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O TREINAMENTO COMO VANTAGEMCOMPETITIVAEM OPERAÇÕES LOGÍSTICAS

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O TREINAMENTO COMO VANTAGEM COMPETITIVAEM OPERAÇÕES LOGÍSTICAS
Miguel Igman Brüggemann[footnoteRef:1] [1: Tecnólogo em Tecnologia e Logística (UNIASSELVI – FAMEBLU). E-mail:miguelbruggemannx@gmail.com
² Especialista em MBA em Gestão Empresarial. Uniasselvi. E-mail: noemi.oliveira@uniasselvi.com.br
] 
Noemi Back Poffo²
Resumo
O objetivo deste artigo é potencializar a importância do treinamento em operações logísticas para especialização dos colaboradores que nela atuam, além de reduzir custos com indenizações aos clientes por ineficiência da operação. A organização empresarial possuindo uma equipe qualificada maximiza a qualidade do serviço prestado gerando competitividade de mercado. A metodologia utilizada foi a bibliografia e a pesquisa ação somada a coleta de dados junto aos gestores da filial da empresa XYZ, escolhida na cidade de Blumenau – SC, onde inseri-me a operação e direcionei o treinamento específico. Após um período de doze meses observou-se a redução significativa no número de indenizações pagas aos clientes por problemas causados durante a operação. 
Palavras – chave: Treinamento. Otimização de Processos. Qualificação profissional. Prevenção de perdas. Logística.
1 INTRODUÇÃO
A escolha do tema foi caracterizada por ser um grande desafio para as empresas de transporte, visto que devem enfrentar o “trade off” da Logística, ou seja, a maior qualidade na prestação de serviço, ao menor custo. O serviço de transporte é vital para o abastecimento de mercadorias aos mais diversos pontos do planeta. Com a alta do preço do combustível, aumento do roubo de cargas e a variação do preço do frete sendo cada vez mais frequente, os transportadores, buscam alternativas que possam maximizar sua receita, minimizar custos e ainda gerar uma tarifa atrativa junto com valor agregado ao cliente.
As empresas acabam sofrendo com a escassez de trabalhadores qualificados, que buscam oportunidades mais rentáveis em virtude da qualificação, ficando a mercê de mão de obra não qualificada e com isso reduzindo seus indicadores de qualidade a aumentando o número de indenizações aos clientes. Em algumas situações chegando até mesmo a perder clientes altamente rentáveis, em virtude da ineficiência da operação.
Além disso reforça Fleury & Wanke (2006) As empresas, por questões de competitividade, quando assinam um novo contrato, imediatamente começam a operação, não ministrando programas de treinamentos, gerando avarias e desmotivação de colaboradores.
Respondendo a solicitação da Empresa XYZ Transportes Ltda.[footnoteRef:2], o autor esteve na empresa para mapear os processos da operação e desenvolver treinamento especifico para reduzir o volume de mercadorias avariadas[footnoteRef:3].Após a aplicação do treinamento foi analisado os resultados e ajustado pontos estratégicos para alcançar um resultado ainda maior. [2: 2 A empresa não autorizou divulgar seu nome real, por ter passado dados reais como faturamento, indicador de avarias, etc.] [3: O autor é instrutor de treinamento e desenvolvimento profissional (SEST SENAT – Blumenau)] 
2 O PROGRAMA DE TREINAMENTO
O treinamento tem como finalidade, capacitar e aperfeiçoar o colaborador, especializando-o para exercer suas atividades com maestria e gerar vantagem competitiva para organização, uma vez que uma empresa que opera com mão de obra capacitada tende a maximizar a qualidade dos seus serviços.
Para Chiavenato (2004,), O treinamento e uma fonte de lucratividade ao permitir que as pessoas contribuam efetivamente para os resultados do negócio. Nesses termos, o treinamento é uma maneira eficaz de agregar as pessoas, a organização e aos clientes. Ele enriquece o patrimônio humano das organizações. E o responsável pelo capital intelectual das organizações.
Já para Milkovich e Bourdreau (2010) o treinamento como sendo um processo sistematizado com o intuito de promover a aquisição de habilidades, regras e atitudes resultando numa melhor adequação entre as características dos colaboradores e as exigências diante de sua função. 
Para Dessler (2003), o treinamento é um conjunto de métodos usados para transmitir aos funcionários, novos e antigos, habilidades necessárias para o desempenho do trabalho. 
De outra forma, Reginatto (2004), explica que o treinamento ajuda as pessoas a serem mais eficientes, evitando erros, melhorando atitudes e alcançando maior produtividade, pois, por meio dele, podia-se aprender fazendo, reavaliando e mudando comportamentos. 
Ainda Chiavenato (2009) define o treinamento como sendo o processo educacional de curto prazo, aplicado de maneira sistemática e organizada. O treinamento é uma fonte de lucratividade ao permitir que as pessoas contribuam efetivamente para os resultados do negócio, sendo uma maneira eficaz de agregar as pessoas, a organização e os clientes (CHIAVENATO, 2010).
Para se aplicar um programa de treinamento que atinja os resultados da organização, deve -se seguir quatro etapas, que de acordo com Marras (2011), o processo de treinamento utilizado nas organizações respeita quatro etapas, que estão especificadas a seguir:
1. Levantamento das necessidades de treinamento (LNT):
2. Programação;
3. Implementação e execução;
4. Avaliação dos resultados.
3 A EMPRESA
A empresa XYZ, tem sua Matriz na cidade de Guarulhos – SP. Destaca-se pela prestação de serviços de transportes operando com cargas lotação e fracionada, além de serviços de armazenagem e movimentação. Sua área de atuação são as regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste e o estado do Paraná. Em sua filial da cidade de Blumenau, conta com um quadro de 62 colaboradores, sendo 22 na área administrativa e 30 na área operacional. A unidade supracitada possui um faturamento médio mensal de R$ 3,5 milhões de reais e um indicador de avarias de 3%.
3.1 Levantamento das necessidades
3.1.1 Avarias – definição
Há várias definições para avarias. A definição de avaria segundo o Dicionário Eletrônico Michaelis é: dano, deterioração ou estrago de qualquer natureza. Ou ainda o mesmo autor reforça: avaria é qualquer tipo de dano causado a um bem em seu transporte.
Defino como avaria todo e qualquer custo resultante de uma ineficiência da operação logística de distribuição ou de transporte, sendo classificadas como:
· Danos, violações e quebras;
· Extravios;
· Atrasos;
· Reembolsos;
· Imperícia de manuseio;
· Indenizações de seguros;
· Custo operacional quando há um retorno ou nova tentativa de entrega;
· Umidade;
· Tramitações comerciais que não dependem da empresa de transportes.
Com estas definições, identifica – se onde há controle e gerenciamento sobre as avarias que ocorrem e onde é possível combater. No caso de tramitações comerciais e negociações entre embarcador e cliente, a causa não está com a transportadora, ou seja, não é possível traçar uma estratégia para diagnosticar e plano de ação para combater. Assim sendo é possível reduzir, mas impossível eliminar 100% das avarias.
3.1.2 Custos com avarias
	Tabela 1: Impacto do custo de indenizações com avarias
	Faturamento mensal estimado
	% de avarias
	Custo com indenizações com avarias
	R$ 3.500.000,00
	3%
	R$ 105.000,00
Os custos com avarias antes do treinamento eram os seguintes:
Fonte: Elaborado pelo autor (2019).
3.1.3 Causas das avarias
Mapeando as avarias resultantes de procedimentos de manuseio das mercadorias é possível saber onde elas acontecem. 
Normalmente, as avarias e perdas ocorrem durante o processo de manuseio das mercadorias. Este manuseio é fundamental para garantir que seja possível vencer a distância entre produtores e consumidores e, sendo assim, os produtos precisam ser transportados e estocados em depósitos, sendo que, para manter a eficiência este processo de movimentação e armazenagem depende muito da forma de manusear o produto várias vezes ao longo do fluxo físico. (BALLOW, 2007, apud PRADO, et al., 2011). 
Pessoa Filho (2012) nos mostra que a maioria das avarias ocorre por falta de treinamento ao pessoal qualificado para as funções, má arrumação dos produtos nas carrocerias dos caminhões, fragilidadedas embalagens dos produtos, má conservação das linhas rodoviárias.
Acompanhando a operação “in loco” na empresa, foi possível mapear com o auxílio do diagrama de Ishikawa, as seguintes causas:
Figura 1 – Diagrama de Ishikawa (Causa e efeito)
Fonte: Elaborado pelo autor – (Adaptado do diagrama original de Ishikawa)
Como apresentado no diagrama supracitado o manuseio das mercadorias é onde há um acentuado problema de inexperiência, imperícia ou negligência no manuseio de materiais.
Assim reforça Barboza et. al. (2011) que o manuseio de materiais no processo logístico é fundamental para a preservação do produto, bem como da satisfação do cliente. 
3.3 PLANEJAMENTO E PROGRAMAÇÃO DE TREINAMENTO
De acordo com as causas apuradas, foi desenvolvido treinamento específico, para reduzir em até 60% o indicador atual de avarias. 
Com isso, reforça a ideia em acordo com Balou (2006) que a maior parte dos manuseios de matérias nos armazéns ou áreas de estocagem é realizado de forma manual, ou no máximo, por um processo semiautomatizado. 
Para o processo de manuseio ocorrer de modo eficiente é necessário que, os colaboradores estejam capacitados, conhecendo os produtos e a melhor forma de manuseá-los, além de conseguir identificar e organizar os equipamentos que a organização disponibiliza para realizar estes procedimentos. 
Chiavenato (2010) exemplifica os principais itens de uma programação de treinamento:
a) Quem deve ser treinado – Treinandos;
b) Como treinar – Métodos de treinamento;
c) Em que treinar – Assunto ou conteúdo do treinamento;
d) Por quem – Instrutor ou treinador;
e) Onde treinar – Local de treinamento;
f) Quando treinar – Época ou horário de treinamento;
g) Para que treinar – Objetivos do treinamento;
Aplicando o método supracitado encontra-se a seguinte tabela:
Tabela 1: Programação de treinamento da empresa XYZ
	Quem deve ser treinado?
	Como treinar?
	Em que treinar?
	Por quem?
	Onde treinar?
	Quando treinar
	Objetivos do treinamento
	Ajudantes, motoristas, 
Conferentes e lideranças operacionais. 
	Carga horária total de 8h. Sendo 4h teóricas e 4h práticas
	Arrumação e conferência de cargas,
Assim como o manuseio de mercadorias. 
	Instrutor do SEST SENAT.
	Na própria empresa.4h em sala de treinamento e 4h em meio a operação da empresa.
	Aulas teóricas pela manhã e aulas práticas ao anoitecer.na segunda semana de fevereiro de 
2018
	Reduzir o indicador de avarias e indenizações pagas ao cliente.
Fonte: Autor
 
3.4 IMPLEMENTAÇÃO E EXECUÇÃO
O treinamento foi executado, conforme a programação mencionada anteriormente, juntos ao gestor e ao RH da empresa. Inicialmente foi realizada uma reunião como só colaboradores explicando a necessidade do treinamento e quais metas a serem alcançadas e os benefícios de do objetivo alcançado.
Fora ministrado o treinamento sobre movimentação, arrumação e conferência de cargas com carga horária total de 8h. Sendo 4h de teoria específica e 4h diretamente na prática, em meio a operação da empresa acontecendo, para agregar teoria e prática dos colaboradores, além de fornecer dicas sobre resolução de problemas que acontecem na hora da operação. 
As primeiras 4h teóricas aconteceram em momentos que havia pouco trabalho para os colaboradores que estavam em sala de aula, de modo a não impactar na operação da empresa e não gerar custo adicional como horas extras, adicionais etc. 
Para o treinamento prático de 4h foi escolhido os horários de maior movimentação de mercadorias na empresa, para fazer com que os colaboradores em treinamento possam aplicar imediatamente as técnicas aprendidas e ainda a correção de vícios. Padronizando assim, o 
processo de movimentação e manuseio, arrumação e conferência de cargas.
 Fonte: Elaborado pelo autor (2019)
	
Tabela 2: Meta a ser alcançada.
	
	
	% de avarias
	Custo c/ avarias
	Redução 60%
	Novo custo
	Novo Indicador 
	3%
	R$ 105.000,00
	- R$ 66.150,00
	R$ 38.850,00
	1,2%
3.5 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS 
Após a aplicação do treinamento, houve pontos positivos significativos tanto na maximização e otimização da frota, quanto a queda do indicador de avarias, além de organização no espaço do terminal de cargas e a motivação dos colaboradores. 
No final de cada mês o gestor da filial – Blumenau, reunia os funcionários, e apresentava os números havendo redução do indicador em comparação com o mês seguinte, a empresa presenteava os colaboradores com um coffee-brake.
O gráfico a seguir mostra a evolução da equipe para atingir os objetivos:
 Gráfico 1:Redução das Avarias no ano de 2018
Fonte: Dados fornecidos pela empresa no final do ano.
Como apresentado no gráfico supracitado, a empresa conseguiu atingir o objetivo e manter por três meses. Aumentando somente no mês de dezembro, devido ao volume de carga transportado em virtude das festas de fim de ano. 
Para garantir este padrão de qualidade e eficiência da equipe/empresa, foi estabelecido pelo gestor atualizações semestrais do treinamento e aplicado aos colaboradores com ações corretivas para continuar mantendo a marca do indicador de 1,2%. 
Quando esta marca não for atingida, deverá haver uma justificativa como: 
· Aumento significativo do volume de carga;
· Carga com alto potencial de avarias como lâmpadas;
· Tramitação comercial pendente;
· Entre outros.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o estudo apresentado enaltece-se a importância dos treinamentos internos, para enriquecer o capital humano, gerar competitividade e especialização dos colaboradores, sem falar na redução de custos com indenizações por danos, extravios, multas contratuais, seguros, etc. 
A atuação do gestor também é de grande importância na aplicação do feedback para equipe e o reconhecimento com o alcance do objetivo mensalmente. Gerando motivação aos colaboradores. 
Como Potencializa RIBEIRO (2016) se a equipe não estiver orientada de maneira correta e alinhada com os objetivos da empresa, o esforço do gestor em tentar implantar todo o processo irá por água abaixo. 
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, Antônio Carlos; NOVAES, Antônio Galvão N. Logística aplicada: suprimento e distribuição física. 3. ed. – São Paulo: Blucher, 2000. 
BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos/Logística empresarial. 5. ed. – Porto Alegre: Bookman, 2006.
BARBOZA, Renato G. et al. Logística - Diagnóstico de Extravios e Avarias de mercadorias. Ponta Grossa. 2011.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas e o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. São Paulo: 3ª edição, 2009
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos na organização. 3.ed. Rio de Janeiro: Elzevier, 2010.
DESSLER, Gary. Administração de recursos humanos. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
FLEURY, Paulo Fernando; WANKE, Peter. Transporte de Cargas no Brasil: Estudo Exploratório das Principais Variáveis Relacionadas aos Diferentes Modais e às suas Estruturas de Custos. In: KUBOTA, L.C; (Org.). Estrutura e Dinâmica do Setor de Serviços do Brasil.Ipea. Brasília. 2006.p. 409-464
MARRAS, Jean Pierre. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 14.ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MILKOVICH, George T.; BOUDREAU, John W. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Atlas, 2010.
PESSOA FILHO, Nivaldo. Avarias na logística de distribuição física: Estudo de caso na O´hara Transportes & Logística Ltda. dez./2005. Disponível em: <https://administradores.com.br/producao-academica/avarias-na-logistica-de-distribuicao-fisica-estudo-de-caso-na-empresa-ohara-transportes-logistica-ltda. Acesso em: 11 jan. 2020.>
PRADO, Áurea Letícia do; et al. Logística: diagnóstico de extravios e avarias de mercadorias. VIII Convirá Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração. 2011. Disponível em: <http://ecoinovar.com.br/cd2016/arquivos/artigos/ECO1113.pdf>REGINATTO, Antônio Paulo. Equipes campeãs: potencializando o desempenho de sua equipe. 2. ed. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2004.
RIBEIRO, Igor. Avarias no processo de armazenamento e movimentação de materiais: Logística na Prática.  jan./2016. Disponível em: 
<https://www.linkedin.com/pulse/avarias-processo-de-armazenagem-e-movimenta%C3%A7%C3%A3o-igor-iglessias/>. Acesso em: 11 jan. 2020.

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