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Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 AN����N�U�S����TE� São fármacos que não têm muita relação entre si, o comum é ter a ação anticonvulsivante. Não tem classes específicas. A convulsão pode ser devido a febre alta, tumor, traumas, etc. EPILEPSIA: doença que apresenta crises convulsivas. O objetivo do tratamento é: ● Propiciar a melhor qualidade de vida; ● Alcance de um adequado controle de crise; ● Mínimo de efeitos adversos; ● Uma remissão total ou diminuição da frequência das crises. Os fármacos antiepilépticos/ anticonvulsivantes são a base do tratamento da epilepsia. Esses fármacos têm uma efetividade muito alta: variam de 70 a 90% de efetividade. Deve-se buscar um fármaco antiepiléptico com um mecanismo de ação eficaz sobre os mecanismos de geração e propagação, específicos das crises do paciente, individualmente. O que é a crise convulsiva? Ocorre devido a uma hiperestimulação do SNC e de maneira desorganizada (perda de organização das sinapses). Há subtipos de crises. OBS: TODOS OS FÁRMACOS ANTICONVULSIVANTES SÃO DEPRESSORES DO SNC, ou seja, toda substÂncia depressora do SNC vai ter um potencial anticonvulsivante, não necessariamente tendo ação anticonvulsivante. Os principais mecanismos de ação dos fármacos antiepilépticos -para deprimir o SNC- são: ● Diminuição da excitabilidade da membrana: diminuir a despolarização: - Bloqueio dos canais de sódio; - Bloqueio dos (influxo) canais de cálcio: diminuição da liberação dos NT na vesícula; - Diminuição da saída de potássio; ● Aumento da inibição GABA; ● Ligação à proteína SV2A (proteína vesicular pré-sináptica) que regula a transmissão sináptica mediada pelo cálcio; o bloqueio da atividade dessa proteína diminui a entrada de cálcio e, por consequência, diminui a liberação dos NT. OBS: Alguns desses fármacos têm mecanismos de ação bloqueando receptores de NT excitatórios. A decisão do tratamento baseia-se: ● O tipo de crise convulsiva; ● Risco de recorrência de crises; ● Consequências da continuação das crises para o paciente (frequência); ● Eficácia e efeitos adversos do fármaco escolhido; OBS: Deve-se ser levado em conta a tolerabilidade individual (resposta individual), facilidade de administração (via de adm e frequência) e acessibilidade do medicamento. TRATAMENTO: geralmente é em monoterapia: Monoterapia: Em caso de falha, fazer substituição gradual por outro fármaco, tentando manter a monoterapia. Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 Combinação: Em caso de falha na segunda tentativa de monoterapia, tentar a combinação de dois fármacos. A associação não aumenta significativamente os efeitos anticonvulsivantes, porém aumenta os efeitos adversos. ANTICONVULSIVANTES - ANTIEPILÉPTICOS Classificação: - Antiepilépticos de 1ª geração (ditos tradicionais/clássico); - Antiepilépticos de 2ª geração (ditos recentes/clássico); - Antiepilépticos de 3ª geração (ditos novos): tem um perfil de melhor tolerabilidade e são amplamente recomendados na frente dos clássicos (porém esses ainda são amplamente utilizados tb); OBS: As gerações têm eficácia equivalente, porém o perfil de efeitos adversos e de interações medicamentosas é mais favorável aos fármacos antiepilépticos mais recentes. Há epilepsia focal (afeta um único hemisfério cerebral - tendem a menores prejuízos) e generalizada (afeta os dois) ou ainda focal, secundariamente evoluindo para generalizada -ocorre primariamente em um hemisfério, mas depois dispersa para afetar os dois hemisférios. Há crises convulsivas com ou sem perda de consciência. Há também as crises convulsivas tônicas clônicas (contrações musculares rápidas com posturas rígidas mantidas), tônicas mioclônicas (contração muscular bem rápida, não tem rigidez) e crise de ausência (não vai ter contrações musculares intensas). Prejuízos: estão relacionados a área acometida e o período de duração. NO GERAL: da diretriz - Adultos com epilepsia focal: carbamazepina, fenitoína e ácido valproico; - Crianças com epilepsia focal: carbamazepina; - Idosos com epilepsia focal: lamotrigina e gabapentina (fármacos mais novos); - Crise de ausência: ácido valproico, etossuximida e, para segunda escolha, a lamotrigina. A carbamazepina NÃO pode ser utilizada na crise de ausência (não tem efetividade e pode potencializar as crises). PRINCIPAIS ANTICONVULSIVANTES: 1. CARBAMAZEPINA FÁRMACO CLÁSSICO. Mecanismo de ação: Inibe as descargas neuronais pelo bloqueio dos canais de sódio dependente de voltagem. Tem alta efetividade, amplamente utilizado. Possui uma discreta ação anticolinérgica; Considerado de primeira linha para crises focais; OBS: Fenobarbital é menos tolerado do que a carbamazepina (são fármacos de efetividade semelhante). Lamotrigina: é um fármaco mais novo anticonvulsivante, que tem um perfil de tolerabilidade superior a carbamazepina, porém a efetividade é menor. O mecanismo de ação é o mesmo. Vão ser utilizadas nas crises focais, crises focais secundariamente generalizadas ou crise focal generalizada. Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 Indicações: Monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, com ou sem generalização secundária; Podem ser utilizadas em crises TCG (tônico clônico generalizada, conhecido como “grande mal”) em pacientes com mais de um ano de idade; não vão ser o fármaco de primeira escolha, mas podem ser utilizados. Reações adversas: ➔ Vermelhidão da pele; ➔ Sonolência; ➔ Ganho de peso; ➔ Diarreia; ➔ Náusea; ➔ Vômitos; ➔ Problemas para caminhar (ataxia); ➔ Mudanças de humor (OBS: a carbamazepina é uma opção farmacológica no caso de tratamento de distúrbio bipolar); ➔ Tremor; ➔ Transtorno de memória; ➔ Visão dupla; ➔ Impotência sexual. OBS: Algumas reações adversas são semelhantes à classe e outras reações adversas que vão está mais relacionadas ao fármaco. Ter cuidado com a adesão farmacológica. Praticamente todos os fármacos vão ter como reação adversa: sonolência (uns fármacos com mais intensidade que outros), fadiga e ganho de peso. 2. CLONAZEPAM Faz parte das classes dos BZD; todo BZD tem potencial anticonvulsivante. Clonazepam tem uma meia-vida mais longa, o que faz reduzir a frequência de adm; permite a dm por VO, pode ser utilizado para várias crises convulsivas. Assim, acaba sendo uma melhor opção na classe dos BZD. OBS: Em situações de emergência, é muito utilizado o diazepam, por via intravenosa, por exemplo. Bastante útil no tratamento de crises mioclônicas; Monoterapia/combinação principalmente. NORMALMENTE NÃO SÃO FÁRMACOS DE PRIMEIRA ESCOLHA NO TRATAMENTO DESSAS CRISES (reações adversas importantes, acúmulo devido a meia-vida longa). Indicações: - Adultos e crianças; - Crises de ausência; - Crises TCG primárias ou secundárias; - Crises tônicas; - Crises clônicas; - Crises focais; - Crises mioclônicas; Reações adversas: ● Sonolência; ● Hiperatividade (em crianças e idosos); ● Transtornos cognitivos; ● Sialorreia; ● Diplopia; ● Fadiga; 3. ETOSSUXIMIDA Apresenta um espectro de ação antiepiléptico bastante restrito. Mecanismo de ação: bloqueio dos canais de cálcio, com consequente inibição do circuito tálamo-cortical, que está intimamente relacionado à geração das crises de ausência, provavelmente. Indicações: Tratamento de crises de ausência em pacientes com ou mais de 3 anos de idade. A PRIMEIRA ESCOLHA EM CRISES DE AUSÊNCIA, assim como o ácido valproico. Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 Tratamento adjuvante em certos tipos de epilepsias mioclônicas. Reações adversas: - Diarreia; - Náusea; - Vômitos; - Sonolência; - Perda de peso; - Dor de cabeça; 4. FENITOÍNA Mecanismo de ação: Bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem; OBS: NÃO É RECOMENDADO, NA ASSOCIAÇÃO, O USO DE FÁRMACOS COM MECANISMO DE AÇÃO SEMELHANTE (diminui a chances de efeitos adversos e aumento da efetividade). Ex: evitar utilizar a fenitoína com a carbamazepina. Alta eficácia e amplo espectro. Ligação com proteínas plasmáticas de 85% (alta), assim, pode interagir com outros fármacos que tenha ampla ligação com proteínas plasmáticas; Contraindicadanas crises de ausência e mioclônica (não tem efetividade); Janela terapêutica estreita (monitorar- pode ter acúmulo) e efeitos teratogênicos (em qualquer fase da gestação). OBS: Começar com dose baixa e ir aumentando a dose aos poucos, para obter o controle da crise, não ultrapassando a dose máxima. OBS: A maioria dos anticonvulsivantes são teratogênicos em qualquer fase da gestação. O ideal é utilizar além do anticonvulsivante, anticoncepcional para não engravidar. Indicações: Tratamento de crises TCG, focais complexas, ou combinações de ambas, em crianças, adolescentes e adultos; Prevenção e tratamento de crises epilépticas durante ou após procedimento neurocirúrgicos; Monoterapia ou associação; Reações adversas: - Incoordenação; - Sonolência; - Aumento do volume de sangramento das gengivas (crescimento gengival); - Crescimento de pelos no corpo e na face; - Efeito teratogênico; 5. FENOBARBITAL É um barbitúrico: classe ansiolítica e hipnótica. Entre essa classe, o fenobarbital é o que apresenta melhor tolerabilidade e permite a adm por várias vias. Possui largo espectro de ação (RN, crianças e adultos); É seguro e disponível em apresentações orais e parenterais; Mecanismo de ação: potencialização da ação GABA. O fenobarbital também pode bloquear os canais de sódio, reduzir o influxo de cálcio pré-sináptico e reduzir as correntes mediadas pelo glutamato. Bloqueio dos receptores AMPA do glutamato (diminui a excitabilidade do glutamato). Cuidado: Reações adversas: - Abstinência (não deve ser interrompido o uso rapidamente); Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 - Indutor enzimático de várias enzimas que metabolizam outros fármacos - precisa ter cuidado na interação medicamentosa; É largamente utilizado por apresentar eficácia equivalente à de fenitoína no tratamento em monoterapia tanto de crises focais como nas generalizadas. Indicações: Tratamento de crises focais e generalizadas de pacientes de qualquer idade, inclusive recém nascidos. Reações adversas: - Tontura; - Sonolência (pode prejudicar as atividade diárias do paciente); - Mudança no comportamento; - Transtornos de memória e de concentração; - Hiperatividade em crianças; OBS: NÃO UTILIZAR ESSES FÁRMACOS COM O USO DE ÁLCOOL!! 6. GABAPENTINA Interfere de forma pouco esclarecida com os canais de cálcio voltagem dependentes (mecanismo de ação pouco esclarecido). Desvantagem: CUSTO ALTO! Apresenta uma absorção saturável, dependente de dose (em doses maiores pode haver menor absorção no duodeno); Vantagem: Não interfere no metabolismo de outros fármacos (não há ligação à proteínas plasmáticas e a eliminação é renal). BOA OPÇÃO PARA PACIENTES POLIFARMÁCIA. OBS: Ideal para idosos e para pacientes com doença crônica que geralmente usam outros medicamentos. Não tem sido observados efeitos teratogênicos durante a gestação! Na diretriz, não tem um fármaco específico para gestante, o ideal é que ela não use. Porém a gabapentina não tem comprovação que causa efeitos teratogênicos. Indicações: Terapia adjuvante de crises focais com ou sem generalização secundária em pacientes com mais de 3 anos de idade; Reações adversas: - Aumento do apetite; - Ganho de peso (aumento do apetite); - Tontura; - Incoordenação; - Dor de cabeça; - Tremor; - Cansaço; - Náusea; - Comportamento agressivo (em crianças); 7. TOPIRAMATO Pouca ligação com proteínas plasmáticas (pode usar com associação, por isso). O metabolismo sofre a influência de fármacos indutores de enzimas hepáticas. Largo espectro de eficácia (utilizado para vários tipos de crises convulsivas). Apresenta um conjunto de reações adversas maior e menos toleráveis ao paciente. Vários mecanismos: bloqueio dos canais de sódio, modulação negativa dos canais de cálcio, ativação da condutância do potássio, potencialização da ação inibitória GABAérgica e antagonismo a receptores glutamatérgicos. OBS: Possivelmente a principal ação é a atividade potencializadora GABA. Interferência Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 na enzima GABA transaminase (metaboliza GABA). Antagonismo dos receptores glutamatérgicos. Indicações: amplo espectro de ação: Monoterapia de crises focais ou primariamente do tipo TCG em pacientes com mais de 10 anos de idade com intolerância ou refratariedade a outros medicamentos de primeira linha. Pode ser utilizado em monoterapia ou associação; Terapia adjuvante de crises focais; Reações adversas: - Ataxia; - Tonturas; - Fadiga (mais intensa com o acúmulo do fármaco); - Náuseas; - Sonolência; - Perda de peso (uso em pacientes com sobrepeso/obesidade); - Diminuição do apetite; - Parestesias; - Cefaleia; - Nefrolitíase; - Nervosismo; - Pensamento lento; - Dificuldade de encontrar palavras; - Dificuldade de concentração. 8. LAMOTRIGINA Fármaco da classe dos mais novos anticonvulsivantes. Mecanismo de ação: inibição dos canais de sódio dependentes de voltagem. Lamotrigina é mais bem tolerada (boa tolerabilidade) do que a carbamazepina em idosos. Anticoncepcionais orais diminui a concentração plasmática (por consequência, vai precisar de doses maiores). Durante a gestação o metabolismo encontra-se aumentado (o tempo de ação da lamotrigina vai ser restringido). Tem sido apontada como um fármaco de escolha no tratamento em mulheres em idade fértil. Ideal que faça o uso de anticoncepcional. Pode agravar determinadas crises mioclônicas. NÃO DEVE SER UTILIZADO! Pode ser utilizado em crises de ausência! Indicações: Monoterapia de crises focais com ou sem generalização secundária em pacientes com mais de 12 anos (refratariedade). Terapia adjuvante de crises focais em pacientes com mais de 2 anos de idade. Reações adversas: mais toleráveis - Dor de cabeça; - Náusea; - Vômitos; - Visão dupla; - Tonturas; - Incoordenação; - Tremor. 9. ÁCIDO VALPROICO e VALPROATO DE SÓDIO (mesmo fármaco, só muda a preparação farmacêutica): Todas essas formulações são equivalentes com relação à eficácia e segurança. Altamente ligado às proteínas (90%); sofre interferência de outros fármacos de maneira importante. Fármaco clássico, com alta efetividade, com amplo espectro de ação. É ALTAMENTE TERATOGÊNICO!!! Júllia Araujo - Medicina P5 - 2021.1 Indicações: Monoterapia e terapia adjuvante de pacientes com mais de 10 anos de idade e com qualquer forma de epilepsia. Utilizado em monoterapia ou associação. Em casos de crises de ausência e crise focal, é fármaco de primeira escolha!! Mecanismo de ação: Redução nos disparos dos canais de sódio, ativação da condutância do potássio, inibição da GABA-transaminase, aumento da liberação e inibição da recaptação do GABA. Reações adversas: - Alterações hormonais; - Ganho de peso (principal. mulheres); - Teratogênese; - Risco aumentado de desenvolvimento de hepatotoxicidade fatal; - Sonolência; - Cansaço; - Tremor; - Diminuição das plaquetas; - Agranulocitose; - Queda de cabelos (alopécia). OBS: Para as crises generalizadas, o ácido valproico permanece como fármaco antiepiléptico de primeira escolha. CRITÉRIOS PARA TROCA DE FÁRMACO (MANUTENÇÃO DE MONOTERAPIA) Quando asseguradas a adesão ou nível sérico adequados recomenda-se a troca de fármacos nas seguintes situações: ● Intolerância à primeira monoterapia; ● Falha no controle; ● Exacerbação de crises. A troca de fármacos deve ocorrer com: 1. Introdução gradual do segundo fármaco; 2. Com dose gradativa até que as crises sejam controladas ou demonstre intolerância; 3. Se ocorrer o controle de crises, o primeiro fármaco passa a ser retirado gradativamente. CRITÉRIO PARA O USO DE ASSOCIAÇÃO Poderá ser aplicada uma associação de fármacos em caso de controle inadequado de crises com duas monoterapias sequenciais. De forma geral, as associações devem utilizar um fármaco de espectro amplo (ex. ácido valproico) com um de espectro restrito (ex. carbamazepina). Evitar usar dois fármacos com o mesmo mecanismo de ação (Ex: carbamazepina + fenitoína). CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO O tempo de tratamento da epilepsia, em geral, não pode ser pré-determinado. Porém, há duas situaçõesem que ele pode ser interrompido: - Por falha do tratamento; - Por remissão completa das crises; FALHA NO TRATAMENTO O período de avaliação da resposta será de 3 meses com o tratamento em doses máximas toleradas (com o aumento gradual da dose até o controle das crises epilépticas ou presença de efeitos adversos inaceitáveis). REMISSÃO DAS CRISES O paciente é considerado livre de crises quando elas não ocorrerem após um intervalo três vezes maior que o intervalo de crises vigente anteriormente à introdução do tratamento, ou por pelo menos 1 ano. Inexistem diretrizes definitivas para a interrupção do tratamento.
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