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Rodrigo Lobo Canalli Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 Controle de constitucionalidade e federalismo Material didático do curso a distância: Controle de constitucionalidade da legislação local Validação pedagógica e diagramação: Supremo Tribunal Federal Secretaria de Gestão de Pessoas Coordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas Conteudista: Rodrigo Lobo Canalli (STF) Revisor de textos: Rochelle Quito (STF) Web designer: Higor Bezerra Rodrigues (STF) 2019, Supremo Tribunal Federal. Todos os direitos reservados. Este material possui função didática, sem fins comerciais, e foi adaptado para a versão autoinstrucional em 2021. Para mais detalhes sobre as condições de uso acesse: Licença STF DADOS PARA REFERÊNCIA SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Curso a distância: Controle de constitucionalidade da legislação local. Brasília: Coordenadoria de Desenvolvimento de Pessoas, 2019. Disponível em: https://ead.stf.jus.br/. Acesso restrito com login e senha. Visite o Ambiente Virtual de Aprendizagem do STF E-mail: ead@stf.jus.br https://goo.gl/eDXma5 https://ead.stf.jus.br/ mailto:ead%40stf.jus.br?subject=mailto%3Aead%40stf.jus.br Sumário I – Apresentação do curso ....................................................................... 4 II – Objetivos ........................................................................................... 5 III – Conteúdo da aula ............................................................................. 6 1. Introdução ........................................................................................... 6 2. A forma federativa do Estado brasileiro ............................................... 6 3. Divisão de competências normativas entre os entes federados ............ 8 4. Competências privativas da União ...................................................... 12 5. Competências normativas dos Estados ................................................ 14 6. Competências normativas dos Municípios ........................................... 16 7. Competências normativas do Distrito Federal ..................................... 16 8. Competências concorrentes ................................................................. 17 9. Considerações finais ........................................................................... 20 10. Para aprofundar ................................................................................. 21 Glossário ................................................................................................. 22 Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 4 I – Apresentação do curso Desejo boas-vindas a todos os participantes do curso “Controle de constitucionalidade da legislação local”. Espero que, juntos, com base nos conhecimentos adquiridos ao longo das aulas e nas dúvidas aqui compartilhadas, possamos ampliar os horizontes do nosso saber em relação a este tema: o controle da constitucionalidade das leis editadas por Estados, por Municípios e pelo Distrito Federal. No âmbito do STF, são muitas as demandas cuja solução depende, senão do juízo sobre a constitucionalidade de uma norma produzida por Assembleia Legislativa ou Câmara Municipal, pelo menos da aferição segura acerca dos limites da cognoscibilidade dessa questão, ou seja, de saber se a questão é ou não suscetível de ser apreciada pelo STF nos termos em que apresentada. Isso ocorre tanto em processos de competência originária do STF quanto no exercício da sua competência recursal. No primeiro caso (competência originária), podemos citar como exemplo o ajuizamento de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) em que o STF seja chamado a se pronunciar sobre uma dada controvérsia constitucional que tenha como objeto lei municipal. No segundo (competência recursal), uma situação frequente é a interposição de recurso extraordinário, com fundamento no artigo 102, III, “c”, da Constituição Federal, contra decisão de Tribunal de Justiça que tenha reputado válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição. Visando a conferir mais segurança ao enfrentamento de questões dessa natureza, estudaremos as especificidades dos mecanismos de fiscalização da constitucionalidade das normas quando aplicados pelo STF às leis estaduais, municipais e distritais, seja no exercício da jurisdição constitucional concentrada, seja no exame dos recursos apresentados ao Tribunal. Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: (...) c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 5 Atenção Palavras destacadas em verde integram o glossário que está disponível para consulta no final das aulas. Vale a pena conferir! II – Objetivos Ao final deste curso, você deverá ter incorporado ao seu repertório de conhecimentos técnico-jurídicos instrumentos que o auxiliarão a compreender a discussão acerca da constitucionalidade de normas locais (estaduais ou municipais), seja em controle concentrado de constitucionalidade, seja no campo do recurso extraordinário. Nesta aula, que marca nosso primeiro passo em direção a tal objetivo, articularemos as controvérsias constitucionais sobre leis estaduais, distritais e municipais com relação à estrutura constitucional de divisão das competências legislativas entre os entes federados. Logo você verá que é menos complicado do que parece. Vamos lá? Conheça o autor deste curso: RODRIGO LOBO CANALLI Bacharel e Mestre em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília – UnB. É Analista Judiciário – Área Judiciária – do Tribunal Superior do Trabalho. Atua como assessor da Ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal desde 2012. Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 6 III – Conteúdo da aula 1. Introdução A Constituição Federal delega ao STF a competência para exercer o controle de constitucionalidade de leis e atos normativos. Mediante diferentes mecanismos processuais, que estudaremos detidamente no decorrer do curso, à Suprema Corte brasileira é submetida a tutela da constitucionalidade de leis e outros atos normativos produzidos tanto pela União quanto pelos Estados, pelos Municípios e pelo Distrito Federal. Embora sejam mais frequentes processos em que discutida a constitucionalidade de leis federais, o número de ações e recursos cujo objeto envolve questionamento acerca da constitucionalidade de leis editadas por Estados e Municípios é significativo e tem aumentado. Disso decorre uma primeira observação: o STF não é um tribunal apenas da União; é um tribunal da Federação. A ele cabe assegurar a observância da Constituição por todos os entes que integram a Federação brasileira. Conclui-se também que não é possível compreender devidamente o controle de constitucionalidade de normas estaduais e municipais pelo STF sem antes abordar a forma federativa do Estado brasileiro e a correspondente divisão de competências normativas entre os entes políticos que o integram. 2. A forma federativa do Estado brasileiro Ao dispor que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, o artigo 1º da Constituição de 1988 estabelece a forma federativa do Estado. O País é, assim, organizado segundo uma forma particular de divisão espacial do poder político entre o governo central e os governos regionais: a federação. Embora a soberania, na federação, seja exclusiva da União, os demais entes federados preservam autonomia administrativa e política. Controle de constitucionalidadee federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 7 O detalhamento da forma como se dá essa divisão de poderes, bem como a delimitação das competências políticas, administrativas e legislativas atribuídas a cada um dos diferentes níveis de governo é especificada no próprio documento que institui a Federação brasileira: a Constituição Federal. Uma característica do federalismo brasileiro que, pela sua peculiaridade, deve ser desde logo destacada é o reconhecimento dos Municípios como entes federados autônomos, ao lado da União, dos 26 Estados e do Distrito Federal. O artigo 18 da Constituição da República é expresso nesse sentido: “A organização político- administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição”. Contam-se no País, hoje, 5.570 municípios, todos eles competentes para editar leis e impor o seu cumprimento, nos termos e limites definidos pela Constituição da República. A forma federativa do Estado brasileiro constitui cláusula pétrea da Constituição, nos termos do artigo 60, § 4º, I. Isso significa que essa forma de organização do poder político traduz uma das características fundamentais do Estado brasileiro e não pode ser alterada nem mesmo pelo poder constituinte derivado mediante a apresentação de proposta de emenda à Constituição. É em razão da forma federativa pela qual se organiza a comunidade política que o exercício da jurisdição constitucional, no Estado brasileiro, se dá em um ambiente de simultânea produção legislativa por diferentes entes políticos. Um habitante de Porto Alegre, por exemplo, sujeita-se, ao mesmo tempo, à ordem jurídica municipal, à legislação do Estado do Rio Grande do Sul e ao direito federal. A competência de cada um dos entes políticos – União, Estados Municípios e Distrito Federal – para editar leis é extraída diretamente do texto constitucional. Apesar da inegável proeminência da União, não existe propriamente hierarquia entre as leis editadas pelos entes federados. De modo geral, ressalvadas as hipóteses de competência legislativa concorrente, que veremos adiante, as leis municipais não são hierarquicamente subordinadas às estaduais ou às federais, assim como as leis estaduais não são subordinadas hierarquicamente às federais. Todas elas se sujeitam diretamente à observância dos espaços de produção legislativa que lhes foram determinados pela Constituição da República Federativa do Brasil. “Art. 60. (...) § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado;” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 8 Como veremos a seguir, algumas dessas competências para legislar são privativas, ou exclusivas, deste ou daquele ente. Outras são compartilhadas por mais de um deles. Além disso, quando um desses entes produz uma lei em desacordo com o que lhe autoriza a Constituição Federal, invadindo a competência de outro, o resultado é uma lei inconstitucional e, por consequência, nula. 3. Divisão de competências normativas entre os entes federados A competência legislativa diz respeito à conformação da capacidade de um ente político editar leis gerais e abstratas para reger uma dada matéria. A Constituição da República dispõe sobre as competências legislativas dos diferentes entes federados – União, Estados, Municípios e Distrito Federal – no Título III, que trata da Organização do Estado. Ali, define o espaço de atuação político- -normativa de cada um. Da observância dessa divisão de competências e da interpretação a ela conferida pelos tribunais, em especial pelo STF, depende a preservação do equilíbrio de poder entre o governo federal, os Estados e os Municípios. ERRADO Leis federais Leis estaduais Leis municipais Constituição Leis federais Leis estaduais Leis municipais Leis distritaisConstituição CORRETO Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 9 De modo geral, podemos dizer que a Constituição adota, em relação à União, o modelo de poderes enumerados, segundo o qual cabe a ela legislar apenas sobre as matérias que lhe são autorizadas, expressa ou implicitamente, pelo texto constitucional. Como exemplo de autorização legislativa expressa podemos citar o artigo 22 da Constituição Federal, que enumera as matérias sobre as quais compete à União legislar privativamente. Em outras palavras, a União, e somente ela, pode legislar sobre as matérias relacionadas nesse dispositivo, que ficam, assim, fora do alcance de leis estaduais ou municipais, salvo se presente a hipótese excepcional do seu parágrafo único, à qual voltaremos mais tarde. A autorização legislativa implícita é aquela que decorre necessariamente da atribuição de alguma responsabilidade ou competência executiva. A interpretação tradicional da Constituição, nesse sentido, reconhece à União os poderes legislativos necessários para o desempenho de competências a ela expressamente atribuídas. Assim, quando o artigo 20, VII, da CF inclui entre os bens da União os terrenos de marinha, implicitamente lhe confere competência para produzir a legislação necessária à disciplina dessa matéria. Como consequência, alegada a inconstitucionalidade de lei federal com fundamento em incompetência da União para legislar sobre a matéria, basta procurar a autorização na Constituição. Se ela não existir de forma explícita ou implícita, a lei é inconstitucional. O mesmo modelo – de competências enumeradas – é adotado em relação aos Municípios. Poderes expressos Poderes implícitos Poderes enumerados Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 10 Saiba Mais Em relação às competências legislativas dos Estados, a Constituição adota fórmula diversa, de poderes não enumerados, também chamada de competência residual. Sem deixar de prever expressamente a competência legislativa dos Estados acerca de determinadas matérias, a Constituição a eles reserva todas as competências normativas que não lhes sejam vedadas expressa ou implicitamente em seu texto (artigo 25, § 1º, da CF). A Constituição retira dos Estados a competência para legislar sobre uma determinada matéria quando a insere na competência privativa de outro ente, como a União, por exemplo. Ao nos depararmos com um questionamento a respeito da constitucionalidade de uma lei estadual, cumpre verificar se, em algum lugar do texto constitucional, há vedação a que os Estados legislem sobre a matéria objeto dessa lei. Se nenhuma vedação expressa ou implícita for encontrada, pode-se assumir certa presunção em favor do regular exercício da competência legislativa pelo Estado. Há, ainda, a possibilidade de a Constituição prever uma competência legislativa condicional ao ente. Nessa hipótese, a eficácia da lei editada por determinado ente acerca de uma dada matéria fica condicionada à inexistência de lei sobre aquela matéria proveniente do ente que teria a primazia. É o caso do artigo 24, §§ 3º e 4º, da CF, segundo o qual, na ausência de lei federal que estabeleça normas gerais sobre as matérias cuja competência legislativa lhes é concorrente, ficam os Estados autorizados a exercer a competência legislativa plena até que sobrevenha lei federal a respeito. Em um Estado federal, a relação entre o governo central e os estados federados é frequentemente marcada por momentos de tensão. Em 1798, ainda estavam em construção, nos Estados Unidos da América, país berço do federalismo, as interpretações sobre os limites das competências legislativas da União e dos Estados. Após a aprovação, naquele ano, de duas leis que ampliavam consideravelmente o escopo da competência legislativa da União, os Estados de Kentucky e Virgínia, alegando que os Estados tinham o direito e o dever de declarara inconstitucionalidade de atos normativos do Congresso que não encontravam autorização na Constituição, editaram resoluções para declarar a inconstitucionalidade daquelas leis federais. “Art. 24. (...) § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.” “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 11 Saiba Mais Episódios semelhantes, em que Estados invocavam o direito de não aplicar leis federais por eles consideradas inconstitucionais, repetiram-se no início do século XIX. Somente na segunda metade deste, a Suprema Corte dos Estados Unidos definiu que, por não ser a Constituição um pacto entre os Estados, mas um documento legal instituído diretamente pelo povo, nenhum Estado poderia se recusar, unilateralmente, a aplicar a legislação federal. Vale lembrar, ainda, que toda declaração de direitos fundamentais titularizados por indivíduos ou grupos, na Constituição, traduz, em si mesma, uma modalidade de restrição do poder legislativo. Sempre que a Constituição declara um direito, automaticamente restringe o poder legislativo de todos os entes políticos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – na medida em que vincula a produção legislativa de todos eles, no alcance das suas competências específicas, à observância desse direito. 3.1 As constituições estaduais A Constituição Federal determina que os Estados se organizem e se governem por constituições estaduais (artigo 25, caput). O artigo 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) definiu o prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição de 1988, para que as assembleias legislativas elaborassem as constituições dos Estados. A esses documentos, no entanto, falta o caráter originário da Constituição Federal, que inaugura toda uma ordem jurídica. Também chamado de poder constituinte decorrente, o poder constituinte estadual não deixa de ser uma modalidade de poder constituído, porque vinculado à observância dos princípios e limites delineados previamente na Constituição Federal. É, a rigor, um poder infraconstitucional de fato, tal como o poder legislativo propriamente dito. Interpretando ampliativamente o sentido da vinculação das constituições estaduais à observância dos princípios da Constituição Federal (artigo 34, VII, da CF e artigo 11 do ADCT), a jurisprudência do STF desenvolveu o chamado princípio da simetria e deixou, assim, pouco espaço para variações estruturais dos Estados em relação ao modelo federal. “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.” “Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta. Parágrafo único. Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a Lei Orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitado o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 12 Os Municípios e o Distrito Federal, por seu turno, regem-se por Lei Orgânica, que deve respeitar o disposto na Constituição Federal e, no caso dos Municípios, também na Constituição estadual (artigo 32, caput, da CF e artigo 11, parágrafo único, do ADCT). 4. Competências privativas da União O artigo 22 da Constituição da República traz, nos incisos I a XXIX, extenso rol de matérias sobre as quais a competência para legislar é atribuída à União em caráter privativo. Acerca dessas matérias, em regra, não podem Estados e Municípios legislar, salvo, no caso dos primeiros, quanto a questões específicas, na forma da lei complementar (artigo 22, parágrafo único), e, no caso dos últimos, de modo suplementar, se cabível, e desde que, ao fazê-lo, não contrariem a legislação federal (artigo 30, II, da CF). Caro aluno, tire um minuto para ler os 29 incisos do artigo 22 da Constituição. E aí, notou que “poderes enumerados” não se confunde com “poucos poderes”? Para o lado de qual ente você acha que pende a balança do equilíbrio de forças na Federação brasileira? “Art. 22. (...) Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.” “Art. 30. Compete aos Municípios: (...) II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;” “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI - trânsito e transporte; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV - populações indígenas; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; “Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 13 Para não deixarmos de examinar um exemplo concreto das matérias sobre as quais cabe somente à União legislar, podemos mencionar, a teor do artigo 22, IV, da CF, as telecomunicações. Com base nesse dispositivo, o STF tem reiteradamente declarado a inconstitucionalidade de leis estaduais que pretendem impor algum tipo de regulação aos serviços de telefonia oferecidos no território do Estado. Confira, nesse sentido, o seguinte precedente unânime do Plenário: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 12.034/2010 DO ESTADO DA BAHIA. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TELEFONIA. VEDAÇÃO À COBRANÇA DE ASSINATURA BÁSICA. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE EXPLORAÇÃO DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. AFRONTA AOS ARTS. 1º, 21, XI, 22, IV, E 175 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES. 1. Ao vedar a cobrança de tarifa de assinatura básica de telefonia fixa e móvel, pelas concessionárias do serviço, a Lei nº 12.034/2010 do Estado da Bahia, a pretexto de tutelar interesses consumeristas, altera, no tocante à estrutura de remuneração, o conteúdo dos contratos administrativos firmados no âmbito federal para a prestação do serviço público, perturbando o seu equilíbrio econômico- -financeiro. 2. Segundo a jurisprudência reiterada desta SupremaCorte, revela-se inconstitucional, por invadir a competência privativa da União para definir o regime tarifário da exploração do serviço público de telefonia – espécie do gênero telecomunicação –, a lei estadual cujos efeitos não se esgotam na relação entre o consumidor-usuário e o fornecedor-prestador, interferindo na relação jurídica existente entre esses dois atores e o Poder Concedente, titular do serviço (arts. 21, XI, 22, IV, e 175, parágrafo único, da Constituição da República). Precedentes. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 4.477, Relatora a Ministra Rosa Weber, Tribunal Pleno, julgamento em 18.5.2017, DJe de 31.5.2017.) “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;” XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; XX - sistemas de consórcios e sorteios; XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII - seguridade social; XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; XXV - registros públicos; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX - propaganda comercial.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 14 Já mencionamos nesta aula o parágrafo único do artigo 22 da CF. Ele estabelece que a União pode editar leis complementares que autorizem os Estados e o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas relativas às matérias inseridas na competência privativa. No pleno exercício da sua soberania, pode a União, assim, delegar aos Estados parcela da sua competência legislativa. Foi o que ela fez ao editar a Lei Complementar 103/2000, que autorizou os Estados e o Distrito Federal a instituir piso salarial, no âmbito do ente federado, para categorias de trabalhadores que não o tivessem definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho. É importante notar que os limites da delegação devem ser estritamente observados pelos Estados, sob pena de a lei editada, ou mesmo parte dela, ser declarada inconstitucional. No julgamento da ADI 4.391 (Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de 20.6.2011), o Plenário do STF julgou inconstitucional dispositivo de lei do Estado do Rio de Janeiro que, embora editada com base na Lei Complementar 103/2000, ultrapassou os limites da competência delegada ao estender o piso salarial estadual a trabalhadores não alcançados pela delegação legislativa. 5. Competências normativas dos Estados Como vimos, o artigo 25, § 1º, da Constituição Federal confere aos Estados competência para legislar sobre todas as matérias que ela própria – a Constituição da República – não tenha atribuído, com exclusividade, a outro ente: União ou Municípios. Se imaginarmos a Constituição como um grande lago e as competências afetadas à União ou aos Municípios como ilhas dentro dele, todo o espaço entre estas se encontraria disponível para ser navegado pela competência legislativa residual dos Estados. Nessa analogia, talvez a expectativa dos Estados, na época da promulgação da Constituição de 1988, lembrasse a imagem a seguir: EXPECTATIVA http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=3845954 Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 15 Seria um bom negócio para os Estados, em termos de espaço para legislarem, não? A verdade, porém, não é bem essa. A realidade da Constituição tem se revelado muito menos generosa com os Estados, assemelhando-se mais a este cenário: São tão numerosas as competências legislativas reservadas aos Municípios e à União (em especial a esta), que o espaço residual destinado à criatividade legislativa dos Estados corresponderia a fios d’água em meio a um vasto arquipélago. Uma consequência disso é o elevado número de leis editadas pelos Estados que são declaradas inconstitucionais pelo STF com o fundamento de terem exorbitado de sua esfera de competência legislativa. Entre as reduzidas competências legislativas expressamente asseguradas com exclusividade aos Estados, podemos citar as competências para dispor sobre serviços locais de gás canalizado (artigo 25, § 2º, da CF) e para instituir regiões metropolitanas (artigo 25, § 3º, da CF). REALIDADE “§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.” “§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 16 6. Competências normativas dos Municípios A ampliação das competências dos Municípios costuma ser vista como um meio de trazer o exercício do poder, tanto quanto possível, para os cidadãos mais direta e imediatamente impactados pelas decisões. Baseia-se na ideia de que, ao passo que assuntos gerais precisam ser administrados pela autoridade central, assuntos locais devem ser prioritariamente decididos por autoridades locais. As competências específicas dos Municípios são enumeradas nos incisos I a IX do artigo 30 da Constituição. Dentre elas podemos destacar as competências conferidas em termos amplos àqueles entes federados para “legislar sobre assuntos de interesse local” (artigo 30, I, da CF) e para “suplementar a legislação federal e a estadual no que couber” (artigo 30, II, da CF). Além disso, em alguns casos, a Constituição sujeita o exercício da competência legislativa do Município à conformidade com a legislação estadual e federal. 7. Competências normativas do Distrito Federal No Brasil, o Distrito Federal constitui um ente político autônomo, integrante da Federação, embora estruturalmente diferente dos Estados e dos Municípios. A população do Distrito Federal elege o seu governador (que, na prática, também atua como uma espécie de “prefeito de Brasília”) e os membros da Câmara Legislativa, órgão que acumula as competências de Assembleia Legislativa (estados) e de Câmara Municipal (municípios). “Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupaçãodo solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 17 Assim, no que se refere às competências legislativas, o Distrito Federal concentra em um único ente, dentro do seu espaço territorial, as competências reservadas aos Estados e aos Municípios (artigo 32, § 1º, da CF). 8. Competências concorrentes O artigo 24 da Constituição Federal enumera as matérias sobre as quais compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente. São matérias acerca das quais os entes federados podem editar leis ao mesmo tempo. No exercício da competência concorrente, tanto a União quanto os Estados e o Distrito Federal elaboram leis que regem simultaneamente determinada relação jurídica (não é demais repetir: desde que ela esteja inserida entre as matérias de competência concorrente). Mas como podem duas legislações ter o mesmo objeto e ser ambas válidas ao mesmo tempo? E o que acontece se a lei federal permitir uma conduta que a lei estadual proíbe, e vice-versa? Como resolver essa bagunça? Para evitar contradições e colocar ordem na casa, isto é, na Federação, existem as regras do artigo 24, §§ 1º a 4º, da CF. “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual; XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV - proteção à infância e à juventude; XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.” “Art. 24. (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.” Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 18 Como elas funcionam na prática? Vamos ver um exemplo. Entre as matérias sujeitas à competência legislativa concorrente, está, a teor do artigo 24, VI, da CF, a pesca. A legislação da União sobre essa atividade define, entre outros aspectos, moratória da pesca de algumas espécies de peixes, tamanhos máximo e mínimo dos espécimes que podem ser abatidos, quantidade de pescado que pode ser transportado, aparelhos que podem ser utilizados para diferentes categorias de pesca (profissional, amadora, de subsistência) e período de defeso para recuperação de estoques pesqueiros. A existência da legislação federal sobre pesca, todavia, ainda que válida para todo o território nacional, não impede os Estados de implementar suas próprias legislações a respeito da matéria, desde que elas não comprometam a vigência da legislação federal. Alguns Estados podem, por exemplo, decretar moratória da pesca de espécies que não constam na lista federal de espécies protegidas. Mas por que fariam isso? Pode ser que uma espécie abundante quando tomamos por base o Brasil inteiro – o que desobrigaria a existência de uma proteção rígida em nível federal – ao mesmo tempo tenha se tornado rara nas águas fluviais de um Estado, de modo que haja interesse deste em editar normas com vistas à recuperação dos seus próprios estoques pesqueiros. De maneira análoga, alguns Estados podem estabelecer limites mais rígidos do que os definidos na legislação federal sobre os tamanhos mínimo e máximo de peixes para pesca e a quantidade permitida para transporte. Outros podem, ainda, estender a duração do período de defeso em suas águas por período mais longo do que o determinado pela legislação federal. Fonte: Wikimedia Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 19 De modo geral, a legislação estadual que aumenta o nível de proteção presente na legislação federal, aperfeiçoando-a, é tida como compatível com esta. O que a legislação estadual não pode, no caso, é afrouxar a proteção mínima assegurada pela legislação federal. Esse é o sentido da afirmação, contida nos parágrafos mencionados do artigo 24 da Constituição, de que, no âmbito da legislação concorrente, a União estabelece normas gerais e os Estados estabelecem normas suplementares ou especiais para atenderem às suas peculiaridades locais. Na ausência da norma federal, a Constituição prevê, ainda, que os Estados terão competência para regular inteiramente a matéria em seu território, até que venha a ser editada lei federal a respeito (artigo 24, §§ 3º e 4º, da CF). Parece complicado, mas não é. O quadro a seguir resume os espaços reservados a cada ente federativo no tocante à competência normativa concorrente e vai ajudar você a compreender melhor tudo que vimos até agora: Ente federativo Limites de competência Alcance Escopo Proteção União Estado Editar normas gerais Editar normas especiais e suplementares (em caso de ausência de norma geral da União, a competência é plena) Todo o território nacional Definir regra geral Fixa proteção mínima Limite territorial do Estado- -membro Adaptar a regra geral às peculiaridade s locais Pode aumentar o nível de proteção Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 20 9. Considerações finais Nesta aula, apresentamos, em linhas gerais, os contornos da estrutura constitucional do federalismo brasileiro e suas implicações para a produção legislativa dos diferentes entes federados. Preparamos, assim, o caminho para adentrarmos o estudo dos mecanismos de tutela constitucional das normas locais (estaduais, distritais e municipais) no âmbito do STF. Por ora, fico por aqui. Despeço-me com um abraço e votos de enriquecimento intelectual para você. Até a próxima aula! Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 21 10. Para aprofundar Quer aprofundar o estudo dos temas vistos nesta aula? Sugiro algumas leituras adicionais: ANACLETO, Sidraque David Monteiro. Recurso extraordinário em ADI estadual. São Paulo: Saraiva, 2014. BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. BRAGA, Paulo Sarno. Norma de processo e norma de procedimento: o problema da repartição de competência legislativa no direito constitucional brasileiro. Salvador: JusPodivm, 2015. COOLEY, Thomas M. A Treatise on the Constitutional Limitations which rest upon the Legislative Power of the States of the American Union. Boston: Little, Brown and Company, 1903. DEL NEGRI, André. Teoria da Constituição e do direito constitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2009. FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Efeitosda declaração de inconstitucionalidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva: 2013. RITCHIE, Donald A. Our Constitution. Oxford University Press, 2006. SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017. VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 22 Glossário Assembleia Legislativa – ente colegiado que exerce o poder legislativo no âmbito do Estado federado. É formada por deputados estaduais, representantes eleitos pelo voto direto dos eleitores registrados em cada Estado da Federação, para mandatos de quatro anos, em número proporcional à população do Estado. Câmara Municipal – ente colegiado que exerce o poder legislativo no âmbito do Município. É constituído por representantes eleitos pelo voto direto dos eleitores registrados no território do Município, chamados vereadores, em número proporcional à respectiva população. Cláusula pétrea – norma constitucional que não pode ser alterada nem mesmo pelo procedimento especial de emenda à Constituição. Cognição/conhecimento – em direito processual, cognição, ou conhecimento, diz respeito à aferição dos elementos subjetivos e objetivos cuja presença é requisito para que o mérito de uma dada questão seja examinado. Competência – regra definidora da autoridade judicial ou administrativa responsável por apreciar determinado processo ou realizar determinado procedimento. Diz-se que um órgão tem competência originária sobre uma questão quando a ele cabe apreciá-la e decidi-la direta e primeiramente, e recursal quando a ele cabe revisar a decisão de outro órgão. Competência legislativa – competência para editar leis. A competência pode ser privativa, quando a sua atribuição a um ente exclui os demais, ou concorrente, quando pode ser exercida simultaneamente por diferentes atores. Constituição – lei fundamental de uma organização política (um Estado, uma federação ou uma comunidade de nações), na qual são definidos os limites do exercício do poder político. Funciona como parâmetro para a atividade executiva (por exemplo, o poder de polícia), para a edição de leis e outros atos normativos e para a atuação dos juízes e dos tribunais. Controle de constitucionalidade – procedimento pelo qual é verificada a compatibilidade entre uma lei ou ato normativo e a Constituição. Ente federado/federativo – ver estado federado. Controle de constitucionalidade e federalismo Controle de constitucionalidade da legislação local AULA 1 23 Estado – embora não exista consenso acadêmico sobre a definição de Estado, podemos dizer que se refere, de modo geral, à estrutura pela qual é organizado o exercício do domínio político em uma comunidade e sobre um território particular. Alguns elementos que costumam estar associados à definição ou integrar o conceito de Estado, a depender da teoria, são: monopólio do uso legítimo da força, sistema de governo definido, povo, existência de burocracias administrativas, existência de forças armadas, existência de um ou de mais de um idioma oficial. A não ser quando especificado pelo contexto, a palavra Estado, neste curso, se refere indistintamente ao conjunto dos entes políticos da Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Estado federado – cada uma das unidades políticas que se associam para formar uma Federação. Estado federal – o ente político formado pela reunião dos estados federados; Federação. Federação – organização política caracterizada pela união, sob um governo central, de unidades políticas dotadas de limitado grau de autonomia. Exemplos: República Federativa do Brasil, formada por 26 estados federados; Estados Unidos da América, formado por 50 estados federados; República da Índia, formada por 29 estados federados. Lei complementar – espécie normativa que complementa uma orientação traçada na própria Constituição. Qualifica-se em relação à lei ordinária por exigir aprovação por maioria absoluta em cada Casa do Congresso Nacional. Soberania – qualidade do ente político (Estado) dotado de absoluta autodeterminação e não controlado por outro ente político. Em uma federação, é soberano apenas o ente formado pela união dos estados federados. ADI 4.391 I – Apresentação do curso II – Objetivos III – Conteúdo da aula 1. Introdução 2. A forma federativa do Estado brasileiro 3. Divisão de competências normativas entre os entes federados 4. Competências privativas da União 5. Competências normativas dos Estados 6. Competências normativas dos Municípios 7. Competências normativas do Distrito Federal 8. Competências concorrentes 9. Considerações finais 10. Para aprofundar Glossário