem acreditar que 
o jogo é importante e que, portanto, precisa ser jogado. 
A escola ocupa, portanto, uma função de grande importância na constituição 
do cenário moderno, estabelecendo, através de suas práticas, a manutenção das 
posições herdadas e a permanência das relações de poder entre aqueles que são 
dominados e os que dominam. Para tal, a escola elabora e executa esquemas 
cada vez mais poderosos e bem articulados para produzir pessoas aptas a exercer 
seu papel dentro da sociedade. A educação se torna parte integrante da formação 
humana e o professor uma ferramenta de controle através de suas práticas e 
métodos pedagógicos. A escola se transforma, portanto, num instrumento de 
massificação, à luz das próprias fábricas.
Atividade de Estudos:
1) O Iluminismo tece um projeto democrático para a educação que, 
contudo, se choca com os interesses comerciais do liberalismo/
capitalismo, tornando a escola mais um ambiente de reprodução 
social. Neste sentido, que tal refletir um pouco e descrever como 
seria se os princípios originais deste projeto libertário fossem 
aplicados à educação? Seja crítico e descreva como seria a 
escola se o “capital” não tivesse adquirido tamanha importância 
para nossa sociedade e se, portanto, tivéssemos a autonomia 
como guia de raciocínio em nossas práticas pedagógicas. 
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Algumas Considerações
Caro estudante, esperamos que você tenha conseguido se apropriar dos 
conceitos apresentados neste capítulo, pois eles compõem os fundamentos 
epistemológicos da educação, perante os quais ela se instituiu e sob os quais 
toda a legislação educacional e o direito irão atuar. 
Você conheceu uma perspectiva teórica a partir da qual a história da 
educação foi construída desde os primórdios da civilização, passando pelos 
gregos, romanos, até chegar ao período moderno.
É importante lembrar, porém, que tecemos a conjuntura da civilização ocidental 
e, portanto, muitos cenários foram desprezados nestas considerações, sem que 
com isso tenhamos exercido qualquer julgamento de valor. Há, pois, muitas outras 
culturas e povos que poderiam ter sido citados, mas nosso objetivo contemplou 
apenas uma linha sócio-histórica, perante a qual construímos nossas reflexões. 
Assim, com as contribuições oferecidas neste capítulo esperamos tê-
lo capacitado para seguir adiante, com o objetivo de conhecer melhor como a 
educação se constituiu no Brasil ao longo da história até os dias mais recentes.
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 5ª edição. São 
Paulo: Martins Fontes, 2007.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: 
introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.
BOURDIEU, Pierre. As contradições da herança. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, 
A. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1998.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 
BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do 
campo científico. São Paulo: Editora da UNESP, 2003.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma 
teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
POWERS, William. O Black Berry de Hamlet: uma filosofia prática para viver 
bem a era digital. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012.
VALENTE, Nelson. Sistemas de Ensino e Legislação Educacional. São Paulo: 
Editora Panorama, 2000.
CAPÍTULO 2
A Educação no Brasil
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
� Definir os vários períodos pelos quais a educação passou na história do país e 
as bases legais norteadoras de cada um. 
� Distinguir como a educação se consolidou no país, permitindo um debate sobre 
a história da escola brasileira e sua legislação
38
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
39
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Contextualização
Você é convidado, neste momento, a navegar conosco em torno da história 
da educação de nosso país, conhecendo melhor suas características e aquilo que 
contribuiu para a sua constituição. Nosso objetivo é conseguir entender como a 
educação foi estruturada e a partir de quais fundamentos as práticas pedagógicas 
foram se constituindo ao longo do tempo. Esperamos, portanto, que você seja 
capaz de, ao final do capítulo, poder descrever em linhas gerais todo esse cenário 
histórico, posicionando-se sobre os seus aspectos mais relevantes. 
A Educação no Período Colonial 
Brasileiro
Diante do que estudamos até o momento, você deve lembrar como a “fé” 
acabou se tornando um importante elemento para justificar o poder do Estado, 
colaborando para a sua afirmação e manutenção, bem como aproveitando-se 
dele em seu próprio benefício. Poderíamos dizer que, de algum modo, a religião 
foi utilizada como um mecanismo de propaganda ou marketing, na medida em 
que ainda não existiam o jornal, o rádio, o outdoor ou a televisão para executar tal 
empreendimento. Assim, o período colonial brasileiro nos remete a um momento 
da nossa história em que os colonizadores estavam ansiosos por encontrar 
novas terras onde pudessem explorar suas riquezas, gerando poder e glória, sem 
qualquer tipo de preocupação com os meios necessários para tanto, já que de 
antemão possuíam o consentimento e a bênçãoda Igreja para seus planos – a 
justificativa para a conquista das novas terras e povos era a obtenção de almas 
para o Reino de Deus. Os conquistados, por sua vez, precisavam, para obter a 
felicidade eterna, renunciar às suas crenças e seus modos de vida em favor das 
crenças e modos de vida dos conquistadores, a quem serviriam como escravos, 
sofrendo toda espécie de abusos. 
O Brasil se tornou, desta maneira, para os europeus, apenas uma fonte de 
recursos naturais e humanos, que devia ser mantida na opressão, maximizando 
desde então um sistema econômico capitalista injusto, em que o país exportava 
produtos como a borracha e o café, por exemplo, importando todos os produtos 
manufaturados de que necessitasse a preços elevados. 
Em conformação com esse ideal de colonização europeu e em reação à 
Reforma Protestante, estudada no capítulo anterior, encontramos os jesuítas 
atuando no país em vista da educação das novas gerações e da conversão 
dos povos para a fé católica. O trabalho jesuíta também se atrelava, como 
40
 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
dissemos, aos interesses políticos de Portugal, ao oferecer uma justificativa 
para a exploração dos povos e da terra. Foi por este motivo, em especial, que 
eles receberam a incumbência de, além de expandir o poder da Igreja Católica, 
dedicar-se ao trabalho educativo do povo brasileiro. A intenção, basicamente, era 
catequizar os povos para que os colonizadores pudessem explorá-los com maior 
facilidade e ensinar-lhes a língua e a gramática para que pudessem aprender os 
costumes europeus e as doutrinas católicas.
Para atingir seus objetivos, as escolas jesuítas unificavam seu método 
de ensino, dando ênfase à concentração e atenção silenciosa dos alunos, 
num processo de ensino ligado à repetição e memorização dos conteúdos 
apresentados pelos professores. Todos estes princípios foram apresentados num 
compêndio, denominado Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos), que resumia as 
normas e estratégias para a pedagogia jesuíta. O documento condensava estudos 
humanísticos e científicos com o objetivo de formar homens capazes de pensar 
e escrever, no exercício do que denominavam como virtude. Assim, o educando 
deveria poder desenvolver suas disposições espirituais e suas faculdades 
mentais, volitivas e afetivas, conforme sua natureza e seu destino. Neste sentido 
é interessante lembrar daquilo que foi falado sobre Platão no capítulo anterior, em 
relação à sua perspectiva ideal de ensino, acrescentando que sua teoria, durante 
a escolástica, foi reconfigurada diante dos interesses da Igreja, o que tornou o 
pensamento dualista do filósofo totalmente integrado com os dogmas da Igreja 
– essa releitura foi um projeto escolástico aplicado a grandes pensadores como 
Platão e Aristóteles como forma de adequá-los ao pensamento cristão da época, 
quando suas obras já não puderam ser restritas à leitura das pessoas por causa 
do surgimento da prensa de Gutemberg.
Além das regras e das normas, o Ratio Studiorum apresentava também 
níveis de ensino e as disciplinas que os alunos deveriam cumprir em sua vida 
escolar. Desta forma, havia um período de quatro anos que seria dedicado 
ao currículo teológico, com estudos da teologia escolástica, teologia moral 
e sagrada escritura. Já na base filosófica, que compreendia um período de 
três anos, seriam abordados estudos sobre lógica, cosmologia, ciências, 
psicologia, física, matemática, metafísica e filosofia moral. Por último, na parte 
do currículo humanista, que correspondia ao que hoje entendemos como 
Ensino Médio, com duração de mais três anos, havia estudos direcionados à 
retórica, humanidades e gramática.
41
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Ratio Studiorum: Conjunto de normas criado para regulamentar 
o ensino nos colégios jesuíticos. Sua primeira edição, de 1599, além 
de sustentar a educação jesuítica, ganhou status de norma para toda 
a Companhia de Jesus. Tinha por finalidade ordenar as atividades, 
funções e os métodos de avaliação nas escolas jesuíticas. Não 
estava explícito no texto o desejo de que ele se tornasse um método 
inovador que influenciasse a educação moderna, mesmo assim, foi 
ponte entre o ensino medieval e o moderno.
A Guerra Guaranítica foi um confronto violento entre índios 
guaranis e soldados portugueses e espanhóis ocorrido no Sul do 
Brasil em meados do século XVIII após a assinatura do Tratado 
de Madri (1750), o qual delimitava as fronteiras espanholas e 
portuguesas da América do Sul.
Para saber mais sobre a Ratio Studiorum acesse a obra 
completa em: <http://www.bc.edu/sites/libraries/ratio/ratio1599.pdf>.
O currículo jesuíta era constituído com base numa disciplina rígida, com cinco 
horas diárias de estudos e pautada nos sentimentos de honra e dignidade, além 
do espírito de competição. Contudo, se fosse necessário fazer uso dos castigos 
físicos, era chamado um corretor para aplicar a palmatória, com o objetivo não de 
ferir ou humilhar o aluno, mas apenas causar-lhe uma pequena dor física como 
um meio eficiente de disciplina. 
Esse projeto educacional foi desenvolvido por aproximadamente 210 anos, 
até os jesuítas serem expulsos do Brasil, entre os anos de 1759 e 1760, por 
serem acusados pelo Marquês de Pombal de conspiração contra Portugal durante 
as Guerras Guaraníticas, episódio no qual os padres das missões do Sul teriam 
armado os índios contra as autoridades portuguesas em uma sangrenta batalha. 
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
Outro motivo da expulsão teria sido dar fim aos conflitos envolvendo os 
colonos e os padres jesuítas, já que os religiosos se negavam a ceder seus 
catequizandos para o empreendimento colonial (escravização dos indígenas 
brasileiros). Assim, na época de sua expulsão os jesuítas chegaram a manter 36 
missões, 17 colégios e seminários, além das escolas de primeiras letras instaladas 
em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus, de modo que 
a saída dos jesuítas determinou uma verdadeira crise no processo educacional 
brasileiro, que viveu uma ruptura radical em seu sistema de ensino.
Extintos os colégios jesuítas, o governo não poderia deixar de suprir a 
enorme lacuna que se abria na vida educacional tanto portuguesa como de 
suas colônias e, desta maneira, em substituição ao modelo jesuíta de educação, 
acabamos assistindo à reforma pombalina dos estudos menores, cujo objetivo 
principal foi criar uma escola que fosse útil para os fins do Estado e não mais 
para os fins da Igreja Católica, como outrora se passava. O que aconteceu, 
contudo, foi que na prática não existia um sistema de ensino no país. O novo 
modelo era baseado em “aulas régias”, compreendidas enquanto unidades de 
ensino, desvinculadas umas das outras, sem qualquer articulação ou projeto. 
Não havia, portanto, currículo e nem foram instituídas estruturas de ordem ou 
tempo capazes de organizar o desenvolvimento pedagógico das escolas. Em 
lugar de um sistema mais ou menos unificado, como acontecia com as escolas 
jesuítas, fundamentado na seriação dos estudos, o ensino passou a ser disperso 
e fragmentado, baseado em aulas isoladas que eram ministradas, em geral, por 
professores leigos e mal preparados. Os alunos tinham a liberdade de se inscrever 
nas disciplinas que lhes interessassem, independentemente de qualquer tipo de 
pré-requisitos. Já os professores eram pessoas indicadas por um Diretor Geral 
dos Estudos que deveria, em nome do Rei, nomear professores e fiscalizar sua 
ação na colônia, em concordância com os bispos católicos de ordens como a 
beneditina, franciscana ou carmelita. Esses professores, nomeados pelo poder 
do Estado, passavam a deter a propriedade das suas disciplinas para o restante 
da vida, independentemente de sua capacidade intelectual para exercê-las ou 
de seu desempenho para ministrá-las, como dissemos. De modo geral, esses 
professores eram mal pagos e constituíam um grupo improvisado, que recebia a 
docência como um título de nobreza e a gozavapor toda a vida. 
A situação se tornou tão caótica que Portugal logo percebeu que a educação 
no Brasil estava estagnada e que seria preciso oferecer uma solução urgente para 
o problema. Assim, em 1767, a Real Mesa Censória, que fora instituída com a 
função de examinar os livros que chegavam ou que circulavam em Portugal, passa 
a atuar também na administração e direção dos estudos das escolas menores de 
Portugal e suas colônias. As falhas experiências da reforma pombalina passam 
a serem revistas e, em 1772, foi criado o “subsídio literário” para a manutenção 
das escolas brasileiras – um imposto que possibilitou a criação de diversas aulas, 
43
A Educação no Brasil Capítulo 2 
como leitura e escrita, gramática latina, retórica, língua grega e filosofia, além do 
pagamento do salário dos professores, compra de livros, construção de museu de 
variedades, escolas e um gabinete de física experimental.
A preocupação básica da educação neste período passou a ser a 
formação da nobreza, para a qual eram exportados professores da Europa. 
Neste sentido, os objetivos passaram a ser simplificar os estudos, abreviando 
o tempo do aprendizado de latim, além de facilitar os estudos para o ingresso 
nos cursos superiores. 
Pedagogicamente, esta nova organização e os novos investimentos 
não representaram um avanço, afinal, as mudanças atendiam apenas 
às necessidades da elite da colônia. De outro modo, as transformações 
implementadas no nível secundário de ensino não afetaram o ensino escolar 
inicial, que permaneceu totalmente desvinculado da realidade. Assim, quem 
tinha condições de cursar o Ensino Superior, acabava tendo que enfrentar os 
perigos das viagens marítimas para frequentar a Universidade de Coimbra ou 
outros centros de ensino europeus – como as reformas pombalinas visavam 
transformar Portugal numa metrópole como a Inglaterra, a elite masculina 
deveria ser educada fora das colônias, para poder servir melhor na sua função 
de articular os interesses da camada dominante portuguesa.
Atividade de Estudos:
1) Faça uma breve reflexão sobre as mudanças que ocorreram após 
a expulsão dos padres jesuítas do Brasil e de como a laicização 
do ensino favoreceu as classes dominantes da colônia.
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 LEGISLAÇÃO E DIREITO EDUCACIONAL
A Educação no Período do Império: 
Independência?
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, tendo como berço 
principalmente a Inglaterra, representou um impulso aos planos portugueses para 
o Brasil. Houve assim um grande incentivo ao desenvolvimento das colônias, 
principalmente do Brasil, de onde se originavam as matérias-primas necessárias 
à emergente economia portuguesa, e onde se poderiam comercializar em grande 
escala os produtos manufaturados dos países europeus, sempre com grandes 
margens de lucro para a Pátria Mãe, Portugal. Assim, a Inglaterra ofereceu grande 
apoio à transferência da família real portuguesa para o Brasil (lembramos que 
junto com a família real foram transferidos para o país cerca de 15 mil funcionários) 
em troca da abertura do mercado aos produtos ingleses, com taxas alfandegárias 
reduzidas em relação aos concorrentes.
Sobre a educação, o reflexo da chegada da família real foi a concretização 
da reforma pombalina, que transformou a escola num verdadeiro centro de 
formação das elites dirigentes do país. Juntamente com a criação de cursos 
para a formação militar, médica, de agricultura, química, entre outros, também foi 
aberta a imprensa oficial e a primeira biblioteca brasileira. 
Quanto ao ensino primário, não foram feitas mudanças significativas, apenas 
foi estabelecida através da Constituição de 1824 que esta fase de aprendizagem, 
ainda que não claramente expressa na letra da Constituição, seria gratuita a todos 
os cidadãos (Art. 179). Também através de uma lei de 15 de outubro de 1827 foi 
estabelecido que escolas primárias deveriam ser criadas, desde que necessárias, 
em todas as cidades. A mesma lei determinava que escolas para meninas seriam 
também abertas nas cidades mais populosas e que os professores ingressassem 
na carreira através de concurso público. Por último, em 1854, o ensino primário 
foi dividido em duas etapas: na primeira, a elementar, seriam ensinadas noções 
de moral, religião, leitura e escrita, gramática, aritmética e pesos e medidas; já na 
segunda, a superior, os estudos da etapa anterior seriam explorados através de 
disciplinas específicas. 
De forma geral, o ensino primário não era difundido e nem ao menos 
oferecido como previam as regulamentações legais, seja pela falta de dinheiro 
das províncias, seja porque essa fase não era um requisito para a entrada no 
nível secundário, seja porque os índios escravizados eram proibidos de frequentar 
a escola, ou porque, principalmente, o objetivo era a formação das elites, motivo 
este pelo qual o Estado concentrou suas energias no ensino secundário e superior. 
45
A Educação no Brasil Capítulo 2 
Tornava-se necessário dotar o país com um sistema escolar 
de ensino que correspondesse satisfatoriamente às exigências 
da nova ordem política, habilitando o povo para o exercício 
do voto, para o cumprimento dos mandatos eleitorais, enfim, 
para assumir plenamente as responsabilidades que o novo 
regime lhe atribuía. Esta aspiração liberal, embora não 
consignada explicitamente na letra da lei, conquistou os 
espíritos esclarecidos e converteu-se na motivação principal 
dos grandes projetos de reforma do ensino no decorrer do 
Império (CARVALHO, 1972, p. 2).
Já o ensino técnico-profissional era praticamente desprezado pelo Estado, 
pois aqueles que terminavam essa modalidade de ensino não podiam adentrar 
no Ensino Superior. As elites utilizavam a escola apenas como via de acesso 
ao Ensino Superior e, desta forma, não ingressavam neste tipo de curso, que 
acabava sendo, portanto, desprezado pela administração pública. Para se ter 
uma ideia sobre esse panorama, em 1864 havia apenas 106 alunos matriculados 
em todo o país em cursos técnicos. 
 Da mesma forma, o ensino normal também não fazia parte das prioridades do 
Estado e, por essa razão, a formação dos professores acabou sendo desprezada. 
O ensino normal passou a ser oferecido em algumas poucas escolas pelo país, 
sempre no período noturno, e seus estudos abrangiam a base curricular do ensino 
secundário com algumas disciplinas relacionadas à docência.
O ensino secundário, por sua vez, tinha como objetivo preparar os estudantes 
para os cursos superiores, mantendo a base curricular do período colonial, com a 
organização das disciplinas de forma dispersa e pouco relacionada. 
Neste período foram criadas algumas escolas superiores, que serviam para 
a formação profissional. A partir da Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834, essas 
escolas passaram a ser de responsabilidade do poder central, que delegou 
o ensino primário e secundário para a administração das províncias, a quem 
caberia a responsabilidade pela legislação relativa à instrução pública e as 
formas de promovê-la. Foi por esta razão que as províncias criaram os liceus, que 
basicamente consistiam num estabelecimento que congregava as aulas que antes 
eram oferecidas de forma dispersa. O objetivo destes liceus, contudo, permanecia 
sendo o fomento dos estudantes para os exames preparatórios para ingresso nos 
cursos superiores. O Colégio Dom Pedro II foi uma das poucas experiências que 
a

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