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INTRODUÇÃO A dor foi definida, pela Associação Internacional para o Estudo da Dor, como uma desagradável experiência sensorial e emocional associada a uma lesão tecidual já existente ou potencial, ou relatada como se uma lesão existisse. Diz-se “relatada como se uma lesão existisse” quando se refere a alterações mais sutis do sistema nervoso central, como distúrbios bioquímicos ou psíquicos. Nessa situação, o paciente descreve a sensação dolorosa como se houvesse uma lesão tecidual, dizendo, por exemplo: “Parece que tenho uma ferida no peito”. A dor é também nosso mecanismo básico de defesa: ▪ Surge antes que ocorra uma lesão grave, pois provoca imediato afastamento de algum objeto que esta provocando um estímulo ou alguma ação que impeça lesão posterior; ▪ Evita objetos ou situações com os quais ou nas quais a lesão possa ocorrer posteriormente; ▪ A dor causada por lesões de articulações, infecções abdominais, além de outras doenças, impõe limites na atividade ou provoca a inatividade e o repouso, essenciais para a recuperação natural do organismo doente; Dor do membro fantasma Uma pessoa que teve amputação traumática de um braço ou de uma perna pode vir a sofrer dor do “membro fantasma”, que se torna crônica e acompanha o paciente por toda sua vida. Nesse caso, deixa de ser um sintoma de doença para se tornar uma síndrome clinica que requer atenção especial. Uma dor crônica pode ser tão terrível, intensa e temida, que alguns pacientes chegam a cometer suicídio para se verem livres de tal sofrimento. Nestes casos, ela não serve a nenhum propósito útil de defesa ou o que quer que seja para o organismo. FISIOPATOLOGIA A dor compreende três mecanismos básicos: transdução, transmissão e modulação. TRANSDUÇÃO É o mecanismo de ativação dos nociceptores, fenômeno que ocorre pela transformação de um estímulo nóxico – mecânico, térmico ou químico – em potencial de ação. Os nociceptores nada mais são que terminações nervosas livres de fibras mielínicas finas – a delta ou III – sensíveis aos estímulos mecânicos e/ou térmicos nóxicos; ou amielínicas – C ou IV – sensíveis aos estímulos citados e aos químicos. Deve-se ressaltar que, no ser humano, a estimulação isolada de fibras a delta cutâneas produz dor em pontada, a de fibras C cutâneas - dor em queimação; e a de fibras A delta e C musculares - dolorimento (aching pain) ou cãibra. Admitindo-se que a dor seja um sinal de alarme, compreende-se que o estímulo adequado para provoca-la em um tecido é aquele que, em geral, é capaz de lesioná-lo. Observa-se também, uma extrema variabilidade na sensibilidade dos diferentes tecidos e órgãos aos estímulos dolorosos, o que reflete a distinta concentração e distribuição de terminações nociceptivas neles. Os parênquimas cerebral, hepático, esplênico e pulmonar, por exemplo, são praticamente indolores. Em contrapartida, o tegumento e o revestimento fibroso do sistema nervoso – meninges; dos ossos – periósteo; da cavidade abdominal – peritônio parietal; e da cavidade torácica - pleura parietal são extremamente sensíveis. TRANSMISSÃO Esse processo consiste no conjunto de vias e mecanismos que possibilitam a transmissão do impulso nervoso, que é gerado nos nociceptores, até o sistema nervoso central, nas respectivas estruturas responsáveis pelo reconhecimento da dor. Independentemente de sua origem (somática ou visceral), as fibras nociceptivas parecem trafegar no sistema nervoso central pelas mesmas vias, cursando, em sua maioria, pelo quadrante anterolateral da medula espinal. Em meados dos anos 1990, todavia, uma revisão desse conceito tornou‐se necessária quando o grupo liderado por Willis descreveu uma via exclusiva para a condução da dor visceral, localizada na porção mais anterior e medial do funículo posterior. Não obstante, vale ressaltar que os aferentes nociceptivos viscerais são, com certa frequência, bilaterais e não unilaterais, como os somáticos. Tal fato, associado à extrema ramificação dos nervos viscerais (um mesmo nervo participa da inervação de diversas vísceras), ao relativamente pequeno número de aferentes viscerais (correspondem a apenas 10% das fibras da raiz dorsal), ao proporcionalmente elevado número de fibras C (condução lenta) nos nervos viscerais (1 fibra A para 10 fibras C; na raiz dorsal, tal proporção é de 1 para 2) e à chegada dos aferentes de uma mesma víscera em múltiplos segmentos medulares, justifica a baixa precisão da dor visceral tanto em termos de localização como de qualificação. MODULAÇÃO Além de vias e centros responsáveis pela transmissão da dor, há também os responsáveis por sua supressão. E, curiosamente, as vias modulatórias são ativadas pelas nociceptivas. O primeiro sistema modulatório descrito foi denominado teoria do portão ou da comporta. Segundo essa teoria, a ativação das fibras mielínicas grossas excitaria interneurônios inibitórios para os aferentes nociceptivos, impedindo a passagem dos impulsos dolorosos, ou seja, haveria um fechamento da comporta, ao passo que a ativação das fibras amielínicas e mielínicas finas inibiria tais interneurônios inibitórios, tornando possível a passagem dos impulsos nociceptivos (abertura da comporta). Esse mecanismo explica por que uma leve fricção ou massageamento de uma área dolorosa proporciona alívio da dor. Além disso, posteriormente, foi proposto o circuito modulatório prosencéfalo- mesencefálico, postulado a partir do fato de que a estimulac ̧ão elétrica da substa ̂ncia cinzenta periventricular e periaquedutal excitaria o bulbo rostro‐ventral e o tegmento pontino dorsolateral, de onde partem vias descendentes inibitórias para os neurônios nociceptivos do corno dorsal. Tais vias cursam bilateralmente pelos funículos dorsolaterais da medula espinal e utilizam como neurotransmissor, respectivamente, a serotonina e a norepinefrina. A estimulação elétrica de outras estruturas, como o funículo posterior da medula espinal, lemnisco medial, tálamo ventrocaudal, cápsula interna, córtex somestésico e córtex motor, também pode proporcionar alívio da dor. Conclui‐se que a dor pode ser provocada tanto pela ativação das vias nociceptivas como pela lesão das vias modulatórias (supressoras), o que a torna semelhante a outras funções envolvidas na manutenção da homeostase, como a pressão arterial e a temperatura. ASPECTOS A dor não é apenas uma sensação. A resposta final a um estímulo álgico que compreende uma série de reações reflexas, emocionais e comportamentais, que são dependentes do aprendizado, da memória e de experiências prévias, do grau de atenção ou de distração, do estado emocional e do processamento e integração das diversas informações sensoriais e cognitivas. AFETIVO EMOCIONAL As vias nociceptivas do grupo medial não são somatotopicamente organizadas e, por essa razão, parecem não contribuir para o aspecto sensorial‐discriminativo da dor. Em contrapartida, estão relacionadas, por meio de suas conexões, com a formação reticular do tronco cerebral, hipotálamo, núcleos mediais e intralaminares do tálamo e com o sistema límbico, estruturas reconhecidamente comprometidas com a regulação das emoções e do comportamento, incluindo a dimensão afetiva (experiência desagradável, ruim, amedrontadora) e motivacional (ação causada pela sensação dolorosa, como a reação de retirada ou de fuga) da dor. COGNITIVO AVALIATIVO As primeiras experiências dolorosas do ser humano compreendem apenas seus aspectos sensorial‐discriminativo e afetivo‐motivacional. Ao morder o dedo, por exemplo, o bebe sente dor, manifestando‐a emocionalmente pelo choro. Com o passar dos anos, a sensação dolorosa passa a ser relacionada com certas polaridades como prazer e castigo; e bom ou mau. As influências culturais e religiosas tomam vulto no simbolismo da dor: para alguns, a manifestação pública desta sensação deveser refreada, como sinal de força; para outros, deve ser encorajada como modo de angariar simpatia e solidariedade. Todas essas informações e experiências vão sendo armazenadas no âmbito da memória. E é a partir da avaliação e julgamento desses dados que se formará aquilo que o indivíduo considerará como dor. CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DOR NOCICEPTIVA É causada pela ativação dos nociceptores e pela transmissão dos impulsos gerados, que percorrem as vias nociceptivas até as regiões do sistema nervoso central, onde são interpretados. São exemplos dessa dor: ▪ A dor secundária a agressões externas - picada de um inseto, fratura de um osso, corte da pele; ▪ A dor visceral - cólica nefrética, apendicite; ▪ A neuralgia do trigêmeo ▪ A dor da artrite e da invasão neoplásica dos ossos Características É uma dor que tem inicio concomitantemente ao fator causal e sua remoção frequentemente culmina com o alivio da sensação dolorosa. A distribuição da dor corresponde a das fibras nociceptivas estimuladas, assim, quanto menor é o numero de segmentos medulares envolvidos na inervação de uma estrutura – mais localizada é a dor (somática superficial). E quanto maior o número de segmentos medulares, mais difusa será a dor (visceral e somática profunda). A dor nociceptiva pode ser: a) espontânea: expressão como uma dor em pontada, facada, agulhada, aguda, rasgando, latejante, surda, continua, profunda, vaga ou dolorimento. Todas essas designações sugerem lesão tissular. b) evocada - pode ser desencadeada por algumas manobras como: manobra de Lasègue na ciatalgia, a dor provocada pelo estiramento da raiz nervosa obtida pela elevação do membro inferior afetado, estando o indivíduo em decúbito dorsal, e lavar o rosto e escovar os dentes, nos pacientes com neuralgia do trigêmeo. Esse tipo de dor reproduz a sentida pelo paciente. DOR NEUROPÁTICA Também denominada dor por lesão neural - por desaferentação, que é a privação de um neurônio de suas aferências; ou central - quando secundária às lesões do sistema nervoso central. Decorre de lesão de qualquer tipo infligida ao sistema nervoso periférico ou central, e pode apresentar-se de três formas: constante, intermitente e evocada. Características Seu inicio pode coincidir com o estímulo do fator causal, mas isso não é o mais frequente. Geralmente, ocorre após dias, semanas, meses ou até anos. De forma geral, o fator causal não pode ser removido, por ter deixado de agir ou por ser impossível interrompê-lo. a) dor constante: ocorre praticamente em 100% dos casos, sendo descrita como dor em queimação, dormente ou em formigamento; ou como um mero dolorimento. Trata-se de uma disestesia – sensação anormal desagradável – normalmente nunca experimentada pelo paciente. b) dor intermitente: mais frequente nas lesões nervosas periféricas e da medula espinal, sendo rara nas lesões encefálicas, e relatada como dor em choque, aguda. Lembra a dor da ciatalgia, mas, diferentemente desta, seu trajeto não segue o de qualquer nervo. c) dor evocada: presente em mais da metade dos casos, conquanto mais comum nas lesões encefálicas. É também frequente nas lesões medulares e do sistema nervoso periférico, podendo manifestar‐se sob a forma de alodínia ou de hiperpatia. ▪ Alodinia: Estímulos antes não doloridos agora provocam dor. Ex: mecanorreceptor sentindo dor ▪ Hiperpatia: local hipersensível a dor Membro fantasma Após terem parte de seu corpo amputada, alguns indivíduos ainda a sentem (sensação fantasma) como causa de profunda dor. A dor fantasma ocorre mais comumente após amputação de um membro, embora também possa se dar após a enucleação do globo ocular, a remoção da mama (mastectomia) ou a amputação do pênis. É neuropática, sendo a secção dos nervos mistos e sensoriais, no ato da amputação, sua causa. Tais pacientes, não infrequentemente, apresentam também a chamada dor do coto, a qual parece decorrer da hiperexcitabilidade do neuroma formado na extremidade proximal do nervo seccionado. As dores do coto de amputação e fantasma são de dificílimo tratamento, sendo, frequentemente, rebeldes a qualquer abordagem farmacológica ou cirúrgica disponível. DOR MISTA É aquela que decorre dos dois mecanismos anteriores. Ocorre, por exemplo, em certos casos de dor por neoplasia maligna, quando ela se deve tanto ao excessivo estímulo dos nociceptores quanto à destruição das fibras nociceptivas. DOR PSICOGÊNICA Toda dor tem um componente emocional associado, o que varia é sua magnitude. A dor psicogênica, porém, é uma condição inteiramente distinta, para a qual não há qualquer substrato orgânico, sendo gerada por mecanismos puramente psíquicos. Características Essa dor tende a ser difusa, generalizada e imprecisa. Quando é possível localizá-la, sua topografia corresponde à da imagem corporal que o paciente tem da estrutura que julga doente. A dor psicogênica muda de localização sem qualquer razão aparente. Quando irradiada, não segue o trajeto de qualquer nervo. Sua intensidade é variável, sendo agravada pelas condições emocionais do paciente, a que, em geral, é contestado por ele. Pode ser relatada como muito intensa, excruciante, lancinante, incapacitante. Costuma ser descrita de maneira dramática (“como um canivete introduzido no corpo”, “como tendo a pele arrancada”). Ao exame físico, em geral sem quaisquer achados relevantes, tendem a literalmente pular ao mero toque da região “dolorosa”, por vezes simulando déficit sensorial de distribuição “histérica” (não segue qualquer padrão dermatomérico) e fraqueza muscular. Os exames complementares são normais. As avaliações psiquiátrica e psicológica acabam por identificar depressão, ansiedade, hipocondria, histeria ou transtorno somatoforme. TIPOS DE DOR DOR SOMÁTICA SUPERFICIAL É a dor nociceptiva decorrente da estimulação de nociceptores do tegumento. Tende a ser bem localizada e se apresentar de maneira bem distinta – como picada, pontada, rasgando e queimor – de acordo com o estimulo aplicado. A intensidade é variável e, de certa maneira, proporcional à intensidade do estímulo. Decorre, em geral, de trauma, queimadura e processo inflamatório. DOR SOMÁTICA PROFUNDA É a modalidade de dor nociceptiva consequente à ativação de nociceptores dos músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulações. Suas principais causas são: ▪ Estiramento muscular ▪ Contração muscular isquêmica (exercício exaustivo prolongado) ▪ Contusão ▪ Ruptura tendinosa e ligamentar ▪ Síndrome miofascial ▪ Artrite e artrose. É mais difusa que a dor somática superficial, apresenta localização imprecisa, sendo em geral descrita como dolorimento (aching pain), dor surda, dor profunda e, no caso da contração muscular isquêmica, como cãibra. Sua intensidade é proporcional à do estímulo causal, mas comumente vai de leve à moderada. Às vezes, pode manifestar- se como dor referida. DOR VISCERAL É a dor nociceptiva decorrente da estimulação dos nociceptores viscerais. É profunda, e tem características similares às da dor somática profunda, ou seja, é difusa, de difícil localização e descrita como um dolorimento ou uma dor surda, vaga, contínua, profunda, que tende a acentuar-se com a solicitação funcional do órgão acometido. De um modo geral, a dor visceral pode ser relacionada com quatro condições: a) comprometimento da própria víscera (dor visceral verdadeira); b) comprometimento secundário do peritônio ou pleura parietal (dor somática profunda); c) irritação do diafragma ou do nervo frênico; d) reflexo viscerocutâneo (dor referida) Esse tipo de dor tende a se localizar próxima ao órgão que a origina. ▪ Dor cardíaca – retroesternal ou precordial ▪ Pleural – na parede do hemitórax correspondente ▪ Esofágica – retroesternal ou epigástrica ▪ Gastroduodenal – epigástrica ou hipocôndriodireito ▪ Íleojejunal e dos cólons – embora difusa, tende a se localizar na região periumbilical ▪ Sigmoide e reto – pélvica e perineal ▪ Hepática e biliar – hipocôndrio direito e epigástrio ▪ Esplênica – hipocôndrio esquerdo ▪ Pancreática – epigástrica, hipocôndrio esquerdo e meio do dorso. ▪ Renal – flancos; ▪ Uretral – flancos com irradiação para baixo ventre e genitália. ▪ Vesical e uretral próxima – pélvica e se localiza no baixo ventre. ▪ Uterina – pélvica, baixo ventre, perineal e lombar baixa. ▪ Ovárica – pélvica, baixo ventre, perineal, lombar baixa e fossas ilíacas; DOR REFERIDA Pode ser definida como uma sensação dolorosa superficial, que está distante da estrutura profunda (visceral ou somática) cuja estimulação nóxica é a responsável pela dor. Nesse tipo de dor ocorre a convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos superficiais e profundos para neurônios nociceptivos comuns localizados no corno (dor referida) e, posteriormente, no encéfalo, pode ser entendida como a mesma área pela presença do homúnculo. Ex: Dor de infarto é referida na mandíbula. DOR IRRADIADA Caracteriza-se por ser sentida a distância de sua origem, porém ocorre obrigatoriamente em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela dor. Um exemplo clássico é a ciatalgia, provocada pela compressão de uma raiz nervosa por uma hérnia de disco lombar. DOR AGUDA OU CRÔNICA Em conformidade com sua distribuição temporal, a dor pode ser classificada em aguda ou crônica. a) Dor aguda é uma importantíssima modalidade sensorial, desempenhando, entre outros, o papel de alerta, comunicando ao cérebro que algo está errado. Acompanha‐se de manifestações neurovegetativas e desaparece com a remoção do fator causal e resolução do processo patológico. b) Dor crônica é a que persiste por um período superior ao necessário para a cura de um processo mórbido ou que está associada a afecções crônicas (câncer, artrite reumatoide, alterações degenerativas da coluna), ou, ainda, a que decorre de lesão do sistema nervoso. Não tem qualquer função de alerta e determina acentuado estresse, sofrimento e perda na qualidade de vida. CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DA DOR Todo paciente deve ser sistematicamente avaliado, levando‐se em consideração as 10 características semiológicas da dor (decálogo da dor). DOR E IDADE Com o envelhecimento, o limiar de dor aumenta e, consequentemente, estes pacientes podem apresentar problemas graves sem que a dor seja um sinal de alarme. CEFALÉIAS Sensação dolorosa que vai dos supercílios até a base de implantação dos cabelos da nuca. ENXAQUECA ▪ Sexo feminino, antes dos 30 anos; ▪ Unilateral alternante, pulsátil; ▪ Em crises ▪ Intensidade crescente ▪ Duração variável, durando no máximo 72h cada episódio; ▪ Acompanhantes: aura (escotomas, escurecimento visual), irritabilidade, fotofobia, fonofobia, náuseas e vômitos; ▪ História familiar ▪ Aura (escotomas cintilantes, hemianopsias, escurecimento visual, parestesias fugazes) ou prodromo (mal-estar sem déficit neurológico); ▪ Piora com exercício ▪ Melhora: Escuro, silêncio. Escotomas são alterações do campo visual, que traduzem a diminuição parcial ou total da capacidade de enxergar, sempre rodeados por um campo de visão normal. As manchas dos escotomas provocam espaços escuros que atrapalham o olhar. CEFALEIA DE ORIGEM OCULAR ▪ Localização predominante na região frontal ▪ Aparece mais no final do dia. CEFALEIA EM SALVAS ▪ Episódios de dor muito intensa ▪ Pulsátil ou não ▪ Localização: frontotempororbitária, sistematicamente unilateral ▪ Duração de 8 a 12 semanas, com episódios de duração de cerca de 15 a 180min, intercalados por períodos de acalmia ▪ Predomina em homens. ▪ Acompanha lacrimejamento e congestão nasal. CEFALEIA DE HIPERTENSÃO INTRACRANIANA ▪ Matutina ▪ Localização generalizada (cabeça toda) ▪ Pulsátil, gradativa ▪ Duração de dias ou meses ▪ Acompanhantes: vômitos (em jato) não precedidos de náuseas, diplopia, diminuição da acuidade visual, convulsões; CEFALEIA TENSIONAL ▪ Dor em aperto, pressão – paciente descreve como peso na cabeça Intensidade leve ou moderada, com pioras ocasionais; ▪ Holocraniana + Nuca + Têmporas ▪ Localiza-se preferencialmente nos músculos da nuca (músculos doloridos e contraídos), podendo, entretanto, difundir-se para região occiptal ou temporal bilateral ▪ Melhora com o exercício ▪ Predominante em mulheres ▪ Desencadeantes: estresse, mesma posição por muito tempo. SINUSITE ▪ Frontal e nos seios da face (drenam para o nariz) ▪ Uni ou bilateral. ▪ Em aperto ou peso para frente ▪ Piora ao se abaixar ▪ Acompanhada de congestão, rinorréia ▪ Tosse com gotejamento na orofaringe TENSÃO MASTIGATÓRIA ▪ Causada pela mastigação NEURALGIA DO TRIGÊMEO É uma dor muito, muito forte que pega um lado da face, dura segundos e desaparece. O problema é que ela geralmente volta com grande intensidade, em intervalos de tempo variáveis. ▪ Mulheres ▪ Unilateral não alternante ▪ Em choque ▪ Piora com a mastigação DOR TORÁCICA ▪ Musculatura: Dolorida, dói a palpação e quando faz o mesmo movimento. ESOFAGITE ▪ Retroesternal, em queimação; ▪ Acompanha: eructação, regurgitação, disfagia; ▪ Piora: Depois de comer e a noite DOR NA ISQUEMIA MIOCÁRDICA ▪ Angina do peito e IAM ▪ Localização: mais comum é a retroesternal. Pode ser restrita a uma pequena área ou ocupar toda a região precordial ▪ Tipo: aperto e opressão, tanto na angina como no infarto ▪ Pode ser confundida na Síndrome de Tietze, que é uma dor na mama. ANGINA ▪ Duração: de 30seg a 15min ▪ Pequena intensidade ▪ Desencadeada por esforço físico, refeições volumosas e estresse emocional; ▪ Fator de melhora: repouso e nitrato sublingual INFARTO ▪ Duração: prolongada, várias horas ▪ Intensidade alta ▪ Desencadeada no repouso ▪ Acompanhada de mal-estar, sudorese profunda e ansiedade ▪ Não melhora com nitrato sublingual ▪ Dor referida: mandíbula e na face medial do braço esquerdo. ▪ Obstrução total das coronárias, necrosa, independe do exercício. ANEURISMA DE AORTA ▪ Contínuo e intenso DOR PLEURÍTICA ▪ Presente na pneumonia, pleurite Aguda Intensa ▪ Em pontada ▪ Acompanhada de tosse seca, febre, dispneia ▪ Fator de piora: respirar, caracterizando uma dor ventilatória dependente ▪ Localizada em uma região pequena ▪ Sem irradiação PNEUMOTÓRAX ▪ Dor aguda PERICARDITE ▪ Pericárdio parietal ▪ Retroesternal/ precordial contínua ▪ Acompanhantes: Febre, mal-estar ▪ Melhora: posição, derrame pericárdico ▪ Desencadeantes: Trombo, virose. DOR ABDOMINAL ÚLCERA ▪ Estômago ▪ Dor epigástrica em queimação ▪ Melhora com a alimentação ▪ Pode virar Abdome perfurativo GASTRITE ▪ Queimação ▪ Relação com alimentação CÓLICA ▪ Vísceras ocas: útero, intestino, ureter APENDICITE ▪ Referida em região periumbilical de início, mas quando atinge peritônio se localiza em fossa ilíaca direita. ▪ Início súbito ▪ Acompanha febre, falta de apetite, vômito ▪ Dor em cólica CÓLICA RENAL ▪ Em cólica do lado correspondente ▪ Irradia para lombar e fossa ilíaca ▪ Acompanhantes: Hematúria ▪ Na cólica renal trata-se de um cristal de cálcio, na cólica biliar de colesterol PANCREATITE ▪ Dor em faixa no andar superior do abdome ▪ Localização: epigástrica, hipocôndrio esquerdo e meio do dorso ▪ Acompanha: Náusea e vômito ou emagrecimento, icterícia, diarreia ▪ Melhora: Jejum DOR DE CÁLCULO BILIAR ▪ Região de hipocôndrio direito em cólica ▪ Desencadeada por ingesta de alimentação gordurosa ▪ Início súbito ▪ Acompanha: icterícia, febre, fezes claras e urina escura ▪ Piora: comida gordurosa ▪ Desencadeantes:Fat, Female, Fertile, Forty, Family ▪ Enquanto na vesícula: Colelitíase ▪ Se a pedra está no colédoco: Colédocolitíase ▪ Se houver inflamação: Colecistite GATROENTERITE AGUDA ▪ Cólica intestinal ▪ Acompanha: Vômito e febre. DOR EM MEMBROS INFERIORES INSUFIÊNCIA ARTERIAL Dor isquêmica que aparece durante o exercício (claudicação intermitente), pois o sangue não chega; acompanhantes: palidez da região INSUFICIÊNCIA VENOSA Dor em peso, o sangue não volta; acompanhantes: cianose, edema; melhora: no repouso, com as pernas pra cima; piora: quando está de pé; CARACTERES PROPEDÊUTICOS 1. Início e término Inicialmente, determina‐se com a máxima precisão possível a data de início da dor. Súbito ou gradual. 2. Duração Inicialmente, determina-se com a máxima precisão possível a data de início da dor. Quando ela é contínua, calcula-se sua duração de acordo com o tempo transcorrido entre seu início e o momento da anamnese. Se for cíclica, interessa registrar a data e a duração de cada episódio doloroso. Se for intermitente e ocorre várias vezes ao dia, é suficiente que sejam registrados a data de seu início, a duração média dos episódios dolorosos, o número médio de crises por dia e de dias por mês em que se sente dor. Dependendo de sua duração, a dor pode ser classificada como aguda ou crônica. Aguda é aquela que dura menos de 1 mês (ou 3 meses, conforme outros autores), e desaparece dias ou semanas após a cura de uma doença ou lesão. Dor crônica é a que persiste por 1 mês além do necessário para a cura da doença ou lesão causal, durando, habitualmente, mais de 3 meses (1 mês ou 6 meses, segundo outros autores). 3. Localização Refere-se à região onde o paciente sente a dor. Descrições como “dor na vesícula” carecem de valor semiológico e devem ser desencorajadas, pois dependem da imagem corporal que o paciente tem, a qual pode ser completamente equivocada. Deve-se solicitar ao paciente que aponte com um dedo a área dolorida, que deve ser registrada de acordo com a nomenclatura das regiões da superfície corporal. Dores diferentes, sem relação entre si, podem indicar uma doença apenas, processos patológicos independentes ou dor psicogênica. Também é relevante a avaliação da sensibilidade na área de distribuição da dor e adjacências. Vale lembrar que a dor somática superficial tende a ser mais localizada, enquanto a somática profunda e a visceral, assim como a neuropática, tendem a ser mais difusas. 4. Intensidade É o componente mais relevante da dor. Por se tratar de uma experiência basicamente subjetiva, é fundamental que sua quantificação se baseie em critérios bastante rígidos; Atualmente, prefere-se, para o adulto, a utilização de uma escala analógica visual para avaliar a intensidade da dor, a qual consiste em uma linha reta com um comprimento de 10 centímetros, tendo em seus extremos as designações sem dor e pior dor possível. É pedido que o paciente indique a intensidade da dor em algum ponto dessa linha. O resultado e ́ descrito pelo examinador como intensidade “x” em uma escala de zero a dez. Para adultos com baixa escolaridade, crianças e idosos, para os quais a compreensão da escala analógica visual pode ser difícil, é possível utilizar as escalas de representação gráfica não numérica, como a de expressões faciais de sofrimento: sem dor, dor leve, dor moderada e dor intensa. Se o paciente tem dificuldade em definir “pior dor possível”, sugerimos que a compare com a dor mais intensa por ele experimentada. A dor do parto, da cólica nefrética e de uma úlcera perfurada são referências bastante adequadas para esse fim. 5. Frequência e evolução Sua investigação é iniciada por seu modo de instalação: se súbito ou insidioso. É também relevante definir a concomitância da atuação do fator causal e o início da sensação dolorosa. A dor neuropática pode iniciar-se semanas, meses ou mesmo anos após a atuação do fator causal em mais da metade dos casos. Já o início da dor nociceptiva é sempre simultâneo ao da atuação do fator causal. Durante sua evolução, pode haver as mais variadas modificações na dor. Em pacientes com dor neuropática, os seus componentes (dor constante, intermitente e evocada) frequentemente surgem em diferentes épocas. Assim, um indivíduo que tinha apenas dor constante, em queimação, bem controlada farmacologicamente, pode voltar a apresentá-la, não pela perda do controle da dor constante (embora isso também possa ocorrer), mas pelo aparecimento de dor intermitente ou evocada. A dor nociceptiva também pode mudar suas características, como no caso do paciente portador de úlcera péptica, com dor crônica epigástrica em queimação, que, subitamente, passa a apresentar dor aguda, intensa, na região epigástrica, a qual, horas após, espalha-se por todo o abdome, caracterizando o quadro típico de uma úlcera perfurada, enquanto a difusão da dor pelo abdome é indicativa da peritonite química decorrente do extravasamento do suco digestivo e consequente irritação peritoneal. 6. Irradiação A dor pode ser localizada, irradiada (segue o trajeto de uma raiz nervosa ou nervo conhecido) ou referida. O reconhecimento da localização inicial da dor e de sua irradiação pode indicar a estrutura nervosa comprometida. A dor irradiada pode surgir em decorrência do comprometimento de praticamente qualquer raiz nervosa ▪ Apêndice: dor na região epigástrica ▪ Vesícula, fígado: dor na escápula e no ombro ▪ Ureter: dor na virilha e genitália externa ▪ Coração: dor na face medial do braço. É interessante mencionar que processos patológicos anteriores ou concomitantes, que afetam estruturas inervadas por segmentos medulares adjacentes, aumentam a possibilidade de que a dor seja sentida em uma região servida por ambos os segmentos medulares, fazendo com que esta esteja localizada de maneira atípica. 7. Qualidade ou caráter Para que seja definida a qualidade ou o caráter da dor, o paciente é solicitado a descrevê-la ou dizer que tipo de sensação e emoção ela lhe traz. Vários termos são utilizados para descrever sua qualidade. Primeiramente, deve-se definir se esta é espontânea e/ou evocada. DOR EVOCADA É aquela que ocorre apenas mediante algum tipo de provocação. São exemplos a alodínia e a hiperpatia, presentes na dor neuropática; e a hiperalgesia primária e secundária, presentes na dor nociceptiva. Alodínia é uma sensação desagradável, dolorosa, provocada pela estimulação tátil, sobretudo se repetitiva, de uma área com limiar aumentado de excitabilidade. Muitas vezes, os pacientes trazem o seguinte relato sobre esta sensação: “O mero contato da roupa ou do lençol é extremamente doloroso”; Hiperpatia é uma sensação desagradável, mais dolorosa que a comum, provocada pela estimulação nóxica, sobretudo a repetitiva, de uma área com limiar de excitabilidade aumentado. Hiperalgesia é a resposta exagerada aos estímulos aplicados em uma região que está com reduzido limiar de excitabilidade, que pode se manifestar sob a forma de dor a estímulos inócuos ou de dor intensa a estímulos leves ou moderadamente nóxicos. Dois tipos de hiperalgesia têm sido descritos: ▪ Primária: que ocorre em uma área lesionada e se deve à sensibilização local dos nociceptores; ▪ Secundária: se dá no entorno da área lesada e parece ocorrer após a sensibilização dos neurônios do corno dorsal, que decorre da estimulação repetitiva e prolongada das fibras C. DOR ESPONTANÊA Pode ser constante ou intermitente. Dor constante é aquela que ocorre continuamente, podendo variar de intensidade, sem nunca desaparecer completamente. O indivíduo dorme e acorda com dor. Quando é neuropática, a dor constante é mais comumente descrita como em queimação ou dormência, formigamento (disestesia). Quando é nociceptiva, são utilizados diversos termos para qualifica-la (tipos de dor). A dor intermitenteé aquela que ocorre episodicamente, sendo sua frequência e duração bastante variáveis. É em geral descrita como dor em choque, aguda, pontada, facada, fisgada. Deve ser diferenciada das exacerbações da dor constante. 8. Fatores de melhora e piora São os fatores que desencadeiam a dor, em sua ausência, ou que a agrava se estiverem presentes. Esofagite, gastrite e úlcera péptica: ▪ Alimentos ácidos e picantes ▪ Bebidas alcoólicas ▪ Anti-inflamatórios hormonais ou não hormonais Doença biliar ▪ Alimentos gordurosos; Enxaquecas ▪ Chocolate ▪ Queijos ▪ Bebida alcoólica (sobretudo o vinho) ▪ Barulho ▪ Luminosidade excessiva ▪ Esforço físico ▪ Menstruação Já os fatores de melhora são aqueles que aliviam a dor, como algumas funções orgânicas, posturas ou atitudes que resguardam a estrutura ou órgão onde esta é originada (atitudes antálgicas), distração, ambientes apropriados, medicamentos. 9. Fenômenos que acompanham A dor aguda, nociceptiva, sobretudo quando intensa, costuma acompanhar‐se de manifestações neurovegetativas que se devem à estimulação do sistema nervoso autônomo pelos impulsos dolorosos, incluindo: ▪ Sudorese ▪ Palidez ▪ Taquicardia ▪ Hipertensão arterial ▪ Mal‐estar ▪ Náuseas e vômitos.
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