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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS Curso de graduação em Geologia GABRIEL PARENTE DA SILVA ALEM MARINHO MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL DO AFLORAMENTO DA PRAIA DA PACIÊNCIA (SETOR E), SALVADOR, BAHIA. Salvador 2013 GABRIEL PARENTE DA SILVA ALEM MARINHO MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL DO AFLORAMENTO DA PRAIA DA PACIÊNCIA (SETOR E), SALVADOR, BAHIA. Monografia elaborada para obtenção do título de Bacharel em Geologia pela Universidade Federal da Bahia - UFBa. Orientadora: Profª. Drª. Simone Cerqueira Pereira Cruz Co-orientadora: Profª. Drª. Jailma Santos de Souza Salvador 2013 TERMO DE APROVAÇÃO GABRIEL PARENTE DA SILVA ALEM MARINHO MAPEAMENTO GEOLÓGICO E ANÁLISE ESTRUTURAL DO AFLORAMENTO DA PRAIA DA PACIÊNCIA (SETOR E), SALVADOR, BAHIA. Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora: Salvador, 10 de setembro de 2013. ___________________________________________________ Prof a . Dr(a). Simone Cerqueira Pereira Cruz – UFBA (Orientadora) ___________________________________________________ Prof. Dr. Carlson de Matos Maia Leite – PETROBRAS (Examinador) ___________________________________________________ Geólogo Josafá da Silva Santos – UFBA (Examinadora) Salvador, 10 de setembro de 2013. “Sou argila. Sedimento fino em suspensão. Toda intempérie me carrega. Parte de mim é erosão”. Sedimento Fino AGRADECIMENTOS A concretização desta monografia não seria possível sem o apoio de algumas pessoas. Então, sendo breve e objetivo, citarei, a seguir, os responsáveis pela realização de um sonho: Meu pai e minha mãe, Jair Alem Marinho e Juciara Parente da Silva Marinho, respectivamente. Minha irmã, Camila Parente da Silva Alem Marinho e meu irmão, Leonardo Parente da Silva Alem Marinho. Fernanda Freitas Leal, minha parceira de sempre. Minha professora e orientadora, Simone Cerqueira Pereira Cruz. Meu amigo e companheiro de trabalho, Eduardo Luiz Vieira Carrilho. Rafael Ribeiro Daltro, meu semelhante. Diego Melo Fernandes, Bianca Leone Barros, Rodolfo Santos Gasser, Drica Nascimento, Carlos Cruz, Lucas Gontijo, Lucas Souza, Vitinho Abacaxi Matos, Fabinho, Pedroca, Ítala, Mário Coni, M.V., Alexandre Moitinho, Nilsinho, Natália Fontes, Josafá Salsa da Silva Santos, Priscila Freitas, os Brunos, Anderson Bunnyman Coelho, Muriel Murilove Figueiredo, Professor Pedro Smeagol Maciel, galera de Barreiras, galera do NGB (Marcelo Carcará, Carolzinha, Michelli, Vanderlúcia, Ravena), colegas formandos, professores, motoristas, Deraldo, Bossal, Uenderson Eros, Vinicius Sabão Schirmer, Weltom, Daniel Leone, Paulo Henrique Alexandrino das Virgens, Diego da Silva Leite, Vinicius da Cruz Queiroz dos Santos, Ariadne Gomes, Fernando Lima Barbosa, Eduardo Reis de Carvalho, Celmário Mineiro Brandão, Fabão, Jorge, Jairo, Vagner Tatuzinho, Anderson Lobo, Samuel Carvalho, Niaro Gonçalves F. Silva, Adílio Domingos, Juliete, Malu... Seguramente, muito mais pessoas e situações fazem parte dessa soma. Também é necessário agradecer à geologia, que me lapidou como a uma gema. Ao Todo do universo, Aos meus pais, Aos meus irmãos, Aos meus amigos, Aos meus amores. Aos meus. RESUMO A área de estudo pertence ao contexto macrotectônico do Cráton do São Francisco, nos domínios do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, mais especificamente em sua porção oriental, no Cinturão Salvador-Esplanada. A carência de estudos no Cinturão Salvador-Esplanada despertou a necessidade de contribuir para o entendimento da evolução tectônica desse cinturão através de trabalhos de mapeamento geológico do afloramento do setor E da praia da Paciência, Rio Vermelho, cidade de Salvador. O objetivo geral desse trabalho é contribuir com o entendimento da evolução tectônica do Cinturão Salvador-Esplanada, um importante compartimento do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Como objetivos específicos, tem-se: (i) proceder ao levantamento das litologias e estruturas associadas com a migmatização do afloramento situado na porção E da Praia da Paciência; (ii) realizar a análise estrutural desse afloramento; (iii) verificar a relação entre a migmatização e as fases deformacionais identificadas. Com os trabalhos de mapeamento geológico foi possível o levantamento de três unidades distintas: (i) migmatito granulítico paraderivado com encraves máficos (metatexítico e diatexítico), predominantes; (ii) diques félsicos; e (iii) rochas e sedimentos recentes, discordantes e recobrindo as demais, cristalinas. Duas fases deformacionais compressionais foram identificadas e denominadas de Dn e Dn+1. A primeira fase foi subdividida nos estágios Dn’, Dn” e Dn’”. Essas fases são correlatas com as colisões riacianas interpretadas por diversos autores, com campos de tensões compatíveis com o campo de tensão regional que estruturou o Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Com esses estudos pretende-se colaborar para os avanços do entendimento da evolução deformacional da porção sul do Cinturão Salvador-Esplanada e do orógeno em foco. Palavras-chave: Cinturão Salvador-Esplanada; migmatito; zonas de cisalhamento. ABSTRACT The study area is inserted in the macrotectonic context of the Craton of São Francisco, in the domain of the Itabuna-Salvador-Curaçá Orogen, specifically in the eastern part, in the Salvador-Esplanada Belt. The shortage of studies about the Salvador-Esplanada Belt brought the need of contribute to the understanding of the tectonic evolution of this Belt through of studies about geological mapping and collecting structural data. The general purpose of this study is contribute to the understanding the tectonic evolution of the Salvador-Esplanada Belt, which is an important compartment in the Itabuna-Salvador-Curaçá Orogen. The specific purposes are: (i) to map the outcrop which is located at the east part of the Paciência beach; (ii) to perform the structural analysis of the outcrop at the east of Paciência beach; (iii) to analyze the relation between the migmatization and the deformation phases identified. Through of the studies of mapping was possible to identify three distinct units: (i) the predominant paraderivated granulite migmatite with mafic enclaves (metatexites and diatexites); (ii) felsic dikies; and (iii) recent rocks and sediments that are discordant and are covering the crystalline rocks. Two compressional deformational phases were identified and named as Dn and Dn+1. The first one have been subdivided in stages Dn’, Dn’’ and Dn’’’. These phases are correlated with the riacian collision, already interpreted by several authors, with stress fields compatible with the regional stress field. About it, the purpose of this study is to cooperate with the understanding of the deformational evolution in the south part of the Salvador-Esplanada Belt and in the Itabuna-Salvador-Curaçá Orogen. Keywords: Salvador-Esplanada Belt; migmatite; shear zones. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 10 LISTA DE FOTOGRAFIAS .................................................................................................... 13 APÊNDICE .............................................................................................................................. 17 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO .............................................................................................18 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................ 19 1.2. LOCALIZAÇÃO E ACESSO ....................................................................................... 21 1.3. OBJETIVOS .................................................................................................................. 21 1.4. JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 22 1.5. MÉTODO DE TRABALHO ......................................................................................... 22 CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................. 24 2.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 24 2.2. O ORÓGENO ITABUNA-SALVADOR-CURAÇÁ .................................................... 25 2.2.1. O Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá ..................................................................... 25 2.2.2. O Cinturão Salvador-Esplanada ............................................................................. 29 2.3. GEOLOGIA DE SALVADOR ..................................................................................... 31 2.3.1. Unidades litoestratigráficas e metamorfismo ......................................................... 31 2.3.2. Geologia estrutural ................................................................................................. 35 2.3.3. Geoquímica ............................................................................................................. 39 2.3.4. Geocronologia ........................................................................................................ 39 3.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 41 3.2. UNIDADES MAPEADAS ............................................................................................ 42 3.2.1. Migmatitos granulíticos paraderivados ferro-magnesianos com encraves máficos43 a) Migmatito Metatexítico Granulítico Paraderivado ............................................. 46 b) Migmatito Diatexítico Granulítico Paraderivado ............................................... 50 c) Encraves Máficos ............................................................................................... 54 3.2.2. Diques Félsicos ....................................................................................................... 56 3.2.3. Rochas e Sedimentos Recentes .............................................................................. 58 a) Conglomerados ......................................................................................................... 58 b) Sedimentos Recentes ................................................................................................ 60 3.3. ESTRUTURAS DEFORMACIONAIS IDENTIFICADAS ......................................... 60 3.3.1. Migmatitos granulíticos paraderivados ferro-magnesianos com encraves máficos61 a) Migmatito Metatexítico Granulítico Paraderivado ............................................. 61 3.4. FASES DEFORMACIONAIS IDENTIFICADAS E EVOLUÇÃO DEFORMACIONAL ........................................................................................................... 73 3.5. DOMÍNIOS ESTRUTURAIS IDENTIFICADOS ........................................................ 76 CAPÍTULO 4 – CONCLUSÃO ............................................................................................... 77 CAPÍTULO 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 79 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 - Mapa Geológico do Cráton do São Francisco, mostrando os adjacentes cinturões brasilianos do Neoproterozoico, as sequências de cobertura do Proterozoico (mais jovens que 1.8 Ga), a Bacia do São Francisco e o Aulacógeno do Paramirim: ES – Espinhaço Setentrional; CD – Chapada Diamantina. Fonte: Alkmim (2004). A seta indica o retângulo no qual está inserida a área de estudo, na cidade de Salvador....................................................... 18 Figura 1.2 - Imagem de satélite da área dos afloramentos dos setores W e E da Praia da Paciência. Fonte: Programa Google Earth. ............................................................................... 20 Figura 1.3 – Imagem aérea da área do afloramento estudado (setor E da praia da Paciência). Fonte: JSF Barbosa. Fotógrafo: Luiz Pereira. .......................................................................... 20 Figura 1.4 - a) Mapa do Estado da Bahia com a localização da cidade de Salvador; b) Mapa de situação do afloramento estudado; Fonte: Mapa de Divisão Político-Administrativa do estado da Bahia, SEI-BA (2000). ........................................................................................................ 21 Figura 2.1 - Mapa geológico do Estado da Bahia mostrando os domínios tectônicos- geocronológicos arqueanos e paleoproterozoicos. Os traços das estruturas deformacionais paleoproterozoicas, neoproterozoicas e mesozoicas estão também indicadas. Modificado de Barbosa et al. (2012). 5 ............................................................................................................ 24 Figura 2.2 – Mapa geológico do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Parte Norte), destacando as unidades granulíticas mesoarqueanas (Complexo Caraíba, Tanque Novo e Suíte São José do Jacuípe), além do Augen Granulito Riacho da Onça e granitoides paleoproterozoicos. Modificado de Barbosa et al. (2012).6 ..................................................................................... 26 Figura 2.3 - Mapa geológico do embasamento Arqueano-Paleoproterozoico do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Parte Sul) mostrando as unidades mesoarqueanas (granulitos básicos e paraderivados), as unidades neoarqueanas-paleoproterozoicas (granulitos tonalítico- trondhjemíticos) e paleoproterozoicas (granulitos tonalítico-trondhjemíticos e monzoníticos- monzodioríticos), além de granitoides e rochas dioríticas-peridotíticas. Modificado de Barbosa et al. (2012). 7 ............................................................................................................ 28 Figura 2.4 – Mapa geológico do Cinturão Salvador-Esplanada, mostrando as unidades mesoarqueanas (Zona Salvador-Conde, Granitoide Pela-Porco e Zona de Cisalhamento Aporá-Itamira), além de metagranitoides paleoproterozoicos de Salvador. Modificado de Barbosa et al. (2012). 8 ............................................................................................................ 29 Figura 2.5 – Modelo digital de terreno mostrando o contraste topográfico entre as partes oeste e leste do Alto de Salvador, separadas pela Falha do Iguatemi. Fonte: Barbosa et al. (2005). 9 .................................................................................................................................................. 32 Figura 2.6 – Mapa geológico da cidade de Salvador. Fonte: Souza et al. (2009).10 ............... 34 Figura 2.7 – Configuração 3D das diferentes fases de deformação dúcteis das rochas metamórficas de Salvador. Fonte: Barbosa et al. (2005). 11 ................................................... 36 Figura 2.8 – Modelo deformacional para a área do afloramento do Hospital espanhol, com as posições das estruturas em seção (a) e em mapa (b). Fonte: Souza-Souza (2010). 12 ............. 38 Figura 3.1 – Constituintes de um migmatito segundo Sawyer (2008). 13 ............................... 41 Figura 3.2 – Esquema mostrando as diferenças entre leucossomas (1) in situ, (2i) na fonte (in source) ou (3) veios leucocráticos proposto por Sawyer & Brown (2008). 14 ........................ 42 Figura 3.3 – Partes constituintes de um migmatito. Modificadode Sawyer (2008). 15 .......... 43 Figura 3.4 – Imagem de satélite posicionando os principais afloramentos da praia do Rio Vermelho com as variações composicionais de seus domínios litológicos. O retângulo amarelo representa a área de trabalho (Apêndice 1). Fonte: Google Earth / agosto 2013. 16 . 44 Figura 3.5 – Distribuição espacial dos migmatitos granulíticos paraderivados (metatexíticos e diatexíticos). 17 ........................................................................................................................ 46 Figura 3.6 – Distribuição espacial do migmatito metatexítico paraderivado. 18 ..................... 47 Figura 3.7 – Distribuição espacial do migmatito diatexítico paraderivado. 19 ........................ 51 Figura 3.8 – Distribuição espacial dos encraves máficos. 20 ................................................... 55 Figura 3.9 – Distribuição espacial dos diques félsicos. 21 ....................................................... 57 Figura 3.10 – Distribuição espacial das rochas e sedimentos recentes. 22 .............................. 59 Figura 3.11 – Diagrama de isodensidade polar para a foliação (Sn’//Sn”) no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Hemisfério inferior; N = número de medidas. 23 ....... 63 Figura 3.12 – Diagrama estereográfico sinóptico da lineação de estiramento mineral Lxn’’ no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Hemisfério inferior; N = número de medidas. 24 ............................................................................................................................... 64 Figura 3.13 – Diagrama de planos das zonas de cisalhamento dúctil-rúpteis dextrais encontradas no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Hemisfério inferior; N = número de medidas. 25 ............................................................................................................. 66 Figura 3.14 – Diagrama de isodensidade polar da foliação Sn+1 no migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Hemisfério inferior; N = número de medidas. 26 ........................... 69 Figura 3.15 – Diagrama estereográfico sinóptico da lineação de estiramento Lxn+1 no migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Hemisfério inferior; N= número de medidas. 27 .............................................................................................................................................. 70 Figura 3.16 – Diagrama de planos das zonas de cisalhamento sinistrais encontradas no migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Hemisfério inferior; N = número de medidas. 28 .............................................................................................................................................. 71 Figura 3.17 – Diagrama estereográfico de rosetas da distribuição das fraturas nos migmatitos granulíticos paraderivados. Hemisfério inferior; N = número de medidas. 29 ........................ 73 Figura 3.18 – Modelo estrutural esquemático para a área de estudo. 30 .................................. 75 Figura 3.19 – Mapa de domínios estruturais da área de trabalho. 31 ....................................... 76 LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 3.1 – Granulitos paraderivados alumino-magnesianos com granada no setor litológico A da figura 3.3. ......................................................................................................... 45 Fotografia 3.2 – Granulitos paraderivados alumino-magnesianos com granada no setor litológico C da figura 3.3. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ......................... 45 Fotografia 3.3 – Visão geral do contato (linha amarela) entre o diatexito (acima) e o metatexito (abaixo). Visada em planta. A seta indica o norte. ................................................. 48 Fotografia 3.4 – Detalhe do contato (linha amarela) entre os migmatitos diatexíticos (esquerda) e metatexíticos (direita). Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .......... 48 Fotografia 3.5 – Aspecto geral do migmatito metatexítico paraderivado. Visada em planta. A seta indica o norte. .................................................................................................................... 48 Fotografia 3.6 – Aspecto geral do migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Notar bandamento gnáissico com níveis ricos em quartzo. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ...................................................................................................................................... 49 Fotografia 3.7 – Área com neossoma difuso no migmatito metatexítico granulítico paraderivado (circulo amarelo) Visada em planta. A seta indica o norte. ................................ 49 Fotografia 3.8 – Detalhe de ocorrência de fusão in situ em migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A ponta da lapiseira indica o norte. ..................................... 49 Fotografia 3.9 – Estrutura estromática no migmatito metatexítico granulítico paraderivado, evidenciando o fundido (parte clara) e o resíduo (parte escura). Visada em planta. A ponta do martelo indica o norte. .............................................................................................................. 49 Fotografia 3.10 – Bandamento composicional, no migmatito metatexítico granulítico paraderivado, com intercalações de melanossoma e quartzo, formando estrutura estromática. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................... 50 Fotografia 3.11– Neossoma em migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ...................................................................................... 50 Figura 3.12 – Aspecto geral do migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em perspectiva. A seta indica o norte. ............................................................................................ 51 Fotografia 3.13 – Vista panorâmica da área de ocorrência do migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ............................................. 51 Fotografia 3.14 – Detalhe da mesoestrutura fanerítica grossa em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em perfil. ............................................................................. 52 Fotografia 3.15 – Encraves máficos com bordas ricas em biotita em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ........................... 52 Fotografia 3.16 – Bandamento gnáissico em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................... 52 Fotografia 3.17 – Migmatito metatexítico granulítico paraderivado estromático imerso em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Notar bandamento finamente espaçado nesses metatexitos. As bandas mais espessas de material máfico representa paleossoma de rocha mafica, que se intercala com o paleossoma granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ..................................................................................................... 53 Fotografia 3.18 – Migmatito diatexítico granulítico paraderivado com estrutura schlieren. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................... 53 Fotografia 3.19 – Migmatito diatexítico granulítico paraderivado com estrutura schlieren. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................... 53 Fotografia 3.20 – Migmatito diatexítico granulítico paradeivado com estrutura Schölen. Visada em planta. A bússola apontapara o norte. .................................................................... 54 Fotografia 3.21 – Encrave máfico em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ................................................................................ 55 Fotografia 3.22 – Encrave máfico com geometria fusiforme em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ........................... 55 Fotografia 3.23 – Encraves máficos com geometria elipsoidal em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ........................... 56 Fotografia 3.24 – Encrave máfico alongado no migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................... 56 Fotografia 3.25 – Dique félsico subconcordante com a foliação. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................................................................. 57 Fotografia 3.26 – Dique félsico subconcordante com a foliação. Visada em planta. A ponta da lapiseira indica o norte. ............................................................................................................. 57 Fotografia 3.27 – Dique félsico discordante com a foliação e com bifurcação indicando fluxo magmático de SW para NE. Visada em perfil, para NW. ........................................................ 58 Fotografia 3.28 – Dique pegmatítico exibindo mesoestrutura ígnea gráfica. Visada em planta. A ponta da lapiseira indica o norte. .......................................................................................... 58 Fotografia 3.29 – Vista panorâmica da área de ocorrência do conglomerado (em destaque), em discordância erosiva e angular com os metatexitos. Contato em amarelo. Visada em planta. A ponta do martelo indica o norte. ............................................................................................... 59 Fotografia 3.30 – Detalhe do conglomerado da área de estudo. Visada em planta. A ponta do martelo indica o norte. .............................................................................................................. 59 Fotografia 3.31 – Sedimentos recentes (areia de praia). Visada em planta. A ponta do martelo indica o norte. ........................................................................................................................... 60 Fotografia 3.32 – Dobras isoclinais intrafoliais sem raiz envolvendo uma foliação Sn’ e internas à foliação Sn’//Sn” no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A ponta da lapiseira indica o norte. .............................................................................. 61 Fotografia 3.33 – Dobra isoclinal intrafolial sem raiz envolvendo uma foliação Sn’ e internas à foliação Sn’//Sn” no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em perfil, para NE. .................................................................................................................................... 61 Fotografia 3.34 – Vista panorâmica do bandamento composicional gnáissico e da xistosidade (Sn’//Sn”), indicado pelas linhas amarelas, no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A seta indica o norte. ........................................................... 62 Fotografia 3.35 – Detalhe do bandamento composicional gnáissico e da xistosidade (Sn’//Sn”) no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. O nível mais claro é quartzoso. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ................................................................................ 62 Fotografia 3.36 – Dobra intrafolial, preservada em pod de deformação no migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em seção. A ponta do martelo indica o norte. ... 65 Fotografia 3.37 – Dobras parasíticas no migmatito metatexítico granulítico paraderivado, rotacionando a foliação Sn’//Sn”. Visada em planta. A ponta da lapiseira indica o norte. ...... 65 Fotografia 3.38 – Zonas de cisalhamento exibindo padrão anastomótico da folliação Sn+1 em migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A ponta do martelo indica o norte. ...................................................................................................................................... 67 Fotografia 3.39 – Zonas de cisalhamento (linhas amarelas) exibindo padrão anastomótico da folliação Sn+1 em migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em perfil, para ENE. ......................................................................................................................................... 67 Fotografia 3.40 – Foliação Sn’//Sn”//Sn+1 no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ............................................. 67 Fotografia 3.41 – Dobras de arrasto no migmatito metatexítico granulítico paraderivado sugerindo movimento dextral. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ................... 67 Fotografia 3.42 – Dique félsico dobrado e boudinado, no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ............................................. 68 Fotografia 3.43 – Dique félsico dobrado, no migmatito metatexítico granulítico paraderivado. Visada em perfil, para WSW. ................................................................................................... 68 Fotografia 3.44 – Boudin simétrico envolvendo encrave máfico em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ........................... 71 Fotografia 3.45 – Detalhe de lineação de estiramento mineral (Lxn’’) marcada pelo estiramento de quartzo em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. ........................... 71 Fotografia 3.46 – Sigmoides de foliação (em destaque) no migmatito diatexítico granulítico paraderivado, indicando movimento aparente sinistral em zonas de cisalhamento. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ...................................................................................... 72 Fotografia 3.47 – Sigmoides de foliação (em destaque) no migmatito diatexítico granulítico paraderivado, indicando movimento aparente sinistral em zonas de cisalhamento. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. ...................................................................................... 72 Fotografia 3.48 – Aspecto geral da foliação anastomótica gerada por zona de cisalhamento dúctil-rúptil em migmatito diatexítico granulítico paraderivado. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................................................................................. 72 Fotografia 3.49 – Detalhe do padrão anastomótico em zona de cisalhamento dúctil-rúptil em diatexito. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. .................................................... 72 Fotografia 3.50 – Falhas sinistrais em migmatito diatexítico, cujo off-set sugere movimento direcional sinistral aparente em plano de cisalhamento Sn+1 posicionado segundo N245. Visada em planta. A ponta da lapiseira indica o norte. ............................................................ 72 Fotografia 3.51 – Dominós antitéticos no migmatito diatexítico cujo off-set sugere movimento direcional sinistral aparente em plano de cisalhamento Dn+1 posicionado segundo N230. Visada em planta. A ponta da bússola indica o norte. .............................................................. 72 APÊNDICE APÊNDICE 1. Mapa Geológico da Área de Trabalho..........................................................8418 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO Do ponto de vista geotectônico, as rochas da cidade de Salvador estão situadas no Cinturão Salvador-Esplanada, um dos segmentos do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá que se formou durante as colisões que envolveram placas arqueanas e orógenos riacianos/orosirianos (Barbosa & Sabaté 2003). Essas rochas encontram-se na porção setentrional do Cráton do São Francisco (Figura 1.1), cujo substrato foi consolidado no Paleoproterozoico (Almeida 1977). Figura 1.1 - Mapa Geológico do Cráton do São Francisco, mostrando os adjacentes cinturões brasilianos do Neoproterozoico, as sequências de cobertura do Proterozoico (mais jovens que 1.8 Ga), a Bacia do São Francisco e o Aulacógeno do Paramirim: ES – Espinhaço Setentrional; CD – Chapada Diamantina. Fonte: Alkmim (2004). A seta indica o retângulo no qual está inserida a área de estudo, na cidade de Salvador. Os granulitos desse cinturão, que se estende de Salvador, na Bahia, até Buquim, em Sergipe são, ainda, pouco estudados, tanto do ponto de vista cartográfico, quanto petrológico 19 e estrutural, sendo que os principais trabalhos que focaram os granulitos da cidade de Salvador foram Fujimori (1968), Tanner de Oliveira (1970), Sighinolfi & Fujimori (1972, 1974), Jesus (1978), Souza (2008, 2009, 2013), Oliveira (2010) e Souza-Souza (2010). Para a região de Conde, na parte norte do cinturão, podem ser citados os trabalhos de Oliveira-Júnior (1990), Silva et al. (1997), Silva et al. (2002), Delgado et al. (2003). Esta monografia foi desenvolvida em um afloramento da cidade de Salvador (Figura 1.3) e, com ela, pretende-se somar esforços científicos para o entendimento da evolução tectônica do Cinturão Salvador-Esplanada, no contexto do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. O afloramento cartografado é do tipo lajedo e exibe rochas granulíticas, enclaves máficos e diques de rochas félsicas. 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA Na porção oriental do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá afloram rochas granulíticas que se estendem por todo o litoral baiano, até o Estado de Sergipe. Apesar de alguns poucos trabalhos já terem sido realizados nessas rochas, muitas dúvidas ainda persistem sobre o significado desse cinturão no cenário tectônico riaciano-orosiriano regional. Mesmo com a grande extensão do litoral a norte de Salvador, poucas são as áreas de afloramentos dos granulitos, destacando-se alguns nas regiões de Conde e Buquim, no Litoral Norte da Bahia e em Sergipe, respectivamente. Na cidade de Salvador existem alguns afloramentos dessas rochas, sendo que alguns deles estão em pedreiras de difícil acesso e outros na orla da cidade. Dentre eles, destacam-se o afloramento da praia da Paciência, no bairro do Rio Vermelho. Esse afloramento pode ser dividido nos setores W, onde afloram rochas com safirina (Fujimori 1988), e E, onde se localiza o afloramento estudado (Figuras 1.2 e 1.3), cujas rochas apresentam feições de migmatização que foram identificadas com base na classificação de Sawyer & Brown (2008). Nesse sentido, surgem os seguintes problemas: quais as rochas e estruturas associadas com os migmatitos presentes no afloramento do setor E da praia da Paciência? Qual evolução estrutural pode ser sugerida a partir dos dados obtidos nesse afloramento? Qual a relação entre a migmatização e as estruturas deformacionais identificadas? Responder a essas perguntas representa dar um passo significativo para contribuir com os estudos das colisões riacianas na porção setentrional do Cráton do São Francisco. 20 Figura 1.2 - Imagem de satélite da área dos afloramentos dos setores W e E da Praia da Paciência. Fonte: Programa Google Earth. Figura 1.3 – Imagem aérea da área do afloramento estudado (setor E da praia da Paciência). Fonte: JSF Barbosa. Fotógrafo: Luiz Pereira. 21 1.2. LOCALIZAÇÃO E ACESSO A área de estudo está localizada na Praia da Paciência, situada na Rua da Paciência, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador (Figura 1.4). O acesso ao afloramento é feito por via asfaltada. A partir da portaria principal do Campus Ondina da Universidade Federal da Bahia, toma-se a Avenida Adhemar de Barros por 450 metros até o seu entroncamento com a Avenida Oceânica. A partir desse ponto, percorre-se 1,3 km até o afloramento, no sentido do bairro de Itapuã. Figura 1.4 - a) Mapa do Estado da Bahia com a localização da cidade de Salvador; b) Mapa de situação do afloramento estudado; Fonte: Mapa de Divisão Político-Administrativa do estado da Bahia, SEI-BA (2000). 1.3. OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo geral contribuir com o entendimento da evolução tectônica do Cinturão Salvador-Esplanada, um importante compartimento do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Como objetivos específicos, tem-se: a) proceder ao levantamento das litologias e estruturas associadas com a migmatização, no afloramento situado na porção E da praia da Paciência; 22 b) realizar a análise estrutural desse afloramento; c) verificar a relação entre a migmatização e as fases deformacionais identificadas. 1.4. JUSTIFICATIVA A porção ocidental do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá possui um vasto acervo de publicações, podendo ser citados os trabalhos de Padilha & Melo (1991), Melo et al. (1995), Teixeira (1997), Mascarenhas et al. (1998), Leite et al. (2001) Leite (2002), Delgado et al. (2003), Barbosa et al. (2005), Barbosa et al. (2012), dentre outros. Esse grande volume de dados é devido a importância desse orógeno, do ponto de vista das correlações mundiais, para a reconstrução de um supercontinente riaciano-orosiriano (Teixeira et al. 2007, Leite et al. 2008), bem como pelo potencial metalogenético e prospectivo do seu setor oriental (Teixeira et al. 2007). O potencial metalogenético desse setor está ligado ao fato de o mesmo abrigar importantes depósitos econômicos ao longo de sua extensão, o que motiva a realização de estudos por pesquisadores e empresas. Embora o setor ocidental tenha um vasto conjunto de dados, o setor oriental ainda é pouco estudado. Acredita-se que, como o Cinturão Salvador-Esplanada (Barbosa & Dominguez 1996) não hospeda nenhum depósito mineral importante, há, significativamente, uma menor quantidade de trabalhos realizados nesse setor, embora Salvador e região metropolitana necessitem de estudos geológicos que contribuam com os estudos hidrogeológicos, geotécnicos e de verificação das áreas de risco. O afloramento selecionado trata-se de um laboratório natural para o treinamento acadêmico de estudos de evolução crustal em terrenos polideformados e metamorfisados, bem como permitirá levantar dados geológicos de detalhe, visando colaborar com o entendimento da evolução do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, como mencionado anteriormente. 1.5. MÉTODO DE TRABALHO Para atingir com maior eficiência os objetivos propostos, os trabalhos foram executados obedecendo ao seguinte método: 1. Revisão e Levantamento Bibliográfico – Nessa etapa foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre a geologia, regional e local, permitindo reunir informações geológicas sobre o Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, com direcionamento para o Cinturão Salvador- Esplanada. 23 2. Planejamento, análise, síntese de informações e conhecimentos bibliográficos e elaboração do projeto – Nessa etapa foram reunidos os conhecimentos adquiridos na etapa anterior a fim de elaborar o projeto de pesquisa, que foi entregue ao professor da disciplina GEOA75 – Trabalho Final de Graduação I. 3. Confecção de mapa geológico preliminar, na escala 1:450 – Nessa etapa, utilizando a fotografia aérea da figura 1.3, foi confeccionado um mapa geológico preliminar a partir da sobreposição da mesma com papel vegetal. Nesse mapa preliminar foram esboçadas as interpretações dos principais traços estruturais do afloramentoestudado. 4. Trabalhos de Campo – Essa etapa totalizou 27 dias efetivos e nela foram levantados dados geológicos relacionados com as litologias do afloramento estudado, suas relações de contato e principais estruturais associadas com a migmatização e com as deformações dúcteis e rúpteis (foliações, lineações, fraturas, dentre outras). O levantamento dos dados estruturais foi realizado com o auxílio da bússola geológica Brunton, tendo sido adotado o Método “Regra da Mão Direita”. Com a conclusão do mapa foi selecionada uma seção composta a fim de representar o arcabouço estrutural e melhor compreender a evolução deformacional das unidades encontradas na área estudada. 5. Confecção do mapa final – Nessa etapa, o mapa final foi escaneado e digitalizado no Corel Draw, bem como georreferenciado, utilizando o software ArcGis 9.3. 6. Tratamento dos dados estruturais – Os dados coletados na etapa de campo (planos e linhas) foram tratados no software Stereonet (for Windows, Duyster 2000), visando construir os diagramas estereográficos. 7. Integração dos dados e confecção da monografia – As informações e os dados obtidos nas etapas anteriores foram compilados e interpretados para a confecção da monografia, relatório integrante da disciplina GEOA76 – Trabalho Final de Graduação. 24 CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA REGIONAL 2.1. INTRODUÇÃO A área de trabalho está situada na parte setentrional do Cráton do São Francisco (CSF), unidade tectônica delimitada por Almeida (1977). Essa porção se consolidou no final do Paleoproterozoico, com a colagem das placas Gavião, Serrinha, Jequié e Itabuna-Salvador- Curaçá (Barbosa & Sabaté 2002), dando origem ao Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá (Barbosa & Sabaté 2002, 2004). Em contexto regional, nesse orógeno podem ser individualizados os cinturões Itabuna-Salvador-Curaçá (Barbosa & Sabaté 2002, 2003, 2004) e Salvador-Esplanada (Barbosa & Dominguez 1996) (Figura 2.1). Figura 2.1 - Mapa geológico do Estado da Bahia mostrando os domínios tectônicos-geocronológicos arqueanos e paleoproterozoicos. Os traços das estruturas deformacionais paleoproterozoicas, neoproterozoicas e mesozoicas estão também indicadas. Modificado de Barbosa et al. (2012). 5 25 As rochas do afloramento estudado estão situadas na porção sul do Cinturão Salvador- Esplanada (Barbosa & Dominguez 1996), cujas estruturas dominantes orientam-se, preferencialmente, segundo N045°. 2.2. O ORÓGENO ITABUNA-SALVADOR-CURAÇÁ O Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá – OISC (Barbosa & Sabaté 2002, 2004) estende- se desde a região de Itabuna, no sul da Bahia, até a região próxima a cidade de Curaçá, ao norte do estado, com estruturas que se orientam, em geral, segundo N-S (Barbosa & Sabaté 2002). A estruturação desse orógeno ocorreu pela colisão de placas continentais, denominadas Uauá, Gavião, Jequié, Itabuna-Salvador-Curaçá e Serrinha (Figura 2.1) (Barbosa & Sabaté 2002). As estruturas regionais que marcam essa colisão são dobras recumbentes e normal horizontal, além de zonas de cisalhamento reversas regionais (Fase Dn+1), que evoluíram para zonas de cisalhamento transpressionais a transcorrentes (Fase Dn+2), com tensão principal regional segundo NW-SE (Barbosa & Sabaté 2002). As colisões continentais associadas com a evolução do Orógeno Itabuna-Salvador- Curaçá levaram à formação de bacias sedimentares e arcos magmáticos que foram deformados e metamorfisados na fácies granulito. No OISC reconhece-se uma faixa contínua de granulitos que foi individualizada por Barbosa & Sabaté (2002) como Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá e Cinturão Salvador- Esplanada. 2.2.1. O Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá O Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá – CISC consiste de granulitos tonalítico- trondhjemíticos e de intrusões de monzonitos-monzodioritos, todos deformados e re- equilibrados na fácies granulito, além de encraves de rochas supracrustais granulitizadas, que estão orientados paralelamente às estruturas deformacionais (Barbosa et al. 2012). Na parte norte do CISC (Figura 2.2) afloram, principalmente, granulitos ortognáissicos do Complexo Caraíba e, subordinadamente, granulitos máficos da Suíte São José do Jacuípe, além de metassupracrustais do Complexo Tanque Novo-Ipirá, bem como granitoides sieníticos e graníticos, que foram alojados durante um evento colisional do Paleoproterozoico (Barbosa et al. 2012). 26 Figura 2.2 – Mapa geológico do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Parte Norte), destacando as unidades granulíticas mesoarqueanas (Complexo Caraíba, Tanque Novo e Suíte São José do Jacuípe), além do Augen Granulito Riacho da Onça e granitoides paleoproterozoicos. Modificado de Barbosa et al. (2012).6 De acordo com Barbosa et al. (2012), a parte norte desse cinturão exibe uma foliação gnáissica como estrutura predominante, com orientação geral NE-SW. Ainda de acordo com esses autores, na zona de colisão entre o Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá e o Bloco Gavião, no embasamento a leste da Serra de Jacobina, especialmente no Greenstone Belt de Mundo Novo e na Sequência Vulcanossedimentar Contendas-Mirante (Marinho 1991), as deformações paleoproterozoicas mais antigas, de caráter tangencial, levaram ao desenvolvimento de dobras recumbentes cujos planos axiais e foliações ficaram sub-horizontalizados (Mascarenhas & 27 Silva 1994). Esses autores relatam, também, a presença de dobras com flancos rompidos e com planos axiais mergulhando 20-30° para leste, sendo a vergência geral para W. As zonas de cisalhamento são reversas e as lineações de estiramento são de alta obliquidade. A segunda fase de deformação teria gerado dobras normal-horizontais, que foram transpostas por zonas de cisalhamento de alto ângulo de mergulho, com movimentação dominantemente sinistral-reversa a sinistral (Fase Dn+2’) (Barbosa & Sabaté 2002). A porção sul do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (Figura 2.3) corresponde a uma faixa de deformação com direção N10°E (Barbosa et al. 2012), na qual são encontrados: (i) granulitos monzoníticos e monzodioríticos com pórfiros centimétricos de plagioclásio, de idade paleoproterozoica; (ii) granulitos tonalítico-trondhjemíticos do Neoarqueano e Paleoproterozoico; (iii) faixas contendo granulitos básicos e granulitos paraderivados, cuja idade ainda não foi determinada. De acordo com Barbosa et al. (2012), à leste da cidade de Itabuna a estrutura predominante é uma foliação gnáissica que, com orientação geral NE-SW e mergulhos de médio a alto ângulo, progressivamente, inflete para NW-SE na região de Amargosa, tendendo a contornar as rochas do Bloco Jequié. Ainda nesse setor, em direção a norte, essa estrutura inflete novamente para norte, nas imediações da cidade de Santa Luz. Os registros deformacionais mais antigos da colisão entre as placas Itabuna-Salvador-Curaçá e Jequié e dessa com a placa Gavião, na parte sul, são foliações de baixo ângulo (Barbosa et al. 2012). Segundo esses autores, a fase deformacional dúctil paleoproterozoica mais antiga permitiu a separação de dois domínios estruturais. No primeiro, a oeste, encontram-se rochas do Bloco Jequié, onde as deformações foram de menor intensidade, sendo possível reconhecer estruturas dobradas, associadas a zonas de cisalhamento com lineação de estiramento de alta obliquidade, além de leques imbricados e duplexes. Dobras intrafoliais podem ser observadas e essas estruturas encontram-se transpostas por zonas de cisalhamento. No segundo domínio, a leste, predominam as rochas do Cinturão Itabuna-Salvador- Curaçá e a observação de estruturas dobradas se faz menos frequente, devido à obliteração das deformações da segunda fase, sobretudo pelas transcorrências de natureza transpressiva sinistral (Barbosa et al. 2012). 28 Figura 2.3 - Mapa geológico do embasamento Arqueano-Paleoproterozoico do Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá (ParteSul) mostrando as unidades mesoarqueanas (granulitos básicos e paraderivados), as unidades neoarqueanas-paleoproterozoicas (granulitos tonalítico-trondhjemíticos) e paleoproterozoicas (granulitos tonalítico-trondhjemíticos e monzoníticos-monzodioríticos), além de granitoides e rochas dioríticas-peridotíticas. Modificado de Barbosa et al. (2012). 7 29 2.2.2. O Cinturão Salvador-Esplanada O Cinturão Salvador-Esplanada – CSE (Barbosa & Dominguez 1996) (Figura 2.4) representa uma faixa de metamorfitos de alto e médio graus que ocorre da cidade de Salvador (Bahia) até a cidade de Buquim (Sergipe), possuindo uma orientação geral N045°. Figura 2.4 – Mapa geológico do Cinturão Salvador-Esplanada, mostrando as unidades mesoarqueanas (Zona Salvador-Conde, Granitoide Pela-Porco e Zona de Cisalhamento Aporá-Itamira), além de metagranitoides paleoproterozoicos de Salvador. Modificado de Barbosa et al. (2012). 8 30 Na região de Salvador, as rochas desse segmento são, predominantemente, gnaisses orto e paraderivados, que foram equilibrados em condições metamórficas de alto grau (fácies granulito) (Cruz 2005, Souza 2008, 2009, 2013, Souza-Souza 2010). De acordo com esses autores, essas rochas são truncadas por diques máficos e graníticos. Por sua vez, nas proximidades da cidade de Esplanada ocorrem granodioritos e granitos alcalinos, bem como ortognaisses de natureza cálcio-alcalina e anfibolitos de origem gabróica e química típica de tholeiítos (Oliveira-Júnior 1990). Oliveira-Júnior (1990) subdividiu o CSE em dois domínios tectônicos, que nomeou como Zonas. O primeiro domínio ocupa a porção extremo oeste do cinturão e consiste da Suíte Granitoide Teotônio-Pela Porco e de milonitos da Zona Aporá-Itamira. O segundo domínio tectônico compreende a Zona Salvador-Conde, que está situada próxima à costa atlântica, sendo composta tanto por rochas da fácies anfibolito (região de Conde), quanto por rochas da fácies granulito (região de Salvador). Essa zona de cisalhamento situa-se no extremo oeste do Cinturão Salvador-Esplanada, tendo aproximadamente 75 km de extensão, cerca de 10 km de largura e direção NE-SW. A sua extensão NE está encoberta pelos depósitos fanerozoicos do grupo Barreiras e das bacias do Recôncavo e Tucano Sul (Barbosa et al. 2012). Nessa zona predominam milonitos, porém migmatitos com estruturas dobradas, schlieren e estromáticas podem ser encontradas em partes menos afetadas pela milonitização (Barbosa et al. 2012). Segundo Oliveira-Júnior (1990), o movimento das deformações por cisalhamento é sinistral e afetou migmatitos e granitoides mais antigos, milonitizando-os de forma retrógrada e orientando-os, indistintamente, na direção NE-SW. A ligação tectônica entre o Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá e o Cinturão Salvador- Esplanada ainda não está clara o suficiente, principalmente devido à carência de mapeamento geológico em escala de detalhe nesse cinturão (Barbosa et al. 2012) e por essa ligação estar coberta pelas rochas sedimentares da Bacia do Recôncavo-Tucano-Jatobá. Os principais estudos realizados foram na cidade de Salvador. Nessa cidade, os melhores afloramentos de rochas granulíticas ocorrem em antigas pedreiras e na faixa de praia. Nessa última, a variação da maré controla a exposição das rochas. 31 2.3. GEOLOGIA DE SALVADOR Na cidade de Salvador podem ser identificadas: (i) rochas metamórficas de alto grau; (ii) unidades da Bacia Sedimentar do Recôncavo-Tucano-Jatobá; (iii) coberturas sedimentares tércio-quaternárias. A partir dessas unidades litológicas, e relacionando com a tectônica fanerozoica ligada à separação do Atlântico, Barbosa et al. (2005) individualizaram três domínios geológicos principais, a saber: a) Alto de Salvador (Barbosa & Dominguez 1996): horst limitado, a oeste, pela falha de Salvador e constituído por rochas metamórficas de alto a médio graus, com intrusivas monzo-sieno-graníticas e truncada por um enxame de diques máficos. b) Bacia sedimentar do Recôncavo: limitada, a leste, pelo sistema de falhas de Salvador, a oeste, pela falha de Maragogipe, a norte e noroeste, pelo Alto de Aporá e, a sul, pelo sistema de falhas da Barra. Essa bacia foi preenchida por sedimentos mesozoicos e, regionalmente, possui como embasamento os gnaisses granulíticos do Bloco Serrinha, a oeste e norte, granulitos do Cinturão Itabuna-Salvador- Curaçá, a oeste e sudoeste, granulitos do Cinturão Salvador-Esplanada, a leste e nordeste, e rochas sedimentares da Faixa Sergipana (Neoproterozoico), a norte. c) Depósitos terciários e quaternários da margem Atlântica: sedimentos areno- argilosos do Grupo Barreiras, bem como coberturas recentes do Quaternário, correspondentes às areias de praia. Com relação ao Alto de Salvador, Barbosa et al. (2005), Cruz (2005) e Barbosa & Souza (2007) subdividiram dois domínios topográfico-geográficos, que são separados pela Falha do Iguatemi (Figura 2.5). Na parte oeste, onde a altitude média é superior a 60 metros, ocorrem granulitos, enquanto que na parte leste as altitudes são inferiores a 30 metros e, além de rochas da fácies granulito, são também encontradas rochas da fácies anfibolito. 2.3.1. Unidades litoestratigráficas e metamorfismo Os primeiros estudos petrográficos e mineralógicos das rochas granulíticas situadas no Alto de Salvador foram realizados por Fujimori & Allard (1966) e Fujimori (1968). Jesus (1978), Souza (2008, 2009, 2013), Oliveira (2010) e Souza-Souza (2010) realizaram estudos em escala de detalhe nos afloramentos das praias do Farol de Itapuã, do Farol da Barra, do Morro do Cristo e na praia defronte do Hospital Espanhol, respectivamente. Esses autores relataram a presença de rochas orto e paraderivadas, além de 32 diques máficos e félsicos. Em discordância erosiva com essas rochas metamórficas, comumente ocorrerem pacotes de arenitos de praia e conglomerados. Figura 2.5 – Modelo digital de terreno mostrando o contraste topográfico entre as partes oeste e leste do Alto de Salvador, separadas pela Falha do Iguatemi. Fonte: Barbosa et al. (2005). 9 Jesus (1978) individualizou seis litotipos, metamórficos e ígneos, nos arredores do Farol de Itapuã, classificando-os como granulitos, granoblastitos, diopsidito, meta-biotita gabro, pegmatito e diabásio. Aos granulitos e granoblastitos de composição granodiorítica, bem como aos granulitos básicos, foi atribuída uma origem sedimentar pelítica. Os granulitos com granadas, predominantemente almandíferas, do Farol da Barra foram estudados quimicamente por Fujimori & Fyfe (1984). Em seu trabalho, esses autores concluíram que o protólito para essas rochas teria sido um solo residual pré-cambriano (Fujimori 1988). Fujimori & Fyfe (1984) também descreveram, nesse afloramento, diopsiditos, granulitos máficos e granulitos félsicos que, de acordo com esses autores, sofreram polimetamorfismo. Ainda segundo os mesmo autores, três condições metamórficas distintas podem ser citadas. A primeira foi marcada por um pico metamórfico em condições em torno de 7.5-9 kbar e 840-900°C (condições de fácies granulito de pressão intermediária). Após esse pico metamórfico, houve um retrometamorfismo com diminuição de pressão, dando origem a uma associação com cordierita, em condições metamórficas em torno de 33 750°C e 3 kbar. Posteriormente, outro episódio deu origem a uma associação com biotita, em condições em torno de 6.75-7.5 kbar e 525-550°C. Retomando os trabalhos em escala de detalhe (1:1000) na cidade de Salvador e utilizando a classificação litológica de Barbosa et al. (2005), Barbosa & Souza (2007), Souza (2008) encontraram as seguintes litologias no afloramento do Farol da Barra: (i) encraves ultramáficos e máficos granulitizados; (ii) granulitos paraderivados aluminosos, granitos granadíferos e quartzitos com granada; (iii) granulitos ortoderivadostonalíticos; e (iv) diques máficos e monzo-sienograníticos. Após estudos petrográficos e litogeoquímicos realizados por Souza (2009) e Souza et al. (2010), os litotipos granulíticos ortoderivados do Alto de Salvador foram subdivididos em granulitos tonalíticos, granulitos charnoenderbíticos, granulitos monzocharnockíticos e granulitos quartzo-monzodioríticos. Com as informações obtidas em seu trabalho, e com base em trabalhos anteriores, essa autora pôde atualizar o mapa geológico da Cidade de Salvador (Figura 2.6). Trabalhando em uma escala de 1:500, Oliveira (2010) separou três litotipos no afloramento do Morro do Cristo, quais sejam: (i) rochas ultramáficas granulitizadas; (ii) granulitos ortoderivados (tonalitos e quartzo-gabros); (iii) diques máficos e sienograníticos. Por sua vez, Souza-Souza (2010) identificou unidades litológicas, metamórficas e ígneas, no afloramento da praia defronte do Hospital Espanhol, sendo elas: (i) tonalito granulítico; (ii) encraves máficos; (iii) granada monzogranito milonitizado; (iv) granulitos alumino-magnesianos que, de acordo com o autor, podem constituir o grupo das rochas paraderivadas de Souza (2008, 2009); (v) diques de doleritos e de sienogranitos. A comparação entre os mapas geológicos apresentados por Souza (2008, 2009, 2013), Oliveira (2010) e Souza-Souza (2010) sugere uma segura correlação geológica entre os afloramentos estudados por esses autores. Reunindo os resultados dos estudos mais recentes realizados no embasamento de Salvador, Barbosa et al. (2012) identificaram: (i) granulitos paraderivados, onde estão incluídos os granulitos alumino-magnesianos, granulitos granadíferos, granulitos básicos e quartzitos; (ii) encraves de granulitos ultramáficos e máficos; (iii) granulitos ortoderivados, compostos de granulitos tonalíticos, granulitos charnoenderbíticos, granulitos monzo- charnockíticos e granulitos quartzo-monzodioríticos; (iv) corpos e veios monzo- sienograníticos; e (v) diques máficos, metamórficos e não metamórficos. 34 Figura 2.6 – Mapa geológico da cidade de Salvador. Fonte: Souza et al. (2009).10 Segundo Souza (2013), durante a deformação paleoproterozoica, as rochas do Farol de Itapuã experimentaram condições de pressão em torno de 8.6 kbar e temperatura em torno de 830°C. As idades U-Pb de 2.09 Ga obtidas dos zircões metamórficos dessas rochas indicaram que a primeira fase deformacional é contemporânea ao metamorfismo de alto grau. Ainda de acordo com a autora, uma segunda fase deformacional transpressional (2.06 Ga, U-Th em monazita) e simultânea com a colocação dos corpos e veios monzo-sienograníticos tardi- tectônicos, gerou condições de pressão e temperatura em torno de 7.5 kbar e 780°C, respectivamente. 2.3.2. Geologia estrutural Estudando os afloramentos nas proximidades do Farol de Itapuã, Jesus (1978) identificou três fases principais de deformações. De acordo com esse autor, na primeira fase, as rochas sofreram metamorfismo e anatexia e transposição por zonas de cisalhamento anti- horárias de direção N045°. Nessa fase, estruturas rúpteis com orientação N-S teriam sido nucleadas. O tensor geral para essa fase apresenta direção aproximada N020°. Ainda de acordo com o mesmo autor, num segundo evento deformacional houve a recristalização das rochas e o fim do metamorfismo, com milonitização em zonas de cisalhamento. Para essa fase foi determinado um tensor geral de direção aproximada NW-SE. A terceira fase foi marcada pela intrusão dos diques de diabásio que, por não apresentarem indícios de metamorfismo, foram interpretados, pelo autor, como tardios aos episódios de deformação. Esse evento foi acompanhado de intenso fraturamento e tem as direções do tensor geral variando entre N-S e NE-SW. Barbosa et al. (2005), estudando as estruturas dúcteis da parte oeste do Alto de Salvador (Figura 2.7), identificaram pelo menos três fases deformacionais. Segundo os autores, a fase Dn+1 deformou um bandamento preexistente (Sn), gerando dobras recumbentes de superfícies axiais (Sn+1) e eixos sub-horizontais, sendo esses últimos caracterizados por lineações de estiramento mineral dip-slip. A fase Dn+2 é progressiva ao evento Dn+1, tendo dobrado as superfícies anteriores, gerando, em zonas de high strain, dobras isoclinais a apertadas, de orientação geral N030° a N090°, com superfícies axiais sub- verticais (Sn+2) e eixos de baixo caimento, embora haja locais onde esses são encontrados mais inclinados, em torções. É também atribuída a essa fase uma transpressão de cinemática ora sinistral, ora dextral, que dobrou a superfície anterior (Sn+1) isoclinalmente e formou faixas com cinemáticas alternadas. A terceira fase, Dn+2’, é marcada por zonas de 36 cisalhamento transcorrente, sub-verticais e sub-paralelas às superfícies axiais Sn+2, com lineações de estiramento mineral strike-slip. Localmente, essas zonas podem ser encontradas transpondo as estruturas das fases anteriores. Figura 2.7 – Configuração 3D das diferentes fases de deformação dúcteis das rochas metamórficas de Salvador. Fonte: Barbosa et al. (2005). 11 Com relação às deformações rúpteis que cortam os granulitos, cinco conjuntos principais de falhas e fraturas são mencionados por Barbosa et al. (2005), a saber: (i) N060° - N090°, que hospedam diques máficos metamórficos e metamonzo- sienogranitos; (ii) N040° - N070°, onde se encontram muitos corpos tabulares monzo- sienograníticos; (iii) N120° - N160°, onde se alojam os diques máficos não metamórficos; (iv) N30° e N40°, cujos representantes mais importantes são as falhas de Salvador e Iguatemi, respectivamente (Barbosa et al. 2005); (v) N130° - N140°, paralelas às falhas transferentes da Bacia do Recôncavo. Barbosa et al. (2012) sugerem que as estruturas dúcteis dos litotipos estudados na região de Salvador tenham sido atingidas pelas mesmas deformações que atingiram a Zona Aporá-Itamira e a Suíte Teotônio-Pela Porco. Ainda, segundo esses autores, as três fases 37 deformacionais encontradas em Salvador foram geradas em condições de temperatura correspondente àquela da fácies granulito e tiveram a evolução deformacional semelhante à que foi descrita para o Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. Souza (2008) realizou uma análise estrutural das rochas do afloramento do Farol da Barra e identificou três fases deformacionais. Segundo a autora, a primeira fase (Dn), predominantemente dúctil, gerou uma foliação (Sn) paralela ao bandamento gnáissico, além de boudinar as rochas mais competentes. As lineações de estiramento mineral (Lxn) dessa fase, stike-slip, estão associadas com zonas de cisalhamento dextrais a dextrais-reversas. Na segunda fase (Dn+1), zonas de cisalhamento subverticais, com cinemática predominantemente dextral, truncaram as estruturas da primeira fase e desenvolveram lineações de estiramento mineral (Lxn+1). A terceira fase (Dn+2) possui caráter menos penetrativo, tendo gerado uma foliação (Sn+2) de alto ângulo de mergulho e uma lineação de estiramento mineral (Lxn+2), dip-slip, associada com zonas de cisalhamento com cinemática reversa. Posteriormente, a fase rúptil gerou cinco conjuntos principais de falhas e fraturas. A autora relacionou as deformações citadas à evolução do Cinturão Salvador-Esplanada, sugerindo diferenças de estilos deformacionais e de ambiência tectônica com relação ao Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá. O conjunto de estruturas rúpteis foi relacionado, pela mesma, com as falhas de Salvador (N020°-N030°), da Barra (N080°-N090°) e com as falhas transferentes da Bacia do Recôncavo (N120°-N130°). A análise estrutural realizada por Souza-Souza (2010) no afloramento da praia defronte do Hospital Espanhol, no Bairro da Barra, permitiu a identificação de uma fase deformacional denominada de Dn (Figura 2.8). Essa fase foi subdividida pelo autor em três estágios progressivos: Dn’,Dn’’ e Dn’’’. O estágio Dn’ foi responsável pela geração da foliação Sn’//Sn-1 e pela formação do bandamento gnáissico, bem como de dobras isoclinais, lineação de estiramento (Lxn’), lineação mineral (Lmn’), boudins e duplexes. A vergência geral do movimento é de NE para SW. No estágio Dn’’ foram nucleadas dobras suaves a abertas, com envoltória simétrica e, tardiamente, diques félsicos instalaram-se. O estágio Dn’’’ foi marcado pela instalação de zonas de cisalhamento rúptil-dúctil. Embora existam diferenças de nomenclatura, os resultados obtidos por Souza-Souza (2010) são muito semelhantes aos obtidos por Barbosa et al. (2005). 38 Figura 2.8 – Modelo deformacional para a área do afloramento do Hospital espanhol, com as posições das estruturas em seção (a) e em mapa (b). Fonte: Souza-Souza (2010). 12 Após as deformações citadas, diques máficos que são citados por Corrêa-Gomes et al. (1996) como relacionados a uma extensão neoproterozoica, truncam as estruturas anteriores. Entretanto, Souza-Souza (2010) sugere que os diques máficos do afloramento defronte do Hospital Espanhol, na Barra, possuem orientações compatíveis com os campos de tensão relacionados com a fase Dn, por ele identificada, e que, regionalmente, varia entre NNE-SSW (estágios Dn’ e Dn’’) e NNW-SSE (estágios tardi Dn’’ e Dn’’’). Diante disso, esse autor 39 sugeriu que a colocação dessas rochas pode estar relacionada com um magmatismo paleoproterozoico, ao invés de neoproterozoico. Truncando esses diques, um conjunto de zonas de cisalhamento rúpteis e fraturas foi desenvolvido com orientação preferencial segundo N120°-N130°. Foi sugerido que essa última fase deformacional possa estar relacionada com a abertura da Bacia do Recôncavo e do Oceano Atlântico Sul. 2.3.3. Geoquímica Analisando o comportamento geoquímico dos elementos maiores (exceto o sódio e o potássio), traços e, principalmente Elementos Terras Raras (ETR), Souza (2009) pôde caracterizar os protólitos dos granulitos ortoderivados do Alto de Salvador e agrupar as rochas em: (i) subtipos T1 e T2, dos granulitos tonalíticos; (ii) subtipos CHED1, CHED2 e CHED3, dos granulitos charnoenderbíticos; (iii) subtipos QMZD1, QMZD2 e QMZD3, dos granulitos quartzo-monzodioríticos. Os resultados obtidos mostraram que os granulitos tonalíticos T1 e T2 são pobres em potássio. Já os granulitos charnoenderbíticos, monzocharnockíticos e quartzo-monzodioríticos são ricos nesse elemento. De acordo com a autora, essas rochas se originaram a partir de magmas cálcio-alcalinos, excetuando-se os granulitos charnoenderbíticos do subtipo CHED3, que seriam provenientes de magmas transicionais tholeiíticos/cálcio-alcalinos. Essas rochas são enriquecidas em ETR, o que justifica a presença de granada (Souza et al. 2010). Os granulitos ortoderivados encontrados em Salvador teriam se formado a partir de uma ou mais fontes cálcio-alcalinas e foram submetidos a um evento metamórfico granulítico, ao mesmo tempo que estavam sendo deformados. Dados geoquímicos realizados em amostras de monzogranitos e sienogranitos do afloramento do setor W da praia da paciência (Figura 1.2), no bairro do Rio Vermelho, por Souza (2013) permitiram que a autora classificasse essas rochas como subalcalinas e peraluminosas, destacando que esses litotipos são enriquecidos em ETR leves e possuem forte anomalia negativa de Eu. Nos diagramas de ambiência tectônica, tais rochas estão dispostas no campo dos granitos derivados de material crustal, exibindo valores negativos de ɛNd(t) (- 6,08). 2.3.4. Geocronologia Silva et al. (2002), realizaram estudos U-Pb (SHRIMP, zircão) em amostras do embasamento mesoarqueano do Domínio Salvador-Esplanada, tendo obtido uma idade de 40 cristalização de ca. 3000 Ma. A partir desse dado, os autores interpretaram que esse cinturão seria uma extensão oriental do denominado “Cráton de Serrinha”. Outra amostra do embasamento mesoarqueano do Domínio Salvador-Esplanada foi também datada por Silva et al. (2002). Trata-se do granodiorito foliado de Aporá, cuja amostra foi coletada na estrada entre as cidades de Aporá e Itamira, tendo sido obtida a idade 2924 ± 25 Ma (U-Pb, SHRIMP, zircão). Essa idade foi interpretada como associada com a cristalização da rocha. Uma idade 207 Pb/ 206 Pb (discordante) de 1926 ±25 foi obtida para as mesmas rochas e interpretada como associada com o metamorfismo. Por sua vez, Silva et al. (2002) obtiveram a idade U-Pb (SHRIMP, zircão) de 2169± 4 8 (centro) e 495±35 (borda) para zircões de hornblenda-biotita ortognaisse granítico de Conde, na localidade homônima. A primeira foi interpretada como a idade de cristalização do magma granítico, ao passo que a segunda foi interpretada como a idade associada com a influência do Evento Brasiliano na região. Da comparação entre as idades Rb-Sr e U-Pb encontradas por Silva Filho et al. (1977) em monzogranitos e quartzo-monzogranitos da Suíte Teotônio-Pela Porco e das encontradas por Silva et al. (2002) no Granodiorito Aporá, foi possível remeter ambas ao metamorfismo paleoproterozoico (Barbosa et al. 2012). Desta forma, a idade 495±35 obtida por Silva et al. (2002) ainda carece de entendimento. Do exposto, verifica-se uma ampla carência de dados geocronológicos para o Cinturão Salvador-Esplanada. Souza (2009) ressalta a necessidade de se realizar datações geocronológicas e pesquisas mais aprimoradas, sobretudo, nos granulitos paraderivados, com o intuito de se obter uma melhor definição dos eventos formacionais/deformacionais ocorridos na área. Como mencionado anteriormente, Souza (2013) encontrou duas idades para o metamorfismo das rochas granulíticas do setor sul do Cinturão Salvador-Esplanada: (i) 2.09 Ga (Zircão, U-Pb, Laser Ablation), que associou ao metamorfismo progressivo; e (ii) 2.06 Ga (U-Th em monazita), que associou com o metamorfismo regressivo relacionado com transcorrências. No afloramento do setor W da praia da Paciência (Figura 1.2) foram datadas amostras de monzogranitos e sienogranitos, tendo sido obtida uma idade-modelo (TDM) em torno de 2.9 Ga, sugerindo uma fonte mesoarqueana para esse litotipo. Já a idade U-Pb (Zircão, LA-ICPMS) obtida para a cristalização das rochas foi 2064±36 Ma. De acordo com a autora, essa idade é similar às idades U-Pb (SHRIMP) e Pb-Pb (evaporação) obtidas por diversos autores para os granitos tardi-tectônicos do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá. 41 CAPÍTULO 3 – GEOLOGIA LOCAL E ANÁLISE ESTRUTURAL 3.1. INTRODUÇÃO No afloramento do setor E da praia da Paciência (Figura 1.2) podem ser observadas feições que sugerem a atuação de processos de anatexia. Por esse motivo, este capítulo será iniciado com a apresentação de um arcabouço teórico sobre migmatitos. Segundo Sawyer & Brown (2008), migmatito é uma rocha heterogênea encontrada em áreas de médio e alto graus metamórficos e que consiste de duas ou mais partes petrograficamente diferentes. Uma dessas partes (neossoma) foi formada por fusão parcial com segregação do material fundido a partir da fração sólida (protólito). A figura 3.1 destaca os principais constituintes de um migmatito, quais sejam: (i) protólito, que é a rocha que foi fundida e que deu origem ao neossoma; (ii) neossoma, que é a porção formada por fusão parcial; (iii) leucossoma, constituinte do neossoma, que é a parte clara, leucocrática do neossoma consistindo, dominantemente, de feldspatos e quartzo; (iv) melanossoma, constituinte do neossoma, que é a parte escura do neossoma rica em minerais máficos como biotita, granada, cordierita, ortopiroxênio, hornblenda ou clinopiroxênio; (v) paleossoma, que é a rocha que não fundiu, ou seja, que não foi afetada por fusão parcial. Figura 3.1 – Constituintes de um migmatito segundo Sawyer (2008). 13 42 De acordo com Sawyer & Brown (2008), em migmatitos o leucossoma podeser classificado como: (i) in situ, (ii) na fonte (in source) ou pode formar veios leucocráticos (Figura 3.2). No primeiro caso, a fusão acontece sem que haja movimentação do leucossoma. No segundo caso, há formação de veios e diques, mas a movimentação é restrita ao domínio de fusão. No terceiro e último caso, o leucossoma sai do domínio de fusão e vai hospedar-se nas rochas encaixantes. Figura 3.2 – Esquema mostrando as diferenças entre leucossomas (1) in situ, (2i) na fonte (in source) ou (3) veios leucocráticos proposto por Sawyer & Brown (2008). 14 De acordo com Sawyer (2008), a classificação morfológica de migmatitos (Figura 3.3) deve estar relacionada, principalmente, com a intensidade de fusão e representada pela fração de neossoma que está presente no migmatito. Sendo assim, metatexito é um migmatito heterogêneo na escala de afloramento no qual as estruturas pré-fusão parcial são amplamente preservadas no paleossoma. Já o diatexito é caracterizado por ser um migmatito em que domina o fundido, no qual o neossoma está amplamente distribuído. 3.2. UNIDADES MAPEADAS O afloramento estudado é do tipo lajedo e se encontra bem preservado dos processos intempéricos. Em algumas porções do afloramento, que normalmente não são alcançadas pelas ondas, há uma camada de regolito e sedimentos, permitindo o crescimento de uma vegetação rasteira de praia. Nessas áreas, a cor do solo gerado pela alteração intempérica é, em geral, amarelo alaranjado. 43 De acordo com a classificação de migmatitos proposta por Sawyer & Brown (2008) e Sawyer (2008), as rochas do afloramento do setor E da Praia da Paciência podem ser classificadas como metatexitos e diatexitos. No afloramento estudado foram mapeadas e descritas, macroscopicamente, três unidades distintas (Apêndice 1), sendo elas: (i) o migmatito granulítico paraderivado com encraves máficos, que se subdivide em metatexítico e diatexítico; (ii) os diques félsicos; (iii) rochas e sedimentos recentes. Figura 3.3 – Partes constituintes de um migmatito. Modificado de Sawyer (2008). 15 3.2.1. Migmatitos granulíticos paraderivados ferro-magnesianos com encraves máficos Das rochas orto e paraderivadas relatadas por Jesus (1978), Souza (2008, 2009), Oliveira (2010), Souza-Souza (2010) e Barbosa et al. (2012), apenas as paraderivadas foram encontradas (em contexto de análise macroscópica) no afloramento do setor E da Praia da Paciência. Essas rochas foram classificadas como metatexíticas e diatexíticas. Utilizando a figura 3.4, alguns argumentos podem ser levantados para classificar essas rochas como paraderivadas, quais sejam: (i) intensa variação modal no bandamento gnáissico das rochas cartografadas no domínio litológico B; (ii) a presença de litotipos paraderivados com ortopiroxênio, biotita vermelha e safirina, além de quartzo, granada (Fotografia 3.1), sillimanita, cordierita, plagioclásio (Fujimori & Allard 1966, Fujimori 1968) no domínio litológico A; (iii) a presença de porfiroblastos de granada, que chegam a medir seis centímetros de diâmetro (Fotografia 3.2), associados com biotita e feldspatos, em litotipos com características semelhantes aos descritos na literatura como granulitos paraderivados 44 alumino-magnesianos (Barbosa et al. 2005) no domínio litológico C; (iv) a presença de níveis quartzosos intercalados nas rochas granulíticas paraderivadas cálcio-ferro-magnesianas do domínio litológico B (Figura 3.4), o que sugere a presença de metachert impuro; (iv) a presença líquidos ricos em quartzo associados aos domínios de migmatização no domínio B; e (v) aliado aos demais argumentos ressalta-se, ainda, a ausência de porfiroclastos de feldspatos nas rochas estudadas no domínio litológico B. Desta forma, sugere-se que a variação composicional entre os domínios A, B e C da figura 3.4 representa uma característica associada com a variação na composição do bandamento do protolito sedimentar em escala menor do que a escala de trabalho. Figura 3.4 – Imagem de satélite posicionando os principais afloramentos da praia do Rio Vermelho com as variações composicionais de seus domínios litológicos. O retângulo amarelo representa a área de trabalho (Apêndice 1). Fonte: Google Earth / agosto 2013. 16 45 Fotografia 3.1 – Granulitos paraderivados alumino- magnesianos com granada no setor litológico A da figura 3.3. Fotografia 3.2 – Granulitos paraderivados alumino- magnesianos com granada no setor litológico C da figura 3.3. Visada em planta. A bússola aponta para o norte. Essa unidade, como um todo, corresponde a 74% da área estudada, ocupando 5.782 m² (Apêndice 1 e Figura 3.5). Ao longo de todo o afloramento as rochas exibem porções migmatizadas e abrigam encraves máficos com formas sigmoidais ou lenticulares, além de serem truncadas por diques félsicos. Em algumas porções são encontradas estreitas camadas de conglomerado recobrindo as mesmas, em contato angular e erosivo. 46 Figura 3.5 – Distribuição espacial dos migmatitos granulíticos paraderivados (metatexíticos e diatexíticos). 17 As principais estruturas deformacionais identificadas nessa unidade são: foliação Sn, que compreende um bandamento composicional e uma xistosidade a ele paralelizada, dobras isoclinais intrafoliais sem raiz, boudins, além de lineação de estiramento, bem como zonas de cisalhamento rúpteis (falhas) e dúcteis, sigmoides de foliação, dobras de arrasto (drag folds), dominós sintéticos e antitéticos, e fraturas. a) Migmatito Metatexítico Granulítico Paraderivado Essas rochas correspondem a, aproximadamente, 57% da área de estudo, ocupando 4406 m² (Apêndice 1 e Figura 3.6), na porção sudeste do afloramento. O contato dessas rochas com os migmatitos diatexíticos granulíticos paraderivados (Fotografias 3.3 e 3.4) é brusco e se faz através de zona de cisalhamento sinistral. A rocha é anisotrópica e possui cor cinza esverdeada (Fotografias 3.5 e 3.6). A principal feição estrutural é um bandamento composicional milimétrico e, por vezes, centimétrico, que é marcado, principalmente, pela alternância de níveis félsicos com proporções variáveis de quartzo, feldspato potássico, plagioclásio e níveis com piroxênio e biotita, bem como encraves máficos boudinados e níveis ricos em quartzo. A observação de 47 uma lâmina delgada dessa rocha, em microscópio petrográfico, permitiu identificar a presença de plagioclásio, microclina, biotita, anfibólio, ortopiroxênio, quartzo e minerais opacos, em sua composição mineralógica. Em alguns locais é possível observar domínios ricos em leucossoma (Fotografias 3.7 e 3.8) e, nesse caso, o corpo exibe geometria irregular e contatos difusos. Nesse caso, esse leucossoma pode ser classificado como in situ (Sensu Sawyer & Brown (2008)). Figura 3.6 – Distribuição espacial do migmatito metatexítico paraderivado. 18 A principal estrutura migmatítica dessas rochas é a estromática (Fotografias 3.9 e 3.10). Nesse caso, é possível observar níveis milimétricos ricos em feldspato potássico e quartzo, paralelizados com o bandamento gnáissico da rocha. Nessas estruturas, as bordas ricas em minerais máficos, constituem o resíduo da fusão parcial do protólito. Diques de sienogranitos são observados e conectados com domínios em que a fusão é difusa (Fotografia 3.11), sugerindo uma movimentação do fundido e colocação em fraturas abertas durante a migmatização. Esse é um exemplo de leucossoma do tipo “na fonte” de Sawyer & Brown (2008). 48 Fotografia 3.3 – Visão geral do contato (linha amarela) entre o diatexito (acima) e o metatexito (abaixo). Visada em planta. A seta indica o norte. Fotografia 3.4 – Detalhe do contato (linha amarela) entre os migmatitos diatexíticos (esquerda) e metatexíticos (direita). Visada em planta. A bússola aponta
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