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Cicatrização dos tecidos moles Helen Aparecida Pereira da Silva Processo de cicatrização Processo dinâmico que tem como consequência a restauração da continuidade anatômica do tecido por meio de um processo biológico sequenciado. A regeneração e o reparo são dois tipos de cicatrização que ocorrem ao mesmo tempo, com predominância do reparo. Regeneração – produção de tecido novo, igual ao tecido normal em termos estruturais e funcionais, é considerado a resposta ideal de cicatrização da ferida; Reparo – substituição ou restauração de células danificadas ou perdidas e das matrizes extracelulares por novas células e matrizes, tem como resultado principal a formação de uma cicatriz; É divido em quatro fases sucessivas, a fase de coagulação, fase aguda ou inflamatória, seguida de um tempo variável de regeneração miofibrilar (fase proliferativa ou de fibroplasia) e por último a fase de maturação, remodelação e formação de tecido. Você sabe todas as fases da cicatrização? Começaremos explicando a fase I – fase de coagulação. I -Fase de Coagulação 5 minutos após a lesão ou até 48 horas Quando ocorre lesão, os componentes celulares e plasmáticos passam para o meio interno da ferida, o sangue e a linfa causam edema e os componentes celulares vasculares (plaquetas, células vermelhas e outras células transportadas através do sangue) morrem. O edema junto ao vaso espasmo levam a anóxia (lesão secundaria por hipóxia) decorrente da êxtase do sangue fora dos vasos. O sangue se torna sólido, e por vários passos, o coagulo se forma. Coagulação A coagulação é iniciada quando o plasma interage com os componentes do tecido, os constituintes do plasma entram nos espaços intersticiais. A combinação de plaquetas e outros residuos celulares formam um tampão hemostatico chamado de coagulo, e esse age como uma “cola” com baixa força tensiva para manter as margens da ferida juntas e a lesão localizada. Coagulação Na pele, o coagulo se mantem macio, semelhante a um gel e atua como uma barreira contra corpos estranhos, agentes infecciosos e perda transcutânea de agua, limita a hemorragia local e prove para a ferida sua única fonte de força tensiva. Com o tempo o gel se torna tecido granuloso e finalmente colágeno denso acelular (tecido cicatricial). Mediadores da inflamação O tecido lesionado libera quimioatratores que atraem aminas vasoativas e mediadores que aumentam a permeabilidade vascular em até 10 vezes o normal, permitindo a entrada de mais produtos do plasma para a lesão. Esses mediadores (plaquetas, leucócitos e mastócitos) vem do plasma e das células lesadas, criando a resposta inflamatória dos tecidos moles, eritema (vermelhidão), calor, edema ou inchaço, dor ou hipersensibilidade, espasmo muscular e por fim, disfunção. Sinais de inflamação e inicio da cicatrização Como resultado de um aumento na vasodilatação e permeabilidade vascular, há exsudato nos espaços extracelulares e vazamento de liquido no tecido lesionado. O aumento de pressão no tecido e o aumento da sensibilidade dos nociceptores a substancias químicas resulta em dor. Acredita-se que a bradicinina, a histamina e as prostaglandinas sensibilizem os receptores de dor, tornando seu limiar mais baixo e sendo facilmente excitáveis. Simultaneamente os quimioatratores atraem os neutrófilos, que traz leucócitos e outros macrófagos. O coagulo, as plaquetas e os mediadores vasoativos formam uma matriz temporária ou a substancia morfa para que a cicatrização se inicie. Edema ou efusão no inicio do processo de cicatrização indicam que a lesão pode necessitar de cuidados extras. O edema ocasionado por infecção aparece mais tarde, sendo uma combinação da ação bacteriana direta e das células brancas do sangue tentando conter as bactérias durante a fase inflamatória. O processo de coagulação pode ser acelerado por meio do PRICE. II – Fase Inflamatória Quando começa a cicatrização Fase inflamatória 1. A inflamação é o primeiro estagio na recuperação de uma lesão, ela não é uma resposta negativa, mas sim uma parte necessária da cascata de cicatrização. 2. Com a lesão muito fatores da área lesada são ativados, vários dos fatores quimiotáticos são induzidos pelo fator de Hageman (XIIa), enzima do sangue. Esse processo é chamado de quimiotaxia e é essencial para o processo inflamatório. 3. A bradicinina (vasodilatador) produzida pelas enzimas do plasma é ativada na ferida, aumentando a permeabilidade vascular, além disso ela desencadeia a liberação de prostaglandinas. 4. A função das prostaglandinas dentro do tecido danificado incluem vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, dor e febre. As que atuam nessa fase é a prostaglandina E (PGE1) e PGE2. A PGE1 aumenta a permeabilidade vascular e a PGE2 atrai os leucócitos. Células brancas do sangue Os leucócitos são células brancas do sangue atraídas para a ferida pela resposta inflamatória e pelas aminas vasoativas liberadas pelas células danificadas. As células brancas mais comuns são os linfócitos, monócitos (macrófagos) e granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos), esses agem como fagócitos limpando a ferida dos tecidos mortos e removendo as proteínas toxicas na lesão celular e nas reações alérgicas. Leucócitos Os leucócitos entram na lesão a partir da vasodilatação associada com inflamação que liberam enzimas que aceleram a decomposição das células lesionadas e do tecido lesionado fora das células por meio de degradação. Macrófagos e granulócitos Desbridam a área lesionada de tecido necrótico, resíduos e materiais estranhos nas primeiras 24 horas e continuam agindo entre 2 a 5 dias. Ainda são importantes para a modulação da inflamação, por meio das citocinas e quimiocinas Neutrófilos, macrófagos e leucócitos Limpam o local da ferida por meio de fagocitose, destruindo e degradando bactérias, matriz desnaturada e células danificadas. Fase inflamatória 1. A medida em que a ferida é limpa, há mudança da fase inflamatória para a proliferativa, que entram em ação os fibroblastos (reparo) e células especializadas como os mioblastos e tenoblastos (regeneração). 2. Simultaneamente a degradação do coagulo, ocorre a troca da matriz temporária por uma matriz extracelular denominada tecido de granulação. 3. O tecido de granulação é composto por capilares, miofibroblatos, macrófagos, matriz de fibrina, células endoteliais e uma matriz nutritiva, é de coloração vermelha e feito de uma massa granular de TC que preenche a ferida durante o período de cicatrização. 4. Brotos capilares são produzidos pelas células endoteliais (angiogênese) no tecido granuloso, no final da fase inflamatória as prostaglandinas podem iniciar o reparo como continuar a cascata inflamatória. 5. A mudança para a fase proliferativa não é abrupta, e ação inflamatória pode avançar para a próxima fase. 6. Quando o processo inflamatório não acaba, instala-se cronicidade, com inflamação e resistência ao tratamento. 7. Se não há cuidado apropriado nessa fase, a cronicidade pode gerar um ciclo vicioso e não progride para o reparo. 8. Na cicatrização normal, tanto o reparo como a regeneração começam ocorrer com restauração de tecido e formação de cicatriz, a dor desaparece, a força, resistência a fadiga e ADM são restauradas. Fase de proliferação III Fim do processo inflamatório, inicio do reparo e regeneração Proliferação/fibroplasia No inicio dessa fase, há uma corrida entre o reparo e a regeneração. O reparo faz a substituição do tecido original por tecido cicatricial e começa com um esforço emergencial para restaurar a integridade mecânica, algum grau de proteção e funcionalidade limitada. A regeneração é a substituição do tecido danificado pelo mesmo tipo de tecido, que irá fazer a mesma função do tecido original. Apesar de estar ocorrendo simultaneamente, o reparo termina primeiro, pois tem apoio da inflamação, de modo que a formação do tecidocicatricial ultrapassa a regeneração do tecido original. O período de formação da cicatriz é chamado de fibroplasia e geralmente dura de 4 a 6 semanas, podendo se estender. Capilares A baixa tensão de O2 pela falta de suprimento sanguíneo leva a criação de brotos capilares , a medida que há essa formação, a ferida faz a cicatrização por si própria, aerobiamente devido ao aumento do suprimento sanguíneo que leva a emissão de O2 e aumento de nutrientes essenciais para a regeneração do tecido. Fibroblastos Os fibroblastos se acumulam na ferida medida que os capilares crescem, a função deles é sintetizar uma matriz extracelular com fibras proteicas de colágeno, resistentes a cargas tensivas, elastina (proteoglicanos – proteínas fibrosas resistentes a compressão), glicosaminoglicanos e líquido. Os fibroblastos também produzem fibras de colágeno, principalmente do tipo III, depositadas aleatoriamente, fazendo com que a maior taxa de acumulo de colágeno ocorra entre 7 e 14 dias. Colágeno e força tensiva A medida que ocorre a síntese de colágeno, a força tensiva do tecido aumenta. O colágeno III forma ligações cruzadas e estabiliza a ferida, aos poucos o tipo III é substituído pelo tipo I, um dos principais presentes na cicatriz Dependendo do tecido, diferentes tipos de colágenos são depositados e alinhados em feixes, estabelecendo ligações cruzadas e aumentando a estabilidade. Mobilização e movimento controlado no tempo certo levarão a uma cicatriz menor, melhor organização estrutural e melhor crescimento capilar. Caraterizada pela diminuição dos fibroblastos e aumento da força tensiva do tecido. IV – Fase de maturação IV – Fase de remodelamento 1. A extensão da cicatriz depende do local da lesão, tecido ou órgão lesionado, natureza da lesão, direção da ruptura/incisão, etnia do paciente, fatores genéticos, os cuidados e o tratamento da ferida e do tecido danificado e presença/ausência de complicações. 2. Quando o colágeno é depositado em excesso ele pode dar origem a dois tipos de cicatriz patológicas: cicatriz hipertrófica e cicatriz com queloide. 3. A cicatriz hipertrófica consiste em uma cicatriz normal com tecido cicatricial em excesso, a cicatriz aparenta estar distendida, embora continue dentro das margens da ferida. O queloide se apresenta como um tecido que cresce demais, denso, fibroso, que se alastra além das margens da ferida e pode crescer progressivamente. 4. A cicatriz normal é altamente vascularizada, possui grande densidade de células mesenquimais e uma camada epidérmica espessa. 5. A maturação da cicatriz é um processo longo que se estende por 1 ano ou até mais, a parti do momento da lesão. 6. Após 12 meses o tecido já possui cerca de 70 a 80% da força tensiva original. Células no remodelamento O colágeno torna-se denso e a vascularidade da cicatriz é diminuída, os capilares são descartados e o novo tecido perde a sensibilidade. Ao mesmo tempo, os miofibroblastos fazem a contração da ferida, que pode ser de 40 a 80%, diminuindo o seu tamanho. Mais colágeno do tipo I é depositado, aumentando o número de ligações cruzadas e da força tensiva do tecido, demonstrando um remodelamento em resposta a tensão. Cicatrização Na fase final, o novo tecido é remodelado até que uma estrutura permanente seja formada, restaurando a área com sua estrutura original (tendões) e as vezes substituindo a original por uma cicatriz (reparo). A maioria dos tecidos moles cicatrizam pelo processo de reparo, usando o tecido cicatricial para substituir estruturas lesadas. Referências Bibliográficas MAGEE, J. David; ZACHAZEWSKI, E. James.; QUILLEN, S. William. Pratica da reabilitação musculoesqueléticas: princípios e fundamentos científicos. São Paulo: Manole, 2013.
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