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CONCEITOS Iatrogenia é todo prejuízo provocado a um paciente por omissão ou ação dos profissionais de saúde, mesmo que a intervenção tenha sido bem indicada e realizada adequadamente. eventos não intencionais que resultam em dano, complicações, incapacidade, aumento do tempo de internamento e morte, os quais resultam de cuidados e gerenciamento de saúde, e não da doença de base. (tratado de geriatria). passou a ser considerada uma das síndromes geriátricas sua definição difere de erro médico, que consiste no dano provocado ao paciente por ação ou inação do médico, no exercício da profissão, sem a intenção de cometê-lo. Há três possibilidades de causar o dano e suscitar o erro: ■Negligência: não fazer o que deveria ser feito ■Imprudência: fazer o que não deveria ser feito ■Imperícia: fazer de forma inadequada o que deveria ser bem feito. Um erro médico sempre caracteriza iatrogenia, mas nem toda iatrogenia consiste em erro médico. por causa da natureza multidisciplinar do atendimento ao idoso, o conceito de iatrogenia também pode ser estendido a outros profissionais da área de saúde. Por exemplo, um paciente que está realizando fisioterapia e cai e fratura o braço ou outro que fez uma sondagem de alívio e desenvolve hematúria são casos de iatrogenias cometidas por profissionais da área de saúde que não são médicos. A iatrogenia de ação é aquela que ocorre pela ação do profissional, passando pelo diagnóstico e pela terapêutica, até a prevenção. Já a iatrogenia de omissão ocorre em decorrência da falta de ação do profissional, em qualquer fase do atendimento ao paciente, seja de diagnóstico, tratamento ou reabilitação. →As condições mais comumente associadas com a iatrogenia de ação ocorrem na relação médico- paciente, nas reações adversas a drogas e nas complicações de procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Quedas, distúrbios hidroeletrolíticos, infecções nosocomiais, úlceras por pressão e traumas são outros exemplos de condições iatrogênicas que podem ocorrer no paciente idoso EPIDEMIO → O envelhecimento aumenta a prevalência de multimorbidade e, consequentemente, do aumento no consumo de fármacos. Torna-se lógica a expectativa de serem encontradas maiores reações adversas e/ou interações medicamentosas nessa faixa etária. → A literatura mostra grande variação na incidência de iatrogenia (6 a 65%) na população de pacientes idosos hospitalizados; - Aqueles com 65 anos de idade ou mais apresentam risco duas vezes maior de sofrer iatrogenia durante a internação do que os pacientes entre 16 e 44 anos. -9 a 23% dos idosos internados que sofreram iatrogenia apresentaram comprometimento funcional importante, e 5 a 13% evoluíram para óbito durante a internação. → 5 a 78% dos idosos estão sujeitos à polifarmácia, 13 a 58%, a interações medicamentosas, e 2,9 a 38,5%, a prescrições médicas impróprias, o que resulta em custos de saúde maiores, morbidade, internações hospitalares e mortalidade. Em estudo epidemiológico com população idosa de São Paulo, constatou-se que a maioria (72%) usava algum medicamento de forma crônica, com média de dois fármacos/dia; 54% utilizavam algum medicamento cardiovascular; 21%, algum medicamento relacionado ao trato alimentar e ao metabolismo; e 18%, drogas para o sistema nervoso. A polimedicação foi observada em 32% desses idosos. FATORES DE RISCO ■Idade= A população brasileira vem envelhecendo rapidamente. As estimativas para os próximos 20 anos indicam que a população idosa poderá exceder 30 milhões de pessoas ao final desse período, chegando a representar qua-se 13% da população.1 Nessa faixa etária, há um aumento da incidência de doenças agudas e crônicas, com incremento do uso de medicamentos, consultas médicas mais frequentes, solicitação de mais exames complementares e maior número de realização de procedimentos e de internações hospitalares. Todos esses fatores aumentam o risco de iatrogenia. A população idosa tem maior risco de apresentar danos decorrentes de intervenções médicas do que a população mais jovem, por causa de fatores próprios do envelhecimento e também de fatores externos (relacionados ao cuidado). - Fatores de risco intrínsecos são aqueles relacionados a idade avançada, reserva cognitiva e funcional diminuída, múltiplas doenças e alterações decorrentes do envelhecimento associadas a absorção, distribuição, metabolismo, excreção e alteração na sensibilidade dos receptores aos medicamentos prescritos. Iatrogenia Pacientes com baixa reserva cognitiva podem ter dificuldade de recordar novas instruções ou apresentar adesão inadequada por não terem entendido as instruções ou por não se lembrarem delas, o que facilita o risco de danos à saúde desses indivíduos. A baixa reserva funcional faz com que o paciente esteja mais vulnerável a agravos à sua saúde. Pacientes com limitação visual têm dificuldade para ler rótulos de medicamentos, podendo utilizá-los de forma errada; do mesmo modo, a limitação auditiva traz dificuldade na compreensão de instruções ou na comunicação com o profissional de saúde. ■Número de comorbidades= A presença de múltiplas doenças faz com que o indivíduo muitas vezes esteja polimedicado, o que aumenta a possibilidade de interação entre as drogas. As interações doença- fármaco também podem ocorrer, por exemplo, quando as drogas para pacientes com insuficiência cardíaca têm distribuição diminuída ou em pacientes desnutridos, nos quais há aumento da biodisponibilidade de drogas. existência de vários profissionais de especialidades diferentes atuando no mesmo paciente ao mesmo tempo; ■Complexidade das patologias= apresentação atípica de doenças que leva o profissional de saúde a subdiagnosticar condições potencialmente graves e a hospitalização. ■Fragilidade ■Polifarmácia= consiste no uso de 5 ou mais drogas ou no uso de duas ou mais drogas que não tenham utilidade clínica. a polifarmácia aumenta a probabilidade de pacientes não aderirem ao regime medicamentoso. A não adesão aos medicamentos contribuiu com até 20% das RAMs em um cenário ambulatorial. Uma série de fatores pode contribuir para a não adesão ao tratamento→ Para um paciente hipotético com doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes tipo 2, osteoporose, hipertensão e osteoartrite, as diretrizes requerem 12 medicamentos com múltiplos regimes de dosagem diária. Além disso, a prescrição de um medicamento pode ser mais fácil do que intervenções que consomem mais tempo, como modificação do estilo de vida ou tratamentos não farmacológicos. No entanto, os pacientes podem ser menos propensos a aderir aos medicamentos quando o regime de tratamento cresce de forma cada vez mais complexa. ■Tempo de internação ■Gravidade da doença no momento da internação e funcionalidade ■Maior frequência de procedimentos diagnósticos e métodos terapêuticos mais agressivos e sofisticados ■Uso de medicamentos inadequados ■Alterações na farmacocinética e na farmacodinâmica das medicações. → A absorção de medicamentos em idosos parece estar pouco afetada, apesar de haver diminuição da superfície absortiva, aumento do pH gás- trico, diminuição da motilidade gastrointestinal e redução do fluxo sanguíneo esplâncnico. → O metabolismo hepático está alterado no idoso por diminuição da massa hepática e do fluxo sanguíneo hepático, bem como pelo declínio no metabolismo de primeira passagem, de modo que ocorre a catalização por enzimas do citocromo P450. ***Metabolismo de primeira passagem: quando um medicamento é ingerido e absorvido, ele passa pelo fígado, pela veia porta e pelas veias hepáticas antes de entrar na circulação sistêmica propriamente. A biotransformação na mucosa do trato gastrintestinal e no fígado, na primeira passagem, chama-se extração pré-sistêmica.Algumas drogas são de alta extração e apresentam maior biodisponibilidade após a primeira passagem, como neurolépticos, ISRS, buspirona e benzodiazepínicos (triazolam e midazolam). Com a idade, há redução na capacidade oxidante microssomal hepática, prejudicando essa primeira extração dessas drogas em comparação ao que acontece com o paciente jovem. No caso do midazolam e do triazolam, que têm meia-vida curta, o resultado clínico pode ser um efeito maior de sedação induzido pela droga. O clearance hepático de drogas de baixa extração, como a maioria dos benzodiazepínicos, depende das enzimas hepáticas, cuja atividade controla uma série de transformações que terminam por inativar a droga e prepará-la para a eliminação. → A distribuição das drogas é afetada por vários fatores relacionados com o envelhecimento. Há diminuição da água corporal total, com subsequente redução do volume de distribuição de drogas hidrofílicas; ocorre diminuição da massa magra, com queda da albumina, em muitos casos acarretando alteração na fração de droga livre no plasma e aumento do risco de intoxicação; e observa-se também aumento da gordura corporal, levando ao aumento do volume de distribuição de drogas lipossolúveis. → A excreção renal é a principal forma de eliminação das drogas e está diminuída consideravelmente no idoso, sendo que a análise do clearance de creatinina é a maneira mais adequada de se avaliar a função renal do idoso e fazer ajuste de drogas diminuindo seu potencial tóxico. → Além de alterações na farmacocinética, também ocorrem alterações farmacodinâmicas, como alterações na sensibilidade e afinidade dos receptores, além de alterações nos mecanismos de homeostase, como aumento da sensibilidade das drogas no sistema nervoso central e diminuição dos mecanismos termorregulatórios. CASCATA IATROGÊNICA O aparecimento de novos sinais e sintomas no paciente idoso deve sempre ser considerado consequência da terapêutica habitual, e não uma nova doença. Medicar de forma sintomática pode levar a um fenômeno designado “cascata iatrogênica”, com potenciais efeitos deletérios para o doente. Todo sinal ou sintoma de instalação subsequente ao início de novo medicamento ou ao aumento de dose deve levantar a suspeita de ser de causa farmacológica. Anti-hipertensivos, diuréticos e hipnóticos podem, por exemplo, provocar hipotensão ortostática e/ou quedas e induzir à progressiva imobilidade. Outras circunstâncias, como o consumo excessivo ou a retirada abrupta de fármacos, contribuem constantemente para o desenvolvimento de estados confusionais agudos, como no caso dos benzodiazepínicos. Deve-se pensar em efeito adverso de medicamentos quando o paciente idoso apresentar, de forma aguda ou subaguda, declínio funcional, confusão mental, déficit cognitivo, distúrbios comportamentais, sintomas depressivos, queixas de tonturas, alterações da marcha e do equilíbrio, quedas repetidas, incontinência urinária e/ou fecal. As síndromes extrapiramidais também estão relacionadas com o uso de medicamentos e a sua ocorrência é mais comum em idosos. No Brasil, o processo conhecido como cascata iatrogênica é utilizado para descrever a situação em que o efeito adverso de um fármaco é interpretado incorretamente como nova condição médica que exige nova prescrição, sendo o paciente exposto ao risco de desenvolver efeitos prejudiciais adicionais relacionados ao tratamento potencialmente desnecessário. TIPOS DE IATROGENIA ➔ Diagnóstica: -Resultante de procedimentos: Demora na realização de exames diagnósticos, com internação prolongada; Insuficiência renal aguda por uso de contraste iodado Desidratação durante preparo para colonoscopia •Resultante de erro diagnóstico: Demora em identificar um estado de delirium Colonoscopia desnecessária aspiração de conteúdo gástrico na indução anestésica infecção na ferida operatória ou no local de punção terapêutica aparecimento de quadro de delirium, hipotensão arterial e/ou tontura na tentativa de realizar fisioterapia em paciente acamado há muitos dias arritmias induzidas por procedimentos invasivos ou fármacos ➔ Terapêutica: •Resultante de procedimentos: Flebite em acesso venoso periférico Atraso para realizar cirurgia, com internação prolongada Complicações decorrentes do uso de sonda nasogástrica (aspiração de alimentos, sonda colocada no trato respiratório, sinusite) Complicações relacionadas com acesso venoso central (infecção, acidente relacionado à punção, pneumotórax) Infecção urinária por uso de sonda vesical de demora Complicações cirúrgicas (hemorragia, deiscência anastomótica, hematoma na ferida cirúrgica) •Resultante de reações adversas a fármacos: Insuficiência renal aguda causada por inibidores da enzima conversora de angiotensina Hipoglicemia por posologia inadequada de insulina ou por hipoglicemiantes orais Hipotensão por fármacos anti-hipertensivos Insuficiência renal aguda por diuréticos ➔ Por ocorrência: •Lesão por pressão •Quedas: Sem repercussão; Com fratura; Com lacerações ou equimoses •Infecção hospitalar não relacionada a procedimento diagnóstico ou terapêutico. REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS A reação medicamentosa é a principal causa de iatrogenia em todas as faixas etárias. Em pacientes hospitalizados, sua frequência é 3 a 7 vezes maior em idosos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define “reação adversa a medicamento” (RAM) como “qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se manifeste após a administração do medicamento, em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de uma enfermidade”. Em função disso, há uma preocupação na literatura em relação a medicamentos considerados inadequados para os idosos, eventos adversos, polifarmácia, redundância terapêutica e potenciais interações medicamentosas. Esses fatores, quando combinados com a automedicação e prescrição inadequada, contribuem para o fracasso terapêutico e geram custos desnecessários em 2011, a American Geriatrics Society (AGS) criou os critérios Beers (AGS Beers Criteria®) para medicamentos potencialmente inadequados (PIM) e atualiza-os, periodicamente, a cada 3 anos. O AGS Beers Criteria® consiste em uma lista explícita de PIM, que devem ser normalmente evitados, na maioria das circunstâncias ou em situações específicas (certas doenças ou condições), por adultos mais velhos. A intenção é melhorar a seleção de medicamentos, educar médicos e pacientes, reduzir eventos adversos a medicamentos e servir como ferramenta para avaliar a qualidade do atendimento, do custo e dos padrões de uso dos fármacos em idosos. → CRITÉRIOS: ■Medicamentos potencialmente inapropriados para a maioria dos adultos mais velhos ■Medicamentos que devem normalmente ser evitados em idosos com certas condições ■Medicamentos para serem usadas com cautela ■Fármacos e interações ■Ajuste da dose de medicamentos com base na função renal. → Os critérios Screening tool of older people’s potentially inappropriate prescriptions (STOPP), desenvolvidos através do método de Delphi (Gallagher e O’Mahony, 2008), correspondem a 65 itens, subdivididos em cinco sistemas fisiológicos, com o objetivo de simplificar o processo de revisão da medicação do doente. Na identificação dos critérios consideraram-se interações farmacológicas, contraindicações, precauções e duplicações terapêuticas. Os critérios STOPP e START, contrariamente aos critérios de Beers, identificam os MPI a partir do grupo farmacológico, o que torna o processo de análise mais rápido e eficiente. PREVENÇÃO Mais da metade dos eventos iatrogênicos em idosos hospitalizados podem ser prevenidos. - As reações iatrogênicas aos medicamentos podem ser evitadas ou reduzidas em intensidadequando levadas em consideração algumas normas fundamentais da terapêutica geriátrica, como: diagnóstico correto das afecções; avaliação do estado nutricional e das funções hepática e renal; emprego da menor dosagem necessária do medicamento; utilização do menor número possível de fármacos. - O delirium costuma ser mais frequente no pós- operatório de idosos portadores de afecções neurológicas, como demência, doença de Parkinson e infarto cerebral. O estresse fisiológico da cirurgia aumenta a suscetibilidade do sistema nervoso central a diversos fármacos, como os hipnóticos e os hipnoanalgésicos, que, anteriormente, eram bem tolerados por idosos. Por esse motivo, medicamentos não essenciais e que podem determinar, potencialmente, efeitos colaterais neuropsíquicos, como anticolinérgicos, anti- histamínicos, antiparkinsonianos e antidepressivos tricíclicos, devem ser suspensos algum tempo antes da cirurgia, de modo a permitir sua completa eliminação. PRINCÍPIOS DE PRESCRIÇÃO NO IDOSO 1. Medidas básicas no tratamento: • tenha certeza de que o sintoma novo que requer tratamento não se deve a efeito colateral de outro medicamento; • iniciar o tratamento com doses baixas, aumento lento e gradativo, considerando a farmacocinética do idoso. Considerar a variabilidade individual, pois alguns idosos necessitam da dose total do medicamento; • evitar iniciar duas drogas ao mesmo tempo. 2. Antes de prescrever: • determinar se a nova terapêutica terá mais benefícios do que riscos; • verificar se há medidas não farmacológicas para tratar a condição; • determinar quais são as metas terapêuticas, quando e como serão reavaliadas; • racionalizar a prescrição ao máximo de forma a facilitar as tomadas, com menor número de medicamentos possível. 3. Controle dos medicamentos crônicos: • solicitar ao cuidador ou ao paciente que traga sempre todos os medicamentos em uso, outras prescrições de outros médicos ou conhecidos, inclusive medicamentos alternativos e, principalmente, medicamentos manipulados; • atentar e perguntar sobre efeitos colaterais principalmente no início ou mudança de dose; • dosagem sérica do medicamento é muito útil na monitoração de drogas mais tóxicas com janela terapêutica estreita como fenitoína, teofilina, quinidina, aminoglicosídios, lítio e alguns medicamentos de efeito central como a nortriptilina. Porém, não se deve esquecer que a toxicidade pode ocorrer mesmo com níveis terapêuticos normais. • eliminar duplicações de medicamentos, contatando inclusive outros profissionais que prescreveram ao idoso, se necessário; • revisão de toda a prescrição periodicamente (a cada 6 meses, se mais de 4 medicamentos regulares), esclarecendo sempre o paciente e/ou o cuidador. CONCEITOS FARMACOLÓGICOS O estudo da farmacologia é dividido em duas grandes áreas: farmacocinética e farmacodinâmica. Enquanto a farmacodinâmica estuda os efeitos do fármaco sobre o organismo, a farmacocinética avalia “o que o organismo faz com o fármaco”. FARMACOCINÉTICA A farmacocinética descreve os processos de administração, absorção, biotransformação e de eliminação das substâncias pelo organismo. O conhecimento e a aplicação desses conceitos possibilitam a escolha da dose, da posologia e da via de administração a ser utilizada para determinado fármaco, propiciando o seu uso seguro e racional. Os processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação dependem da passagem do fármaco pelas membranas celulares→ pelos mecanismos de difusão passiva, por transporte mediado por carreadores ou por endocitose. -difusão passiva: fármacos lipossolúveis atravessam as membranas lipídicas por meio de difusão, sendo o gradiente de concentração, sua força motora. O fármaco se movimenta de regiões de alta concentração para regiões de baixa concentração até que o equilíbrio seja atingido. -transporte mediado: difusão facilitada e o transporte ativo são mediados por carreadores proteicos. Na difusão facilitada, os fármacos atravessam a membrana celular através de proteínas transportadoras transmembrana especializadas, sem o gasto de energia. O gradiente de concentração também é a força-motriz; possibilita o transporte de moléculas grandes ou hidrossolúveis, que não conseguem passar passivamente pela membrana. Enquanto isso, o transporte ativo envolve proteínas transportadoras dependentes de energia. Pela quebra da molécula de adenosina trifosfato (ATP), essas proteínas estruturais da membrana são capazes de transportar moléculas de fármacos contra seu gradiente de concentração. -Endocitose: permite o transporte de moléculas do meio extra para o intracelular, através da invaginação da membrana plasmática e formação de vesículas endocíticas (alto peso molecular). Equação de Henderso-Hasselbalch Muitos dos fármacos utilizados são ácidos ou bases fracos e estão presentes nas formas ionizada e não ionizada. A forma não ionizada é a mais lipossolúvel e que se difunde mais facilmente pela membrana celular. A proporção entre as formas ionizada e não ionizada de uma substância é definida pela equaça ̃o de Henderson-Hasselbalch: podemos confirmar que haverá mais ácido fraco na forma lipossolúvel (não ionizada) no meio ácido e mais fármaco básico na forma lipossolúvel em pH alcalino. ADMINISTRAÇÃO A via de administração compreende a maneira pela qual o fármaco entra em contato com o organismo humano. A sua escolha é determinada por diferentes fatores, como as características físico-químicas da molécula do fármaco, a forma farmacêutica em que ele se apresenta, efeito local ou sistêmico, assim como pelas características do paciente, quadro clínico, tempo necessário para o início do efeito e duração do tratamento. podem ter ação local ou ação sistêmica quando chegam à corrente circulatória. Além disso, elas podem ser classificadas em enterais e parenterais. As vias enterais são aquelas em que o medicamento é administrado por algum órgão que compõe o TGI. vias parenterais são aquelas que não entram em contato com os órgãos do TGI. →Enterais: VO, é a forma mais utilizada para administração de medicamentos. Entre suas vantagens se destacam o baixo custo e a facilidade na administração, o que favorece a autoadministração. É a mais segura, pois toxicidade e doses exacerbadas de medicamentos podem ser neutralizadas ou revertidas por lavagem gástrica, carvão ativado ou outros antídotos que previnam a absorção do fármaco. Contudo, apresenta algumas desvantagens, como a baixa biodisponibilidade devido a absorção limitada de alguns fármacos, metabolismo de primeira passagem e inativação de alguns fármacos por enzimas ou pH gástrico. + não pode ser utilizada em pacientes que apresentam quadro de náuseas, vômitos ou que se encontram desacordados. Via sublingual: consiste na administração do medicamento sob a língua e sua difusão para a rede de capilares presentes no local. Essa via apresenta vantagens, como a rápida absorção, ausência do metabolismo de primeira passagem e ausência do contato com demais órgãos do TGI. a drenagem venosa da boca dirige-se diretamente para a veia cava superior. Retal: via alternativa para administração em crianças ou pacientes com quadros de vômito ou rebaixamento do nível de consciência. As drogas são administradas na forma de supositórios (sólidos) ou enemas, preparações líquidas comumente usadas para estimular evacuações ou infusão de contraste radiológico. Cerca de metade do fármaco absorvido é metabolizada pelo fígado, sofrendo efeito de primeira passagem menor que na ingestão oral. No entanto, a absorção é irregular ou incompleta e a mucosa retal é facilmente irritável. →Parenterais: IV, administração do fármaco diretamente na circulação sistêmica. Essavia apresenta biodisponibilidade total e é bastante utilizada em situações de emergência. A velocidade da injeção deve ser controlada de acordo com o fármaco a ser administrado. Hemólise ou precipitação do fármaco no sangue pode ocorrer em função da sua chegada rápida no sangue. Assim, o paciente deve ser monitorado durante e após a administração de fármacos pela via IV. IM: para efeito rápido e prolongado. Fármacos em soluções aquosas são rapidamente absorvidos e apresentam início de ação rápido. Enquanto isso, preparações oleosas ou suspensões do fármaco em outros veículos proporcionam sua difusão lenta para fora do tecido muscular, favorecendo sua liberação sustentada durante um maior período de tempo. não deve ser empregada para fármacos que causem danos teciduais, que possam causar irritação ou necrose, por exemplo. SC: apresentar uma absorção rápida ou prolongada, de acordo com as características físico- químicas da formulação farmacêutica. Essa via é utilizada para administração de algumas vacinas e de alguns hormônios (anticoncepcionais, insulina). A via subcutânea apresenta menor risco de hemólise ou distúrbios sanguíneos, como a trombose, do que a via intravenosa. Contudo, assim como a via IM, a via SC não deve ser utilizada para fármacos que apresentem risco de danos teciduais. INALATÓRIA: utilizada para efeito local ou sistêmico. Essa via é bastante vantajosa para administração de fármacos utilizados para problemas respiratórios. Para fármacos com efeito sistêmico, ele é absorvido pela mucosa do trato respiratório e epitélio pulmonar. Em função da grande área superficial pulmonar, a absorção dessa via é bastante rápida. TÓPICA: são aplicados diretamente na pele ou mucosas, como nasofaringe, conjuntiva, vagina, colo, uretra, a fim de provocar efeitos locais. INTRAÓSSEA: utilizada, sobretudo em crianças, quando o acesso venoso está dificultado e em situações de emergência, para infusão de drogas, volume e hemoderivados. É uma importante via de acesso em situações de choque e parada cardiorrespiratória. PERIDURAL: É caracterizada pela infusão de drogas entre a dura-máter (anteriormente) e as paredes ligamentosas e ósseas do canal espinhal. Esse espaço virtual é preenchido por tecidos adiposo e conjuntivo frouxo, apresentando um plexo venoso importante, formado pelas veias vertebrais internas, que drena o sangue das meninges e dos corpos vertebrais para as veias segmentares. Esta via pode ser utilizada para analgesia. ÓTICA, OFTÁLMICA, INTRAUTERINA, PENIANA, URETERAL. ABSORÇÃO consiste na passagem do fármaco de seu local de administração para a corrente sanguínea. É influenciado pelas propriedades físico-quimicas do fármaco e pelas características da membrana biodisponibilidade representa a fração de fármaco que chega à corrente circulatória na sua forma inalterada, após sua administração. Na via intravenosa, o fármaco é administrado diretamente na circulação sistêmica. Desse modo, apresenta biodisponibilidade total (1 ou 100%). Com exceção da via IV, as demais vias de administração sempre apresentam perdas do fármaco até a sua chegada ao sangue, e sua biodisponibilidade é inferior a 1 (ou 100%). DISTRIBUIÇÃO Após a absorção ou administração do fármaco pela via IV, ele passa da corrente circulatória para o líquido intersticial e, então, para as células dos tecidos. A distribuição do fármaco é afetada por fatores fisiológicos, como débito cardíaco, fluxo sanguíneo regional, permeabilidade capilar e volume do tecido, como também pelas características físico-químicas do fármaco, como lipossolubilidade e afinidade por proteínas plasmáticas e teciduais. Inicialmente, os fármacos se distribuem para órgãos com maior irrigação sanguínea, por exemplo, rins, fígado e pulmões. A chegada e interação do fármaco com tecidos menos irrigados, como músculo esquelético, pele, tecido adiposo é mais lenta. O principal fator determinante da passagem do fármaco do sangue para os tecidos é a ligação às proteínas plasmáticas. O sequestro iônico é pequeno, visto que a diferença de pH é baixa Alguns fármacos circulam no sangue ligados a proteínas plasmáticas, tais como a albumina (CARREGA FÁRMACO ÁCIDO), glicoproteína ácida α-1 (FÁRMACO BÁSICO) e globulinas. Essas proteínas atuam como reservatórios e podem retardar a distribuição do fármaco. Somente a fração livre do fármaco está em equilíbrio entre os líquidos extra e intracelular. Portanto, à medida que a concentração de fármaco livre reduz, em função da sua liberação nos diferentes tecidos e eliminação, o fármaco ligado se solta da proteína. Essa propriedade também pode limitar a biotransformação e a filtração do fármaco. A ligação das drogas às proteínas plasmáticas não é seletiva e possui grande capacidade de ligação, assim fármacos com características físico-químicas semelhantes podem competir entre si. Para a maioria dos agentes terapêuticos, os efeitos tóxicos causados por esse fator não são relevantes. Essa ligação às proteínas é importante, pois limita a concentração da droga no seu local de ação, bem como limita a taxa de filtração glomerular do fármaco. Algumas drogas podem se ligar a compostos celulares, como proteínas e fosfolípides, e se acumular em tecidos específicos, em uma concentração maior que a encontrada no espaço extracelular; em geral, essa ligação é reversível. O acúmulo do farmaco nos tecidos pode ser um fator para prolongar a ação local ou o efeito sistêmico depois da distribuição sanguínea. Também pode haver efeitos tóxicos locais, como a ação da gentamicina nos rins. O tecido adiposo é um importante reservatório para drogas lipossolúveis, e como apresenta irrigação escassa, a liberação é lenta e estável. Por exemplo, depois de três horas da administração de tiopental (barbitúrico), 70% da droga pode estar depositada na gordura. Metais pesados podem se acumular nos ossos e destruir a medula óssea, reduzindo o fluxo sanguíneo e aumentando o efeito reservatório. BIOTRANSFORMAÇÃO A biotransformação consiste no metabolismo do fármaco. Esse processo ocorre para tornar moléculas lipofílicas em mais hidrofílicas. Os fármacos com maior lifofilicidade apresentam maior dificuldade em serem eliminados do organismo. As reações de biotransformação são classificadas em dois grupos: reações de fase I e reações de fase II. As reações de biotransformação ocorrem principalmente no fígado. Com menor frequência, essas reações também podem ocorrer no trato gastrintestinal (TGI), nos pulmões, na pele, nos rins e no cérebro. Fase 1 As reações de fase I, também chamadas de reações não sintéticas ou catabólicas, se constituem por oxidação, redução, hidrólise, ciclização ou desciclização. Nessas reações, grupos hidrofílicos (-OH, -NH2, -SH), são introduzidos ou liberados na molécula do fármaco, tornando-o mais polar. Grande parte das reações de fase I são catalisadas pelas enzimas da família citocromo P450 (CYP). Quando os produtos das reações de Fase I são polares o suficiente, eles podem ser excretados facilmente. Contudo, muitos metabólitos de Fase I passam por uma reação subsequente. Esse tipo de reação também pode ocorrer na transformação de um pró-fármaco administrado para a forma ativa, dentro do organismo. Ocorrem no reticulo endoplasmático liso Fase 2 As reações de fase II são também chamadas de sintéticas, anabólicas ou de conjugação e são constituídas por acetilação, metilação e conjugações. Nessas reações, os produtos de fase I são conjugados a moléculas endógenas, altamente hidrofílicas→ ácido glicurônico, ácido sulfúrico, ácido acético ou a um aminoácido, por exemplo, a glicina. Essas reações resultam em moléculas altamente polares,normalmente inativas, e que são facilmente eliminadas. Ocorrem no citosol CYP O sistema P450 é importante para a biotransformação de vários compostos endógenos (como esteroides, lipídeos) e para a biotransformação de substâncias exógenas (xenobióticos). O citocromo P450, designado como CYP, é uma superfamília de isoenzimas contendo o grupamento heme, presentes na maioria das células, mas principalmente no fígado e no TGI. O nome da família é indicado pelo algarismo arábico que segue a sigla CYP, e a letra maiúscula designa a subfamília; Um segundo algarismo indica a isoenzima específica, como em CYP3A4. Como há vários genes diferentes que codificam múltiplas enzimas, há várias isoformas P450 diferentes. Quatro isoenzimas estão associadas à maioria das reações catalisadas pelo P450: CYP3A4/5, CYP2D6, CYP2C8/9 e CYP1A2. As enzimas dependentes de CYP450 são um alvo importante de interações farmacocinéticas de fármacos→indução de isoenzimas CYP-específicas. Por outro lado, a inibição da atividade das isoenzimas CYP (levando a efeitos adversos graves). A forma mais comum de inibição é pela competição pela mesma isoenzima. Alguns fármacos, contudo, são capazes de inibir reações das quais nem são substratos (cetoconazol), provocando interações. Numerosos fármacos são capazes de inibir uma ou mais vias de biotransformação CYP--dependente da varfarina. Por exemplo, o omeprazol é um inibidor importante de isoenzimas CYP responsáveis pela biotransformação da varfarina. Nesse contexto, se os dois fármacos são tomados juntos, a concentração plasmática de varfarina aumenta, levando ao aumento do efeito anticoagulante e do risco de sangramentos. Os inibidores CYP mais importantes são eritromicina, cetoconazol e ritonavir, pois inibem várias isoenzimas CYP. Metabolismo de primeira passagem Fármacos absorvidos em órgãos do TGI, como estômago e intestino, entram na circulação portal antes de alcançar a circulação sistêmica. Tais fármacos estão sujeitos à biotransformação por enzimas metabolizadoras localizadas na parede intestinal e no fígado. Esse processo faz com que a biodisponibilidade oral seja reduzida, já que a quantidade de fármaco inalterado que de fato chega à circulação sistêmica é reduzida. ➔ Os inibidores não competitivos incluem fármacos como o cetoconazol, que forma um firme complexo com a forma Fe 3+ do ferro hêmico do CYP3A4, causando inibição não competitiva reversível. Os denominados inibidores com base no mecanismo requerem oxidação por uma enzima P450. Exemplos incluem o contraceptivo oral gestodeno (CYP3A4) EXCREÇÃO A excreção consiste na saída do fármaco do organismo. Ela pode ocorrer por diferentes vias, sendo a urinária a principal e envolve os processos de filtração glomerular, secreção tubular e reabsorção. Os fármacos hidrofílicos são facilmente eliminados por essa via. Eles são filtrados pelo glomérulo e permanecem no túbulo renal, pois não têm afinidade pelas membranas celulares. Alterações da função renal afetam o processo de excreção do fármaco. A insuficiência renal, por exemplo, pode limitar a excreção de fármacos e de outras substâncias exógenas, ocasionando seu acúmulo no organismo. Além da excreção renal, a excreção biliar e pulmonar são importantes modalidades de saída do fármaco do organismo. Suor, leite materno, lágrimas, fezes e saliva também representam algumas vias de excreção. Como o leite é mais ácido que o plasma da mãe, há maior concentração de fármacos básicos no líquido, causando exposição ao lactente A quantidade de fármaco no líquido tubular é aumentada pela presença de carreadores no túbulo proximal, que realizam transporte ativo, sendo importante destacar a glicoproteína-P e a proteína 2 de multirresistência aos fármacos (MRP2). No túbulo distal, ocorre reabsorc ̧ão ativa por transportadores de membrana. Por todo o túbulo, as formas não ionizadas das drogas são reabsorvidas passivamente, através do gradiente gerado pela reabsorção de Na+ e outros eletrólitos. Com a acidificação da urina no túbulo proximal, os ácidos fracos predominam na forma não ionizada e são reabsorvidos em maior quantidade. Com a alcalinização do meio, há mais excreção de ácidos fracos; o mesmo raciocínio é válido para as bases fracas. A alcalinização ou a acidificação da urina podem ser úteis em casos de intoxicação, como é o caso dos salicilatos, um ácido forte que tem sua excreção aumentada com a alcalinização da urina. DEPURAÇÃO A depurac ̧ão de uma droga equivale à taxa com que o fármaco é eliminado por todas as vias, em relação à concentração no líquido biológico mensurado, por exemplo, o plasma. em caso de hepatopatia, existem alterações da depuração intrínseca relevantes para os fármacos com baixa depuração, por conta das alterações patológicas dos hepatócitos. A doenc ̧a renal pode alterar os processos de filtração glomerular, de secreção nos túbulos e de reabsorção tubular. As alterações nas nefropatias vão variar de acordo com o volume de líquido filtrado pelo glomérulo, a atividade dos transportadores que fazem secreção ativa nos túbulos, o processo de reabsorção, as alterações nas ligações proteicas das drogas, o fluxo sanguíneo renal e o número de néfrons funcionantes. FARMACODINÂMICA é o campo da farmacologia que estuda a ação dos fármacos sobre o organismo, isto é, os efeitos das medicações e o mecanismo de como essas substâncias atuam. Os efeitos de um fármaco resultam de sua interação com as moléculas do corpo; a alteração das atividades bioquímicas ou biofísicas dessas moléculas gera os seus efeitos. →receptor: é um componente orga ̂nico que interage com uma droga e inicia uma série de eventos e reações que desencadeiam os seus efeitos. Na verdade, os fármacos não produzem propriamente os efeitos, eles modificam funções intrínsecas da fisiologia do organismo. em geral, são proteínas. No entanto, outras substâncias, como os ácidos nucleicos, podem atuar como receptores, a exemplo da atuação de alguns quimioterápicos. A maior parte dos receptores são proteínas transdutoras de sinais, as quais são representadas por canais iônicos sensíveis a ligantes; receptores acoplados à proteína G; receptores ligados a enzimas e os receptores intracelulares. Podemos classificar os fármacos de acordo com as consequências de sua ligação com um receptor: • Agonista: liga-se ao receptor ativando uma resposta biológica. Isto é, simula um sinalizador endógeno do receptor, gerando o mesmo efeito. • Antagonista: liga-se ao receptor e não produz efeito direto, impedindo a ligação do estimulador endógeno. • Agonista parcial: liga-se ao receptor produzindo uma resposta menor do que a produzida por um agonista “completo”. →Agonistas inversos: alguns receptores fisiológicos apresentam uma atividade constitutiva, isto é, apresentam atividade mesmo na ausência de um ligante. Os fármacos agonistas inversos, ao se ligarem a esse tipo de receptor, o estabilizam em uma conformação inativa. Portanto, fármacos agonistas inversos têm ação oposta à dos fármacos agonistas, apresentando eficácia negativa. →A interac ̧ão entre a droga e o receptor pode ocorrer por meio de qualquer ligação química conhecida e, na maioria dos casos, envolve diferentes tipos de ligação. As ligações covalentes quase sempre prolongam a interação entre o fármaco e seu receptor. Os receptores apresentam seletividade de ligação, isto é, só interagem com ligação específica. A interação do fármaco+ receptor leva à formação dos chamados complexos fármaco-receptor→ ocasionam mudanças bioquímicas e/ou fisiológicas nas células e tecidos que causam a modulação dos sistemas e, por fim, culminamcom os efeitos observados do fármaco. Os fármacos que atuam sobre receptores específicos são caracterizados como fármacos com ação específica. Por outro lado, os fármacos que exercem seus efeitos sem interagirem com receptores específicos são chamados de fármacos com ação inespecífica. A ação desses fármacos resulta de suas propriedades físico-químicas e ocorre em função do seu acúmulo em locais vitais das células. São exemplos de fármacos com ação inespecífica: os antissépticos, alguns antifúngicos tópicos e alguns inseticidas. →A relação entre a dose administrada de um fármaco e a resposta clínica observada é bastante complexa e depende de uma série de fatores. A dose administrada e as características farmacocinéticas do fármaco influenciam diretamente em sua resposta. Além disso, a resposta fisiológica proveniente da interação de um fármaco com o seu receptor depende de alguns parâmetros farmacodinâmicos, como eficácia, afinidade e potência Eficácia= capacidade de um fármaco se ligar ao receptor e ocasionar sua ativação. Ela depende da atividade intrínseca do fármaco e também do número de receptores ativados. Afinidade= capacidade de um fármaco se ligar ao receptor. Fármacos com alta afinidade conseguem se ligar a um grande número de receptores, mesmo estando em baixa concentração no local de ação. Potência= refere-se à quantidade de moléculas necessárias para que um efeito em intensidade determinada seja produzido. Quanto menor a quantidade de moléculas necessárias do fármaco para que um efeito seja produzido, maior sua potência. INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA É cada vez maior o número de indivíduos que fazem uso simultâneo de inúmeros medicamentos, prescritos e não prescritos, além do uso de fitoterápicos, plantas medicinais, nutrientes e suplementos alimentares, configurando assim uma associação medicamentosa que pode resultar em indiferentismo farmacológico, em que cada substância associada age independentemente das demais, sem alteração de ação ou efeito, ou em interação farmacológica Interação medicamentosa consiste na ação de uma droga que pode modificar de forma mensurável a atividade, o metabolismo ou a toxicidade de outra droga usada concomitantemente (incluindo drogas não prescritas, como álcool e alimentos). Ela pode ser de dois tipos: • quando droga A + droga B causam um efeito diferente (maior ou menor); • quando a droga A altera a concentração da droga B por indução ou inibição da enzima responsável pela biotransformação da droga B. As interações entre medicamentos são decorrentes de mecanismos farmacocinéticos ou farmacodinâmicos ou interações farmacêuticas (físico-químicas). Interações farmacocinéticas Surgem quando um fármaco modifica a absorção, a distribuição, o metabolismo ou a excreção de outro fármaco, alterando, assim, a concentração desse fármaco ativo no organismo. →Absorção: a absorção gastrintestinal de fármacos pode ser afetada pelo uso concomitante de outros fármacos, seja em razão da quelação das moléculas ou da alteração do pH gástrico ou alteração da motilidade intestinal, em que a absorção pode ser aumentada ou diminuída, acelerada ou retardada. No caso de uma absorção diminuída ou retardada, o resultado é que o fármaco pode não atingir os níveis eficazes na corrente sanguínea; no caso de uma absorção aumentada, esses níveis podem ser mais elevados do que o desejável, potencializando os efeitos colaterais. as interações fármaco-nutrientes também são muito comuns→a composição da dieta e o tipo de alimentação podem alterar a absorção dos medicamentos. Dependendo do tipo de alimento ingerido, a velocidade de esvaziamento gástrico pode variar, afetando a absorção de um fármaco. Outras vezes, os nutrientes podem formar complexos com o fármaco, impedindo sua absorção. Cálcio, magnésio, ferro e zinco, por exemplo, formam complexos com a tetraciclina e interferem na absorção e, consequentemente, no efeito farmacológico. →Distribuição: devido à competição por ligação às proteínas plasmáticas, resultando em deslocamento do fármaco da ligação às proteínas e, consequentemente, aumento da fração livre do fármaco no plasma e aumento do efeito farmacológico, dessa forma podendo causar efeitos adversos. Por exemplo, o deslocamento da varfarina dos sítios de ligação às proteínas plasmáticas, causado pela interação com o ácido acetilsalicílico, pode induzir ao aumento do efeito anticoagulante da varfarina com risco de causar sangramentos e/ou hemorragias no paciente. Esse efeito pode ser intensificado em uma situação na qual os níveis circulantes de albumina estão baixos, como em insuficiência hepática, desnutrição, ou síndrome nefrótica. →Metabolização: As enzimas do citocromo CYP450 podem sofrer indução ou inibição, ou seja, um fármaco pode induzir ou inibir enzimas metabolizadoras do outro fármaco e, ainda, competir pelos mesmos sítios de metabolização, alterando a quantidade disponível da forma ativa. Interações que levam à indução enzimática geralmente resultam em aumentodo metabolismo do fármaco, o que, por consequência, pode resultar em falha na terapia. Exemplos clássicos de indutores enzimáticos são fenobarbital, fenitoína, carbamazepina e rifampicina. a indução enzimática pelo antibiótico rifampicina faz com que a contracepção hormonal à base de estrógeno seja ineficaz em doses convencionais, visto que a rifampicina induz a P450 3A4, que é a principal enzima envolvida no metabolismo do componente estrogênico comum, o 17α-etinilestradiol interações envolvendo a inibição enzimática resultam em diminuição do metabolismo e aumento da possibilidade de efeitos tóxicos. Quando dois fármacos são metabolizados pela mesma enzima P450, a inibição competitiva ou irreversível dessa enzima pode provocar aumento na concentração plasmática do segundo fármaco. Exemplos de inibidores enzimáticos incluem a cimetidina e o antifúngico cetoconazol, um potente inibidor da enzima 3A4 do citocromo P450. É digno de nota que a CYP3A4 sozinha é responsável pelo metabolismo de mais de 50% dos fármacos de prescrição metabolizados pelo fígado. →2C19: substratos: Diazepam, S-mefenitoína, naproxeno, nirvanol, omeprazol, propranolol. Indutores: Barbitúricos, rifampicina Inibidores: N3-benzilnirvanol, N3- benzilfenobarbital, fluconazol, nootcatona, ticlopidina. →3A4: Substratos: Paracetamol, alfentanila, amiodarona, aprepitanto, astemizol, buspirona, cisaprida, cocaína, conivaptana, cortisol, ciclosporina, dapsona, darunavir, desatinibe, diazepam, di- hidroergotamina, di-hidropiridinas, diltiazem, eritromicina, etinilestradiol, everolimo, felodipino, fluticasona, gestodeno, indinavir, lidocaína, lopinavir, lovastatina, macrolídeos, maraviroque, metadona, miconazol, midazolam, mifepristona, nifedipino, nisoldipino, paclitaxel, progesterona, quetiapina, quinidina, rapamicina, ritonavir, saquinavir, sildenafila, sinvastatina, sirolimo, espironolactona, sulfametoxazol, sufentanila, tacrolimo, tamoxifeno, terfenadina, testosterona, tetra-hidrocanabinol, tolvaptana, tipranavir, triazolam, troleandomicina, vardenafila, verapamil. Indutores: Avasimibe, barbitúricos, carbamazepina, glicocorticoides, pioglitazona, fenitoína, rifampicina, erva-de-são-joão Inibidores: Amprenavir, azamulina, boceprevir, claritromicina, conivaptana, diltiazem, eritromicina, fluconazol, suco de pomelo (furanocumarinas), indinavir, itraconazol, cetoconazol, lopinavir, mibefradil, nefazodona, nelfinavir, posaconazol, ritonavir, saquinavir, telaprevir, telitromicina, troleandomicina, verapamil, voriconazol. ➔ Excreção: Interações que afetam a excreção podem ocorrer quando há a administração simultânea de fármacos ácidos fracos ou bases fracas e outros fármacos que afetem o pH urinário. Porém,interações em nível de excreção podem também se manifestar por meio da competição entre fármacos, em especial pela glicoproteína P e por transportadores de íons orgânicos. Penicilina/probenecida: A penicilina é eliminada por secreção tubular nos rins e o seu tempo de ação pode ser aumentado se for administrado de modo concomitante com probenecida (um inibidor do transporte tubular renal). Interações farmacodinâmicas As interações farmacodinâmicas surgem quando um fármaco modifica a resposta dos tecidos-alvo ou não alvo do outro fármaco. Quando são administrados simultaneamente medicamentos com efeitos farmacológicos semelhantes, pode ocorrer resposta farmacológica aditiva, sinérgica ou antagônica. → Aditiva: fármacos que atuam no mesmo receptor ou no mesmo processo fisiológico, quando administrados concomitantemente, podem apresentar efeito aditivo, como benzodiazepínicos e barbitúricos, ambos depressores do sistema nervoso central (SNC). → Sinérgica: os fármacos que atuam em receptores ou processos sequenciais diferentes podem atuar sinergicamente, como a associação de sulfonamida + trimetoprima. Também pode-se citar a interação de álcool com depressores do SNC: o álcool deprime o SNC e, se ingerido de forma moderada em pacientes que fazem uso de doses terapêuticas de medicamentos como benzodiazepínicos, pode ter aumento da depressão do SNC; outro exemplo refere-se à ingestão de álcool e fitoterápicos (como valeriana), em que pode ocorrer aumento da sonolência. Porém, em algumas situações clínicas, podem ocorrer interações farmacodinâmicas tóxicas quando dois fármacos ativam vias fisiológicas complementares, resultando em aumento do efeito farmacológico. Por exemplo, esse tipo de interação é observado com a coadministração de sildenafila (para disfunção erétil) e nitroglicerina (para angina de peito), aumentando o risco de hipotensão grave. eventos hemorrágicos envolvendo o uso de fármacos anticoagulantes e fitoterápicos com efeito anticoagulante em potencial, a saber: alfafa, angélica, semente de anis, arnica, aipo, boldo, camomila, castanha-da-Índia, dente-de-leão, gengibre, gingko biloba, salsa, tamarindo, salgueiro, rábano, urtiga, álamo e sálvia. → Antagônicas: quando dois fármacos, ou fármaco e nutriente, apresentam atividades contrárias um do outro, pode ocorrer anulação ou diminuição dos efeitos resultantes esperados para cada um individualmente. Por exemplo, a vitamina K (que tem efeito na coagulação sanguínea), proveniente de alimentos e/ou dieta enteral, pode interferir no efeito anticoagulantes das cumarinas, como a varfarina. A diminuição de efeito farmacológico pode ocorrer em razão da competição no mesmo receptor celular (antagonismo farmacodinâmico). Também pode haver antagonismo farmacocinético: um exemplo é o uso de rifampicina com anticoncepcionais orais (etinilestradiol e no-retindrona). Por outro lado, em algumas situações, as interações antagônicas podem ser usadas para a obtenção de efeitos antagônicos terapêuticos, como a administração da N-acetilcisteína para o tratamento dos efeitos tóxicos causados por uma dose excessiva de paracetamol. Interações físico-quimicas ocorrem durante o preparo do medicamento antes da administração ao paciente. Pode ocorrer em formas farmacêuticas líquidas (solução ou suspensão) ou sólidas (comprimido ou cápsulas); entre os princípios ativos e excipientes da formulação; entre os fármacos e diluentes ou reconstituintes; e entre eles e equipamentos de administração (como equipos plásticos, seringas e agulhas). Dependendo das condições do meio ou de fatores ambientais, as reações podem ser imediatas ou retardadas. -Fatores predisponentes: a estrutura molecular pode oferecer grupamentos químicos reativos e sensíveis, seja na estrutura espacial da molécula ou no sistema de veiculação, cuja função é tanto proteger a integridade do fármaco até que che-gue ao sítio de absorção como torná-lo mais rápido e completamente absorvido; natureza do soluto ou do solvente; natureza do continente (como vidro, polietileno, PVC [cloreto de polivinila]), pH do meio, solubilidade, concentração, temperatura; luminosidade, existência de veículos, excipientes, tampões, estabilidade dos demais solutos e tempo de contato entre os compostos. GRUPOS DE RISCO pacientes idosos, os pacientes em polifarmácia e os pacientes portadores de patologias crônicas (como epilepsia, diabetes e hipertensão, insuficiência renal e hepática, doenças cardíacas, problemas respiratórios (como asma), epilépticos). Também é importante o cuidado em pacientes imunossuprimidos, com AIDS e transplantados. As crianças também constituem grupo de risco em razão da falta de maturidade de algumas vias metabólicas. Interações medicamentosas também têm sido associadas a variáveis como sexo, idade, peso, etnia, etilismo e tabagismo. INTERAÇÃO FITOTERÁPICOS a incidência de interações entre fitoterápicos e nutrientes, com medicamentos convencionais, ainda não é completamente conhecida. Em geral, os mecanismos de interações envolvendo fitoterápicos e nutrientes incluem os mecanismos de interação em nível farmacocinético. → interação entre Hypericum (hipérico, erva-de-São- João) e ciclosporina (imunossupressor), em que o hipérico causa redução dos níveis plasmáticos de ciclosporina, em alguns casos resultando na rejeição de transplantes. o hipérico interfere nas enzimas hepáticas citocromo P450 e, como consequência, os níveis sanguíneos dos fármacos metabolizados pelo sistema microssomal hepático poderão ser aumentados em pequeno espaço de tempo, causando aumento dos efeitos ou potencializando reações adversas sérias → alho (Allium sativum L.), há recomendação de não usar em casos de hemorragia e tratamento com anticoagulantes e anti-hipertensivos. Pacientes que utilizam anticoagulantes orais como a varfarina poderão apresentar aumento do tempo de sangramento quando forem administrados medicamentos contendo alho; efeito semelhante será observado no uso dos antiplaquetários, heparina, agentes trombolíticos, e anti-inflamatórios não esteroidais. ter cuidado com o uso do alho em pacientes diabéticos, pois o alho poderá intensificar o efeito de fármacos hipoglicemiantes (insulina e glipizida), causando uma hipoglicemia grave. → O ginseng (Panax ginseng C. A. Meyer) pode reduzir a ação anticoagulante da varfarina e aumentar o risco de sangramentos quando utilizado com ácido acetilsalicílico, heparina, clopidogrel, além de anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs). Também é relatado que o uso de ginseng com antidepressivos IMAO pode desencadear tremores, cefaleias e insônia. Ginseng pode interferir no metabolismo de fármacos metabolizados pelo sistema enzimático hepático P450 e a consequência é o aumento da concentração de tais fármacos na corrente sanguínea, NUTRIENTES/MEDICAMENTOS Medicamentos podem alterar as concentrações fisiológicas dos minerais em razão de diminuição da absorção, aumento da excreção ou alteração do metabolismo de tais micronutrientes. Os resultados de tais interações podem ser clinicamente insignificantes ou graves. →O tratamento prolongado com diuréticos tiazídicos e diuréticos de alça pode levar a deficiências totais de potássio e magnésio, que não são detectáveis utilizando os métodos padrão de análise sérica e podem ocorrer apesar dos suplementos de potássio. Para esses indivíduos, alimentos ricos em potássio são boas opções à dieta, bem como suplementos de cloreto de potássio, se prescritos por um médico. Por outro lado, o aumento dos níveis séricos de potássio (hipercalemia) tem sido relatado com o uso de fármacos betabloqueadores em associação com diuréticos poupadores de potássio. →A deficiência de vitamina D e, por conseguinte, a diminuição da absorçãode cálcio podem também ocorrer com medicamentos que prejudicam a absorção de gordura, tais como medicamentos antiobesidade (orlistat) e agentes hiperlipidêmicos (colestiramina). A gentamicina tem sido associada à hipocalcemia (baixos níveis de cálcio) em humanos. No entanto, o excesso de suplementação oral de cálcio pode reduzir o dano renal induzido por gentamicina. A prednisona e outros glicocorticoides causam má absorção de cálcio e aumento da excreção renal, que pode levar à perda óssea e ao hiperparatireoidismo secundário. INTERAÇÃO/IATROGENIA ENTRE AS MEDICAÇÕES DO PROBLEMA →CLOPIDOGREL: Existe um potencial para interação com outros fármacos, como o omeprazol , que é metabolizado pelo CYP2C19, e, por esse motivo, a bula atual não recomenda a utilização do clopidogrel juntamente com inibidores da bomba de prótons. REFERENCIAS Manual de Geriatria da Amerepam, 2019 Tratado de geriatria Guia de Geriatria e Gerontologia. Editora Manole, 2011 (2015). CURRENT: Geriatria. Iglesias, BD (2018). Farmacologia Aplicada . BERTRAM, K.; SUSAN, M.; ANTHONY, T. Farmacologia Básica e Clínica
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