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TRANSTORNOS RELACIONADOS À SUBSTÂNCIAS

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Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
CASO 8 - TRANSTORNOS RELACIONADOS À SUBSTÂNCIAS 
 
Dependência: Na dependência comportamental, atividades de 
busca pela substância e evidências relacionadas de padrões de uso 
patológico ganham destaque. A dependência física é referente aos 
efeitos fisiológicos de múltiplos episódios de uso de substância. A 
dependência psicológica é caracterizada por fissura contínua ou 
intermitente pela substância para evitar um estado disfórico. 
Abuso: ​uso de qualquer tipo de droga, em geral autoadministrada, 
de modo que desvia dos padrões médicos ou aceitos socialmente. 
Adição: ​uso repetido e crescente da substância, cuja privação faz 
surgir sintomas de sofrimento e compulsão irresistível de usá-lo 
novamente, e que leva, também, à deterioração física e mental. 
Intoxicação: ​síndrome reversível causada por substância 
específica que afeta uma ou mais das seguintes funções mentais: 
memória, orientação, humor, discernimento e funcionamento 
comportamental, social ou profissional. 
Tolerância cruzada: ​Capacidade de uma substância de ser 
substituída por outra, sendo que cada uma normalmente produz 
mesmos efeitos fisiológicos e psicológicos. Dependência cruzada. 
Neuroadaptação: ​Alterações neuroquímicas ou neurofisiológicas 
no corpo que resultam da administração repetida de uma droga. 
Adaptação farmacocinética se refere à adaptação do sistema de 
metabolização. Adaptação celular ou farmacodinâmica refere-se à 
capacidade do sistema nervoso de funcionar apesar de níveis 
sanguíneos elevados da substância nociva. 
Codependência: ​Este é um termo usado para se referir a familiares 
afetados ou que influenciam o comportamento do indivíduo que 
abusa de substância. Facilitador é a pessoa que contribui para o 
comportamento aditivo do indivíduo. Já facilitação também inclui a 
relutância de um familiar em aceitar a adição como um transtorno 
psiquiátrico ou negar que o indivíduo abusa de uma substância. 
Remissão: desaparecimento das manifestações clínicas. No campo 
das farmacodependências, a cessação do abuso de álcool ou de 
outras drogas, de dependência ou de problemas associados. 
Recaída: ​retorno ao uso após abstinência, frequentemente 
acompanhado pela reinstalação de sintomas de dependência. 
 
 
CANNABIS 
A Cannabis é a droga ilegal mais utilizada no mundo. 
Ao longo dos últimos 30 anos, se tornou uma parte da cultura jovem 
na maioria das sociedades desenvolvidas, com o primeiro uso 
atualmente ocorrendo entre a metade e o fim da adolescência. 
Trata-se da 4ª droga psicoativa de uso mais comum entre adultos 
nos EUA, depois de cafeína, álcool e nicotina. ​Homens acima de 26 
anos consomem 2 vezes mais que mulheres. Entre os 12 e 17 anos, 
não há diferença significativa. Até os 35 anos, os brancos 
consomem mais. Acima disso, a proporção é igual. 
 
NEUROFARMACOLOGIA 
O principal componente da Cannabis é o -9-THC; contudo, a Δ 
planta contém mais de 400 componentes químicos, dos quais cerca 
de 60 estão quimicamente relacionados ao -9-THC.Δ 
Em seres humanos, o -9-THC é rapidamente convertido em Δ 
11-hidróxi- -9-THC, o metabólito ativo no SNC. O receptorΔ 
canabinóide, membro da família de receptores ligados à proteína G, 
está ligado à proteína G inibitória (Gi), a qual está ligada à 
adenilciclase de maneira inibitória. O receptor é encontrado em 
concentrações mais elevadas nos gânglios basais, no hipocampo e 
no cerebelo, sendo que concentrações mais baixas encontram-se 
no córtex cerebral. Esse receptor não é encontrado no tronco 
encefálico, um fato consistente com os efeitos mínimos da Cannabis 
sobre as funções respiratória e cardíaca. Há controvérsia se os 
canabinoides estimulam os centros de recompensa do cérebro. 
Contudo, ocorre tolerância e identificou-se dependência psicológica. 
Ao se fumar Cannabis, os efeitos de euforia surgem em minutos, 
atingem o auge em aproximadamente 30 minutos e duram de 2-4h. 
Alguns efeitos motores e cognitivos podem durar de 5-12h. O dobro 
ou triplo de Cannabis precisa ser ingerido por via oral para ter o 
mesmo efeito da inalação da sua fumaça. 
 
TRANSTORNO POR USO DE CANNABIS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A. ​Um padrão problemático de uso de Cannabis, levando a 
comprometimento ou sofrimento clinicamente significativos, 
manifestado por pelo menos dois dos seguintes critérios, ocorrendo 
durante um período de 12 meses: 
1. Cannabis é frequentemente consumida em maiores 
quantidades ou por um período mais longo do que o 
pretendido. 
2. Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no 
sentido de reduzir ou controlar o uso de Cannabis. 
3. Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a 
obtenção de Cannabis, na utilização de Cannabis ou na 
recuperação de seus efeitos. 
4. Fissura ou forte desejo ou necessidade de usar Cannabis. 
5. Uso recorrente de Cannabis, resultando em fracasso em 
desempenhar papéis importantes no trabalho/escola/casa. 
6. Uso continuado de Cannabis, apesar de problemas sociais 
ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou 
exacerbados pelos efeitos da substância. 
7. Importantes atividades sociais, profissionais ou 
recreacionais são abandonadas ou reduzidas em virtude 
do uso de Cannabis. 
8. Uso recorrente de Cannabis em situações nas quais isso 
representa perigo para a integridade física. 
9. O uso de Cannabis é mantido apesar da consciência de ter 
um problema físico ou psicológico persistente ou 
recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela 
substância. 
10. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes: 
a. Necessidade de quantidades progressivamente maiores 
para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. 
b. Efeito acentuadamente menor com o uso continuado da 
mesma quantidade de Cannabis. 
11. Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes: 
12. a. Síndrome de abstinência característica de Cannabis 
b. Cannabis (ou substância estreitamente relacionada) é 
consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
Especificar se: 
Em remissão inicial: ​Após todos os critérios para transtorno por 
uso de Cannabis terem sido preenchidos anteriormente, nenhum 
dos critérios para transtorno por uso de Cannabis foi preenchido 
durante um período mínimo de 3 meses, porém inferior a 12 meses 
(com exceção de que o Critério A4, “Fissura ou um forte desejo ou 
necessidade de usar Cannabis”, ainda pode ocorrer). 
Em remissão sustentada: ​Após todos os critérios para transtorno 
por uso de Cannabis terem sido preenchidos anteriormente, 
nenhum dos critérios para transtorno por uso de Cannabis foi 
preenchido em nenhum momento durante um período igual ou 
superior a 12 meses (com exceção de que o Critério A4). 
 
Especificar se: 
Em ambiente protegido: ​Este especificador adicional é usado se o 
indivíduo encontra-se em um ambiente no qual o acesso a 
Cannabis é restrito. Código baseado na gravidade atual: 
 
Especificar a gravidade atual: 
305.20 (F12.10) Leve: ​Presença de 2 ou 3 sintomas. 
304.30 (F12.20) Moderada: ​Presença de 4 ou 5 sintomas. 
304.30 (F12.20) Grave: ​Presença de 6 ou mais sintomas. 
 
OBS: O risco de desenvolver dependência é de aproximadamente 1 
entre 10 para qualquer pessoa que usea substância. Quanto mais 
cedo ocorre o primeiro uso, quanto maior a frequência e o período 
de tempo de consumo, maior o risco de dependência. 
 
Consequências Funcionais do Transtorno por Uso de Cannabis 
A função cognitiva, especialmente a função executiva superior, 
parece ficar comprometida e, aparentemente, essa relação depende 
da dosagem (tanto na forma aguda como na crônica), o que pode 
contribuir para uma dificuldade cada vez maior na escola/trabalho. 
O uso de Cannabis foi relacionado à redução de atividades 
pró-sociais dirigidas a objetivos, o que chegou a ser denominado 
como síndrome amotivacional, que se manifesta por meio do baixo 
desempenho escolar e de problemas no trabalho. Tais problemas 
podem estar relacionados a intoxicação global ou a recuperação 
dos efeitos da intoxicação. De forma semelhante, problemas com 
relacionamentos sociais são bastante comuns. Acidentes por 
envolvimento em comportamentos potencialmente perigosos por 
influência da droga também são preocupantes. 
A fumaça da Cannabis contém altos níveis de compostos 
carcinogênicos que colocam usuários crônicos sob risco de doenças 
respiratórias semelhantes às que ocorrem em fumantes de tabaco. 
O uso crônico pode contribuir para o início ou exacerbação de 
vários outros transtornos mentais. Em especial, para esquizofrenia e 
outros transtornos psicóticos. 
 
INTOXICAÇÃO POR CANNABIS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A.​ Uso recente de Cannabis. 
B. ​Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente 
significativas e problemáticas (ex: prejuízo na coordenação motora, 
euforia, ansiedade, sensação de lentidão do tempo, julgamento 
prejudicado, retraimento social) desenvolvidas durante ou logo após 
o uso de Cannabis. 
C. ​Dois (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos 
no período de 2 horas após o uso de Cannabis: 
1. Conjuntivas hiperemiadas. 
2. Apetite aumentado. 
3. Boca seca. 
4. Taquicardia. 
D. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por outra substância. 
 
Especificar se: 
Com perturbações da percepção: ​Alucinações com teste de 
realidade intacto ou ilusões auditivas, visuais ou táteis ocorrem na 
ausência de delirium. 
 
A intoxicação por Cannabis normalmente intensifica a sensibilidade 
do usuário a estímulos externos, revela novos detalhes, faz as cores 
parecerem mais brilhantes e densas e causa a impressão subjetiva 
de lentidão do tempo. Em doses elevadas, usuários podem 
experimentar despersonalização e desrealização. 
Durante 8 a 12 horas após o uso da substância, o prejuízo nas 
habilidades motoras do usuário interfere na operação de veículos 
automotores e maquinário pesado. Esses efeitos são cumulativos 
aos efeitos do álcool, normalmente usado em combinação. 
 
DELIRIUM POR INTOXICAÇÃO POR CANNABIS 
O delirium associado à intoxicação por Cannabis se caracteriza por 
prejuízo acentuado da cognição e de desempenho de tarefas. 
Mesmo doses moderadas da substância prejudicam a memória, o 
tempo de reação, a percepção, a coordenação motora e a atenção. 
Doses elevadas que também prejudicam os níveis de consciência 
do usuário apresentam efeitos acentuados na cognição. 
 
ABSTINÊNCIA DE CANNABIS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 292.0 (F12.288) 
A. ​Cessação do uso pesado e prolongado de Cannabis 
(normalmente uso diário ou quase diário durante um período 
mínimo de alguns meses). 
B. ​Três (ou mais) dos seguintes sinais e sintomas, desenvolvidos no 
prazo de aproximadamente uma semana após o Critério A: 
1. Irritabilidade, raiva ou agressividade. 
2. Nervosismo ou ansiedade. 
3. Dificuldade em dormir (insônia, sonhos perturbadores). 
4. Apetite reduzido ou perda de peso. 
5. Inquietação. 
6. Humor deprimido. 
7. Pelo menos um dos seguintes sintomas físicos causa 
desconforto significativo: dor abdominal, tremor, sudorese, 
febre, calafrios ou cefaleia. 
C. ​Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento 
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, 
profissional, ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
D. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por ou abstinência de outra substância. 
 
Estudos demonstraram que a cessação do consumo em indivíduos 
que usam Cannabis diariamente resulta em sintomas de abstinência 
no período de 1 a 2 semanas da interrupção. 
 
TRANSTORNO PSICÓTICO INDUZIDO POR CANNABIS 
Esse transtorno é raro, sendo a ideação paranoide transitória a 
ocorrência mais comum. Os episódios psicóticos às vezes são 
denominados como hemp insanity [loucura do cânhamo]. O uso de 
Cannabis raramente causa uma experiência de bad trip, que 
costuma estar associada à intoxicação por alucinógeno. Quando 
ocorre transtorno psicótico induzido por Cannabis, ele pode estar 
correlacionado a um transtorno da personalidade preexistente. 
 
TRANSTORNO DE ANSIEDADE INDUZIDO POR CANNABIS 
O transtorno de ansiedade induzido por Cannabis é um diagnóstico 
comum que, em diversos indivíduos, induz estados de ansiedade 
breves frequentemente provocados por pensamentos paranoides. 
Nessas circunstâncias, ataques de pânico podem ocorrer, com base 
em temores mal definidos e desorganizados. O surgimento de 
sintomas de ansiedade está relacionado à dose e é a reação 
adversa mais frequente ao uso moderado. Usuários inexperientes 
têm probabilidade muito maior de desenvolver sintomas. 
 
OBS: ​O DSM-5 inclui a categoria de “transtorno relacionado a 
Cannabis não especificado” para aqueles que não são classificados 
nos transtornos citados anteriormente. Quando sintomas de 
transtorno do sono ou de disfunção sexual estão relacionados ao 
uso da substância, eles quase sempre se resolvem no período de 
dias ou de 1 semana após a interrupção de seu uso. 
 
Flashbacks 
Há relatos de caso de indivíduos que experimentaram – por vezes 
de modo significativo – sensações relacionadas à intoxicação por 
Cannabis depois que os efeitos de curto prazo desapareceram. 
O debate está voltado para identificar se os flashbacks estão 
relacionados apenas ao uso da substância ou ao uso concomitante 
de alucinógenos ou de Cannabis misturada com fenciclidina (PCP). 
 
Prejuízo cognitivo 
Evidências indicam que o uso prolongado de Cannabis pode 
produzir formas sutis de prejuízo cognitivo nas funções cognitivas 
mais elevadas de memória, atenção e organização e integração de 
informações complexas. Ainda é necessário investigar se esses 
prejuízos podem ser revertidos. 
 
Síndrome amotivacional 
Discute-se ainda se a síndrome está relacionada ao uso de 
Cannabis ou se reflete traços caracterológicos em um subgrupo 
independentemente do uso de Cannabis. Tradicionalmente, a 
síndrome amotivacional está associada ao uso intenso de longo 
prazo e caracteriza-se pela relutância do indivíduo em persistir em 
uma tarefa – seja na escola, no trabalho, seja em qualquer contexto 
que exija atenção ou tenacidade prolongada. Os indivíduos são 
descritos como apáticos e sem energia, geralmente ganham peso 
ou parecem preguiçosos. 
 
OBS: ​Váriosrelatórios indicam que o uso de longo prazo de 
Cannabis está associado a atrofia cerebral, suscetibilidade a 
convulsões, dano cromossômico, doenças congênitas, prejuízo da 
reatividade imunológica, alteração nas concentrações de 
testosterona e desregulação do ciclo menstrual. No entanto, a 
associação não está estabelecida. 
 
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO 
A abstinência pode ser alcançada por meio de intervenções diretas, 
como hospitalização, ou mediante monitoramento atento de base 
ambulatorial por meio de exames de urina, que podem detectar a 
presença de Cannabis até 4 semanas após o uso. 
Pode-se obter apoio por meio de psicoterapia individual, familiar e 
de grupo. Esclarecimento e informações devem ser o alicerce tanto 
para abstinência quanto para programas de apoio. 
Um paciente que não compreende os motivos lógicos para enfrentar 
um problema de abuso tem pouca motivação para saná-lo. 
No caso de alguns indivíduos, um ansiolítico pode ser útil para alívio 
de curto prazo dos sintomas de abstinência. Para outros, o uso de 
pode estar relacionado a um transtorno depressivo subjacente, que 
pode melhorar com um tratamento específico com antidepressivos. 
 
OBS: ​A maconha é usada como erva medicinal há séculos, 
podendo tratar ansiedade, depressão e distúrbios gastrintestinais, 
entre outras condições,, como náusea decorrente de quimioterapia, 
esclerose múltipla, dor crônica, AIDS, epilepsia e glaucoma. 
 
 
ALUCINÓGENOS 
Alucinógenos, por definição, são intoxicantes. 
O uso está associado a ataques de pânico, transtorno persistente 
da percepção induzido por alucinógenos (flashbacks), psicose, 
delirium e transtornos do humor e de ansiedade. Os alucinógenos 
naturais clássicos são psilocibina, mescalina, harmina, harmalina, 
ibogaína e dimetiltriptamina (DMT). O sintético clássico é o LSD. 
São chamados de psicodélicos ou psicomiméticos pois além de 
induzirem alucinações, produzem perda de contato com a realidade 
e uma experiência de expansão e intensificação da consciência. 
A fenciclidina e a cetamina são anestésicos dissociativos, produzem 
condição na qual os indivíduos permaneciam despertos, mas 
aparentemente sem sensibilidade ou dissociados do ambiente. Elas 
exercem seus efeitos comportamentais característicos por meio do 
bloqueio dos receptores do tipo N-metil-D-aspartato (NMDA) para o 
neurotransmissor excitatório glutamato. Sua intoxicação pode 
apresentar uma variedade de sintomas, desde ansiedade até 
psicose. Embora tenham farmacologia e efeitos clínicos diferentes, 
o DSM-5 as inclui na categoria de alucinógenos. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
A incidência do uso de alucinógenos teve dois períodos notáveis de 
destaque. Entre 1965 e 1969, houve um aumento na quantidade 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
estimada de novos usuários, impulsionado principalmente pelo LSD. 
O segundo período de aumento ocorreu por volta de 1992 até 2000, 
insuflado sobretudo pelo aumento do uso de ecstasy (MDMA). 
Os índices mais elevados de uso atual estão na faixa dos 18 aos 25 
anos (2%), seguidos dos 12 aos 17 anos (0,9%) e adultos a partir 
dos 25 anos (0,2%). O uso de alucinógenos é mais comum entre 
homens brancos jovens (15 a 25 anos). 
 
NEUROFARMACOLOGIA 
O LSD é o protótipo dos alucinógenos. Ele atua no sistema 
serotonérgico, como antagonista e agonista. 
A maioria dos alucinógenos é bem absorvida após ingestão oral, 
embora alguns sejam consumidos por inalação, fumo ou injeção IV. 
Tolerância a LSD e outros alucinógenos se desenvolve com rapidez 
e torna-se praticamente completa após 3 ou 4 dias de uso contínuo. 
A tolerância também reverte de modo rápido, em geral 4 a 7 dias. 
Dependência física e sintomas de abstinência não ocorrem, mas o 
usuário pode desenvolver dependência psicológica. 
 
TRANSTORNO POR USO DE FENCICLIDINA 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
Repetem os mesmos critérios. Sinais e sintomas de abstinência não 
foram estabelecidos para fenciclidinas, então, não se aplica. 
Especificadores também são os mesmos. 
 
A fenciclidina pode ser detectada na urina em até 8 dias ou mesmo 
durante períodos mais longos em doses muito altas. Podem haver 
evidências físicas de lesões causadas por acidentes, brigas e 
quedas. Toxicidades cardiovascular e neurológica (ex: convulsões, 
distonias, discinesias, catalepsia, hipotermia ou hipertermia) podem 
resultar da intoxicação por fenciclidina. Outras consequências 
incluem hemorragia intracraniana, rabdomiólise, problemas 
respiratórios e parada cardíaca (eventualmente). 
 
INTOXICAÇÃO POR FENCICLIDINA 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A. ​Uso recente de fenciclidina (ou substância farmacologicamente 
semelhante). 
B. ​Alterações comportamentais clinicamente significativas e 
problemáticas (ex: beligerância, agressividade, impulsividade, 
imprevisibilidade, agitação psicomotora, julgamento prejudicado) 
desenvolvidas durante ou logo após o uso de fenciclidina. 
C. ​No prazo de 1 hora (quando a droga for fumada, cheirada ou 
usada na forma intravenosa, o início pode ser bem mais rápido), 
dois (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas: 
1. Nistagmo vertical ou horizontal. 
2. Hipertensão ou taquicardia. 
3. Torpor ou resposta diminuída à dor. 
4. Ataxia. 
5. Disartria. 
6. Rigidez muscular. 
7. Convulsões ou coma. 
8. Hiperacusia. 
D. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por outra substância. 
O tratamento visa reduzir os níveis sistêmicos da substância e tratar 
questões significativas de natureza médica, comportamental e 
psiquiátrica. No caso de intoxicação e de transtorno psicótico 
induzido por PCP, o objetivo de longo prazo é impedir a recaída. 
A retenção de PCP ionizada no estômago levou à sugestão de 
sucção nasogástrica contínua como tratamento para intoxicação. No 
entanto, pode ser desnecessariamente intrusiva e induzir 
desequilíbrios eletrolíticos. Carvão ativado é mais seguro. 
Não há fármacos que funcionem como antagonistas diretos de PCP. 
Portanto, o tratamento deve ser de apoio e direcionado a sintomas 
específicos e sinais de toxicidade. Como a PCP prejudica o 
processamento sensorial, estímulos ambientais podem causar 
reações imprevisíveis, exageradas, distorcidas ou violentas, o pilar 
do tratamento é a redução máxima de estímulos sensoriais. 
Contenções físicas de precaução são recomendadas por alguns 
especialistas, sendo que o risco de rabdomiólise ao se debater deve 
ser avaliado ante a possibilidade de evitar comportamento violento 
ou disruptivo. Sedação farmacológica pode ser obtida pela 
administração oral ou IM de antipsicóticos ou benzodiazepínicos. 
 
TRANSTORNO POR USO DE OUTROS ALUCINÓGENOS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
Repetem os mesmos critérios. sinais e sintomas de abstinência não 
foram estabelecidos, então, não se aplica. 
Os especificadores também são os mesmos, mas aqui também 
deve-se especificar o alucinógeno em questão. 
 
Diferentemente da maioria das substâncias, não está evidente se há 
uma associação entre início em idade precoce com aumento do 
risco para transtorno por uso de outros alucinógenos. Contudo, 
identificou-se que os padrões de consumo de droga são diferentes 
de acordo com a idade de início, sendo que usuários de ecstasycom início precoce estão mais propensos a se tornarem usuários de 
diversos tipos de drogas. 
 
Há evidências dos efeitos neurotóxicos de longo prazo do uso de 
MDMA/ecstasy, incluindo comprometimento da memória, da função 
psicológica e da função neuroendócrina, disfunção do sistema 
serotonérgico e perturbação do sono, bem como efeitos adversos 
sobre a microvasculatura encefálica, maturação da matéria branca e 
dano a axônios. O uso de MDMA/ecstasy pode reduzir a 
conectividade funcional entre regiões do cérebro. 
 
INTOXICAÇÃO POR OUTROS ALUCINÓGENOS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A.​ Uso recente de alucinógeno (que não fenciclidina). 
B. ​Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente 
significativas e problemáticas (ex: ansiedade ou depressão 
acentuadas, ideias de referência, medo de perder o juízo, ideação 
paranoide, julgamento prejudicado) desenvolvidas durante ou logo 
após o uso de alucinógenos. 
C. ​Alterações da percepção ocorrendo em um estado de plena 
vigília e alerta (ex: intensificação subjetiva de percepções, 
despersonalização, desrealização, ilusões, alucinações, sinestesias) 
que se desenvolveram durante ou logo após o uso de alucinógenos. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
D. ​Dois (ou mais) dos seguintes sinais desenvolvidos durante ou 
logo após o uso de alucinógenos: 
1. Midríase. 
2. Taquicardia. 
3. Sudorese. 
4. Palpitações. 
5. Visão borrada. 
6. Tremores. 
7. Incoordenação. 
E. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por outra substância. 
 
OBS: O diagnóstico diferencial inclui intoxicação anticolinérgica e 
por anfetaminas e abstinência de álcool. 
 
O tratamento mais indicado para intoxicação por alucinógenos é 
acalmar o paciente; explicar que os sintomas são induzidos pela 
droga, que ele não está ficando louco e que os sintomas irão se 
dissipar. Em casos mais graves, antagonistas dopaminérgicos (ex: 
haloperidol) ou benzodiazepínicos (ex: diazepam) podem ser 
usados por tempo limitado. O paciente que experimenta intoxicação 
intensa e desagradável por alucinógenos pode se beneficiar de um 
ambiente calmo, tranquilização verbal e do decorrer do tempo. 
Há probabilidade de alívio mais rápido de ansiedade intensa após a 
administração oral de 20 mg de diazepam ou dose parenteral 
equivalente de benzodiazepínico. Ansiedade e outros sintomas 
geralmente se reduzem no prazo de 20 minutos do medicamento, 
em comparação a horas com apenas apoio psicológico e ambiental, 
mas os sintomas de percepção podem persistir. 
O paciente talvez necessite de uma leve contenção se representar 
perigo para si ou para outros, mas contenções físicas devem ser 
evitadas, se possível. Neurolépticos, especialmente se ministrados 
em doses excessivas, podem agravar os sintomas, também sendo 
melhor evitá-los, a menos que o diagnóstico continue indeterminado 
e seja impossível manejar de outra forma. 
 
TRANSTORNO PERSISTENTE DA PERCEPÇÃO 
INDUZIDO POR ALUCINÓGENOS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 292.89 (F16.983) 
A. Após a cessação do uso de um alucinógeno, a revivência de no 
mínimo um dos sintomas perceptivos experimentados durante a 
intoxicação pelo alucinógeno (ex: alucinações geométricas, falsas 
percepções de movimento nos campos visuais periféricos, flashes 
coloridos, cores intensificadas, rastros de imagens de objetos em 
movimento, sensação de imagem vívida após o estímulo ter 
cessado (pós-imagem positiva) halos em torno dos objetos, 
macropsia e micropsia). 
B. ​Os sintomas do Critério A causam sofrimento clinicamente 
significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em 
outras áreas importantes da vida do indivíduo. 
C. ​Os sintomas não são atribuíveis a outra condição médica (ex: 
lesões anatômicas e infecções cerebrais, epilepsias visuais) nem 
são mais bem explicados por outro transtorno mental (ex: delirium, 
transtorno neurocognitivo maior, esquizofrenia) ou por alucinações 
hipnopômpicas. 
O teste de realidade permanece intacto em indivíduos com 
transtorno persistente da percepção induzido por alucinógenos (o 
indivíduo está ciente de que a perturbação está ligada ao efeito da 
droga). Caso contrário, devemos investigar outro transtorno. 
15 a 80% dos usuários de alucinógenos relatam ter experimentado 
flashbacks. Os episódios costumam durar poucos segundos a 
alguns minutos, mas às vezes podem ser mais prolongados. 
Comportamento suicida, transtorno depressivo maior e transtorno 
de pânico são complicações potenciais. 
Os seguintes fatores podem desencadear o evento: estresse 
emocional; privação sensorial, como monotonia ao dirigir; ou uso de 
outra substância psicoativa, como álcool ou maconha. O DDX inclui 
enxaqueca, convulsões, anormalidades no sistema visual e TEPT. 
 
DELIRIUM POR INTOXICAÇÃO POR ALUCINÓGENOS 
Transtorno relativamente raro que se inicia durante a intoxicação 
em indivíduos que consumiram alucinógenos puros. Essas 
substâncias costumam ser misturadas a outras, e os outros 
componentes ou suas interações podem produzir delirium clínico. 
 
TRANST. PSICÓTICOS INDUZIDOS POR ALUCINÓGENOS 
O efeito adverso mais comum de LSD e substâncias relacionadas é 
uma bad trip; pode produzir eventualmente sintomas psicóticos 
verdadeiros. De modo geral, essa experiência termina quando os 
efeitos imediatos do alucinógeno se dissipam, mas tem curso 
variável. Quando prolongado, é mais comum em pessoas com 
transtorno de personalidade esquizóide preexistente e ansiedade. 
 
Além das medicações antipsicóticas, vários agentes são eficazes 
nesses casos, incluindo carbonato de lítio, carbamazepina e 
eletroconvulsoterapia. Antidepressivos, benzodiazepínicos e 
anticonvulsivantes também podem contribuir para o tratamento. 
Diferentemente da esquizofrenia, na qual se observam normalmente 
sintomas negativos e fraco relacionamento interpessoal, pacientes 
com psicose induzida por alucinógenos exibem sintomas positivos 
de alucinações e delírios ao mesmo tempo que mantêm a 
capacidade de se relacionar com o psiquiatra. 
As terapias médicas mais bem utilizadas envolvem terapias de 
apoio, educacionais e de família. Os objetivos são o controle dos 
sintomas, uso mínimo de instalações hospitalares, trabalho diário, 
desenvolvimento e preservação de relacionamentos sociais e 
manejo de doenças comórbidas. 
 
TRANSTORNO DO HUMOR INDUZIDO POR ALUCINÓGENOS 
Os sintomas podem variar. O abuso pode fazer o indivíduo 
experimentar sintomas do tipo maníaco, delírios de grandiosidade, 
ou sentimentos e ideias do tipo depressivo ou sintomas mistos. 
Normalmente se resolvem após a eliminação da substância. 
 
TRANST. DE ANSIEDADE INDUZIDO POR ALUCINÓGENOS 
Também tem um padrão variado de sintomas, mas há poucos 
dados disponíveis. Informalmente, profissionais da emergência com 
frequência relatam transtorno de pânico com agorafobia. Ansiedade 
provavelmente é o sintoma mais comum que leva um indivíduo 
intoxicado por PCP a buscar ajuda no setor de emergência. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
OBS: “Transtorno relacionado a alucinógenos não especificado” é 
usado quando o paciente não satisfaz os critérios diagnósticos paranenhum dos transtornos relacionados a alucinógenos descritos. 
 
 
INALANTES 
Drogas inalantes são hidrocarbonetos voláteis que se tornam 
vapores gasosos em temperatura ambiente e são inalados pelo 
nariz ou pela boca para entrar no fluxo sanguíneo por via pulmonar. 
Esses compostos normalmente são encontrados em vários produtos 
de uso doméstico e se dividem em quatro classes comerciais: (1) 
solventes para colas e adesivos; (2) propelentes (latas de tinta em 
aerossol, laquê e creme de barbear); (3) diluentes (para tintas e 
fluidos corretivos); e (4) combustíveis (gasolina, propano). 
Inalantes estão associados a uma série de problemas, incluindo 
transtorno da conduta, transtornos do humor, suicidalidade e abuso 
ou negligência de natureza física e sexual. 
Em alguns casos, o uso precoce de inalantes por um tempo limitado 
pode indicar um problema de longo prazo de comportamentos 
externalizantes e propensão a correr riscos. Um subgrupo menor 
usa inalantes de forma crônica, e esse uso foi associado a múltiplas 
sequelas, incluindo patologia comportamental e orgânica graves 
decorrentes da toxicidade da droga. 
O DSM-5 exclui gases anestésicos (ex: óxido nitroso e éter) e 
vasodilatadores de ação breve (ex: nitrato de amila). 
 
EPIDEMIOLOGIA 
Substâncias inalantes são de fácil acesso, legais e baratas. Esses 
fatores contribuem para o uso elevado de inalantes entre pobres e 
jovens.Aproximadamente 20% das ocorrências em setor de 
emergência decorrentes de uso de inalantes envolvem indivíduos 
com menos de 18 anos. 
O uso de inalantes entre adolescentes pode ser mais comum em 
famílias cujos pais ou irmãos mais velhos usam substâncias ilegais. 
Também está associado a aumento da probabilidade de transtorno 
da conduta ou transtorno da personalidade antissocial. 
 
NEUROFARMACOLOGIA 
Os inalantes mais usados por adolescentes são gasolina, cola (que 
normalmente contém tolueno), tinta em aerossol, solventes, líquidos 
de limpeza e outros tipos variados de aerossol. Inalar o vapor pelo 
nariz ou inspirar profundamente pela boca leva à absorção 
transpulmonar com acesso extremamente rápido ao cérebro. 
Respirar através de um pano encharcado com solvente, inalar os 
vapores de um saco que contém cola, inspirar profundamente 
vapores em um saco plástico ou respirar o vapor de gasolina são 
práticas comuns. Cerca de 15 a 20 inspirações de vapor com 1% de 
gasolina produzem várias horas de intoxicação. 
Os inalantes em geral agem como depressores do SNC. Tolerância 
pode se desenvolver, embora os sintomas de abstinência costumem 
ser razoavelmente leves. Os efeitos surgem em 5 minutos e podem 
durar de 30 minutos até horas, dependendo da substância inalada e 
da dose. As concentrações de várias substâncias inalantes no 
sangue aumentam quando usadas em combinação com álcool, 
talvez devido à competição por enzimas hepáticas. 
Embora cerca de um quinto da substância inalante seja excretado 
sem alterações pelos pulmões, o restante é metabolizado pelo 
fígado. Consegue-se detectar inalantes no sangue de 4 a 10h após 
o uso, e amostras devem ser obtidas quando houver suspeita. 
 
TRANSTORNO POR USO DE INALANTES 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
Repetem os mesmos critérios, mas abstinência não se aplica. 
Os especificadores também são os mesmos, mas aqui também 
deve-se especificar o inalante em questão. 
 
OBS: A maioria das pessoas provavelmente usa inalantes durante 
um curto período de tempo sem desenvolver um padrão de uso de 
longo prazo que resulta em dependência e abuso. 
 
INTOXICAÇÃO POR INALANTES 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A. ​Exposição breve e recente, intencional ou não, a altas doses de 
substâncias inalantes, incluindo hidrocarbonetos voláteis como 
tolueno ou gasolina. 
B. ​Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente 
significativas e problemáticas (ex: beligerância, agressividade, 
apatia, julgamento prejudicado) desenvolvidas durante ou logo após 
o uso ou a exposição a inalantes. 
C. ​Dois (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos 
durante ou logo após o uso ou a exposição a inalantes: 
1. Tontura. 
2. Nistagmo. 
3. Incoordenação. 
4. Fala arrastada. 
5. Instabilidade de marcha. 
6. Letargia. 
7. Reflexos deprimidos. 
8. Retardo psicomotor. 
9. Tremor. 
10. Fraqueza muscular generalizada. 
11. Visão borrada ou diplopia. 
12. Estupor ou coma. 
13. Euforia. 
D. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por outra substância 
 
OBS: Às vezes, pode-se identificar um usuário recente de inalantes 
pelas erupções ao redor do nariz e da boca do paciente, odores 
incomuns em seu hálito, resíduo de inalantes em seu rosto, suas 
mãos ou roupas, e irritação de olhos, garganta, pulmões e nariz. 
 
DELIRIUM POR INTOXICAÇÃO POR INALANTES 
Pode ser induzido pelos efeitos dos próprios inalantes, pelas 
interações farmacodinâmicas com outras substâncias e pela hipoxia 
que pode estar associada ao inalante ou ao método de inalação 
usado. Caso o delirium resulte em perturbações comportamentais 
graves, pode ser necessário tratamento de curta duração com um 
antagonista de receptores dopaminérgicos, como haloperidol. Evitar 
BZD devido ao risco de aumento da depressão respiratória. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
DEMÊNCIA PERSISTENTE INDUZIDA POR INALANTES 
Pode resultar dos efeitos neurotóxicos dos próprios inalantes, dos 
efeitos neuróticos de metais (ex: chumbo) comumente usados nos 
inalantes ou dos efeitos de períodos frequentes e prolongados de 
hipoxia. A demência causada por inalantes tem chances de ser 
irreversível, com exceção dos casos mais leves. 
 
TRANSTORNO PSICÓTICO INDUZIDO POR INALANTES 
Estados paranoides provavelmente são as síndromes psicóticas 
mais comuns durante a intoxicação por inalantes. 
 
TRANSTORNO DO HUMOR INDUZIDO POR INALANTES E 
TRANSTORNO DE ANSIEDADE INDUZIDO POR INALANTES 
Transtornos depressivos são os transtornos do humor mais comuns 
associados ao uso de inalantes. Transtornos de pânico e TAG são 
os transtornos de ansiedade mais comuns. 
 
EFEITOS ADVERSOS 
Inalantes estão associados a efeitos adversos potencialmente 
graves. O mais grave é a morte, que pode resultar de depressão 
respiratória, arritmias cardíacas, asfixia, aspiração de vômito, 
acidente ou lesão. Colocar um trapo encharcado com inalante e a 
própria cabeça em uma sacola plástica pode causar coma e 
sufocação. 
Usuários crônicos podem apresentar problemas neurológicos. TC e 
RM revelam atrofia cerebral, cerebelar e do tronco encefálico com 
doença da matéria branca (leucoencefalopatia). SPECT mostrou 
alterações no fluxo sanguíneo do cérebro. Sinais e sintomas 
neurológicos e comportamentais podem incluir perda da audição, 
neuropatia periférica, cefaleia, parestesias, sinais cerebelares, 
prejuízo motor persistente, parkinsonismo, apatia, má concentração, 
perda de memória, disfunção visuoespacial, comprometimento do 
processamento de material linguístico e encefalopatia por chumbo. 
Outros efeitos adversos graves associados ao uso de longo prazo 
de inalantes incluem doença hepática irreversível ou dano renal 
(acidose tubular) e dano muscular permanente associado a 
rabdomiólise. Efeitos adicionaisincluem sintomas cardiovasculares 
e pulmonares (ex: dor no peito e broncoespasmo), bem como 
sintomas gastrintestinais (ex: dor, náusea, vômitos e hematêmese). 
Há vários relatos clínicos de embriopatia por tolueno, semelhantes à 
síndrome alcoólica fetal, que incluem baixo peso ao nascer, 
microcefalia, encurtamento de fissuras palpebrais, rosto pequeno, 
orelhas de implantação baixa e outros sinais dismórficos. Os relatos 
indicam desenvolvimento lento, hiperatividade e disfunção 
cerebelar. No entanto, não há evidências convincentes de que o 
tolueno produza danos genéticos em células somáticas. 
 
TRATAMENTO 
A intoxicação por inalantes, como a por álcool, normalmente não 
exige atenção médica e se resolve espontaneamente. Contudo, os 
efeitos como coma, broncoespasmo, laringoespasmo, arritmias 
cardíacas, trauma ou queimaduras, precisam de tratamento. Caso 
contrário, os cuidados primários envolvem tranquilização, apoio 
discreto e atenção aos sinais vitais e ao nível de consciência. 
Sedativos, incluindo benzodiazepínicos, são contraindicados porque 
agravam a intoxicação por inalantes. 
O transtorno psicótico induzido por inalantes é breve e dura de 
algumas horas até poucas semanas após a intoxicação. Indica-se 
um tratamento diligente de complicações possivelmente letais como 
parada respiratória ou cardíaca, juntamente com manejo 
conservador da intoxicação em si. Confusão, pânico e psicose 
requerem atenção especial. Agitação grave pode exigir controle 
cauteloso com haloperidol (5 mg IM por 70 kg de peso corporal). 
Ansiedade e transtornos do humor induzidos por inalantes podem 
precipitar ideação suicida, o que deve ser avaliado cuidadosamente. 
Ansiolíticos e antidepressivos não ajudam na fase aguda, mas 
podem ser úteis em casos de coexistência. 
 
 
OPIOIDES 
O uso indevido contínuo de opioides pode resultar em síndromes de 
abuso e dependência e causar perturbações no humor, no 
comportamento e na cognição similares às de outros transtornos 
psiquiátricos. Em países desenvolvidos, a heroína é o opióide com 
maior frequência de abuso e dependência. 
Abuso de opioides designa um padrão de uso desadaptativo de um 
fármaco opioide que leva a prejuízo ou sofrimento clinicamente 
significativo em um período de 12 meses, mas cujos sintomas 
nunca satisfizeram os critérios para dependência de opioides. 
A metadona é o padrão atual para o tratamento de dependência de 
opioides. Antagonistas de opioides foram sintetizados para tratar 
overdose e dependência de opioides. Essa classe inclui naloxona, 
naltrexona, nalorfina, levalorfano e apomorfina. 
Compostos com atividade mista agonista e antagonista em 
receptores de opioides foram sintetizados e incluem a pentazocina, 
o butorfanol e a buprenorfina. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
No fim da década de 1990, o uso de heroína aumentou na faixa dos 
18 aos 25 anos, e observou-se um breve surto no uso de 
oxicodona. Métodos de administração alternativos à injeção, como 
fumo e aspiração, tornaram-se mais populares. A proporção de 
dependência de heroína entre homens e mulheres é de cerca de 
3:1. Usuários de opioides em geral começam a usar substâncias na 
adolescência e no início da faixa dos 20 anos; atualmente, a maioria 
dos indivíduos com dependência se encontra nas faixas dos 30 e 
dos 40 anos. A tendência é que a dependência entre em remissão a 
partir dos 40 anos de idade, sendo chamada de “amadurecimento”. 
Muitas pessoas, no entanto, continuam dependentes. 
A incidência de dependência de opioides é maior nos indivíduos 
com nível socioeconômico mais alto. 
 
NEUROFARMACOLOGIA 
Os efeitos primários dos opioides são mediados pelos receptores de 
opioides. Os receptores μ (mi) ​estão envolvidos na regulação e 
mediação de analgesia, depressão respiratória, constipação e 
dependência química; os receptores κ, com analgesia, diurese e 
sedação; e os receptores , com analgesia.Δ 
Existem 3 classes de opioides endógenos no cérebro, incluindo 
endorfinas, dinorfinas e encefalinas. Endorfinas estão envolvidas na 
transmissão neuronal e na supressão da dor, são liberadas de 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
forma natural no corpo quando alguém sofre um ferimento físico ou 
se encontra muito estressado. Os opióides endógenos também tem 
interações significativas com outros sistemas neuronais, como o dos 
neurotransmissores dopaminérgicos e dos noradrenérgicos. 
A heroína é mais lipossolúvel do que a morfina, o que permite que 
cruze a barreira hematoencefálica mais prontamente e apresente 
início mais rápido e agradável. 
A codeína, que ocorre naturalmente em cerca de 0,5% dos 
alcaloides opiatos no ópio, é absorvida facilmente pelo TGI, sendo 
transformada subsequentemente em morfina no corpo. 
 
TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA 
A tolerância a algumas ações de opioides pode ser tão elevada que 
um aumento de 100 vezes na dose é necessário para produzir o 
efeito original. Sintomas de abstinência não surgem a menos que o 
indivíduo os tenha usado durante um tempo prolongado ou quando 
a interrupção do uso é abrupta, como ocorre funcionalmente quando 
se administra um antagonista de opioides. 
O uso de longo prazo de opioides resulta em alterações na 
quantidade e na sensibilidade de receptores de opioides, os quais 
medeiam pelo menos alguns dos efeitos de tolerância e abstinência. 
Embora esteja associado a aumento da sensibilidade dos neurônios 
dopaminérgicos, colinérgicos e serotonérgicos, o efeito de opioides 
sobre os neurônios noradrenérgicos provavelmente seja o mediador 
primário dos sintomas de abstinência de opioides. O uso de curto 
prazo de opioides aparentemente reduz a atividade dos neurônios 
noradrenérgicos no locus ceruleus; o uso de longo prazo ativa um 
mecanismo compensador homeostático no interior dos neurônios; a 
abstinência de opioides resulta em hiperatividade de rebote. 
 
COMORBIDADE 
Cerca de 90% dos indivíduos com dependência de opioides 
apresentam outro transtorno psiquiátrico, os mais comuns são 
transtorno depressivo maior, transtornos por uso de álcool, 
transtorno da personalidade antissocial e transtornos de ansiedade. 
Aproximadamente 15% tentam cometer suicídio ao menos uma vez. 
 
Há alguns padrões de comportamento que parecem particularmente 
pronunciados em adolescentes com dependência de opioides 
(síndrome de comportamento de heroína): depressão subjacente, 
com frequência de tipo agitado e quase sempre acompanhada de 
ansiedade; impulsividade de orientação passivo-agressiva; medo de 
fracassar; uso de heroína como ansiolítico para mascarar 
sentimentos de baixa autoestima, desesperança e agressividade; 
estratégias de enfrentamento limitadas e baixa tolerância à 
frustração, acompanhada pela necessidade de gratificação 
imediata; sensibilidade à disponibilidade eventual de drogas, com 
consciência aguçada da relação entre sentimentos de bem-estar e o 
ato de usar drogas; sentimentos de impotência comportamental 
neutralizados pela sensação de controle momentâneo sobre a vida 
por meio de substâncias; perturbações nos relacionamentos sociais 
e interpessoais com pares mantidas por experiências recíprocas 
com substâncias. 
 
 
 
TRANSTORNO POR USO DE OPIOIDES 
Critérios DiagnósticosDSM-5 
Repetem os mesmos critérios. Os especificadores também são os 
mesmos, com adição do “Em terapia de manutenção: usado se o 
indivíduo estiver usando medicamento agonista prescrito, como 
metadona ou buprenorfina, e nenhum dos critérios para transtorno 
por uso de opioides foi satisfeito para essa classe de medicamento 
(exceto tolerância ou abstinência do agonista). Esta categoria 
também se aplica aos indivíduos em manutenção com agonista 
parcial, agonista/antagonista ou antagonista total, como naltrexona 
oral ou de depósito.” 
 
INTOXICAÇÃO POR OPIOIDES 
Critérios Diagnósticos 
A. ​Uso recente de um opioide. 
B. Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente 
significativas e problemáticas (ex: euforia inicial seguida por apatia, 
disforia, agitação ou retardo psicomotor, julgamento prejudicado) 
desenvolvidas durante ou logo após o uso de opioides. 
C. ​Miose (ou midríase devido à anoxia decorrente de overdose 
grave) e um (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, 
desenvolvidos durante ou logo após o uso de opioides. 
1. Torpor ou coma. 
2. Fala arrastada. 
3. Prejuízo na atenção ou na memória. 
D. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por outra substância. 
 
Especificar se: 
Com perturbações da percepção: Indicado nos raros casos 
quando alucinações ocorrem com teste de realidade intacto ou 
ilusões auditivas, visuais ou táteis ocorrem na ausência de delirium. 
 
ABSTINÊNCIA DE OPIOIDES 
Critérios Diagnósticos DSM-5 292.0 (F11.23) 
A. ​Presença de qualquer um dos seguintes: 
1. Cessação (ou redução) do uso pesado e prolongado de 
opioides (algumas semanas ou mais). 
2. Administração de um antagonista de opioides após um 
período de uso de opioides. 
B. ​Três (ou mais) dos seguintes sintomas, desenvolvidos no prazo 
de alguns minutos a alguns dias após o Critério A: 
1. Humor disfórico. 
2. Náusea ou vômito. 
3. Dores musculares. 
4. Lacrimejamento ou rinorreia. 
5. Midríase, piloereção ou sudorese. 
6. Diarreia. 
7. Bocejos. 
8. Febre. 
9. Insônia. 
C. Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento 
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, 
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
D. ​Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por ou abstinência de outra substância. 
 
Uma síndrome de abstinência pode ser precipitada pela 
administração de um antagonista de opioides. Os sintomas podem 
ter início segundos após a injeção intravenosa de um desses 
agentes e chegam ao pico em cerca de 1 hora. 
A síndrome de abstinência completa, incluindo fissura intensa por 
opioides, normalmente se dá apenas em decorrência de cessação 
abrupta do uso em indivíduos com dependência de opioides. 
Morfina e Heroína: a abstinência tem início em 6 a 8 horas após a 
última dose, normalmente depois de um período de 1 a 2 semanas 
de uso contínuo ou após a administração de um antagonista 
narcótico. A síndrome de abstinência alcança intensidade máxima 
durante o 2º ou 3º dia e se abranda nos 7 a 10 dias seguintes, mas 
alguns sintomas podem persistir por 6 meses ou mais. 
Meperidina: A síndrome de abstinência tem início rápido, alcança o 
ápice em 8 a 12 horas e termina em 4 a 5 dias. 
Metadona: ​a abstinência se inicia de 1 a 3 dias após a última dose 
e termina em 10 a 14 dias. 
 
OBS: ​A qualquer momento durante a síndrome de abstinência, uma 
única injeção de morfina ou heroína elimina todos os sintomas. 
 
DELIRIUM POR INTOXICAÇÃO POR OPIOIDES 
Delirium por intoxicação por opioides tem maior probabilidade de 
ocorrer quando os opioides são usados em doses elevadas, quando 
são misturados com outros compostos psicoativos ou quando são 
usados por um indivíduo com dano cerebral ou algum transtorno do 
SNC (ex: epilepsia) preexistente. 
 
Além de: 
- Transtorno psicótico induzido por opioides 
- Transtorno do humor induzido por opioides 
- Transtorno do sono induzido por opioides (hipersonia) 
- Disfunção sexual induzida por opioides (impotência) 
 
EFEITOS ADVERSOS 
O efeito adverso mais comum e mais grave associado aos 
transtornos relacionados a opioides é a transmissão potencial de 
hepatite e de HIV pelo uso coletivo de agulhas contaminadas. 
O usuário pode experimentar reações alérgicas idiossincráticas a 
opioides, as quais resultam em choque anafilático, edema pulmonar 
e morte se não houver tratamento imediato e adequado. 
Outro efeito adverso grave é a interação medicamentosa 
idiossincrática entre meperidina e inibidores da monoaminoxidase 
(IMAOs), os quais podem produzir grande instabilidade autonômica, 
agitação psicomotora grave, coma, convulsões e morte. Por isso, 
opioides e IMAOs não devem ser administrados em conjunto. 
 
Overdose de opioides 
Morte por overdose de um opioide normalmente se deve a parada 
respiratória decorrente do efeito depressor sobre a respiração. 
Os sintomas de overdose incluem acentuada falta de reação, coma, 
respiração lenta, hipotermia, hipotensão e bradicardia. 
Quando o indivíduo se apresenta com o trio clínico de coma, miose 
e depressão respiratória, o clínico deve considerar overdose de 
opioides como diagnóstico primário. Ele também deve inspecionar o 
corpo do paciente em busca de marcas de agulhas em braços, 
pernas, tornozelos, virilha e até na veia dorsal do pênis. 
 
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO 
Tratamento de overdose 
A primeira tarefa é garantir a liberação das vias aéreas. Secreções 
na traqueia e faringe devem ser aspiradas; pode-se intubar a via 
aérea. O paciente deve receber ventilação mecânica até que 
naloxona possa ser administrada. 
A aplicação de naloxona IV deve ser lenta – inicialmente cerca de 
0,8 mg por 70 kg de massa corporal. Sinais de melhora (aumento 
da frequência respiratória e dilatação das pupilas) devem ocorrer 
imediatamente. No caso de pacientes dependentes de opioides, 
naloxona demais pode produzir sinais de abstinência, bem como 
revés da superdosagem. Caso não ocorra uma reação à dose 
inicial, a administração de naloxona pode ser repetida após 
intervalos de alguns minutos. 
 
Abstinência e desintoxicação com supervisão médica 
- Metadona 
A metadona é um narcótico sintético que substitui a heroína e pode 
ser administrado por via oral. Uma dose diária de 20 a 80 mg é 
suficiente para estabilizar o paciente, embora doses diárias de até 
120 mg tenham sido usadas. A duração da ação da metadona 
ultrapassa 24 horas, assim, uma única dose ao dia é adequada. 
A manutenção com metadona é continuada até que o paciente 
possa interromper seu uso, que também causa dependência. 
Uma síndrome de abstinência ocorre com a retirada da metadona, 
mas o paciente consegue ser desintoxicado de metadona mais 
facilmente do que de heroína. Clonidina (0,1 a 0,3 mg 3 a 4 vezes 
por dia) normalmente é ministrada no período de desintoxicação. 
- Outros substitutos de opioides: levometadil (LAAM, não 
é mais usado) buprenorfina, antagonistas opioides. 
 
Gestantes com dependência de opioides 
Cerca de três quartos de todas as crianças nascidas de mães aditaspassam por síndrome de abstinência. 
Abstinência neonatal pode levar a aborto espontâneo ou morte fetal. 
Manter a gestante dependente de opioides em um curso de baixa 
dosagem de metadona (10 a 40 mg/dia) pode ser a opção menos 
nociva. Nessa dosagem, a abstinência neonatal costuma ser leve e 
pode ser manejada com baixas doses de paregórico. 
Se a gravidez tem início enquanto a mulher recebe doses elevadas 
de metadona, a dosagem deve ser reduzida lentamente e deve-se 
monitorar os movimentos fetais. Caso abstinência seja necessária 
ou desejada, ela é menos perigosa durante o segundo trimestre. 
 
Psicoterapia 
Todas as modalidades de psicoterapia são adequadas para o 
tratamento de transtornos relacionados a opioides. Psicoterapia 
individual, terapia comportamental, TCC, terapia familiar, grupos de 
apoio (ex: Narcóticos Anônimos), comunidades terapêuticas e 
treinamento de habilidades sociais podem ser eficazes. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
 
SEDATIVOS, HIPNÓTICOS OU ANSIOLÍTICOS 
Seus efeitos calmantes ou sedativos figuram em um continuum com 
seus efeitos hipnóticos ou indutores do sono. Além das indicações 
psiquiátricas, são usados como adjuvantes anticonvulsivantes, 
relaxantes musculares, anestésicos e analgésicos. O álcool e todos 
os fármacos dessa classe têm tolerância cruzada, e seus efeitos 
são cumulativos. Dependência física e psicológica se desenvolve, e 
todos estão associados a sintomas de abstinência. 
 
BENZODIAZEPÍNICOS 
Diazepam, flurazepam, oxazepam e clordiazepóxido. São usados 
principalmente como ansiolíticos, hipnóticos, anticonvulsivantes e 
anestésicos, bem como no tratamento de abstinência de álcool. 
Sedativos não benzodiazepínicos, como zolpidem, zaleplona e 
eszopiclona – os chamados fármacos Z –, têm efeitos clínicos 
semelhantes aos benzodiazepínicos e também estão sujeitos a uso 
indevido e dependência. 
 
BARBITÚRICOS 
Devido a seu potencial elevado de abuso, seu uso atualmente é 
mais raro. Secobarbital, pentobarbital e uma combinação de 
secobarbital com amobarbital podem ser obtidos facilmente de 
traficantes. Barbital e fenobarbital, que foram introduzidos logo em 
seguida, são fármacos de ação prolongada, com meia-vida de 12 a 
24h. O amobarbital é um barbitúrico de ação intermediária, com 
meia-vida de 6 a 12h. O pentobarbital e o secobarbital são 
barbitúricos de curta duração, com meia-vida de 3 a 6h. Embora 
sejam sedativos úteis e eficazes, os barbitúricos são altamente 
letais, sendo que uma dose apenas 10 vezes superior à dosagem 
normal causa coma e morte. 
 
SUBSTÂNCIAS SEMELHANTES A BARBITÚRICOS 
A substância semelhante a barbitúricos de abuso mais comum é a 
metaqualona, que não é mais fabricada nos EUA. Costuma ser 
usada por jovens que acreditam que a substância intensifica o 
prazer da atividade sexual. Indivíduos que fazem abuso de 
metaqualona normalmente tomam 1 ou 2 comprimidos padrão (em 
geral 300 mg por cp) para obter os efeitos desejados. 
Os nomes de rua para metaqualona incluem mandrakes e soapers. 
Luding out é como se chama a intoxicação com metaqualona, que 
costuma ser combinada com ingestão excessiva de álcool. 
Outras substâncias incluem meprobamato, derivado de carbato, 
cuja eficácia como ansiolítico é baixa, mas que tem efeito relaxante 
muscular e é usado com essa finalidade; hidrato de cloral, hipnótico 
altamente tóxico ao TGI e que, quando combinado com álcool, 
ganha o nome de mickey finn; e etclorvinol, agente sedativo de ação 
rápida com propriedades anticonvulsivantes e de relaxamento 
muscular. Todas essas substâncias estão sujeitas a abuso. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
A faixa etária com prevalência ao longo da vida mais elevada de 
uso de sedativos (3%) ou tranquilizantes (6%) foi dos 26 aos 34 
anos, e indivíduos na faixa dos 18 aos 25 anos eram os com maior 
probabilidade de ter usado sedativos ou tranquilizantes no ano 
anterior. Os pacientes apresentam proporção de mulheres para 
homens de 3:1 e proporção de brancos para negros de 2:1. 
Alguns indivíduos usam benzodiazepínicos de forma isolada, mas 
aqueles que usam cocaína utilizam frequentemente BZD para 
reduzir os sintomas de abstinência, e os que fazem abuso de 
opioides os utilizam para intensificar os efeitos eufóricos. 
Enquanto o abuso de barbitúricos é comum entre adultos mais 
velhos que apresentam longa história de abuso dessas substâncias, 
o abuso de benzodiazepínicos se concentra em um grupo mais 
jovem, geralmente com menos de 40 anos de idade. Esse grupo 
pode ter uma predominância masculina ligeiramente maior e uma 
proporção de brancos para negros de cerca de 2:1. 
 
NEUROFARMACOLOGIA 
Os principais efeitos de benzodiazepínicos, barbitúricos e 
substâncias similares a barbitúricos se dão sobre o complexo 
receptor ácido γ-aminobutírico (GABA) tipo A (GABAA), que contém 
um canal iônico de cloreto, um local de ligação para GABA e um 
local de ligação bem definido para benzodiazepínicos. Acredita-se, 
também, que ocorra ligação dos barbitúricos e seus similares em 
algum lugar do complexo de receptores GABAA. 
Após a ligação no complexo, o efeito é aumentar a afinidade do 
receptor com seu neurotransmissor endógeno, GABA, e aumentar o 
fluxo de íons de cloreto pelo canal no neurônio. O influxo de íons de 
cloreto com carga negativa no neurônio é inibitório e hiperpolariza o 
neurônio relativo ao espaço extracelular. 
Embora todas as substâncias dessa classe induzam tolerância e 
dependência física, os mecanismos por trás desses efeitos são 
mais bem compreendidos no caso dos benzodiazepínicos. Após o 
uso prolongado, os efeitos sobre o receptor causados pelo agonista 
são atenuados. Especificamente, a estimulação GABA dos 
receptores GABAA resulta em menor influxo de cloretos do que o 
causado pela estimulação de GABA antes da administração do 
benzodiazepínico. A base para infrarregulação parece estar no 
acoplamento entre o sítio de ligação GABA e a ativação do canal 
iônico de cloreto. Essa redução na eficiência do acoplamento pode 
ser regulada dentro do próprio complexo de receptores GABAA ou 
por outros mecanismos neuronais. 
 
TRANSTORNO POR USO DE SEDATIVOS, HIPNÓTICOS OU 
ANSIOLÍTICOS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
Repetem os mesmos critérios. Desconsiderar os critérios de 
tolerância e abstinência em indivíduos cujo uso de sedativo, 
hipnótico ou ansiolítico se dá sob supervisão médica. 
Os especificadores também são os mesmos. 
 
INTOXICAÇÃO POR SEDATIVOS, HIPNÓTICOS, ANSIOLÍTICOS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A. ​Uso recente de um sedativo, hipnótico ou ansiolítico. 
B. ​Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente 
significativas e desadaptativas (ex: comportamento sexual ou 
agressivo inadequado, humor instável, julgamento prejudicado) 
desenvolvidas durante ou logo após o uso de sedativos, hipnóticos 
ou ansiolíticos. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
C. ​Um (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos 
durante ou logo após o uso de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos: 
1. Fala arrastada. 
2. Incoordenação. 
3. Marcha instável. 
4. Nistagmo. 
5. Prejuízo na cognição (ex: atenção, memória). 
6. Estupor ou coma. 
D. ​Os sinais ou sintomas nãosão atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por outra substância. 
 
A melhor maneira de confirmar o diagnóstico de intoxicação por 
uma das substâncias dessa classe é a partir de uma amostra de 
sangue para detecção da substância. 
Intoxicação por benzodiazepínico está associada a menos euforia 
do que intoxicação por outros fármacos dessa classe. Essa 
característica explica o menor potencial de abuso e dependência de 
benzodiazepínicos do que de barbitúricos. 
 
ABSTINÊNCIA DE SEDATIVOS, HIPNÓTICOS, ANSIOLÍTICOS 
Critérios Diagnósticos DSM-5 
A. ​Cessação (ou redução) do uso prolongado de sedativos, 
hipnóticos ou ansiolíticos. 
B. ​Dois (ou mais) dos seguintes sintomas, desenvolvidos no prazo 
de várias horas a alguns dias após a cessação (ou redução) do uso 
de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos descrita no Critério A: 
1. Hiperatividade autonômica (sudorese ou FC > 100 bpm). 
2. Tremor nas mãos. 
3. Insônia. 
4. Náusea ou vômito. 
5. Alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas 
transitórias. 
6. Agitação psicomotora. 
7. Ansiedade. 
8. Convulsões do tipo grande mal. 
C. ​Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento 
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, 
profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. 
D. Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição 
médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, 
incluindo intoxicação por ou abstinência de outra substância. 
 
Especificar se: 
Com perturbações da percepção: Pode ser indicado quando 
ocorrem alucinações com teste de realidade intacto ou ilusões 
auditivas, visuais ou táteis na ausência de delirium. 
 
Benzodiazepínicos: A gravidade da síndrome de abstinência 
associada a BZD varia significativamente dependendo da dose 
média e da duração de uso. O início dos sintomas de abstinência 
normalmente se dá de 2 a 3 dias após a interrupção do uso, mas, 
no caso de fármacos de ação prolongada, como diazepam, a 
latência anterior ao início pode ser de 5 ou 6 dias. 
 
Barbitúricos e similares: ​A síndrome de abstinência varia de 
sintomas leves (ansiedade, fraqueza, sudorese e insônia) a graves 
(convulsões, delirium, colapso cardiovascular e morte). 
A maioria dos sintomas surge nos primeiros 3 dias de abstinência, e 
convulsões em geral ocorrem no 2º ou 3º dia, quando os sintomas 
são piores. No caso de convulsões, elas sempre antecedem o 
desenvolvimento de delirium. Os sintomas raramente são 
observados mais de 1 semana após a interrupção. Um transtorno 
psicótico, caso ocorra, tem início no período entre o 3º e o 8º dia. 
Os diversos sintomas costumam se dissipar no prazo de 2 a 3 dias, 
mas podem durar até 2 semanas. O primeiro episódio da síndrome 
normalmente ocorre após 5 a 15 anos de uso intenso. 
 
OUTROS TRANSTORNOS INDUZIDOS 
Delirium: ​Delirium indistinguível de delirium tremens associado à 
abstinência de álcool é observado com mais frequência na 
abstinência de barbitúricos. Delirium associado a intoxicação pode 
ser observado seja com barbitúricos, seja com benzodiazepínicos 
se as dosagens forem suficientemente elevadas. 
Demência persistente: É controversa, pois não há certeza se uma 
demência persistente é causada pelo próprio uso da substância ou 
pelas características associadas ao seu uso. 
Transtorno amnéstico persistente: Podem ser subdiagnosticados. 
Uma exceção é o aumento da quantidade de relatos de episódios 
amnésticos associados ao uso de curto prazo de benzodiazepínicos 
com meia-vida de curta duração (ex: triazolam). 
Transtornos psicóticos: ​Os sintomas psicóticos de abstinência de 
barbitúricos podem ser indistinguíveis dos sintomas de delirium 
tremens associados ao álcool. Agitação, delírios e alucinações 
costumam ser de natureza visual, mas pode haver ocorrência de 
características táteis ou auditivas que se desenvolvem depois de 
aproximadamente 1 semana de abstinência. Sintomas psicóticos 
são mais comuns com barbitúricos. Eles são diagnosticados no 
DSM-5 como abstinência de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos 
com perturbações da percepção quando o teste de realidade estiver 
intacto (o indivíduo está ciente de que o fármaco está causando os 
sintomas psicóticos). Se o indivíduo acredita que as alucinações 
são reais, um diagnóstico de transtorno psicótico induzido por 
substância/medicamento é mais adequado. 
Outros transtornos: ​O uso de sedativos e hipnóticos também foi 
associado a transtornos do humor, de ansiedade e do sono e a 
disfunções sexuais. 
Transtorno relacionado a sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos 
não especificado: Quando nenhuma das características 
diagnósticas abordadas anteriormente é adequada. 
 
PADRÕES DE ABUSO 
Uso oral: ​Todos os sedativos e hipnóticos podem ser tomados por 
via oral. O padrão de uso eventual está associado a jovens que 
buscam relaxamento por uma noite, intensificação das atividades 
sexuais e um período curto de euforia leve. O padrão de uso regular 
está associado a indivíduos de meia-idade de classe média que 
normalmente conseguem a substância junto ao médico de família, 
prescrita para insônia ou ansiedade, nesses casos, o padrão de 
abuso pode passar despercebido até que sinais evidentes de abuso 
ou dependência sejam notados pelos outros. 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
Uso intravenoso: ​Os usuários são, em sua maioria, jovens adultos 
intimamente envolvidos com substâncias ilegais. Os usuários 
podem estar mais inclinados ao uso de barbitúricos do que de 
opioides porque são mais baratos. Os perigos incluem transmissão 
do HIV, celulite, complicações vasculares e reações alérgicas a 
contaminantes. O uso IV está associado a tolerância e dependência 
rápidas e profundas, bem como a síndrome de abstinência grave. 
 
OVERDOSE 
Benzodiazepínicos ​têm ampla margem de segurança. Mesmo em 
quantidades exorbitantes (> 2g) os sintomas incluem apenas 
sonolência, letargia, ataxia, um pouco de confusão e leve depressão 
dos sinais vitais. Uma condição muito mais grave emerge quando 
são consumidos em combinação com outras substâncias 
sedativo-hipnóticas, como álcool. Nesses casos, pequenas doses 
de BZD podem causar a morte. A disponibilidade de flumazenil, um 
antagonista benzodiazepínico específico, reduziu a letalidade, pois 
pode ser usado na emergência. 
Barbitúricos são letais quando consumidos em overdose porque 
induzem depressão respiratória. Além das tentativas de suicídio 
intencionais, overdoses acidentais ou involuntárias são comuns. 
Seus efeitos letais são cumulativos com os efeitos de outros 
sedativos ou hipnóticos, incluindo álcool e benzodiazepínicos. 
A overdose de barbitúricos se caracteriza por indução a coma, 
parada respiratória, falência cardiovascular e morte. A dose letal 
varia conforme a via de administração e o grau de tolerância para a 
substância após uma história de abuso, mas ela não é muito alta 
em comparação a alguém que abusa há mais tempo. A tolerância 
se desenvolve rapidamente, a ponto de a retirada do fármaco se 
fazer necessária em ambiente hospitalar de modo a evitar morte 
acidental por overdose. 
Similaresa barbitúricos variam quanto a letalidade e costumam 
ocupar um espaço intermediário entre a relativa segurança dos BZD 
e a alta letalidade dos barbitúricos. 
 
O tratamento de overdose envolve lavagem gástrica, carvão ativado 
e monitoramento criterioso dos sinais vitais e da atividade do SNC. 
Deve-se evitar que os pacientes que sofrem overdose e obtêm 
atendimento médico ainda despertos percam a consciência. 
Se o paciente estiver em coma, deve-se estabelecer uma linha 
intravenosa de líquidos, monitorar seus sinais vitais, inserir um tubo 
endotraqueal para manter via aérea desobstruída e proporcionar 
ventilação mecânica, se necessário. A hospitalização de um 
paciente em coma em UTI normalmente é necessária durante os 
primeiros estágios de recuperação desse tipo de overdose. 
 
TRATAMENTO E REABILITAÇÃO 
Abstinência de benzodiazepínicos: ​Como alguns BZD são 
eliminados lentamente do corpo, os sintomas de abstinência podem 
continuar a se desenvolver por várias semanas. A fim de impedir 
convulsões e outros sintomas, médicos devem reduzir a dosagem 
gradativamente. Vários relatos indicam que a carbamazepina pode 
ser útil no tratamento. 
 
 
 
 
Abstinência de barbitúricos: Para evitar morte súbita durante 
abstinência de barbitúricos, os médicos devem seguir diretrizes 
clínicas conservadoras. Não administrar barbitúricos a um paciente 
em coma ou com intoxicação extrema. 
Deve-se tentar determinar a dose diária habitual de barbitúricos do 
paciente e, então, verificar a dosagem clinicamente. Assim que a 
dosagem for determinada, um barbitúrico de ação prolongada pode 
ser usado para o período de desintoxicação. Durante o processo, o 
paciente pode começar a experimentar sintomas de abstinência, e, 
nesse caso, deve-se reduzir o decréscimo diário pela metade. 
Durante o procedimento, pode ser usado fenobarbital no lugar de 
barbitúricos de curta ação de abuso mais comuns. Uma dose 
adequada é de 30 mg de fenobarbital para cada 100 mg da 
substância de ação breve. O usuário deve ser mantido durante o 
período mínimo de 2 dias nesse nível antes que a dose seja 
reduzida ainda mais. O regime é análogo à substituição de heroína 
por metadona. 
 
 
Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais 
Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED 14 
 
 
ESTIMULANTES (ANFETAMINAS, COCAÍNA/CRACK) 
 
1. ANFETAMINAS 
Anfetaminas e drogas similares estão entre as substâncias ilícitas 
mais usadas. As indicações para anfetamina limitam-se ao uso para 
TDAH e narcolepsia; contudo, também são usadas no tratamento 
de obesidade, depressão, distimia, síndrome de fadiga crônica, 
AIDS, demência, esclerose múltipla, fibromialgia e neurastenia. 
As principais disponíveis e em uso nos EUA são dextroanfetamina, 
metanfetamina, e metilfenidato. 
Como classe geral, anfetaminas são conhecidas como analépticos, 
simpatomiméticos, estimulantes e psicoestimulantes. 
Outras substâncias semelhantes às anfetaminas são efedrina, 
pseudoefedrina e fenilpropanolamina (PPA). Elas, particularmente a 
PPA, podem exacerbar perigosamente a hipertensão, precipitar 
psicose tóxica, causar infarto intestinal ou resultar em morte. 
Drogas semelhantes com potencial de abuso também incluem 
fendimetrazina e dietilpropiona, benzfetamina e fentermina. 
A metanfetamina é uma forma potente de anfetamina, usada por 
inalação, fumo ou IV. Seus efeitos psicológicos são fortes e duram 
horas. Droga sintética manufaturada em laboratórios ilegais. 
 
EPIDEMIOLOGIA 
Em âmbito global, o uso de estimulantes similares a anfetamina, 
incluindo metanfetamina, gera grande preocupação, sendo a 2ª 
substância de uso mais disseminado, depois da maconha, conforme 
um relatório do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime. 
 
NEUROFARMACOLOGIA 
Todas as anfetaminas são rapidamente absorvidas por via oral e 
têm um rápido início de ação, em geral 1h após o consumo. 
Também são administradas por via IV e têm efeito quase imediato 
por essa rota. A tolerância se desenvolve tanto com as anfetaminas 
clássicas quanto com as “desenhadas” (ou designer). 
Anfetaminas são menos aditivas do que cocaína. 
Anfetaminas clássicas (dextroanfetamina, metanfetamina e 
metilfenidato) produzem seus efeitos ao causar a liberação de 
catecolaminas, especialmente dopamina, a partir dos terminais 
pré-sinápticos. Os efeitos são particularmente potentes para certos 
neurônios dopaminérgicos, os que se projetam da área tegmentar 
ventral para o córtex cerebral e áreas límbicas, o que foi chamado 
de via do circuito de recompensa, e sua ativação provavelmente é o 
principal mecanismo de adição das anfetaminas. 
As anfetaminas desenhadas causam a liberação de catecolaminas 
(dopamina e norepinefrina) e de serotonina (neurotransmissor 
envolvido na principal via neuroquímica de alucinógenos), os efeitos 
são um misto dos efeitos de anfetaminas clássicas e alucinógenos. 
 
2. COCAÍNA 
Cocaína se tornou uma questão de saúde pública na década de 
1980, quando uma epidemia se espalhou nos EUA. A cocaína é um 
alcaloide derivado da Erythroxylum coca, planta nativa da América 
do Sul, cujas folhas são mascadas pelos habitantes locais com a 
finalidade de obter efeitos estimulantes. 
EPIDEMIOLOGIA 
A faixa etária predominante é 18 aos 25 anos, homens usam 2x 
mais que mulheres. Negros e hispânicos tiveram índices mais 
elevados de abuso ou dependência de cocaína do que brancos. 
O uso atual de cocaína está em declínio pelo aumento da 
consciência de seus riscos e uma campanha pública abrangente. 
Os efeitos da diminuição do uso de cocaína, no entanto, têm sido 
neutralizados pelo uso frequente de crack nos últimos anos. 
Em relação ao crack, pessoas de 18 a 25 anos têm o índice mais 
elevado de uso dessa substância. 
 
COMORBIDADE 
O desenvolvimento de transtornos do humor e transtornos 
relacionados ao álcool normalmente se segue ao início de 
transtornos relacionados à cocaína, enquanto se acredita que 
transtornos de ansiedade, da personalidade antissocial e TDAH 
antecedam transtornos relacionados à cocaína. 
A maioria dos estudos sobre comorbidade em pacientes com 
transtornos relacionados à cocaína demonstrou que os transtornos 
depressivo maior, bipolar tipo II, ciclotímico, de ansiedade e 
transtorno da personalidade antissocial são os diagnósticos 
psiquiátricos mais habitualmente associados. 
 
ETIOLOGIA 
Análises indicam que fatores genéticos e ambientais únicos (não 
compartilhados) contribuem quase igualmente no desenvolvimento 
de dependência de estimulantes. Fatores sociais, culturais e 
econômicos são fortes determinantes para o uso inicial, 
continuidade do uso e recaída. Uso excessivo é muito mais comum 
em países onde há grande disponibilidade de cocaína. Diferentes 
oportunidades econômicas podem influenciar determinados grupos 
mais do que outros a se dedicaram à venda de drogas ilícitas, e 
esta tem mais chances de ocorrer em comunidades conhecidas do 
que em comunidades onde o vendedor corre alto risco de prisão. 
Aprendizado e condicionamento também são considerados 
importantes. Cada inalação ou injeção de cocaína causa um 
“barato” e uma experiência eufórica que reforça o comportamento 
anterior de consumo. Além disso, indícios ambientais associados ao 
uso da substância ficam associados ao estado eufórico,

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