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Gestão de Processos Avaliativos Gestão de Processos Avaliativos Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2015 Elaine de Santa Helena Jaqueline de Menezes Rosa Christiane Martinatti Maia Darlize Teixeira de Mello Luciana Peixoto Cordeiro Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978-85-5639-048-6 Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Ane Sefrin Arduim Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero – ULBRA/Canoas G393 Gestão de processos avaliativos / Organizado por Universidade Luterana do Brasil. – Canoas: Ed. ULBRA, 2015. 230 p. : il. 1. Avaliação da aprendizagem. 2. Avaliação educacional. 3. Professor . 4. Ensino. 5. Pedagogia. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 371.26 Este livro propõe uma discussão acerca dos diferentes processos avalia-tivos desenvolvidos em espaços educativos, sejam eles formais ou não formais. Assim, pretende-se oportunizar uma reflexão sobre as diferentes faces da avaliação desenvolvidas pelo profissional pedagogo. Inicialmente, é realizada a contextualização da avaliação através da história, buscando as origens de algumas práticas realizadas na contem- poraneidade em momentos do passado das sociedades e da educação desenvolvida. Consideramos importante para nós, professores, o conhecimento das relações entre as concepções pedagógicas e as avaliações que cada uma delas propõe, desafiando o leitor a analisar suas experiências avaliativas à luz destes conhecimentos e da realidade social em que vive, estuda, tra- balha e interage. A proposta é conhecer as peculiaridades e facetas da avaliação desen- volvida nos diferentes níveis e modalidades de ensino durante o processo de educação, discutindo, além dos aportes teóricos, o impacto das avalia- ções internas e externas na qualidade da educação e no crescimento e de- senvolvimento dos avaliados, sejam eles alunos, professores, profissionais da educação ou de organizações do mundo produtivo e social, nas quais se desenvolvem ações educativas. A avaliação em questão é muito mais que um procedimento do proces- so de ensino. Ela é aqui apresentada como importante estratégia de gestão que subsidia e promove a qualidade da educação e do ensino, assim como a inclusão social, a autonomia e o desenvolvimento das pessoas envolvidas. Elaine de Santa Helena Organizadora Apresentação Sumário 1 Contextualização Histórica, Social, Política e Educacional da Avaliação .....................................................1 2 Concepções de Aprendizagem e Pressupostos Epistemológicos da Avaliação .............................................21 3 Avaliação nas Perspectivas da Classificação e do Sucesso ....46 4 Modalidades da Avaliação: Diagnóstica, Contínua e Reguladora .........................................................................69 5 Avaliação na Educação a Distância .....................................89 6 Avaliação na Educação Infantil: Possibilidades em uma Premissa Formativa ...........................................................111 7 Processos Avaliativos do Ensino-aprendizagem: Práticas e Instrumentos ..................................................................130 8 Políticas de Avaliação e as Práticas Avaliativas Internas e Externas .........................................................................151 9 Provinha Brasil: Instrumento de Avaliação Externa – Avaliação Diagnóstica .......................................................178 10 Avaliação Estratégica ........................................................213 Contextualização Histórica, Social, Política e Educacional da Avaliação1 Contextualização Histórica, Social, Política... 1 Elaine de Santa Helena - Pedagoga, Orientadora Educacional, Especialista em Administração de Recursos Humanos e Mestre em Educação. Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Luterna do Brasil - ULBRA. Atua como consultora nas áreas da educação, da gestão do conhecimento e da gestão de pessoas. Elaine de Santa Helena1 Capítulo 1 2 Gestão de Processos Avaliativos Introdução Avaliar faz parte do cotidiano desde os primórdios da civi- lização, deste modo, a avaliação pode ser compreendida como fenômeno do cotidiano humano e que influi na cons- trução da história de vida das pessoas. Veremos aqui, que a avaliação, de modo geral, reveste-se de caráter estratégico, visto que contribui para o alcance dos objetivos e metas do avaliador, sejam eles promover uma reflexão sobre o processo educativo ou utilizá-lo como seleção ou punição, como vere- mos nos próximos capítulos. Segundo Luckesi (1999), o termo avaliar tem origem no latim e provém da composição a – valere, que quer dizer “dar valor a...”. Nesta perspectiva, o ato de avaliar envolve juízo de valor sobre algo e, normalmente, é associado à ideia de mensuração ou medida. Desenvolvimento Histórico da Avaliação Ao longo da história, pode-se verificar práticas avaliativas re- alizadas no âmbito educativo e também social, evidenciando tendências em consonância com a sociedade de cada perío- do. A avaliação tem sido usada para fins além daqueles pro- fessados pelos avaliadores. Normalmente, a avaliação é vista como um instrumento de verificação, acompanhamento ou controle de desempenhos de pessoas, organizações ou fenô- menos. Entretanto, ela traz consigo fins sociais ou econômicos referentes à reprodução ou à transformação social, conforme Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 3 seu uso, atuando como fator de organização ou consolidação das estruturas sociais. Avaliamos, a todo momento, desde os aspectos mais simples do dia a dia, como um simples atravessar uma rua. Olhamos em diferentes direções e avaliamos a possibilidade e as consequências de prosseguir ou aguardar um momento mais seguro. Ao nos vestirmos para um evento, verificamos as condições climáticas, pensamos nas exigências sociais e/ ou profissionais que envolvem a ocasião, lembramo-nos das pessoas que encontraremos e das roupas que possuímos, ava- liamos todos os aspectos envolvidos e só então decidimos por um traje adequado. Assim agimos em todos os momentos que exigem algum tipo de decisão ou elaboração de uma ideia ou conceito, mesmo que de pequenas coisas do cotidiano. Avaliar é parte importante da trajetória humana desde os pri- mórdios da história. É importante reconhecer que as práticas avaliativas estão sempre relacionadas a uma concepção de educação, de ser humano e de sociedade, colaborando para a formação social desejada, seja em uma perspectiva de manutenção da socie- dade vigente, reforçando suas estruturas, ou trabalhando em prol de mudanças desejadas. Conforme Vianna (2000, p. 22): [...] desde o início do processo civilizatório houve algu- ma forma de avaliação. Ousaríamos dizer que a avalia- ção surgiu com o próprio homem, se entendermos por avaliação a visão apresentada por Stake – o homem observa; o homem julga, isto é, avalia. 4 Gestãode Processos Avaliativos Nessa perspectiva, entendemos a avaliação como um ato corriqueiro, inerente ao ser humano e que pode ser considera- do como impulsora da construção de sua história de vida, uma vez que é basilar a toda tomada e decisão. Na pré-história, período anterior à escrita, o homem, di- ferenciando-se dos animais, cria instrumentos rudimentares para caça. Esta iniciativa provavelmente derivou de uma pri- meira avaliação do seu contexto e das formas possíveis de nele sobreviver às intempéries. Cabe salientar que a ausência da escrita, marca dessa época, ainda existe em alguns po- vos que possuem organizações sociais primitivas, tais como alguns indígenas da América Latina. Nesses grupos, pode ser observada também a presença de rituais de passagem como um processo avaliativo que comprova a capacidade do indi- víduo de pertencer a um determinado grupo considerado por sua cultura capaz em algum aspecto por eles determinado. Os rituais são formas avaliativas de estruturação social, pois determinam o grupo ao qual o indivíduo pertence ou do qual poderá fazer parte, caso demonstre habilidades para tal. As sociedades tribais são essencialmente orais e é pela imitação e pelo exemplo que a educação se desenvolve. É comum que, entre eles, os jovens sejam submetidos a provas físicas para serem considerados adultos pelo seu grupo social e tenham permissão para conviver e agir como eles. Na Idade Antiga, alguns povos já apresentavam maior or- ganização social e utilizavam processos avaliativos também para a seleção para cargos na vida civil, como os chineses e os gregos. Conforme Léa Depresbíteris (apud 2014, p.3), Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 5 [...] o uso da avaliação como medida vem de longa data. Através de EBEL, tem-se o relato de KUO sobre a presença de exames, já em 2205 a. C. Nessa época, o Grande “Shun”, imperador chinês, examinava seus ofi- ciais a cada três anos, com o fim de promovê-los ou demiti-los. O regime competitivo nos exames da China antiga tinha, então, como propósito principal, prover o Estado com homens capacitados (DEPRESBITERIS apud DEPRESBITERIS, 1989). Observa-se desde aí a avaliação como ferramenta de sele- ção social, aspecto este que ainda nos dias de hoje é utilizado por instituições de ensino e também em organizações públicas e privadas da nossa sociedade. A Idade Antiga foi também um período de grande desen- volvimento de civilizações, entre elas destacamos os gregos e os romanos. Na Grécia, a avaliação se fazia presente em vá- rios aspectos da vida civil. Em Atenas, berço dos filósofos aqui representados por Sócrates, que submetia seus alunos a exaus- tivos questionamentos orais e busca de verdade do conheci- mento de si mesmo, sugerindo a autoavaliação. Esparta, onde o ideal de homem era o guerreiro, os alunos eram submetidos também a testes físicos que comprovariam a capacidade do indivíduo para se tornar um guerreiro. Entre os gregos, a ava- liação assumia um papel importante de verificação e acompa- nhamento do tipo ideal de homem que estava sendo formado pelo sistema educativo da época, seja o guerreiro espartano ou o filósofo de Atenas. 6 Gestão de Processos Avaliativos Segundo Marrou (1971, p. 420), entre os romanos a edu- cação iniciava pelo conhecimento das letras e era orientada por métodos passivos que privilegiavam a memória e a imita- ção, que são qualidades entre as crianças. A educação roma- na era marcada por repreensões e castigos, inclusive físicos. Assim, emerge aqui a avaliação associada à ideia de punição ainda presente em nossos dias, que remonta à antiguidade romana. Um aspecto importante da avaliação em educação é a prática de exames que, como referido acima, era realizada na China antiga. Contudo, é a partir das primeiras universi- dades surgidas na Idade Média que seu uso torna-se mais co- nhecido em ambientes educativos, embora de forma diferente das atuais concepções de exame, pois se tratavam de exames orais em que os alunos repetiam os conteúdos estudados de- monstrando basicamente suas capacidades de memória e de discurso. Para comprovar seus conhecimentos, bastava aos alunos mostrar que sabiam repetir integralmente o que ouviam ou liam. Em meados da Idade Média, o rei de Castela e Leão, D. Afonso, o Sábio (1252-1284), normatiza em seu livro das Leis a forma como deveriam ser realizados os exames que verifi- cariam a aprendizagem dos alunos na academia e, conforme Carvalho (2013): A Idade Média foi caracterizada como um período mar- cado pelo teocentrismo, com interesses voltados para a fé e a revelação divina. O aspecto dogmático distinguiu o modelo educacional da época, em que os conteúdos Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 7 eram apresentados como certos e indiscutíveis, cuja ver- dade deveria ser aceita sem dúvidas ou questionamen- tos. Foi uma época marcada pelo aparecimento de uma avaliação mais formal, através dos exames orais, que eram utilizados nas universidades. Os estudantes eram arguidos, devendo interpretar e explicar trechos selecio- nados por grandes mestres e o aluno de doutorado de- veria ler publicamente o Livro das Sentenças de Pedro Lombardo. Durante a Idade Média, prevaleceu o argu- mento de autoridade, em que uma verdade ou doutrina era admitida baseada no valor intelectual ou moral da- quele que a professava (ESCUDERO, 2003; LIMA, apud 2008; CARVALHO, 2013). A educação medieval era controlada pela igreja, a qual influenciava fortemente a educação desenvolvida e também o espaço jurídico e político da sociedade, manipulando as re- lações sociais e de poder. A educação visava familiarizar o povo camponês com as doutrinas cristãs, e assim os mantinha dóceis, obedientes e conformados com o que consideravam destino. Dessa forma, as técnicas de ensino se caracterizavam pela austeridade e por centrar seus princípios na formação do ho- mem cristão. A educação utilizava de aspectos da doutrina cristã que serviam aos interesses da igreja, reforçando o deter- minismo e o castigo divino advindo do afastamento do indiví- duo da igreja. Com isso, já na Idade Média a avaliação se fazia presente e carregava consigo um caráter seletivo e classificatório. 8 Gestão de Processos Avaliativos Conforme Anísio Teixeira, A instituição universitária é realmente medieval. Foi na Idade Média que ela de fato realizou a verdadeira uni- ficação da cultura chamada ocidental. A cultura da Eu- ropa foi unificada por essa universidade medieval que surgiu nas alturas dos séculos XI e XII, e que elaborou realmente um trabalho extraordinário de unificação in- telectual do pensamento humano naquela época. Essa universidade, que chega a seu clímax, a seu ápice no século XIV, entra depois num período de consolidação tão rígida e tão uniforme que verdadeiramente se torna uma das grandes forças conservadoras do mundo. (TEI- XEIRA, 1968) Mais tarde, o teocentrismo característico da Idade Média vai esmaecendo durante o Renascimento e dá espaço às cor- rentes humanistas que trazem consigo o homem em seu esta- do natural. Na área da educação, Vitorino Feltrin, educador italiano, propõe uma escola menos rígida e mais voltada para a formação integral e harmônica do homem, valorizando a moral e as boas maneiras. A avaliação da aprendizagem dos alunos desenvolvia-se através da leitura, na qual o aluno de- veria demonstrar linguagem culta, leitura expressiva em tom de voz agradável e pronúncia correta. Outro importante educador renascentista é João Amós Co- menius, autor da obra Didática Magna e considerado o pai da pedagogia, que viveu em um período de transição da extrema religiosidade da Idade Média para o cientificismo. Comenius considerava o exame um aspecto importante do ensino, e de- Capítulo 1 ContextualizaçãoHistórica, Social, Política... 9 fendia seu uso como forma de estímulo à aprendizagem. Ele também considerava o medo uma ferramenta utilizada para manter a atenção dos alunos nos trabalhos escolares. Cabe salientar que o exame, enquanto um problema metodológico, oportunizaria a revisão do método de ensino se o aluno não tivesse êxito em sua aprendizagem. Pode-se perceber em Comenius a intenção de uma avalia- ção utilizada também como instrumento de apoio ao professor, revisando suas práticas em prol da aprendizagem desejada. Como vimos, ao longo dos tempos, os exames eram reali- zados de forma oral e foi somente em 1702, em Cambridge, na Inglaterra, que foi utilizado pela primeira vez o exame es- crito. Os exames, desde suas primeiras práticas na antigui- dade chinesa, apresentam-se mais como um instrumento de seleção, controle e manutenção social do que propriamente educativo e foi em Comenius que encontramos, como referido acima, a avaliação como uma intenção de acompanhamento e melhoria das práticas desenvolvidas pelo professor. Por ou- tro lado, encontramos o sacerdote francês João Batista de La Salle, que entende o exame como instrumento de supervisão centrada no aluno. Comenius e La Salle, embora com obras distintas, deixa- ram marcos profundos na educação, em especial na didática praticada até hoje em muitas instituições educativas. O Renascimento foi um período de grande expansão na área educacional com o surgimento de vários colégios, sendo muitos deles laicos. Entre estas iniciativas, destacamos a pre- sença marcante dos jesuítas na educação. Inácio de Loyola, 10 Gestão de Processos Avaliativos militar espanhol, criador da Companhia de Jesus, transpõe para sua ordem religiosa a disciplina militar e, por extensão, a educação por ela desenvolvida. As avaliações nas escolas je- suíticas privilegiavam a memória como operação mental sím- bolo de aprendizagem, e a utiliza para estimular a competição entre os alunos e as classes. Os jesuítas se preocupavam com a organização do espaço escolar e instituíram o Ratio Studiorum, um regulamento de estudos que se constitui em um manual de como estruturar e organizar o ensino e, segundo Luckesi (1999, p. 22): nas normas para orientação dos estudos escolásticos, seja nas classes inferiores ou superiores, ainda que de- finissem com rigor os procedimentos a serem levados em conta num ensino eficiente [...] tinham uma atenção especial com o ritual das provas e exames. Eram solenes essas ocasiões, seja pela constituição das bancas exami- nadoras e procedimentos de exames, seja pela comuni- cação pública dos resultados. Embora não tivessem um sistema de avaliação propria- mente dito, foram os jesuítas que introduziram no Brasil a ideia de avaliação como prática do exame e da prova, assim como de uma educação seletiva e diferenciada para cada estrato social. É sabido que no período da colonização brasileira os jesuítas objetivavam a educação com fins de catequizar in- dígenas e ensinar as primeiras letras aos filhos dos colonos, mantendo-os sob o controle da religião e de uma aparente civilidade. Deste modo, o Brasil nasce sob a égide de uma educação com fins de controle e reprodução social. Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 11 A educação jesuítica centrada no universalismo distanciava o ensino da vida prática e, por consequência, os alunos do mundo real. Segundo Comis (2006, p.137): No período histórico, que data de 1549 a 1759, não havia ainda uma estrutura sistematizada de avaliação da apren- dizagem. Porém, conforme Aranha (1989), o ensino jesuíti- co possuía metodologia própria baseada em exercícios de fixação por meio da repetição, com o objetivo de serem memorizados. Os melhores alunos auxiliavam o professor a tomar lições de cor dos outros, recolhendo exercícios e to- mando notas dos erros e faltas diversas, e eram chamados decuriões. As classes inferiores repetiam as lições da sema- na todos os sábados. Daí, a expressão “sabatina”, utilizada durante muito tempo para indicar formas de avaliação. A avaliação no ensino jesuítico tinha, portanto, a função de disciplinar os alunos, e a educação era diferenciada para a elite e para as classes populares. Vislumbra-se claramente aqui a influência da educação nas relações sociais, formando indivíduos voltados para a re- produção social, tal qual nas sabatinas em que, disciplinados, tinham que simplesmente repetir conteúdos. Na Idade Moderna, com a invenção da imprensa, eviden- cia-se uma expansão do número de livros, de bibliotecas e também de escolas. Vários estudiosos de diferentes áreas destacaram-se neste período e, entre eles, salientamos René Descartes (2002), au- 12 Gestão de Processos Avaliativos tor de O Discurso sobre o Método, que apontou quatro etapas para encaminhar o espírito na busca da verdade. Na última delas nos indica a forma por ele concebida de avaliação: 1 – Regra da evidência: nada é admitido como verdadeiro se não se conhece evidentemente como tal. 2 – Princípio da Análise: consiste em dividir cada uma das dificuldades em tantas parcelas quantas forem possí- veis e for exigido para sua melhor resolução. 3 – Regra da Síntese: ordenar os pensamentos começan- do pelos objetos mais simples e mais fáceis de serem conhecidos para subir, pouco a pouco, na forma de degraus, ao conhecimento, mais complexo. 4 – Regra da Verificação: fazer em toda parte enumerações tão completas e inspeções tão gerais que estejam cer- tos de nada omitir. (DESCARTES, 2002, p. 23) Vimos aí, a reafirmação do exame oral, agora não mais pela simples repetição, mas pela demonstração da compreen- são do objeto de conhecimento, privilegiando a complexidade do pensamento humano, ao contrário do que era praticado nas escolas confessionais. Esses princípios foram retomados na década de 1950 por Benjamim Bloom em sua Taxiono- mia dos Objetivos Educacionais, que influenciou fortemente os processos de avaliação. A avaliação, notadamente tradicional, persiste unânime até o final do século XIX, quando surgem os primeiros testes psico- métricos resultantes dos estudos de uma nova área de estudos que emergia: a Psicologia. Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 13 Conforme Vianna, (2000), a Psicometria se origina no final do século XIX com os estudos de Francis Galton e James Cat- tell, que objetivaram a identificação de diferenças individuais associadas a níveis de inteligência. Esses estudos traziam em seu bojo a ideia de avaliar a inteligência cientificamente. Em meados da década de 1880, Francis Galton, biólo- go inglês, utiliza pela primeira vez questionários e métodos de escala de avaliação e métodos estatísticos para a análi- se dos dados sobre diferenças individuais, sendo considerado pioneiro nos estudos psicométricos ao lançar um movimento de testagem psicológica. Em 1905, Alfred Binet, pedagogo e psicólogo, propõe a utilização de uma escala de inteligência para mensurar a in- teligência dos alunos das escolas da rede pública francesa, associando a idade do aprendiz à sua idade mental. Os testes, influenciados pelo positivismo da época, apre- sentavam-se embasados no rigor científico que conduzia a categorizar e classificar indivíduos tal como realizado nos es- tudos darwinianos. Assim, psicometria traz consigo a proposta de utilização de testes padronizados e objetivos para medir a inteligência e o desempenho das pessoas. Nesta perspectiva, Esteban (2002) afirma que: O teste foi considerado como um instrumento científico, válido e objetivo que poderia determinar uma infinida- de de fatores psicológicos de um indivíduo. Entre ele se encontram a inteligência, as atitudes, interesses e a aprendizagem. (ESTEBAN, 2002, p. 64). 14 Gestão de Processos AvaliativosOutro marco importante da história da avaliação ocorre na França em 1922, com o surgimento da “docimologia” que significa “estudo sistemático dos exames”, dando início à era dos testes em avaliação. A prevalência da utilização de exa- mes como instrumento prioritário e quase exclusivo de avalia- ção associa indelevelmente estes conceitos, fazendo com que avaliação e exames sejam basicamente sinônimos, assumindo significação de notação e controle, objeto de estudo da Doci- mologia. Segundo Miranda (1982, p. 39), Os primeiros trabalhos docimológicos puseram em evi- dência a instabilidade das avaliações sob o ponto de vista das diferenças interindividuais e intraindividuais, da validade e da precisão. O desenvolvimento das investi- gações levou a preconizar medidas de atenuação das divergências de carácter mais ou menos sistemático veri- ficadas na avaliação escolar, medidas essas que incluem as escolas de notas, concertação entre os examinado- res sobre os critérios a ter em conta na apreciação das provas, moderação das classificações, e a utilização de provas estandardizadas de correção objectiva. Miranda (1982, p. 39). Observa-se que tantos nos avanços dos estudos da psico- metria como da docimologia2, a avaliação carrega consigo as 2 A palavra Docimologia, (do grego dokimé), que significa teste e que foi utilizada por Henri Piéron em 1920, é o estudo sistemático dos exames, em particular do sistema de atribuição de notas e dos comportamentos dos examinadores e exami- nados. Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 15 ideias de medida e de classificação muito presentes, cristali- zando-se ao longo da sua história. Na Idade Contemporânea, observa-se uma reação contra o ensino humanista tradicional, que dá espaço ao laicismo e a uma forte influência das ideias materialistas e anticlericais do racionalismo. Surge assim a necessidade de construir um sistema educativo em que a educação da criança passa à res- ponsabilidade do Estado. A avaliação contemporânea, partindo no início do século XX de ideais influenciados por Ralph Tyler que privilegiavam a medida, voltam-se também para o alcance dos resultados educacionais a partir de objetivos preestabelecidos de forma quantitativa e qualitativa. Percebe-se que após a divulgação dos estudos de Tyler emerge uma compreensão maior da educação, e a avaliação, antes direcionada apenas ao de- sempenho dos alunos, volta-se também para o desempenho das instituições, dos professores, dos métodos de ensino e dos programas governamentais objetivando a compreensão e ava- liação do sistema educacional como um todo, buscando a melhoria e a qualificação da educação. Apesar de todos esses esforços de qualificação, ainda se percebe fortemente a influência da avaliação com base no controle e na classificação, embora predomine nos discursos dos professores uma grande tendência de imprimir nas ações pedagógicas a preocupação com o sucesso do aluno. Entre- tanto, as práticas avaliativas não corroboram esse discurso e ainda se encontram atreladas à nota e à classificação do alu- 16 Gestão de Processos Avaliativos no ou, o que é pior, desvinculam a avaliação de notas e con- ceitos, substituindo-a pela progressão sem avaliação. Fernandes e Neto (2012) afirmam que, [...] continua reinando, de forma quase absoluta, um modelo modernizado do ensino tradicional, que incor- pora superficialmente os principais traços das concep- ções inovadoras de outros modelos de ensino. (FER- NANDES e NETO, 2012). Recapitulando Historicamente, a avaliação está intimamente ligada aos pro- cessos de ensino-aprendizagem como forma de verificação e controle, não apenas das aprendizagens realizadas, mas tam- bém como controle social. A cultura do exame tem sobrevivido e se concretizado des- de meados da Idade Média até nossos dias e, embora a ava- liação tenha se modernizado, não se vislumbra transformações nos processos avaliativos que ainda mantêm a nota, a medida e o controle muito presentes em suas práticas, apesar dos dis- cursos progressistas. Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 17 Referências CARVALHO, Francisca S. T. Avaliação da aprendizagem de alunos com deficiência em cursos das ciências exatas: estudo de caso em uma instituição pública federal de ensi- no superior na cidade de Fortaleza/Ceará. Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação (Faced) da Universida- de Federal do Ceará. 2013. DEPRESBITERIS, L. O. Avaliação da Aprendizagem do Pon- to de Vista Técnico-Científico e Filosófico-Político. 2014. Disponível em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ pdf/ideias_08_p161-172_c.pdf Acesso em 15.dez.2014. DESCARTES, René. O Discurso sobre o método. São Paulo: Escala, 2002. ESCUDERO, T. Desde os testes até a avaliação atual: o século XX de intenso desenvolvimento da avaliação educacional. Revista eletrônica de investigação e avaliação educati- va, Zaragoza, v. 9, n. 1. 2003. Acesso em 15. mar. 2014. ESTEBAN, Maria Teresa Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. FERNANDES, Rebeca C. A., NETO, Jorge Megid. Modelos educacionais em 30 pesquisas sobre práticas pedagógi- cas no ensino de ciências nos anos iniciais da escolari- zação. Investigações em Ensino de Ciências – V17(3), p. 641-662, 2012. Disponível em http://www.if.ufrgs.br/ ienci/artigos/Artigo_ID309/v17_n3_a2012.pdf Acesso em 12.dez.2014. 18 Gestão de Processos Avaliativos LIMA, C. I; ANDRIOLA, W. B. Avaliação do ensino-aprendi- zagem: um caminho em construção. In: VIANA, T. V.; RI- BEIRO, A. P. M.; CIASCA, M. I. F. L. (Orgs.). Avaliação educacional: sentidos e finalidades. Fortaleza: RDS, 2008, p. 149-168. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem es- colar: estudos e proposições. 9. ed. São Paulo: Cortez, 1999. MARROU, Henri-Irénée. História da educação na antigui- dade. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1971.COMIS, Daniela. A função social da escola e da avaliação da aprendizagem. Dialogia. São Paulo, v.5. 2006, p. 135-144. MIRANDA, Maria José. A Docimologia em Perspectiva. Revista Faculdade de Educação São Paulo. 8(1):39-69, 1982. TEIXEIRA, Anísio. Uma perspectiva da educação superior no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasí- lia, v.50, n.111, jul./set. 1968, p.21-82. VIANNA, Heraldo Marelim. Avaliação Educacional. São Pau- lo: IBRASA, 2000. Atividades Leia atentamente as questões abaixo e responda: Capítulo 1 Contextualização Histórica, Social, Política... 19 1) A partir das leituras realizadas no Capítulo 1, quais as práticas avaliativas da antiguidade romana são possíveis identificar na educação contemporânea? 2) O que o grande educador brasileiro Aníbal Teixeira quis dizer quando afirmou que “a instituição universidade é realmente medieval”? 3) Com base nos estudos realizados na Capítulo 1, qual a contribuição de Ralph Tyler para os processos avaliativos da contemporaneidade? Complete as lacunas, caracterizando a educação medieval. 4) A educação era controlada e influenciada pela ________, assim como o espaço jurídico e político da sociedade, ma- nipulando as relações________ e de ________. 5) A educação visava familiarizar o povo camponês com as ________ __________e, assim, mantinha-os _______, _________ e conformados com o que consideravam destino. Gabarito 1) A resposta deve indicar práticas punitivas da Idade Antiga que hoje se fazem sentir de forma branda, sem castigos físicos, nas atividades de correção de provas que salien- tam o erro e as repreensões que advêm em avaliações que culpam o aluno pela sua não aprendizagem. 20 Gestão de Processos Avaliativos 2) A resposta deve apontar para a universalização da cultura ou, seja, reunir intelectualmente emum local o pensamen- to humano. 3) A resposta deve contemplar os aspectos qualitativos da avaliação. 4) Igreja, sociais, poder. 5) Doutrinas cristãs, dóceis, obedientes. Concepções de Aprendizagem e Pressupostos Epistemológicos da Avaliação1 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 1 Elaine de Santa Helena - Pedagoga, Orientadora Educacional, Especialista em Administração de Recursos Humanos e Mestre em Educação. Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Luterna do Brasil – ULBRA. Atua como consultora nas áreas da educação, da gestão do conhecimento e da gestão de pessoas. Elaine de Santa Helena1 Capítulo 2 22 Gestão de Processos Avaliativos Introdução Neste capítulo, serão tratadas as principais concepções de avaliação presentes nos espaços educativos e que determinam as práticas avaliativas desenvolvidas. A avaliação sempre esteve presente na vida humana e suas práticas estiveram associadas à cultura de cada sociedade. A avaliação não possui um fim em si mesma: ela existe e se justi- fica como componente fundamental de algum modelo teórico que embasa a prática pedagógica. Assim, a avaliação só pode ser analisada se compreendermos a intencionalidade política que a sustenta. Conforme Perrenoud (1999), duas lógicas permeiam as práticas pedagógicas, uma lógica que privilegia a aprendiza- gem e outra que se coloca a serviço da seleção social presente nas tradicionais teorias pedagógicas. A avaliação e suas práticas são definidas por modelos te- óricos que vislumbram a formação, através de processos edu- cativos, de um tipo ideal de ser humano e de sociedade e que, conforme Libâneo (2006), podem promover a manutenção ou a transformação social conforme modelo a que se vincula. Assim, a avaliação deve ser entendida como um instrumen- to que, além de técnico, é também político, e deve ser compre- endida no contexto das tendências pedagógicas que irão de- terminar a metodologia avaliativa que será desenvolvida para concretizar os ideais almejados por cada tendência teórica. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 23 Nessa perspectiva, a avaliação desenvolvida no âmbito da educação, seja ela formal ou não formal, deve ser vista como um processo amplo e não como algo isolado e meramente técnico. A avaliação deve ser compreendida como um ato es- sencialmente político que, mesmo quando os avaliadores não possuam a consciência dos efeitos da avaliação além daque- les imediatos e restritos ao momento de sua aplicação. Para melhor compreendermos os aspectos políticos acima citados, iremos também revisitar o contexto histórico, agora situando as tendências pedagógicas e seus pressupostos epis- temológicos. Revisitando a história e as tendências pedagógicas As primeiras iniciativas educativas no Brasil foram desenvolvi- das pelos jesuítas e tinham por escopo a educação tradicional, centrada na autoridade do professor e na transmissão de con- teúdos. Esta tendência, que se sedimentou por cerca de 220 anos durante a permanência dos jesuítas no país, ainda hoje é percebida no meio escolar. Libâneo (1990) propõe uma classificação das teorias pe- dagógicas que utiliza como critério o impacto de cada ten- dência na sociedade, transformando-a ou contribuindo para a reprodução de sua estrutura vigente. 24 Gestão de Processos Avaliativos Rogério Lopes/ULBRA Esquema elaborado pela autora com base em Libâneo (1990). Na classificação proposta por Libâneo (1999), as tendên- cias pedagógicas liberais apresentam como função principal da escola “preparar os indivíduos para o desempenho de pa- péis sociais”, mas não considera as desigualdades das condi- ções culturais e sociais existentes, pressupondo oportunidades iguais a todos e atribuindo o sucesso ou o fracasso ao indiví- duo e suas capacidades. Libâneo (1999) esclarece que O termo liberal não tem o sentido de “avançado”, ‘’de- mocrático”, “aberto”, como costuma ser usado. A dou- trina liberal apareceu como justificativa do sistema capi- Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 25 talista que, ao defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na proprie- dade privada dos meios de produção, também denomi- nada sociedade de classes. A pedagogia liberal, portan- to, é uma manifestação própria desse tipo de sociedade. As denominadas pedagogias liberais assumem princípios da doutrina liberal: liberdade, igualdade e respeito aos interes- ses individuais. Deste modo, centram-se no indivíduo e conside- ram que ele é o principal responsável por seu desenvolvimento. Ao classificar as tendências pedagógicas como “Liberais”, Libâneo considera que a questão das práticas educativas, in- clusive a avaliação, atribuírem ao indivíduo a responsabilida- de pelo seu desenvolvimento e considera a escola e seus ato- res isentos da responsabilidade pela aprendizagem, mesmo quando são considerados como detentores da autoridade e do saber, como veremos adiante, ocorre na tendência tradicional. Francisco Filho (2011), discute as características da Peda- gogia Liberal e afirma que: Libâneo não difere muito de Saviani, quando conside- ra que a pedagogia liberal tem por função preparar o indivíduo para papéis sociais, de acordo com aptidões e interesses de cada um. São as pessoas que devem se adaptar às normas e às condições existentes na socieda- de, onde as relações de classes sociais não são consi- deradas. A pedagogia liberal busca a igualdade sem as grandes mudanças sociais. (p.12). 26 Gestão de Processos Avaliativos Nas tendências progressistas, Libâneo (1990) considera que elas se desenvolvem a partir de uma análise crítica das realidades sociais e da ideia de que o ato educativo é essen- cialmente um ato político e, assim, reafirma o aspecto social e político da educação. Conforme Saviani (2010), as “tendências progressistas” re- cebem esta denominação por trazerem consigo o caráter con- tra-hegemônico de seus ideais pedagógicos. Nesta classifica- ção encontram-se a tendência Liberal, a tendência Libertária e a tendência Crítico Social dos Conteúdos ou Histórico Crítico. Assim, vislumbramos tendências que, mesmo de diferentes campos das ciências, apresentam uma base em comum, que é a busca pela transformação social através de uma educação voltada para conquista da hegemonia. Para tal fim, o ensino deve ir além da simples interação do aluno com o meio em que vive, mas deve privilegiar o meio social e a realidade dos educandos nos estudos realizados, concretizando o conheci- mento na melhoria das condições de vida, transformando a educação em uma força da luta de classes com vista à trans- formação da ordem social e econômica. Tendências Liberais Tendência Pedagógica Tradicional A tendência pedagógica Tradicional traz em seu bojo episte- mológico correntes filosóficas ancoradas na lógica que trazem consigo propostas de um ser humano e de sociedade ideais, Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 27 na qual os intelectuais, os melhores e os mais capazes teriam a responsabilidade de administrar. Esses pressupostos emba- saram o trabalho jesuítico e trazem como eixo norteador a filosofia Escolástica de São Tomás de Aquino. Segundo Costa (1993), Encontramos os ideais deste formalismo lógico em Co- mênio, um dos principais teóricos da pedagogia tradi- cional, que em 1657, em seu livro “Didática Magna”, propõe a formulação de uma “arte universal de ensinar tudo a todos”. A pretendida universalização do ensino proposta por Co- mênio desconsidera as diferenças individuais e oportuniza a exclusão e a classificação utilizando métodos avaliativos que atribuem apenas ao aluno avaliado, a responsabilidadeúnica pelo seu bom ou mau desempenho. Na tendência Tradicional, a concepção de aprendizagem associa-se à memorização e à repetição de conteúdos tal como foram estudados. Ora, para memorizar não é preciso compreender o significado do que se estuda, basta repetir. Re- side aí a base da teoria e também o seu caráter liberal. Nessa tendência, o professor detém a autoridade e o co- nhecimento, cabendo ao aluno receber os ensinamentos e re- petir os conteúdos ensinados como forma de demonstrar que aprendeu. A relação professor-aluno é vertical e exclui a inte- ração. A avaliação na tendência Tradicional tem a função de ve- rificar a aprendizagem realizada. Para isto, utiliza-se de instru- 28 Gestão de Processos Avaliativos mentos que solicitam ao aluno a repetição das falas do pro- fessor, dos textos estudados e dos comportamentos esperados. Quanto melhor o desempenho do aluno, melhor será sua clas- sificação e posição na sociedade a que pertence, sendo ele o único responsável por sua aprendizagem. Assim, BEHRENS (2005) afirma que a tendência tradicional Busca respostas prontas, e quando as perguntas são pro- postas que objetivam respostas pré-determinadas, não possibilitam a formulação de novas perguntas. Este fator impede os alunos de serem criativos, reflexivos e ques- tionadores. A avaliação, de maneira geral, única e bi- mestral, contempla questões que envolvem a reprodução dos conteúdos propostos, enfatizando e valorizando a memorização, a repetição e a exatidão, perguntas que envolvem reprodução buscam respostas prontas, ela é única e bimestral impede aos alunos ao questionamento, valorizando a memorização. (BEHRENS, 2005, p. 46). Nesta perspectiva, ao professor cabe ensinar, mas o ensino para ser efetivo não carece que o aluno aprenda, pois a tarefa de aprender dependerá do esforço e do empenho despendido pelo próprio aluno. Tendência Tecnicista A tendência tecnicista traz consigo fundamentos filosóficos po- sitivistas que apregoam a neutralidade e a objetividade política da educação. Essa tendência, inspirada nas teorias behavio- Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 29 rista e de sistemas, se faz sentir no Brasil já nos anos de 1920 frente às demandas de uma sociedade que se organizava com um incipiente processo de industrialização. Entretanto, o tecnicismo educacional é fortalecido nas décadas de 1960 e 1970 como forma de atender às necessidades da sociedade industrial e tecnológica. É nesse período que o sistema edu- cacional brasileiro é reestruturado visando à formação rápida de indivíduos que, com uma formação básica e profissionali- zante, preenchessem as lacunas do mercado de trabalho que necessitava de mão de obra capacitada, principalmente nas organizações multinacionais que se instalavam. Embalado pela tendência tecnicista, percebe-se no sistema educacional uma subordinação às demandas da sociedade industrial, a qual influencia fortemente as políticas governa- mentais em todas as áreas, determinando metas e objetivos a serem conquistados. Deste modo, buscava-se a adequação do sistema educacional às políticas do regime militar. O tecnicismo pregava a supremacia da técnica e a elimina- ção de qualquer subjetividade nos processos educativos. Estes pressupostos oportunizaram o distanciamento dos conteúdos escolares da realidade dos alunos e, também, em nome de maior objetividade e neutralidade, promove a fragmentação dos conhecimentos para melhor “estudá-los”. Nessa perspectiva o pressuposto de aprendizagem profes- sado pela tendência liberal tecnicista reduz-se à mudança de comportamento. Assim, aprender é modificar desempenho, mudar comportamento mediante condicionamentos efetivados através de reforço positivo ou negativo. 30 Gestão de Processos Avaliativos Quanto ao papel do professor, também aqui ele é reduzido à aplicação de técnicas instrucionais, isolando-o de interações com o aluno e de qualquer subjetividade. Para ensinar basta- va, através do uso correto da técnica, administrar e executar as condições previamente estabelecidas de transmissão de con- teúdos. Partindo desse ideário, a avaliação consiste em verificar e controlar o desempenho e o comportamento esperados e “treinados” durante o processo de ensino. Percebe-se como resultado de todo o processo uma crescente burocratização da escola e do trabalho do professor, e o distanciamento entre os diferentes atores da ação educativa, afastando o aluno pela impessoalidade impregnada. Avaliar nessa concepção, como na tendência tradicional, valoriza a nota, a classificação, a seleção e a exclusão, quanti- ficando e medindo a aprendizagem do aluno através da quanti- dade de acertos e erros que são identificados nos testes, provas e, no caso da tendência tecnicista, nas instruções programadas pelo professor para modelar o desempenho dos alunos. Tendências renovadas Conforme Libâneo (1990), a tendência liberal renovada pos- sui duas vertentes distintas: a renovada progressivista e a reno- vada não diretiva. Estas tendências recebem a denominação renovada por seu ideário constituir um avanço e uma renova- ção em relação às tendências tradicionais de ensino. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 31 Tendência Renovada Progressivista Segundo Murta (2015), A pedagogia nova baseia-se numa visão existencialis- ta de homem, segundo a qual a natureza humana é moldada na existência, sendo o homem uma “tábua rasa” ao nascer. Indivíduos essencialmente diferentes exigem uma educação diferenciada, devendo predomi- nar uma sequência psicológica na organização do en- sino. A abordagem dos fenômenos educacionais nessa vertente é de natureza predominantemente psicológica. À escola cabe suprir as experiências que permitem ao aluno educar-se, num processo ativo de construção e reconstrução do objeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indivíduo e estrutura do ambiente. Essa perspectiva apresenta uma série de deslocamentos em relação à escola tradicional: do intelecto (lógico) para o sentimento, do esforço para o interesse, dos conteúdos para os métodos e processos de ensino. (MURTA, 2015) A tendência Renovada Progressivista ou pragmatista, tam- bém conhecida como abordagem escolanovista, ancora-se nos pressupostos filosóficos do Racionalismo de Descartes e da Filosofia das Luzes, privilegia a razão e entende a educação como um processo interno ao indivíduo e que deve contemplar as necessidades e interesses individuais. No Brasil, o movimento da Escola Nova foi introduzido no início do século XX, principalmente a partir da década de 1920, e propõe a democratização do ensino ao proclamar 32 Gestão de Processos Avaliativos uma “educação para todos”. Esta tendência foi amplamente difundida pelos pioneiros da educação nova, principalmente por Anísio Teixeira (deve-se destacar, também, a influência de Montessori, Decroly e, de certa forma, Piaget). A intenção de democratizar o ensino não se efetivou no sentido de oferecer educação de qualidade a todos, mas oportunizou um aumento quantitativo do número de escolas. Apesar de não ter se concretizado plenamente, a Escola Nova traz consigo uma forte crítica ao ensino tradicional e propõe métodos participativos e ensino centrado no aluno, re- tirando do professor o papel central da condução do processo de ensino-aprendizagem. A concepção de aprendizagem desta tendência centra-se na máxima “aprender a aprender”, cabendo ao professor o papel de auxiliar o aluno em seu processo de desenvolvimen- to, provendo-o de condições e experiências para que busque por si mesmo os conhecimentos e a aprendizagem ocorra de forma livre e natural. Entre os representantes dessa tendência destacamos Jean Piaget, Maria Montessori e John Dewey. Esses teóricos trazem a necessidadede interação do aluno com o ambiente para dentro do processo de aprendizagem e se constitui etapa ne- cessária ao desenvolvimento da cognição. Ao considerar a aprendizagem um processo interno ao in- divíduo, a avaliação ganha novos contornos e privilegia a par- ticipação do aluno, propondo a autoavaliação e a valorização das conquistas e sucessos do aluno durante o processo de aprendizagem, ou seja, durante o aprender a aprender. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 33 No que se refere à avaliação, Fernandes (2002, p. 26) re- lata que a tendência renovada progressivista iniciou um movi- mento de substituição das notas por uma escala de conceitos, trazendo para a avaliação aspectos qualitativos. A avaliação passa a considerar as atitudes, o esforço e o êxito do aluno, e não apenas os aspectos cognitivos. A segunda vertente da tendência renovada, a não diretiva, tem por base as ideias de Carl Rogers e propõe que o aluno seja o condutor do seu processo de aprendizagem. Segundo ele, o professor não detém a diretividade, sendo apenas uma figura auxiliar do processo. Para Rogers, a aprendizagem é um processo de autoco- nhecimento e aprender significa modificar suas percepções. Deste modo, a aprendizagem aqui também se constitui em um processo interno e a avaliação é realizada pelo próprio aluno, que focaliza suas emoções e percepções sobre si e sobre a realidade que o cerca. A preocupação central da proposta Rogeriana é a for- mação de atitudes e privilegia os problemas psicológicos em detrimento dos pedagógicos. Nessa ótica, o professor é um especialista em relações humanas e concentra sua atuação no desenvolvimento da personalidade do aluno, nas comuni- cações que realiza e nas relações deste com o mundo. Apesar de seu caráter renovador, as tendências liberais renovadas preocupam-se apenas com o indivíduo e seu de- senvolvimento, esquecendo as questões sociais e políticas inerentes à vida. Cabe esclarecer que, ao afirmar que essas tendências excluem de seu foco as transformações sociais, isto 34 Gestão de Processos Avaliativos não significa dizer que elas não poderão ocorrer. As transfor- mações poderão acontecer, mas movidas por outros fatores e não por uma intencionalidade educativa. Através das discussões acima, pode-se perceber claramen- te o pensamento liberal nas tendências estudadas que, de dife- rentes formas, responsabilizam o aluno pelos seus sucessos ou dificuldades, atribuindo a ele, ao seu esforço ou capacidades, o resultados do processo de ensino. Nestas tendências, o pa- pel do professor parece ser independente e pontual, ou seja, se o professor desempenha adequadamente sua função, ele cumpre seu papel e não é associado aos resultados obtidos. Nessa tendência, avaliar não faz parte das funções do pro- fessor. Ele se isenta da condução do processo de ensino, que fica à mercê do aluno em um processo de autoavaliação. Tendências Progressistas Conforme Libâneo (1990), três teorias são de caráter progres- sista: a Tendência Libertadora, a Tendência Libertária e a Ten- dência Crítico Social dos Conteúdos, todas organizadas para atender às necessidades de desenvolvimento e de transforma- ção social. Nas tendências progressistas, é nuclear o compromisso com a democratização e a apropriação do conhecimento para, através dele, transformar as relações sociais, promoven- do a participação e a emancipação das pessoas. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 35 A concepção de educação progressista está ancorada epistemologicamente à pedagogia socialista tendo a dialética como referência, e pode ser visualizada nos trabalhos de mui- tos teóricos brasileiros como Paulo Freire, Dermeval Saviani, Cipriano C. Luckesi, José C. Libâneo, entre outros. Tendência Libertadora Proposta por Paulo Freire, esta tendência propõe a “libertação” das classes dominadas, que ocorre através do conhecimento e da conscientização sobre as condições concretas da realidade e das relações contextuais que nela se estabelecem. O movimento dialético emerge ao revelar as contradições existentes na realidade social e que são conhecidas através do diálogo sobre temas significativos da vida dos alunos. Desta forma, o aluno se apropria da sua realidade concreta e pode, através deste conhecimento, criar condições de modificá-la. Aqui o aluno tem papel ativo, sendo sujeito e objeto da trans- formação. O pressuposto de aprendizagem reside justamen- te aí, no conhecimento da realidade e, nesta perspectiva, a avaliação ocorre também de forma dialógica e pela linha da autoavaliação. Quanto ao papel do professor, ele não detém autoridade e deve estabelecer uma relação horizontal com os alunos. O professor deve, ainda, pertencer ao meio social do aluno, ter engajamento político e consciência da realidade, trabalhando 36 Gestão de Processos Avaliativos os conteúdos extraídos da realidade social de forma contextu- alizada, dialética e dialógica. A avaliação, na tendência libertadora, também parte da análise da apropriação do conhecimento da realidade, das relações existentes e da possibilidade de transformação destas ser vislumbrada pelo aluno. Seguindo as bases filosófico-epis- temológicas dessa tendência, a avaliação se configura como processo libertador e emancipatório contínuo. Tendência Libertária A Tendência Libertária traz em seu bojo os princípios da liber- dade exercida via grupo e um projeto de sociedade fundada na autogestão, espelhados nas ideias anarquistas de Bakunin. A pedagogia libertária propõe, em princípio, a negação dos modelos tradicionais e tecnicistas que preconizam o autori- tarismo. Para isto, defende valores que conduzem à construção de uma sociedade harmônica que privilegie a solidariedade, a liberdade, a autogestão, a espontaneidade e a criatividade no convívio social e, por consequência, no espaço pedagógico. As bases da pedagogia libertária encontram-se nas ações de autogestão que ocorrem via grupo, na qual ocorre a autor- responsabilização dos indivíduos pelo processo de decisão e de aprendizagem reconhecidamente necessários ao funciona- mento social e à emancipação das pessoas numa perspectiva autogestionária e integrada. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 37 Dois aspectos são importantes entre os libertários: o tra- balho e trabalhadores livres e emancipados, pois é através deles que a sociedade idealizada é construída. Nesta perspec- tiva, a pedagogia libertária e a educação assumem o papel de alavancar e proporcionar a construção dos conhecimentos necessários ao funcionamento da sociedade em todos seus aspectos. É importante ressaltar que os princípios de liberdade e au- togestão só podem ser entendidos e concretizados via grupo,. Aqui o indivíduo é livre quando é partícipe do processo auto- gestionário que ocorre no seu grupo social. Dessa forma, a participação plena é importante como meio de afastar qual- quer forma de poder e de autoridade que não tenha sua ori- gem no grupo social. A avaliação na perspectiva da pedagogia libertária deverá ocorrer de forma participativa e via grupo, o qual deve estar sempre em busca de soluções e melhorias para o funciona- mento harmônico e integrado do grupo social. Assim, enten- de-se que a avaliação é processual e não pontual. Aqui o principal instrumento de avaliação é o debate que ocorre via assembleias. Mesquita e Coelho (2008) afirmam que nas tendências progressistas libertadora e libertária, o planejamento e a avaliação perdem o caráter controla- dor e mensurador da escola formal. Por se tratar de con- cepções comprometidas com as transformações política e social, os instrumentos necessários à ação educativa 38 Gestão de Processos Avaliativos são o diálogo, a problematização, a reflexão e acons- cientização. A tendência libertária traz em seu âmago anseios de li- berdade e assume uma postura antiautoritária, que defende a abolição das notas, dos exames, e da frequência como critério de avaliação e reconhece a autoavaliação que se desenvolve via grupo como a que melhor a representa. Tendência Crítico Social dos Conteúdos A tendência Crítico Social dos Conteúdos emerge no Brasil, na década de 1970, do pensamento de diversos intelectuais que, conforme seu criador, José Carlos Libâneo, “a Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese superadora de traços signi- ficativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova.” (LIBÂ- NEO, 1992). Conforme Libâneo (1992): Na segunda metade da década de 70, com a incipiente modificação do quadro político repressivo em decorrên- cia de lutas sociais por maior democratização da socie- dade, tornou-se possível a discussão de questões educa- cionais e escolares numa perspectiva de crítica política das instituições sociais do capitalismo. Muitos estudiosos e militantes políticos se interessaram apenas pela críti- ca e pela denúncia do papel ideológico e discriminador da escola na sociedade capitalista. Outros, no entan- to, levando em conta essa crítica, preocuparam-se em Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 39 formular propostas e desenvolver estudos no sentido de tornar possível uma escola articulada com os interesses concretos do povo. Entre essas tentativas destacam-se a Pedagogia Libertadora e a Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. Entretanto, alguns intelectuais da época acreditavam que a tendência pedagógica Liberal não valoriza os conhecimentos construídos e acumulados historicamente, mas reconhecem a ideia de que a escola deve ter o papel de transformação social e deve se vincular à realidade social dos alunos. O resultado da insatisfação produz uma nova proposta re- tórica que mescla alguns aspectos da tendência tradicional do ensino como o trabalho com conteúdos universais e contem- pla também a diretividade do ensino pelo professor, mas, ao mesmo tempo inclui a verticalidade e o autoritarismo na rela- ção professor-aluno. Deste modo, o professor detém a diretivi- dade no planejamento das atividades pedagógicas, mas deve promover a autonomia do aluno e estabelecer uma relação horizontal, atuando como mediador do conhecimento. Esta mescla de tendências também se reflete na avaliação e, através dela, o professor deve acompanhar as construções do conhecimento que os alunos realizam em uma relação de parceria e de ajuda, mas pode utilizar também instrumentos tradicionais de avaliação como testes e provas. Contudo, deve sempre manter sua posição de mediador do conhecimento, promovendo a participação do aluno em seu processo de aprendizagem e de desenvolvimento social. 40 Gestão de Processos Avaliativos Nesta perspectiva, Libâneo (1992, p.91) afirma que esta proposta pedagógica estabelece “uma relação de continui- dade entre a cultura erudita e a popular em que, progressi- vamente, se passa da experiência imediata e desorganizada ao conhecimento sistematizado”, privilegiando a metodologia dialética em sala de aula em um movimento contínuo de sín- crese, análise e síntese dos conhecimentos. Recapitulando Nos processos avaliativos que se desenvolvem na educação, ainda se percebe uma forte influência das pedagogias tradi- cional e tecnicista, embora em nuances mais leves e moderni- zadas. Neste sentido, faz-se necessário que os educadores tenham claro os pressupostos teóricos de cada tendência pedagógica e as suas formas de materialização no processo educativo, desde a postura do professor frente a seus alunos, passando pelas atividades educativas propostas até o processo avaliati- vo. Quando o professor não se apropria da tendência peda- gógica que julga mais adequada, ele não consegue atingir seus objetivos educativos e nem refletir sobre sua prática e sobre a formação de sua própria consciência, condutora da práxis desenvolvida. Esta falta de clareza perpassa o trabalho do professor, e o aluno, na ausência de uma linha clara do trabalho pedagógico, responde conforme a mais antiga e se- dimentada tendência pedagógica conhecida no meio escolar: a tradicional. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 41 Assim, é necessário que educadores, além de conhecer profundamente as bases teóricas da tendência que acredita ser mais adequada, deve também conhecer suas manifestações na prática e rever suas posturas pedagógicas, adequando-as aos seus pressupostos. Referências BEHRENS, Marilda Aparecida. O Paradigma emergente e a prática pedagógica. 4. ed., Curitiba, PR: Editora Universi- tária Champagnat, 2005. DEPRESBITERIS, L. O desafio da avaliação da aprendiza- gem; dos fundamentos a uma proposta inovadora. São Paulo, EPU, 1989. FERNANDES, M. E. A. Avaliação Institucional da escola. 3. ed., Fortaleza: Demócrito Rocha, UECE, 2002. FRANCISCO FILHO, Geraldo. Panorâmica das Tendências e Práticas Pedagógicas. 2. ed. rev. Campinas, Átomo. 2011, 72 p. GOLDBERG, M. A. Avaliação educacional; medo e poder. Educação e Avaliação. São Paulo, Cortez 1(1):96-117, 1980. GRONLUND, N. E. O sistema de notas do ensino. 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Avaliação educacional. Porto Alegre, Globo, 1983. PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas lógicas. Porto Alegre: Art- med, 1999. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 43 Atividades 1. Considerando as leituras neste capítulo, marque Verdadei- ro ou Falso para as afirmações abaixo: a) ( ) As pedagogias liberais focalizam seus estudos no indivíduo e o consideram como principal responsável por seu desenvolvimento. b) ( ) Nas tendências pedagógicas, progressistas as pes- soas é que devem se adaptar às normas e às con- dições existentes na sociedade, onde as relações de classes sociais não são consideradas. c) ( ) Na tendência tecnicista, a avaliação é realizada pelo grupo e busca o entendimento do contexto social 2) Carl Rogers propõe uma educação voltada para o indiví- duo e suas percepções. Explique qual o papel do professor no processo avaliativo da abordagem de Rogers. 3) Compare as tendências progressistas libertadora e liber- tária e apresente duas semelhanças e duas diferenças nos processos avaliativos que desenvolvem. 4) No presente capítulo em estudo, a autora afirma que “ A avaliação e suas práticas são definidas por modelos teóri- cos que vislumbram a formação, através de processos edu- cativos, de um tipo ideal de ser humano e de sociedade “. Explique a relação entre tendências pedagógicas, avaliação e ideal de ser humano. 44 Gestão de Processos Avaliativos 5) Como é desenvolvida a avaliação na proposta da peda- gogia Liberal? Gabarito 1.V - F - F 2. A resposta deve indicar que o professor tem um papel au- xiliar no processo educativo e não é responsável pela ava- liação. A autoavaliação do aluno é mais indicada nessa abordagem. 3. Semelhanças: ambas as tendências visam à transforma- ção social, não são diretivas e o professor tem função au- xiliar e baseiam-se no diálogo. Diferenças Libertadora: trabalha com o indivíduo para sua melhor compreensão da realidade em que vive e em que trabalha; aceita posições e visões divergentes, procura apenas entendê- -las e estudar o impacto social de cada ação, fato ou aconte- cimento. Libertária: trabalha via grupo em assembleias; busca o consenso sobre o que é melhor para o grupo social e, a partir deste pressuposto, busca a organização social do grupo. 4. A resposta deve indicar que cada tendência propõe um ideal de ser humano e de sociedade, e as práticas educa- tivas devem corresponder a estas visões para que o ideal pretendido se concretize. Capítulo 2 Concepções de aprendizagem e pressupostos... 45 5. Na tendência libertadora, a avaliação é realizada através do diálogo e da autoavaliação, discutindo as construções e entendimentos dos alunos sobre as relações sociais e o conhecimento como meio de transformação das suas con- dições de vida e de trabalho. Avaliação nas Perspectivas da Classificação e do Sucesso1 Avaliação nas Perspectivas da Classificação... 1 Elaine de Santa Helena - Pedagoga, Orientadora Educacional, Especialista em Administração de Recursos Humanos e Mestre em Educação. Professora dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Luterna do Brasil – ULBRA. Atua como consultora nas áreas da educação, da gestão do conhecimento e da gestão de pessoas. Elaine de Santa Helena1 Capítulo 3 Capítulo 3 Avaliação nas Perspectivas da Classificação... 47 Falar em avaliação da aprendizagem suscita várias imagens, lembranças de experiências nem sempre aprazíveis. Cada in- divíduo carrega consigo um modelo mental da avaliação, uma história vivenciada ou partilhada. Certa vez solicitei em uma sala de aula de alunos de didá- tica que os alunos fizessem um desenho representando a sua ideia de avaliação. Surgiram várias imagens, desde figuras de monstros, cobras, noite, entre outras. Um desenho chamou minha atenção: era uma caixa fechada com duas pessoas ao lado com vários pontos de interrogação sobre suas cabeças. Indaguei sobre o desenho e recebi a seguinte resposta: “Pro- fessora, a avaliação é como uma caixa de surpresas: para alguns pode ser um presente, mas para outros poderá ser um susto, mas sempre é uma incógnita.” Essa resposta demonstra claramente os sentimentos e a ansiedade que a avaliação pro- voca nas pessoas avaliadas. Cada professor tem sua maneira particular de avaliação e também uma subjetividade ineren- te ao seu olhar. Se submetermos um determinado trabalho à análise de vários avaliadores e determinarmos previamente os critérios de avaliação, teremos avaliações diferentes de acordo com a subjetividade de cada um. Perrenoud (1999) questiona o consenso sobre a maneira de avaliar e sobre os níveis de exigência em avaliação. Ora, nesse caminho de incerteza, os alunos não têm clareza sobre a avaliação. Neste sentido, Perrenoud, (1999, p.9) continua e afirma que “a avaliação inflama necessariamente as paixões, já que estigmatiza a ignorância de alguns para melhor cele- brar a excelência de outros”. 48 Gestão de Processos Avaliativos A avaliação, tal como tem sido praticada nas instituições de ensino, constitui-se, na grande maioria, em instrumento de controle e regulação que sustentam e estimulam a lógica da seleção e classificação em detrimento da emancipação, do desenvolvimento e sucesso do avaliado. Segundo LUCKESI (2003), “a atual prática de avaliação es- colar estipulou como função do ato de avaliar a classificação e não o diagnóstico”, e é nestas perspectivas que a avaliação será aqui abordada. Os tradicionais exames escolares são práticas avaliativas presentes no desenvolvimento histórico da educação e assumi- ram papel de destaque no trabalho pedagógico dos Jesuítas em seu Ratio Studiorum e também na obra de John Amós Co- mênio. A importância dada a esta prática avaliativa assume tal proporção que muitos a confundem com o próprio, mas fazem do exame a própria avaliação. Segundo Saviani (2005), foram os jesuítas que sedimenta- ram o exame como prática avaliativa através de sua metodo- logia baseada na memorização, com exercícios repetitivos e a realização de exames nos sábados, originando o termo sabati- na que, ao longo do tempo, tornou-se sinônimo de avaliação. Percebe-se claramente aí a ideia de avaliação como exame. Observa-se nas escolas brasileiras a prática de exames como instrumentos de classificação dos alunos desde a edu- cação básica, o que tem sido historicamente reforçado pela estrutura do sistema de ensino que privilegia provas e exames como forma de progressão e classificação. Cabe esclarecer que não estamos aqui, defendendo a ideia da não avaliação Capítulo 3 Avaliação nas Perspectivas da Classificação... 49 ou da exclusão desses instrumentos avaliativos, pois os seus efeitos dependerão da forma como os resultados serão utiliza- dos, se para classificar ou se para o planejamento e a realiza- ção de ações que promovam o acompanhamento, o desenvol- vimento e a conquista da autonomia dos alunos. Ante o acima exposto, é urgente discutir e analisar os signi- ficados da avaliação desenvolvida na escola, pois é necessário entender que na escola avaliar implica em compreender o seu papel nas relações pedagógicas e também os aspectos políti- cos subjacentes às suas práticas. Avaliação na lógica da classificação Philipe Perrenoud (1999), afirma que a avaliação pode ocorrer sob duas lógicas, a lógica da seleção, com caráter classificató- rio, ou a lógica do sucesso, com foco na aprendizagem. A avaliação, na ótica da seleção, assume caráter classifi- catório e punitivo, podendo ser usada como instrumento de controle, dependendo da postura do professor. É importante ter clareza de que o insucesso do aluno é também insucesso do professor. O ensino só se efetiva quando ocorre a apren- dizagem e é neste pressuposto que as teorias pedagógicas – que consideram o aluno como o único responsável pela sua aprendizagem – estão fadadas ao fracasso. Na perspectiva do ensino tradicional tecnicista, que concebe a aprendizagem como memorização ou como modificação de comportamento, a preocupação do professor é atribuir nota conforme a “quan- 50 Gestão de Processos Avaliativos tidade” de conteúdos aprendidos e/ou de comportamentos modificados. Há alguns anos, conversando com um grupo de professo- res, ouvi a seguinte apresentação em tom de elogio sobre um colega que acabara de chegar: “Este é o professor X, excelen- te professor, um dos nossos melhores! É o terror dos alunos, reprova cerca de 30 a 40 % dos alunos. Só os bons passam.” Na época, o comentário poderia até parecer normal e de- sejável para muitos, mas trazia consigo a triste realidade de um alto índice de não aprendizagem e da classificação de alunos bons ou ruins. Além da não aprendizagem, é preciso considerar também a concepção de professor e de ensino que reforçam comportamentos dos docentes que mantêm e estimu- lam a classificação e a reprovação em vez da aprendizagem. Neste contexto, a avaliação é reduzida à mecânica da repe- tição dos conceitos formais e às estatísticas; é simplesmente atribuir notas, e decidir sobre o avanço ou retenção do aluno na disciplina. Fica claro aqui o mito de que o “bom professor” é aquele que reprova. Assim, atribui-se ao professor o poder de decidir sobre a progressão dos alunos, mas de uma forma parcial e sem que ao aluno seja oportunizada a apropriaçãodo saber e do seu próprio desenvolvimento. O aluno fica, de certa forma, refém da nota e procura “descobrir” o que é importante para cada professor e, assim, conseguir o “passe” que vai permitir a progressão para nova série ou grau e ensino. Com isto, o foco de todo o proces- so de ensino desloca-se para a avaliação, seja ela expressa Capítulo 3 Avaliação nas Perspectivas da Classificação... 51 em graus ou conceitos, esquecendo que o principal é que a aprendizagem se concretize em sua plenitude. Luckesi (2003) considera a avaliação com função classifi- catória como um instrumento estático e frenador do processo de crescimento e desenvolvimento do aluno e acrescenta que “a função classificatória subtrai da prática da avaliação aquilo que é constitutivo: a obrigatoriedade da tomada de decisão quanto à ação, quando ela está avaliando uma ação” (p.35). Os resultados da ação avaliativa na perspectiva da classi- ficação que, além de usada para promoção ou retenção do aluno e sua classificação quanto ao desempenho apresenta- do, tem reflexos ainda na esfera social ao devolver à socieda- de alunos que muitas vezes, sem a compreensão e apreensão dos conteúdos estudados, são promovidos por uma memória eficiente ou por avaliações equivocadas. Para o indivíduo que sai da escola estigmatizado por classificações da reprovação, poderá restar a busca por atividades consideradas menos no- bres no mercado de trabalho. Deste modo, a avaliação clas- sificatória indica para a sociedade a qualificação ou desqua- lificação resultante da avaliação de um ensino desfocado e punitivo. Entretanto, não apenas os resultados da avaliação classi- ficatória causam tensões e distanciamento entre os atores do processo avaliativo, dada sua natureza, mas o próprio proces- so avaliativo pode gerar desconforto e distanciamento como em uma disputa, onde os envolvidos se veem como antagô- nicos em vez de aliados, como seria ideal em um ambiente educativo. 52 Gestão de Processos Avaliativos Maria Teresa Esteban (2004) em entrevista ao programa Salto para o Futuro da Rede Escola, ao ser questionada sobre quais os diferentes tipos de avaliação e os seus significa- dos na escola, responde: Parece-me que na nossa escola nós temos, fundamen- talmente, uma avaliação classificatória, que vai se reali- zar através de instrumentos diversos e de procedimentos diferenciados, muitas vezes em modalidades diferentes, mas que têm como eixo fundamental a produção de uma hierarquia dos estudantes, a partir de determinados padrões previamente estabelecidos. Então, essa avalia- ção, ela vai estar muito articulada a uma pedagogia, que alguns chamam da “pedagogia do exame”, em que todos os procedimentos pedagógicos vão estar atraves- sados por práticas que visam ao controle e à classifica- ção. Dessa forma, nós vamos ter uma avaliação que, a partir de um padrão predefinido, vai criando mecanis- mos de verificação do ponto em que cada estudante ou que cada grupo e cada setor se encontram, de acor- do com aquele padrão que é tomado como referência. Quais os efeitos disso para o processo educacional? É que nós vamos criando todo um conjunto de procedi- mentos, não só de avaliação, mas todo um conjunto de procedimentos pedagógicos que vão estar alimentando essa ideia da hierarquia — e que estão também sen- do alimentados por essa hierarquia — e aí nós vamos estabelecendo algumas pautas que são, por princípio, excludentes. Então, parece-me que a avaliação classi- ficatória vai estar bastante vinculada aos processos de Capítulo 3 Avaliação nas Perspectivas da Classificação... 53 produção da exclusão escolar, como parte dos proces- sos de exclusão social. A resposta acima nos incita à reflexão sobre alguns me- canismos utilizados pelos professores para “acompanhamen- to” dos alunos e que, na realidade, são instrumentos que justificam e sedimentam gradativamente a classificação. Para ilustrar, citamos aqueles professores que realizam várias ativi- dades avaliativas as quais são atribuídas notas ou pesos que irão compor o grau ou conceito final do aluno. Neste caso, as notas ou conceitos parciais servem como um aviso ou alerta que vão gradativamente inculcando e justificando o resultado final. Assim, o professor entende que o aluno foi “acompa- nhado” durante as aulas através dessas avaliações, quando ele deveria utilizar esses instrumentos para ajudar a revisar sua aprendizagem. Atualmente, são raros os professores que assumem a reali- zação de um trabalho na perspectiva da pedagogia tradicional ou tecnicista. A grande maioria se diz construtivista, embora em alguns casos não tenham clareza sobre este constructo te- órico. Neste meio de incertezas, desconhecimento e confusões conceituais, pensando em realizar um trabalho progressista, o professor utiliza de forma inadequada os instrumentos de ava- liação e o resultado pode ser a classificação. Desenvolver um trabalho docente na perspectiva das tendências pedagógicas progressistas exige conhecimento teórico, prática com o foco no aluno e uma autoavaliação constante. Exige ainda, lutar contra a formação da própria consciência e da influência das experiências classificatórias que permearam a vida acadêmica da grande maioria dos professores da atualidade. 54 Gestão de Processos Avaliativos Um fator que atua de forma negativa sobre o professor e que o impulsiona para a realização de uma avaliação classi- ficatória reside em problemas relativos à profissão docente no país, onde o profissional da educação atual em várias institui- ções escolares, acarretando acúmulo de trabalho. Acompa- nhar o desenvolvimento de cada aluno exige atenção e tempo de preparo das aulas e atividades, mas se o professor tem 200 ou 300 alunos por semana poderá optar por realizar avalia- ções parciais através de trabalhos em grupos, provas objetivas e outros instrumentos que agilizam a correção e o tempo des- pedido para este fim. Hoffmann e Szymasnki (2007) relatam em sua pesquisa com docentes do Ensino Médio algumas falas que demons- tram claramente as ansiedades e confusões conceituais exis- tentes. Vejamos abaixo, a resposta de uma professora ao ser perguntada como avalia. Eu estou fazendo a avaliação da seguinte maneira: eu faço trabalhos. Por que trabalho? Primeiro nunca sozi- nhos, nunca individual, sempre os trabalhos em grupo, eu também ofereço a oportunidade sozinho. Digamos, hoje começam as aulas, têm dois ou três capítulos para vencer o conteúdo, então eu ofereço aos meus alunos essas oportunidades de trabalhos, pois tem aqueles alu- nos que têm problemas de relacionamento. Porque não quer fazer em grupo, por quê? Não sei! Se você forçar o aluno a fazer em grupo, é um problema sério, então ofereço sempre de uma a quatro pessoas para fazer o trabalho em grupo. Fazem um resumo inteiro dos ca- pítulos, né... A minha disciplina é de biologia, isso vai Capítulo 3 Avaliação nas Perspectivas da Classificação... 55 forçar o aluno a fazer um resumo do capítulo inteiro e não aceito trabalho digitado, tem que ser manuscrito, porque o aluno se obriga a ler e escrever, por que ele vai lá, então no outro grupo e faz... Pega... (referiu-se ao aluno que pega com o colega o resumo digitado). Então tudo manuscrito. E daí também é o seguinte, às vezes depende do conteúdo, eu faço também cartazes e às vezes também faço se dá tempo, também faço duas avaliações. Como que são essas avaliações?A avaliação às vezes é subjetiva, como que eu falo que é subjetiva, porque é descritiva, que não é de assinalar xizinho, eu não sou muito a favor de avaliação de xizinho, porque muitas vezes você não sabe se o aluno sabe ou não sabe. Se me obrigam, dependendo do tempo, porque primeiro, tenho que lembrar que tenho 560 alunos. Então! Eu contei! Tenho 560 alunos. Geralmente,
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