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Contação de histórias e tecnologia na alfabetização

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ISSN 2176-1396 
 
A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS ALIADA À TECNOLOGIA NO 
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
 
Camila Andretta Martins1 - FAEL 
Camila Trevisan Milani Weyll2 - Prefeitura Municipal de Colombo 
 
Eixo– Alfabetização, Leitura e Escrita 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
A tecnologia se faz cada vez mais presente em nosso cotidiano, inclusive no ambiente 
educacional, desde as séries iniciais até a conclusão dos estudos da educação formal. O 
presente estudo busca contribuir para as reflexões acerca da alfabetização e o letramento com 
o auxílio da ludicidade e da tecnologia, em uma perspectiva inovadora, bem como, fazer um 
paralelo entre a teoria e a prática como proposta pedagógica, especificamente nas relações 
entre o lúdico e a aprendizagem destacando a importância da interação humana. Desta forma, 
os autores que embasaram essa temática foram Emília Ferreiro (1996), Magda Soares (2011), 
Malba Tahan (1966), Cléo Bussato (2003), entre outros. A pesquisa de abordagem 
qualitativa-descritiva teve como instrumento questionários semiestruturados realizados de 
forma diferenciada com professores e alunos de uma instituição de ensino da rede privada da 
cidade de Curitiba. De acordo com os resultados obtidos por meio da coleta de dados foi 
possível compreender que a ludicidade aliada à tecnologia, nos apresenta diversos benefícios, 
uma vez que contribui não somente para a alfabetização, mas também para as demais áreas do 
ambiente escolar, bem como o estímulo à imaginação, memória, inteligência e sequência 
lógica dos fatos que favorecem a construção da linguagem e do letramento. Além de todos 
esses fatores, a ludicidade das histórias faz com que a criança sobrepuja suas dificuldades, 
levando-a para o mundo da fantasia, na qual se cria e recria possibilidades de como agir diante 
das situações ou problemas. Para tanto, se faz necessário uma prática pedagógica que realize a 
articulação entre tecnologia, ludicidade e educação. 
 
 
Palavras-chave: Alfabetização e letramento. Contação de histórias. Ludicidade. Tecnologia. 
 
 
1Pedagoga pela Faculdade Padre João Bagozzi e Especialista em Alfabetização e Letramento pela Pontifícia 
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Professora regente do Ensino Fundamental I, na rede privada de 
ensino e professora web tutora da Faculdade Educacional da Lapa (FAEL). 
E-mail: profcamilamartins@hotmail.com 
2Pedagoga e Especialista em Alfabetização e Letramento pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná 
(PUCPR), cursando especialização em Neuropsicologia Educacional pela Universidade Positivo (UP). 
Professora regente da Rede Municipal de Ensino de Colombo. E-mail: milatrevisan@hotmail.com 
mailto:profcamilamartins@hotmail.com
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Introdução 
A tecnologia se faz presente em todos os ambientes e cada vez mais no ambiente 
escolar, no qual a proposta é compartilhar conhecimento. A cada dia os alunos chegam às 
escolas com anseios e necessidades diferenciadas, citada em Santos. 
A aprendizagem concebida apenas em ações como: transmitir ou depositar 
informação revela-se “pouco” para os alunos dessa nova geração. Eles estão 
envolvidos de forma efetiva no processo de ensino e de aprendizagem, por terem 
acesso a diversos tipos de tecnologia digital (televisores, micro-ondas, digital 
versatiledisc (DVD), aparelhos de vídeo) e equipamentos eletrônicos (celulares, 
computadores, netbooks, tablets, jogos, etc.) e por isso passam a questionar o 
modelo de escola vigente, por essa não atender a demanda crescente de novos 
conhecimentos que normalmente não encontram na escola (SANTOS, 2012, p.31). 
O presente trabalho trata da articulação indispensável entre a teoria e a prática como 
proposta pedagógica, especificamente nas relações entre o lúdico e a aprendizagem 
destacando a importância da mediação. 
Esta reflexão tem como objetivo principal pesquisar como a contação de história, 
auxiliada à tecnologia podem contribuir na alfabetização e no letramento. Os objetivos 
específicos estão relacionados a entender qual tipo de história os alunos preferem e têm maior 
significado. 
Para subsidiar o projeto foram revisitadas as ideias dos autores como: Tahan (2011), 
Bussato (2003), Calvino (1993) e os conceitos que apresentam, permitindo que a observação 
realizada e os dados coletados pudessem ser analisados com rigor científico. 
Para este estudo faz-se necessário um breve olhar sobre: alfabetização e letramento, a 
contação de histórias como parte da aprendizagem, trabalhando com a produção textual e o 
registro por imagem e vídeo. 
Alfabetização e letramento 
Historicamente, o conceito de alfabetização se caracterizou com o processo de ensino 
e aprendizagem em que o indivíduo adquire a capacidade de decodificar sinais gráficos 
transformando-os em sons e, a capacidade de decodificar sons transformando-os sinais 
gráficos. 
De acordo com as pesquisas realizadas por Emília Ferreiro (1996), a alfabetização não 
se resume em grafemas e fonemas, ou seja, a decodificação e codificação da escrita. Mas, esse 
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sim, é um processo que começa a ocorrer desde o momento em que a criança tem o primeiro 
contato com a escrita, compreendendo-a como um sistema de representação. Após esses 
estudos, houve o surgimento de um novo termo: Alfabetização Funcional, pois além de 
aprender a ler e escrever incorporava o uso dessas habilidades no meio social. 
Posteriormente, surgiu o termo letramento, o qual “substituía” a nomenclatura 
funcional, passando a distinguir alfabetização e letramento. O termo - letramento vem sendo 
muito discutido e pode ser entendido como a busca em ampliar o conceito de alfabetização, 
compreendendo o uso prático da escrita no meio social, gerando um ato comunicativo. 
Magda Soares em seus inscritos de 2010 defende a ideia de que para um indivíduo 
participar ativamente na sociedade e não ser privado de exercer seus direitos plenos, não basta 
apenas ler e escrever, mas sim fazer o uso adequado dessas habilidades em sua vida pessoal e 
social. 
Vivemos em uma sociedade grafocêntrica, na qual o processo de alfabetização das 
crianças se inicia a partir do momento em que elas começam a se relacionar com o mundo por 
meio de observações de cartazes, placas, rótulos, revistas e dos próprios adultos escrevendo e 
lendo. A partir dessas observações, inicia-se a alfabetização e letramento informais. 
Ferreiro (1996, p.24) afirma que “O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem 
dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais assim como as informações sociais, 
não são recebidas passivamente pelas crianças”. 
Já o processo formal começa na Educação Infantil, em que a docente direciona os 
estudantes a jogos, atividades e brincadeiras relacionadas à língua escrita. Dessa forma, não é 
possível afirmar uma idade correta para o início do processo formal de alfabetização, por 
inúmeros aspectos importantes, como por exemplo, o contexto sociocultural que a criança faz 
parte e as condições de desenvolvimento proporcionadas nas instituições de Educação 
Infantil. 
No entanto, quando uma criança chega à descoberta do princípio alfabético, pode-se 
dizer que ela está pronta para ser alfabetizada, pois já consegue relacionar a escrita como uma 
representação de letras. Como parâmetro, acredita-se que com as condições adequadas e 
estímulos constantes, a criança chegará a esta fase por volta de 5 a 6 anos de idade. 
De acordo com Soares, 
a meta de que aos 8 anos cada criança esteja plenamente alfabetizada é não só 
desejável, mas inteiramente possível. Depois de vivenciar a Educação Infantil e três 
anos do Ensino Fundamental, com orientação adequada, as crianças têm plenas 
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condições de chegar às habilidades fundamentais de alfabetização e de letramento. 
Considerando se dois anos de Educação Infantil, ao completar 8 anos, acriança terá 
vivenciado por cinco anos o processo formal de alfabetização (SOARES, 2010, p. 
36). 
Diante dessa visão, ressaltamos a importância de uma boa preparação durante a 
Educação Infantil e os três primeiros anos do Ensino Fundamental, pois eles serão a base para 
os demais aprendizados inerentes à alfabetização. O maior problema se torna quando a 
criança chega aos oito anos de idade sem essas habilidades básicas - a leitura e a escrita, ou 
seja, o processo não foi adequado nos anos iniciais, podendo ocasionar um fracasso escolar e 
até autoestima baixa. 
Magda Soares (2010) diz que 
A solução eficiente é, pois, alfabetizar na idade certa. Daí a importância de os 
gestores públicos investirem vigorosamente na qualidade do ensino nos primeiros 
anos de escolarização, de modo que, aos 8 anos, todas as crianças estejam 
alfabetizadas (SOARES, 2010, p.37). 
É de fundamental importância que haja professores bem preparados e formados para 
alfabetizar, pois ao contrário do que costuma vigorar, a ideia de que qualquer pessoa que saiba 
ler e escrever está apta a alfabetizar não é verdade. É necessário muito mais, o que só pode ser 
adquirido por uma formação específica. Assim, é preciso que gestores, professores e o poder 
público unam-se para que haja a adequada formação inicial e continuada para os profissionais 
desta fase tão importante. 
Corroborando com essa perspectiva, compartilho da reflexão de Falsarella (2004, 
p.50), que mostra um caminho para os profissionais da educação. 
[...] a formação continuada como proposta intencional e planejada, que visa à 
mudança do educador através de um processo reflexivo, crítico e criativo, conclui-se 
que deva motivar o professor a ser ativo agente na pesquisa de sua própria prática 
pedagógica, produzindo conhecimento e intervindo na realidade. 
Um desafio diário para os professores em sala de aula é tornar o seu ensino mais 
estimulante e eficaz. Uma das alternativas é unir aquilo que os faz sentir bem às atividades, 
aliando, o divertimento com a aprendizagem. 
Calvino (1993, p.11) afirma que podemos vivenciar momentos envolventes e 
prazerosos ao ter acesso a um livro literário. 
O encontro entre a criança e o livro literário provoca uma comunicação emotiva, 
interrogativa, mágica e, por vezes, inesperada, pois o bom livro (um clássico, por 
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exemplo) não enuncia uma verdade pronta, única, acabada e imposta. Ele instiga o 
leitor/estudante a buscar nele as respostas que procura [...]. 
Diante da leitura percebe-se que o livro literário é muito mais do que um passatempo 
para distrair, entreter ou relaxar. Ele pode ser usado como uma valiosa ferramenta que tem 
inúmeros benefícios como: estimular a imaginação e a memória, trabalhar com a sequência 
lógica dos fatos, a ludicidade, ampliação de vocabulário entre outras possibilidades. 
A contação de história como parte da aprendizagem 
Na antiguidade, as pessoas se reuniam para contar histórias reais ou não e lendas. 
Dessa forma, disseminavam sua cultura, compartilhando os seus hábitos e tradições, seja de 
forma oral ou escrita. Com o passar do tempo, o homem descobriu que contar histórias era 
algo que conquistava as pessoas, gerando aos ouvintes, grande prazer nas narrativas. Sendo 
assim, durante muito tempo o ato de contar histórias foi somente oral. 
Na Idade Média, os contadores eram respeitados em todos os lugares que 
frequentavam. Com o passar dos anos e com a modernização, esse costume de ouvir e contar 
histórias foi se perdendo, principalmente nos grandes centros urbanos. 
A partir do século XVIII a criança começa a ser considerada como um ser diferente do 
adulto, passando então a ter necessidades e características próprias. Lajolo e Zilberman, 
afirmam que, 
a criança passa a deter um novo papel na sociedade, motivando o aparecimento de 
objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência 
(a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria) de que ela é destinatária 
(LAJOLO; ZILBERMAN,1991, p.17). 
 Regina Zilberman (2003) esclarece que até o século XVIII não era obrigatório a 
frequência das crianças nas escolas. Diante das mudanças a respeito da valorização da 
infância, a escola passa a adquirir valor e se transforma em algo indispensável, mais tarde se 
tornando obrigatória a todos. 
Juntamente com as inúmeras mudanças do então “novo universo infantil” que passou a 
existir, a Literatura Infantil começou a se constituir como gênero, surgindo um instrumento 
pedagógico que embarca uma intenção educativa. 
De acordo com Malba Tahan (2011) a história tem o poder de estimular a imaginação, 
exercitar a memória, a inteligência, a sequência lógica dos fatos e favorece o ensino da língua, 
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contribuindo para outros aprendizados diferentes. Além de todos esses fatores, a possibilidade 
lúdica das histórias ajuda a superar as dificuldades da criança, levando-a para o mundo da 
fantasia, sendo possível criar e recriar possibilidades sobre como agir diante das situações ou 
problemas. 
Calvino (1993, p. 15), discorre que: “Os clássicos são livros que exercem uma 
influência particular quando se impõe como inesquecíveis, e eles persistem ‘como rumor 
mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível’”. 
Para Cléo Bussato (2003), ao trazermos histórias de outros povos para dentro da sala 
de aula, estamos contribuindo para a diversidade cultural e gerando na criança a oportunidade 
de conhecer “aquele povo” por meio de um olhar poético que ele traz para a sua realidade. 
A mesma autora ainda esclarece como é possível trabalhar a partir de um conto 
narrado. 
A partir de um conto narrado é possível trabalhar os conteúdos de linguagem oral e 
linguagem escrita, desde a sintaxe até a semântica. Podemos fazer novas leituras 
deste mesmo conto e traduzi-lo através de diversas linguagens, como a história em 
quadrinhos, reportagem jornalística, texto teatral, poema (BUSSATO, 2003, p.38). 
Desse modo, percebe-se a importância de trabalhar em sala de aula as narrativas, 
independente do seu gênero, pois elas possuem inúmeras contribuições que vão além do 
objetivo pedagógico. 
Trabalhando com produção textual 
Quando o aluno ingressa na escola traz consigo uma carga de experiências e 
conhecimentos prévios que não devem ser desprezados. Segundo Gadotti (1991, p.68) “A 
ação transformadora só pode ser eficiente quando fundada nas relações entre teoria e prática, 
isto é, na vinculação de qualquer ideia com suas raízes sociais”. 
Compartilhando desta ideia Freire e Campos (1991) mencionam que: 
O ensino deve sempre respeitar os diferentes níveis de conhecimento que o aluno 
traz consigo a escola. Tais conhecimentos exprimem o que poderíamos chamar de 
identidade cultural do aluno ligada evidentemente ao conceito sociológico de classe. 
O educador deve considerar essa leitura de mundo inicial que o aluno traz consigo, 
ou melhor, em si. Ele forjou-a no contexto do seu lar, de seu bairro, de sua cidade, 
marcando-a fortemente com sua origem social (FREIRE; CAMPOS 1991, p.5). 
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Desse modo, fica claro que o empenho do docente em conhecer e saber as 
experiências dos seus alunos sobre um determinado assunto possibilita um trabalho 
pedagógico mais adequado e significativo. 
Maria Cunha (2005, p.47) enfatiza que 
Seria, pois, muito importante que a escola procurasse desenvolver no aluno formas 
ativas de lazer – aquelas que tornam o indivíduo crítico e criativo, mais consciente e 
produtivo. A literatura teria papel relevante nesse aspecto. 
Fica claro que a escola tem o papel de desenvolver cidadãos críticos e criativos para a 
sociedade. E a literatura desempenha um papel importante na vida da criança e no seu 
desenvolvimento, seja ele afetivo, cognitivo ou intelectual. 
A literatura infantil abre portas para o universo da imaginação, incentivando a 
criança desde muito cedo a praticar a leitura prazerosa. O hábitoda leitura além de 
ser fonte de lazer, é um aumento a proficiência da escrita e da própria leitura, 
contribuindo para a formação de uma sociedade com cidadãos leitores, pensantes e 
crítico (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2013). 
Para que a história tenha significado e seja atrativa para a criança, é de suma 
importância que as obras literárias sejam separadas por faixas etárias e de acordo com a 
capacidade de entendimento de cada um. 
O registro por imagem e vídeo 
O termo imagem é definido por alguns autores de forma diferente. Lins (2008) revela 
que o termo imagem significa a representação feita pelo homem por meio de técnicas manuais 
ou recursos técnicos do que foi ou está sendo percebido. 
Já Santella e Nöth (2001) complementam que as imagens têm sido meios de expressão 
da cultura humana desde a pré-história e estão divididas em dois domínios: o da representação 
visual e o domínio imaterial das imagens na mente. O primeiro, representando pelos objetos 
materiais, são os signos que exibem nosso ambiente visual e uma das formas de estudá-lo é 
por meio da semiótica; no segundo, as imagens aparecem como imaginações, fantasias, 
modelos internos, esquemas, mas ambos os domínios não existem separados. 
Para Bussato, a imagem é um dos elementos de encantamento na contação de 
histórias. 
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Sem estas imagens o conto perderia a graça e o fascínio, e para que elas surjam no 
imaginário do ouvinte com toda a força que elas trazem consigo é preciso que antes 
elas sejam visualizadas por nós, na nossa tela inteira, com tanta precisão, que ao 
narrá-las elas criem vida e se materializem no espaço (BUSATTO, 2003, p.54). 
 Percebe-se o papel fundamental que a escola tem em relação ampliação, sistematização 
e reformulação dos conhecimentos. E para que haja tudo isso dentro da escola é de 
fundamental importância que o trabalho do professor seja voltado ao material didático, bem 
como, aos recursos midiáticos que chamam a atenção dos alunos. 
 
Metodologia de pesquisa 
A metodologia de pesquisa utilizada foi a de abordagem qualitativa, usando como 
instrumento de coleta de informações questionários semiestruturados. 
Os questionários foram aplicados para alunos e professores em uma escola particular 
no município de Curitiba. 
A coleta de dados permite que tenhamos conhecimento sobre a investigação. 
“Pesquisa é o conjunto de investigações, operações e trabalhos intelectuais ou práticos que 
tenham como objetivo a descoberta de novos conhecimentos, a invenção de novas técnicas e a 
exploração ou a criação de novas realidades” (KOURGANOFF, 1990, p 12). 
 Segundo Ludke e André (1986, p.33). A entrevista representa um dos instrumentos 
básicos para coleta de dados. Na entrevista, a relação que se cria é a interação, discorrendo 
sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém, permitindo a captação 
imediata e coerente da informação desejada. 
A análise de dados buscou estabelecer relação entre as informações coletadas e a 
fundamentação teórica. 
 Cenários de pesquisa 
Esta pesquisa foi realizada em instituição educacional privada, fundada em 1992, no 
bairro Uberaba, na cidade de Curitiba - com a missão de “promover a formação integral do ser 
humano e a construção de sua cidadania de acordo com os princípios cristãos”. 
A Instituição atende 400 (quatrocentos) alunos de classe social média e alta, contando 
com o quadro de 60 funcionários. 
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As pesquisas aplicadas aos alunos foram efetuadas na turma do 2º ano para um grupo 
de 21 (vinte e um) alunos. As pesquisas aplicadas aos professores foram efetuadas para um 
grupo de 06 (seis) professores. 
Desenvolvimentos da pesquisa 
A proposta foi aplicada em dois ambientes de interação: 
Ambiente 1 - Contar Histórias: 
Ação: dividida em cinco etapas. Primeiro a narrativa apresentada foi baseada em 
contos de fadas, criados e compartilhados por outros profissionais e protagonizada pela 
professora regente da turma. 
Posteriormente, as crianças foram organizadas em formato de semicírculo e, a 
professora, caracterizada de princesa apresentou uma história contada com o auxílio de 
imagens. Ao final, com o objetivo de um estímulo emocional, houve uma chuva colorida 
sobre os alunos causando diversão e descontração. 
Após a contação, a professora propôs uma atividade coletiva de fixação sobre 
substantivos próprios e comuns. 
Ambiente 2 - História Virtual: 
Investigação: identificação das afinidades de cada aluno com as personagens da 
história contada. 
As meninas foram caracterizadas de princesas, os meninos de super-heróis e um dos 
alunos como o domador de dinossauros. 
Ação: em sala de aula, as carteiras foram dispostas em semicírculo para facilitar a 
visualização. 
A professora criou e contou a história envolvendo as personagens no contexto lúdico, 
fazendo com que os alunos se sentissem como parte integrante da narração, identificando-se 
com os personagens durante a exposição dos slides, por meio da ferramenta digital – Power 
Point. 
Ao final da apresentação, a professora solicitou aos alunos que individualmente 
finalizassem a história produzindo um texto. 
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Instrumentos de pesquisa 
Foi construído um questionário semiestruturado com elementos gráficos: a foto de 
cada aluno, a foto de cada momento da contação de história e as expressões faciais para 
identificar se haviam ou não gostado do momento da narração. 
Os resultados observados foram: 
a) Questionário estruturado para os alunos: 
 Figura 1- Gráfico referente à escolha dos alunos em relação à proposta adotada. 
 
Fonte: as autoras. 
 
Ao todo, participaram da pesquisa 21 alunos. De acordo com os resultados 81% 
(oitenta e um por cento) optaram pela história digital, pois se reconheceram como 
protagonistas. 
A tecnologia, além de enriquecer o processo ensino-aprendizagem, propicia o 
desenvolvimento integral do aluno, valorizando seu comportamento emocional, crítico e 
imaginário, deixando margem para a exploração de novas possibilidades de criação. 
Moreira (2006, p.38) afirma que: “a aprendizagem significativa é o processo por meio 
da qual, novas informações adquirem significado por interação (não associação) com aspectos 
relevantes preexistentes na estrutura cognitiva”. 
No registro espontâneo dos alunos, alguns manifestaram sua satisfação nos momentos 
os quais eles apareceram e contribuíram para a integralidade da narração. 
 Aluna 3 – “Quando eu apareci”. 
 Aluna 6 – “Eu de princesa”. 
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A contação de histórias permitiu que os alunos se expressassem fazendo comentários 
diferenciados. 
Aluno 7 –“Uma comédia para toda a família”. 
Aluno 10 – “Dei tantas gargalhadas da prof.ª com aquele vestido brega de princesa 
de farmácia”. 
Os textos apresentados reflete a interação que os alunos têm em sala de aula com a 
professora em relação à afetividade, compartilhamento e a liberdade de expressão resultantes 
da mediação que ocorre neste espaço. 
O mediador deve agir com intencionalidade: ter o objetivo de ensinar e fazer tudo 
o que for possível para que esse objetivo seja realmente atingido. Apenas dar aulas 
não demonstra intencionalidade; apenas agir com objetivos específicos ainda não é 
suficiente. Um professor que realmente deseja causar transformação no aluno, 
fazê-lo aprender, modificar sua forma de pensar e agir deve ter intencionalidade. 
Ele precisa ir além dos objetivos traçados para aquela disciplina, naquela turma de 
alunos. A falta de compreensão por parte do aluno não é ignorada, pois quem tem 
intencionalidade procura todas as formas possíveis de ensinar determinado 
conteúdo, move o professor a procurar metodologias mais adequadas, a invar com 
criação de exemplos, exercícios, ilustrações e explicações mais apropriadas para as 
crianças [...] (BUDEL; MEIER, 2012, p.143). 
b) Questionário estruturado para os professores: 
A pesquisada foi realizada com 6 (seis) professoras que encontram-se entrea faixa 
etária de 20 a 50 anos, sendo que 50% delas estão acima de 40 anos. 
Em relação à questão 3 que diz respeito à formação acadêmica, registrou-se que todas 
as professoras entrevistadas possuem curso superior em Pedagogia, uma delas pós-graduada 
em Psicopedagogia e outra em Educação Ambiental. 
Referente à questão 4: Há quanto tempo atua na área?, o gráfico a seguir apresenta 
os dados que revelam que mais de 66% das professoras estão envolvidas com os processos 
educacionais há mais de 10 anos. 
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Figura 2 - Tempo de atuação das professoras entrevistadas. 
 
Fonte: as autoras 
Nesse sentido, é importante salientar que os profissionais da educação devem estar em 
constante processo de formação continuada em busca de novos conhecimentos, bem como, 
atualizar-se com a demanda das novas tecnologias para suprir as necessidades do trabalho em 
sala de aula, visto que, cada vez mais esses recursos estão presentes no cotidiano dos 
educandos. 
Vale ressaltar, portanto que. 
O professor é um pesquisador em serviço. Aprende com a prática e a pesquisa e 
ensina a partir do que aprende. Realiza-se aprendendo-pesquisando-ensinado-
aprendendo. O seu papel é funcionalmente o de um orientador/mediador (MORAN, 
2000, p. 30). 
 
A questão 5: Qual é o seu nível de atuação?, levou em consideração o nível de atuação 
das professoras, sendo que 5 (cinco) das entrevistadas responderam Ensino Fundamental – 
Anos Iniciais e apenas 1 (uma) delas atua na Educação Infantil. 
A questão 6: Você costuma utilizar tecnologias em suas aulas? Quais?, abordava o 
uso das tecnologias em sala de aula, sendo que, de acordo com as respostas obtidas, 100% 
(cem por cento) das professoras entrevistadas afirmaram que utilizam tecnologias durantes as 
aulas. 
[...] diante desse contexto, é importante acrescentar que com a inserção das novas 
tecnologias nas escolas o educador, além de perceber que a perspectiva de Educação 
está mudando, nota que a metodologia de ensino também precisa mudar, 
principalmente no que se refere à leitura. Visto que, com o uso de novas ferramentas 
é possível trabalhar no incentivo à leitura na sala de aula, e que esta, proporcione o 
retorno pedagógico do qual tanto o professor quanto o aluno poderão usufruir. 
(PLÁCIDO et. al., 2007, p. 17). 
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As tecnologias aliadas à educação só vêm a somar no processo de ensino-
aprendizagem, pois ampliam as possibilidades de acesso à informação e tornam essa ação 
mais significativa pelo olhar de quem aprende. 
Já na questão 7: de 0 a 5 classifique como as tecnologias podem auxiliar no 
letramento?, apenas 50% (cinquenta por cento) atribuíram pontuação 5 para a intensidade 
com que as tecnologias podem auxiliar na alfabetização e letramento, mas deixaram alguns 
comentários como: 
“Gosto muito das tecnologias em sala de aula, porém ela apresenta certo comodismo 
que pode prejudicar no lugar de auxiliar”. (Professora 1) 
“Uso pouco, pois tenho que levar as crianças para outro ambiente com internet”. 
(Professora 5) 
Hoje, mesmo com o grande avanço e acessibilidade às tecnologias, ainda nos 
deparamos com uma educação tradicional resistente às mudanças tecnológicas. Porém, 
acredita-se que as tecnologias vêm para facilitar e corroborar com o processo de ensino- 
aprendizagem e, o professor enquanto principal agente mediador do conhecimento exerce 
papel fundamental para o uso dessas ferramentas. 
Vale ressaltar, portanto, que no processo de alfabetização com crianças pequenas o 
trabalho deve vir ao encontro da realidade e o universo infantil, para tanto, o importante é que 
sejam promovidas atividades diversificadas e que atendam o interesse de todos os envolvidos 
no processo ensino-aprendizagem (BRASIL, 2008). 
Na questão 8: de 0 a 5 classifique como a contação de histórias pode auxiliar na 
alfabetização e letramento?, o resultado foi que 84% (oitenta e quatro por cento) dos 
entrevistados classificaram com o numeral 5, relatando que a contação de histórias: 
“Auxilia ainda mais do que as tecnologias, porque tocar um livro ainda é melhor do 
que apenas olhar”. (Professora 1) 
Na questão 9: A contação de histórias é uma prática presente em sua sala de aula? Se 
sim que estilo de história?, todas as professoras afirmam que fazem uso da contação e em 
diversos estilos. 
De acordo com Malba Tahan (1996) a história é capaz de estimular a imaginação, 
exercitar a memória, a inteligência, a sequência lógica dos fatos e favorece o ensino da língua, 
contribuindo também para outros aprendizados diferentes. 
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Dessa forma, percebe-se o quão importante é o exercício de contar e recontar histórias, 
oportunizando ao professor, adentrar no universo infantil e explorar os recursos e inúmeras 
possibilidades que a história oferece como aporte para o desenvolvimento de outras atividades 
dentro do contexto da alfabetização e do letramento. 
Considerações finais 
A presente pesquisa possibilitou que se verificasse a importância do trabalho com 
elementos da ludicidade e com as tecnologias na sala de aula como recursos complementares 
para o estímulo à aprendizagem dos alunos, ampliando a integração de ensinar e aprender. 
Além disso, percebe-se por meio da pesquisa realizada e da análise dos dados que as crianças 
têm como preferência as histórias digitais, nas quais elas se reconhecem como personagens da 
trama, criando espaço para a interatividade entre aluno e história. 
De acordo com a análise dos dados, vale ressaltar que todas as professoras afirmam 
fazer uso da tecnologia em sua prática escolar e, oitenta e quatro por cento delas afirmam que 
a contação de história auxilia no processo de alfabetização e letramento. 
Dessa maneira, percebemos o quanto o uso das tecnologias e a ludicidade podem 
contribuir para o desenvolvimento da criança, em especial o da alfabetização e letramento. 
Sendo assim, essas práticas devem ser estimuladas e valorizadas nas escolas ampliando as 
oportunidades de aprendizagem dos alunos e trazendo ganhos reais a prática de ensinar. E, 
para isso, todo educador envolvido nessa temática necessita aprimorar o processo de 
autoconhecimento: sua capacidade de interpretar a si mesmo a partir do sentido que as 
mudanças passam a ter em suas vidas; qual a vantagem, benefícios e mudanças resultantes da 
adoção de tais práticas psicopedagógicas: tecnologia, inovação e mediação. 
REFERÊNCIAS 
BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – 
Língua Portuguesa – vol. 2. Brasília: Ministério da Educação e Cultura (PCN 1º E 2º - 
ciclos, 1998). 
BRASIL. Ministério da Educação/SEB. Pró-Letramento: Programa de formação continuada 
de professores dos anos/séries iniciais do Ensino Fundamental: Alfabetização e Linguagem. – 
ed. rev e ampl. incluindo SAEB/Prova Brasil matriz de referência/Secretaria de Educação 
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