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Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 1 ® Conhecido também como crime de bagatela. O princípio da insignificância sustenta a ideia de que juízes e tribunais não devem se ocupar de assuntos irrelevantes. Fundamenta-se em valores de política criminal. ® Interpretação restritiva da lei penal. Para o STF: O princípio da insignificância tem por objetivo restringir a qualificação de condutas que traduzam em mínima/ irrelevante lesão ao bem jurídico tutelado. Exemplo: em relação ao art. 155, caput, do CP. Não há de se falar em crime de furto em situação de subtração de um grampo de cabelo ou um palito de dente. ¨ Natureza jurídica O principio da insignificância é causa de exclusão da tipicidade, pela ausência da tipicidade material. ® Torna o fato ATÍPICO A tipicidade penal é composta de tipicidade formal + tipicidade material. Quando aplicado tal princípio, há somente a tipicidade formal = adequação entre o fato praticado e o crime descrito na lei penal. Não há a tipicidade material, que é a lesão ou perigo de lesão do bem jurídico. ¨ Requisitos Para o reconhecimento do princípio depende de requisitos, entretanto para ser aplicado deve ser analisado no caso concreto. ® Requisito Objetivo: relacionado ao fato. Que subdividem em quatro: 1. Mínima ofensividade da conduta; 2. Ausência de periculosidade social da ação; 3. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; 4. Inexpressividade da lesão jurídica. ® Requisito subjetivo: relacionado ao agente e a vitima. Condições pessoais do AGENTE: Aqui três pontos são analisados: a reincidência, criminoso habitual e militar. 1. Reincidência: Há duas vertentes STF STJ Obs.: o STF já aceitou o princípio da insignificância ao reincidente genérico, excluindo-se unicamente no tocante a reincidência específica. Princípio da Insignificância Não admite aplicação do principio da insignificância ao reincidente Admite-se a aplicação do principio da insignificância em favor do reincidente. Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 2 2. Criminoso habitual Aquele que faz da prática de delitos o seu meio de vida. Sempre está praticando crime. ® Para ele não se aplica o principio da insignificância. Mas o STF já acolheu tal principio em uma situação excepcional: furto famélico, o qual é praticado para saciar a fome do agente ou de pessoa ligada a ele por laços de parentesco ou amizade. 3. Militares É vedada a utilização do princípio aos crimes cometidos por militares. Condições relacionadas a VÍTIMA: Para configuração do princípio da insignificância deve-se analisar a situação da vítima (ofendido) também. Há de se conjurar: ¨ A importância do objeto material para a vítima; ¨ A condição econômica e valor sentimental do bem. ¨ As circunstâncias e o resultado do crime. Tudo para verificar se houve ou não relevante lesão do bem jurídico. OBS 1: A análise da extensão do dano causado ao ofendido é importante para averiguar se aplica ou não o principio da insignificância. OBS 2: O valor sentimental do bem para a vítima pode impedir a utilização da insignificância, mesmo que o bem jurídico não seja de grande valor econômico. ¨ Aplicabilidade É aplicável a qualquer delito que seja a ele compatível (aos requisitos apresentados anteriormente) e não somente aos patrimoniais. ® Maior ocorrência: crime de furto – art. 155 do CP. ® Há crimes em que se é impossível a aplicabilidade da insignificância, como nos crimes hediondos e equiparados. Principais situações em que há discussão se há aplicação ou a proibição da insignificância: 1. Roubo e demais crimes cometidos com grave ameaça ou violência a pessoa: não é admitido a aplicação. 2. Crimes contra a ADM Pública: Súmula 599 do STJ que diz ser inadmissível a insignificância nesses casos. Mas há hipóteses extremas, vide STF, em que pode ser admitido. Exemplo: não há de se falar em peculato (art. 312 do CP) se um funcionário publico se apropriar de algumas folhas em branco do órgão público. 3. Crimes previsto na Lei de drogas – Lei 11.343/2006: O tráfico de drogas é um delito constitucionalmente equiparado a hediondo, portanto, é indiscutível a aplicabilidade da insignificância. Assim como ao porte de droga para consumo, não se deve aplicar a insignificância. Porque? Pois, se houver entendimento diverso seria equivalente a descriminalizar, contra o espírito da lei, o porte de pequenas quantidades de drogas. Direito Penal I | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 3 4. Descaminho e crimes tributários federais: É possível a aplicação da insignificância nos crimes federais de natureza tributária, principalmente no DESCAMINHO (art. 334, CP). O tributo devido não pode ultrapassar o valor de R$ 20.000,00. Há jurisprudências do STJ sobre: uma é a favor outra é contra. 5. Contrabando: Não é admitido ao delito de contrabando, tipificado no art. 334-A do CP devido a natureza proibida da mercadoria importada/ exportada. 6. Crimes ambientais: Não é admito, é incompatível com os crimes ambientais pois há a natureza difusa e da relevância do bem jurídico protegido. 7. Crime contra a fé pública: Não é possível aplicação da insignificância, uma vez que o bem jurídico tutelado é a credibilidade depositada em documentos, sinais e símbolos empregados nas relações indispensáveis para a vida em sociedade. 8. Tráfico internacional de arma de fogo: Não comporta o princípio da insignificância, pois se trata de crime de perigo abstrato e atentatório à segurança pública. Princípio da insignificância ≠ infrações penais de menor potencial ofensivo Não se pode confundir com as infrações penais de menor potencial ofensivo- art. 61 da Lei 9.9099/95. ® São as contravenções penais ou crimes com pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 ano. Princípio da insignificância ≠ do furto privilegiado Na questão do furto privilegiado- art. 155 §2º do CP, a coisa é de pequeno valor (inferior a um salário mínimo). ® Diferente da insignificância, que o o valor do bem é irrelevante para o DP, por não colocar em risco o bem jurídico. Raciocínio aplicável aos demais delitos contra o patrimônio que admitem privilégio. ¨ Valoração pela autoridade policial A quem compete aplicar o principio da insignificância? A autoridade policial pode deixar de efetuar a prisão em flagrante, por reputar a criminalidade de bagatela? Para o STJ cabe somente ao Poder judiciário decidir se deve-se aplicar ou não o princípio da insignificância. Somente o Juiz decide a questão. ® A autoridade policial está obrigada a efetuar a prisão em flagrante. Há divergência na doutrina sobre esse ponto: se deve agir com prudência no caso concreto, acolhendo o principio da insignificância quando a situação fática efetivamente ocorrer, isto é, a autoridade policial deve reconhecer a insignificância ao “prender” o agente, sem necessidade de ir ao judiciário para tal.
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